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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Globalização mais lenta, mas resiliente - Otaviano Canuto

 

GLOBALIZAÇÃO MAIS LENTA, MAS RESILIENTE

 

Poder 360, maio 2022

Pandemia e guerra na Ucrânia desaceleram e regionalizam globalização, mas não a revertem.

A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, falou em Davos essa semana sobre os riscos ascendentes de “fragmentação geoeconômica” como consequência da guerra na Ucrânia. Levando-se em conta a rivalidade agora aberta entre Estados Unidos e China, assim como a aliança entre esta e a Rússia, ampliou-se o eco para as narrativas sobre uma divisão oeste-oriente na economia global, com o fim e a reversão da globalização.

Depois da crise financeira global de 2008, já havia crescido a opinião entre habitantes de vários países avançados de que a globalização e a transferência de empregos manufatureiros para a Ásia seriam responsáveis pelas dificuldades de progresso enfrentadas por suas classes médias e baixas, culminando em vitórias eleitorais de líderes populistas como Trump que souberam aproveitar-se de tal sentimento. A vulnerabilidade a choquesatribuída à globalização durante a pandemia, após o início das rupturas em cadeias globais de suprimento, acrescentou mais um argumento a favor de sua reversão.

Por outro lado, os números da evolução recente do comércio mundial, abordados em texto do FMI divulgado também nessa semana, apontam numa direção oposta. Depois do verdadeiro mergulho no início da pandemia, o comércio externo como proporção do PIB na segunda metade do ano de 2020 já estava superando os níveis de antes da pandemia, em todas as regiões [veja Figura 1 no Anexo].

Sabe-se que tal desempenho extraordinário nos últimos dois anos deveu-se em grande medida a dois fatores reversíveis, a saber, a mudança temporária de padrões de consumo em detrimento de serviços intensivos em contato e em favor do consumo de bens comercializáveis internacionalmente, durante a pandemia, assim como do volume expressivo do suporte de renda e da demanda das famílias nas economias avançadas. Não fosse o descompasso entre demanda externa dos países e a capacidade logística de seu atendimento, os números teriam sido ainda mais exuberantes [veja Figura 2 no Anexo].

Embora haja uma projeção de relativo arrefecimento das transações comerciais transfronteiriças em 2023, nada se parece com retração do nível de integração comercial geral no mundo. A queda nos números de março, após a invasão russa da Ucrânia, veio bem abaixo de expectativas. A forte correlação entre volumes de produção industrial e de volumes globais de comércio permanece alta.

No lado financeiro, também se pode dizer que “a morte da globalização foi anúncio exagerado”, a julgar pelos volumes de ativos externos de bancos em todos os setores no conjunto de países. Haviam atingido um pico na época da crise financeira, caindo em seguida, mas recuperaram exuberância a partir de 2016. Deve-se considerar também que instituições financeiras não-bancáriasassumiram peso maior nos fluxos de capital entre países a partir da crise de 2008.

Pois bem! Poderá ser dito, com efeito, que a “desglobalização”, quer entendida como segmentação econômica entre regiões por razões geopolíticas ou como busca de grau maior de autossuficiência por economias nacionais, tomará algum tempo e não começou ainda. Contudo, há motivos econômicos limitando o alcance das motivações geopolíticas.

Considere o argumento da busca de resiliência diante de choques que, ao atingir algum ponto de cadeias globais de valor, impactam o conjunto integrado. Ora, os efeitos de choques locais também seriam maximizados sem a existência das cadeias no exterior.

Além disso, a configuração das cadeias globais ou regionais não é fortuita, tendo aparecido por razões de eficiência de custos. Abandonar tal configuração tem ônus. Em muitos setores as empresas podem optar por incorrer em tais custos, com acumulação de estoques em pontos das cadeias e/ou duplicando segmentos de tais cadeias em pontos geográficos distintos. Mas os incentivos microeconômicos encarados pelas empresas estabelecem limites de custo-benefício nesse cálculo de abdicar de eficiência nos custos por conta de resiliência a choques.

E as políticas públicas em busca de alterar tais cálculos? Políticas comerciais de tarifas como as de Trump se revelaram um ônus para o emprego na própria indústria manufatureira dos Estados Unidos – para não falar da agricultura atingida por sua guerra comercial com a China.

A rivalidade econômica entre grupos de potências aliadas entre si tenderá a ser exercida mediante ação em setores tecnológicos e de segurança nacional, como, por exemplo, semicondutores avançados, equipamentos militares e médicos, privacidade de dados e similares. Acesso a minerais críticos para o uso de tais tecnologias e para a transição energética também crescerá como objeto da geopolítica. Espera-se que seja também exercida na busca de influência via financiamento e investimentos externos, como seria o caso de alternativas à “iniciativa Belt and Road” chinesa. Por razões óbvias, a Europa também buscará a reformatação de seu sistema energético. A reversão da globalização não será buscada, porém, no caso do comércio exterior nos demais itens.

A propósito, a transformação digital aceleradatem até ampliado o escopo para possível globalização de serviços. Que o digam os médicos indianos prontos para oferecer serviços internacionais on-line. Não muito tempo atrás, Richard Baldwin, professor do Instituto Genebra, sugeriu o comércio exterior de serviços sem deslocamento de pessoas como parte de uma “globalização 3.0”.

No lado chinês, pode-se presumir uma preferência por não entornar o caldo da globalização que lhe facilitou o sucesso no crescimento com transformação estrutural, por mais que tenha sentido os novos rumos na área geopolítica e envie sinais de busca de menor dependência do exterior. A rigor, cremos que nem as sanções ocidentais sobre a Rússia serão suficientes para que a China busque rapidamente algum tipo de afastamento do sistema monetário-financeiro baseado no dólar.

Certamente pode-se esperar uma globalização mais lenta (“slowbalization”) e com maior grau de regionalização. Até porque haverá um ônus para aqueles que buscarem uma demarcação exagerada do que é “estratégico

Cabe também lembrar aos empolgados com as possibilidades de deslocamento de segmentos de cadeias globais para perto dos mercados ricos (nearshoring) e amigos (friendshoring). Eu e colegas, no dia da invasão russa, apontamos cinco requisitos para que isso possa funcionar a contento.

Anexo

Figura 1 – Recuperação do comércio desde a pandemia, por regiões

Importações, índices de volume sazonalmente ajustados

Fonte: Mishra, P. and Spilimbergo, A. (2022), Globalization and Resilience, IMF, 24 de maio.

 Figura 2 – Comércio mundial de bens em cresimento

Exportações trimestrais de mercadorias, em US$ bilhões

Fonte: Sandbu, M. (2022). “The death of globalisation has been greatly exaggerated”,Financial Times, 26 de maio.

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Otaviano Canuto, based in Washington, D.C, is a senior fellow at the Policy Center for the New South, a professorial lecturer of international affairs at the Elliott School of International Affairs – George Washington University, a nonresident senior fellow at Brookings Institution, a professor affiliate at UM6P, and principal at Center for Macroeconomics and Development. He is a former vice-president and a former executive director at the World Bank, a former executive director at the International Monetary Fund and a former vice-president at the Inter-American Development Bank. He is also a former deputy minister for international affairs at Brazil’s Ministry of Finance and a former professor of economics at University of São Paulo and University of Campinas, Brazil.

terça-feira, 31 de maio de 2022

O mundo pós-pandemia: o que nos espera? Saúde pública, crises sanitárias - Paulo Roberto de Almeida



O mundo pós-pandemia: o que nos espera? Saúde pública, crises sanitárias

Paulo Roberto de Almeida Diplomata, professor (www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com) Participação em aula de Christopher Bahia Mendonça, IBMEC-MG, no dia 2 de junho, 19:00.

