quinta-feira, 20 de julho de 2006

595) Tudo verdade: blogueiros se interessam antes de mais nada por si mesmos...

Uma pesquisa interessante...

'Blogueiros' só se interessam por si mesmos, revela pesquisa
Da AFP, 20/07/2006 - 17h35

Antes elogiados como os pioneiros do jornalismo cidadão, os ‘blogueiros' (autores de blogs) são atualmente cronistas auto-referentes interessados em um único tema: eles mesmos, segundo uma pesquisa feita pelo centro de pesquisas americano Pew Research Center.

De acordo com o instituto, existem nos Estados Unidos 12 milhões de ‘blogueiros' e 57 milhões de leitores de blogs (diários públicos na Internet), ou seja, 39% da população conectada à rede mundial de computadores. Embora os blogs mais conhecidos tratem de assuntos políticos, a maioria não foi criada com qualquer pretensão jornalística e tem como finalidade única partilhar informações pessoais com o público que se interesse por elas.

Segundo a pesquisa, 37% dos ‘blogueiros' consultados citaram "minha vida e minhas experiências" como o tópico principal de seu site. Os cientistas políticos e o governo ficaram em um distante segundo lugar, com 11%. O perfil da "população blogger" é de jovens (54% têm menos de 30 anos), divididos eqüitativamente entre homens e mulheres.

E embora a maior parte do conteúdo dos blogs seja pessoal, a maioria dos consultados afirmou que preferem publicá-los com pseudônimo, visto que o anonimato possibilita separar a vida 'real' da vida 'on-line', segundo a pesquisa. "Um blog que pode parecer divertido a um amigo pode ser causa de demissão para um empregador", disseram os autores do estudo.

De qualquer forma, quase a metade dos ‘blogueiros’ não tem idéia de quantas pessoas acessam suas páginas, enquanto 22% dos que controlam o tráfego de seu site afirmaram receber menos de 10 visitas por dia.

Os dados foram compilados por telefone sobre uma amostragem de 233 blogueiros identificados, entre julho de 2005 e fevereiro de 2006.

594) Possivel perigo de queda em Havana...

Não, não se trata de nada político, ou diplomático.
É apenas a nova sede da embaixada do Brasil em Havana, que foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
Quem conhece outras obras perpetradas pelo último stalinista brasileiro, sabe que existe sério risco de tombos em escadas sem corrimão, em buracos que surgem do nada, em desvãos não avisados, em recantos sombrios desprovidos de luz natural, enfim o habitual cortejo de surpresas, que emergem de uma bela poesia visual no concreto, mas cuja funcionalidade é tão boa quanto a de uma caixa de fósforos...

Vejam a nota do Informe da liderança do PT na CD, de 20 de julho de 2006:

"Niemeyer assina nova embaixada do Brasil em Cuba
O embaixador do Brasil em Cuba, Tilden Santiago, apresenta em Brasília nesta terça-feira a maquete da nova sede da embaixada do Brasil em Cuba. O projeto é assinado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Para o embaixador o projeto nasceu da determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do "esforço" do Itamaraty, que liberou R$ 3 milhões para a obra, da "visão" de Fidel de Castro que doou o terreno de 8 mil metros quadrados para a construção e da "generosidade" de Niemeyer, que ofereceu o projeto.
Esse é o segundo projeto de Niemeyer para a embaixada brasileira em Cuba. Há quase 20 anos, no governo José Sarney, ele recebeu a mesma encomenda. Os preconceitos contra Cuba, entretanto, soterraram os planos diplomáticos. Santiago apresenta nesta terça-feira ao senador José Sarney a maquete da nova sede da embaixada. A sede será construída no bairro de Miramar, em Havana. Atualmente a embaixada de Cuba ocupa um andar de um prédio antigo em Havana.
Segundo Tilden Santiago, na sede atual não há espaço para hastear a bandeira brasileira. Para ele, os papéis de Brasil e de Cuba na integração latino-americano são especiais. "A nova embaixada será um símbolo desse esforço comum dos dois países", disse."

quarta-feira, 19 de julho de 2006

593) Brasil concede asilo a colombiano da Farc...

A notícia...

"Brasil concede refúgio à porta-voz das Farc
19/07/2006 - 12h44

Na última sexta-feira, o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), concedeu por ampla maioria de seus sete conselheiros, o status de refugiado político ao colombiano Camilo Collazzos, também conhecido como Padre Olivério Medina, preso desde agosto de 2005.

Collazzos é acusado na Colômbia, de terrorismo, assassinato, seqüestro e extorsão. Portanto, não poderia ter recebido o status, conforme prevê o Estatuto do Conare.

