O chanceler de Lula 3 tem certeza de que os “tubarões” do Brics+ querem um mundo mais justo e equilibrado?
Paulo Roberto de Almeida
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
O chanceler de Lula 3 tem certeza de que os “tubarões” do Brics+ querem um mundo mais justo e equilibrado?
Paulo Roberto de Almeida
Lula torna situação do Brasil delicada ao se comportar como ‘bagrinho’ que acompanha China e Rússia
Desculpem dizer mas o ministro da “Justiça” também é um idiota. Qual é a assimetria que existe no TPI se mesmo um cidadão de um país que NÃO FAZ parte do TPI, como é o caso do tirano de Moscou, pode ser julgado pelo TPI como qualquer outro violador dos DH de QUALQUE PAÍS do mundo? Qual é a lógica de Dino?
Não tem lógica nenhuma: só está seguindo a idiotice do chefe dele.
Enquanto isso o ministro dos DH do país dos idiotas governamentais permanece caladinho.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 14/09/2023
Dino diz que Tribunal Penal Internacional é desequilibrado e endossa críticas de Lula Ministro afirma que Itamaraty pode debater participação do Brasil no Estatuto de Roma
BRASÍLIA O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), afirmou nesta quarta-feira (13) que o TPI (Tribunal Penal Internacional) hoje funciona de modo "desequilibrado" e endossou críticas do presidente Lula (PT) ao fato de o Brasil ser signatário do tratado da corte enquanto países como Estados Unidos e China não o são. "O TPI é de algumas nações e não de todas, e é esse o alerta que o presidente fez, no sentido da necessidade de haver igualdade entre os países. Ou seja: ou todos aderem ou não faz sentido um tribunal que seja para julgar apenas uns e não outros", disse o ministro. É o momento em que, nessa projeção mundial que o presidente Lula tem, quem sabe haver essa revisão do estatuto", sugeriu Dino em referência ao Estatuto de Roma, tratado fundador do Tribunal de Haia. "Ou todos os países aderirem.
Ou, de fato, haver o reconhecimento de que é um tribunal que funciona de modo desequilibrado", completou ao participar de evento no Senado. O ministro disse que rever a participação do Brasil no TPI ainda é "um debate muito novo". Ele, no entanto, também afirmou que a diplomacia brasileira poderá avaliar a questão em "algum momento" —sem responder se ele, pessoalmente, era contra ou a favor disso. "O presidente Lula alertou corretamente que há um desbalanceamento em que alguns países aderiram à jurisdição do TPI e outros não. Isso sugere que, em algum momento, a diplomacia brasileira pode rever a adesão a esse acordo, uma vez que não houve igualdade entre as nações na aplicação desse instrumento." Na última segunda-feira (11), Lula disse que "não sabia da existência" do tribunal e que iria investigar as razões de o Brasil ser signatário do Estatuto de Roma. "Me parece que os países do Conselho de Segurança da ONU não são signatários, só os 'bagrinhos'",afirmou o petista durante entrevista coletiva em Nova Déli, na Índia, após o encerramento da cúpula do G20.
Na verdade, dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança —colegiado no qual a participação é uma demanda antiga do Brasil—, EUA, Rússia e China não aderiram ao TPI. França e Reino Unido, porém, são signatários do Estatuto de Roma e membros da corte. No total, a instituição reúne 123 países. A adesão do Brasil ao estatuto voltou a ser tema de debate depois de um comentário do petista a uma emissora indiana no último sábado (9). Na ocasião, ele afirmou que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, poderia ir ao Rio de Janeiro em 2024, para a cúpula do G20 sob a presidência brasileira, sem correr risco de ser preso. A questão é que o russo é desde março alvo de um mandado de prisão do TPI por supostos crimes de guerra na Ucrânia. E o Brasil, como signatário do documento fundador do tribunal, em tese deveria se comprometer a cumprir suas ordens —neste caso, prender Putin, que sempre negou as acusações.
O mandado do Tribunal de Haia, que acusa o presidente russo de não agir para impedir a deportação ilegal de crianças ucranianas de territórios ocupados por seu Exército, já o impediu de comparecer a pelo menos um evento internacional de peso neste ano —a cúpula do Brics, realizada em Joanesburgo, na África do Sul. Com sede em Haia, na Holanda, o Tribunal Penal Internacional foi criado em 1998 e é responsável por investigar e julgar pessoas acusadas de infrações como crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
O Brasil assinou o documento em 2000, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e o incorporou à legislação em 2002, mesmo ano em que o TPI passou a funcionar de fato —portanto, antes de o petista assumir seu primeiro mandato na Presidência, em 2003.
