O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 26 de junho de 2024

Manuel Vasquez Montalban: livros publicados no Brasil (Amazon)

 Já li vários em espanhol:

De: 
Frete GRÁTIS em pedidos acima de R$ 129,00 enviados pela AmazonProduto sob encomenda.
The Man of My Life (El hombre de mi vida)

The Man of My Life (El hombre de mi vida)

Edição Inglês | por Manuel Vázquez Montalbán | 1 mar. 2006
Autobiografía del general Franco

Autobiografía del general Franco

Edição Inglês | por Manuel. Vazquez Montalban | 1 jan. 19924,1 de 5 estrelas 23
Nenhuma opção de compra em destaque
R$ 586,00(2 ofertas de novos)
Milênio

Milênio

Edição Português | por Manuel Vazquez Montalban | 1 jan. 2007Nenhuma opção de compra em destaque
R$ 15,00(9 ofertas de produtos novos e usados)
Tatuaggio

Tatuaggio

Edição Italiano | por Manuel Vázquez Montalbán e Hado Lyria | 10 jun. 20153,7 de 5 estrelas 412
em até 12x de 
R$21,56 com juros
Receba quinta-feira, 25 de jul. - sexta-feira, 9 de ago.
Frete GRÁTIS
Mais opções de compra
R$ 149,83(2 ofertas de produtos novos e usados)
Los Papeles de Admunsen

Los Papeles de Admunsen

Edição Espanhol | por Manuel Vazquez Montalban | 2 abr. 20243,8 de 5 estrelas 15
em até 12x de 
R$34,70 com juros
Receba quinta-feira, 25 de jul. - sexta-feira, 9 de ago.
Frete GRÁTIS
O Estrangulador

O Estrangulador

Edição Português | por Manuel Vázquez Montalbán | 8 nov. 19993,9 de 5 estrelas 5
Nenhuma opção de compra em destaque
R$ 537,00(2 ofertas de produtos novos e usados)
O Homem da Minha Vida

O Homem da Minha Vida

Edição Português | por Manuel Vazquez Montalban | 1 jan. 2003
A Rosa de Alexandria

A Rosa de Alexandria

Edição Português | por Manuel Vazquez Montalban | 1 jan. 20065,0 de 5 estrelas 1
Erec e Enide

Erec e Enide

Edição Português | por Manuel Vázquez Montalbán, Paulina Wacht, e outros. | 1 jan. 20074,6 de 5 estrelas 3

De: 
Receba terça-feira, 9 de jul. - sexta-feira, 12 de jul.
R$ 8,90 de freteMais opções de compra
R$ 7,00(29 ofertas de produtos novos e usados)
Tatuaje

Tatuaje

Edição Espanhol | por Manuel Vázquez Montalbán | 17 jan. 20174,0 de 5 estrelas 352Nenhuma opção de compra em destaque
R$ 147,40(3 ofertas de produtos novos e usados)
Grátis com o teste da AudibleDisponível instantaneamente
Nenhuma opção de compra em destaque
R$ 980,00(2 ofertas de novos)Outro formato: Capa Comum
Quarteto

Quarteto

Edição Português | por Manuel Vázquez Montalbán, Paulina Wacht, e outros. | 10 jan. 20065,0 de 5 estrelas 1Nenhuma opção de compra em destaque
R$ 8,00(22 ofertas de produtos novos e usados)
O Senhor dos Bonsais

O Senhor dos Bonsais

Edição Português | por Manuel Vazquez Montalban | 1 jan. 20025,0 de 5 estrelas 1
Galíndez

Galíndez

por Manuel Vázquez Montalbán, Germán Gijón, e outros.4,1 de 5 estrelas 72
Grátis com o teste da Audible
Disponível instantaneamente
Nenhuma opção de compra em destaque
R$ 870,00(3 ofertas de produtos novos e usados)
em até 12x de 
R$33,48 com juros
Receba quinta-feira, 25 de jul. - sexta-feira, 9 de ago.
Frete GRÁTIS
Mais opções de compra
R$ 296,89(10 ofertas de produtos novos e usados)
El estrangulador

El estrangulador

por Manuel Vázquez Montalbán, Germán Gijón, e outros.
Grátis com o teste da AudibleDisponível instantaneamente
Nenhuma opção de compra em destaque
R$ 457,00(2 ofertas de novos)
La mirada inconformista: 40 años de periodismo, placer, revuelta y humor

La mirada inconformista: 40 años de periodismo, placer, revuelta y humor

Edição Espanhol | por Manuel Vázquez Montalbán | 14 nov. 20194,8 de 5 estrelas 11
em até 9x de 
R$53,76 sem juros
Receba segunda-feira, 8 de jul. - quinta-feira, 11 de jul.
Frete GRÁTIS
Mais opções de compra
R$ 278,60(7 ofertas de produtos novos e usados)


Livro: Rua Fuzhou, Xangai, de Carmen Lícia Palazzo (Amazon)

 Quer ler um bom livro sobre a China e seus aspectos históricos e culturais? Este: Rua Fuzhou, Xangai, de Carmen Lícia Palazzo. Pode ser encontrado na Amazon, rapidamente acessado (Kindle por R$ 17,00) ou comprado em formato impresso. Sou suspeito para dizer, mas é estupendo.