De acordo com o artigo 3º da Lei 9.474 de julho de 1997, “não se beneficiarão da condição de refugiado os indivíduos que tenham cometido crime contra a paz, crime de guerra, crime contra a humanidade, crime hediondo, participado de atos terroristas ou tráfico de drogas”.

O Conare ainda não notificou o Supremo Tribunal Federal ou a Embaixada da Colômbia, sobre a decisão. Segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Justiça, apenas o próprio colombiano é informado da decisão.

Segundo a assessoria de comunicação do MJ, somente o presidente do Conare, Luiz Paulo Barreto, está autorizado a falar a respeito, mas ele está em viagem à Espanha.

O InfoRel também tentou contato com os comitês pela libertação de Olivério Medina, mas as pessoas contatas informaram que não tinham autorização para falar a respeito.

O comitê de Brasília, que funciona no Setor Comercial Sul, sequer sabia da decisão do Conare, favorável ao colombiano. Um dos conselheiros do Conare, que pediu para não ser identificado, revelou ao InfoRel que esses comitês são mantidos por partidos de esquerda, como PT, PSB e PCdoB.

Fontes do governo colombiano, disseram ao InfoRel que o país lamenta a decisão, pois a Colômbia contava com a extradição. Além disso, funcionários do governo explicaram que a concessão do refúgio molesta e mortifica o país.

Autoridades colombianas aguardam um comunicado oficial por parte do Conare e reconhecem que a decisão poderá afetar as relações do Brasil com a Colômbia.

Essas mesmas autoridades explicam que apesar das provas contra Medina, a Fiscalía Nacional nunca foi chamada para depor no Conare. A Embaixada da Colômbia no Brasil preferiu não comentar a decisão até que seja notificada oficialmente."

... e a reação:

"Colômbia pede que Brasil reveja decisão sobre refúgio para integrante das Farc
19/07/2006 - 16h08

O Ministério das Relações Exteriores da Colômbia solicitou ao governo brasileiro, que reveja o status de refugiado que foi concedido na última sexta-feira, ao colombiano Francisco Antonio Cadena Collazos, pelo Comitê Nacional para os Refugiados (Conare).

A chancelaria colombiana reiterou ainda o pedido de extradição formalizado pelo governo no dia 15 de setembro de 2005, atendendo decisão da Fiscalía Geral da Nação, que tem Cadena Collazos como um dos principais dirigentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

As Farc são consideradas um grupo terrorista na Colômbia e em vários países e Cadena Collazos, Cura Camilo ou Olivério Medina, como também é conhecido, é acusado de participar de ataques a base do Exército colombiano em Cerro Girasoles de Mesetas, Departamento de Meta, em dezembro de 1990 e janeiro de 1991.

Ele foi preso pela Interpol no dia 24 de agosto de 2005, para fins de extradição. O processo chegou a tramitar no Supremo Tribunal Federal (STF), mas foi paralisado depois que Cadena Collazos apresentou pedido de refúgio ao Conare.

A Justiça colombiana não pretende desistir de sua extradição e quer que o dirigente responda pelos crimes de homicídio com fins terroristas, seqüestro e extorsão e terrorismo, entre outros. Ele vivia no Paraná, é casado com uma brasileira e tem uma filha menor de idade."

592) Assim marcha a América do Sul: noticias da regiao e da integracao

Noticias enviadas por Pedro Scuro Neto, Ph.D. (Leeds, 1989)

A expansão do Mercosul
Richard Lapper, 18/07/2006

Na próxima quinta-feira a cidade argentina de Córdoba será o palco de uma certa celebração mútua por parte dos presidentes dos três novos grandes países do Mercado Comum do Sul (Mercosul) - Brasil, Argentina e Venezuela.

Agora que o presidente Hugo Chávez colocou as suas consideráveis reservas de petróleo e o ímpeto financeiro crescente do seu país a serviço da integração econômica regional, é difícil enxergar como o grupo poderá deixar de fazer mais progressos rumo à construção de uma melhor infraestrutura. É verdade que algum dinheiro será simplesmente desperdiçado caso o grupo persista em ponderar iniciativas como o gasoduto de 8.000 quilômetros de extensão que deverá cortar o continente.

Mas os maiores desafios serão preservar a viabilidade do pacto enquanto entidade comercial e fazer mais progressos rumo a um genuíno mercado livre.

O mecanismo de adaptação competitiva - que faz com que setores ameaçados recorram ao protecionismo - pode fazer sentido para produtores argentinos ineficientes, mas é um fator potencial de frustração para um número maior de grupos empresariais brasileiros. E, conforme aponta um recente editorial do jornal pró-empresariado "O Estado de São Paulo", tal fato poderá também minar a capacidade da instituição de competir em bloco com a China.