Um novo livro do grande historiador Francisco Doratioto:
Memórias de Dorothée Duprat de Lasserre: relato de uma prisioneira na Guerra do Paraguai (1870)
Organização e posfácio: Francisco Doratioto
Indicação editorial: José Murilo de Carvalho
Chão Editora, 2023, 168 páginas
ISBN 978-65-80341-28-3
R$ 54,00
Lançamento: setembro de 2023
Os livros da Chão Editora são distribuídos com exclusividade pela Editora 34
A Guerra do Paraguai (1864-70) foi uma hecatombe humana, política e financeira para os países que dela participaram. A confirmação dos atos sangrentos praticados pelo ditador paraguaio Francisco Solano López, relatados por suas vítimas ou por observadores, interessava a setores políticos nos países envolvidos no conflito, e ao mesmo tempo descreve com honestidade as experiências pessoais de seus autores.
As Memórias de Dorothée Duprat de Lasserre são o único depoimento de uma mulher a respeito do conflito. A autora não só assistiu à violência da guerra, mas viveu na pele os desmandos da ditadura de López. Seu relato, escrito no calor dos acontecimentos, expõe os sofrimentos causados pela guerra na população civil, particularmente nas mulheres paraguaias.
A pesquisa de Francisco Doratioto em arquivos brasileiros, argentinos e paraguaios revela fatos inéditos sobre a vida de Dorothée, que durante a guerra fez parte de um grupo de mulheres chamadas de destinadas. Arbitrariamente tachadas de traidoras por López, foram obrigadas a caminhar, sob escolta de soldados, para o interior do Paraguai. Doentes, maltrapilhas e à beira da inanição, as sobreviventes da extenuante jornada foram libertadas em dezembro de 1869, já no final do conflito, pelo Exército imperial brasileiro.
Exausta, física e psicologicamente, ainda assim Dorothée aceitou o desafio de escrever suas memórias, a pedido do coronel Francisco Pinheiro Guimarães, no início de 1870. Finda a guerra, teve ainda uma intensa vida pública em Chivilcoy, na Argentina, onde morreu em 1932.
Sobre Dorothée Duprat de Lasserre
Dorothée Duprat (1845-1932), nascida na França, imigrou com os pais em 1856 para a colônia agrícola de Nueva Burdeos, no Paraguai. Em 1859, casou-se com o comerciante Narcise Lasserre. Em 1868, durante a Guerra do Paraguai, seu pai, irmão e marido foram sequestrados e assassinados pelas forças de Francisco Solano López. No ano seguinte, junto com a mãe, Dorothée tornou-se prisioneira de guerra. O grupo das chamadas destinadas chegou a reunir 2800 prisioneiros, em sua maioria mulheres, mas também crianças e anciãos. No fim desse ano, as destinadas foram libertadas pelo Exército imperial brasileiro. Dorothée mudou-se para Chivilcoy, Argentina, em 1872.
Sobre Francisco Doratioto
Francisco Doratioto é bacharel em história e em ciências políticas pela Universidade de São Paulo e mestre e doutor em história das relações internacionais do Brasil pela Universidade de Brasília, onde é professor nos cursos de graduação e pós-graduação em história. É autor, entre outros livros, de Maldita guerra: nova história da Guerra do Paraguai e General Osorio: a espada liberal do Império.
Trecho
Acabaram-se novamente as laranjas, então a sra. Leite determinou-se; também chegou um soldado da guarda contando que o sargento tinha ido denunciar todas as destinadas que fugiam. Isso fez com que muitas se decidissem, e voltamos a fazer trato com outro índio. Nós o carregamos de roupa, redes, ponchos... e fomos embora. Essa noite era o 14 de dezembro; ao cruzar o estuário cortei-me num lado da perna, atrás de mim vinha a sra. Jaona, que machucou as duas pernas. Para nos salvar, nos desvencilhamos da roupa, estávamos banhadas em sangue. Em poucos instantes ouviu-se um pedido de socorro, a sr.a Leite havia entrado no barro até metade do corpo, pareceu-me um mau agouro, mas seguimos o índio em silêncio [...]. Caminhamos até meia-noite, alcançamos uma ponta de monte, nosso guia ordenou que sentássemos em silêncio e o aguardássemos.
Informações para imprensa:
Gabriela Toledo
(11 98227-0770 / obaramail@gmail.com)
Informações para professor:
Mariana Mendes professor@chaoeditora.com.br
Fui entrevistado pelo jornalista Fabio Cardoso para uma série que já teve outras emissões – uma com Gustavo Franco, por exemplo – sempre em torno da funcionalidade das instituições.
A entrevista tem o seu link abaixo. Mas antes da entrevista, eu tinha preparado algumas notas em torno do assunto principal, que transcrevo abaixo.
4464. “Itamaraty: uma instituição de Estado, pouco independente de governos”, Brasília-São Paulo, 27-30 agosto 2023, 6 p. Nota elaboradas para entrevista na Rio Bravo Investimentos, com o jornalista Fábio Cardoso, em 1/09/2023; revisão: Brasília, 9/09/2023. Divulgada no dia 13/09/2023, sob o título de “Videocast Rio Bravo: As Instituições Estão Funcionando? - Paulo Roberto de Almeida” (29m-56s; link: https://www.youtube.com/watch?v=1JJC4Q9eB7E); disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/106584032/4464_Itamaraty_uma_instituição_de_Estado_pouco_independente_de_governos_2023_). Relação de Publicados n. 1522.
