Um artigo contendo um posicionamento de princípio sobre a espinhosa questão. Depois comento.
As Bases Militares Americanas na Colômbia: Um Presente de Grego
Rodrigo Constantino
11.08.2009
Over grown military establishments are under any form of government inauspicious to liberty, and are to be regarded as particularly hostile to republican liberty.
George Washington
O governo americano deveria retirar suas bases militares instaladas na Colômbia. A idéia de que o governo americano representa a polícia mundial e que, portanto, será o guardião da democracia no planeta é perigosa, e pode ameaçar a própria liberdade no longo prazo. De fato, essa mentalidade vem desde o presidente Woodrow Wilson, e praticamente todos os outros que o sucederam usaram o discurso altruísta para justificar a estratégia expansionista militar. Cruzadas para salvar a civilização são típicas de impérios, como Roma tentando educar os bárbaros, ou a Espanha catequizando os índios, sempre com o uso de muita violência. E medidas imperialistas acabam servindo para limitar a liberdade do próprio povo, assim como oferecem um excelente pretexto para outros governos avançarem sobre a liberdade de seus cidadãos.
Que fique claro o seguinte: a revolução bolivariana patrocinada por Hugo Chávez representa um risco infinitamente maior para as liberdades individuais na América Latina do que as bases militares americanas. Quanto a isso não resta dúvida. Portanto, pode-se descartar toda a retórica do próprio Chávez e demais aliados socialistas: seu discurso é puro jogo de cena para justificar mais medidas totalitárias. Mas esse é justamente o tipo de conseqüência que a medida do governo americano acaba estimulando. O bode expiatório é oferecido de presente pelo governo americano. Todo tirano necessita de um inimigo externo para justificar suas atrocidades domésticas.
Do ponto de vista dos próprios americanos, tal medida deveria ser duramente combatida. O povo é forçado a pagar impostos para sustentar o expansionismo militar de seu governo, que em nome da cruzada pela democracia acaba se metendo em cada canto do planeta, em guerras que custam caro para o pagador de impostos e que ajudam a manchar a imagem dos próprios americanos pelo mundo. Muitos ditadores “amigos” acabam paradoxalmente sendo financiados em nome da defesa da democracia. Grandes impérios sucumbiram justamente por causa de uma extensão excessiva, de uma tentativa de resolver todos os “problemas” da humanidade. O governo americano apresenta déficit fiscal crescente, uma dívida pública astronômica, um modelo de bem-estar social insustentável, e ainda mete a mão no bolso dos cidadãos para bancar o xerife internacional. Tudo isso coloca em xeque o valor do dólar e as liberdades individuais dos próprios americanos. Portanto, o cidadão americano tem todo direito de condenar veementemente as aventuras internacionais de seu governo, que ameaçam sua liberdade.
Do ponto de vista dos latino-americanos defensores da liberdade, essa postura também deve ser criticada, pois oferece combustível ideológico para os inimigos da liberdade. Assim como o embargo americano a Cuba serve até hoje para alimentar uma ditadura assassina, que se faz de vítima indefesa diante do império gigante, essas medidas do governo americano acabam colocando mais lenha na fogueira antiamericana e, por tabela, anticapitalista dos perfeitos idiotas latino-americanos. O tiro sai pela culatra. O tiranete Chávez pode conquistar mais adeptos, e consegue o pretexto perfeito para se armar mais, na verdade contra seu próprio povo. As aventuras do governo americano têm resultado justamente no crescimento do antiamericanismo, sendo o caso do Vietnã o melhor exemplo.
Os libertários precisam deixar claro que condenam essas cruzadas militares de quaisquer governos. Focando mais no curto prazo, e apelando para o pragmatismo do realpolitik, pode-se argumentar que essa postura do governo americano conseguiu evitar que muitos países fossem vítimas do comunismo. O caso coreano é um típico exemplo. Mas devemos perguntar: qual o preço disso para a liberdade no longo prazo? Sacrificar os ideais libertários de não-agressão em nome de resultados imediatos pode ser fatal para a liberdade. O fato é que o governo americano não tem direito algum de forçar os cidadãos americanos a pagar por tais guerras, assim como não deveria ter o direito de realizar doações aos países pobres, que acaba sendo a transferência compulsória de recursos dos pobres americanos para os ricos e politicamente influentes dos países pobres. Cada indivíduo deve ser livre para escolher, e o fato de ser uma democracia não justifica de forma alguma a escravidão dos que se opõem. Afinal, isso seria apenas uma ditadura da maioria. Henry David Thoreau ofereceu a melhor crítica libertária a esta tirania, se negando a pagar seus impostos que financiavam uma guerra injusta.