A pandemia da Covid-19, que amainou, mas ainda não terminou – vide o caso da China, o vetor inicial e aparentemente o final da crise sanitária mundial –, teve enorme impacto sobre as sociedades nacionais e sobre a economia mundial: ademais de enormes punções demográficas sobre populações frágeis – idosos e habitantes de países pobres –, ela também afetou diferentes categorias de grupos humanos que colocaram a sua “liberdade” acima da questão da saúde pública, representada pela vacinação, o que foi o caso dos EUA e dos negacionistas como Bolsonaro e seguidores. Não existe nenhuma dúvida objetiva, de que um número muito superior de vítimas, quantitativamente aferidas, se encontra mais nos não vacinados do que entre os vacinados. Do ponto de vista econômico, ela perturbou cadeias de valor, interrompeu intercâmbios, paralisou fluxos de transportes, ao lado de um enorme impulso nos meios de comunicação eletrônicos, que se tornaram intensivos e extensivos.

Como se tornou evidente desde o primeiro momento da pandemia, não se conseguiu chegar a nenhum entendimento comumente partilhado entre as grandes potências sobre um tratamento multilateral coordenado da pandemia, e isso basicamente pela atitude agressiva, persistentemente adversária, do presidente Trump sobre como se deveria chamar o novo vetor da pandemia, que ele insistia em chamar de “vírus chinês”. A despeito de insistentes apelos do diretor-geral da OMS e até do secretário-geral da ONU, não houve meio de se instituir um comitê global de coordenação das ações preventivas, curativas e paliativas da pandemia. O mundo careceu, portanto, de uma instância de combate e de distribuição mais ou menos equânime dos meios de se paliar os efeitos da pandemia. Os países mais bem dotados de meios financeiros, tecnológicos, científicos e assistenciais conseguiram salvar boa parte da sua população, o que talvez não tenha sido o caso dos EUA e do Brasil, com um volume desproporcionalmente elevado de vítimas da pandemia, essencialmente por negacionismo.

Essa descoordenação global, que já estava em curso, notadamente desde o início do governo Trump – um opositor decidido do multilateralismo e da globalização e um defensor obtuso do nacionalismo protecionista –, agregou determinados problemas que se arrastavam desde a crise de 2008, quando aparece de maneira mais proeminente o papel da China na economia mundial. A partir desse momento, em lugar de adotarem uma postura compatível com a cooperação internacional em favor de um mundo mais aberto, mais interdependente e mais integrado no tratamento das questões globais – meio ambiente, direitos humanos, criminalidade internacional –, bem como da agenda normal de negócios internacionais, como comércio e desenvolvimento, investimentos e propriedade intelectual, os Estados Unidos passaram a encarar a China, não como uma competidora legítima nas transações globais, mas como uma adversária em busca de disputar o poder hegemônico em torno da ordem global.

Data de 2015 – antes, portanto, da eleição de Trump – a sabotagem americana do sistema de solução de controvérsias da OMC, a paralização de qualquer nova iniciativa de negociações comerciais multilaterais e a publicação de um livro extremamente controverso, o do professor de Harvard Graham Allison sobre a possibilidade de um enfrentamento belicoso entre a China e os EUA, no modelo da “armadilha de Tucídides” que ele extrapolou a partir de uma leitura enviesada do famoso clássico sobre a guerra do Peloponeso: Destined to War? Can America and China escape Thucydides’s Trap? (2a edição: 2017, no governo Trump; edição brasileira: A Caminho da Guerra: os Estados Unidos e a China conseguirão escapar da armadilha de Tucídides? 2020). Eu não hesito em classificar esse livro como o mais perigoso do mundo, depois do Mein Kampf de Hitler, de 1927, pelo seu potenciar de acirrar a postura adversária, que é, por excelência, a dos generais do Pentágono; que aqueles generais tenham uma postura paranoica é natural, mas que acadêmicos também a exibam é bem mais preocupante. Lembra um pouco a postura de um almirante argentino, Isaac Rojas, que, nos anos 1970, recomendava que a Argentina se dotasse de armas nucleares para evitar que o Brasil chantageasse a Argentina ao eventualmente usar a represa de Itaipu como uma arma natural potencial contra o seu país, pela liberação de comportas que poderiam, segundo ele, inundar Buenos Aires. A perspectiva de um novo conflito global é propriamente assustadora.

Sobre essa situação extremamente confusa, nas relações econômicas internacionais e agravadas pela descoordenação no caso da crise sanitária, a atuação revisionista da Rússia no cenário da Europa central e oriental veio agravar as tensões regionais europeias e mundiais. Poucos acreditavam que Putin ordenasse efetivamente uma invasão da Ucrânia, a despeito do fato que o presidente americano Joe Biden, com base em informes de inteligência, estivesse de certa forma “irradiando” para o mundo essa invasão, que finalmente ocorreu depois que os dois grandes adversários de outrora do comunismo mundial, a Rússia e a China, anunciassem em 4 de fevereiro uma “aliança sem limites”, o que pode ter incitado Putin a deslanchar a invasão (que tomou inclusive a China de surpresa). Não cabe culpar a OTAN, ou os membros vizinhos imediatos da Rússia, de qualquer provocação no plano da segurança. O que ocorreu, na verdade, é que, tanto a população da Ucrânia quanto a da Belarus, proclamaram a intenção de ver seus respectivos países aderirem à União Europeia, o que provavelmente despertou a ira de Putin, aliás desde 2014, quando manifestações ocorreram em ambos os países, e ele tomou isso como pretexto para anexar a península da Crimeia e intimidar aquelas populações.

O fato é que vivemos, no mundo atualmente, uma descoordenação quase estrutural do funcionamento dos principais organismos internacionais, uma quase impossibilidade de se chegar a um consenso mínimo entre as grandes potências sobre as questões mundiais mais relevantes – mesmo deixando de lado a guerra de agressão da Rússia –, num quadro que está se tornando quase inadministrável pelos efeitos persistentes da pandemia, agora agravados pela ruptura entre o chamado “Ocidente” e a Rússia, por causa da guerra na Ucrânia. Difícil predizer qual será a evolução do sistema internacional – se é possível falar em sistema – nos meses e semanas à frente, enquanto a guerra e as sanções econômicas persistirem. Não se trata apenas de questões de segurança – como as subjacentes à postura no mínimo adversária, potencialmente confrontacionista, entre os EUA e a China –, mas de definições básicas sobre como construir uma agenda global minimamente cooperativa entre os grandes atores, para o enfrentamento dos desafios globais, não apenas em meio ambiente, comércio e criminalidade internacional, mas também os desdobramentos da pandemia nas medidas que devem ser tomadas para a reativação dos grandes intercâmbios globais. Estamos assistindo, de fato, a um processo de desglobalização que veio para ficar, o nacionalismo e a autarquia econômica vieram para ficar, e o mundo poderá enfrentar novamente, como nos anos 1930, desafios aos sistemas multilaterais de pagamentos e de comércio?

Em vista desse cenário, qual deveria ser a postura do Brasil, de sua diplomacia, em face desses desafios? Difícil indicar, no momento, qualquer sinalização de política nacional em face, justamente, de indefinições persistentes da chefia do Executivo, nos principais vetores de políticas nacionais, econômicas ou diplomáticas. O chefe de governo se revela incapaz de sinalizar qualquer coisa além de seu projeto pessoal de reeleição, num momento de grande descrédito da imagem do Brasil no exterior, dada as posturas internas controversas em matéria de sustentabilidade e meio ambiente, de direitos humanos, de ameaças ao jogo democrático, assim como às próprias eleições. A credibilidade do Brasil no mundo já estava abalada pela destruição ambiental, pelo desprezo pelos direitos humanos e pelas regras da democracia, foi ainda mais agravada pela postura negacionista durante a pandemia e, agora, dificultada por uma recusa persistente de se unir ao Ocidente numa reação contra a Rússia pela sua guerra de agressão à Ucrânia e pela violação flagrante do Direito Internacional e da própria Carta da ONU. O Brasil ficou objetivamente do lado da Rússia, segundo alguns.