Embora a Argentina venha bloqueando as importações de sapatos brasileiros, as da China vêm crescendo consistentemente, tendo quando dobrado nos cinco meses que precederam maio de 2006, por exemplo.

Conter o descontentamento de Uruguai e Paraguai também será um problema. O presidente da Argentina, Nestor Kirchner, ainda parece disposto a persistir na sua campanha no sentido de negar ao Uruguai o direito de construir uma indústria de papel e celulose, apesar da fragorosa derrota que sofreu no Tribunal Internacional de Justiça. Os manifestantes ambientalistas vão expor as suas reclamações em Córdoba, após já terem provocado um prejuízo de US$ 400 milhões à economia uruguaia com bloqueios nas estradas que cortam a fronteira entre os dois países, no início deste ano. O governo da Argentina nada fez para impedir tais protestos no passado, mesmo que estes contradigam diretamente a meta básica do Mercosul de promover a livre movimentação de pessoas e mercadorias.

Enquanto isso, mais uma disputa comercial envolvendo a Argentina demonstra que este não é um momento propício para se buscar uma expansão extra do bloco composto de cinco nações. O Chile - um membro associado - está particularmente irritado com o fato de a Argentina ter anunciado que aumentará os preços de combustíveis para veículos estrangeiros nas áreas de fronteira, por temer que os proprietários desses veículos estejam se aproveitando dos preços dos combustíveis nos postos argentinos, que são a metade dos cobrados nos postos chilenos. Isso ocorre depois de a Argentina ter irritado o seu vizinho ao ter repassado diretamente o aumento do preço do seu gás importado da Bolívia ao gás que vende ao Chile. A Bolívia impôs um drástico aumento do preço do gás exportado no início deste mês.

Chávez viaja pelo mundo
Após comparecer ao evento em Córdoba e fazer uma breve escala no Brasil, Chávez dará início a uma viagem a Rússia, Bielo-Rússia, Irã, Catar e Vietnã.

Autoridades norte-americanas de linha dura que esperavam apelidar a viagem de Chávez de "Circuito Eixo do Mal" podem ter ficado desapontadas ao saberem que a Coréia do Norte foi retirada do roteiro - pelo menos oficialmente.

Mesmo assim, não seria a primeira vez que Chávez reservaria uma surpresa. O negócio é ficar de olho para ver se um tapete vermelho não será desenrolado em Pyongyang. Isso se ele realmente quiser ser criticado, até mesmo - a julgar por um recente artigo de Larry Birns e do Conselho de Assuntos Hemisféricos - por aqueles que normalmente simpatizam com o campo de Chávez.

De qualquer forma, pelo menos duas coisas irritarão o governo dos Estados Unidos. Primeiro, Chávez fará lobby para obter uma cadeira no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) - esta viagem ocorrerá após um verdadeiro safári de caça diplomática a votos, ocorrido duas semanas atrás, no encontro de cúpula da União Africana, em Gâmbia.

Segundo, em Moscou, ele deverá fechar o negócio relativo à compra de 24 (ou mais) jatos de caça Sukhoi, além de assinar um acordo com Vladimir Putin que permitirá que a Rússia envie um militar venezuelano ao espaço.

Mau começo
Alejandro Toledo exibiu um elogiável surto tardio de energia ao apagar das luzes da sua presidência, fazendo pessoalmente um lobby junto a membros do Congresso dos Estados Unidos para que estes apóiem um acordo comercial com o Peru.

Toledo está esperando que essa conversa de último minuto supere a oposição no Congresso norte-americano por parte de parlamentares integrantes de minorias, como Sander Levin, democrata que faz parte do Subcomitê de Questões Comerciais, que está preocupado com os padrões trabalhistas frouxos adotados nos Andes.

Infelizmente, Alan Garcia, que assumirá a presidência na próxima semana (28 de julho), não demonstrou ser uma liderança nessa área, tendo oscilado entre o apoio duvidoso e uma oposição irresoluta. Durante a campanha eleitoral, Garcia se aproveitou das preocupações entre os produtores agrícolas do Peru, ao prometer-lhes revisar o tratado "capítulo por capítulo, e ponto por ponto". Após a sua apertada vitória, ele mudou de idéia, e deu ao seu bloco parlamentar luz verde para a aprovação do acordo. Agora ele está mais uma vez prometendo "renegociar" partes do acordo.

A idéia de que Washington retomará as conversações e modificará cláusulas acordadas ou é tremendamente ingênua ou deliberadamente enganosa. O governo que tomará posse tem reclamado do fato de a administração Toledo ter passado adiante "bombas-relógio" com cujas consequências ele terá que arcar.