O argumento de que as bases militares objetivam apenas o combate às drogas também é falho. A guerra contra as drogas já foi perdida, tendo custado centenas de bilhões de dólares dos pagadores de impostos, assim como milhares de vidas. Está mais do que na hora dos governos reverem essa estratégia, adotando a legalização das drogas, uma postura tipicamente libertária, já que não cabe ao governo decidir o que cada indivíduo vai consumir. A proibição das drogas é que tem permitido o crescimento de grupos criminosos como as FARC, assim como foi a Lei Seca que pariu os mafiosos como Al Capone. Se o governo americano quisesse realmente combater os criminosos que hoje se armam vendendo drogas ilícitas, a melhor forma seria legalizar estas drogas. Quando a bebida alcoólica foi liberada novamente, os mafiosos sumiram do setor, dando lugar às empresas respeitadas de hoje.
Em resumo, o governo americano deve retirar as bases militares na Colômbia. Não pelo motivo alegado pela esquerda oportunista, que usa o império americano como pretexto para justificar o aumento do totalitarismo doméstico. Mas justamente para evitar esse discurso oportunista. Se a maioria dos latino-americanos desejar realmente o socialismo pregado por Chávez e seus marionetes, então não haverá nada que o governo americano possa fazer para evitar este triste destino. Talvez o povo tenha que sofrer sob um regime socialista para voltar a dar valor à liberdade. Sinceramente, espero que não seja preciso chegar a tanto. Mas entendo que as medidas do governo americano não ajudam nada neste sentido. Pelo contrário: acabam sendo como um presente de grego.
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Meu comentário (PRA):
Se é verdade que o princípio westfaliano da não-intervenção nos assuntos internos dos Estados se aplica, todo e qualquer Estado soberano tem o direito de concluir acordos de cooperação militar com quem quer que seja, e os países "incomodados" com o fato, podem levar o caso, se julgarem que existe uma ameaça qualquer à sua segurança, à consideração do CSNU ou de outra instância apropriada. O que não é possivel é pretender vetar um ato de soberania, que aliás está previsto na Carta da ONU e em outros instrumentos fundacionais do direito internacional.
O Brasil pode pretender, se desejar, assinar um acordo militar com qualquer país, da região e fora dela, e não pode submeter tal decisão à apreciação dos países vizinhos. Poderia até fazê-lo por cortesia, mas não tem nenhuma obrigação nesse sentido.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
terça-feira, 11 de agosto de 2009
1279) O Forum Surreal Mundial está de volta (sem grandes novidades)
Com desculpas iniciais por chamá-los de surrealistas -- mas, sinceramente, não encontro outro qualificativo --, constato que os altermundialistas acabam de acordar de um longo sono feito de silêncio e inatividade (como convém a quem não tem muito o que dizer). Após longa hibernação (não me lembro de ter recebido algum boletim nos últimos meses), chegou hoje (11.08.2009) à minha caixa mais um alerta do incosequente grupo dos opositores da globalização (ou como eles preferem, os propositores de uma globalização solidária).
10 anos do FSM em 2010 [PRA: Puxa, tudo isso, e eles ainda não fizeram nada...]
Em 2010, o Fórum Social Mundial celebrará 10 anos de seu processo. Para marcar a data, o Conselho Internacional do fórum decidiu, em sua última reunião, realizada em maio em Rabat, no Marrocos, que ao longo de todo o próximo ano o processo FSM terá um caráter permanente, com múltiplos eventos em todo o mundo. O CI propõe que o tema da crise global seja o elemento de identidade comum do processo em 2010.
Saiba mais aqui.
Próxima edição do FSM será em Dakar, na África, em 2011 [PRA: Boa sorte...]
A última reunião do Conselho Internacional do FSM, realizada em maio, aprovou a realização do próximo Fórum Social Mundial em Dakar, no Senegal, em 2011. Segundo os organizadores do Fórum Social Africano, a proposta de Dakar tem o apoio de inúmeros movimentos sociais da África, como organizações feministas e centrais sindicais.
Saiba mais aqui.
Fórum Social do Québec acontece entre os dias 9 e 12 de outubro
De 9 a 12 de outubro, acontecerá em Montréal, no Canadá, a segunda edição do Fórum Social do Québec. São esperados mais de seis mil participantes.
Veja mais informações no site do evento.
Confira também a agenda completa de mobilização para o segundo semestre.
FSM Belém 2009 [PRA: Pô, eles estão atrasados, pois o FSM de Belém foi no final de janeiro; acho que estavam com um cansaço amazônico]
Resultado das assembleias
No sexto dia do FSM 2009, o palco central da UFRA (Universidade Federal Rural do Amazonas) reuniu milhares de ativistas e representantes de movimentos e organizações para assembleias temáticas cujas declarações foram apresentadas, ao final, em uma Assembleia das Assembleias.