Itamaraty: uma instituição de Estado, pouco independente de governos
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Nota para entrevista na Rio Bravo Investimentos em 1/09/2023.
O Itamaraty, conhecido por esse nome apenas a partir da República, é uma das mais antigas e importantes instituições de Estado, tanto no regime colonial português, como na transição da coroa portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808, e nos dois séculos desde o estabelecimento do Estado brasileiro independente. A antiga secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros sempre disputou com Marinha, Fazenda e Justiça a primazia entre os ministérios mais relevantes para a preservação do Estado e seu funcionamento normal em face de tantas ameaças internas e externas nas diversas dinastias lusitanas, até chegar aos Braganças, que ainda governaram os dois reinos até o final do século XIX.
As relações exteriores sempre foram estratégicas na defesa dos interesses e da própria sobrevivência do Estado português, desde antes e sobretudo após a Restauração de 1640. Tanto foi que um dos tratados de defesa possivelmente mais antigos teoricamente ainda em vigor foi aquele contraído entre os dois soberanos, o de Portugal e o da Inglaterra, poucos anos depois da retomada da soberania portuguesa em face dos vizinhos espanhóis, do tempo dos Habsburgos. Registre-se, também, que o território da América portuguesa representava menos de 1/3 das atuais dimensões do Brasil, sendo que significativos ganhos territoriais foram adquiridos pacificamente pela excelente diplomacia portuguesa, no caso pelo súdito santista Alexandre de Gusmão, que negociou o tratado de Madri, de 1750, aposentando a linha de Tordesilhas e adquirindo vastos espaços no planalto central, na Amazônia e no Sul (com a exceção da Colônia do Sacramento, fundada pelos portugueses, mas por esse tratado cedida definitivamente aos espanhóis).
O tratado de Madri conformou o Brasil no mapa que conhecemos hoje, com outras pendências arbitradas ou negociadas diretamente com os vizinhos sul-americanos, acordos geralmente alcançados pelo Barão do Rio Branco, inclusive a compra do Acre à Bolívia. O Barão chegou inclusive a fazer um tratado preventivo de limites com o Equador – seguido de um tratado secreto de defesa mútua –, não implementado pelo fato de o país amazônico, andino e pacífico ter perdido terras interiores para seus dois grandes vizinhos. As relações exteriores do Brasil, durante tudo o Império e no começo da República, foram justamente dominadas por questões de fronteiras, felizmente resolvidas pacificamente, não incluída aqui a guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, que se deu por outros motivos, e certamente provocada pelo ditador paraguaio Solano Lopes. Outras pendências que nossa primeira diplomacia teve de resolver logo em seus primeiros momentos foi a guerra da Cisplatina e os conflitos com a Grã-Bretanha em torno do tráfico escravo, duas heranças portuguesas que ocuparam os diplomatas – vários nascidos em Portugal – durante o primeiro Reinado.
José Bonifácio, nosso primeiro chanceler, além de ministro do Império, tinha concebido uma política externa brasileira e americanista, mas os interesses de D. Pedro na sucessão portuguesa desviaram a atenção da Secretaria dos Negócios Estrangeiros durante o seu período, finalmente terminado em 1831; vários historiadores acreditam que esse foi o ano em que finalmente se consolidou a independência do Brasil. As regências conduziram efetivamente uma política americanista, enviando encarregados de negócios para várias repúblicas sul-americanas, mas as pendências com a Grã-Bretanha sobre o tráfico, e com outras potências em torno de acordos comerciais, continuaram ocupando a diplomacia até o início do Segundo Império. Agiganta-se, nos anos 1840 e 1850, a figura de Paulino José Soares de Souza, o visconde do Uruguai, que moldou institucionalmente o corpo diplomático, inclusive instituindo concursos de seleção – não muito diferentes dos que são feitos ainda hoje – e resolvendo a questão do tráfico com a Lei de 1850, conjuntamente com Eusébio Queiroz; Paulino também atuou nos conflitos do Prata, entre o ditador Rosas, da Argentina, e os demais caudilhos da região, inclusive na própria Argentina e no Uruguai.
A diplomacia imperial foi muito eficiente, tanto nas relações regionais, como no confronto com as grandes potências, pois que chegamos a romper relações diplomáticas com a principal potência da época, a Grã-Bretanha, nosso principal parceiro comercial. A dependência financeira não foi afetada, porque contratos de empréstimos e investimentos estrangeiros eram resolvidos diretamente com os banqueiros ingleses da City, em especial os Rothschild, banqueiros oficiais do Brasil até praticamente as vésperas da Segunda Guerra Mundial (quando saímos da esfera da libra britânica para a do dólar). O Visconde do Rio Branco e outros estadistas do Segundo Reinado conduziam as principais negociações externas, havendo, de toda forma, uma grande rotação de chanceleres, dada a sucessão de gabinetes. Aliás, Rio Branco foi um dos únicos chanceleres diplomatas (ele era originalmente apenas cônsul, até ser designado ministro em Berlim em 1990, como prêmio à sua atuação), pois todos os demais chanceleres eram parlamentares eleitos, segundo o modelo inglês.
