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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quarta-feira, 26 de junho de 2024

Wikileaks: meus textos a respeito dessa questão, de 2010 e 2011 - Paulo Roberto de Almeida

Agora que o Julian Assange está livre, depois de anos e anos de isolamento, detenção, e agruras, gostaria de reproduzir os trabalhos que escrevi na época e pouco depois dos eventos. Escreverei mais alguma coisa um pouco à frente.  Foram três trabalhos: 

2227. “Wikileaks: um grande desastre para a diplomacia americana”, Brasília, 29 novembro 2010, 4 p. Respostas a consulta formulada por jornalistas, sobre os vazamentos de documentos do Departamento de Estado.


2236. “Wikileaks: verso e reverso”, Porto Alegre, 14 janeiro 2011, 7 p. Comentários sobre as consequências das revelações, para diplomatas e historiadores. Publicado em Mundorama (14.01.2011); Postado no blog Diplomatizzando. Republicado em Via Política (24.01.2011) e em Dom Total (03.02.2011). Relação de Originais n. 2236. Relação de Publicados n. 1018.


2295. “Wikileaks-Brasil: qual o impacto real da revelação dos documentos?”, Brasília, 11 agosto 2011, 10 p. Novos comentários sobre o sentido das revelações e seu impacto nas relações bilaterais. Publicado em Mundorama(12/08/2011). Relação de Publicados n. 1042bis.


Transcrevi os três trabalhos num único documento, postado em minha página na plataforma Academia.edu. Ver no link: 


Elaborei este trabalho, seguido da reprodução dos três trabalhos listados acima: 


Wikileaks: textos elaborados entre 2010 e 2011 

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Reunião dos trabalhos ns. 2227, 2236, 2295, por ocasião da libertação do jornalista Julian Assange da ameaça de extradição aos Estados Unidos e condenação a vários anos de prisão.

  

Quando irrompeu o assunto da difusão das notícias “secretas”, disseminadas pelo Wikileaks, houve um grande entusiasmo entre os acadêmicos em geral, entre as esquerdas em especial, não apenas em função do caráter das informações, mas porque também elas correspondiam a denúncias contra o “imperialismo americano” e suas ações secretas no exterior, supostamente contra “democracias”, ou simplesmente “hegemônicas”. Na época, não apenas por ser diplomata, e conhecer, perfeitamente, nosso trabalho “aberto”, nas conferências, nas declarações públicas, mas também pelo fato de que mantemos uma parte das atividades em caráter reservado, confidencial, ou até “secreto”, de conversações off the record, ou apenas para informar a chancelaria, sobre assuntos bilaterais sensíveis, e consultas em meio a negociações multilaterais ou regionais. Temos de preservar as identidades de nossos interlocutores, que por vezes se manifestam até contra as posições oficiais do seu próprio Estado ou organização. Tudo é uma questão de sensibilidade.

Por isso mesmo, eu previ que seria uma “glória” jornalística (e entre os militantes antiamericanos, mas uma “tragédia” para o trabalho dos diplomatas e, sobretudo, para os futuros historiadores, que ficariam sem uma massa de informações antes tida por confidencial, mas que a partir de certo momento foram expostas, causando problemas para os interlocutores dos dois lados. Soldados americanos podem ter sido mortos por essas revelações e portas se fecharam não só para os americanos, mas um pouco para todos os demais. Outros aspectos do Wikileaks estão nos trabalhos que reproduzo abaixo.

Mais adiante eu posso voltar a essa questão, depois de ver quais entrevistas e declarações serão feitas por Julian Assange e ler mais materiais de imprensa, artigos de opinião sobre a questão, sobretudo do ponto de vista do Brasil.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4698, 25 junho 2024, 20 p.

Postado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/121512580/4698_Wikileaks_textos_elaborados_entre_2010_e_2011_2024_);.

 

Ler no link acima.



sábado, 25 de agosto de 2012

Julian Assange: o estranho caso de um fora-da-lei...