Quais são as perspectivas para o Brasil e para o mundo nesse confuso cenário interno e internacional? No caso do Brasil, a diplomacia não pode recuperar sozinha a política externa, na ausência de condições favoráveis no plano da política geral doméstica; terá de haver um novo governo, com orientações claras, não ideológicas, de forma a permitir que a diplomacia profissional ofereça os fundamentos de uma nova orientação para as relações internacionais e regionais do Brasil. No caso do mundo, a violação flagrante do Direito Internacional e a agressão bárbara da Rússia contra a Ucrânia acabaram solidificando os laços internos na União Europeia e fortalecendo, em lugar de enfraquecer, a aliança defensiva atlântica, ou seja, a OTAN, com a adesão de dois países nórdicos tradicionalmente neutros, a Suécia e a Finlândia (o que também trouxe uma sentença de morte para o conceito historicamente datado de “finlandização”).

Não é possível prever, neste momento ou no futuro próximo, os desdobramentos da situação criada pela agressão russa e pela “aliança sem limites” entre a Rússia e a China, duas autocracias hostis à tradicional hegemonia ocidental sobre os assuntos do mundo, mas também sobre as grandes orientações e as linhas básicas das relações internacionais e sobre a agenda de trabalho incorporando as principais questões da agenda corrente e futura das organizações multilaterais, assim como sobre as novas fronteiras dos temas globais. Não existe nenhuma fatalidade vinculada a essa fantasmagoria da “armadilha de Tucídides”; o que existe é um império que, ao recém completar cem anos de dominação sobre a economia global insiste em manter uma primazia absoluta nos temas estratégicos e políticos mundiais. A situação atual requer estadistas responsáveis, capazes de concertarem entre si os acordos possíveis na balança de poder, animados igualmente pela ideia de que a cooperação entre as grandes economias é uma condição essencial para a elevação dos padrões de vida nos países mais pobres, fontes de crises políticas, golpes de Estado, guerras civis, miséria e desespero, gerando imigração selvagem e calamidades sociais. Esta talvez seja um argumento mais próximo da Idealpolitik do que da Realpolitik que costuma orientar as políticas nacionais das grandes potências; cabe, no entanto, esperar que a primeira seja possível, para contornar as manifestações mais brutais da segunda.

 Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 4164: 30 maio 2022, 4 p.

 Referência a meu trabalho n. 3948.

FEA-USP contrata professores de Economia

 D.O. - São Paulo, sábado, 28 de maio de 2022 - Seção I 132 (105) – pág. 356

EDITAL FEA 13/2022 - EDITAL DE ABERTURA DE PROCESSO SELETIVO SIMPLIFICADO E CONVOCAÇÃO PARA AS PROVAS, NO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E ATUÁRIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO.

O Diretor da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo torna público a todos os interessados que, conforme aprovação ad referendum do Conselho Técnico-Administrativo, em 27.5.2022, estarão abertas por dez dias, das 9 horas (horário de Brasília) do dia 30.5.2022 até às 17 horas (horário de Brasília) do dia 9.6.2022, as inscrições para o processo seletivo para a contratação de 4 (quatro) docentes por prazo determinado, como Professor Contratado III (MS-3.1, para os contratados com título de Doutor), com salário de R$ 2.315,33, referência mês de março de 2022, com jornada de 12 horas semanais de trabalho, ou como Professor Contratado II (MS-2, para os contratados com título de Mestre), com salário de R$ 1.655,35, com jornada de 12 horas semanais de trabalho, referência mês de março de 2022, junto ao Departamento de Economia, nos termos da Resolução no 5.872/10 e alterações posteriores, bem como da Resolução no 7.354/17 e 8.002/20 e dos princípios constitucionais, notadamente o da impessoalidade.

1. Os membros da Comissão de Seleção serão indicados pelo CTA da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária, após o término do período de inscrições e de acordo com os termos da Resolução no 7.354/17 e 8.002/20.

2. Os pedidos de inscrição deverão ser feitos, exclusivamente, por meio do link https://uspdigital.usp.br/gr/admissao, no período acima indicado, devendo o candidato apresentar requerimento dirigido ao Diretor da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária, contendo dados pessoais e o Departamento a que concorre, acompanhado dos seguintes documentos:

I. Documento de identificação (RG, CRNM ou passaporte); II. CPF (para candidatos brasileiros);

III. Prova de que é portador do título de Doutor (para Professor Contratado III) ou Mestre (para Professor Contratado II), outorgado ou reconhecido pela USP ou de validade nacional;

IV. Memorial circunstanciado e comprovação dos trabalhos publicados, das atividades realizadas pertinentes ao certame e das demais informações que permitam avaliação de seus méritos, em formato digital.

V. Comprovação de vacinação contra a Covid-19 (esquema vacinal completo) e de eventuais doses de reforço.

2.1 Não serão recebidas inscrições pelo correio, e-mail, fax, ou qualquer outro meio.

2.2 No ato da inscrição, os candidatos portadores de necessidades especiais deverão apresentar solicitação para que se providenciem as condições necessárias para a realização das provas.

2.3 Para fins do inciso III, não serão aceitas atas de defesa sem informação sobre homologação quando a concessão do título de Doutor depender dessa providência no âmbito da Instituição de Ensino emissora, ficando o candidato desde já ciente de que neste caso a ausência de comprovação sobre tal homologação implicará o indeferimento de sua inscrição.


2.4 Não serão admitidos como comprovação dos itens constantes do memorial links de Dropbox ou Google Drive ou qualquer outro remetendo a página passível de alteração pelo próprio candidato.

2.5. Para fins do inciso V, ressalvado o disposto no subitem 2.6, serão aceitos como comprovante:

2.5.1. O cartão físico de vacinação fornecido no posto onde a pessoa foi vacinada;

2.5.2. O certificado nacional de vacinação de Covid-19, disponível no aplicativo ou na versão web do Conecte SUS Cidadão (https://conectesus.saude.gov.br/home);

2.5.3. O certificado digital de vacinação contra a Covid-19 disponível no aplicativo Poupatempo Digital;

2.5.4. Eventuais passaportes da vacina instituídos pelo Poder Público, desde que seja possível verificar sua autenticidade.

2.6. Excepcionalmente, caso o candidato esteja dispensado de receber vacinas contra a Covid-19 por razões médicas, deverá apresentar documentação apta a comprovar a dispensa, a qual será analisada pelas instâncias competentes da Universidade, indeferindo-se a inscrição na hipótese de a documentação não se prestar à dispensa pretendida.

2.7 É de integral responsabilidade do candidato a realização do upload de cada um de seus documentos no campo específico indicado pelo sistema constante do link https://uspdigital.usp.br/gr/admissao, ficando o candidato desde já ciente de que a realização de upload de documentos em ordem diversa da ali estabelecida implicará o indeferimento de sua inscrição.

2.8 É de integral responsabilidade do candidato a apresentação de seus documentos em sua inteireza (frente e verso) e em arquivo legível, ficando o candidato desde já ciente de que, se não sanar durante o prazo de inscrições eventual irregularidade de upload de documento incompleto ou ilegível, sua inscrição será indeferida.