O serviço exterior estava segmentado em três carreiras: a diplomática propriamente dita, que circulava principalmente entre postos no exterior; a dos funcionários da Secretaria de Estado, trabalhando no Rio de Janeiro, e raramente indo servir em postos no exterior; e, finalmente, a classe consular, exclusivamente dedicada a assuntos consulares típicos (vistos, permissões e documentos de direito internacional privado), além de assunto comerciais, como estampilhas em notas e faturas de comércio, dando direito ao recebimento de uma fração dos emolumentos consulares. Rio Branco, por exemplo, foi cônsul durante 20 anos em Liverpool, o mais ativo do comércio exterior britânico e mais importante no comércio bilateral com o Brasil, o que lhe facultava receber emolumentos suficientes para manter casa e família em Paris, para onde viajava frequentemente.
Procedimentos e métodos de trabalho foram evoluindo paulatinamente à construção do Estado brasileiro no século XX, notadamente a partir da era Vargas. Ao longo do século XX, o Itamaraty aperfeiçoou o processo de seleção dos quadros do Serviço Exterior, embora o próprio Barão do Rio Branco não tenho feito nenhum concurso: ele preferia, ele mesmo, selecionar os candidatos, entre muitos “indicados” pelas autoridades costumeiras. Importante reforma institucional ocorreu entre o governo provisório, sob o chanceler Afrânio do Melo Franco, e o Estado Novo, sob o chanceler Oswaldo Aranha, no sentido de unificar as três vertentes das carreiras do Serviço Exterior: o pessoal diplomático, servindo no exterior, os funcionários da Secretaria de Estado e o pessoal consular. Numa primeira etapa, sob o governo provisório, se procedeu à unificação dos funcionários diplomatas lotados em postos no exterior e o pessoal da Secretaria de Estado; mais adiante, os cônsules passaram a ser equiparados aos diplomatas,
O Estado Novo instituiu o DASP, Departamento Administrativo do Serviço Público, que passou a organizar processos de seleção para cargos públicos, inclusive para o Itamaraty. Roberto Campos, por exemplo, passou no primeiro exame de seleção do Itamaraty pelo DASP, em 1938, com a peculiaridade de que não se exigia diploma de curso superior: ele só tinha feito seminário e estava dando aulas no interior de São Paulo. Seu colega José Oswaldo de Meira Penna, que passou no mesmo concurso, afirmou que além dos que passaram no concurso, entraram alguns “pela janela”, por indicação política. Ao final do Estado Novo, em 1945, ocorreram falcatruas similares, seja pelas mãos do ditador – que só foi derrubado em outubro desse ano, pelo fato de que pretendia se manter na presidência, como comprovado pelo movimento “queremista”, “Queremos Vargas” –, seja pelo presidente interino, José Linhares, presidente do STF. Este, no espaço de poucos meses, colocou dezenas de amigos e familiares em cargos públicos, inclusive no Itamaraty. Na época se repetia o bordão, segundo o qual “os Linhares eram milhares”.
Mas, nesse mesmo ano de 1945, na data comemorativa dos 100 anos de nascimento de Juca Paranhos, filho do Visconde do Rio Branco, foi criado o Instituto Rio Branco, que passou a exercer o monopólio da seleção, formação e treinamento dos candidatos à carreira, constituindo seu corpo de professores, que no Rio de Janeiro incluíam grandes nomes da intelectualidade nacional: José Honório Rodrigues, Carlos Delgado de Carvalho, Américo Jacobina Lacombe, Afonso Arinos de Melo Franco e grandes sumidades do Direito e da Magistratura, da própria Academia Brasileira de Letras e do IHGB.
Essa seleção, primeiro dentro de um círculo mais restrito, de grandes famílias tradicionais e nas metrópoles mais importantes, depois, sobretudo a partir de Brasília, com pessoas recrutadas em estratos mais amplos e socialmente mais representativos da sociedade brasileira (filhos de imigrantes, por exemplo, pessoas de classe média-média, ou até baixa) aproximou o Itamaraty do universo estatal da fase nacional-desenvolvimentista (inclusive durante o regime militar) e imprimiu ao corpo profissional a mesma ideologia do desenvolvimento nacional que marcou o cerne do pensamento político e econômico das elites dominantes e dos setores dirigentes do Brasil.
O Itamaraty, como instituição nacional no Brasil do pós-guerra, combina elementos tradicionais, retirados da memória da Casa – os grandes estadistas do Império, a patrono incontornável na figura de Rio Branco – e os novos padrões criados a partir da fase do desenvolvimentismo nacionalista, que também reforçaram a endogenia típica do Itamaraty, sobretudo depois que os militares – irmãos estatais dos diplomatas – deixaram a Casa dirigir-se a si própria, nomeando funcionários da carreira como chanceleres (um ao início do regime, Vasco Leitão da Cunha, depois três na sequência: Gibson Barbosa, Azeredo da Silveira e Saraiva Guerreiro). FHC e Lula preservaram esse encapsulamento burocrático, o que, de certa forma, reforçou o ethos corporativo dos diplomatas.
