O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Republica Mafiosa do Brasil?

Retire-se o ponto de interrogação...

‘A cara do Brasil’, de J.R. Guzzo

J.R. Guzzo
Revista Veja, 15/02/2012
A cena, registrada com fotos na semana passada em Brasília, poderia servir como um belo documento sobre os usos e costumes da vida política brasileira neste começo de século. Na área central do retrato, a presidente da República, Dilma Rousseff, afaga com a mão direita o rosto do ministro das Cidades, Mário Negromonte, no exato momento em que ele estava virando ex-ministro das Cidades. Um sorriso de beato ilumina o seu semblante ─ como se ele estivesse tomando posse no cargo, em vez de estar sendo demitido. O novo titular, deputado Aguinaldo Ribeiro, também em estado de graça, aguarda a sua vez de receber a bênção presidencial. Entre os grão-duques da política nordestina presentes à cerimônia, na qualidade de donos hereditários do atual Ministério das Cidades ─ Negromonte é da Bahia, Ribeiro vem da Paraíba, e ambos são do mesmo partido, o PP ─, dá para ver o senador José Sarney, vice-rei do Nordeste e do governo em geral, deslizando quietamente no cenário.
Deveria ser um momento de drama. Afinal, mais um ministro de estado, o sétimo em seguida deste governo, acabava de ser posto na rua por atolar-se em indícios de má conduta, e alguém com ficha limpíssima estaria vindo para consertar o desastre. Mas o que se podia ver, nesta fotografia do Brasil-2012, era uma comemoração. Em alegre harmonia, a presidente e seus parceiros pareciam estar dando o seguinte recado: “Atenção, respeitável público: garantimos que por aqui continua tudo igual”. Continua igual, em primeiro lugar, o que já se pode chamar de “sistema brasileiro” de mexer no ministério. Quando um ministro atinge uma cota crítica de “malfeitos” em sua área e precisa ser demitido, porque se tornou impossível, inútil ou simplesmente cansativo segurá-lo no emprego, é obrigatório nomear para seu lugar alguém que seja uma fotocópia dele ─ mesmo partido, mesma região, mesmo estilo e mesma folha corrida. Há uma salva de palmas para o ministro que sai, outra para o que entra e todo mundo fica aliviado, porque não há perigo de mudar nada. Continua igual, acima de tudo, a privatização do estado brasileiro, com áreas inteiras da máquina pública transformadas em propriedade particular de partidos e de políticos que apoiam o governo, mais suas famílias, amigos e redondezas. É a cara do Brasil de hoje.
O ex-ministro Negromonte, como os companheiros de infortúnio que o antecederam, viveu nas últimas semanas um processo de torrefação acelerada, por conta de suspeitas cada vez mais feias e cada vez menos explicadas; também como os outros, começou “blindado” e acabou virando farinha de rosca. Para seu lugar, privatizado pelo governo em favor do PP, foi nomeado praticamente um sósia. O homem já vem carimbado na frente e no verso. Está envolvido no tráfego de dinheiro público, por via de “emendas parlamentares”, em favor da mãe, prefeita de uma cidade da Paraíba, e da irmã, deputada estadual e possível candidata à prefeitura de outra. Não declarou à Justiça eleitoral nas últimas eleições, como era obrigado a fazer, a propriedade de quatro empresas. Tem duas emissoras de rádio, sempre na Paraíba, registradas em nome de pessoas ligadas a ele ─ um assessor e um ex-contador. Emprega em seu gabinete de deputado um primo que não bate ponto em Brasília; ele mora na Paraíba, onde, aliás, é dono de uma construtora. (O novo ministro acha que não há nada de mais nisso: segundo explicou, primo é parente “de quarto grau”.)

Num país com 190 milhões de habitantes, a presidente Dilma Rousseff não encontrou ninguém melhor que esse deputado Aguinaldo para o seu Ministério das Cidades; no Brasil de hoje, ao que parece, uma ficha como a sua é recomendação, e não problema, para nomear um ministro de estado. É triste, mas o que se há de fazer? O cargo pertence ao PP, e foi ele que o PP escolheu. Pior ainda é a história da Casa da Moeda, a mais recente na coleção de verão do governo; não deu nem para fingir, aí, que existe algum tipo de autoridade pública na repartição que fabrica todo o dinheiro do país. Seu presidente, Luiz Felipe Denucci, foi subitamente para o espaço, ao se descobrir a movimentação de 25 milhões de dólares em contas de empresas que ele mantinha em paraísos fiscais. O que esse cidadão estava fazendo lá? Ninguém sabe. O cargo é do PTB; o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que nunca tinha falado com ele, nem sequer visto sua cara, antes de assinar sua nomeação para presidir a Casa da Moeda ─ um caso único no mundo, sem dúvida.
Estamos, de fato, em plena privatização.

A mafia no diva - Arnaldo Jabor

Não, não se trata de um remake do filme de Hollywod, com Robert de Niro no papel de um mafioso com problemas psicológicos (um pouco mais abaixo, na verdade).
Ou talvez seja, adaptado ao cenário nacional, em que mafiosos tem carreira solo, especializando-se em roubar o próprio Estado, o que é mais raro nos EUA.
Raramente aprecio as crônicas de Arnaldo Jabor, que tem um grande dom de repetição. Mas esta é uma das melhores...
Paulo Roberto de Almeida

‘Angústias de um colarinho-branco’

Arnaldo Jabor
O Estado de S.Paulo, 14/02/2012
“Doutora, eu procurei a psicanálise porque ando com um estranho sintoma: estou com o que vocês chamam de ‘sentimento de culpa’… Tive essa ideia quando vi aquele seriado na TV, Os Sopranos, com o chefão da Máfia de New Jersey chorando para uma psicanalista de lindas pernas. Como a senhora…
Tenho tido pesadelos: sonho que morri assassinado por mim mesmo, que estou preso com traficantes estupradores. Não mereço isso, eu, que sempre assumi minha condição de corrupto ativo e passivo… (sem veadagem… claro).
Não sou um ladrão de galinhas, mas já roubei galinhas do vizinho e até hoje sinto o cheiro das penosas que eu agarrava. Há há há… Mas hoje em dia, doutora, não roubo mais por necessidade; é prazer mesmo. Estou muito bem de vida, tenho sete fazendas reais e sete imaginárias, mando em cidades do Nordeste, tenho tudo, mas confesso que sou viciado na adrenalina que me arde no sangue na hora em que a mala preta voa em minha direção, cheia de dólares, vibro quando vejo os olhos covardes do empresário me pagando a propina, suas mãos trêmulas me passando o tutu, delicio-me quando o juiz me dá ganho de causa, ostentando honestidade e finge não perceber minha piscadela marota na hora da liminar comprada (está entre 30 a 50 mil dólares, hoje), babo ao ver juízes sabujos diante de meu poder de parlamentar e fazendeiro rico.
Como, doutora? Se me sinto superior assim? Bem, é verdade… Adoro a sensação de me sentir acima dos otários que me ‘compram’, eles se humilhando em vez de mim. Roubar me liberta. Eu explico: roubar me tira do mundo dos ‘obedientes’ e me provoca quase um orgasmo quando embolso uma bolada. Desculpe… a senhora é mulher fina, coisa e tal, mas, adoro sentir o espanto de uma prostituta, quando eu lhe arrojo mil dólares sobre o corpo e vejo sua gratidão acesa, fazendo-a caprichar em carícias mais perversas.
É uma delícia, doutora, rolar, nu, em cima de notas de cem dólares na cama, de madrugada, sozinho, comendo chocolatinhos do frigobar de um hotel vagabundo, em uma cidade onde descolei a propina de um canal de esgoto superfaturado. Gosto da doce volúpia de ostentar seriedade em salões de caretas que te xingam pelas costas, mas que te invejam pela liberdade cínica que te habita. Suas mulheres me olham excitadas, pensando nos brilhantes que poderiam ganhar de mim, viril e sorridente ─ todo bom ladrão é simpático. A senhora não tem ideia, aí, sentada nessa poltrona do Freud, do orgulho que sinto, até quando roubo verbas de remédios para criancinhas, ao conseguir dominar a vergonha e transformá-la na bela frieza que constrói o grande homem. E, agora, este sentimentozinho de ‘culpa’ tão chato…
Sei muito bem os gestos rituais da malandragem brasileira: sei fazer imposturas, perfídias, tretas, sei usar falsas virtudes, ostentar dignidade em CPIs, dou beijos de Judas, levo desaforo para casa sim, sei dar abraços de tamanduá e chorar lágrimas de crocodilo… Sou ótimo ator e especialista em amnésias políticas. Eu já declarei de testa alta na Câmara: ‘Não sei nem imagino como esses milhões de dólares apareceram em minha conta na Suíça, apesar destes extratos todos, pois não tenho nem nunca tive conta no exterior!’ Esse grau de mentira é tão íntegro que deixa de ser mentira e vira uma arte.
Doutora, no Brasil há dois tipos de ladrões de colarinho-branco: há o ladrão ‘extensivo’ e o ‘intensivo’.
Não tolero os ladrões intensivos, os intempestivos sem classe… Faltam-lhes elegância e finesse. Roubam por rancor, roubam o que lhes aparece na frente, se acham no direito de se vingar de passadas humilhações, dores de corno, porradas na cara não revidadas, suspiros de mãe lavadeira.
Eu, não. Eu sou cordial, um cavalheiro; tenho paciência e sabedoria, comecei pouco a pouco, como as galinhas que roubei na infância, que de grão em grão enchiam o papo… Eu sou aquele que vai roubando ao longo da vida política e, ao fim de décadas, já tem Renoirs na parede, iates, helicópteros, esposas infelizes (não sei por que, se dou tudo a ela), filhos estroinas e malucos… (mandei estudar na Suíça e não adiantou).
Eu adquiri uma respeitabilidade altaneira que confunde meus inimigos, que ficam na dúvida se me detestam ou admiram. No fundo, eu me acho mesmo especial; não sou comum.
Perto de mim, homens como PC foram meros cleptomaníacos… Sou profissional e didático… Considero-me um Gilberto Freyre da corrupção nacional…
Olhe para mim, doutora. Eu estou no lugar da verdade. Este País foi feito assim, na vala entre o público e o privado. Há uma grandeza insuspeitada na apropriação indébita, florescem ricos cogumelos na lama das maracutaias. A bosta não produz flores magníficas? O que vocês chamam de ‘roubalheira’, eu chamo de ‘progresso’. Não o frio progresso anglo-saxônico, mas o doce e lento progresso português que formou nossa tolerância, nossa ambivalência entre o público e o privado.
Eu sempre fui muito feliz… Sempre adorei os jantares nordestinos, cheios de moquecas e sarapatéis, sempre amei as cotoveladas cúmplices quando se liberam verbas, os cálidos abraços de famílias de máfias rurais… A senhora me pergunta por que eu lhe procurei?
Tudo bem; vou contar.
Outro dia, fui assistir a uma execução. Mataram um neguinho no terreno baldio. Ele implorava quando lhe passaram o fio de náilon no pescoço e apertaram até ele cair, bem embaixo de uma placa de financiamento público. Na hora, até me excitei; mas quando cheguei em casa, com meus filhos vendo High School Musical na TV, fui tomado por este mal-estar que vocês chamam de ‘sentimento de culpa’…
Por isso, doutora, preciso que a senhora me cure logo… Tem muita verba pública aí, muita emenda no orçamento, empreiteiros me ligando sem parar… Tenho de continuar minha missão, doutora…”

O Barao, visto por Rubens Ricupero (RHBN)


O desenhista do Brasil

Ao negociar com os vizinhos cada palmo das fronteiras, o barão do Rio Branco criou uma cultura de paz impensável no mundo atual

Rubens Ricupero
Revista de História da Biblioteca Nacional, 1/2/2012 
  • O jornal A Noite resumiu o sentimento geral ao abrir a manchete “A morte de Rio Branco é uma catástrofe nacional” em 10 de fevereiro de 1912. Às 9h10 da manhã, expirara em seu gabinete de trabalho aquele que era considerado “o maior de todos os brasileiros”. O destino do barão foi paradoxal. Monarquista convicto, teve papel fundamental na legitimação da República de 1889, que começara sob os piores auspícios: a inflação do Encilhamento, a ditadura militar de Floriano, a tragédia sanguinária de Canudos, a repressão à Revolta da Armada e a Rebelião Federalista no Sul. Foram os êxitos diplomáticos de Rio Branco, ainda antes de se tornar ministro, nas definições de limites com a Argentina e a França-Guiana Francesa, que forneceram ao governo republicano os primeiros sucessos de que precisava desesperadamente.  
    Algo parecido ocorreu com sua projeção pessoal. Viveu semiesquecido em postos obscuros na Europa por 26 anos. Só a partir dos 50 anos (morreria com 66) alcançaria o reconhecimento tardio. Desde esse momento, no entanto, acumulou tantas vitórias, em especial como ministro das Relações Exteriores durante quase dez anos (1902-1912) sob quatro presidentes, que ofuscou todos os demais. Nenhum outro diplomata de carreira, em qualquer país, atingiu como ele o status de herói nacional de primeira grandeza, culminando com a reprodução da sua efígie no padrão monetário. Entre 1978 e 1989, a nota de 1.000 cruzeiros, a de maior valor, era chamada pelo povo de “barão”.
    O futuro barão nasceu em 20 de abril de 1845 como José Maria da Silva Paranhos Júnior na velha Travessa do Senado, atual Rua 20 de abril, no Centro da cidade, num sobrado que se pode ver ainda hoje no Rio de Janeiro. Fez seus estudos no Liceu D. Pedro II e na Faculdade de Direito de São Paulo, transferindo-se no último ano para Recife, onde se formou. No começo, hesitou sobre o caminho a seguir: foi professor, promotor público e deputado por Mato Grosso em duas legislaturas.
    (...)
    Ler o restante na Revista de História da Biblioteca Nacional

Barao: os dois carnavais de 1912


Folia em dose dupla
A morte do Barão do Rio Branco, há exatos 100 anos, deixou a população consternada - mas também eufórica com dois carnavais: um em fevereiro e outro em abril
Alexandre Leitão e Alice Melo
Revista de História da BN, 17/2/2012
·       Com a morte do Barão / Tivemos dois carnavá / Ai que bom, ai que gostoso! / Se morresse o marechá. A marchinha, cantada por foliões em pleno Sábado de Aleluia, sintetizava a estranha situação vivida na cidade do Rio de Janeiro em 1912: um carnaval em dose dupla. O motivo era simples – e trágico: dois meses antes, mais precisamente no dia 10 de fevereiro, o Barão do Rio Branco morreu na então capital da República, provocando a consternação da população local, que imediatamente fechou as portas do comércio e paralisou suas atividades para acompanhar os ritos fúnebres do herói nacional [saiba mais sobre o patrono da diplomacia brasileira na edição deste mês da RHBN, em artigo escrito por Rubens Ricupero].
O presidente Hermes da Fonseca, pouco querido pelo povo, decretou luto oficial na cidade, adiando o carnaval daquele ano – que seria na semana seguinte à fatalidade – para o dia 6 de abril. Mas o decreto do “marechá” não deu muito certo: mesmo respirando o ar da tragédia a população foi às ruas curtir a folia na data normal. E, também, dois meses depois.
“Até a época de Vargas, o carnaval não tinha muita participação do governo. Então, quando o presidente Hermes da Fonseca cancelou o carnaval de fevereiro, não fez muita diferença e a festa aconteceu assim mesmo”, conta Luigi Bonafé, historiador do IBGE e professor do curso Atlas, especializado em preparar futuros diplomatas. “Naquela época, o carnaval de rua era financiado por organizações que lucravam com cassinos e jogos de azar”, completa. Ou seja, não havia muito como impedir a soberana vontade do povo de cair na folia.
O salvador da pátria
José Maria da Silva Paranhos Júnior era muito popular. Conhecido pelo título de barão do Rio Branco, “Juca” era avaliado pela imprensa, pela elite política e por grande parte da população brasileira como o mais alto defensor da paz. Era, ainda, o ministro mais respeitado de todos os governos republicanos desde 1902, data em que recebeu a nomeação para o Ministério das Relações Exteriores. Responsável pelo traçado moderno da fronteira brasileira, ele conseguira com o Tratado de Petrópolis (1903) negociar a obtenção do Acre pelo Brasil, isso em pleno ciclo da borracha.
Anos antes, resolvera a questão de Palmas com a Argentina, assegurando a fronteira de Santa Catarina e do Paraná, eliminando assim um dos mais intensos focos de tensão entre os dois países, que viviam numa atmosfera de quase-guerra. Ganhara da França, por meio de arbitragem internacional, a posse do Amapá e solidificava cada vez mais sua imagem de patriota e grande negociador. Tanto que seu nome fora aventado para concorrer em 1910, tendo ele próprio recusado a oferta.
Por tudo isso, sua morte causou uma comoção generalizada. O funeral do Barão do Rio Branco foi um dos prestigiados da Primeira República (com direito a marchinha fúnebre), e seu nome batizou a Avenida Central do Rio de Janeiro e também a capital do Acre.
O Brasil daquela época
 É problemático afirmar que Hermes da Fonseca era um presidente-eleito popular. Apesar dessa imagem ser propagada até hoje, a eleição de 1910 será para sempre marcada como uma das mais polarizadas da História do Brasil. Rui Barbosa, a Águia de Haia, considerado então um dos bastiões da República, lançou-se à candidatura presidencial liderando uma campanha que, pela primeira vez, visaria o voto das classes médias e dos setores urbanos em geral. Logo, foi considerado uma ameaça, o que fez várias oligarquias estaduais apoiarem a candidatura militar de Hermes da Fonseca, marechal e sobrinho de nosso primeiro presidente.
Imediatamente após sua posse, resultado de um pleito que, como todos os demais da Primeira República, fora marcado por fraudes, Hermes teve de encarar a eclosão da Revolta da Chibata. Traindo a palavra dada aos marinheiros amotinados, de que estes receberiam a anistia, o presidente começa a expulsar um a um os marujos que se rebelaram contra a utilização de maus-tratos na corporação. Pouco depois seria declarado o estado de sítio em todo o território nacional, ocorrendo as “salvações”, a derrubada sistemática dos governos estaduais do Norte e do Nordeste, acompanhada pela imposição de interventores responsáveis por perseguir toda oposição a seu mando. No âmbito dos escândalos políticos, ressaltavam-se os atrasos das obras de construção da estrada de Ferro Madeira-Mamoré, iniciadas no distante ano de 1907, e ainda inconclusas em fevereiro de 1912.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Autobiografia (ainda nao terminada) de Bachar Al-Assad - Tahar Ben Jelloun


Bachar Al-Assad, intime

LEMONDE | 18.02.12 | 14h41   •  Mis à jour le 18.02.12 | 16h21
Le président syrien Bachar Al-Assad, en mars 2009.
Le président syrien Bachar Al-Assad, en mars 2009.REUTERS/KHALED AL-HARIRI

C'est par effraction que je suis entré dans la tête du président syrien. C'est une forteresse inaccessible. Avant d'arriver à s'en approcher, il faut passer pas moins de sept barrages. Haute sécurité. Peur et méfiance. Comme son père, Hafez, il se tient à distance. On raconte qu'un jour Hafez Al-Assad a fait fusiller les sept soldats qui devaient filtrer le passage des personnes qui avaient rendez-vous avec lui. Hafez aimait jouer aux échecs avec un ami d'enfance. Chaque après-midi, l'ami se présentait et se faisait fouiller sept fois avant d'arriver à la salle de jeu. Un jour, à force de le voir, les soldats le laissèrent passer sans faire leur travail.

Lorsque Hafez le sut, ordre fut donné d'exécuter les malheureux gardes qui avaient manqué à leur devoir. Le petit Bachar connaît cet épisode, un parmi tant d'autres, aussi sanglants les uns que les autres. Lui aussi est injoignable. Il y a de quoi. Quand on tue, on risque d'être tué. Alors on prend les précautions nécessaires et même plus.
Sa tête n'est pas très grande. Elle est occupée par du foin, des épingles et des lames de rasoir. Je ne sais pas pourquoi. Son cerveau est calme. Pas de stress, pas de nervosité. Je ne sais pas d'où il tient cette tranquillité. Question d'hérédité, ou bien a-t-il suivi des cours du soir pour apprendre à tuer sans que cela le dérange, sans qu'il soit le moins du monde inquiété par le malheur qu'il sème. Je me suis fait tout petit et j'ai tendu l'oreille. Car le petit pense et n'hésite pas à avoirdes idées audacieuses :
J'ai tout appris de feu mon père, un grand homme d'Etat, un homme sensible, cultivé et grand stratège. Je me souviens qu'Henry Kissinger l'appréciait beaucoup. Il m'avait dit que lui aussi aimait bien le secrétaire d'Etat américain dont il admirait l'intelligence et le réalisme politique. Ils s'entendaient bien tous les deux. Mon père me rappelait comment cet homme a fait éliminer physiquement Salvador Allende et l'a remplacé par Pinochet.
Ces derniers temps, j'entre en communication avec mon père. Il est génial. C'est lui qui me dicte ce que je dois faire. Il m'encourage et m'indique des pistes à suivre. Il m'a dit dernièrement, au cas où les choses viendraient à empirer, de retourner au Liban, car ni lui ni moi n'avions admis la manière dont notre armée a été expulsée de ce pays en 2005. Même la mort d'Hariri et de quelques autres ingrats n'a pueffacer la honte que ces Libanais nous ont infligée.
Pour le moment, ça va. Je tiens. Pas de panique. D'abord, je ne suis ni Saddam ni Kadhafi. Vous ne me verrez pas ridiculisé par des agents américains en train dechercher des poux dans ma tête ou bien égorgé par des fanatiques. Ces deux-là se sont fait avoir parce que leur niveau d'intelligence n'était pas des meilleurs. Je suis de la famille Al-Assad, une famille et un clan unis et solidaires. Une grande famille, forte et puissante, qui a des traditions. Je ne fais pas n'importe quoi. Je résiste contre un complot international. J'ai des preuves. Aucune envie de voir mon pays devenir une république islamique dirigée par des analphabètes ou bien un bastion de cette gauche stupide juste bonne à parader dans les salons européens.
Mon père m'a appris que, en politique, il faut avoir un coeur de bronze. Le mien, je l'ai habitué à ce qu'il ne se brise jamais. Pas de sentiments, pas de faiblesse. Car je joue ma tête et la vie de toute ma famille. Les voyous qui mettent la Syrie à feu et à sang n'ont que ce qu'ils méritent. On parle de "printemps arabe" ! C'est quoi cette histoire ? Où voit-on un printemps ? Ce n'est pas parce que des agitateurs inconscients occupent des places publiques que les saisons ont changé de rythme et de sens. Chez moi, ce qu'ils appellent "le printemps" ne passera pas.
J'ai donné l'ordre de suspendre cette saison jusqu'à la victoire. Pourquoi le printemps serait synonyme de ma disparition ? Non seulement je ne vais pasmourir, mais je tuerai tout le monde avant. Il est dit dans l'islam que s'il faut sacrifierles deux tiers d'un peuple pour n'en garder qu'un tiers bon, il ne faut pas hésiter. J'applique cette loi vieille comme les Arabes. Je rappelle que la Syrie est un pays laïque, comme la France qui, tout à coup me trahit et me fait la morale. Et le pauvre Obama qui me condamne et parle d'atrocités ! De quoi se mêle-t-il ? Il n'a pas vu ce que son armée a fait en Irak et en Afghanistan ?
Que me reproche-t-on ? De donner l'ordre à l'armée de tirer sur les manifestants ? Si je ne fais pas ça, je perds ma place, je ne me ferai plus respecter. Regardez comment mon ami Moubarak s'est retrouvé du jour au lendemain éjecté de son palais. Il a manqué de détermination et de volonté. L'armée l'a trahi. Le pauvre, quelle déchéance, malade, déprimé, on le traîne sur une civière pour être jugé ! Les peuples sont ingrats. Ils oublient vite ce que les présidents font pour eux. Mon armée est composée en majorité d'hommes fidèles. Ceux qui ont déserté l'ont payé très cher. Je n'ai pas d'états d'âme. Je me défends, je dirai même, c'est de la légitime défense.
J'ai pris la précaution de mettre à l'abri Asma, ma femme, et mes trois enfants, Hafez, Zeyn et Karim. C'est normal, je réagis en bon mari et en bon père de famille. Je vois comment des pères irresponsables poussent leurs enfants à manifestertout en sachant pertinemment qu'ils peuvent tomber sous des balles perdues. On m'a dit que des enfants sont morts. Je n'arrive pas à le croire, et je rends leurs parents responsables de ce malheur, car il n'y a pas pire malheur que de perdre un de ses enfants ; je me souviens de la douleur de mon père le jour où mon frère aîné, Bassel, est mort dans un accident de voiture. Il a pleuré. Oui, j'ai vu mon pèrepleurer face à l'injustice du destin qui lui a ravi son fils bien-aimé.
Mon père, cet homme exceptionnel qui a fait de la Syrie un grand pays et qui a rendu la vie dure au voisin israélien, ce président a pleuré parce qu'il ne pouvait même pas se venger. Bassel mort, tué par la route. Il n'allait tout de même pasbombarder la route qui fut fatale au fils qu'il préparait pour lui succéder. Il n'a pas supporté d'être contrarié. Moi non plus. Je ne supporterai jamais d'être critiqué ou combattu.
Les Nations unies ont essayé de me salir et me demandent de me retirer. C'est de l'ingérence dans les affaires strictement internes de la Syrie. Que cette assemblée de fantoches me laisse en paix. Partir ? Pour aller où ? Elles me prennent pour unBen Ali ? Je ne vais tout de même pas monter dans un avion et mendier l'asile politique dans le monde !
Heureusement que la Russie de mon ami Poutine et la Chine ont opposé leur veto. Mon ami Ahmadinejad aussi est avec moi ; il m'appelle souvent et me dit de ne pascéder. Il y a quand même une justice. Les insurgés sont des terroristes, des agents payés par l'Europe et même par certains pays arabes qui ont des comptes à régleravec moi. Vous n'avez qu'à suivre les émissions d'Al-Jazira pour comprendre que le complot existe.
On me parle de tortures ! C'est tout à fait normal de torturer pour éviter des massacres, pour que des innocents ne tombent pas sous les balles des mauvais Syriens.
Je tiens le pays ; je tiens tête à ceux qui veulent instaurer un autre régime ; on devrait me remercier et m'aider à protéger la Syrie du danger islamiste. Je sais ce que les islamistes feront avec ma tribu des alaouites ainsi qu'avec les minorités chrétienne et arménienne. Le Vatican devrait venir à mon secours au lieu de mecondamner. Heureusement ce ne sont que des mots. Autre chose que ce que font actuellement les Européens en gelant mes avoirs chez eux et en essayant d'asphyxier le peuple en empêchant les échanges commerciaux. C'est mesquin et malhonnête. On m'en veut parce que la Syrie a toujours tenu tête à l'ennemi sioniste. Elle ne s'est jamais courbée face à Israël.
Mon père m'a dit au lendemain du massacre d'Hama, j'avais 17 ans : tu vois, mon fils, si je n'avais pas réagi avec cette fermeté, ce soir, nous ne serions plus là. Il a eu raison. Moi aussi, si je ne bombarde pas Homs, je sais où je dormirai ce soir : à la morgue ! Alors, il faut arrêter de dire n'importe quoi. 20 000 morts à Hama (à l'époque, personne n'avait réagi) ; à peine 8 000 entre Draa, Homs, Damas et Hama. Et tout ce tintamarre !
Vous savez pourquoi Asma, ma chère femme, m'a épousé ? Pour les valeurs que j'incarne. Elle l'a déclaré dans Paris Match du 10 décembre 2010. Ces valeurs se lisent sur mon visage. J'en suis fier.
Vous savez pourquoi j'ai fait ophtalmologie ? Parce que je suis allergique à la vue du sang.
En quittant cette tête, je me suis pris les pieds dans des fils électriques. Bachar est branché sur la centrale de la torture. C'est lui qui, pour passer le temps, appuie sur la pédale qui envoie des décharges dans les parties génitales des suppliciés. Il paraît que ça l'amuse et renforce sa détermination à débarrasser la Syrie des deux tiers jugés mauvais.
Ecrivain et poète francophone né à Fès (Maroc) en 1944, a enseigné la philosophie et étudié la psychiatrie sociale avant de devenir romancier. Il est membre de l'académie Goncourt depuis 2008. Il a reçu le prix Goncourt pour "La Nuit sacrée" (Points Seuil, 1987). Auteur de nombreux ouvrages, ses derniers livres parus sont : "L'Etincelle : révoltes dans les pays arabes", "Par le feu", "Que la blessure se ferme" (Gallimard)
Tahar Ben Jelloun