Garcia poderia neutralizar a possibilidade de que o acordo comercial explodisse no seu rosto ao declarar claramente o seu apoio ao tratado e falar dos benefícios que este trará ao Peru.

Conversa descuidada
As relações entre a Washington de George W. Bush e a La Paz de Evo Morales jamais seriam fáceis. Antes de ser eleito, o sindicalista boliviano radical advertiu que se constituiria em um "pesadelo" para os Estados Unidos.

Mas quando Morales assumiu o governo em janeiro, pareceu haver um aquecimento dessas relações. Tom Shannon, o homem do Departamento de Estado dos Estados Unidos para a América Latina, tomou café-da-manhã com Morales na mesa da cozinha do presidente boliviano, em La Paz, e Morales o saudou calorosamente durante o seu discurso no Congresso. Mais tarde Bush telefonou para Morales a fim de cumprimentá-lo pela acachapante vitória eleitoral.

Mas, desde então, as coisas desceram rapidamente ladeira abaixo. Em fevereiro, Donald Rumsfeld, secretário de Defesa dos Estados Unidos, declarou que a eleição de Morales foi "claramente preocupante". Adolfo Franco, administrador-assistente da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês), advertiu, em um depoimento no Congresso no mês passado, que Morales demonstrou "tendências a consolidar poder executivo e a promover reformas potencialmente anti-democráticas".

Os ataques de Morales aos Estados Unidos se tornaram mais freqüentes e graves. Após ter reclamado do fato de Washington não ter fornecido vistos a alguns membros do seu governo, em maio ele afirmou que os Estados Unidos estavam planejando assassiná-lo. No mês passado, Morales acusou a Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) de estar treinando clandestinamente agentes em Santa Cruz de la Sierra, no sudeste da Bolívia.

A decisão de La Paz de "nacionalizar" as vastas reservas de gás da Bolívia não ajudaram o país a conquistar a simpatia de Washington. Mas a piora das relações não pode ser atribuída ao nacionalismo, que pouco afetou as companhias dos Estados Unidos. E tampouco tem muita coisa a ver com os temores relativos à desaceleração da erradicação da coca, a matéria-prima para a fabricação da cocaína. Autoridades norte-americanas admitem reservadamente que, como a maior parte da cocaína boliviana é destinada ao Brasil e à Europa, ela é menos problemática para Washington do que a produção colombiana.

Em vez disso, a oportunidade perdida, prometida pelo café-da-manhã de Shannon com Morales, deve-se à miopia ideológica e à conversa fiada. Tanto Washington quanto La Paz têm as suas próprias razões domésticas para atacarem um ao outro, e ambos preferiram adotar uma linha dura em vez de um acordo.

A paranóia de Morales provavelmente é intensificada pelo seu relacionamento cada vez mais estreito com Hugo Chávez, o loquaz líder venezuelano que, freqüentemente, circulou com bazófia pela Bolívia, desde que este país se inclinou para o seu "eixo do bem".

O foco exclusivo de Bush no comércio como a única forma de se relacionar com a América Latina poderá ser um tiro pela culatra na Bolívia. O governo norte-americano deixou claro que não não prorrogará para além deste ano as preferências tarifárias atualmente desfrutadas pelo país mais pobre da América do Sul. O objetivo disso é persuadir La Paz a seguir uma rota mais amigável para com o mercado - mas o resultado poderá ser um acirramento do sentimento anti-americano.

Morales pediu formalmente aos Estados Unidos que prorrogassem as preferências por mais um ano, algo que parece que Washington se recusará a fazer. Isso poderá possibilitar a Morales apontar um outro dedo acusador para o governo Bush quando a indústria boliviana começar a sofrer.

Usurpação de poder por Kirchner?
A mais notável das controvérsias referentes aos novos poderes propostos pelo presidente Nestor Kirchner diz respeito ao pouco esforço feito pelo líder argentino para justificar a reforma e ao tempo que ele dedica a atacar os seus críticos. Na semana passada, Kirchner foi "afligido" pelo oposicionista "Partido Radical", pelo jornal conservador "La Nación" e por outros setores.
Mesmo assim, as reformas têm sido justificadas de forma bastante suave como sendo "uma colocação das coisas em ordem".

Em um nível superficial, pelo menos, as leis dão motivo genuíno para preocupações. Aceito rapidamente pelo Senado na semana passada, e destinada a ser aprovada pela Câmara, talvez já na próxima quarta-feira, o projeto de lei permite ao executivo alterar o orçamento sem a aprovação do Congresso.