Por outro lado, a intensa competição interna também atuou no sentido de reforçar a dependência da trajetória individual dos diplomatas ao sabor das maiorias políticas ocasionais no plano congressual e do executivo, com o recurso ao tradiciona “pistolão” nos momentos das promoções (duas vezes por ano) e nas designações para os bons postos no exterior. Por outro lado, a estrutura decisória da Casa – que reproduz a hierarquia típica da carreira militar – e os comportamentos pessoais a ela subordinados – a disciplina, que lhe é associada – foram elevados a dogmas intocáveis no ethos coletivo, o se revela no caráter híbrido do Itamaraty: ele é, ao mesmo tempo, weberiano, no sentido de serem os rituais e métodos de trabalhos altamente formalizados e burocratizados, e feudal, no sentido em que os barões da Casa têm o comando incontestável e incontestado de todos os demais funcionários do Serviço Exterior. Desde os bancos escolares do Instituto Rio Branco, os jovens secretários são primeiro instruídos, depois relembrados, em praticamente todas as cerimônias oficiais do Itamaraty, dos dois dogmas sobre os quais supostamente se funda a excelência do corpo da diplomacia profissional: a hierarquia e a disciplina, exatamente como na vida militar. A estrita obediência aos cânones de comportamento explica a postura submissa da Casa.
Tais características contribuem para uma notável coesão interna no Itamaraty, uma adesão praticamente obrigatória aos métodos de trabalho e uma grande eficiência uma vez adotada uma linha de trabalho pelas autoridades dotadas de poder: o presidente e o chanceler. O resultado é que o Itamaraty se converte num operador muito obediente de toda e qualquer ordem que venha do chefe de Estado, o formulador da diplomacia, e do operador-condutor da diplomacia, ou seja, o chanceler. Raramente se desenvolvem, ou ganham corpo, dissensões internas, divergências ou contestações diretas às orientações dadas, mesmo se elas discrepam, por vezes fortemente, das práticas e opções anteriormente em curso.
É verdade que as continuidades são mais presentes do que as rupturas no itinerário da política externa, em função de compromissos firmados, de tratados assinados e da imagem de credibilidade institucional da própria diplomacia, mas elas também existem. A mais notável, desde a redemocratização, foi a orientação partidária e a condução ideológica sob o chamado lulopetismo diplomático, ainda assim combinadas aos padrões habituais de trabalho do Itamaraty: multilateralismo, desenvolvimentismo, nacionalismo, protecionismo, soberanismo e um antiamericanismo moderado. O lulopetismo partiu dessa base para construir suas prioridades, centradas não apenas no terceiro-mundismo dos anos 1960, mas também na visão sindicalista marcada pela oposição entre ricos e pobres, poderosos e oprimidos, centro e periferia, burgueses e proletários, daí a inclinação míope por uma diplomacia Sul-Sul e até a preferência por regimes de esquerda no continente e alhures.
A maior ruptura foi obviamente representada pelo mal designado de bolsonarismo diplomático, mas ele não correspondeu a nenhuma ideologia formalmente estabelecida, apenas a uma mixórdia de preconceitos emprestados a teorias conspiratórias da extrema-direita americana, importada acriticamente pela franja lunática que dominou o Itamaraty durante a primeira metade do governo Bolsonaro. No plano interno da Casa, se tratou de movimento marginal, que não ganhou a adesão sincera de praticamente nenhum diplomata profissional, a não ser dos poucos oportunistas de ocasião, que sempre existem.
O fato é que o lulopetismo combina bem mais com a propensão dos diplomatas de serem condutores de iniciativas na frente externa, dado o grande protagonismo da diplomacia presidencial, falando a seus pares do mundo em desenvolvimento, um perfil mais parecido com o do próprio Brasil do que o dos países avançados da OCDE. Por sinal, os diplomatas se sentem bem mais confortáveis com a ideologia desenvolvimentista – e seus derivativos, como o cepalianismo, com o unctadianismo, o terceiro-mundismo, a latino-americanidade – do que com o mundo aparentemente distante das potências ocidentais, a cujo universo civilizatório estamos vinculados, mas numa posição de relativa inferioridade, dados os patamares insatisfatórios de desenvolvimento econômico e social. Os diplomatas continuam aderentes à divisão onusiana do mundo entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, fazendo questão de defender o princípio do tratamento diferencial e mais favorável a estes últimos, como se devêssemos pertencer eternamente a este universo dicotômico.
