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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 9 de março de 2024

Treze ideias fora do lugar nas relações internacionais do Brasil: argumentos contrarianistas sobre a política externa e a diplomacia - livro de Paulo Roberto de Almeida


4561. Treze ideias fora do lugar nas relações internacionais do Brasil: argumentos contrarianistas sobre a política externa e a diplomacia. Brasília: Diplomatizzando, 2024. 91 p.; ISBN: 978-65-00-91081-0; ASIN: B0CS5PTJRLKindle). Apresentação no blog Diplomatizzando (13/01/2024; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/01/treze-ideias-fora-do-lugar-nas-relacoes.html). Relação de Publicados n. 1542.


4546. “Desigualdade e injustiças mundiais: progresso e poder”, Brasília, 9 janeiro 2024, 5 p. Texto preparado para servir de primeiro capítulo ao livro “Treze Ideias fora do lugar”. Disponível neste link da plataforma Academia.edu: 

https://www.academia.edu/115985853/Livro_Treze_ideias_fora_do_lugar_nas_rela%C3%A7%C3%B5es_internacionais_do_Brasil_argumentos_contrarianistas_sobre_a_pol%C3%ADtica_externa_e_a_diplomacia_Paulo_Roberto_de_Almeida_Kindle_



Treze ideias fora do lugar nas relações internacionais do Brasil: argumentos contrarianistas sobre a política externa e a diplomacia

Brasília: Diplomatizzando, 2024. 126 p.; ISBN: 978-65-00-91081-0; ASIN: B0CS5PTJRLKindle). Relação de Originais n. 4561; Relação de Publicados n. 1542.

 

Índice

 

Prefácio: Como ser contrarianista com algum senso de humor

 

1. Desigualdade e injustiças mundiais: progresso e poder

O mundo é injusto e desigual, está baseado nas relações de força e na prepotência dos poderosos. 

Correto, mas menos do que antes e menos do que se pensa.

 

2. Periferia histórica e dependência estrutural: mitos diplomáticos

O Brasil está situado na periferia, por razões históricas e estruturais e, portanto, forçado a uma situação de dependência em relação às poderosas nações centrais.

Certo relativamente, mas errado absolutamente; válido num passado distante, não muito válido depois de 200 anos de independência e cem anos de ideologia do desenvolvimento.

 

3. Empresas multinacionais e dependência tecnológica

A dominação econômica de empresas multinacionais atua como obstáculo para nossa independência tecnológica e se reflete em relações desiguais na balança tecnológica.

Totalmente errado. Os efeitos são exatamente no sentido contrário, mas o trabalho principal tem de ser feito em casa.

 

4. Protecionismo dos ricos: responder na mesma moeda?

O Brasil não consegue exportar devido ao protecionismo dos países ricos que protegem seus setores estratégicos ou sensíveis. O Brasil deveria fazer o mesmo.

Muito relativo: o protecionismo talvez tenha uma incidência marginal nos fluxos globais e não seria ele um obstáculo absoluto ao dinamismo das exportações brasileiras, que dependem de outros fatores vinculados à produtividade geral e competitividade da economia nacional. Imitar práticas protecionistas não é necessariamente receita para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.

 

5. Multilateralismo e política de blocos

O multilateralismo e os blocos regionais representam nossa melhor defesa no plano mundial, por isso precisamos atuar mediante grupos de países.

Correto no plano multilateral, mas eventualmente duvidoso no plano regional; em todo caso, vantagens relativas. A coordenação a partir de posições de “mínimo denominador comum” podem ser fatores enfraquecedores, não reforçadores, de nossas posições.

 

6. Alianças preferenciais no Sul Global

Devemos reforçar os laços com grandes países (China, Rússia), com outros países em desenvolvimento (Índia, África do Sul) e, com os da América do Sul, com os quais dispomos de vantagens comparativas. 

Talvez, mas vejamos os custos e benefícios desse tipo de política de aliança com o chamado Sul Global.

 

7. Abertura econômica só com plena reciprocidade

Só podemos abrir nossa economia e liberalizar o comércio na base da estrita barganha recíproca e com o oferecimento de concessões equivalentes e substantivas. 

Trata-se de um dos maiores absurdos econômicos já ouvidos, só justificável politicamente pelo dito “não se dá nada de graça, sem algo em troca”.

 

8. Capitais voláteis e desafios nas contas externas

Os capitais voláteis são responsáveis pela desestabilização de nossas contas externas e devem ser estritamente controlados.

Pura bobagem, que não resiste à menor análise empírica. A volatilidade está implícita nas políticas econômicas dos países emergentes e medidas de controle teriam como resultado fuga de capitais e ágio cambial.

 

9. Tratados internacionais devem ser sempre recíprocos

Os tratados devem ser sempre recíprocos e respeitadores de nossa soberania e autonomia nacional.

Retórica vazia: soberania se defende com desenvolvimento, não com boas intenções e tratados bonitos.

 

10. Globalização desigual e suas ameaças

A globalização acentua as desigualdades dentro e entre as nações. Por isso o Brasil deve evitar uma abertura excessiva à economia mundial.

Errado. O contrário é verdadeiro, mas a inserção internacional não exime a capacitação endógena.

 

11. Assimetrias estruturais devem ser corrigidas prioritariamente

Processos de liberalização entre parceiros muito desiguais beneficiam principalmente os mais poderosos, por isso devemos primeiro corrigir assimetrias estruturais.

Não necessariamente, uma vez que todos os processos de interdependência – a fortiori de integração – sempre se dão entre parceiros relativa ou absolutamente desiguais e os mais exitosos são justamente aqueles que mobilizam países em estágios diversos de desenvolvimento.

 

12. Uma diplomacia voltada prioritariamente para o desenvolvimento

A ação diplomática brasileira deve servir ao processo de desenvolvimento nacional.

Sem dúvida, mas não se deve fazê-la cumprir objetivos que não são os seus.

 

13. Uma diplomacia reconhecida como de alta qualidade

Nossa diplomacia é altamente capacitada e profissional, reconhecida pelos seus dotes de excelência.

Talvez, ou certamente, mas atitudes autocongratulatórias raramente são benéficas do ponto de vista da manutenção da qualidade do serviço.

 

Nota sobre o autor

Livros do autor

 

Disponível na Amazon.com.br, neste link.

 

Primeiro capítulo: 

1. Desigualdade e injustiças mundiais: progresso e poder

O mundo é injusto e desigual, está baseado nas relações de força e na prepotência dos poderosos. Correto, mas menos do que antes e menos do que se pensa.

O mundo sempre foi desigual e os países menos poderosos têm de fazer um esforço singular para garantir que seus interesses sejam pelo menos ouvidos, como já clamava Rui Barbosa na segunda conferência da Haia, em 1907. O mundo continua desigual, mas com o surgimento da ONU e a expansão do direito internacional em áreas cada vez mais amplas dos sistemas normativo e regulatório – anteriormente deixadas à competência exclusiva dos Estados nacionais – ele tende a se tornar administrado mais pela força do direito do que pelo direito da força, pelo menos tentativamente. 

O mundo deve continuar sendo desigual, até onde o horizonte histórico nos permite visualizar, mas a imposição da força bruta tende a ser relegada a casos extremos (e marginais) de litígios entre países ou dentro dos países (guerras civis). Mesmo o moderno sucedâneo dos poderosos impérios de outrora não pode atuar com base apenas na sua vontade unilateral e tem de fazer legitimar determinadas ações pelo corpo político por excelência (por certo imperfeito) da comunidade das nações, representado pela ONU (e seu Conselho de Segurança). Nem sempre isso é possível, daí o recurso a ações unilaterais, aparentemente reservadas a Estados mais poderosos (mas nem sempre: ditadores de países menos poderosos podem se aventurar contra vizinhos mais frágeis).

Nesse sentido, o mundo contemporâneo é menos injusto do que aquele conhecido até meados do século XX, mas ele continuará sendo desigual, estruturalmente falando, na medida em que o desempenho relativo dos países continua apresentando diferenciais enormes, tanto no plano das capacitações materiais, e militares, quanto no que respeita educação, direitos humanos, democracia, avanços tecnológicos, oportunidades de progresso social, etc. O mundo era por certo menos desigual quando a maioria das nações tinha sistemas econômicos baseados na agricultura de subsistência ou em processos manufatureiros simples. A divergência aumentou a partir da primeira e da segunda revoluções industriais – caldeiras a vapor, primeiro, química, eletricidade e motor a explosão, depois – e tornou-se propriamente abismal com o aprofundamento da terceira, baseada nos sistemas de informação, na eletrônica e nos equipamentos computadorizados. Ela continua se manifestando na quarta, talvez quinta, revolução industrial, fundada basicamente na economia do conhecimento. 

A distância atual não tem a ver, entretanto, com os velhos mecanismos imperiais ou coloniais do passado, uma vez que o desempenho nestas novas áreas não se baseia na extração de recursos primários, mas sim no acúmulo de conhecimento, algo que pode estar ao alcance de qualquer sociedade que se disponha a fazer da educação a alavanca principal de sua organização econômica e social. A “acumulação primitiva” requerida por esse tipo de prioridade social não pode ser obstada por nenhuma desigualdade estrutural baseada no poder da força bruta; ao contrário, os menos poderosos podem aprender muito com as potências mais avançadas e a maior parte do conhecimento humano encontra-se hoje livremente disponível nos sistemas de informação abertos. Tanto é assim que pequenos países, anteriormente colônias (como Cingapura), ou antigos reinos, até escravizados por vizinhos mais poderosos (como a Coreia, submetida pelo Japão durante toda a primeira metade do século XX), conseguiram se alçar no ranking da prosperidade material e da competitividade tecnológica.

O diferencial básico entre sociedades avançadas, normalmente mais poderosas, e as menos desenvolvidas situa-se, não tanto na dominação de umas sobre as outras, mas nos níveis de produtividade do capital humano, ou seja, o progresso trazido pelo potencial inovador e produtivo de determinadas populações. Esse é o fator básico do poder, não a exploração direta, que está na base de certas concepções do desenvolvimento humano e social. Todas as sociedades históricas são, ou foram, sociedades organizadas com base em relações de dominação política e de exploração do trabalho produtivo. Não há exemplo, na antropologia ou na história comparadas, de sociedades históricas que não tenham sido, ao mesmo tempo, sociedades desiguais: nessas sociedades uma determinada categoria de pessoas detêm a capacidade de comandar outras pessoas e delas extrair recursos excedentes em termos de produção econômica. O mesmo se passa, mutatis mutandi, no sistema internacional.

Nas sociedades modernas e contemporâneas, o progresso assumiu principalmente a forma do desenvolvimento econômico, cuja característica essencial é a capacidade da sociedade de produzir inovações tecnológicas. Nas civilizações materiais organizadas com base na propriedade privada e no livre comércio (mercado), o desenvolvimento contínuo das forças produtivas deu origem a um verdadeiro modo de produção inventivo, transformando o progresso em rationale da vida econômica e social. 

Embora o progresso nem sempre seja qualitativamente aferível, ele pode ser quantitativamente mensurável, o que significa uma maior disponibilidade de bens e serviços anteriormente raros ou escassos; ele se traduz, igualmente, numa maior capacidade em exercer um controle ampliado sobre o meio ambiente societal. O modo de produção é tanto mais inventivo quanto ele conseguir transformar um maior número de bens raros em produtos e serviços de consumo corrente: sua funcionalidade social, em termos históricos, está precisamente nessa capacidade em atribuir um valor de troca a uma gama relativamente ampla de necessidades humanas.

Ao disseminar mercadorias e transformar ecossistemas, o progresso econômico cria desigualdades econômicas e sociais suplementares àquelas ordinariamente existentes, mas que são em grande parte o resultado de uma maior divisão social do trabalho e de uma crescente especialização de funções produtivas. O progresso de algumas sociedades particularmente inovadoras cria, igualmente, desequilíbrios sociais e regionais, que se traduzem não apenas em termos de obsolescência de meios de produção e de subutilização de recursos humanos, mas também de marginalização de regiões inteiras e sua subordinação econômica a centros mais desenvolvidos.

Nesse sentido, as relações desiguais de apropriação de bens raros não ocorrem apenas num âmbito puramente interclassista ou intra societal, mas prevalecem igualmente num nível inter societal, confrontando formações nacionais desigualmente dotadas em recursos e diversamente inseridas num mesmo sistema global. A exploração e a dominação não têm, assim, um caráter nacional exclusivo, mas a aplicação desses dois princípios a nível transnacional confunde-se, em muitos casos, com as relações desiguais que prevalecem internamente entre classes sociais.

A racionalização conceitual do progresso histórico e social, ao coincidir no tempo com a formação e o desenvolvimento dos Estados-nacionais (séculos XVI-XVIII), impôs, a estes últimos, encargos e responsabilidades muito precisas em relação ao desenvolvimento concreto de suas sociedades respectivas. O estado do progresso passou a exigir, cada vez mais, o progresso do Estado, tendência apenas minimizada nas formações sociais que atravessaram um processo relativamente completo de Nation making antes de ingressarem numa fase de State building

Na época do Iluminismo, foram criadas legitimações doutrinárias e filosóficas para a ideia do progresso. Essas formulações ideológicas consubstanciaram-se, em primeiro lugar, no pensamento liberal clássico, de que são exemplos os conceitos de “mão invisível”, de “vantagens comparativas” ou de “laissez-faire” no plano econômico. A força doutrinária do pensamento liberal contaminou também as elites dominantes de países eles mesmos submetidos a alguma forma de exploração e de dominação, a tal ponto que a expropriação direta de recursos (espoliação colonial) ou a apropriação indireta de trabalho materializado (intercâmbio desigual) puderam ser justificadas pela sua funcionalidade em relação ao princípio do progresso material das sociedades envolvidas. Mesmo um igualitarista radical como Marx viu na instituição colonial um grande fator de progresso histórico de sociedades mais atrasadas.

O debate contemporâneo sobre as origens do atraso de sociedades outrora colonizadas tendeu a ver na exploração e na dominação dessas sociedades uma das molas propulsoras do Progresso nas formações dominantes. Em que pese a contribuição adicional desses fatores, ao lado da exportação de excedentes demográficos, para o avanço material das sociedades mais poderosas, as alavancas mais significativas no processo de desenvolvimento econômico e social dessas sociedades foram, e são, de ordem propriamente interna. Essas alavancas, que constituem condições prévias ao desenvolvimento sustentado, derivam de um conjunto de relações sociais condizentes com o modo inventivo de produção e situam-se, por assim dizer, na própria raiz da organização social da produção nessas sociedades. Inovação tecnológica e poder econômico constituem requisitos necessários ao – e não efeitos do – exercício da vontade imperial. A espoliação colonial e a dominação mundial não podem ser implementadas sem a capacitação intrínseca do pretendente, o que significa a existência de uma estrutura social e de recursos materiais e humanos compatíveis com a voluntas dominadora. 

A única forma de subtrair-se à exploração e à dominação de outrem, tanto no plano nacional como no das relações inter societais, parece assim situar-se na capacitação tecnológica e humana, o que vale dizer, dotar-se de seu próprio modo inventivo de produção, base material e fonte primária de poder econômico e político. A soberania, seja a individual ou a coletiva, deriva da faculdade de organizar a exploração e a dominação em bases propriamente autônomas, ou seja, criar o seu próprio fulcro de poder social. Em outros termos, a internalização dos efeitos sociais e econômicos da exploração e da dominação só pode ser obtida por meio da conversão de uma formação social em centro de seu próprio sistema nacional, dotando esta última de sua respectiva periferia.

A experiência histórica indica que o progresso, em suas diversas formas materiais, emana sempre dos diversos centros de poder econômico, e a eles retorna indefectivelmente após ter cumprido sua missão histórica de amealhar recursos adicionais para a sociedade originalmente dominante. Não parece haver, pelo menos no horizonte histórico do sistema interestatal contemporâneo, alternativas válidas de afirmação nacional: as sociedades ou nações que não conseguirem transformar a exploração e a dominação em alavancas autônomas do seu próprio progresso econômico estão condenadas (num sentido propriamente hegeliano) a se tornarem meros objetos da História e não em seus atores.

O discurso realista, em relação ao qual estas notas constituem mero exercício argumentativo, encontra sérias objeções morais a nível da praxis política – num contexto interno ou externo – razão pela qual ele deve ser freado por princípios éticos suscetíveis de serem defendidos por lideranças político-partidárias e estadistas responsáveis. Não se deve esquecer, porém, de que ele constitui o fundamento último e a razão secreta da atuação da maior parte dos Estados e elites dominantes em todas as épocas históricas.

 

Livro disponível neste link da Amazon.

 

sexta-feira, 8 de março de 2024

Putin pretende expandir a Rússia até a antiga URSS, na Europa e mais além - Anton Geraschenko

 From: Anton Geraschenko

Europe and NATO might be closer to war with Russia than they may now believe.

Let's  recall how many experts and politicians denied a potential full-scale  Russian invasion of Ukraine in 2022, even though there was enough  evidence - but in hindsight, it seems obvious.

On the other hand,  many knew and believed that a full-scale Russian invasion of Ukraine  was going to happen, but was there a plan for a confrontation? The first  months after the invasion were a time of confusion and waiting for  events to unfold. Ukraine survived primarily thanks to the heroism of  the people who went out to stop Russian tanks with their bare hands.

Today,  it seems that we are back in the spring of 2022, when there is no  unity, no specific common plan of action, no determination, and the West  is watching the development of events.

With the war in Ukraine, Russia has clearly seen that the West is afraid of escalation in the context of mutual destruction.

Indeed, Russia won't be able to wage a large-scale war against NATO (unless it has powerful allies).

Therefore, Russia might resort to the tactic of gradual steps: strike, cease hostilities, and offer to negotiate. 

Russia  sees that NATO is not reacting swiftly, that there is no unanimity and  decisions are made collectively by consensus, and that there is a  tendency to delay and resolve issues diplomatically. 

Russia has  long openly stated that it is at war with the West, that it wants NATO  to collapse, and that it wants to change the geopolitical outlook of the  world.

At the moment, Russian population is prepared for a  conflict with NATO, for huge human losses, for a possible nuclear war,  and it approves, on the whole.

At the same time, Russia can carry out strikes of various kinds: 

◾️ strikes on critical civilian infrastructure in European NATO countries;

◾️ Russian missiles can "accidentally" fly into the space of a NATO country and each time reach farther and farther;

◾️ interfere in elections;

◾️ launch cyberattacks, leak wiretaps;

◾️ crash and take control of social media;

◾️ cut cables at the bottom of the seas;

◾️ blackmail with grain, oil, fertilizers, nuclear war, etc.;

◾️ corrupt and blackmail politicians, journalists, and celebrities in the West;

◾️ spread propaganda;

◾️ push allies against each other, manipulate them.

After  another strike, Russia would send signals to the moderate governments  and politicians: "Don't fight for your allies with us if you don't want  your population to be dragged into a war and be the ones blamed for it.  This is not your 'conflict'. And we will give your country cheap gas for  it, for example."

So, first of all, it is not about a possible  direct military, forceful confrontation between NATO and Russia, but  about who is scared of it and who will be the first to want to negotiate  and agree to the terms of the other side. 

I am sure that Putin today believes that he has already won.

He  sees the West being unprepared for war on all levels. He sees the lack  of aid to Ukraine. So, for him, this is evidence that Russia is  defeating the West right at this particular moment.

The West's  psychological fear of nuclear escalation and direct confrontation is the  possible future basis for negotiating a security architecture in Europe  and the world on Russia's terms. 

Thus, Russia does not need a  force equal to the military might of NATO. It only needs to scare the  West, or rather the people who are now making decisions, with  psychological pressure to make them indecisive.

Internal  dissension and endless discussions of escalation only reinforce Russia's  belief that NATO will back down if Russia moves on.

Will Russia  wait 10 to 20 years? I don't think so. Putin is already in his advanced  years and wants to end his life with a "victory" - restoring Russia to  the confines of the USSR.

So things could develop much faster. 

Russia has been saying for ten years that it is at war with NATO and that it wants to defeat NATO.

Russian people are internally ready for everything, even for nuclear war.

Today,  Ukraine continues to contain Russia and fight for our existential  survival. But our forces are unequal. We have no time for indecision and  no time for deliberations. We must not allow the situation to reach the  "too late" part. Unity, determination, and weapons are needed urgently.



Ênnio Candotti e o Progresso da Ciência - Simon Schwartzman (O Estado de São Paulo)

Ênnio Candotti e o Progresso da Ciência

By Simon Schwartzman on Mar 08, 2024 06:40 am

Publicado em O Estado de São Paulo, 8 de março de 2024)

Tempos atrás, se você fosse brilhante e quisesse salvar o mundo, o caminho era se tornar físico.  Assim era e foi o que fez Ênnio Candotti, que nos deixou em dezembro passado. Nascido na Itália, Ênnio chegou no Brasil ainda criança e estudou física na Universidade de São Paulo e depois na Itália, procurando seguir os passos da geração de Marcelo Damy, Mario Schenberg, José Leite Lopes, Sérgio Mascarenhas, Oscar Salla e outros que, na década de 40, trouxeram para o Brasil os conhecimentos e as esperanças que as descobertas dos segredos dos átomos e do universo anunciavam. Ênnio, nos anos mais recentes, foi o fundador e presidente do Museu da Amazônia, depois de ter sido, por quatro vezes, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e criador da revista Ciência Hoje.

Eles eram não  só cientistas, mas intelectuais públicos. Por um lado, ajudavam a desvendar os segredos na natureza, trabalhando nos limites do que o raciocínio matemático, as observações experimentais e a livre troca de ideias entre os pares permitiam. Por outro, acreditavam que, se os mesmos métodos fossem aplicados para produzir riqueza e organizar a sociedade, o futuro estava garantido. Além pesquisar, se valiam das cátedras para difundir suas ideias entre os alunos, escreviam nos jornais e se mobilizavam para que os governos dessem aos cientistas os recursos e a autonomia que precisavam para trabalhar. Em 1948, sessenta cientistas paulistas, em grande parte professores da USP, criaram a SBPC nos moldes da American Association for the Advancement of Science, estabelecida cem anos antes para  “promover a cooperação entre cientistas, defender a liberdade científica, incentivar a responsabilidade científica e apoiar a educação e a divulgação científica para o bem da humanidade”.

Qual era exatamente este papel intelectual não era muito claro. Para muitos, o importante era fortalecer a cultura da ciência, apoiando os cientistas, garantindo a autonomia da pesquisa e fazendo com que o público entendesse e respeitasse o trabalho que faziam. Se todos reconhecessem a importância da ciência, a racionalidade passaria a preponderar sobre a ignorância, novas descobertas trariam benefícios para todos, e este seria o caminho do progresso. Para outros, era necessário ir além, e direcionar a pesquisa para atender às prioridades da economia e sociedade. Para outros ainda, era necessário empreender uma luta política pelo predomínio da razão sobre o obscurantismo, que era também uma luta dos oprimidos contra os opressores.

A SBPC influenciou a criação da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo, em 1962, e durante o governo militar suas reuniões anuais, com milhares de participantes, tinham grande repercussão,  como espaço livre de expressão de ideias que desafiavam o regime. A SBPC era conduzida por cientistas de renome, como Maurício Rocha e Silva, José Goldemberg, Oscar Salla e Mauro Salzano, que davam respaldo a suas atividades. Com a democratização, os cientistas da nova geração começaram a priorizar suas associações especializadas, e a SBPC passou a se dedicar cada vez mais à divulgação científica e temas de política universitária e acadêmica. Ênnio Candotti assumiu a vice-presidência 1985, quando já tinha, na prática, deixado a vida de pesquisador para, a partir daí, se dedicar ao papel de  intelectual público, divulgador e defensor da ciência.