Para conhecer os resultados, acesse.
[PRA: A que eu mais gostei foi da assembleia sobre a crise da civilização ocidental capitalista; significa que as sociedades não ocidentais e não capitalistas estão a salvo da crise, e vão muito bem de vida. Na verdade essa assembleia remete a uma declaração de povos indígenas; bem, quem não for indígena, não tem jeito, entra na crise...]
Cobertura da mídia
O FSM 2009 recebeu mais de 800 veículos de 30 países. Cerca de 2500 jornalistas e profissionais de mídia estiveram em Belém e outros 2000 cobriram o Fórum a distância.
Veja um clipping do que foi publicado na internet aqui.
Escritório FSM - Brasil
Endereço: Rua General Jardim, 660, 7º andar, São Paulo - SP- Brasil, Cep: 01223-010
email
Site
Pela transcrição gratuíta (não precisa agradecer)
Paulo Roberto de Almeida
10 anos do FSM em 2010 [PRA: Puxa, tudo isso, e eles ainda não fizeram nada...]
Em 2010, o Fórum Social Mundial celebrará 10 anos de seu processo. Para marcar a data, o Conselho Internacional do fórum decidiu, em sua última reunião, realizada em maio em Rabat, no Marrocos, que ao longo de todo o próximo ano o processo FSM terá um caráter permanente, com múltiplos eventos em todo o mundo. O CI propõe que o tema da crise global seja o elemento de identidade comum do processo em 2010.
Saiba mais aqui.
Próxima edição do FSM será em Dakar, na África, em 2011 [PRA: Boa sorte...]
A última reunião do Conselho Internacional do FSM, realizada em maio, aprovou a realização do próximo Fórum Social Mundial em Dakar, no Senegal, em 2011. Segundo os organizadores do Fórum Social Africano, a proposta de Dakar tem o apoio de inúmeros movimentos sociais da África, como organizações feministas e centrais sindicais.
Saiba mais aqui.
Fórum Social do Québec acontece entre os dias 9 e 12 de outubro
De 9 a 12 de outubro, acontecerá em Montréal, no Canadá, a segunda edição do Fórum Social do Québec. São esperados mais de seis mil participantes.
Veja mais informações no site do evento.
Confira também a agenda completa de mobilização para o segundo semestre.
FSM Belém 2009 [PRA: Pô, eles estão atrasados, pois o FSM de Belém foi no final de janeiro; acho que estavam com um cansaço amazônico]
Resultado das assembleias
No sexto dia do FSM 2009, o palco central da UFRA (Universidade Federal Rural do Amazonas) reuniu milhares de ativistas e representantes de movimentos e organizações para assembleias temáticas cujas declarações foram apresentadas, ao final, em uma Assembleia das Assembleias.
Para conhecer os resultados, acesse.
[PRA: A que eu mais gostei foi da assembleia sobre a crise da civilização ocidental capitalista; significa que as sociedades não ocidentais e não capitalistas estão a salvo da crise, e vão muito bem de vida. Na verdade essa assembleia remete a uma declaração de povos indígenas; bem, quem não for indígena, não tem jeito, entra na crise...]
Cobertura da mídia
O FSM 2009 recebeu mais de 800 veículos de 30 países. Cerca de 2500 jornalistas e profissionais de mídia estiveram em Belém e outros 2000 cobriram o Fórum a distância.
Veja um clipping do que foi publicado na internet aqui.
Escritório FSM - Brasil
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Paulo Roberto de Almeida
1278) Direito Agrario, Xico Graziano
DIREITO AGRÁRIO
Xico Graziano - AgroBrasil
O Estado de S. Paulo, terça-feira, 11 de Agosto de 2009
O Direito Agrário nasce na Roma antiga. As questões relativas à posse e ao uso da terra acabam consolidando um capítulo especial da ciência jurídica. Nele reside a função social da propriedade rural. Teoria da reforma agrária.
Os primeiros relatos sobre conflitos agrários vêm da Grécia antiga. Licurgo, legislador de Esparta, pioneiramente reparte as terras, inaugurando um Estado militar, escravocrata e comunista. Invenção misturada da História.
Entre os séculos 5º e 1º a. C., na expansão da Roma republicana, as terras do Lácio são confiscadas e transformadas em ager publicus, passíveis de ser arrendadas aos cidadãos romanos. Desse processo brotam os inúmeros conflitos com os patrícios, a população nativa. Instala-se o latifúndio escravista típico do Império Romano.