Finalmente, o patrimonialismo inerente à sociedade brasileira, o peso das oligarquias econômicas e políticas, o compadrio e o nepotismo característicos de relações baseadas mais em vínculos afetivos do que na impessoalidade burocrática das normas legais fazem com que o Itamaraty seja especialmente sensível a padrões de conduta fundados no “quem manda?” e no “quem indica?”, em lugar da autoridade racional-legal da dominação weberiana pura. Por isso mesmo, o Itamaraty continuará a ser esse corpo eficiente de funcionários colocados a serviço das ideias politicamente dominantes ao sabor da conjuntura vivida pela nação.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília-São Paulo, 4464, 27-30 de agosto de 2023, 6 p.; revisão: Brasília, 9/09/2023
Um livro pronto, à procura de algum editor:
Intelectuais na diplomacia brasileira
A cultura a serviço da nação
Paulo Roberto de Almeida
(organizador)
Prefácio 11
Introdução: intelectuais brasileiros a serviço da diplomacia 13
Paulo Roberto de Almeida
Nas origens da feliz interação entre o Itamaraty e a cultura brasileira
Por que uma nova iniciativa juntando Itamaraty e cultura, muitos anos depois?
Um novo projeto cobrindo outros intelectuais associados à diplomacia brasileira
Intelectuais na cultura e na diplomacia, no mundo e no Brasil 25
Paulo Roberto de Almeida
O que é o intelectual? Qual o seu papel social? 1
Os intelectuais e o poder: relações sempre ambíguas 7
Intelectuais no Brasil: papel político e institucional 13
Intelectuais brasileiros na diplomacia: o que precede o que? 16
A produção intelectual dos diplomatas: o mercado dos livros 25
Da República das Letras aos ensaios econômicos e sociais 29
Uma longa continuidade, na cultura e na diplomacia 31-32
Rui Barbosa e os fundamentos da diplomacia brasileira 59
Carlos Henrique Cardim
Uma trajetória impecável de internacionalista
Rui Barbosa defendendo o Brasil na Conferência da Haia de 1907
O Incidente Martens
A criação de um Tribunal Arbitral Permanente
O último discurso na Haia: despedida em grande estilo
A posição do Brasil: “moderada e circunspecta, mas firme e altiva”
“O novo descobrimento da América”
Outras questões de política externa e internacional tratadas por Rui Barbosa
A força de uma nova mentalidade
Os dois patronos
Bertha Lutz: feminista, educadora, cientista 81
Sarah Venites
Não tão breve nota introdutória
Uma formação cosmopolita
A ciência, a educação e o Museu Nacional
Política feminista, no Brasil e no mundo
O legado de Bertha e considerações finais
Afonso Arinos de Melo Franco e a política externa independente 105
Paulo Roberto de Almeida
Um membro do patriciado mineiro, de uma família de estadistas e intelectuais
Vida intelectual de Afonso Arinos, de uma família de escritores
Um diplomata natural, chanceler num período atribulado
A solução parlamentarista, sempre no horizonte...
A crise brasileira e seu caráter permanente
De volta ao planalto, como senador e constituinte
San Tiago Dantas e a oxigenação da política externa 131
Marcílio Marques Moreira
Marcos de uma vida intensa
San Tiago Dantas e os apelos do autoritarismo
A trajetória na luta democrática
Uma fina sensibilidade cultural
O ingresso na vida política
San Tiago e a reforma do Itamaraty
San Tiago, diplomata
Uma visão original da política externa e da política internacional
San Tiago, o pacifista
Em busca de uma esquerda “positiva”: San Tiago e Merquior
Roberto Campos: um humanista da economia na diplomacia 153
Paulo Roberto de Almeida
Uma vida relativamente bem documentada, senão totalmente devassada
O diplomata enquanto economista e, ocasionalmente, homem de Estado
Além da economia: um observador sofisticado do subdesenvolvimento brasileiro e latino-americano
Além da economia: o humanismo na sua versão irônica e política
A premonição das catástrofes evitáveis, um fruto de sua racionalidade
Um longo embate contra sua própria instituição
A Weltanschauung evolutiva de Roberto Campos: do Estado ao indivíduo
Meira Penna: um liberal crítico do Estado patrimonial brasileiro 191
Ricardo Vélez-Rodríguez
Breve síntese biográfica
A crítica de Meira Penna ao Estado patrimonial
O Brasil e o liberalismo
Patrimonialismo, o mal latino
Patrimonialismo e familismo clientelista
Patrimonialismo e formalismo cartorial
Patrimonialismo e estatismo burocrático
Patrimonialismo e mercantilismo
Patrimonialismo e corrupção
Alternativas ao Patrimonialismo
Um Tocqueville brasileiro
Lauro Escorel: um crítico engajado 217
Rogério de Souza Farias
Esperançosa inteligência
Retórica militante
Escolástico inútil
Cultura da política
Wladimir Murtinho: Brasília e a diplomacia da cultura brasileira 239
Rubens Ricupero
Colocar o Estado a serviço da cultura
As origens e os episódios latino-americanos
A história de Wladimir é um romance de aventuras
As marcas de Murtinho na cultura do Brasil
Brasília como nova capital da cultura brasileira
O legado de Wladimir Murtinho em Brasília e para o Brasil
Vasco Mariz: meu tipo inesquecível 253
Mary Del Priore
Uma infância carioca
Como se fabrica um escritor e musicólogo?
