O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 10 de março de 2019

Itamaraty de volta à Lei da Mordaça? - Thais Bilenky (FSP)


Tenho diversas, na verdade muitas, divergências com o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães em várias áreas de interesse comum: política externa, relações econômicas internacionais do Brasil, diplomacia regional, etc. 
Mas temos uma característica comum: ambos defendemos ideias nas quais acreditamos, e não hesitamos em afrontar superiores na defesa do nosso direito de expressar essas ideias. Samuel é um corajoso, e sofreu vários percalços no Itamaraty – como eu aliás – por defender essas ideias, até o ponto de ser defenestrado do posto que ocupava como diretor do IPRI, o que acaba de ocorrer comigo.
Fizeram uma "Lei da Mordaça" especialmente para ele, o que é de uma vergonha sem par, uma vez que acresce ao que já está na Lei do Serviço Exterior introduzindo um regime de censura prévia e de controle absoluto sobre o que possam falar os diplomatas. Ou seja, tratava-se de um instrumento intimidatório. Não adiantou: Samuel continuou falando o que queria sobre a Alca, o Nafta, o Mercosul "neoliberal".
Foi defenestrado no início de 2001, e eu me solidarizei com ele. Quando eu fui, meses mais tarde, punido pela mesma Lei da Mordaça, por causa de uma entrevista às Páginas Amarelas de Veja, foi ele a telefonar-me para emprestar-me a mesma solidariedade que eu havia demonstrado no começo do ano.
Isso não o impediu – et pour cause – de me vetar o cargo de diretor do mestrado do Instituto Rio Branco no início de 2003, quando ele já se tinha tornado o todo poderoso SG do Itamaraty.
Agora foi ele quem novamente me telefonou para demonstrar sua solidariedade para comigo.
Somos dois defenestrados por motivos similares: enfrentar a cúpula do Itamaraty, uma espécie de Vaticano, com seus cardeais, seus ritos, seus dogmas, uma rígida hierarquia, impondo disciplina aos servos de gleba, que somos todos os demais...
A história tem muitas voltas Eu e Samuel vamos tomar cerveja para falar sobre tudo isso. Não nos moveremos um milímetro de nossas crenças e posturas políticas e econômicas, mas certos valores e princípios são comuns.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10 de março de 2019

Araújo retoma e reforça censura imposta por seu sogro no Itamaraty
Demissão de embaixador reacende chama de perseguição da época da Lei da Mordaça, sob FHC
Thais Bilenky
FSP, 10.mar.2019 às 2h00