Outras novas leis aumentam o poder do governo para utilizar decretos executivos emergenciais. Parecem haver poucas justificativas para isso. Por exemplo, a crise econômica que justificou o curto-circuito orçamentário original (promovido em abril de 2001, por iniciativa de Domingo Cavallo) acabou há muito tempo. Ao contrário, seguindo o espírito da controversa lei do início deste ano que reduz a independência do judiciário, o novo projeto de lei só faz aumentar a preocupação com a possibilidade de que o objetivo de Kirchner seja a ampliação dos seus poderes.

Um novo ministro da Defesa na Colômbia
Juan Manuel Santos está se preparando para passar o seu primeiro dia atrás da mesa de trabalho como ministro da Defesa do presidente Alvaro Uribe, em Bogotá.

Santos assume o timão do Ministério da Defesa - provavelmente a pasta mais importante dentre os ministérios colombianos - como uma recompensa pelo seu papel de ponta em duas campanhas políticas cruciais: a que resultou na recente vitória esmagadora de Uribe na corrida pela reeleição, e, em março, aquela referente às eleições que conferiram ao presidente um controle considerável sobre o parlamento.

No passado, Santos se revelou um crítico contundente de Chávez, argumentando que o líder venezuelano representa uma ameaça à segurança nacional da Colômbia, tanto devido ao fato de adquirir armamentos, quanto pelas ambições internacionais ostensivas do presidente da Venezuela. Militares colombianos de linha dura provavelmente reforçaram tais pontos de vista.

Mas Santos é um político perspicaz e extremamente leal ao presidente. Uribe deu a entender que o que melhor atende ao interesse nacional da Colômbia , apesar dos temores, é uma postura pragmática com relação à Chávez, e não os ataques contra o presidente venezuelano.

591) L'Affaire Dreyfus: cem anos depois

Dossiê no Observatório da Imprensa, 19 de julho de 2006

CASO DREYFUS
A batalha na imprensa, 100 anos depois
Por Leneide Duarte-Plon, de Paris em 18/7/2006

Um século depois da reabilitação pela Corte Suprema, Jacques Chirac, em nome da Republique Française prestou uma homenagem forte e simbólica a Alfred Dreyfus (1859-1935), militar judeu que deu nome ao famoso affaire no qual o papel da imprensa foi decisivo.

A cerimônia da quarta-feira, 12 de julho, ocorreu na Escola Militar, mesmo local onde em 5 de janeiro de 1895 o militar foi publicamente expulso do Exército, depois de ter sua espada quebrada e suas insígnias retiradas. O discurso de Chirac, digno de um humanista do país dos direitos humanos, foi qualificado de magnífico e "muito corajoso" pela ex-ministra Simone Veil, que traçou um paralelo entre a atual homenagem a Dreyfus e o discurso de 1995, no Vélodrome d’Hiver, no qual Chirac reconheceu a responsabilidade do Estado francês na deportação dos judeus para os campos de concentração.

Um século depois, a imprensa francesa não está mais dividida. Todos os grandes jornais nacionais noticiaram com grandes reportagens a homenagem a Dreyfus realizada na presença de seus descendentes, dos descendentes de Émile Zola e de Clemenceau.

L’Humanité, o jornal fundado por Jean Jaurès em 1904, que se engajou imediatamente na defesa do capitão, fez um suplemento especial primoroso de oito páginas de entrevistas e matérias de pesquisa. Importante ressaltar que o primo pobre dos cotidianos franceses, o que dispõe de menos recursos humanos e financeiros, sempre ameaçado na sua existência, foi quem melhor se saiu nessa cobertura.

Versões contraditórias
O papel da imprensa no affaire, qualificado por Chirac de "medíocre maquinação", foi destacado no L’Humanité por Christophe Charle, professor da Universidade Paris I, autor de várias obras dedicadas à história social, dos intelectuais, das mentalidades e da imprensa. "Existe um elo entre o nascimento, o desenvolvimento e o fim do affaire Dreyfus e a imprensa", diz o professor. A imprensa era praticamente o único meio de informação e de mobilização da opinião pública na época.

Segundo Charle, antes mesmo que a acusação se tornasse pública houve vazamentos para jornais, dando a entender que o oficial judeu era culpado de alta traição em favor da Alemanha. A imprensa foi manipulada pelos anti-dreyfusards e acionada ativamente pelos dreyfusards numa batalha que teve como momento decisivo o texto de Zola "J’accuse", publicado na primeira página do jornal L’Aurore de janeiro de 1898 [ver remissões abaixo]. Este libelo do célebre romancista marca na história francesa o engajamento do intelectual nas grandes causas e o nascimento do próprio conceito de intelectual como se entende hoje.