Itinerários na diplomacia: Porto e Belgrado
De volta à América Latina e novos desafios diplomáticos
A obsessão pela música
Um longevo diplomata-escritor
Vasco: demasiadamente humano
José Guilherme Merquior, o diplomata e as relações internacionais 281
Gelson Fonseca Jr.
O intelectual e o diplomata
Encontros com Merquior
Os textos sobre questões diplomáticas
O intelectual antes do diplomata
A coruja e o sambódromo: sobre o pensamento de Sergio Paulo Rouanet 311
João Almino
Diplomacia
Literatura
Filosofia
Iluminismo e universalismo
Universalismo e etnocentrismo
Relativismo e particularismos
Civilização ou barbárie
A permanência da obra
Apêndices:
Sumário da obra O Itamaraty na cultura brasileira (2001) , 329
Sobre os intelectuais , 335
Sobre os autores , 333
Perguntas múltiplas aos companheiros:
Eu sempre disse que a tragédia educacional brasileira é muito pior do que é possível imaginar. (PRA)
Brasil vai mal em ranking da OCDE: 3 urgências para o País melhorar na educação (e na economia)
O Brasil aparece mal no relatório Education at a Glance, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que avalia dados e políticas educacionais. O documento, divulgado nesta terça-feira, 12, mostra o Brasil com um dos mais baixos gastos com ensino básico, altos índices de jovens que não trabalham nem estudam e desinteresse pelo ensino técnico.
De acordo com especialistas ouvidos pelo Estadão, os dados revelam um cenário desafiador, sobretudo diante das nossas profundas desigualdades sociais. Pesa também a transição demográfica, em que o País vê cair a proporção de crianças e adolescentes e precisa ter ganhos de produtividade para fazer crescer a economia.
Entre as várias demandas para o Brasil ter um salto de qualidade na educação, os educadores apontam três urgências:
Educação profissional e olhar para o mercado de trabalho
“Não teremos um desenvolvimento inclusivo se não olharmos para a questão do primeiro emprego do jovem, da inclusão produtiva. O jovem terá de ir pro mundo do trabalho, seja logo após o ensino médio, enquanto cursa, ou depois do ensino superior”, diz a presidente do Instituto Singularidades, Claudia Costin, que foi diretora de Educação do Banco Mundial.
Segundo o relatório, o Brasil está entre os cinco países com menor porcentual de matriculados na educação profissional, considerando 45 nações analisadas. A taxa de alunos brasileiros nessa modalidade é 11%, bem abaixo da média dos países da OCDE (44%).
“Essa ideia muito brasileira de não levar tão a sério o ensino técnico profissional - ou fazer com que os institutos técnicos ambicionem virar universidades com todo seu academicismo - é parte dos problemas do País para gerar inserção produtiva dos jovens”, completa Claudia.
Para Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho, o desenvolvimento econômico do País será consequência de ter uma juventude criativa, e atuante. “Temos de nos preocupar em cuidar das nossas juventudes. Eles serão os adultos que vão cuidar da democracia, da Amazônia, da economia, do judiciário, do futuro do País”, resume.
O estudo da OCDE também mostra que o País registra alto índice de jovens de 18 a 24 anos que não estudam nem trabalham, os chamados “nem-nem”. Cerca de 24,4% estão nessa situação, enquanto nos países desenvolvidos esse índice é de 14,7%. Além disso, as mulheres aparecem em maior número no Brasil entre os nem-nem (30%), muito mais do que é visto nos outros países (14%).
“É um resultado da sobrecarga nas mulheres de afazeres domésticos e cuidados, especialmente as que têm filhos até 7 anos e são pobres”, diz a coordenadora de pesquisa e avaliação do Instituto Unibanco, Raquel Souza.
Segundo ela, as políticas públicas devem considerar a forte desigualdade de gênero entre os jovens nem-nem. “Para assegurar o direito dessa população de continuar os estudos e entrar no mercado de trabalho, precisamos de redes de apoio para as mulheres. A creche é uma delas”, completa.
Os especialistas também defendem mais investimento por aluno, mas reforçam importância de usar o dinheiro em políticas com evidências sólidas de melhora na aprendizagem. O Brasil aparece mais um vez no relatório da OCDE entre as nações com baixos investimentos no ensino básico: US$ 3.583 por aluno/ano, ante média de US$ 10.949.
Desde o início do século, o Brasil triplicou o valor investido por aluno no ensino infantil, fundamental e médio, mas ainda está distante de outros países. No mesmo período, a Coreia do Sul passou de cerca de US$ 3 mil para US$ 14 mil por aluno/ano; Portugal, de US$ 3,5 mil para US$ 10 mil; Austrália, de US$ 5 mil para US$ 12 mil.
“É a confirmação do cenário desafiador histórico da educação, com baixo nível de investimento por aluno, o que é incongruente com nossas necessidades de desenvolvimento educacional e socioeconômico”, diz Caio Callegari, coordenador de Inovação e Políticas do Instituto Unibanco,
Para educadores, modelos internacionais e nacionais mostram que mais recursos na educação básica devem ir para um grupo de políticas que conjuntamente trazem resultados, como escola em tempo integral, alfabetização, formação de professores, primeira infância e educação profissional e tecnológica. Além disso, é preciso olhar para a estrutura das escolas, com mais conectividade, livros atualizados para as bibliotecas e recursos de tecnologia.
“O desafio brasileiro é bastante complexo porque é preciso garantir o investimento adequado por aluno, e que esse recurso seja destinado adequadamente, para a aprendizagem dos estudantes”, diz a diretora executiva do Instituto Península, Heloisa Morel. Segundo ela, muitas vezes, os recursos são absorvidos por burocracias e ineficiências do sistema.
“É preciso não só aumentar o investimento, mas fazê-lo de forma planejada e por meio de políticas públicas estratégicas e assertivas, com o entendimento de que o resultado será colhido não no curto prazo, mas sim num projeto de país a longo prazo”, diz ela.
Para o diretor geral da ONG Parceiros da Educação, Rafael Machiaverni, além do investimento baixo em educação, o Brasil se preocupa com isso faz pouco tempo. “Enquanto algumas nações estão na briga pela educação de qualidade há mais de 50 anos, só viramos essa chave há cerca de 20”, diz “A boa notícia é que há hoje grande consenso entre especialistas sobre o que fazer e isso pode evitar desperdício e uso inadequado dos recursos.”
Claudia Costin ainda destaca a falta de investimento em professores, seja na preparação docente inadequada ou nos salários baixos, o que torna a carreira menos atrativa ou incapaz de reter talentos. “Hoje não formamos para a prática, porque investimos em formação precarizada, com educação a distância”, afirma.
Educação em tempo integral
Ainda segundo Claudia, o tempo reduzido que as crianças ficam na escola também é uma das razões pelas quais o Brasil gasta menos, revela o relatório da OCDE. Como mostrou o Estadão, alguns países desenvolvidos, como Austrália e Dinamarca, chegam a ter 50% mais tempo de aula no ensino fundamental do que é oferecido no Brasil. No País, são quatro horas por dia.
Pesquisas mostram que o modelo reduz o abandono escolar, aumenta a empregabilidade e a conexão do professor e do aluno com a escola. O investimento inicial, no entanto, por estudante é o dobro.
Para Claudia, é necessário escapar de um ensino conteudista, semelhante à sala de aula que outras gerações frequentaram. “Quatro horas são insuficientes para aulas mais dialogadas, mais mão na massa, necessárias em tempos de inteligência artificial e Chat GPT”, afirma.
Para os educadores, é necessário que crianças e adolescentes desenvolvam competências que serão úteis para profissões e desafios que ainda nem conhecemos. Entre essas habilidades, estão o pensamento crítico, a autonomia, a empatia, a criatividade e o trabalho em equipe
Para Caio Callegari, do Instituto Unibanco, o poder público mirar em políticas que favoreçam a recomposição de aprendizagem, problema que se agravou após o longo período de escolas fechadas na pandemia. “O governo federal em 2023 tem feito avanços nesse sentido com os programas anunciados, como o de fomento ao tempo integral e alfabetização”, avalia.
Hoje, 24% das escolas de ensino médio do País são de tempo integral e o Ministério da Educação (MEC) lançou em julho um programa para incentivar o aumento no número de vagas em 1 milhão. A intenção é a de que o período de aula seja de pelo menos 7 horas diárias.
Nos últimos anos, alguns Estados se tornaram referência na ampliação da jornada escolar. Ceará e Pernambuco, segundo o Censo Escolar 2022, têm cerca de metade dos alunos no ensino médio de tempo integral.
https://www.estadao.com.br/educacao/brasil-vai-mal-em-ranking-da-ocde-3-urgencias-para-o-pais-melhorar-na-educacao-e-na-economia/
Uma citação que vale um frontspicio:
George Kennan, sobre a necessidade de História para os diplomatas:
Enviado pelo embaixador Rubens Ricupero:
“… artigo de Kennan em The Atlantic Monthly (Training for Statesmanship, 191, maio 1953, p.40/43).
A opinião de Kennan me impressionou por resumir o que também sinto em relação ao estudo da diplomacia e das relações internacionais. Citando o artigo de GFK, Gaddis dizia:
“The only useful preparation for diplomacy came from history, as well ‘from the more subtle and revealing expressions of man’s nature’ found in art and literature. Students should be reading ‘their Bible and their Shakespeare, their Plutarch and their Gibbon, perhaps even their Latin and their Greek’. These alone would build those qualities of ‘honor, loyalty, generosity [and] consideration for others’ that had been the basis for effectiveness in the Foreign Service”.
A História continua sendo a mãe de todas as ciências: nasceu na Grécia, com Herodoto e sobretudo Tucidides.