Julian Assange’s Misrule of Law
Ana Palacio
Project Syndicate, August 23, 2012

MADRID – The uproar surrounding Ecuador’s grant of political asylum to WikiLeaks founder Julian Assange has obscured huge inconsistencies. Only by examining them can we understand what is truly at stake in the case.
For starters, a government with a dubious record on freedom in general, and press freedom in particular, is waving the flag of rule of law and respect for freedom of expression while casting doubt on Sweden, a country that leads the world in its respect for due process and international law.
That is not all. The head of Assange’s legal team, Baltasar Garzón, has been a fervid champion of the narrowest interpretation of political asylum, gaining international standing with his successful petition to extradite Chilean dictator Augusto Pinochet. Now, however, he is advocating exactly the opposite.
Assange’s rejection of extradition to Sweden for questioning on allegations of sexual assault is based on the supposed interference in the case by the United States. But no such interference has materialized in any way, shape, or form. So, while Ecuador waves the banner of anti-colonialism against Britain, the bottom line is that Assange, Garzón, and Ecuadoran President Rafael Correa are simply playing the old “blame America” card to evade a properly issued European Arrest Warrant (EAW), upheld by the United Kingdom’s Supreme Court.
Beyond the facts of the Assange case, its significance consists in the current rise of a brand of populism that cloaks itself in the rule of law while invariably undermining the law’s reach and enforcement. Ecuador’s stance on the case has been echoed by other members of the Bolivarian Alliance for the Americas (ALBA), including Cuba and Venezuela. And yet, according to Reporters without Borders (RWB), Ecuador ranked 104th out of 179 countries for press freedom in 2011-2012. Similarly, the2012 Freedom House Index (FHI) classifies Ecuador as “partly free,” and on a declining trend.
It is also worth noting that Venezuela, ALBA’s leading member, ranks no better (117th on the RWB scale and also “partly free” on the 2012 FHI). In marked contrast, Sweden leads the RWB’s rankings, and is one of only two states to receive excellent scores on both political and civil liberties from Freedom House.
Beyond the numbers, RWB and Freedom House have noted a decline in freedom in Ecuador recently, pointing to Correa’s persistent campaign against media critics, his government’s use of state resources to influence the outcome of a referendum, and the reorganization of the judiciary in blatant violation of constitutional provisions. Meanwhile,a recent report on Venezuela by the International Crisis Group notes unfair conditions established in the run-up to the upcoming presidential election and the absence of a level playing field for the media.
Correa’s recent statements embody these contradictions. As recently as May 2012, he pontificated that “[t]he governments trying to do something for the majority of the people are persecuted by journalists, who think that by having a pen and a microphone they can direct even their resentment against you. They often insult and slander out of sheer dislike. These are mass media serving someone’s private interests.”
And yet this statement came in an exchange with none other than Assange, the self-proclaimed crusader for freedom of expression, during a recent TV show aired on a Russian channel controlled by President Vladimir Putin’s government.
Unfortunately, the sham rule of law pushed by Assange, Correa, and other populists is gaining adherents in today’s globalized world. This is dangerous, because their signature approach is the selective and inconsistent application of legal or quasi-legal principles and precepts, which is the very opposite of the rule of law’s dependence on generality and predictability. By distorting reality and impugning the Swedish legal system – a standard-bearer for legal certainty, fairness, and professionalism – the champions of this subversion are undermining the foundations of an international system that serves as a bulwark against totalitarian impulses.
Yet the strangest aspect of the Assange affair is the deafening silence on the part of those actors and institutions whose existence and legitimacy emanates from the completeness of the rule of law. The European Union’s silence is perhaps the most disturbing. The official Web site of the European External Action Service includes a plethora of pronouncements and condemnations on issues ranging from Syria to Madagascar to Texas, but a keyword search of “Assange” returns a single entry from April 2012 on Hezbollah leader Hassan Nasrallah’s reaction to WikiLeaks.
Indeed, no EU leader – not the verbose European Commission president, José Manuel Barroso, the ever-grey president of the European Council, Herman Van Rompuy, or the cautious High Representative of the Union for Foreign Affairs and Security Policy, Catherine Ashton – has seen fit to counter unfounded attacks on two EU members. Nor have they bothered to defend a much-heralded cornerstone instrument of the Union – the EAW, under which the UK first detained Assange.
How is it that the EU, much criticized for its proclivity for declarations and statements, is silent on an issue where its voice not only would make sense, but also could make a difference? Whatever the reason, it is time that the Union’s leadership reverse course and speak out, loudly and clearly, taking the initiative that other international leaders and organizations would, one hopes, heed and emulate.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Asilo diplomático e "asilo" politico: o caso Julian Assange

Minha modesta opinião, que não é a de um jurista, sobre o caso Julian Assange. Quem tiver uma outra opinião sobre o caso, e se ela for fundamentada, terei satisfação em publicar aqui.