O affaire "vendia jornal" e alguns diários tiveram a coragem de tomar posição contra a opinião pública majoritária, até certo momento hostil ou indiferente. Muitos desses jornais perderam leitores, como o Figaro da época.

Chamado de "patriota e oficial exemplar" pelo presidente Chirac, Dreyfus foi vítima de uma época de grandes tensões nacionalistas. Uma tendência dos anti-dreyfusards via na campanha pela revisão do processo "uma manobra dos judeus e dos estrangeiros contra a nação francesa". A tendência pró-revisionista defendia que as irregularidades do primeiro processo e as contradições da versão oficial (ausência de motivo para a traição) justificavam uma revisão num país governado pelo Estado de direito e pelos princípios republicanos.

O nome do jogo

O processo do capitão Dreyfus marcou profundamente a vida política e intelectual francesa do fim do século 19 e início do século 20. Segundo os historiadores, os dreyfusards viam na resistência à revisão uma estratégia da extrema-direita e de parte dos republicanos, num pacto direitista no sentido de estabelecer um governo do tipo bonapartista militarista, sob a desculpa de defender as forças armadas. A maioria dos jornais se engajou nessa linha até a revisão do processo defendida entre 1898 e 1899. Em 1898, foi criada a Liga dos Direitos Humanos.

Charle estima que a imprensa não foi o único, mas um dos instrumentos de ação e de mobilização política, somando-se às manifestações públicas de defesa republicana, às petições e à ação da recém-fundada Liga dos Direitos Humanos. "O que há de original no affaire é a combinação de todas as formas de luta e de tentativa de mobilizar a opinião pública porque os obstáculos para atingir a opinião dominante eram enormes."

Como conclusão, Christophe Charle diz:
"Não era a liberdade de opinião que estava em jogo mas o poder das instituições, dos lobbies e dos movimentos antidemocráticos que podem corromper o espírito público e a deontologia de uma parte da imprensa para vender jornal ou bajular o povo nos seus instintos mais primitivos. Testemunha disso é a extrema violência do tom e dos ataques contra figuras como Zola, Jaurès, Joseph Reinach, sem falar nas tentativas de assassinato e dos numerosos duelos".

Exposição
O Museu de Arte e de História do Judaísmo, em Paris, apresenta até o dia 1º de outubro deste ano a mostra "Alfred Dreyfus, o combate pela justiça", que reúne 230 obras e documentos, entre os quais alguns inéditos, a maioria provenientes dos arquivos da família do capitão.

Leia também
100 anos de "Eu Acuso" no ano da crítica – Alberto Dines
Provas falsas e linchamento moral – Giulio Sanmartini

590) Good-bye Clausewitz? (e Hugo Grotius tambem fica pelo caminho...)

Da coluna de "Leisure and Arts" do The Wall Street Journal (certamente o melhor jornal capitalista da atualidade, com o seu confrade britânico Financial Times), desta quarta-feira, 19 de julho de 2006:

BOOKSHELF
The Tribal Way of War
Forget Clausewitz: Nations now fight clans driven by pride, vengeance and martial religiosity.
BY ROBERT D. KAPLAN
The Wall Street Journal, Wednesday, July 19, 2006 12:01 a.m. EDT

While the U.S. spends billions of dollars on sophisticated defense systems, the dime-a-dozen kidnapper and suicide bomber have emerged as the most strategic weapons of war. While we tie ourselves in legal knots over war's acceptable parameters, international law has increasingly less bearing on those whom we fight. And while our commanders declare "force protection" as their highest priority, enemy commanders declare the need for more martyrs. It seems that the more advanced we become, the more at a disadvantage we are in the 21st-century battlefield.

In "Insurgents, Terrorists, and Militias," Richard H. Shultz Jr. and Andrea J. Dew, both of Tufts's Fletcher School, have produced a wise and cogent briefing book about who our enemies are and how to anticipate their field tactics. The problem, they state early on, is that the Pentagon--the product of a rational, science-based Western culture--relies on objective quantification for its analysis. But what happens, the authors ask, if there is nothing to quantify? What happens if the enemy is merely an organic part of the landscape, revealing its features only at the moment of attack? Well, then all we can do is study these "idiosyncratic" human landscapes and use anthropology to improve our intelligence assessments.

Forget Karl von Clausewitz's dictum that war is a last resort and circumscribed by the methodical actions and requirements of a state and its army. Forget Hugo Grotius's notion that war should be circumscribed by a law of nations. As the authors remind us, paraphrasing the anthropologist Harry Turney-High: "Tribal and clan chieftains did not employ war as a cold-blooded and calculated policy instrument. . . . Rather, it was fought for a host of social-psychological purposes and desires, which included . . . honor, glory, revenge, vengeance, and vendetta." With such motives, torture and beheadings become part of the normal ritual of war.