Rua Fuzhou, Xangai: Códigos e labirintos da China eBook Kindle 


Ler Rua Fuzhou, Xangai é viajar à China pelo olhar de quem se lançou cedo na descoberta do mundo. No livro, a autora desconstrói clichês sobre o exotismo cultural e procura o tom adequado para lidar com o fascínio da alteridade. Sem preciosismos acadêmicos, a despeito de ter uma vasta bagagem como pesquisadora, Lícia nos leva às ruas do País, alternando um olhar divertido sobre as pequenas coisas do dia a dia com a visão épica de um povo conhecido pelo etnocentrismo e, sabe-se lá, por um viés messiânico do próprio destino. Longe de ser um manual de negócios - ou uma enumeração fastidiosa de dos and dont´s, tão a gosto do mundo anglo-saxônico - Rua Fuzhow, Xangai se propõe a ensinar pelo prazer. Seja em Xi´an ou em Pequim, o leitor sente que pode confiar num olhar maduro - imune ao deslumbramento e vacinado contra o maravilhamento gratuito. Mas nem por isso sisudo ou ácido, muito pelo contrário. Na verdade, o sentimento que nos perpassa é o de estar diante de alguém que parece trabalhar se divertindo e se diverte enquanto trabalha. É evidente que a autora teria muito mais a dizer sobre o tema. Membro da Middle East Studies Association, da Society for the Medieval Mediterranean, da International Society for Iranian Studies, ademais do Grupo de Estudos Persasda Universidade de Brasília, há de se imaginar que seu repertório daria para muitos volumes. Mas é certamente pela concisão editorial que se pauta o mérito dessa pequena série, iniciada com Ukrayina, de Fernando Dourado, a que se seguirá O Baile dos Minaretes, de Pascale Malinoiwski, sobre a Turquia. Detentora do que chamamos de forte "pegada intercultural", própria de quem estudou em várias partes do mundo, Carmen Lícia morou na China. Para além da concisão e do rigor factual, estamos diante de um relato que flui, lavrado num português sóbrio a que não faltam nem sobram palavras. 谢谢大使女士

https://www.amazon.com.br/Rua-Fuzhou-Xangai-C%C3%B3digos-labirintos-ebook/dp/B0B4V8N9LV 



Wikileaks: meus textos a respeito dessa questão, de 2010 e 2011 - Paulo Roberto de Almeida

Agora que o Julian Assange está livre, depois de anos e anos de isolamento, detenção, e agruras, gostaria de reproduzir os trabalhos que escrevi na época e pouco depois dos eventos. Escreverei mais alguma coisa um pouco à frente.  Foram três trabalhos: 

2227. “Wikileaks: um grande desastre para a diplomacia americana”, Brasília, 29 novembro 2010, 4 p. Respostas a consulta formulada por jornalistas, sobre os vazamentos de documentos do Departamento de Estado.


2236. “Wikileaks: verso e reverso”, Porto Alegre, 14 janeiro 2011, 7 p. Comentários sobre as consequências das revelações, para diplomatas e historiadores. Publicado em Mundorama (14.01.2011); Postado no blog Diplomatizzando. Republicado em Via Política (24.01.2011) e em Dom Total (03.02.2011). Relação de Originais n. 2236. Relação de Publicados n. 1018.


2295. “Wikileaks-Brasil: qual o impacto real da revelação dos documentos?”, Brasília, 11 agosto 2011, 10 p. Novos comentários sobre o sentido das revelações e seu impacto nas relações bilaterais. Publicado em Mundorama(12/08/2011). Relação de Publicados n. 1042bis.


Transcrevi os três trabalhos num único documento, postado em minha página na plataforma Academia.edu. Ver no link: 


Elaborei este trabalho, seguido da reprodução dos três trabalhos listados acima: 


Wikileaks: textos elaborados entre 2010 e 2011 

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Reunião dos trabalhos ns. 2227, 2236, 2295, por ocasião da libertação do jornalista Julian Assange da ameaça de extradição aos Estados Unidos e condenação a vários anos de prisão.