2.9 Não será admitida a apresentação extemporânea de documentos pelo candidato, ainda que em grau de recurso.

3. O processo seletivo terá validade imediata, exaurindo-se com a eventual contratação dos aprovados.

4. Atribuição da função: os candidatos aprovados, ao serem contratados, deverão ministrar as disciplinas do curso de Economia relacionadas, ao menos, à uma das seguintes áreas: (i) Fundamentos de Microeconomia; (ii) Fundamentos de Macroeconomia; (iii) Macroeconomia I; (iv) Macroeconomia II; (v) Economia Brasileira; (vi) História Econômica Geral; (vii) Formação Econômica e Social do Brasil.

5. O processo seletivo será processado por meio de avaliações sucessivas de candidatos, agrupados em conformidade com sua titulação.

5.1. Na primeira etapa de avaliações, serão convocados para as provas, caso haja, os candidatos portadores do título de Doutor.

5.2. Encerrada a primeira etapa de avaliações, os candidatos habilitados serão classificados, da seguinte forma:

   

I. O primeiro colocado será o candidato que obtiver o maior número de indicações, de acordo com as notas conferidas pelos examinadores;

II. O segundo colocado será o candidato que obteria o maior número de indicações, de acordo com as notas conferidas, caso o primeiro colocado não tivesse participado das avaliações;

III. Os demais candidatos serão classificados, sucessivamente, seguindo o mesmo método previsto no inciso II.

IV. Em caso de empate, a Comissão de Seleção procederá ao desempate com base na média global obtida por cada candidato.

5.3. Classificados os candidatos, serão feitas as convocações para a contratação, até, caso necessário, esgotar-se a lista de habilitados.

5.4. Na hipótese de não haver habilitados na primeira etapa, ou caso nenhum dos candidatos habilitados atenda à convocação para contratação, será iniciada a segunda etapa de avaliações, convocando-se para as provas, caso haja, os candidatos portadores do título de Mestre.

5.5. Na segunda etapa de avaliações, proceder-se-á de acordo com o disposto nos itens 5.2 e 5.3.

5.6. Não havendo inscritos portadores do título de Doutor, a primeira etapa de avaliações será realizada com os candidatos portadores do título de Mestre.

6. As provas, em cada etapa, serão realizadas em uma única fase por meio de sistemas de videoconferência e outros meios eletrônicos de participação a distância, na seguinte conformidade:

I. Julgamento do memorial com prova pública de arguição (peso 4) II. Prova Didática (peso 6)

6.1. As provas serão realizadas por meio de sistemas de videoconferência e outros meios eletrônicos de participação a distância.

6.1.1. É de integral responsabilidade do candidato a disponibilização de equipamentos e de conexão à internet adequados para sua participação em todas as provas e etapas do certame.

6.1.2. Aos examinadores que estejam a distância será permitido avaliar e arguir nas mesmas condições que seriam oferecidas aos examinadores presentes no local do certame.

6.1.3. Na eventualidade de problemas técnicos que impeçam a adequada participação de qualquer examinador ou do candidato, a prova realizada por sistema de videoconferência ou outros meios eletrônicos será suspensa.

6.1.4. Se a conexão não for restabelecida no prazo de trinta minutos, o certame será suspenso.

6.1.5. Quando problemas técnicos interromperem qualquer prova, esta deverá ser retomada a partir do estágio em que ocorreu o problema técnico ou, havendo impossibilidade de retomada, deverá ser integralmente refeita.

6.1.6. Serão preservadas as provas finalizadas antes da ocorrência de problemas técnicos no sistema de videoconferência ou outro meio eletrônico.


6.1.7. Todas as ocorrências deverão ser registradas no relatório da Comissão de Seleção.

6.1.8. A Comissão de Seleção se reunirá em sessão fechada, mediante utilização de sistema eletrônico seguro adotado pela Universidade, para:

I – a elaboração de listas de pontos;

II – a deliberação sobre eventual pedido de substituição de pontos;

III – concessão das notas respectivas, finda a arguição de todos os candidatos; IV – a elaboração do seu relatório.

6.1.9. O relatório será assinado, após expressa concordância de todos os examinadores com os seus termos, pelo membro da Comissão de Seleção pertencente ao Departamento ao qual pertence a vaga a ser ocupada.

6.2. O julgamento do memorial, expresso mediante nota global, incluindo arguição e avaliação, deverá refletir o mérito do candidato e será realizado de acordo com o disposto no artigo 136 do Regimento Geral da USP.

6.2.1. No julgamento do memorial, a Comissão apreciará:

I – produção científica, literária, filosófica ou artística;

II – atividade didática universitária;

III – atividades relacionadas à prestação de serviços à comunidade; IV – atividades profissionais ou outras, quando for o caso;

V – diplomas e outras dignidades universitárias.

6.2.2. Finda a arguição de todos os candidatos, a Comissão de Seleção, em sessão secreta, conferirá as notas respectivas.

6.3. A prova didática será pública, com a duração mínima de 40 (quarenta) e máxima de 60 (sessenta) minutos, e versará sobre o programa base do processo seletivo, nos termos do art. 137, do Regimento Geral da USP.

6.3.1. A realização da prova didática far-se-á 24 (vinte e quatro) horas após o sorteio do ponto as quais serão de livre disposição do candidato, não se exigindo dele nesse período a realização de outras atividades.

6.3.2. O candidato poderá utilizar o material didático que julgar necessário.

6.3.3. O candidato poderá propor substituição dos pontos, imediatamente após tomar conhecimento de seus enunciados, se entender que não pertencem ao programa do processo seletivo, cabendo à Comissão de Seleção decidir, de plano, sobre a procedência da alegação.

6.3.4. Os candidatos que realizarem sua conexão virtual depois do horário estabelecido não poderão realizar as provas.

6.3.5. Se o número de candidatos o exigir, eles serão divididos em grupos de no máximo três, observada a ordem de inscrição, para fins de sorteio e realização da prova.

6.3.6. Quando atingido o 60o (sexagésimo) minuto de prova, a Comissão de Seleção deverá interromper o candidato.


6.3.7. Se a exposição do candidato encerrar-se aquém do 40o minuto de prova, deverão os examinadores conferir nota zero ao candidato na respectiva prova.

6.3.8. As notas da prova didática serão atribuídas após o término das provas de todos os candidatos.

7. Os pesos das provas são análogos aos estabelecidos no Regimento da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da USP e, para o cálculo da média individual, a soma dos pesos será o quociente de divisão.

8. Serão considerados habilitados os candidatos que alcançarem, da maioria dos examinadores, nota mínima sete.

9. A Comissão de Seleção deve definir o primeiro colocado pela maioria das indicações dos membros da Comissão. Excluído o primeiro colocado, a Comissão deverá, dentre os candidatos remanescentes, escolher o segundo colocado pela maioria das indicações de seus membros, e assim, sucessivamente.

10. Em caso de empate, a Comissão de Seleção procederá ao desempate com base na média global obtida por cada candidato.

11. O programa base do processo seletivo será o seguinte: I - MICROECONOMIA

1) Teoria do Consumidor

2) Teoria da Firma

3) Equilíbrio Geral e Bem Estar

4) Estruturas de Mercado: monopólio, oligopólio, concorrência perfeita e monopolística

5) Externalidades

6) Bens Públicos

7) Informação Assimétrica

II – MACROECONOMIA

1) Crescimento Econômico

2) Consumo e Investimento

3) Determinação de Renda e Flutuações Econômicas

4) Política Fiscal

5) Política Monetária

6) Economia Aberta

12. É de responsabilidade do candidato o acompanhamento do andamento do processo seletivo, por meio de acesso ao link https://uspdigital.usp.br/gr/admissao, à página institucional da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da USP em https://www.fea.usp.br/fea/concursos-e-processos-seletivos, e às publicações no Diário Oficial do Estado de São Paulo.

13. A não participação do candidato nas provas programadas implicará automaticamente sua desistência do processo seletivo.