Os países seguem, de forma muito diversificada, tratados internacionais aos quais subscreveram. O Equador pode até ser parte de tratados sobre asilo diplomático (geralmente no âmbito latino-americano), mas nada obriga o Reino Unido (RU) a seguir esses tratados. Outros tratados internacionais podem se aplicar em caso de ameaça grave à vida de alguém, mas não é isso que vem acontecendo com o sr. Julian Assange (JA), que até agora teve seus direitos inteiramente respeitados pela lei inglesa.
Nenhum tratado internacional obriga o Reino Unido a reconhecer o "asilo político" concedido em bases inteiramente políticas pelo Equador ao Sr. Julian Assange, demandado judicialmente pela Suécia e formalmente extraditado (ou extraditando) pela justiça do RU. Esgotaram-se os procedimentos de apelo, até a mais alta corte, e o que o governo do RU tem de fazer, em cumprimento a um tratado de extradição com a Suécia, é extraditar o JA para lá.
A decisão de não reconhecer o asilo político concedido pelo Equador, portanto, foi formalmente correta, uma vez que o JA não está sendo perseguido politicamente, e sim por outras acusações.
A Embaixada do Equador não decide nada, ela apenas recebe instruções de seu governo, que decidiu, politicamente, dar esse asilo político, que não é reconhecido pela lei inglesa. 
A Justiça inglesa ordenou ao executivo extraditar JA e portanto essa decisão tem de ser cumprida.
Se o governo inglês considerar que o governo do Equador está atuando contrariamente à lei do país, e ofendendo um dos princípios e dispositivos da Convenção de Viena das Relações Diplomáticas, ele pode, mediante comunicado em forma de nota diplomática, informar ao governo do Equador que está retirando os privilégios diplomáticos dessa embaixada -- ou seja, retirando a imunidade diplomática, como a extraterritorialidade dess representação -- e simplesmente ordenar que seus agentes entrem na Embaixada e capturem o fugitivo.
O Equador pode até protestar na ONU contra essa "violação", mas ele teria sido alertado antes que está violando a lei no RU.
O próprio Equador pode ser acusado pelo RU de ter interferido em decisões soberanas de justiça, extravasando seus direitos a conceder asilo a um indivíduo que não estava sendo perseguido politicamente.
As relações entre os dois países vão se deteriorar, mas o guia correto para analisar essa questão é a aderência de cada um dos países ao direito internacional. Até aqui o RU vem seguindo escrupulosamente o que lhe dita sua ordem legal, e suas obrigações internacionais. O Equador, ao contrário, tem agido politicamente, e isso não contribui para o próprio respeito à lei no plano nacional e internacional.
Paulo Roberto de Almeida 

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Quantos meses (ou anos) de "asilo" em embaixada...

O Equador, talvez "mal acostumado" com a prática de asilo diplomático em países tão instáveis e conturbados quanto os latino-americanos, acredita que o Reino Unido tem a obrigação de dar um salvo conduto a um extraditando, qualquer que seja este.
Vamos ver quantos meses, talvez anos, o extraditando vai passar na londrinense embaixada. Pelo menos comer bem, se supõe que ele passe a comer...
Paulo Roberto de Almeida 

Foreign Secretary statement on Ecuadorian Government’s decision to offer political asylum to Julian Assange
16 August 2012 

(...)
“Under our law, with Mr Assange having exhausted all options of appeal, the British authorities are under a binding obligation to extradite him to Sweden. We must carry out that obligation and of course we fully intend to do so. The Ecuadorian Government's decision this afternoon does not change that in any way. Nor does it change the current circumstances in any way. We remain committed to a diplomatic solution that allows us to carry out our obligations as a nation under the Extradition Act.
(...)
"...We will not allow Mr Assange safe passage out of the UK, nor is there any legal basis for us to do so. The UK does not accept the principle of diplomatic asylum. It is far from a universally accepted concept: the United Kingdom is not a party to any legal instruments which require us to recognise the grant of diplomatic asylum by a foreign embassy in this country. Moreover, it is well established that, even for those countries which do recognise diplomatic asylum, it should not be used for the purposes of escaping the regular processes of the courts. And in this case that is clearly what is happening."
(...)
http://www.fco.gov.uk/en/news/latest-news/?view=News&id=800710782 

domingo, 17 de julho de 2011

Wikileaks-Brasil: the inside story - Natalia Viana (Publica)

Como conheci Julian Assange – e como os documentos do WikiLeaks vieram parar no Brasil
Por Natalia Viana, da Pública (15/07/2011)
Tudo começou com um telefonema mais do que inesperado e misterioso, em novembro do ano passado; menos de duas semanas depois, o Brasil seria o primeiro país a ter acesso aos documentos diplomáticos da embaixada americana, além dos cinco jornais da Europa e dos EUA.

Só às vezes o meu celular pegava. Eu estava em um bangalô à beira do Rio Tapajós, no Pará, onde ia morar por um mês para fazer uma reportagem. O telefone, portanto, não tocou. Ouvi o recado horas depois. Em inglês britânico: “Alô Natalia, aqui é a Hale, trabalhamos juntas em Londres. Agora estou com uma organização muito influente, queria te passar um trabalho…”

Era 14 de novembro de 2010, quinze dias antes do estrondoso lançamento dos 250 mil telegramas das embaixadas americanas pelo WikiLeaks, e no silêncio da floresta o convite soou longínquo, mal explicado. Decidi entrar em contato com meu ex-chefe, Gavin MacFadyen, diretor do Cento de Jornalismo Investigativo de Londres, onde trabalhara com a tal inglesa, para pedir mais detalhes.