A demissão de um embaixador durante o Carnaval reacendeu no Itamaraty a chama da perseguição política que afligiu diplomatas em diversos momentos da história —um em particular. 
Em 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o Ministério de Relações Exteriores baixou uma circular conhecida como Lei da Mordaça, que impunha a necessidade de aprovação prévia de qualquer manifestação pública dos diplomatas.
Foi designado como censor o então secretário-geral, Luiz Felipe de Seixas Corrêa, sogro do atual chanceler, Ernesto Araújo.
O mais conhecido alvo da circular foi o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, demitido do cargo que ocupava na época, o de diretor do Ipri (Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais).
A ruidosa demissão na segunda-feira de Carnaval, 4 de março, atingiu outro embaixador, Paulo Roberto de Almeida, que exercia a mesma função no Ipri. E envolveu, mais uma vez, ainda que de forma indireta, Seixas Corrêa.
O sogro do chanceler daria uma palestra no instituto —um braço acadêmico do Itamaraty— na sexta-feira (8). 
Segundo apurou a Folha, para escapar da saia justa, Seixas Corrêa desistiu ao saber da demissão do diretor, crítico da influência do polemista Olavo de Carvalho na política externa brasileira. 
“O sogro do Ernesto me puniu duas vezes pela chamada ‘Lei da Mordaça’”, afirmou Almeida em uma rede social.
“Depois da demissão do Samuel, quando ele me cumprimentou, em 2016, por ter assumido o Ipri, eu apenas respondi: ‘Grato, embaixador; só espero não ser defenestrado como um antecessor meu’. Ele sorriu e nada disse. Pois é, agora aconteceu, por uma dessas ironias do destino.”
Chanceler à época da Lei da Mordaça, Celso Lafer afirmou que os dois momentos são incomparáveis. Na sua gestão, a polêmica girava em torno da Alca (Área de Livre-Comércio das Américas), à qual a esquerda, de forma geral, e Pinheiro Guimarães, em particular, eram contrários. Lafer afirma que queria pluralismo nos debates no Ipri, daí a demissão.
“O que está ocorrendo agora é uma espécie de vocação inquisitorial, onde aparentemente o chanceler se unge da lembrança de [Tomás de] Torquemada, um grande inquisidor [do século 15]”, diz.
A gestão de Ernesto Araújo, na sua avaliação, se mostra “muito centralizadora e muito inquisitorial”. Desde que foi indicado chanceler pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), Araújo, cuja promoção a embaixador não tem um ano, gerou desconforto no corpo diplomático por medidas vistas como quebra de hierarquia.
Diplomatas gabaritados foram removidos ou postos de escanteio, e servidores menos graduados ocuparam postos de comando na atual gestão.
São citados os casos de Everton Vargas e Gisela Padovan, entre outros. O primeiro estava cotado para comandar as negociações ambientais do Itamaraty e não o foi. A segunda, meses depois de assumir a direção do Instituto Rio Branco, está de mudança para Madri para tocar o consulado.
Reservadamente, o grupo de Araújo diz que não assumiu compromisso com esses servidores, que as destinações foram decididas em comum acordo, que Almeida ofendeu o chanceler e que é natural o ministro se cercar de pessoas de sua confiança.
“Um governo que se elegeu com maioria pode evidentemente escolher pessoas que são mais afins”, disse o embaixador Rubens Ricupero, crítico de Araújo. “Mas dar à diplomacia uma cor unívoca vai eliminar muito a diversidade, que é desejável nessa área.”
Para Ricupero, que protagonizou um debate público nesta semana com Araújo, o chanceler “está revelando uma atitude de irritação e pouca tolerância à crítica”.
Procurado, o ministro não se manifestou.
“É um momento de muito mais constrangimento ideológico do que nunca”, afirmou Guilherme Casarões, pesquisador na Fundação Getúlio Vargas. “A identificação da crítica é tácita.”
Para irem para o jocosamente chamado departamento de escadas e corredores, diplomatas não precisaram verbalizar críticas a Araújo. Em alguns casos, a presunção de divergência bastou. Aconteceu antes mesmo da oficialização de Araújo como chanceler.
Hoje assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Filipe Martins, aluno de Olavo de Carvalho e próximo de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, fez campanha contra nomes aventados para liderar o Itamaraty durante a transição. 
O argumento era suposta submissão ao ideário do PSDB.
“Quem quer que esteja recomendando diplomatas vinculados a FHC para chefiar o MRE tem em mente interesses estranhos aos da nação e contrários aos do presidente eleito”, escreveu, em novembro.
Alguém perguntou se era o caso do embaixador José Alfredo Graça Lima, ligado ao PSDB, desafeto do PT e então cotado para o cargo. Martins assentiu. “Continuísmo explícito, visão exclusivamente comercialista, aversão às propostas do Jair”, justificou. 
Escaparam à análise daquele momento as afinidades políticas do sogro de quem viria a ser escolhido. Seixas Corrêa foi secretário-geral do Itamaraty, segundo posto mais alto da instituição, no governo Collor e no de FHC. Mantém laços com o círculo de diplomatas experimentados e afinidades com o tucanato. É elogiado pelo genro publicamente.
Ao tomar posse pela segunda vez, em 1999, discursou: “Acreditamos plenamente no projeto e teremos orgulho em contribuir para a sua consolidação e aprofundamento neste novo mandato que a sociedade brasileira outorgou pelas urnas ao presidente Fernando Henrique Cardoso”.

A crise entre olavistas e militares - Alon Feuerwerker

O que é a contradição entre ‘o olavismo’ e ‘os militares’, diz Alon Feuerwerker

Polarização inicial tende a ser interna
Poder precisa tirar elementos radicais
Olavo de Carvalho é um dos mentores de propostas do integrantes do governo Bolsonaro, como o chanceler Ernesto Araújo Reprodução/Youtube
10.mar.2019 (domingo) - 5h50