Because Mr. Shultz and Ms. Dew take tribes seriously, they don't stereotype them. The whole point of this book is that, because each tribal culture is unique, each will fight in its own way; it is a matter of knowing what a culture is truly capable of once it feels itself threatened. Thus the heart of the book is case studies.

The Somali way of war--so startling to U.S. Army Rangers in Mogadishu in 1993--emerged from Somalia's late-19th-century Dervish movement, on which the country's top warlord, Mohammed Farah Aidid, based his strategy. What the West viewed as fanaticism was merely the Somali proclivity for judging a man's character by his religious conviction and his physical ability to fight without limits. In the Somali worldview, our aversion to killing women and children was a weakness that could be exploited by using noncombatants as human shields. Clearly, the task of anticipating the enemy's tactics requires thinking that goes beyond Western moral categories.

There is no better example of how traditional warrior cultures hold fast in the face of globalization than Chechnya, where cowardice is among the worst of transgressions and a dagger the most prized material item. There is in Chechnya, too, as the authors note, the Sufi proclivity for asceticism and mysticism: the former providing the mental discipline for overcoming physical hardships and the latter for sustaining morale. Furthermore, the Chechens' decentralized, clan-based structure--and their tradition of raiding--help to determine their guerrilla style, which has resulted in lethal hit-and-run tactics by small units on large, conventional Russian forces in the "urban canyons" of Grozny.

It's all in the local history. As one Afghan elder said in the early 1800s: "We are content with discord, we are content with alarms, we are content with blood," but "we will never be content with a master." And so, in the late 1900s, an Afghan mujahedeen commander explained why the Soviet Union lost a war: His men intended to fight to the last man, while the Russians didn't.

As for Iraq, the authors write: "Things could have turned out differently. . . . The traditional Iraqi way of war, and how Iraq fits into the larger global jihad, could have been deduced by U.S. planners" for the sake of a better military outcome. Saddam expanded his military machine by tribalizing it. Rather than eliminate Sunni clan networks, he incorporated them into his bureaucratic system of control. Thus if his army ever disintegrated, the result would be a congeries of Bedouin-like raiding parties, each with a tight social network, reprimitivized for the urban jungle.

Our progressive global culture--with its emphasis on convenience and instant gratification--finds it difficult to cope with such warriors, for whom war is a first resort rather than a last one. And what if a warrior takes command of a large and modernizing nation-state, as Iran's Mahmoud Ahmadinejad has done? We are accustomed to adversarial states with rational goals, like China. In the long run, China may constitute a greater threat to American world leadership than Iran. Yet China is a traditional and, therefore, legitimate power. We will have a serious military competition with the Chinese, but only through miscalculation would we ever fight them. Yet the darkest cloud on the 21st-century horizon is big states whose leaders may simply like to fight. Their reasons are tied up with pride, vengeance and martial religiosity and cannot be gratified through negotiations.

What then should we do? The authors quote Sun Tzu, the fourth-century B.C. Chinese theorist of war: "Know your enemy." This book is a good place to start.

Mr. Kaplan is a national correspondent of The Atlantic Monthly and the author of "Imperial Grunts: The American Military on the Ground." You can buy "Insurgents, Terrorists and Militias" from the OpinionJournal bookstore.

terça-feira, 18 de julho de 2006

589) Assim marcha a integracao: disputas entre Chile e Argentina em torno do gas e da gasolina

Primeiro a Argentina deixou de fornecer ao Chile todo o gás prometido em virtude de acordos bilaterais firmados entre os dois países: como a Argentina tornou-se pouco atrativa para novos investimentos, eles agora não conseguem cumprir os contratos de exportação de gás argentino para a o Chile assinados entre os dois países. Agora a Argentina está mantendo os seus preços de gás estáveis (a despeito do aumento dos preços do gás boliviano) e repassando para o Chile o custo maior, o que constitui sem dúvida alguma uma discriminação.
Agora a Argentina também está discriminando todos os seus vizinhos (Brasil inclusive) querendo cobrar preços diferenciados para a gasolina adquirida em postos argentinos mas por carros estrangeiros, o que é uma violação da regra do tratamento nacional.
Vejam esta duas matérias:

Chile’s Argentine gas bill soars 50 to 75%
Wednesday, 12 July

Chile’s natural gas bill will increase by 130 million US dollars from now until the end of 2006, following Argentina’s decision to leave its domestic prices unchanged and “pass on” to Chile the new Bolivian gas price structure.
According to the recent agreement reached with Bolivia, Argentina will be paying 5 US dollars for every million BTU, which is a significant difference with the domestic market 1.5 US dollars.
According to Chilean sources, Argentina’s natural gas clients will be paying for the “added value”, Chile 90%, and Brazil and Uruguay the remaining 10%.
“This is blatant discrimination: first they discriminate us with the supply of gas, in spite of contracts, and now they discriminate with additional export taxes”, complained a Chilean energy company manager.
Argentina is approaching a presidential election and President Nestor Kirchner dares not introduce reforms to the distorted and highly subsidized domestic energy market.
An average monthly gas bill ranges 46 US dollars in Chile, and 11.5 US dollars every two months in Argentina. Even with considerable proven gas reserves, price distortion in Argentina has discouraged investment in exploration and production, while at subsidized prices demand has rocketed both for home consumption and electricity generation, leaving the system overstretched with limited volumes to honour export contracts.
This week Argentina is scheduled to inform Chile of the new natural gas price structure which will include an export levy equivalent to 1.5 US dollars per million BTU.
This means Chilean distributors will have to pay an additional 50 to 75% with final prices ranging between 3.5 and 4.5 US dollars per million BTU, pumped to the Chilean border.
Apparently three factors will influence the levy and final bill to pay by Chile.
First the Bolivia factor, which means that if Argentine imports from Bolivia reach five million cubic metres per day, Chile will have to pay an additional 110 million US dollars until the end of 2006. However if Argentine imports increase to seven million cubic metres per day, the bill would be 130 million US dollars.
The other two variables are linked to volumes exported, the more gas pumped, the levy can be better diluted among distributors, but if the overall volume is less, the levy will be higher.
Similarly the levy will be adjusted quarterly. This means that if Argentina promises to send 15 million cubic metres per day, at the end of the three months if the volume is below Argentina will collect the difference, but if above target cubic metres are pumped, the adjustment will favour Chilean distributors.
“This is no negotiation: Argentina is plainly informing the Chilean government of the new price structure”, complained a Chilean energy company official. Even with higher prices Argentina is not guaranteeing an improved natural gas provision “which threatens the stability of electricity generation and increases generating costs”.
Chile in the nineties became highly dependent on Argentine gas supply for home consumption and electricity generation.
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Chile furious with Argentina’s “discriminatory” fuel prices
Argentina’s decision to increase fuel prices in frontier areas to vehicles with foreign plates was described Tuesday by Chilean president Michelle Bachelet as “inconceivable” and contrary to the integration path the region pretends.
“Countries can make all possible domestic decisions but we feel this is not a conceivable decision or signaling the right path towards greater integration”, said a disappointed Ms Bachelet adding she will bring up the matter in the coming Mercosur presidential summit next week in Cordoba, Argentina.
“We can’t endorse decisions like these which really are contrary to a greater integration in all fields, trade, tourism, vehicle and people’s movements”, insisted the Chilean president.
Late Monday Chilean Foreign Affairs minister Alejandro Foxley said the Argentine initiative was “discriminatory and contradictory”, particularly when the bilateral relation with Argentina is undergoing a “peak of tension”, following Buenos Aires unilateral decision to impose export fees to the natural gas pumped to Chile.
Mr. Foxley was also irritated because Chilean Mining and Energy minister Karen Poniachik was not informed of the Argentine decision when she visited Buenos Aires last week to talk about natural gas rates and supply.
“We would have expected that minister Poniachik was informed of the decision since it was announced 48 hours later and she wasn’t at all aware of the impending decision”, insisted Mr. Foxley.
“There’s no reasonable explanation to the fact that because you’re Chilean and are visiting Mendoza for the weekend, you must pay double the price of fuel for being in Argentine territory”, said Foxley.
If petty smuggling is the issue, “that’s what Customs, on both sides are for: if there is an illegal trade in fuel, make them pay fuel taxes”, insisted the Chilean official.
“The issue will be considered in the coming Mercosur meeting and further on in the South American Community of Nations”, anticipated President Bachelet.
Meanwhile the president of the Chilean Production and Commerce Chamber Hernan Somerville warned about the “delicate” situation Chile is facing because of its energy dependence on neighbouring countries.
“Chile is not just another partner for Argentina, we’re first class partners and first class partners must be treated with consideration and respect”, underlined Somerville.
The president of the Lower House Foreign Relations Committee, Deputy Jorge Tarud reacted to the decision saying “Chileans should abstain from doing tourism in Argentina as long as the fuel decision is effective”.
Tarud called on other Mercosur members to adopt a similar attitude and if “Brazil, Paraguay and Uruguay join us, surely it will make Argentina think twice and change its mind. Tourism is a big source of income for Argentina”.
The Argentine decision becomes effective at the end of the month. Fuel prices in Chile are double those in Argentina.
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