Gavin é um dos mais incríveis jornalistas que eu conheço. Adora as reportagens arriscadas, saboreia os resultados, ri sem parar quando lembra que algum ricaço corrupto foi pego com a boca na botija. E sempre me dá as melhores dicas. Pouco depois do contato, ela volta a me escrever, por email.

“Estamos trabalhando em um grande projeto, extremamente empolgante, que vai ter enorme repercussão no mundo todo. Não é seguro escrever os detalhes, mas tenho certeza que qualquer jornalista gostaria de estar envolvido”, explicava a inglesa. “Todos os meus telefones estão grampeados, mas posso te ligar”.

Ao telefone, a proposta, afinal: que eu estivesse em Londres nos próximos dias, num local indicado. Não saberia o que nem para quem. Numa rápida ligação, Gavin deu uma só dica, preciosa: o trabalho envolveria uma pessoa “recentemente famosa”. Como grande parte dos jornalistas investigativos, eu já conhecia a trajetória de Julian Assange e me entusiasmava pela sua cruzada por documentos secretos. Achei que era ele: “Estou dentro”.

Ora, de Santarém para Belém e de lá para o aeroporto de Cumbica, em São Paulo. Mil pequenos receios tomam conta quando tomei o táxi para o aeroporto, afinal. Medos prosaicos: de ser tudo mentira; de perder os parcos 4 mil reais que gastara com as passagens; de ser barrada no aeroporto de Londres como tantos brasileiros da minha idade, sem trabalho fixo nem uma boa explicação para dar. Caprichei no ar blasé quando falei com o oficial da imigração: “estou apenas de férias, vou aproveitar para fazer compras”. Deu certo.

Em Londres, devia ir a um endereço – era toda a indicação que eu tinha. Mas quando cheguei ao Frontline Club, em Paddington, um clube aconchegante que promove o jornalismo independente com debates, exibição de filmes e quartos mais em conta para repórteres e documentaristas que vivem de orçamento apertado – ninguém.

Hora e meia depois ela chega, esbaforida. Loira, rabo de cavalo e roupa mal ajambrada que pouco disfarçava a beleza de olhos azuis, boca carnuda e jeito de menina. Hale desabafou: “Sinto muitíssimo, querida, mas você viu o que aconteceu hoje né?”. Eu, não. “Emitiram um mandado de prisão contra ele”.

Ele, como eu imaginara, era Julian Assange, uma das figuras mais controversas do jornalismo mundial – acusado, inclusive, de não ser jornalista. Àquela altura, o WikiLeaks já era conhecido no mundo todo, e já incomodava muita gente. Em julho, havia publicado 75 mil diários sobre a guerra do Afeganistão que provaram assassinatos indiscriminados de civis; em outubro, mais 400 mil relatos secretos sobre o Iraque, provando tortura contra prisioneiros.

Hale parecia mais aborrecida com o atraso nos planos que com a acusação em si. Trava-se de uma queixa na Suécia, feita por duas mulheres, de crimes sexuais. “É uma armação, isso vai embora com o tempo. Mas precisamos ter cuidado”. Muito cuidado, explicou. Meses antes, o Pentágono havia emitido uma ameaça clara: o WikiLeaks deveria devolver todos os documentos secretos e apagá-los do seu site, ou então os EUA “buscariam alternativas de obrigá-los a fazer a coisa certa”. Não tínhamos nem ideia do que podia acontecer.

***

A poucas quadras dali, no andar superior de uma casinha insuspeita em uma alameda de paralelepípedos, estavam meus companheiros de viagem. Agora, era só guardarmos as malas e partirmos, disse Hale, sem explicar aonde. Foi assim que vi pela primeira vez o Julian Assange, com seu rosto fino e nariz marcante, pálido, loiríssimo. Falou pouco, mas sua voz forte chamou a atenção, talvez um pouco menos que a vodka que ele ofereceu assim que sentei à mesa. Islandesa, supreendentemente boa.

Do outro lado, o islandês Kristin Hraffnson sorria. Bonitão, grisalho (teria uns 50 anos?) e com seu ar sério, elogiou o produto de sua terra, enquanto ao meu lado outro rapaz, de óculos, também bebia sem culpa. “Não vou dirigir”. Era um rapaz jovem, magricelo, com um aprumado topete e um ar irônico que só os melhores ingleses conseguem ter (embora seja, na verdade, de uma ex-colônia africana). Seguiu-se então uma discussão, que me pareceu infinita, sobre quem afinal seria o motorista – a escolha era entre um islandês meio bêbado, um africano meio cego e uma inglesa que não dirigia há anos. “Como você pode ver, somos uma organização muito eficiente”, brincou Hale, ao se dar por vencida e assumir a direção.

Pouco antes de sair, Julian me chamou para perto. Me entregou um pedaço de papel rabiscado: “Não fale nada”. Lia-se, na sua letra miúda, 250.000 telegramas de embaixadas americanas de 1966 a 2010. 1/10 não valem nada, 1/50 importantes, 1/250 muito importantes.

Na saída, aproveitei para fumar um cigarro. Kristinn se aproximou: “Você está bem?”. “Estou. Queria poder fazer perguntas”. “Quando estivermos na estrada”, respondeu.

Hale pediu meu casaco, uma espalhafatosa peça de lã azul marinho salpicada de bolinhas verdes. Subiu correndo e desceu rindo uma gargalhada gostosa, que tentava abafar com as mãos. “Eu juro que não vou conseguir dirigir se ele vier vestido assim”. Quando Julian finalmente desceu, todos caímos na risada. Vestia um lenço estampado de cetim sobre a cabeça, meu casaco acinturado, óculos e enchimento nos peitos e nas costas, simulando uma bizarra corcova. Fizemos uma breve sessão de fotos, até ser interrompidos por ele: “vamos, vamos!”

***

Enfim pudemos conversar quando chegamos a um posto de beira de estrada. Enquanto os demais foram comprar comida, Julian ficou no carro por segurança.

Por que queriam uma brasileira?

- Porque o Brasil é um grande país, independente, assim como a Austrália. Não pode ser visto como América Latina, e também tem uma língua própria…

Ele abriu seu pequeno laptop, onde reluzia um gigantesco arquivo de texto, verde e preto. Digitou “Brazil”: 3 mil documentos. “Você vai ter muito trabalho”, disse.

A principal tarefa seria escrever matérias em português (“temos muitos apoiadores no Brasil”) e conseguir parceiros confiáveis na mídia brasileira. “Ah, uma coisa”, ele acrescentou. “Vamos lançar os documentos no dia 28”.

Trabalhar com o WikiLeaks, percebi, é quase sempre tentar realizar o impossível. Ler e processar milhares de documentos era humanamente impossível.

Mas ser do WikiLeaks é isso: idealistas, apaixonados, todos desdobram-se em cinco para concretizar as empreitadas inventadas por Julian ou pelo grupo que o rodeia a toda hora, todo instante. “Em tempos de mentira universal, dizer a verdade é um ato revolucionário”, diz o site da organização.

Uma organização que usa essa frase no seu site é ingênua, ou revolucionária. Ou os dois.

***

Voltando para a estrada, recebemos ordens de desligar computadores e celulares. Ordens mesmo. Entendi rápido que o WikiLeak não é Julian Assange: qualquer decisão será contestada, discutida e rediscutida por todos à sua volta, num exercício de possibilidades e impossibilidades que só vai terminar com o melhor argumento – ou a estratégia mais ousada. Mas, quando se trata de segurança digital, Julian manda, ponto final. No dia seguinte, ele iria pessoalmente “blindar” todo o equipamento.

Já larga madrugada, a rodovia deu lugar a estradinhas tortuosas, rodeadas por plantações rasteiras e grandes casarões, antigas casas de duques e duquesas. Do lado de fora o campado acolhia as plantações e criações: faisão, patos, pombos brancos. Estávamos em Norfolk, na fazenda de Vaughan Smith, o mesmo dono do Frontline Club.

A mansão dos Smith tem nome próprio, Ellingham Hall. E merece. O estilo é georgiano; e tudo parecia mesmo datar da época de um rei longínquo. Até o odor, e o ranger do piso de madeira, de madrugada.

O casarão guarda histórias de gerações e gerações, que Vaughan e a sua esposa Pramvera, uma inteligentíssima mulher do Kosovo, iam nos contando ao redor da enorme mesa de jantar diante da lareira. Nas paredes, retratos a óleo dos antepassados nos seus melhores trajes –para não ser esquecidos no tempo. Vaughan apontava: “essa era minha tia avó”, “esse meu tataravô era capitão de infantaria”, “meu pai era mensageiro real”. Todos haviam morado naquela casa.

Ellingham Hall tem 10 quartos, quatro andares ligados por uma escada em caracol. Eu dormia com uma advogada mexicana que chegaria dias depois para dividir comigo uma impressão, digamos, mais latina sobre aquilo tudo. No quarto, confidenciávamos estar com medo de chegar a polícia, o serviço secreto britânico, ou a CIA. “Qualquer coisa, somos apenas empregadas!”, brincava ela.

***

No dia seguinte, Julian já se debruçava sobre os nossos laptops. A coisa se mostrou um tanto complicada; a internet funcionava mal e lentamente. Somente à noite conseguimos fazer uma reunião para, finalmente, programar o trabalho.

Para nossa segurança, ficaríamos fechados em Ellingham Hall, evitando chamar a atenção. O local era seguro, isolado de qualquer estrada, e cravado no meio de um enorme terreno de 650 acres – muito difícil, portanto, de ter escutas. Teríamos jornalistas indo e vindo, de muitos países, para escrever sobre os telegramas. As viagens à cidade deveriam ser raras, feitas em pequenos grupos. E só quando muito necessário.

A conversa chegou enfim ao processo sueco, que despertava minha curiosidade e a ansiedade de todos. Tudo indicava que a Interpol iria emitir um mandado de prisão internacional, e Julian não iria mais poder viajar. Ele jamais pensara em se tornar um fugitivo. Mas fato é que se a ordem fosse dada, se tornaria do dia para a noite um homem procurado.

“Me arrependo muito de não ter feito o WikiLeaks como uma empresa” disse, abatido. “Se fôssemos uma empresa que desse lucro, podíamos vender conteúdo sobre os documentos, pronto, todo mundo nos respeitaria”. Raciocínio típico de Julian Assange, perspicaz, original e inesperado; e típico do WikiLeaks, contestado com vigor de manhã cedo até o jantar. Ora essa, uma empresa.

No dia seguinte, recebi enfim os documentos. Quem colocou tudo em tabelas de Excell foi um inglesinho de cerca de 25 anos, de olhos azuis e pouco queixo. James Ball, formado em Oxford, é um jovem jornalista excelente com tabelas, números, documentos, com um tremendo raciocínio lógico – e conservador. Sensato, talvez um pouco demais para o WikiLeaks, sempre batia de frente com Julian ao defender a imprensa britânica. Mas sim, era delicioso assistir ao eterno embate entre o jovem britânico e o hacker (quase) quarentão com tendências a esgarçar limites.

Meses depois, James integrou-se ao time investigativo do Guardian. Deu, em troca, horas de depoimentos sobre o WikiLeaks, recheando o livro sobre Julian que o jornal publicou a toque de caixa e que, meses depois, seria comprado por Steven Spielberg para um filme de Hollywood. Com seu estilo careta, o jovenzinho reclamaria do estilo “errático” da organização, das mudanças de ideia de Julian, e das poucas horas de sono. “Era um grupo de jovens ativistas sem qualquer treinamento profissional”, diria.

E são assim contadas as histórias que ficam.

***

Trabalhávamos na sala contígua à de jantar, diante da lareira; nos três sofás, cinco, seis pessoas mergulhadas nos seus laptops enquanto a arrumadeira trazia lenha para manter o fogo aceso de hora em hora, com um café bem aguado. Dormíamos mal, pouco, trocávamos o dia pela noite.

Assim que recebi as duas tabelas de Excell – uma, com os 1947 telegramas de Brasília, outra com 909 dos consulados – fiquei cinco dias sem pregar os olhos. Estava ali um relato inédito da nossa história recente, preciso, datado, delicioso. Afinal, era a conta de todos os anos do governo Lula aos olhos do governo americano, primeiro com Bush e depois Obama. A história de um império em decadência, e de uma nação que desponta. Com seus meandros e suas sacanagens, e seus deliciosos flagrantes.

Eram documentos com valor histórico, e não só noticioso. Através deles, aprenderíamos como se dá na prática a política externa: nomes, datas, detalhes. Organizá-los bem e elaborar uma boa estratégia de divulgação era, portanto, essencial. Queríamos que fossem lidos, repercutidos, abraçados pela mídia e pelos sem-mídia.

Nos telegramas desfilavam Serras, Lulas, FHCs, Amorins, Jobins. Aos poucos os furos iam se revelando e eu, pacientemente, os ia classificando, elencando segundo a urgência e importância. Assombrei-me com a colaboração entre a inteligência brasileira e os americanos nas operações anti-terror; com a ajuda do governo para liberar na justiça os pilotos acusados do acidente da Gol; com a transferência dos agentes da DEA expulsos da Bolívia por espionagem para o Brasil, em silêncio, na surdina – e com o apoio do Minsitério da Justiça e do govenro boliviano. Me surpreendi ao ver que o ministro da defesa, Nelson Jobim, era o “homem mais confiável” para o embaixador, enquanto falava mal do Itamaraty.

- Meu deus! – lembro de ter gritado. Jobim fofocou que Evo tinha um tumor! Que traição!

Silêncio na sala. A verdade é que ninguém entendia os vaivéns da nossa política regional e cabia a mim, avaliar o que era bombástico, o que não. Percebi logo que muitos documentos teriam mais impacto se lançados ainda em dezembro: que o governo de Lula ia acabar. Mas, para isso, o Julian teria que comprar uma enorme briga.

Todos concordávamos que deixar apenas cinco jornais – de países centrais, ocidentais – decidir o que é e o que não é notícia era injusto. Mas o acordo rezava que Guardian, New York Times, Le Monde, El Pais e Der Spiegel teriam exclusividade sobre todos os documentos até janeiro. O problema então era expandir a parceria sem irritá-los.

A solução foi uma verdadeira gambiarra. Eu enviaria à imprensa brasileira, todo dia, as matérias que iria publicar no dia seguinte no site do WikiLeaks. Faltava só achar um parceiro, um grande jornal. E, mais importante, um jornalista confiável.

Fernando Rodrigues, da Folha de São Paulo, tinha uma enorme vantagem: ele conhecia o Gavin, sabia que eu trabalhava com ele, e portanto iria levar a sério o único breve telefonema que eu podia dar com segurança, do isolamento do nosso casarão. Consegui contato afinal através do Facebook. “Fernando, preciso falar com vc urgente. Vc pode me dar seu celular?”, digitei.

Ao telefone, podia falar muito pouco. O WikiLeaks queria um parceiro brasileiro, pois tinha em mãos muitos documentos, inclusive do Brasil. A repercussão seria enorme, a Folha com certeza podia dar destaque. Mas eu só poderia abrir o conteúdo no domingo, dia 28 de novembro, pela manhã. Sem mais detalhes.

Claro que não seria fácil segurar um jornal do porte da Folha com a promessa de um enorme furo que não se sabe direito o que é. Fernando seguiu o faro, e fez muito bem; mas é claro que enviava dezenas de emails checando e rechecando a data, perguntando mais sobre o conteúdo. Consegui acalmá-lo, afinal.

***

Na Inglaterra, em pleno novembro, é quase sempre noite. Em volta do casarão, tudo cobriu-se de neve. A rotina seguia intensa. Alívio eram os jantares, com bom papo e bom vinho do porto, tradição que seguíamos todas as noites. Chegaram colaboradores de toda parte – franceses, suecos, israelenses, americanos, ingleses.

Na mesa, evitávamos os temas mais pesados. Ali não estávamos fazendo nada diferente do que as equipes do Guardian, Le Monde, El Pais, faziam nas suas redações. E, no entanto, sob forte ameaça do Pentágono, éramos somente nós que tínhamos o que temer. “Mas esses documentos valem muito mais do que a minha vida. Ou a vida de qualquer um nesta mesa”, disse Julian uma noite. Seguiu-se, claro, um silêncio sepulcral.

A seriedade da situação não impediu que ele, a poucos dias do lançamento, teimasse em ir a Londres para o casamento do Gavin. Isso mesmo: Gavin, beirando os 70, iria se casar com a namorada, e fizera questão de escolhê-lo como padrinho. Mas, àquela altura, com um mandato de prisão iminente, seu paradeiro já gerava especulações em toda a imprensa. Hale o apoiava: “É muito mais romântico!”. Eu argumentava: seria o primeiro lugar onde o procurariam se houvesse um mandado de prisão repentino, ou um processo secreto nos EUA.

Além disso, discutíamos no jantar o meu tópico principal: o nome do lançamento. Julian rejeitava a ideia de algo burocrático como “telegramas das embaixadas”.

Também não cabia – e nisso todos concordávamos – nada como “despachos do império”, que cheirasse a slogan de esquerda. Uma manhã mal dormida, Julian apareceu na sala radiante. “Achei um nome: Cablegate”. A maioria não gostou.

Mas ninguém achou nada melhor.

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Dias depois a notícia do próximo vazamento do WikiLeaks se espalhou na imprensa, embora ninguém soubesse o que íamos publicar. O New York Times procurara o governo americano, e nos dias seguintes Hillary Clinton passou a ligar para governos do mundo todo, pedindo desculpas por antecipação. O Departamento de Estado nos chamava de irresponsáveis: “o material colocará vidas em risco”, anunciou o porta-voz. De nada adiantou a carta, enviada por um emissário em Londres, pedindo que Washington indicasse quais nomes deveriam ser retirados. Não houve resposta.

A internet trazia notícias em quase todas as línguas sobre o que estávamos fazendo ali, naquela sala fria. Julian e Hale já não falavam com ninguém: tudo era terminar os detalhes. Elaboraram um engenhoso esquema que obrigava cada veículo a efetivamente ler os documentos antes de publicá-los. Garantiam, assim, que todos os nomes sensíveis seriam retirados, sob responsabilidade concorrente de todos os parceiros.

Ela passava horas conversando com os programadores geeks, rapazes da minha idade, ingleses, franceses. Dava gritinhos de alegria: “eu te amo, você é fabuloso, você é uma lenda”.

No sábado, 27, o casamento do Gavin transcorreu sem maiores percalços. Dois jornalistas do grupo foram até Londres; o padrinho, embora ausente, foi assunto principal e ganhou um brinde dos noivos, com direito a longo discurso do entusiasmado jornalista setentão. A noiva, uma alegre senhora americana, não se importou.

Quanto a nós, em Ellinghan Hall, tínhamos que conter a tensão dos cinco jornais, que começavam a desconfiar um do outro. Quem levaria o “furo do século” ? Será que dava para confiar que segurariam suas reportagens para publicarem todos juntos?

Segurar o embargo para a publicação – domingo, às 21 horas, já parecia impossível. Hale, Julian e Kristinn falavam no chat com um, dois, três jornais ao mesmo tempo. Ninguém deveria furar, e todos torcíamos ferozmente para isso, porque, afinal, o site do WikiLeaks estava longe de ficar pronto.

Mas, no sábado à tarde, o Der Spiegel furou. Publicou, por alguns minutos, uma reportagem que mostrava em detalhes no que consistia o vazamento: 251,287 documentos das embaixadas dos EUA no mundo todo: 15, 652 secretos, 101,748 confidenciais. A redação alegou “erro” e retirou a matéria do ar pouco depois, mas a historia já havia sido reproduzida, pra desespero dos demais jornais.

Para nós, a verdade é que a tensão era boa. Pouco importava quem furaria quem – essa é uma lógica própria das empresas jornalísticas. Para o WikiLeaks, o que importa é espalhar. Que os documentos sejam mais lidos, mais visitados, mais reproduzidos, mais discutidos, que alimentem jornais, TVs, revistas, acadêmicos, ativistas, políticos, cidadãos, sejam de direita, esquerda, de centro, de onde for.

Assim que, quando finalmente liguei para o Fernando na manhã do dia 28, ele mal escondeu a decepção: “Mas é só isso? Não tem nada mais forte?”.

Eu abriria a série com uma matéria sobre operações de contra terrorismo no Brasil, dentro da estratégia de priorizar temas internacionais. A Folha receberia esta matéria, e trechos de telegramas.

Para o jornal, a história – que já havia ventilado pela imprensa – não era um “furo”. Fui firme. “É isso por hoje”. A Folha concordou.

E assim as histórias que eu havia colhido nas noites diante da lareira foram criando vida, repercutindo, pautando a mídia nacional: jornais, rádio, TVs. Enquanto comentaristas apostavam o que mais haveria no balaio do WikiLeaks, era só eu, jornalista independente – sem veículo, sem patrão – quem tinha a resposta.

Sinal do tempo em que vivemos, definitivo e sem volta.

Às 6 horas do domingo, três horas antes do previsto, não deu mais pra segurar. Hale digitava furiosamente no seu laptop: “O Guardian vai furar”, “O El País quer publicar”. Finalmente o El País soltou a notícia, seguida pelos demais como uma verdadeira enxurrada. Enfim: o maior vazamento da história do jornalismo.

Na cozinha, Pramvera acompanhava pelo twitter a frenesi mundial. As linhas subiam histericamente, centenas de entradas por segundo, “impossível de ler”, gritava ela.

Eu olhava para o campo lá fora: já não tinha a menor idéia do que seria da minha vida. Em algumas horas, meu nome estaria no site do WikiLeaks, duas palavrinhas que iam mudar tudo.

Já comia a madrugada quando conseguimos estourar a gigantesca champagne, dessas de cinco litros. Brindamos alto: “Ao WikiLeaks!”.

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Depois do lançamento fiquei apenas três dias na mansão.

Os documentos, claro, trouxe comigo para o Brasil. Improvisei, com apoio da diligente Maria Luisa: enfiei o pendrive dentro de uma meia usada, na mochila de roupas sujas. A despedida foi rápida e intensa. “Vamos ficar com saudade”, disse Hale.

Parti, de trem, agarrada à mochila. Foram horas longas, contornadas pela neve que me seguiu até a capital. Em Londres, causou um caos enorme: os trens não saíam das estações, os ônibus fugiam da rota usual. Consegui um ônibus até o bairro periférico onde passaria a noite, mas ele me deixou a meia hora do meu destino final. Fui andando, arrastando a mala sobre os bocados de gelo que se formavam na calçada. A rua estava deserta. Então voltou a nevar, e o caminho me pareceu infinito. E belo.
* Alguns nomes foram trocados a pedido dos personagens.