  

Quando irrompeu o assunto da difusão das notícias “secretas”, disseminadas pelo Wikileaks, houve um grande entusiasmo entre os acadêmicos em geral, entre as esquerdas em especial, não apenas em função do caráter das informações, mas porque também elas correspondiam a denúncias contra o “imperialismo americano” e suas ações secretas no exterior, supostamente contra “democracias”, ou simplesmente “hegemônicas”. Na época, não apenas por ser diplomata, e conhecer, perfeitamente, nosso trabalho “aberto”, nas conferências, nas declarações públicas, mas também pelo fato de que mantemos uma parte das atividades em caráter reservado, confidencial, ou até “secreto”, de conversações off the record, ou apenas para informar a chancelaria, sobre assuntos bilaterais sensíveis, e consultas em meio a negociações multilaterais ou regionais. Temos de preservar as identidades de nossos interlocutores, que por vezes se manifestam até contra as posições oficiais do seu próprio Estado ou organização. Tudo é uma questão de sensibilidade.

Por isso mesmo, eu previ que seria uma “glória” jornalística (e entre os militantes antiamericanos, mas uma “tragédia” para o trabalho dos diplomatas e, sobretudo, para os futuros historiadores, que ficariam sem uma massa de informações antes tida por confidencial, mas que a partir de certo momento foram expostas, causando problemas para os interlocutores dos dois lados. Soldados americanos podem ter sido mortos por essas revelações e portas se fecharam não só para os americanos, mas um pouco para todos os demais. Outros aspectos do Wikileaks estão nos trabalhos que reproduzo abaixo.

Mais adiante eu posso voltar a essa questão, depois de ver quais entrevistas e declarações serão feitas por Julian Assange e ler mais materiais de imprensa, artigos de opinião sobre a questão, sobretudo do ponto de vista do Brasil.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4698, 25 junho 2024, 20 p.

Postado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/121512580/4698_Wikileaks_textos_elaborados_entre_2010_e_2011_2024_);.

 

Ler no link acima.



terça-feira, 25 de junho de 2024

Livres da Polarização - Darwin Reverso, por Guga Casari (revista Inteligência Democrática)

 

Darwin Reverso

Guga Casari, Inteligência Democrática (25/06/2024)

Recentemente tive a oportunidade de observar a rápida formação de um grupo de WhatsApp chamado Livres da Polarização. Rapidamente se formou um grupo fenomenal constituído por mais de 160 membros, ansiosos por um espaço onde pudessem conversar e trocar ideias sobre o atual momento político do Brasil, extremamente polarizado, de extremos com os quais não se identificam. Grupo do qual faço parte, com uma proposta que acredito e com a qual espero poder colaborar.

Revista ID é uma publicação apoiada por leitores. Para receber novos posts e apoiar meu trabalho, considere tornar-se um assinante gratuito ou pago.

A proposta atratora do Livres da Polarização não tem a intenção de organizar um movimento político com esta ou aquela pauta, ou promover esta ou aquela candidatura, mas de fomentar conversações sobre o próprio ambiente em que a política chega a fazer sentido, o ambiente democrático.

No caso ali não se trata de formar um grupo para ter algum poder ou força, mas de criar uma maré ampla aonde todos os barcos possam navegar com segurança e liberdade.

Mas ocorre um paradoxo, exatamente ao se formar “um grupo”, surgem fundadores, patronos, decanos, seniores e juniores, informadores e informados... E por mais bem intencionadas que estejam as pessoas, multipolarizações acontecem, e principalmente a ideia de dentro/fora surge concomitantemente ao surgir uma agremiação. Pois por voluntaria e de boa vontade que seja a reunião, o caos, a agitação, e todas as nossas ansiedades de resolver no outro questões tão prementes que nos incomodam surgem nesse espelho agitado.

Fica evidente que a arquitetura do WhatsApp e o ambiente que conjura não é o mais adequado para conversações que se chamariam matrísticas (*). Difícil naquele fluxo não ser estimulado a tomar atitudes hierárquicas e hierarquizantes. Onde estão os líderes? Para onde vamos com isso? Qual é a pauta, a eficácia, a estratégia? O efeito frenético e afunilador é exatamente o oposto de um emocionar necessário a conversas inclusivas, integradoras, democráticas. A agitação, e o fluxo multi monológico de tantas vozes atomizadas querendo ouvidos dificulta que as questões sutis originais e necessárias surjam no meio do caldo grosso das repetições.  É uma arquitetura de corredor de tempo crônico e com um fluxo lixiviante de sentido, dificultando a conversação humanizante.