O relativo esvaziamento da SBPC, que também afetou a Academia Brasileira de Ciências no Rio de Janeiro, se explica em parte pelas incertezas que, sobretudo após a segunda guerra, passam a afetar o mundo da ciência. A física trazia a promessa da energia barata e inesgotável, mas seu primeiro grande produto foi a bomba atômica.  As ciências biológicas e agrícolas mostraram como reduzir as epidemias e a fome, mas, em muitas partes do mundo, as pessoas continuam morrendo por desnutrição e falta de tratamento. Os investimentos da pesquisa se concentram cada vez mais em aplicações civis e militares, produzindo conhecimentos que se mantêm em segredo, enquanto a pesquisa aberta, das universidades, tem perdido relevância. E a própria carreira de pesquisador, antes uma vocação de poucos idealistas, se transformou em uma profissão como as outras, pressionada pela lógica de “publicar ou morrer” e afetada pela incertezas  da política.

A pandemia da Covid levou os paradoxos da ciência moderna a seu extremo. Por um lado, a revolução que foi a produção de vacinas usando os conhecimentos mais avançados de engenharia genética; por outro, a grande onda de desconfiança e reação a seu uso, destruindo o consenso quase universal sobre a importância das imunizações. Aqui, como em relação à Amazônia, Ênnio Candotti tinha razão: a ciência é cada vez mais necessária e importante, não há como voltar atrás. Mas hoje sabemos que não basta mais proclamar suas virtudes e falar mal da ignorância, é necessário lidar com coragem com as contradições e paradoxos que ela traz. É isto que, no século 21, as sociedades científicas precisam aprender a fazer.


‘Foco na desigualdade é coisa de invejoso; o importante é reduzir a miséria’: Rainer Zitelmann - José Fucs (Estadão)

‘Foco na desigualdade é coisa de invejoso; o importante é reduzir a miséria’, diz historiador alemão

Para o pesquisador, o que leva à queda sustentável da pobreza não são ações governamentais de redistribuição de renda nem programas internacionais de ajuda, mas o crescimento econômico, que prospera nas economias de livre mercado e em sociedades que veem os empreendedores de sucesso como modelo e não como bode expiatório


Por José Fucs 

Entrevista com  Rainer Zitelmann  -  Historiador e sociólogo

O Estado de S. Paulo, 6/03/2024

O historiador e sociólogo alemão Rainer Zitelmann, de 66 anos, faz parte de uma estirpe rara de intelectuais, que concentra seus estudos nos benefícios do capitalismo para o desenvolvimento e a redução da miséria, e não nos males que o sistema supostamente causa para a sociedade, como a maioria de seus pares.

Autor do livro O capitalismo não é o problema, é a solução (Ed. Almedina), publicado no Brasil em 2022, ele acabou de lançar uma nova obra que aborda os efeitos positivos gerados pela liberdade econômica no desenvolvimento e na redução significativa da miséria no mundo nos últimos 40 anos. O novo livro – cujo título provisório em português (O Milagre da economia de mercado e a riqueza das nações) nada tem a ver com o título em inglês (Como as nações escapam da pobreza– deve ser lançado no País em junho pela mesma editora.

Nesta entrevista ao Estadão, realizada por e-mail e complementada por videoconferência, Zitelmann fala sobre a preocupação crescente com o aumento da desigualdade social e sobre o trabalho produzido pelo economista francês Thomas Piketty, apresentado em detalhes no livro O capital no século 21, lançado em 2014, que se tornou uma referência internacional no assunto. “O que representou, na interpretação de Piketty, o pior momento (em termos de desigualdade) foi, na verdade, o melhor momento da história da humanidade, porque a pobreza nunca caiu tão rapidamente quanto nas últimas décadas”, afirma. “Eu estou interessado na pobreza, e não na desigualdade. O foco na desigualdade é coisa de gente invejosa.”

Segundo Zitelmann, as sociedades que têm uma atitude positiva em relação aos empreendedores bem-sucedidos vão alcançar o sucesso de forma mais consistente do que as que usam os ricos como bodes expiatórios. Confira a seguir sua entrevista ao Estadão.

Você acha que os chineses querem voltar aos tempos de Mao, porque havia mais igualdade naquela época?

Em seu novo livro, o sr. afirma que a liberdade econômica, e não as ações governamentais de redistribuição de renda e os programas internacionais de ajuda, é que promove a redução da pobreza no mundo. O que o leva a dizer isso?

No meu livro, eu menciono vários estudos científicos que chegaram à mesma conclusão nas últimas décadas. A ajuda ao desenvolvimento é, na melhor hipótese, ineficaz, e muitas vezes até contraproducente. Podemos observar isso na África: nenhum continente recebeu tanta ajuda para o desenvolvimento como a África. Mas as pessoas lá ainda são extremamente pobres. Os países asiáticos não receberam tanta ajuda. Seguiram um caminho diferente, permitindo mais liberdade econômica. Veja os casos da Coreia do Sul, de Taiwan, de Cingapura e mesmo de países que se autodenominam socialistas, como a China e o Vietnã. Eles fizeram enormes progressos na luta contra a pobreza com a liberalização de suas economias.

O sr. pode dizer de que forma a liberdade econômica beneficia os mais pobres? Isso não é mais uma crença ideológica do que uma conclusão baseada em fatos e na realidade?

Eu sou historiador e sociólogo. Para mim, apenas os fatos contam. Eu olho para a história para ver o que funciona e o que não funciona. Antes do surgimento do capitalismo, há 200 anos, 90% da população mundial viviam na pobreza extrema. Hoje, menos de 9% vivem na miséria. Na China, 45 milhões de pessoas morreram entre 1958 e 1962, em decorrência do “Grande Salto Adiante” implementado por Mao Tsé-Tung (1893-1976), que foi a maior experiência socialista da história. Na época da morte de Mao, 88% da população chinesa viviam na extrema pobreza. Depois, veio o Deng Xiaoping (1904-1997), que introduziu a propriedade privada e implementou a economia de mercado no país. Ele disse: “Deixem algumas pessoas ficar ricas primeiro”. Resultado: o número de pessoas vivendo na miséria na China hoje representa menos de 1% da população.

Como exatamente a liberdade leva à redução da pobreza e aos resultados que o sr. mencionou?

Liberdade econômica significa deixar os empreendedores fazerem seus negócios, ganharem dinheiro, ficarem ricos. Quando há liberdade na economia, o resultado é o crescimento, que é a única forma de reduzir a pobreza. Isso é o que muita gente não entende. Não é que o governo não precise fazer nada. Mas, se o governo não estiver tão envolvido nas coisas e deixar os empreendedores decidirem o que produzir e os consumidores, o que consumir, a economia vai ganhar dinamismo, o país vai crescer e a pobreza vai diminuir.

Muita gente defende a ideia de que a redistribuição de renda é essencial para reduzir a miséria e diz que a economia de livre mercado leva a mais desigualdade. Em sua avaliação, a redistribuição de renda não é uma forma de amenizar as dificuldades dos mais vulneráveis?

Vou continuar no caso da China para responder a esta pergunta: sim, a desigualdade hoje é maior do que era nos tempos de Mao. Não havia bilionários na China naquela época. Hoje, há mais bilionários na China do que em qualquer outro lugar do mundo, exceto nos Estados Unidos. Você acha que os chineses querem voltar aos tempos de Mao, porque havia mais igualdade naquela época? Durante minhas conversas na China, não encontrei ninguém que quisesse isso. Eu estou interessado na redução da pobreza e não na desigualdade. O foco na desigualdade é coisa de gente invejosa.

No livro O capital no século 21, publicado em 2014, o economista francês Thomas Piketty mostra, com base em dados históricos, que houve um grande aumento da desigualdade no mundo nas últimas décadas, e faz críticas duras a esta situação. Qual a sua opinião sobre o trabalho e as ideias de Piketty sobre o problema da desigualdade?

As teses de Piketty foram refutadas muitas vezes. Muitos dos números que ele usa estão simplesmente errados, como já foi provado repetidas vezes. Mas, mesmo que estivessem corretos, o que isso significaria? Ele diz, em primeiro lugar, que a desigualdade diminuiu durante a maior parte do século 20. Aí, a partir da década de 1980, veio o que ele considera como um momento ruim, quando a desigualdade aumentou. Mas o que, na interpretação de Piketty, representou o pior momento foi, na verdade, o melhor momento da história da humanidade, porque a pobreza nunca caiu tão rapidamente como neste período. Nas últimas décadas, desde o fim do comunismo na China e em outros países, o declínio da pobreza ocorreu num ritmo inédito na história. Em 1981, 42,7% da população mundial viviam na pobreza absoluta. Em 2000, o índice havia caído para 27,8% e hoje é inferior a 9%. Então, como você poder ver, tudo depende do foco, a desigualdade ou a pobreza, na análise da questão.

Como exatamente a liberdade leva à redução da pobreza e aos resultados que o sr. mencionou?

Liberdade econômica significa deixar os empreendedores fazerem seus negócios, ganharem dinheiro, ficarem ricos. Quando há liberdade na economia, o resultado é o crescimento, que é a única forma de reduzir a pobreza. Isso é o que muita gente não entende. Não é que o governo não precise fazer nada. Mas, se o governo não estiver tão envolvido nas coisas e deixar os empreendedores decidirem o que produzir e os consumidores, o que consumir, a economia vai ganhar dinamismo, o país vai crescer e a pobreza vai diminuir.

Muita gente defende a ideia de que a redistribuição de renda é essencial para reduzir a miséria e diz que a economia de livre mercado leva a mais desigualdade. Em sua avaliação, a redistribuição de renda não é uma forma de amenizar as dificuldades dos mais vulneráveis?

Vou continuar no caso da China para responder a esta pergunta: sim, a desigualdade hoje é maior do que era nos tempos de Mao. Não havia bilionários na China naquela época. Hoje, há mais bilionários na China do que em qualquer outro lugar do mundo, exceto nos Estados Unidos. Você acha que os chineses querem voltar aos tempos de Mao, porque havia mais igualdade naquela época? Durante minhas conversas na China, não encontrei ninguém que quisesse isso. Eu estou interessado na redução da pobreza e não na desigualdade. O foco na desigualdade é coisa de gente invejosa

O sr. afirma que, nos últimos 40 anos, US$ 568 bilhões fluíram para África sem efeitos positivos e sustentáveis na redução da pobreza. Com base no que o sr. diz isso? As ações realizadas com esse dinheiro todo não ajudaram os mais pobres na África?

Não. Sabemos disso pelos estudos que eu menciono no livro. A maior parte do dinheiro vai para os chamados “projetos”, que às vezes até melhoram as coisas no curto prazo, quando os recursos estão entrando. Mas, quando o dinheiro para de entrar e os projetos chegam ao fim, tudo volta a ser como antes. Além disso, grande parte do dinheiro fica nas mãos de elites corruptas. Então, a ajuda para o desenvolvimento não é uma forma de combater a pobreza. É uma forma de manter governos corruptos na África, com recursos fornecidos pelos pagadores de impostos americanos e europeus. Muito desse dinheiro vai também para as ONGs que desenvolvem os projetos. Elas precisam crescer, para manter o grande número de pessoas que empregam, e estão muito felizes com os relatórios que produzem, a burocracia que produzem. Estão interessadas principalmente na própria sobrevivência.

No seu livro, o sr. usa os casos do Vietnã e da Polônia como exemplos de países que reduziram de forma significativa a pobreza nos últimos 20 ou 30 anos, após a liberalização de suas economias. Na prática, como a liberalização ajudou estes países a reduzir a miséria?

Em 1990, o Vietnã era o país mais pobre do mundo. O que a guerra não destruiu, a economia planificada socialista destruiu. O PIB (Produto Interno Bruto) per capita era de US$ 98, inferior até aos US$ 130 da Somália. Mas, com as reformas pró-mercado lançadas pelos vietnamitas no fim da década de 1980, o número de pessoas vivendo na pobreza extrema caiu de cerca de 80% da população para 5%. A Polônia, na década de 1980, era um dos países mais pobres da Europa. Depois, com as reformas que abriram caminho para a economia de mercado, a Polônia se tornou a campeã de crescimento na Europa por três décadas seguidas e as condições de vida da população melhoraram muito.

Por que o sr. escolheu o Vietnã e a Polônia como exemplos para o seu livro? O que eles fizeram de diferente que os levou a ter resultados positivos na redução da miséria?

Todos os anos, desde 1995, a Heritage Foundation, dos Estados Unidos, publica o Índice de Liberdade Econômica, que mostra o quão livre é um país do ponto de vista econômico. Eu analisei todos os 177 países da lista para ver onde tinham ocorrido os maiores ganhos em liberdade econômica. E em nenhum outro país de dimensões equivalentes a liberdade aumentou tanto quanto na Polônia e no Vietnã. Isso me deixou curioso. Aliás, o índice de 2024 acabou de ser publicado e o Vietnã ganhou 13 posições em relação a 2023, subindo da 72.ª para a 59.ª posição, num momento em que a liberdade econômica se deteriorou em quase todo o mundo. Isso só confirma minha análise. Tive também uma ligação pessoal com os dois países, porque as duas mulheres com quem tive as relações mais longas da minha vida vieram da Polônia e do Vietnã.

Os dois países, o Vietnã e a Polônia, tinham uma economia planificada antes da liberalização, na qual o Estado controlava quase tudo, inclusive os preços dos bens e serviços. Muita gente acredita que a vida das pessoas era melhor naquela época. O que o sr. pensa sobre isso?

No meu livro, eu conto várias histórias sobre a vida cotidiana das pessoas no Vietnã e na Polônia. Conto a história de crianças que tinham de esperar horas na fila só para conseguir arroz – e, mesmo assim, não recebiam o suficiente para saciar a elas e a suas famílias. Considerando que os salários mensais das pessoas eram suficientes apenas para garantir as despesas de subsistência de uma semana, quase todo mundo tinha de encontrar fontes adicionais de ganho para compensar a escassez. Em Hanói, era comum as famílias usarem um cômodo de seus apartamentos para criar porcos. A criação de porcos era a melhor fonte de rendimento extra que havia e a maioria das famílias destinava um quarto em um apartamento de três quartos para os porcos, tendo de conviver com o barulho e o mau cheiro, em condições de higiene terríveis.

No caso da Polônia, a situação era semelhante?

Na Polônia, acontecia a mesma coisa. As pessoas tinham de esperar horas e horas nas filas – e algumas vezes até dias – para comprar coisas para o seu dia a dia. Muitas até pagavam para outras pessoas ficarem para elas na fila. E, quando chegava a vez delas, acabavam comprando coisas que nem precisavam, porque não sabiam se iriam faltar depois. De repente, elas podiam até trocar esses produtos por outros, com outras pessoas. As longas filas eram muito típicas do socialismo. Na Polônia, havia também selos para comprar certos produtos que tinham oferta limitada. Se você perdesse o selo, tinha de fazer uma dieta, porque não podia repor. Estes são os melhores exemplos de que o sistema não funcionava – e isso não aconteceu nos 1950 e 1960, no pós-guerra, mas nos anos 1980.

Nestes países, eu falei com muitas pessoas e também fiz muitas entrevistas. Não queria que meu livro fosse apenas cheio de números, embora ele tenha muitos dados. Queria que as pessoas tivessem uma palavra a dizer e falassem sobre suas vidas naquela época e agora. E, como no caso da China, não conheci ninguém no Vietnã e na Polônia que quisesse voltar aos tempos da economia socialista.

No caso da Polônia, o país conseguiu unir a liberdade econômica com a democracia. Já o Vietnã manteve o sistema autoritário de partido único que também se mantém na China, em Cuba e na Coreia do Norte. De que forma isso influenciou o desenvolvimento econômico e a redução da pobreza nos dois países?

No Vietnã, em razão do regime de partido único, as reformas econômicas foram mais fáceis de implementar do que na Polônia. É preciso compreender que, num primeiro momento, as reformas tendem a piorar as coisas. Na Polônia, não foi diferente. O desemprego, por exemplo, que era camuflado nos tempos do comunismo, ganhou visibilidade. Numa democracia, durante o período de transição, os meios de comunicação social e os partidos politicos que se opõem à liberalização da economia incitam as pessoas contra as reformas e defendem mais intervenção estatal. É exatamente isso que estamos vendo agora na Argentina, após a eleição de Javier Milei para a presidência.

O sr. poderia dar um exemplo de um país rico que empobreceu com a implantação de um regime socialista, supostamente destinado a promover a redução da desigualdade e da miséria?

Um exemplo emblemático é a Venezuela. Nos anos 1970, a Venezuela era um dos países mais ricos do mundo. A Venezuela era uma boa democracia, com uma economia de mercado dinâmica, e as pessoas tinham um bom padrão de vida. Aí, com a ascensão do Hugo Chávez (1954-2013), tudo mudou. Os primeiros dois ou três anos nem foram tão ruins, porque ele teve a sorte de os preços do petróleo estarem em alta no mercado internacional, garantindo recursos para bancar as ações sociais. Mas aí o Chávez começou com as nacionalizações, os preços do petróeo caíram e as coisas se deterioraram rapidamente. Mais de 25% da população da Venezuela, o equivalente a 7,5 milhões de pessoas, fugiram do país desde então. Se isso pôde acontecer num país como a Venezuela, pode acontecer em qualquer lugar.

Quando as coisas chegam no ponto em que chegaram na Venezuela, a insatisfação da população não acaba levando a uma mudança no quadro?

Algumas pessoas pensam que as coisas tem de se tornar muito, muito ruins para surgir uma boa solução, mas isso não é verdade. A história não é um filme de Hollywood com garantia de final feliz. As coisas também podem se tornar piores, como aconteceu na Alemanha nos anos 1930, quando Adolph Hitlerchegou ao poder. Ninguém podia imaginar que algo terrível iria acontecer, mas aconteceu. Com o Hugo Chávez, foi a mesma coisa. Eu me lembro que os intelectuais de esquerda da Europa e dos Estados Unidos estavam entusiasmados com o tal socialismo do século 21 defendido pelo Chávez, porque finalmente tinham um exemplo de uma nova utopia, já que na Coreia do Norte as coisas não funcionaram tão bem como eles imaginavam. Mas, no fim, o resultado na Venezuela foi o pior possível. O caso da Venezuela é um aviso de que as nações também podem se tornar mais pobres.

Além da Venezuela, que outro caso o sr. citaria de um país que era rico e empobreceu, em decorrência de uma maior intervenção do Estado na economia, da perseguição aos ricos e da implementação de uma política de distribuição de renda?

Outro exemplo que ilustra bem este fenômeno é a Argentina. Muita gente não sabe, mas a Argentina também já foi muito rica. Há cem anos, a Argentina era um dos países mais ricos do mundo, tanto quanto os Estados Unidos. Aí eles começaram com essa política peronista de redistribuição de renda e deu no que deu, com um aumento considerável da pobreza ao longo do tempo. De um lado, eu tenho dúvidas hoje se as pessoas terão um ou dois anos de paciência para esperar os efeitos positivos das reformas que estão sendo implementadas pelo Milei. Como eu disse há pouco, a experiência da história mostra que algumas coisas ficam piores no começo. O desemprego cresce e às vezes há até recessão. Mas elas foram pacientes o suficiente para esperar 80 anos para mudar, vendo a situação do país se deteriorar cada vez mais, desde 1945. Com exceção da década de 1990, a Argentina teve inflação de dois dígitos em todos os anos. Era algo normal para eles.

O sr. afirma que, em geral, os ricos são “demonizados” e não admirados em quase todo o mundo. São vistos como “exploradores " dos pobres por muitas pessoas, especialmente pelos intelectuais. Mas, na sua visão, ter uma atitude positive em relação aos ricos e ao capitalismo é algo que favorece o desenvolvimento e a redução da miséria. O que a atitude das pessoas em relação aos super-ricos tem a ver com a diminuição da pobreza?

Eu realizei uma pesquisa sobre a imagem dos ricos em 13 países. A inveja social dos ricos é mais acentuada na Françae em seguida na Alemanha. Já os poloneses e os vietnamitas têm uma atitude positiva em relação aos ricos. A Universidade de Comércio Exterior de Hanói até me convidou para participar de um curso sobre o preconceito contra os ricos e o que é possível fazer contra isso. Não consigo imaginar uma universidade na Europa ou nos Estados Unidos realizando um workshop como esse. As sociedades nas quais as pessoas consideram os empreendedores bem-sucedidos como modelo alcançarão o sucesso de forma mais consistente do que as que veem os ricos como bode expiatório. Quando há pessoas que querem ser ricas e têm possibilidade de se tornarem ricas, as coisas funcionam. Recentemente, escrevi um livro sobre o ódio aos ricos no Chile, junto com o economista chileno Axel Kaiser, chamado El Odio a los Ricos (O ódio aos ricos). No livro, nós mostramos que os problemas no Chile, que era o país mais liberal e mais bem-sucedido da América do Sul, começaram com uma campanha contra os ricos.

Muitas pessoas acreditam que os mais ricos enriquecem à custas dos mais pobres, em linha com as ideias propagadas por Karl Marx. Qual a sua visão sobre esta questão?

No coração das crenças de todos os socialistas, há esta ideia de soma zero, de que os ricos só se tornam ricos porque tiram dinheiro dos pobres. Mas eu sempre pergunto: como explicar que, na China, por exemplo, o contingente de pessoas vivendo na miséria caiu de quase 90% para 1% da população em 40 anos, enquanto o número de bilionários aumentou de 0 para 600? Não é lógico. Isso aconteceu no mundo inteiro. A população mundial vivendo na pobreza extrema passou de 43% do total em 1980 para 9% hoje, enquanto o número de bilionários aumentou de 500 para 2.700. A razão que leva à redução da pobreza e torna algumas pessoas muito ricas é a mesma: o crescimento econômico. Este é meu principal argumento contra o pensamento de soma zero. Essas pessoas pensam a mesma coisa em relação ao mundo: que os países ricos têm de dar dinheiro para os pobres, para eles melhorarem sua situação. Também é um tipo de pensamento de soma zero. Elas não entendem que não é assim que funciona.

Na China, o presidente Xi Jinping e o Partido Comunista começaram a falar há alguns anos sobre “prosperidade comum”, em razão do aumento do número de bilionários e do crescimento da desigualdade. Isso levou também o regime a adotar medidas para controlar mais a livre iniciativa e estimular as doações e a redistribuição de renda. Qual a sua avaliação sobre esta questão?

Em 2019, um relatório de trabalho do Fórum Económico Mundial afirmava que “o setor privado da China – que vem se recuperando desde a crise financeira global de 2008– agora é o principal motor do crescimento econômico do país”. O relatório mencionava também a combinação dos números 60, 70, 80 e 90, que é frequentemente utilizada para descrever o papel do setor privado para a economia chinesa. O setor privado chinês contribui com 60% do PIB do país e é responsável por 70% da inovação, 80% da mão de obra urbana e 90% dos novos empregos. A riqueza privada também é responsável por 70% do investimento e 90%das exportações.

A ascensão da China resultou totalmente da introdução da propriedade privada e das reformas capitalistas que fizeram recuar a influência do Estado. Nos últimos anos, contudo, a tendência começou a se inverter. O Estado voltou a interferir muito mais na economia e isso já levou a um abrandamento do crescimento econômico chinês.

Na sua opinião, o que pode ter um impacto negativo no combate à pobreza e na melhoria da qualidade de vida da população mundial nas próximas décadas?

O esquecimento das pessoas. Vemos isso acontecer em todos os lugares. Depois de um tempo, as nações esquecem por que tiveram sucesso. Acabei de dar o exemplo da China, mas há muitos outros. Durante anos, em quase todo o mundo, os países estão indo na direção de uma economia mais planificada. Os socialistas, hoje, controlam quase toda a América Latina – a vitória de Javier Milei é a única exceção em anos. Os Estados Unidos e a Europa também estão caminhando cada vez mais para uma economia planificada. No seu grande discurso em Davos, em janeiro, o Milei enfatizou que, em geral, o socialismo moderno já não promove a nacionalização dos meios de produção. Segundo ele, isso não é mais necessário. O mercado livre está sendo cada vez mais sufocado pela intervenção governamental na economia, pela regulamentação cada vez maior, pelo aumento da tributação e pelas políticas dos bancos centrais. Os meios de produção e os ativos imobiliários até podem continuar a ser considerados como propriedade privada no papel. Mas só os títulos formais de propriedade se mantêm, porque os supostos proprietários perdem cada vez mais o controle sobre seus ativos, na medida em que o Estado é que lhes diz o que fazer (e o que não fazer) com eles.

 

Brazil in the Cold War, contribuição à Routledge Encyclopedia of Cold War - Paulo Roberto de Almeida

 Recebido do editor da publicação Routledge Encyclopedia of Cold War


Ref.:  Ms. No. RECW-D-23-00038R1
Brazil r "Brazil in the Cold War"
Routledge Resources Online - Cold War

Dear Dr DE ALMEIDA,

I am very pleased to tell you that your work has now been accepted for publication in Routledge Resources Online - Cold War.  

Comments from the Editor can be found below. 

On behalf of everyone involved with the RECW, thank you so much for your hard work and for your excellent contribution to this project. We look forward to including your work in the Encyclopedia. As compensation for your efforts, Routledge is pleased to offer a 15% institutional discount off the published product, plus 30% off Routledge books. 

All best wishes, 
Ruud van Dijk, Ph.D.
General Editor
Routledge Resources Online - Cold War

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Bem, agora só me cabe comprar a minha própria contribuição, no volume geral, com 15% de desconto sobre o preço da obra, assim como outros livros da editora com 30%.

Paulo Roberto de Almeida

quinta-feira, 7 de março de 2024

Conselho Acadêmico do Livres Caderno de Políticas Públicas em 2024: pauta municipal

 Conselheiros, 

Conselho Acadêmico do Livres

Caderno de Políticas Públicas em 2024: pauta municipal

Gostaria de expressar minha gratidão pelas contribuições de cada um de vocês ao trabalho de advocacy do Livres, bem como à construção do rol de propostas do Caderno de Políticas Públicas em 2024, focado na pauta municipal. A expertise, o comprometimento e a visão estratégica que vocês aportaram foram fundamentais para o sucesso dessas iniciativas.

O Caderno em sua versão digital figura neste link:

https://www.academia.edu/115939520/Livres_Caderno_de_Poli_ticas_Pu_blicas_2024_Pauta_Municipal

Reconhecemos o esforço e o tempo dedicados a esses projetos, que refletem não apenas no desenvolvimento de políticas que refletem nossos valores, mas também na promoção de um ambiente de diálogo e participação mais rico e construtivo. 

Estamos entusiasmados com o que conseguimos realizar juntos e motivados pelos desafios e oportunidades que temos pela frente. Continuamos contando com a colaboração e o apoio de cada um de vocês para seguir promovendo um Brasil com cidades cada vez mais Livres.

Atenciosamente, 
--
Deborah Bizarria
Coordenadora de Políticas Públicas / Public Policy Coordinator

CE QUE VEULENT LES GRANDES PUISSANCES: LA CHINE - Élie Baranets (IRSEM)

 CE QUE VEULENT LES GRANDES PUISSANCES 

LA QUÊTE DE STATUT DE LA CHINE ET L’AVENIR DE L’ORDRE INTERNATIONAL

Dr Élie Baranets 

Chercheur Sécurité internationale à l’IRSEM

https://www.irsem.fr/media/5-publications/etudes/etude-irsem-114-baranets-grandes-puissances.pdf

PRÉSENTATION DE L’IRSEM 

Créé en 2009, l’Institut de recherche stratégique de l’École militaire (IRSEM) est l’organisme de recherche stratégique du ministère des Armées. Composé d’une cinquantaine de personnes, civiles et militaires, dont la plupart sont titulaires d’un doctorat, il est le principal centre de recherche en études sur la guerre (War Studies) dans le monde francophone. En plus de conduire de la recherche interne (au profit du ministère) et externe (à destination de la communauté scientifique) sur les questions de défense et de sécurité, l’IRSEM apporte un soutien aux jeunes chercheurs (la « relève stratégique ») et contribue à l’enseignement militaire supérieur et au débat public. L’équipe de recherche est répartie en six domaines : 

• Le domaine Europe, Espace transatlantique et Russie analyse les évolutions stratégiques et géopolitiques en Amérique du Nord, en Europe, en Russie et dans l’espace eurasiatique qui comprend l’Europe orientale (Moldavie, Ukraine, Biélorussie), le Caucase du Sud (Arménie, Géorgie, Azerbaïdjan) et les cinq pays d’Asie centrale. Il s’intéresse plus particulièrement à la compétition de puissances dans cette zone, aux évolutions du rôle de l’OTAN, à la sécurité maritime et aux stratégies d’influence. 

• Le domaine Afrique – Asie – Moyen-Orient analyse les évolutions stratégiques et géopolitiques en Afrique, Asie et Moyen-Orient, autour des axes transversaux suivants : autoritarisme politique et libéralisation économique dans les pays émergents ; rôle et place des armées et des appareils de sécurité dans le fonctionnement des États et des sociétés ; enjeux stratégiques et de sécurité régionale ; idéologies, nationalismes et recomposition des équilibres interétatiques régionaux. 

• Le domaine Armement et économie de défense s’intéresse aux questions économiques liées à la défense et, plus largement, a vocation à traiter des questions stratégiques résultant des développements technologiques, des problématiques d’accès aux ressources naturelles et de celles liées aux enjeux environnementaux. Les travaux de recherche du domaine s’appuient sur une approche pluridisciplinaire, à la fois qualitative et quantitative, qui mobilise des champs scientifiques variés : économie de défense, histoire des technologies, géographie.

• Le domaine Défense et société est à l’interface des problématiques spécifiques au monde militaire et des évolutions sociétales auxquelles celui-ci est confronté. Les dimensions privilégiées sont les suivantes : lien entre la société civile et les armées, sociologie du personnel militaire, intégration des femmes dans les conflits armés, relations entre pouvoir politique et institution militaire, renouvellement des formes d’engagement, socialisation et intégration de la jeunesse, montée des radicalités. Outre ses activités de recherche, le domaine Défense et société entend aussi promouvoir les questions de défense au sein de la société civile, auprès de l’ensemble de ses acteurs, y compris dans le champ académique. 

• Le domaine Stratégies, normes et doctrines a pour objet l’étude des conflits armés contemporains, en particulier sous leurs aspects politiques, militaires, juridiques et philosophiques. Les axes de recherche développés dans les productions et événements réalisés portent sur le droit international, en particulier sous l’angle des enjeux technologiques (cyber, intelligence artificielle, robotique), les doctrines de dissuasion, la maîtrise des armements avec la lutte contre la prolifération et le désarmement nucléaires. Les transformations des relations internationales et leurs enjeux de puissance et de sécurité ainsi que la philosophie de la guerre et de la paix font également partie du champ d’étude. 

• Le domaine Renseignement, anticipation et stratégies d’influence mène des recherches portant sur la fonction stratégique « connaissance et anticipation » mise en avant par le Livre blanc de la défense depuis 2008. Ce programme a donc d’abord pour ambition de contribuer à une compréhension plus fine du renseignement entendu dans son acception la plus large (c’est-à-dire à la fois comme information, processus, activité et organisation) ; il aspire ensuite à concourir à la consolidation des démarches analytiques, notamment dans le champ de l’anticipation ; enfin, il travaille sur les différentes dimensions de la guerre dite « hybride », en particulier les manipulations de l’information. Le domaine contribue du reste au renforcement du caractère hybride de l’IRSEM en diffusant des notes se situant à l’intersection de la recherche académique et de l’analyse de renseignement en sources ouvertes.


BIOGRAPHIE 

Élie Baranets est docteur en science politique de l’Université de Bordeaux. Il est l’auteur de nombreux articles en Relations internationales et études stratégiques. Il a publié Comment perdre une guerre. Une théorie du contournement démocratique (CNRS Éditions, 2017) et Théories des relations internationales (Presses de Sciences Po, 2019, avec Dario Battistella et Jérémie Cornut). Chercheur Sécurité internationale à l’IRSEM depuis 2019, il est qualifié aux fonctions de maître de conférences en science politique. Ses recherches portent actuellement sur les causes des conflits armés, sur le lien entre le régime politique et la guerre et plus précisément sur l’impact stratégique des discours politiques. Il enseigne les Relations internationales et la politique étrangère des ÉtatsUnis dans plusieurs établissements, dont Sciences Po Paris.