É erro político acreditar que alguém conseguirá tutelar um presidente da República recém-instalado e com a popularidade essencialmente preservada. Outro equívoco é imaginar que o presidente, por isso, pode fazer o que dá na telha. Ele decide, mas dentro de limites definidos, em última instância, pela correlação de forças no governo, nos demais poderes e na sociedade.
Costumam levar vantagem nas disputas internas do poder os núcleos mais organizados, disciplinados e dotados de clareza estratégica. E, sempre, mais conectados aos grupos de pressão social influentes. Outro detalhe: é comum a polarização em início de governo ser intestina ao próprio governo. Pois a oposição não carrega expectativa de poder.
O que acontece na administração Bolsonaro? Quadros provenientes das Forças Armadas estão, no popular, comendo pelas beiradas e ganhando espaço. “Os militares” vai propositalmente entre aspas no título desta análise. Não há no Planalto um “Partido Militar” atuando com comando centralizado e hierarquia, paralelamente ao presidente da República.
O bolsonarismo enxerga-se como uma revolução. E toda revolução costuma trazer duas tendências, que em certo momento entram em choque mortal: 1) a revolução precisa e quer expandir-se e 2) o novo poder, para consolidar-se e governar, precisa expurgar seus elementos mais “radicais”. E alguma hora precisa fazer a velha superestrutura trabalhar para o novo status quo.
A crise entre o “olavismo” e “os militares” é indicação de que a 2ª tendência vai aos poucos prevalecendo sobre a 1ª, e o processo nunca é linear ou indolor. Mas costuma ser irreversível. Num paralelo histórico que talvez desagrade ao bolsonarismo, este parece estar transitando da “revolução permanente” para o “bolsonarismo num só país”.
Não é casual que o choque mais visível e agudo apareça na política externa. O governo precisa decidir se a prioridade é 1) alinhar-se a –ou seguir a diretriz de– uma “internacional trumpista” ou 2) adotar para valer a linha de “o Brasil primeiro”. E isso vem sendo exposto na crise venezuelana. Como já vinha dando as caras em demais temas externos.
O desfecho ideal para o bolsonarismo na Venezuela seria uma “Revolução dos Cravos” de sinal trocado. A cúpula militar degolar o governo bolivariano sem derramamento de sangue, e promover rapidamente a transição pacífica para um regime constitucional alinhado ao “Ocidente”. Mas a coisa não parece estar tão à mão, ainda que cautela analítica em situações voláteis seja bom.
Mas, se tal saída não rolar, até onde o Brasil está disposto a ir na colaboração com o “regime change” em Caracas? A questão, de ordem prática, talvez seja o foco mais emblemático da tensão entre as duas tendências. Que algumas vezes é explicada como oposição entre alas “adulta” e “infantil”, ou “racional” e “irracional”. São descrições insuficientes.
Uns parecem acreditar que a sobrevivência do bolsonarismo depende centralmente de livrar a América do Sul de qualquer núcleo de poder relacionado aos partidos do Foro de São Paulo. Outros talvez achem que é melhor cuidar de consolidar o poder por aqui mesmo, a arriscar um conflito de consequências políticas, regionais e internas, potencialmente desestabilizadoras.
As duas correntes têm argumentos. A favor da 2ª, há duas coisas que governos precisam pensar muitas vezes antes de fazer: convocar um plebiscito e começar uma guerra. #FicaaDica.

Demissao de Paulo Roberto de Almeida expoe conflito no Itamaraty - Poder 360

Demissão de Paulo Roberto de Almeida expõe conflito no Itamaraty


Embaixador comentou caso nas redes
Fez críticas ao escritor Olavo de Carvalho
Governo diz que decisão estava tomada
Afastado, ele passará os dias na biblioteca
Paulo Roberto de Almeida foi afastado na presidência do Ipri - Reprodução/Facebook

A demissão do embaixador Paulo Roberto de Almeida da presidência do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri), anunciada nesta 2ª feira (4.mar 2019) pelo Ministério das Relações Exteriores, expôs uma situação de conflito no Itamaraty. O caso ganhou tração nas redes sociais na 3ª feira (5.mar), após os comentários do próprio embaixador.
Em texto publicado no seu blog pessoal, Almeida sugere que seu afastamento foi motivado por uma postagem anterior no site, em que havia replicado textos críticos à condução da política externa pelo atual chanceler Ernesto Araújo, assinados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo ex-ministro Rubens Ricupero.
Almeida reproduziu também uma reportagem da Folha de S.Paulo com a resposta de Araújo a Ricupero e FHC, a qual chamou de “mais um episódio de um ‘não-debate’ sobre a diplomacia brasileira e sua política externa”.

Em entrevista ao Estado de S.Paulo, Almeida conta ter recebido um telefonema do chefe de gabinete do ministro Ernesto Araújo, Pedro Wollny, em que as publicações foram mencionadas. “Ele ligou reclamando das postagens”, afirmou.
O embaixador também atribui a sua demissão a críticas fez ao escritor Olavo de Carvalho, tido como “guru” do governo Bolsonaro, influente nas nomeações de Ernesto Araújo e do ministro Ricardo Vélez Rodriguez (Educação). Para Paulo, Olavo é “uma personalidade bizarra do momento político brasileiro, totalmente inepta em matéria de relações internacionais, mas ao que parece grande eleitor nas circunstâncias atuais”.

O QUE DIZ O GOVERNO BOLSONARO

O governo tem outra versão para o afastamento de Almeida. Em nota, o Itamaraty afirmou que a mudança “já estava decidida e foi comunicada ao atual titular”. O assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Filipe Martins, detalhou em sua conta no Twitter que a decisão teria sido antecipada “por uma série de ofensas pessoais”.
Também por meio de sua conta na rede social Twitter, Olavo de Carvalho afirmou que não influiu na exoneração do diplomata. “Não fui eu quem cortou a cabeça do Paulo Roberto de Almeida. Não posso cortar o que não existe”, disse na 2ª feira (4.mar), às 16h03.
Em outro post seguintes, o escritor disse que Almeida não o teria o perdoado por expor em um debate a “ignorância e incompetência” do embaixador “em matéria de globalismo”.
Almeida diz que não fez sentido, ainda que a exoneração já estivesse prevista, a demissão ter sido em uma 2ª feira de Carnaval. “Não podiam esperar a 4ª feira de Cinzas?”, questionou nas redes sociais. Diz ainda estar “esperando a demonstração”das ofensas alegadas por Filipe Martins.

O DIA SEGUINTE

Paulo Roberto de Almeida é diplomata de carreira. Ao deixar o cargo no Ipri, retorna ao Ministério das Relações Exteriores de Ernesto Araújo. A intenção declarada do embaixador é “fazer da Biblioteca do Itamaraty o [seu] escritório de trabalho”.
Almeida também é ligado ao Instituto Millenium, um think tank que estuda e defende ideias ligadas ao liberalismo econômico. O ministro Paulo Guedes (Economia) é um dos fundadores.

O tombo do guru - Andrei Meireles (Os Divergentes)

Retirei a matéria, originalmente em Os Divergentes, do Diário do Centro do Mundo, o jornal que os olavetes adoram odiar. Eu não tenho preconceitos, leio de tudo, da extrema esquerda à extrema direita, com várias coisas malucas pelo caminho.
Paulo Roberto de Almeida


O tombo do guru Olavo no embate com os generais de Bolsonaro 

Por Andrei Meireles

Olavo de Carvalho. Foto: Reprodução / Twitter
Publicado originalmente no site Os Divergentes
POR ANDREI MEIRELES
O ideólogo Olavo de Carvalho, guru do clã Bolsonaro, que emplacou seguidores no governo, encantado com o próprio sucesso, resolveu dar um passo maior que a própria perna. Tropeçou em outras forças influentes. Dobrou a aposta e passou a atacar a penca de generais escalados em cargos estratégicos na gestão Bolsonaro, responsáveis por barrar algumas de suas extravagantes propostas, e levou um tombo.
Um desses fiascos foi a desastrada carta do ministro da Educação às escolas para filmar crianças cantando o Hino Nacional. Nessa sexta-feira (8), o Diário Oficial trouxe exonerações no Ministério,principal aparelho da turma de Olavo no governo federal. Um deles, Sílvio Grimaldo de Camargo, assessor especial do ministro, foi o primeiro a esbravejar em uma rede social. “O expurgo dos alunos do Olavo de Carvalho no MEC é maior traição dentro do governo Bolsonaro que se viu até agora. Nem as trairagens de Mourão e Bebianno chegaram a esse nível”.
Do seu bunker na Virgínia, Estados Unidos, Olavo de Carvalho estava inconsolável nos últimos dias e disparou seguidos posts nas redes sociais contra supostos inimigos na equipe de Bolsonaro. “Será que todos votamos em Bolsonaro para ter um governo tucano? Quantos ministros do atual governo pensam que sim? São todos uns traidores filhos da puta dignos serem jogados na privada”.
Na alucinante ótica de Olavo de Carvalho, os tais ministros teriam se rendido à mídia, o grande inimigo em seu moinho de vento. A raiva é maior com os militares. “Imaginem, então, o general que, emergindo da tediosa e austera secura da vida militar, se vê de repente cercado de luzes, câmeras e gostosas repórteres”. E conclui: “Cai de joelhos”.
Olavo de Carvalho se imagina também líder inconteste de seus seguidores. Ficou ainda mais cheio de si depois que o chanceler Ernesto Araújo, cristão novo entre seus discípulos, demitiu o diplomata Paulo Roberto de Almeida da presidência do Instituto de  Pesquisa de Relações Internacionais por críticas ao “Professor”. Mesmo perdendo espaço na luta interna entre os bolsonaristas, ele ainda resolveu cantar de galo e orientou seus ex-alunos deixarem o governo. Um de seus preferidos, Felipe Martins, assessor internacional de Bolsonaro, não se manifestou.
Seus apadrinhados Ernesto Araújo e o ministro Vélez Rodríguez, da Educação, também fingiram de surdos. Os sempre ágeis irmãos Bolsonaros, dedos ligeiros em postagens, não deram sequer um pio em suas redes sociais.
Todos eles sabem que nessa parada entre o guru ideológico e os generais que dão sustentação ao governo Olavo de Carvalho é a carta descartável. As seguidas trapalhadas da família Bolsonaro, inclusive do presidente, algumas inspiradas pelo próprio Olavo de Carvalho, só reforçaram o peso dos generais no governo.
A conferir.

Confusão no reinado do Olavismo - revista IstoÉ

Diplomata é demitido após postar textos críticos ao chanceler Ernesto Araújo e ao ideológo Olavo de Carvalho, enquanto Sergio Moro é obrigado a recuar na nomeação de conselheira

Crédito: Roque de Sá
CAÇA ÀS BRUXAS Afastado, o embaixador Paulo Roberto de Almeida estrilou: “não tenho a menor ideia do que seja essa coisa“ (Crédito: Roque de Sá)
Quando o ministro das Relações Exteriores (MRE), Ernesto Araújo, foi indicado para o cargo pelo ideólogo Olavo de Carvalho, imaginava-se que o poder do escritor brasileiro radicado nos Estados Unidos, ficaria restrito à algumas indicações ou a um ou outro pitaco na política do governo. No entanto, a demissão do embaixador Paulo Roberto de Almeida, na segunda-feira 4 do cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri), órgão vinculado ao MRE, mostra que há um sério conflito ideológico no Itamaraty, sob orientação do escritor, que teria muito mais força na condução da política externa brasileira do que se julgava. Toda a confusão ocorreu quando o embaixador Almeida postou, em seu blog pessoal, textos críticos à condução da política externa, com trechos de uma palestra do ex-ministro Rubens Ricupero e de um artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a respeito da Venezuela. A publicação dos textos foi vista pelo chanceler Ernesto Araújo como uma crítica indireta ao seu trabalho.
ACABOU  Moro é obrigado por Bolsonaro a demitir uma conselheira ligada à esquerda: fim à prometida carta branca (Crédito: Rafael Andrade/Folhapress)
Personalidade bizarra
O problema é que a gama de críticas à política externa acabou incomodando também Olavo de Carvalho. Após ser exonerado do Ipri, o embaixador fez críticas ao atual chanceler em seu blog, alegando que Araújo fora indicado para o cargo não por sua capacidade técnica, mas por sua ligação íntima com os filhos do presidente e com Olavo. “Adicionalmente, meu blog trouxe críticas a uma personalidade bizarra do momento político, totalmente inepta em matéria de relações internacionais, mas ao que parece grande eleitor nas circunstâncias atuais”, disse.
O embaixador deixou claro que sua exoneração foi pedida por Olavo de Carvalho. “O fato de eu ter ofendido o ‘Professor’ foi demais para o chanceler. Ele não suportou minha ironia corrosiva contra a suprema ignorância demonstrada pelo sofista da Virgínia em matéria de comércio internacional”, complementou o embaixador. Em uma lavação de roupa suja, Almeida afirmou que até o momento Ernesto Araújo não definiu quais seriam as principais diretrizes da política externa. “Eu até gostaria de escrever alguma coisa a respeito da ‘nova política externa’, mas não tenho a menor ideia do que seja essa coisa”, atacou. “O que temos até aqui são invectivas contra o globalismo, o climatismo, as migrações, o marxismo cultural, a ideologia do gênero e outras bobagens”, complementou Almeida.
Internamente, integrantes do Itamaraty destacam que o embaixador foi corajoso em expor uma situação que tem tirado o sono de outros diplomatas. Eles alegam que de fato o chanceler ainda não definiu qual é o foco da política externa e garantem que dentro do órgão vive-se um clima de “caça às bruxas”. Se isso não bastasse, os próprios integrantes do governo foram protagonistas, na semana passada, de mais uma trapalhada. O ministro da Justiça, Sergio Moro, foi obrigado pelo presidente a demitir do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária a advogada Ilona Szabó, que ele mesmo havia nomeado. Bolsonaro obrigou o ministro a voltar atrás depois de ter sido pressionado por seguidores nas mídias sociais que identificaram a advogada como ligada à esquerda, numa demonstração cabal de que a “carta branca” dada a Moro só valerá quando ele tomar decisões do agrado do presidente.

Cuidados na internet - Eduarda Talicy (O Povo)

| PENSE ANTES DE POSTAR | 

Internet Cuidados no ambiente virtual

| Pense Antes de Postar | A sensação de distância ao estar na frente de uma tela de computador é o que leva muitas pessoas a fazerem postagens inadequadas na rede. No entanto, ações no ambiente virtual também são passíveis de responsabilização legal

EDUARDA TALICY

O Povo, 8/03/2019
https://www.opovo.com.br/jornal/dom/2019/03/39867-internet-cuidados-no-ambiente-virtual.html


Estar à frente de uma tela de computador interagindo com milhares de pessoas e com acesso a um número maior ainda de informações tende a alterar o comportamento das pessoas no meio virtual. Especialistas alertam que, apesar de o ambiente virtual trazer a sensação de "terra-sem-lei", as publicações e comentários seguem também os preceitos legais da constituição, sob o risco, inclusive, de responsabilização legal.
André Peixoto, advogado especialista em direito da tecnologia da informação, alerta que o movimento, na verdade, é contrário. "As condutas praticadas na internet são puníveis, sim, e as pessoas são localizáveis, sim", explica. Conforme ele, as possibilidades de rastreamento são cada vez maiores. Previstos na Constituição Federal, crimes como injúria, racismo, difamação podem ser identificados e punidos. André alerta que o ambiente da internet chega a ser mais delicado pela capacidade de alcance de postagens e pela facilidade de gerar provas.
Mas nem sempre entre a liberdade de expressão e determinada má conduta há um caminho claro. Muitas vezes, levada pela raiva ou frustração, as pessoas fazem postagens ou comentários inadequados sem avaliar os impactos que podem trazer.
A plataforma SaferNet, uma associação de civil com foco na promoção e defesa dos Direitos Humanos na Internet no Brasil, orienta que o direito de manifestar livremente opiniões, ideias, e pensamentos faz parte do tratado de uma sociedade democrática e simboliza a liberdade de expressão. Exercê-la, conforme o instituto, requer responsabilidade e informação para que o seja legítimo.
"Vale lembrar que a liberdade de expressão esbarra no respeito à opinião do outro e respeito à sua integridade moral. Esses também são princípios democráticos de uma sociedade que contempla o bem-estar e integridade de todos. A defesa da liberdade de expressão na web tem que considerar esses princípios para que não haja distorção do seu exercício", alertam.
W Gabriel, professor e consultor de marketing em mídias digitais, alerta que falta educação de cultura digital. Conforme ele, quando há baixa cultura digital, as pessoas não conseguem entender de fato o funcionamento do ambiente virtual. "Assim, não há como avaliar os prós e os contras. Quem conhece uma das regras do Marco Civil da Internet?", questiona. A lei 12.965, sancionada em 2014, versa sobre uma série de questões relacionadas ao uso, segurança e disponibilidade de internet.
No último dia 5 de janeiro, durante os primeiros dias da onda de ataques a equipamentos públicos e privados do Ceará, uma das seguidoras do perfil do O POVO Online, Silvia Soares, fez comentários em publicação afirmando que a sede da instituição jornalística deveria ser alvo dos ataques. A publicação mostrava a rota e as blitze que a polícia havia divulgado e o jornal fez cobertura.
"No comentário, essa senhora disse que o jornal fazia um desserviço ao comunicar uma blitz que foi informada pelo próprio comando da Polícia Militar, e, em razão disso, essa senhora afirmou que O POVO deveria sofrer as consequências, que deveria ser alvo dos ataques", explicou Robson Sobreira, advogado do Grupo de Comunicação O POVO. Conforme ele, na ocasião, foi enviada uma notificação extrajudicial para Silvia para que ela se justificasse do ocorrido.
Em carta de retratação, Silvia explicou que a interpretação foi errônea sobre a publicação. "Acabei me deixando levar pela raiva, escrevendo um comentário que não deveria ser escrito e que não deve ser levado a sério, pois não era e nem é o meu real desejo. Que fique claro que não tenho participação no enredo que se passou nesses 30 dias de janeiro em Fortaleza", afirmou.
Sobre os ataques, ela explica que ter sido impactada pela insegurança a deixou sensibilizada. "Tive a experiência de ser privada de andar no Vila Velha por conta de toques de recolher onde mora minha mãe, a mesma (minha mãe) relatava atos como apedrejamento nas lâmpadas da rua para que a mesma ficasse escura e o fechamento das mercearias. Essa experiência é revoltante e me deixou sensibilizada", disse.
Para André Peixoto, a conduta da seguidora ao fazer o comentário foi inadequada com consequências que poderiam ser graves. "O comentário incita o dano à propriedade privada", diz. O professor W Gabriel relembra campanha europeia Think before you post. Em livre tradução, Pense Antes de Postar.
"Eu costumo dizer que se vai postar algo e quer saber se é apropriado, pode pensar: Se você pregasse essa mensagem ou comentário num poste público em frente à sua casa você sentiria vergonha? Se não, tudo bem. Agora, se há problema, é melhor não postar porque isso pode causar um dano", conclui. (Eduarda Talicy)

O QUE DIZ A LEI

A lei 12.965, que regulamenta o uso e provimento da internet no Brasil, garante a liberdade no ambiente virtual mas sempre pautada nos termos da Constituição Federal
Art. 3º A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios:
I - garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento, nos termos da Constituição Federal;
II - proteção da privacidade;
III - proteção dos dados pessoais, na forma da lei;
IV - preservação e garantia da neutralidade de rede;
V - preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo estímulo ao uso de boas práticas;
VI - responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos da lei;
VII - preservação da natureza participativa da rede;
VIII - liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que não conflitem com os demais princípios estabelecidos na Lei.
EDUARDA TALICY

Aliança pela Liberdade: jovens estudantes liberais me prestam homenagem

Gostaria de agradecer imensamente, enfaticamente, o grande elogio que recebo nesta postagem, que me deixou verdadeiramente sensibilizado, e não é pela solidariedade em função de minha mesquinha defenestração no IPRI, um episódio menor em minha vida, e que aliás me deixa ainda mais livre para continuar minha obra didática, pedagógica, em favor da liberdade de pensamento.
A razão pela qual expresso minha gratidão por esta mensagem, e pelo quadro e frase dos quais já me tinha esquecido, é que constato agora que meu combate solitário de muitos anos realmente encontrou eco entre os muitos jovens que me leram ao longo de minha longuíssima travessia do deserto, o exílio funcional aplicado contra mim, pelas mentes canhestras que dominaram o Itamaraty durante o lulopetismo, e que parecem se reproduzir novamente agora. Esse meu combate foi justamente no sentido de oferecer aos mais jovens uma outra perspectiva que o marxismo vulgar – digo isso sem constrangimento, pois ainda me considero marxista, uma vez que é impossível ser sociólogo sem ser também um pouco marxista –, que o gramscismo do baixo clero – isto é, de pessoas que nunca leram Gramsci –, que o esquerdismo míope, ignorante, que a arrogância acadêmica de certos mandarins da torre de marfim, enfim, que a mediocridade e a miséria intelectual de nossos meios universitários (com minhas desculpas a todos aqueles que não se deixam enredar nesse ambiente lamentável de sub-intelectualidade muito pouco produtiva).
Sempre fiz de meus escritos instrumentos de combate: em primeiro lugar, pela liberdade de expressão – e tive vários dissabores no Itamaraty, por nunca eximir de ser contrarianista –, em segundo lugar pelo exame sem preconceitos de todos os problemas práticos com os quais nos defrontamos no serviço público, e na vida civil; em terceiro elevar, pela consciência de que era preciso elevar o nível, melhorar a qualidade do ensino em geral, das humanidades em especial.
Sinto-me, portanto, gratificado por esta homenagem.
Grato, rapazes. A luta continua, como diriam alguns...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10 de março de 2019
Aliança pela Liberdade
Na segunda-feira desta semana, em pleno carnaval, tivemos notícia da exoneração do Embaixador e Professor Paulo Roberto de Almeida da Presidência do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI).
Dono de uma invejável trajetória acadêmica e profissional, Almeida foi empurrado ao ostracismo durante os governos Lula e Dilma, em razão de suas idéias liberais e de sua profunda honestidade intelectual. A manobra, no entanto, só lhe deu mais força: durante esses anos, o professor foi responsável pela formação e florescimento de uma multidão de estudantes, que encontrou em sua figura uma referência para a defesa racional e consistente dos valores democráticos e de liberdade.
Recentemente, a Aliança pela Liberdade teve a honra de promover o lançamento de seu livro “A Constituição contra o Brasil”, onde reuniu e apresentou uma série de ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988. Na ocasião, também estavam presentes o professor de Economia da UnB Roberto Ellery e o diplomata Arthur César Naylor.
À frente do IPRI desde 2016, Almeida foi responsável pela organização de uma série de relevantes eventos acadêmicos, além de publicações de livros e composição de debates, sempre atentando para a diversidade temática e para a qualidade de conteúdo. Sua saída é, sem dúvidas, uma perda institucional para o Itamaraty, e deixa um gosto amargo para aqueles que valorizam o verdadeiro debate de idéias, tanto nos temas de política externa, quanto sobre o Brasil de forma mais ampla.
Desejamos que estas palavras possam ecoar nossa admiração pelo mestre que sempre foi e, também, o agradecimento por nunca ter deixado de enriquecer o debate público no Brasil, mesmo quando isso lhe implicou sanções profissionais e pessoais. Estamos certos de que poderemos contar com sua coragem, seu brilhantismo, e com sua a dedicação incansável na defesa da democracia e da liberdade, por muitas e muitas obras, debates, e anos.

Lauro Jardim também se deixa enganar pelo argumento do Itamaraty: meu trabalho no NAE-PR

Lauro Jardim pretende exercer seu direito de praticar o "outroladismo" – como aliás Eliane Cantanhede –, ouvindo apenas um dos lados, o da chancelaria, com esse argumento de que trabalhei no Núcleo de Assuntos Estratégicos da PR, de 2003 a 2006 (não 2007).
Eles não se dão conta de que eu fui para o NAE-PR (a convite do ministro Gushiken) "apenas" porque o Itamaraty – leia-se SG Samuel Pinheiro Guimarães, e ME Celso Amorim – vetaram o convite feito pelo Diretor do Instituto Rio Branco para dirigir o mestrado em diplomacia daquela instituição de ensino.
Quanto à designação de "embaixador" – à qual não dou a mínima importância –, isso é prática corrente no Itamaraty, que eu também julgo indevida, de chamar assim todo o diplomata de carreira promovido ao último escalão, quando o título deveria ser apenas daqueles que exerceram efetiva chefia de posto, diplomatas ou não.
No que me concerne, prefiro ser chamado de professor, que é o que sou. Diplomata, em qualquer nível da carreira, é o que estou, ou o que exerço como profissão, mas não creio que tenha sido a mais importante em minha trajetória profissional.
Acredito ser mais conhecido como autor de livros e artigos sobre temas diversos.
Convido o jornalista a conhecer alguns em meu site: pralmeida.org.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10 de março de 2019


O que une o chanceler e Paulo Roberto de Almeida

Divulgação
Ernesto Araújo e Paulo Roberto de Almeida estão em lados opostos hoje no Itamaraty, mas há algo que os une na visão de um grupo de embaixadores.  
Para esses, só pode ostentar de fato de "embaixador" quem chefiou algum dia uma embaixada. Senão, "é um ministro de primeira classe", como explica um veterano diplomata.
A propósito, Almeida disse nos últimos dias que, por ser crítico à política externa do PT, ficou "durante o período do lulopetismo, trabalhando na biblioteca" do Itamaraty.
Não é, contudo, bem assim. Ao menos entre outubro de 2003 e junho de 2007, Almeida trabalhou na Presidência da República.

Vcs ouviram falar em Templarios? Serio isso?

Eu adoro ver true believers afanosamente em um trabalho árduo pela causa.
Eles me divertem tanto, que eu juro que gostaria de conhecê-los pessoalmente, perguntar como vai a família, os estudos, essas armaduras medievais, tão pesadas, tão difíceis de polir...
Juro que eu gostaria de encontrar com eles.
Quem sabe eles me convidam para uma palestra, agora que o chanceler — que leva jeito de templário também — me defenestrou do cargo de diretor do IPRI e estou leve, livre e solto para essas tertúlias literárias.
A única coisa que me incomoda um pouco é que eles pretendem se reportar à História e parecem ignorar solenemente a História.
Leiam, rapazes, para não escrever as bobagens que vcs cometeram aqui abaixo, sem sequer se dar ao trabalho de pesquisar um pouco a minha história.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10/03/2019

CAVALEIRO TEMPLÁRIO🎗️ (@CavaleiroTemplo)
O Coronel Roquetti é amigo íntimo do Paulo Roberto de Almeida, aquele diplomata imbecil demitido recentemente pelo Ernesto. Segundo o ⁦‪@reaconaria‬⁩, Paulo Roberto era o nome do Mourão para Chanceler, antes do Ernesto ser escolhido. pic.twitter.com/KFD3kv17ET

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Paulo Roberto de Almeida