A opção de configuração possível que ressurge para “organizar” os fluxos parece ser transformar o corredor em megafone (um tipo piramidal, um para muitos, broadcasting), ou criar um fluxo tão coerente que se torna um raio laser cortante, ou ainda um campo de força para mais uma bolha de mais polarização. Métodos naturais de um grupo, um exército de crentes, que quer se organizar e ocupar um espaço, uma corporação que controla um poder etc. As arquiteturas disponíveis  parecem exigir estruturação dos corpos e das vozes, e sua organização. Parece pedir que uns (muitos) se calem para que alguns (poucos) possam falar, mas pouco faz para realmente horizontalizar e criar as redes micelares, fluidas e polinizantes nas quais poderíamos distribuir mais poder e abundancia que ousamos conceber.

Me parece que presentemente as mídias sociais reproduzem um efeito de onda do complexo militar que criou a internet. Por que estas estruturas de comunicação pedem hierarquia, por que concentram poder? Será uma limitação, uma exigência intrínseca do meio ou é uma limitação de nossa imaginação ao usar as ferramentas? Pois para servir de instrumento democratizante, essas ferramentas de super-comunicação deveriam ser colocadas ao serviço de uma comunidade imaginal maior e de um tempo diferente do crônico, mais amplo e com mais caminhos. Talvez ande nos faltando imaginação, ou desintoxicação dos modos autoritários para usarmos os instrumentos ao nosso dispor como arados e não armas?  Estaremos condicionados ao utilitarismo de tal forma que não conseguimos usar o tempo como inútil aos nossos propósitos, à nossa história, aos nossos pequenos métodos e apenas sentir a humanidade extensa num espaço calmo e cheio de vida, para começar dali uma história nova? Sem polarização, sem alienação, sem guerra?

Penso que uma praça e práxis sem polarização tem que ser vista num contexto imaginal de tempo e de espaço mais livre, não condicionado por pautas agitadoras de emoções, divisionistas e emburrecedoras, desinteressado por estratégias de conquista e vitória, por esquemas de divisão do trabalho e rankeamento de funções. Ou seja para que por um momento se crie uma brecha pela qual vejamos o essencial, o que nos une como gente viva.

Vale como experimento, dar uma respirada, ouvir mais, ser mais essencial na comunicação, falar a partir do cerne inteiro de si, e assumir como seu aquilo que se projeta sobre o outro, ao menos como hipótese para começar um detox.  Se aproximar do outro é uma atividade de cuidado e aprendizado, é aprender uma língua nova, é ensinar com gestos amistosos, é oferecer pequenos brindes, e aceitá-los.

Somos mais "conscientes" socialmente conectados do que não. A "consciência humana" é um empreendimento coletivo. Tudo o que significa alguma coisa para o meu EU não veio de mim, e subsistirá após minha partida. Fui ensinado a ser gente, por bem e por mal por gerações de avós até a primeira tartaruga que sustenta o mundo em cima de um elefante, em cima de um dragão. E porque sou primata, porque sou um mamífero primitivo com um mini cérebro de lagartixa lá no meio da gosma cinza que parece achar que tem razão, eu amo, e coopero, e choro, e copio, e vibro com tudo o que é vivo.

E aqui se torna necessário colocar duas definições de consciência: algo do que se é consciente (um conteúdo), ou ter uma percepção sensorial, emocional ou racional de algo. Existe uma ideia de que há graus de consciência, inferiores animalescos e corruptos, superiores espiritualizados e virtuosos. Essa ideia é amplamente explorada na desumanização do outro, e nossa alienação de seu mundo e do nosso próprio. O maior grau de polarização vem daí. Nossa virtude, a baixeza do outro. A ideia de um baixo grau de consciência da humanidade que vai por aí, sem futuro seres estúpidos todos, sem salvação, e a necessidade de preservar nosso bunker de virtude, pureza e virgindade...

Posso ter uma grande magnitude de consciência/percepção focada num aspecto mínimo ou disfuncional de consciência/conteúdo, o carisma de um Hitler talvez venha disso, hiperfoco num buraco negro. Posso ter uma pequena magnitude de consciência/percepção e vislumbrar por essa brecha estreita um horizonte de liberdade para mim e para todos os seres e fazer disso um caminho humilde, e feliz. Dai que penso que consciência é qualidade mais que quantidade. Consciência é ao mesmo tempo o que escolho colocar no altar de minha atenção, como o que dedico da minha pequena chama para iluminar um pergaminho de sabedoria, de amor ao próximo, ou um pequeno mantra de desintoxicação da autocracia e patriarcado entranhados em meus ossos.