SOMMAIRE 

RÉSUMÉ...1

INTRODUCTION....13 

I. UNE COURSE À LA PUISSANCE ? ......15 

L’approche incontournable de l’équilibre des puissances ..15 

Perceptions et pratiques ....15 

Une notion controversée........19 

La conception tragique de la compétition entre grandes puissances ....24 

Les contours généraux d’une théorie élégante ....24 

Les limites d’une approche engagée........29 

II. UNE COURSE AU PRESTIGE ?......35 

Le statut comme enjeu structurant de la rivalité entre grandes puissances ....35 

Une fin en soi.......35 

Un impact à déterminer ......41 

L’écart entre la puissance et le statut comme source d’antagonismes ....50 

III. QUELLES CONSÉQUENCES POUR L’AVENIR DE L’ORDRE INTERNATIONAL ?..55 

Les degrés classiques de changements envisageables...55 

Un système international adaptable ? ......59 

CONCLUSION ....67


RÉSUMÉ 

Course à la puissance, à la sécurité, à la technologie, ou encore aux retombées économiques, la rivalité sino-américaine est généralement décrite comme une compétition qui englobe tous les domaines. Ces différentes dimensions ne dévoilent néanmoins jamais autant leur intérêt que lorsqu’elles sont analysées à travers la course au statut à laquelle elles participent. Traditionnellement mise en avant pour expliquer les relations entre la Chine et les États-Unis, la notion d’équilibre des puissances souffre à la fois d’une ambiguïté récurrente et d’une capacité explicative limitée, notamment dans sa version la plus visible, incarnée aujourd’hui par le réalisme offensif de John Mearsheimer. Pour comprendre comment les logiques de croissance économique, de puissance, et de prestige sont connectées et se répercutent sur l’ordre international, l’étude propose plutôt de puiser dans les travaux de Robert Gilpin. Les conclusions de la littérature récente en Relations internationales permettent ensuite d’identifier les sources d’antagonismes liées au statut. Il ne semble pas que le renversement de l’ordre international en place soit la priorité de la Chine. Cela pourrait le devenir si elle ne se voit pas conférer le statut qu’elle pense mériter. L’étude examine les différents scénarios envisageables et leurs modalités.


INTRODUCTION 

La place centrale qu’occupe la rivalité États-Unis/Chine, dans les chancelleries, les cercles savants ou les préoccupations du grand public, ne tient pas uniquement à l’ampleur des capacités destructrices des deux plus grandes puissances du système international contemporain. Elle s’explique aussi par son caractère quasi universellement observable. Que ce soit dans les grandes décisions de politique étrangère, dans les interactions économiques d’un grand nombre d’agents, dans les innovations technologiques réalisées, dans la nature des investissements consentis tout autour du monde en termes de développement économique ou d’infrastructures, partout on peut en voir les empreintes. La rivalité sino-américaine influence également les politiques environnementales, sanitaires, sportives, sans compter qu’elle comporte une dimension non matérielle au sein de l’espace public. On en déduit volontiers que la compétition sino-américaine est une course intégrale : une course à la puissance, à la richesse, à la technologie ou encore aux symboles. Or, une telle conclusion réduit artificiellement l’écart d’importance qui existe entre ces différentes sphères. En outre, affirmer que cette rivalité est alimentée par des moteurs aussi nombreux que variés en brouille la compréhension. Elle empêche l’élaboration d’une grille de lecture parcimonieuse et cohérente, seule susceptible de discerner clairement les causes à l’œuvre et de les distinguer de leurs moyens, de leurs effets, ainsi que d’éventuelles fausses pistes. Plutôt que de proposer une analyse des spécificités internes des États-Unis et de la Chine, cette étude présente les traits relatifs à la rivalité entre grandes puissances en général qu’elle applique à la compétition à laquelle se livrent Washington et Pékin, dans le but de mieux en cerner les enjeux et les possibilités de développement. Ce faisant, l’étude se focalise davantage sur les aspirations de la puissance émergente, en l’occurrence la Chine. D’une part, elles sont davantage source de controverses que celles des États-Unis ; d’autre part, de leur identification est censée dépendre la posture américaine. L’étude repose en grande partie sur une opposition entre la compétition pour la puissance, d’une part, et la quête de prestige et de statut, d’autre part. Il n’existe pas de consensus quant à la définition de la puissance. Néanmoins, lorsqu’elle est appliquée à la rivalité sino-américaine, l’hypothèse de compétition de puissance renvoie généralement à une course de chaque acteur pour se doter des atouts qui lui permettront de dominer l’autre matériellement. Le statut, quant à lui, renvoie à la place qu’occupe un acteur (ici un État) au sein d’une hiérarchie symbolique (ici internationale). Le prestige en est quasiment le synonyme, à la différence près qu’il constitue la ressource qui permet à l’acteur en question de se placer sur cette échelle sociale. Cette étude tente de démontrer que la rivalité entre les États-Unis et la Chine gagne à être perçue comme une course au statut et au prestige plutôt que comme une course à la puissance. Prendre du recul sur la situation stratégique contribue à mieux identifier les motivations des acteurs internationaux majeurs, à commencer par celles des grandes puissances. Les opportunités qui s’offrent à ces États, les contraintes auxquelles ils doivent faire face, ainsi que les réactions possibles de la part des autres acteurs sont des questionnements qui nourrissent les discussions au sein de la discipline des Relations internationales1 . En puisant dans ce champ, cette étude se propose de restituer plusieurs conclusions qui peuvent aider à penser de manière claire et cohérente la rivalité entre la Chine et les États-Unis sans la réduire aux spécificités géographiques, culturelles et politiques des deux pays.


Note 1:  Il est d’usage d’utiliser l’expression « relations internationales » sans majuscule pour parler du domaine d’interactions entre acteurs variés à l’échelle mondiale, et « Relations internationales » avec une majuscule pour parler de la discipline universitaire qui étudie ce domaine. 


Lire pour entier: 

https://www.irsem.fr/media/5-publications/etudes/etude-irsem-114-baranets-grandes-puissances.pdf



Séminaire neutralité 2 : Postures stratégiques et débats nationaux autour de la neutralité - IRSEM

IRSEM

Séminaire neutralité 2 : Postures stratégiques et débats nationaux autour de la neutralité

Informations et inscription

 

Cet événement se tiendra le 20 mars de 18h à 19h30

(14 à 15H30 do Brasil)

Le conflit en Ukraine a réveillé une question ancienne, que l’on croyait reléguée au passé pré-onusien : la neutralité des États non parties à un conflit armé, anciennement incarnée par la cinquième convention de La Haye sur la neutralité (1907)

 

Résumé

Le conflit en Ukraine a réveillé une question ancienne, que l’on croyait reléguée au passé pré-onusien : la neutralité des États non parties à un conflit armé, anciennement incarnée par la cinquième convention de La Haye sur la neutralité (1907).

Cette question ressurgit depuis le conflit ukrainien en 2022, dans un contexte où les États tiers au conflit n’ont pas de positions unanimes, les uns voulant rester absolument hors du conflit, les autres jugeant leur neutralité compatible une aide à l’Ukraine, notamment en termes de livraison d’armes ou de sanctions contre la Russie.  

Le centre Thucydide et l’IRSEM proposent un tour d’horizon de cette institution aux multiples facettes, qui touche de nombreuses disciplines, allant de la science politique aux sciences juridiques et économiques. Des thèmes précis seront ainsi étudiés sous forme de séminaires réunissant deux experts, chacune faisant l’objet d’un événement particulier hébergé alternativement par le Centre Thucydide et par l’IRSEM.

Intervenant(e)s : 

-Sophie Enos-Attali, Institut Catholique de Paris

-Marco Sassòli, Université de Genève

Séminaire animé par Laurent Trigeaud, Maître de conférences HDR en droit public à l’université Paris Panthéon-Assas et Directeur adjoint du Centre Thucydide.

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·       Ecole militaire

·       1 place Joffre

·       75007 Paris (France)

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