14. O relatório da Comissão de Seleção será apreciado pelo CTA da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da USP, para fins de homologação, após exame formal.


15. A contratação será por prazo determinado e vigorará a partir da data do exercício e até 31.12.2023, com possibilidade de prorrogações, desde que a soma dos períodos obedeça aos limites da legislação vigente à época de cada prorrogação e que estejam preenchidos os demais requisitos.

16. Os docentes contratados por prazo determinado ficarão submetidos ao Estatuto dos Servidores da Universidade de São Paulo e vinculados ao Regime Geral da Previdência Social – RGPS.

17. São condições de admissão:

I. Estar apto no exame médico pré-admissional realizado pela USP;

II. Ser autorizada a acumulação, caso o candidato exerça outro cargo, emprego ou função pública;

III. No caso de candidato estrangeiro aprovado no processo seletivo e convocado para contratação, apresentar visto temporário ou permanente que faculte o exercício de atividade remunerada no Brasil.

Informações adicionais, bem como as normas pertinentes ao concurso, encontram-se à disposição dos interessados na Assistência Técnica Acadêmica da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo, essas informações poderão ser solicitadas por meio de mensagem eletrônica ao Serviço de Apoio aos Colegiados da Faculdade, em colegiados_fea@usp.br. As mensagens serão abertas e respondidas de segunda a sexta-feira, das 9 às 12 horas e das 14 às 17 horas.

Militares em funções civis no governo brasileiro: aumento expressivo - Flavia de Holanda Schmidt (Nota tecnica - Ipea)

https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/pubpreliminar/220530_publicacao_preliminar_presenca_de_militares_em_cargos.pdf

Flavia de Holanda Schmidt

*PRESENÇA DE MILITARES EM CARGOS E FUNÇÕES COMISSIONADOS DO EXECUTIVO FEDERAL*


Esta Nota Técnica tem como objetivo apresentar dados sobre a presença de militares na ocupação de cargos em comissão no Poder Executivo Federal Brasileiro. A partir de um conjunto de dados produzido no escopo do Atlas do Estado Brasileiro, são apresentadas estatísticas descritivas que permitem, de forma inédita, até onde foi possível ter conhecimento, observar longitudinalmente a trajetória da presença desse grupo especial de servidores na ocupação de cargos no Executivo Federal, entre os anos de 2013 e 2021. Constatou-se que a presença agregada de militares em cargos e funções comissionadas teve trajetória de aumento de 59% no período analisado, tanto pelo aumento do número de cargos e funções militares em si como pelo aumento da presença de militares em cargos e funções civis. Considerados apenas estes, o número de militares nesses postos aumentou 193% no período analisado. Ainda que com percentuais baixos em relação ao total de ocupantes de cargos e funções, houve aumento na participação de militares entre o início e o fim do período. No caso dos cargos de Natureza Especial os percentuais de militares no total de cargos são mais proeminentes, saindo de 6,3% em 2013 para quase 16% em 2021. A composição dos cargos ocupados se alterou no período, cabendo destaque para os níveis 5 e 6, de mais alto poder decisório, que passaram a ter percentuais mais significativos no conjunto de cargos ocupados a partir de 2019. A área de política pública com participação foi mais expressiva de militares foi a área “Governo”. Sobre o perfil dos ocupantes, o Exército foi em todo o período analisado a Força de origem da maior parte dos ocupantes de cargo e, em relação aos círculos hierárquicos, o grupo que se mostrou mais representativo foi o dos oficiais superiores, tendo entre 2013 e 2021 os oficiais generais perdido importância relativa nas nomeações.


Guerra do Paraguai: livro de Francisco Doratioto: nova edição; entrevista - Daniel Buarque (Portal Interesse Nacional)

 


A invasão da Ucrânia, a Guerra do Paraguai e as lições do isolamento de ditadores na tomada de decisões

Francisco Doratioto fala sobre a nova edição do seu livro Maldita Guerra e sobre o acesso a novos documentos históricos pela internet, discute os mitos por trás do conflito no Paraguai, analisa como ele ajudou a formar a diplomacia brasileira no Império e explica como o comportamento de tiranos não respeita a vida dos cidadãos

Por Daniel Buarque

Um governante tirano atuando de forma isolada, em um país sem oposição política e sem liberdade de imprensa, decide invadir um país vizinho e gera uma situação “desgraçada” para todos os envolvidos no confronto, com denúncias até de genocídio. Essa descrição simplificada sobre a Guerra do Paraguai, mais de 150 anos atrás, parece ecoar na narrativa atual sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia. Para o historiador Francisco Doratioto, a comparação faz sentido ao se pensar sobre o comportamento tradicional de ditadores, que não respeitam a vida dos seus cidadãos.  

“Entre as características de ditadores está o fato de que eles não têm o mínimo respeito pela vida dos seus subordinados. A vida do cidadão comum e o sofrimento têm pouco valor para ele.O que tem valor é o Estado, é o seu poder pessoal, e para manter o seu poder pessoal, desenvolve-se naturalmente o medo de uma conspiração. Então o processo decisório é sempre muito restrito, e os que estão em volta, por sua vez, não questionam nada. Existe uma lógica no comportamento dos ditadores que facilita o desencadear de guerras”, explicou Doratioto em entrevista à Interesse Nacional.


O historiador está lançando uma nova edição atualizada do seu livro Maldita Guerra, obra fundamental sobre a Guerra do Paraguai. Na entrevista abaixo, ele discute a complexidade do contexto histórico do conflito que ajudou a moldar a identidade do Brasil, do Paraguai, da Argentina e do Uruguai, o que ajuda a criar mitos e simplificações. Para Doratioto, a principal lição da Guerra do Paraguai para a diplomacia brasileira foi mostrar a desgraça que é a guerra, ajudando a desenvolver a valorização da cooperação e da busca por informações. 

Leia a entrevista completa abaixo

Daniel Buarque – Parece impossível tratar da Guerra do Paraguai sem pensar sobre o contexto atual e do que acontece na Europa com a invasão da Ucrânia. A descrição do Solano López como um tirano em um país que não tinha partido político, não tinha tolerância, não tinha liberdade de imprensa, é muito próximo da forma como se fala sobre Putin e a Rússia. Assim como as controvérsias em torno de causa da guerra. Isso mostra que guerras são muito permeadas por essas mesmas narrativas. O que acha disso?

Francisco Doratioto – Eu leciono história da América Latina, e meus dois eixos de preocupação são a questão da pobreza, do desenvolvimento econômico, e a questão da democracia.  Nós estamos em um continente povoado de ditadores. À esquerda, com Fidel Castro, por exemplo, e à direita, com Médici, Pinochet e outros. Há ditadores por toda a parte, e há ditadores de esquerda e de direita, mas eles têm algo em comum. Eles não confiam em ninguém e não existe um processo decisório para tomar decisão de política externa. No caso do paraguaio Solano López, que decidiu aquela estratégia de invadir a Argentina e o Brasil partia de uma série de premissas muito vulneráveis, mas ninguém falou isso para ele. pois ele provavelmente não expôs todo o seu plano para aqueles que o cercavam, e mesmo que tenha exposto, ninguém ia falar nada, ninguém ia questionar para não ser acusado de traidor. A mesma coisa acontece com Putin, assim como com Hitler na invasão da União Soviética. Entre as características de ditadores está o fato de que eles não têm o mínimo respeito pela vida dos seus subordinados. A vida do cidadão comum e o sofrimento têm pouco valor para ele. O que tem valor é o Estado, é o seu poder pessoal, e para manter o seu poder pessoal, desenvolve-se naturalmente o medo de uma conspiração. Então o processo decisório é sempre muito restrito, e os que estão em volta, por sua vez, não questionam nada. Existe uma lógica no comportamento dos ditadores que facilita o desencadear de guerras. 

‘Existe uma lógica no comportamento dos ditadores que facilita o desencadear de guerras’

Daniel Buarque – A Guerra do Paraguai parece um desses eventos controversos sobre o qual a historiografia parece que nunca consegue parar de se atualizar e sempre está trazendo novidades.  A edição original do livro Maldita Guerra tem mais de duas décadas e já discutia essa questão. O que há de novidade nesta edição mais recente? 

Francisco Doratioto – Quando eu escrevi o livro, a internet ainda era pouco desenvolvida, quase não tinha material na rede. Havia arquivos muito importantes que estavam inacessíveis. São milhares de documentos que estavam guardados e que não podiam ser manuseados para garantir a segurança dos papéis originais. O material estava lá, fechado, e nenhum pesquisador podia ter acesso. Mais recentemente, faz uns 5 ou 6 anos, o material foi colocado online. Graças à nova tecnologia, passamos a ter acesso a milhares de documentos. Além disso, passamos a ter acesso a relatos de memórias da Argentina, do Uruguai, do Brasil. Outro material de memórias do Paraguai foi descoberto na universidade do Texas comprovando que López era realmente um ditador, que não houve processo decisório para decidir pela guerra, que se sabia que a guerra ia ser um equívoco, que ia ser ruim para o Paraguai. E a própria hemeroteca da Biblioteca Nacional, que foi colocada online, também ajudou. Quando eu pesquisei para a primeira edição do Maldita Guerra, tinha que ir ao Rio de Janeiro pedir material em papel ou microfilme. Era um trabalho braçal, difícil e custoso financeiramente porque implicava em ficar em hotel e tudo isso. E tudo isso agora também está online. Antes a gente tinha que buscar informação. Agora o problema é o excesso de informação.

‘López era realmente um ditador, não houve processo decisório para decidir pela guerra, sabia-se que a guerra ia ser um equívoco, que ia ser ruim para o Paraguai’

Depois que eu escrevi o livro, houve um grande desenvolvimento de estudos sobre a história da Guerra do Paraguai no Brasil. Houve uma coincidência de publicações de obras importantes e que, por sua vez, abriram caminhos para a produção posterior. Desde 2002, a quantidade de informações inéditas é incrível, e além disso novas análises historiográficas muito interessantes, com novas metodologias, novos objetos. Eu incorporei tudo isso na nova versão do livro. A nova edição tem 80 páginas a mais que a anterior. Ela fundamentalmente ratifica, aprofunda o que estava na primeira edição. A única alteração de  informação que fiz nessa edição foi sobre a construção da Fortaleza de Humaitá, às margens do Rio Paraguai, que era uma fortaleza muito importante para controlar a navegação. Toda a historiografia brasileira afirmava que na construção da fortaleza haviam participado engenheiros militares brasileiros. E nesta edição, eu retifico, porque um historiador paraguaio questiona isso e comprova que engenheiros brasileiros não participaram

Daniel Buarque – Considerando esse movimento todo dos últimos 20 anos, ainda pode-se falar que a história da Guerra do Paraguai é dominada por mitos e simplificações como era no passado? Estamos mais bem informados em relação à guerra?

Francisco Doratioto – Com certeza estamos mais bem informados. Mas também com certeza há mitos e vai continuar a haver mitos.

Estamos mais bem informados, pois temas como a questão da influência inglesa sobre a guerra, por exemplo, era algo que era ensinado nas escolas e universidades até o fim do século passado. Mas muitos estudos mostram que não houve essa influência, como o do professor Moniz Bandeira, que foi o pioneiro no Brasil em falar que não foi a Inglaterra que causou a guerra. Ainda assim, a visão predominante era de que tinha sido a Inglaterra. Então, quando eu comecei a escrever o livro em 2000, era muito importante essa questão. Mas hoje é raríssimo encontrar algum historiador defendendo essa posição, porque não há documentação, não há lógica histórica para responsabilizar a Inglaterra.

A questão dos mitos é relevante pois a Guerra do Paraguai faz parte da identidade nacional do Paraguai, da Argentina, do Brasil, do Uruguai, e não tem como interesses do presente não construírem imagens, interpretações sobre personagens dessa história. O Duque de Caxias, por exemplo, foi comandante do Exército do Brasil no Paraguai e é patrono do Exército brasileiro, então existe um óbvio vínculo entre a análise do personagem no século XIX com aspectos do presente. Solano López é um herói nacional no Paraguai. Ele levou o país ao desastre final, porque não soube o momento de render-se, e ainda assim é considerado um herói, é um mito. É um Francisco Solano López inventado pelo que a sociedade paraguaia gostaria que ele tivesse sido. 

‘Dada a complexidade das origens da guerra, é muito mais sedutor para quem lê e para quem escreve sem uma preocupação académica simplificar e jogar a responsabilidade em uma figura só’

É natural que existam exageros e simplificações. Dada a complexidade das origens da guerra, é muito mais sedutor para quem lê e para quem escreve sem uma preocupação académica simplificar e jogar a responsabilidade em uma figura só. Então o confronto de interpretações, da documentação, do método utilizado ajuda a reduzir os mitos e as simplificações, mas é inevitável que eles existam

Daniel Buarque – Você mencionou a questão de identidade e, apesar da Guerra do Paraguai, o Brasil construiu sua identidade internacional em cima da ideia do pacifismo, da resolução pacífica de conflitos por via diplomática. Acha que tem alguma influência da guerra do Paraguai na formação desse perfil? 

Francisco Doratioto – Não vejo essa relação. Não existia uma teoria de relações internacionais na época, mas a teoria da elite do Brasil imperial, principalmente do partido conservador que vai construir uma política externa para o Rio da Prata, era baseada na ideia de que o Brasil era a única monarquia entre repúblicas. Um dos aspectos apresentados ao público no século XIX para legitimar a monarquia era que os nossos vizinhos eram instáveis, tinham caudilhos, guerras civis, e o Brasil, a partir de 1840, não é instável politicamente, não tem guerras. Então o sistema monárquico de governo é superior, etc. A interpretação era de que o vizinho não era confiável, e o Brasil devia evitar uma união entre os vizinhos, negociar de forma bilateral e estar pronto para evitar que surgisse uma Grande Argentina que ocupasse todo aquele espaço do Vice-Reino do Rio da Prata no período colonial, ou seja, o que é hoje o Uruguai, o Paraguai, a Bolívia, a própria Argentina. Porque seria uma República muito forte ao sul, uma ameaça militar potencial. Em segundo lugar, o exemplo de uma República bem sucedida ia desarticular o discurso de que a monarquia era uma forma de governo superior. E ademais, mesmo que fosse uma república pacífica, controlaria os rios internacionais da região, que eram importantes para o Rio de Janeiro manter contato regular e de comércio com a província de Mato Grosso. 

Se fosse fazer uma referência às teorias de relações internacionais, diria que o governo, a elite imperial, era realista em termos de relações internacionais. As relações com a Grã-Bretanha foram muito duras, por exemplo, os Estados Unidos também teve momentos de forte tensão. Essa coisa do pacifismo, de resolver através de negociações, de não ingerência nos assuntos internos dos outros países, vai ser construída na gestão do Barão do Rio Branco. E há um certo exagero na afirmação que o Barão do Rio Branco era pacifista. Ele dizia que as guerras eram uma solução horrível, uma coisa desgraçada, então ele não era a favor de ação de força. Mas, se você pegar a questão do Acre, por exemplo, antes de começar a negociação, ele mandou um regimento do Exército brasileiro para o Acre, para criar um fato consumado. Ele era a favor de relações internacionais pacíficas, mas apoiou, por exemplo, o rearmamento naval. Essa imagem do Rio Branco pacifista, esquecendo esse pragmatismo é o fato de que a diplomacia brasileira posteriormente teve interesse em dar ênfase ao pacifismo, e aí deu ênfase em Rio Branco como uma figura pacifista, o que permitiu efetivamente construir uma política externa muito eficiente

Daniel Buarque – Alguma coisa desse realismo de 150 anos atrás persiste na realidade da diplomacia brasileira até hoje? Existe influência da Guerra do Paraguai na poítica externa do país?

Francisco Doratioto – Até a década de 1980, predominou o sentimento de que Buenos Aires era um rival potencial no Rio da Prata e que se deveria disputar a hegemonia com eles e se impor. O Itamaraty foi fortemente influenciado pelo realismo de contenção de Buenos Aires no Rio da Prata. Hoje essa questão não se coloca mais. De qualquer forma, nas Forças Armadas sempre existe aquela coisa de hipótese de guerra. Por mais que hoje a principal hipótese de guerra seja relacionada à proteção da Amazônia, a maior concentração de tropas do Brasil está no sul do país. Claro que isso é um pouco por inércia, mas no meio militar existe ainda muito desse realismo. Até o começo do século XXI  houve uma notável mudança de mentalidade na diplomacia brasileira em favor da redução desse realismo, em substituir efetivamente a rivalidade pela ideia de cooperação. 

‘Se alguma lição a Guerra do Paraguai deixou para a diplomacia brasileira é exatamente a desgraça que é a guerra’

Se alguma lição a Guerra do Paraguai deixou para a diplomacia brasileira é exatamente a desgraça que é a guerra. A palavra do Barão está certa. E há necessidade de cooperação e de se manter muito bem informado e ter uma presença no Rio da Prata, e em outros países, para para saber o que está acontecendo, fazer análises corretas. No Paraguai pré-guerra, o Brasil era pessimamente representado e a delegação brasileira no pré-guerra não sabia o nível de organização militar, os preparativos de Solano López para uma ação militar. Então é importante ter uma presença diplomática, e essa é uma boa lição da Guerra do Paraguai em termos diplomáticos. 

Daniel Buarque – Estamos falando muito sobre o Barão do Rio Branco, mas você escreveu um artigo sobre o pai dele, o Visconde do Rio Branco, que teve uma importância muito grande no período Imperial, mas que acaba sendo esquecido. Qual a relevância dele nesse para essa formação da diplomacia Brasileira? 

Francisco Doratioto – Até o final do século XIX, até a questão de Palmas, com a Argentina, em que o laudo arbitral do presidente dos Estados Unidos foi favorável ao Brasil, o Barão do Rio Branco, o filho, era absolutamente desconhecido. E o Visconde do Rio Branco era o grande personagem da história do Brasil Império, e um dos grandes estadistas do Brasil Império. Ele teve uma carreira inteira dentro do Estado brasileiro. Ele foi senador, ministro da Guerra, ministro das Relações Exteriores, primeiro-ministro, negociador experiente no Rio da Prata. É uma figura fascinante do Brasil Império. Com certeza o José Maria da Silva Paranhos, o pai, o Visconde do Rio Branco, é tão importante para a história do Brasil e para o Estado monárquico quanto a figura do José Maria da Silva Paranhos Filho, o Barão, é para o Estado republicano. 

Daniel Buarque – Que tipo de influência a guerra tem até hoje na relação entre o Brasil e o Paraguai? 

Francisco Doratioto – O Paraguai perdeu a guerra, e qualquer país derrotado evidentemente tem uma sensibilidade muito grande para um tema como esse. E isso precisa ser levado em consideração. Mesmo que o Brasil não tivesse, em 1864, nenhum interesse, nenhum projeto de fazer uma guerra contra o Paraguai, é uma questão sensível, e que permanece sensível, porque, afinal, o país foi derrotado, perdeu território. No geral, a sociedade paraguaia encara as relações com o Brasil com muita simpatia. Existe um pequeno núcleo do revisionismo Lopista, que construiu a imagem do Solano López herói. É um projeto político da extrema-direita paraguaia, uma instrumentalização da história para para defender interesses no presente.

segunda-feira, 30 de maio de 2022

Logística dos fretes marítimos: situação confusa, com carências e congestão ao mesmo tempo (Hellenic Shipping News)

  

Hellenic Shipping News, Pireu – 30.5.2022

Container shipping situation worsens due to congestion, delays, and empty containers

 

Supply chain challenges continue to worsen, exacerbated by higher levels of port congestion and shipping delays at ports in Shanghai and elsewhere in China due to Covid-19 lockdowns. Coupled with ongoing congestion at ports elsewhere in the world and low backhaul rates to Asia, container demand is far exceeding capacity.

Congestion at Chinese ports increased in March and April as Covid-19 lockdown measures were introduced in Shanghai and later extended to other parts of the country.Since the beginning of March, total dry bulk congestion levels at ports in mainland China have increased between 30-40%, according to S&P Global Commodities at Sea. The port congestion at Shanghai has showed signs of easing in May, as traffic has been diverted to alternative ports throughout northern and southern China. However, overall congestion levels remain high and longer vessel queues are being seen at alternative ports such as Tianjin and Zhoushan.

Container shipping rates departing Asia also remain significantly elevated over routes inbound to Asia from the US and elsewhere.This differential in freight rates, along with severe delays at ports, has disincentivised carriers from taking shipments from the US, Europe, or elsewhere to Asia, with disproportionate negative impacts for agricultural exports. The most recent Freightos Baltic Index average price on 6 May for a 40-foot container from ports in China/East Asia to North America West Coast was $14,226. In contrast, the 6 May price from ports in North America West Coast to ports in China/East Asia was $991. The average rate from ports in China/East Asia to ports in North Europe was $10,565, compared with $754 in the other direction. The average rate from ports in China/East Asia to ports in the Mediterranean was $12,538, and only $1,528 in the opposite direction.

In the US, tree nuts, produce, and dairy products in California are struggling to find container capacity, according to the California Farm Bureau Federation. Many carriers are no longer stopping at the Port of Oakland, instead opting to send empty vessels directly from the Ports of Los Angeles and Long Beach to take advantage of high rates from Asia to the US West Coast. There has also been a general shift in container capacity away from the US West Coast towards the US East Coast. Back in January, The Journal of Commerce reported that shipping companies had increased vessel capacity between Asia and the US East Coast by 25% at the beginning of 2022 compared with the previous year. Shippers increasingly moved to the US East Coast to avoid the now-infamous backlog of ships at the ports of Los Angeles-Long Beach in Southern California.

Port congestion and container capacity has been especially bad in China and the US but remains a global issue. Reuters reports that delays in shipments from China to Europe are subsequently causing shortages of containers to take European goods to the US East Coast. In Chile, the National Union of Fruit Producers (Fedefruta) has called for an action plan to prioritise perishable goods. Products including table grapes, blueberries, and apples and kiwis have been significantly affected by port congestion and transport delays. Transport and unloading between Chile and the port of Philadelphia is reportedly taking as much as 45 days, compared with a normal average of 20 days.

Transport delays in 2021 led Chilean exporters to place greater emphasis on the US market over China, where transport and unloading times are comparatively lower. Some exporters, however, have been able to take advantage of the disruption. For example, Peru saw a 43% y/y increase in fruit, vegetable, and grain exports to China in 2021 as Peruvian exporters filled in the gap left by reduced Chilean supplies.

A key driver of delays and capacity constraints is that many ships are operating at less than full capacity. Ships operating at partial capacity means that more ships are required to move the same volume of cargo. More ships at ports leads to loading and unloading delays. Delays encourage ships to make fewer stops and operate at less than full capacity, and the vicious cycle continues.

In the US, farmers have called on the government to enact measures to quell the practice of ships departing US ports with empty containers. The House and Senate have both passed versions of the Ocean Shipping Reform Act, which would strengthen the authority of the Federal Maritime Commission over ocean shipping companies, including the ability to impose new rules barring carriers from “unreasonably” denying shipments of US exports. The bill is opposed by the World Shipping Council. The House and Senate versions of the bill still need to go through the reconciliation process and will require another vote before becoming law.

The Panama Canal Authority has also proposed a new tolling plan which would for the first time include fees for ships carrying empty containers. The current tolling system has been criticised for being overly complex, and the proposed change is part of a broader effort to make the tolling plan “simple and transparent”, according to Panama Canal Deputy Administrator Ilya Espino de Marotta. The authority said that the new fee on empty containers “recognises the repositioning value of empty containers”.

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domingo, 29 de maio de 2022

Patti, Carlo: Brazil in the Global Nuclear Order, 1945–2018 Baltimore 2022: book review

 

Carlo Patti: Brazil in the Global Nuclear Order, 1945–2018


Title
Brazil in the Global Nuclear Order, 1945–2018. 


Author(s)
Patti, Carlo
Series
Johns Hopkins Nuclear History and Contemporary Affairs 
Published
Extent
312 S.
Reviewed for Connections. A Journal for Historians and Area Specialists by
Robin Möser, Berlin

Over the past years, the emerging scholarship in the field of nuclear history has increasingly dealt with non-traditional nuclear cases, including Sweden,[1] Pakistan,[2] Ghana,[3]and most recently Kazakhstan.[4] In this direction, the inclusion of Brazil into the debate is a much sought-after addition, considering the more than seven decades of pursuing various goals in the nuclear sector, which is at the core of Carlo Patti’s new book, Brazil in the Global Nuclear Order, 1945–2018.

Based on 12 years of personally conducted archival research across the globe (in Brazil, Argentina, Germany, the United States, France, the United Kingdom, South Africa, and Italy), Patti, who is a professor of international relations at the Federal University of Goiás, Goiânia, adds meaningful points to the debate on the global nuclear order, discussing key aspects such as international arms control and safeguards, technological assistance and sensitive cooperation, and the creation of a Latin American Nuclear Weapons Free Zone (NWFZ). Moreover, the book includes more than a dozen of contemporary pictures, which complement the volume well.

The author addresses what he perceives as a gap in the literature on the global nuclear order, namely the inclusion of emerging countries’ experiences. He succeeds in doing so as this is the first complete treatise about Brazil, which is grounded on a detailed analysis of obtained primary records, most of them having never been consulted before. Furthermore, the author collected many testimonies through oral history interviews with an impressive number of former actors and interviewed no less than two former Brazilian presidents, high-ranking diplomats, politicians, military officials, and scientists, who occupied key positions during the period under investigation.

In the introduction, the author asserts that three different explanations are usually put forward to account for Brazil’s nuclear ambition to achieve an autonomous nuclear research sector: economic considerations in the wake of the 1970s oil crisis; nationalist ambitions during the various military regimes, against the backdrop of the Cold War; and the quest for an international status, in the International Atomic Energy Agency (IAEA) and the United Nations more broadly. Patti then sets out to overcome what he regards as the two greatest shortcomings in the historiography of Brazil’s nuclear past: firstly, no study has connected the above-mentioned arguments to explain why Brazilian leaders took such decisions in the nuclear field and, secondly, the existing literature lacks any consideration of the many international factors that shaped the decision-making.

The author, on the basis of an incredible number of archival sources and the use of oral histories, managed to intertwine various domestic, regional, and global influences: the US Atoms for Peace programme; the rise of a nuclear industry in states such as Germany, France, and the United States, who all aimed to export its products (the Brazil-Germany nuclear deal of 1975 is key here); the US non-proliferation agenda (especially under President Jimmy Carter); and Argentina, the regional (nuclear) rival.

Over nine chapters, together with an introduction and a conclusion, Patti chronologically dissects the efforts of several Brazilian governments to achieve autonomy in the nuclear field. This includes research into uranium enrichment, nuclear reactors for energy production, and the reprocessing of spent fuel. The question of how much these attempts were driven by the aim to ultimately build nuclear weapons is discussed as well. The author argues that it was never the goal of the Brazilian leadership to develop atomic devices; however, they wanted to have the capability to do so. This aim was finally given up in the early 1990s. 

Throughout the book (and this is crucial), he sheds light on arms control initiatives emanating from the Global South, and his research on Brazilian and Argentinian disarmament initiatives and mutual agreements, crowned by their accession to the Treaty of Tlatelolco, is a timely and welcome addition to the burgeoning literature on international arms control. The rich account of Brazil’s nuclear development highlights inherent proliferation risks, such as reverse engineering, smuggling, and clandestine deals. The book illustrates how states willing to pursue non-peaceful goals can overcome the barriers of the international non-proliferation regime by diverting safeguarded equipment to non-safeguarded parts of secret parallel programmes.

Patti is at his best when skilfully tying together the domestic aspects with regional and global dimensions: for example, he uncovers the fact that the subsequent accessions of South Africa, France, and China to the Treaty on the Non-Proliferation of Nuclear Weapons (NPT) in the first half of the 1990s were crucial for Brazilian leaders to likewise sign the treaty in 1998. He also reconstructs the Brazilian-Argentinian relationship and how former rivals became partners with the aim to promote a world free of nuclear weapons following democratic transitions in both states.

For me, three aspects stand out from his analysis. Firstly, the role of the United States in the bilateral relationship is important in setting the terms of the cooperation agreements with Brasilia. However, when Washington rejected the requests for, inter alia, technology, the Brazilians looked for other partners, often targeting those outside the NPT, including India and China, as well as West Germany and France.

Secondly, through a retrospective perspective, the author establishes that the Brazilian-Argentinian relationship has often been portrayed as too conflictual and rivalrous. His research led him to conclude that bilateral affairs started improving since the 1980s, allowing for mutual nuclear cooperation and the successful ratification of the Treaty of Tlatelolco, being the legal basis of the Latin American NWFZ.

Lastly, and this is a timely reminder, Patti shows how Brazilian diplomats became active players in global nuclear disarmament fora, acting as a bridge-builder in an effort to broker a deal with Iran in 2010 and trying to mediate in the Cuban Missile Crisis in 1962.

The book’s only shortcoming, in my view, is the almost complete absence of assessing anti-nuclear protests coming from non-governmental organizations (p. 152 and p. 159 mention it in passing) and the impact on the environment of the country’s several large-scale nuclear projects. Keeping in mind the nuclear disaster at Goiânia, “one of the worst civilian radiological accidents in nuclear history” (p. 144), one assumes that there would have been a mushrooming of grassroots resistance to nuclear energy, especially the storage of nuclear waste.

This minor point aside, Patti’s achievement is, by any standards, an impressively detailed study that pushes boundaries in the field of nuclear history. It is a well-researched book whose narrative indeed does justice to the critical role that Brazil played in the development of the contemporary global nuclear order. The volume also illustrates nicely the conditions under which Brazilian leaders renounced a nuclear weapons option, which, given the present state of the world, cannot be highlighted enough.

Notes:
[1] Thomas Jonter, The Key to Nuclear Restraint. The Swedish Plans to Acquire Nuclear Weapons During the Cold War”, London 2016.
[2] Rabia Akhtar, The Blind Eye. U.S. Non-Proliferation Policy Towards Pakistan from Ford to Clinton, Lahore 2018. 
[3] Abena Dove Osseo-Asare, Atomic Junction. Nuclear Power in Africa after Independence, Cambridge 2019.
[4] Togzhan Kassenova, Atomic Steppe. How Kazakhstan Gave Up the Bomb, Stanford 2022.