Muito do que sei ou sou, sei ou sou em relação, e só faz sentido porque sou parte da comunidade humana, e da comunidade das pessoas commons dessa região do planeta. Negros escravos, índios desterrados, desbravadores broncos, regentes despreparados, imigrantes esperançosos, território imenso, céu sem fim, favela, condomínio, família, igreja, hospício, mina... Minha consciência é um incomodo e desconjuntado conhecimento disso, algo que nunca consigo arrumar, e o outro, o outro... não ajuda. Não entende minha fala, não intui minha necessidade, e ocupa todos os espaços! Difícil curar a loucura surtada, desintegradora e alienante que é achar que o mundo é um problema por culpa primeira e última do outro. Meu desafio diário...

É porque tantas vezes sou eu é que estou pirando num fluxo caudaloso e saturado de informações que querem me formatar que manter a sanidade, mesmo quando o mundo parece pirar, é um jeito, talvez o único de salvar o mundo. E uma comunidade de pessoas afins sem dúvida é um balsamo fundamental para permanecer são mantendo acesa a tocha do viver democrático, resistindo suave e com doçura e picardia quando os vendedores de óleo de cobra oferecem soluções doentias, ou se colocam em palanques pra se vender como líderes visionários ou salvadores.

Este artigo se chama Darwin Reverso porque é exatamente a lógica do indivíduo em competição por recursos escassos que está nos falhando como imagem daquilo que realmente somos, ou podemos ser. Darwin reverso é a ideia de inverter a ideia da vitória do mais forte, mais alto, do mais mais, faminto e canceroso. O Indivíduo, a ideia que somos aquela bolha isolada e autogerada, que parece um pouco com um ser humano, está sendo levada à ultima potência, e está quebrando nas juntas. Estamos usando uma teoria de nós que não presta, que já era. E não é de surpreender que instrumentos e métodos que visam servir a esse construto capenga venham nos atrapalhando. Na realidade estão potencializando de tal modo a ideia do self isolado que vão levar essa bolha a uma explosão catastrófica. Não estamos dando conta de nós mesmos... veja a cacofonia que aparece quando ajuntados numa tubulação de WhatsApp. E estamos custando a compreender a dimensão da mudança requerida para que contemos uma nova história, para que cantemos uma nova e renovada canção local e planetária de sentido e proposito.

Os índios Hopi têm um mito de que a humanidade já passou por alguns momentos críticos, pelo que me lembro já foram quatro passagens estreitas e estamos na quinta. A percebemos presentemente como a singularidade, o efeito exponencial do acumulo de saberes e poderes rompendo todos os gráficos e apontando para a estratosfera, rompendo o teto, e talvez, tirando o chão.

Acredito que estamos todos sendo convidados a abrir uma porta diferente dessa singularidade explosiva e sem controle, estamos sendo convidados a abrir uma interface nova com os outros eus a nossa volta, desarmando a bomba. O mundo de muita gente está em guerra capturado num passado estéril e o remédio de um outro tempo já está aqui, entre nós.


(*) O termo 'matrístico' foi introduzido por Humberto Maturana (1993) no seu livro Amar e brincar: fundamentos esquecidos do humano. Assim ele explica o seu significado: "O termo “matrístico” é usado aqui com o propósito de conotar uma situação cultural na qual a mulher tem uma presença mística, que implica a coerência sistêmica acolhedora e liberadora do maternal fora do autoritário e do hierárquico. A palavra “matrístico”, portanto, é o contrário de “matriarcal”, que significa o mesmo que o termo “patriarcal”, numa cultura na qual as mulheres têm o papel dominante. Em outras palavras, a expressão “matrística” é aqui usada intencionalmente, para designar uma cultura na qual homens e mulheres podem participar de um modo de vida centrado em uma cooperação não-hierárquica. Tal ocorre precisamente porque a figura feminina representa a consciência não-hierárquica do mundo natural a que nós, seres humanos, pertencemos, numa relação de participação e confiança, e não de controle e autoridade, e na qual a vida cotidiana é vivida numa coerência não-hierárquica com todos os seres vivos, mesmo na relação predador-presa".

Revista ID é uma publicação apoiada por leitores. Para receber novos posts e apoiar meu trabalho, considere tornar-se um assinante gratuito ou pago.

Conference "Historical Roots and Modern Realities: Nationalism across the Americas - registration to online: Friday, June 28

ANN: UCL Americas Research Network 2024 Conference "Historical Roots and Modern Realities: Nationalism across the Americas"

Message from a proud sponsor of H-Net: