Reproduzo aqui postagem que efetuei no último dia 14, ao tomar conhecimento que a atual administração do Itamaraty está impondo uma humilhação a esta professora francesa, apenas porque pretendem me manter totalmente alheio a esse evento.
Fiz alusão, no título desta postagem ao termo "stalinista", pois era isto o que ocorria na União Soviética totalitária de Stalin: ela mandava apagar as imagens de seus supostos adversários no Partido Comunista, ou até mandava fuzilar (Bukharin, por exemplo) e assassinar (foi o destino de Trotsky),
Ainda não me ocorreu nada de físico, mas certamente já me "apagaram" virtualmente.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 18 de março de 2019
Itamaraty: a animosidade pessoal se transfere ao plano institucional
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 14 de março de 2019
[Objetivo: relato sobre eventos cancelados; finalidade: informação aos interessados]
Em janeiro deste ano, a pedido da seção cultural da embaixada da França em Brasília, e no quadro da “Semaine de la Francophonie”, eu havia sido convidado a participar de um evento e consultado sobre a possibilidade de ajudar a organizar um outro, ambos no mesmo dia em 19 de março. Esses dois eventos estavam relacionados à visita ao Brasil da professora Laurence Badel, historiadora da Universidade de Paris-1 (Sorbonne), que faria no Itamaraty duas conferências, seguidas de debates.
Esses eventos seriam, respectivamente, uma conferência sobre os diplomatas escritores, já objeto de um colóquio, na França, quase dez anos atrás, e objeto de uma obra coletiva, da qual a professora Badel foi uma das editoras, e uma outra conferência sobre o centenário da conferência de paz de Paris em 1919. Fiz uma postagem sobre o livro resultante do colóquio desde que o recebi de uma encomenda na França, em 21 de maio de 2018, neste link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/05/ecrivains-et-diplomates-livre-francais.html.
O que se previa, no primeiro evento, seria suscitar, após a conferência da profa. Badel, um debate sobre experiências talvez similares no caso brasileiro, para o qual eu fui convidado a título pessoal, não como diretor do IPRI, a partir de minha iniciativa de preparar uma 3ª. edição da obra O Itamaraty na Cultura Brasileira, cuja primeira edição, organizada pelo embaixador Alberto da Costa e Silva, havia sido publicada em 2001, sob os auspícios do então chanceler, e intelectual, Celso Lafer. Para ilustrar minha participação nesse primeiro evento, e informar a visitante francesa, eu cheguei a compor um pequeno ensaio, em francês, sobre os diplomatas escritores do Brasil, que coloquei à disposição dos interessados em meu blog e numa plataforma acadêmica: “Diplomates brésiliens dans les lettres et les humanités” (blog Diplomatizzando, link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/02/diplomates-bresiliens-dans-les-lettres.html; Academia.edu, link: https://www.academia.edu/s/d1a565519e/diplomates-bresiliens-dans-les-lettres-et-les-humanites-2019).
Para o segundo evento, eu estava compondo um outro ensaio sobre os famosos 14 pontos de Woodrow Wilson, relidos a cem anos de distância, que não cheguei a terminar pelo simples fato de ter sido exonerado do cargo de diretor do IPRI em plena segunda-feira de Carnaval, o que atrapalhou o meu lazer laborioso, quando deveria estar me dedicando à sua redação, exatamente. De toda forma, pretendo terminar esse ensaio, pois ele deveria, em princípio, integrar um livro resultante de três seminários centrados sobre o Brasil e a Grande Guerra, dois já realizados e um terceiro previsto para meados deste ano, se é que ele será organizado e realizado. Os três diplomatas engajados na organização dos seminários e na composição do livro estão sendo igualmente afastados do IPRI, e pode ser que eu tenha de compor o livro solitariamente.
Ao aproximar-se a data de realização dos dois eventos, para os quais eu já tinha preparado os convites e a informação de base (transcritos in fine), fui informado de que a alta chefia do Itamaraty tinha decidido alterar completamente a organização desses dois eventos, presumivelmente com a intenção de afastar-me de qualquer participação num e noutro, mas de uma forma lamentável, pois retira dos demais interessados, como da própria conferencista, a possibilidade de assistir, em evento aberto, duas palestras e debates sobre temas de alta relevância histórica e cultural. Segundo me foi transmitido, as duas conferências da profa. Badel não mais estariam abertas ao público diplomático e acadêmico de Brasília, encerrando-as no âmbito de uma sala de aula, unicamente abertas a duas dúzias de alunos do próprio Instituto Rio Branco.
A medida me parece absurdamente mesquinha, vingativa, castradora, pois impede a visitante francesa, historiadora distinguida da Sorbonne, de se expressar em favor de um público mais amplo, apenas porque a intenção não declarada, mas clara em sua evidência cristalina, foi afastar-me de ambos eventos e impedir não só a minha participação, como a simples assistência na qualidade de membro da audiência geral de cada um deles. Uma tal atitude abjetamente retaliatória contra mim atinge em primeiro lugar a professora francesa, agora impedida de se dirigir ao público natural da Semana da Francofonia – os representantes dos países francófonos e os demais interessados na agenda cultural desse ciclo – e condenada a ficar restrita exclusivamente aos próprios alunos do Instituto Rio Branco.
Posso, sem hesitação, classificar tal atitude de censória no mais alto grau, como também vergonhosa, indigna das mais altas tradições culturais do Itamaraty. Tampouco hesito em acusar o chanceler atual como o responsável por essa decisão totalmente desrespeitosa para com nossos amigos da embaixada da França, como para todos os demais membros da comunidade francófona de Brasília, brasileiros e estrangeiros, diplomatas ou não. Suponho que as respectivas embaixadas se sentirão afetadas pela mudança de uma programação já preparada com antecipação de vários meses, e que fazia parte de uma iniciativa cultural tradicional no ambiente da capital federal desde muitos anos. Elas se sentem logradas por um gesto tão desrespeitoso.
Em meu nome, e acredito que assumindo a voz de muitos colegas, diplomatas e acadêmicos, apresento as mais sinceras desculpas por um gesto indigno de figurar no calendário de realizações deste ano de 2019; ao contrário, tal censura mesquinha, tomada no âmbito puramente pessoal, mas que reverbera no plano institucional, diminui o rol de realizações da Semana da Francofonia de 2019.
Excusez-nous, Français et francophones, on en fera d’autres…
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 14 de março de 2019
Convites preparados para os dois eventos programados
(não expedidos)
1)
L’Ambassade de France à Brasília
Instituto Rio Branco (IRBr)
Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI-Funag)
L'écrivain en diplomatie : identités et pratiques
Laurence Badel
Historienne, professeur à la Sorbonne ;
Commentaires :
Paulo Roberto de Almeida, sociologue, directeur de l’IPRI.
Auditório João Augusto de Araújo Castro, Instituto Rio Branco
19 Mars, 10h30
La professeure Laurence Badel est historienne, directrice du Centre d’histoire des relations internationales contemporaines (Institut Pierre Renouvin) et du Master en Études européennes et relations internationales à la Sorbonne (Paris-1), membre du conseil scientifique de son École doctorale en Histoire, Secrétaire générale du Prix Jean-Baptiste Duroselle, et membre de plusieurs revues scientifiques, françaises et étrangères. Auteur et éditeur de nombreuses ouvrages dans les domaines des relations internationales, mondialisations et régionalisations, diplomatie économique, et acteurs non-étatiques et pratiques diplomatiques, dont l’ouvrage collectif Écrivains et diplomates : l’invention d’une tradition, XIXe-XXIe siècles (Armand Colin, 2012).
2)
L’Ambassade de France à Brasília
Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI-Funag)
La Conférence de la Paix de Paris de 1919, premier sommet mondial ?
Laurence Badel
Historienne, professeur à la Sorbonne
Auditório João Augusto de Araújo Castro, Instituto Rio Branco
19 Mars, 15h00
La professeure Laurence Badel est historienne, directrice du Centre d’histoire des relations internationales contemporaines (Institut Pierre Renouvin) et du Master en Etudes européennes et relations internationales à la Sorbonne (Paris-1), membre du conseil scientifique de son École doctorale en Histoire, Secrétaire générale du Prix Jean-Baptiste Duroselle, et membre de plusieurs revues scientifiques, françaises et étrangères. Auteur et éditeur de nombreuses ouvrages dans les domaines des relations internationales, mondialisations et régionalisations, diplomatie économique, et acteurs non-étatiques et pratiques diplomatiques, dont plusieurs ouvrages sur l’histoire contemporaine de l’Europe et de ses rapports mondiaux, spécialement avec l’Asie.