A gênese do Direito Agrário brasileiro se encontra na legislação portuguesa sobre as sesmarias. Inventado em 1375 por dom Fernando I, o Formoso, o sistema de dação aos súditos de fatias de terras das colônias visava a assegurar o abastecimento de Portugal. Origem das capitanias hereditárias.
O Brasil foi dividido em 12 faixas de terra, com direito de colonização e exploração cedido aos súditos da Coroa. O sistema de hereditariedade acabou em 1759, nas reformas do marquês de Pombal. Em 1822, com a Independência, desmorona o sistema sesmarial, substituído mais tarde, em 1850, pela Lei de Terras.
Aqui começa a verdadeira história da propriedade privada no Brasil. A nova lei, de inspiração republicana, passa a regular a compra e venda de glebas, bem como a discriminação e destinação das terras devolutas. Estas, fora do domínio de particular, nem ocupadas por posses ou uso público, eram as terras de ninguém.
Quase um século mais tarde, na Constituição de 1946, o Direito Agrário incorpora a desapropriação por interesse social, distinguindo-a da utilidade pública, esta adequada às intervenções urbanas. A reforma agrária entra na pauta política, prevendo a justa distribuição da propriedade rural. Somente em novembro de 1964, porém, vinga o Estatuto da Terra. Nele se explicita o conceito fundamental da reforma agrária: a função social da propriedade rural. O que significa isso?
Significa que a terra deve ser palco da produção, gerando emprego e renda. Não pode, portanto, ficar ociosa, desocupada, servindo à especulação. Terra de justo trabalho, base do progresso. A propriedade produtiva opõe-se ao latifúndio ocioso.
O texto legal, porém, estabelece ainda que deve a exploração fundiária servir à qualidade de vida e preservar o meio ambiente. E afirma que todos esses requisitos, de produção e bem-estar social, devem ser atendidos simultaneamente, quer dizer, uma fazenda não pode obter elevada produtividade, por exemplo, à custa do trabalho escravo. Muito bem.
Quando uma propriedade rural cumpre sua função social, está quite com a sociedade. Parabéns. Ao contrário, se ela explora mal a terra, degradando-a ou gerando conflitos trabalhistas, seu destino poderá ser a desapropriação, por interesse social, para fins de reforma agrária. Vira um assentamento.
Assim se estabelecem, entre tantos, os princípios da produção justa e da reforma agrária no Direito Agrário brasileiro. Uma propriedade rural é impelida a ser produtiva, senão poderá ser desapropriada. A função social, claramente, portanto, limita o direito de propriedade. A regra vale para o campo, não atingindo os bens da cidade.
Nenhum industrial, nem comerciante, se obriga a obter produtividade mínima. Se ele quiser fechar seu negócio temporariamente, para aguardar melhor oportunidade de mercado, ou reduzir a produção por qualquer motivo, que seja esconder o jogo do genro interesseiro, jamais alguém o questionará por isso. Problema deles.
Na roça, não. O fazendeiro precisa garantir boa produtividade, além de cumprir a legislação trabalhista e ambiental, sob pena de perder a terra. O Direito Agrário, neste caso, opõe-se à lógica econômica capitalista. Mesmo enfrentando uma crise de rentabilidade, altamente endividado, fica impedido o agronegócio de baixar seu ritmo. Desleixar na produtividade pode provocar-lhe uma vistoria do Incra.
Uma razão moral e religiosa, ademais, justifica a função social no campo. Ao contrário da indústria, erigida pelo capital e pelo trabalho humano, a propriedade rural institui-se sobre uma gleba apropriada da natureza. No início da colonização, tomada de graça dos povos primitivos. Claro, para ser produtiva, investimentos se fazem necessários. Mas a parcela de terra, propriamente, ninguém a edificou. Dádiva divina.
Nessa contradição sobre o direito da propriedade rural se esconde o conflito básico da questão agrária. Primeiro, na comprovação técnica sobre o cumprimento da função social da terra. O modo de cálculo, o tempo considerado, a vistoria tendenciosa, tudo influencia a conta oficial. Segundo, nas estripulias dos sem-terra, que, julgando a seu valor, decidem invadir uma fazenda, forçando sua desapropriação. Fazem justiça com as próprias mãos. Violência na certa.
Neste 11 de agosto se comemora o Direito brasileiro. Os estudantes divertem-se nos bares, curtindo a "pindura". Alguns malandros no campo, é verdade, fazem dívidas para nunca as honrar. Mas os agricultores brasileiros não querem dar o cano em ninguém. Carecem, isso sim, de apoio para solucionar seus problemas, gerados no mercado globalizado, sem reforçar sua antiga imagem de latifundiários. Procuram saídas dentro da lei, modernas, democráticas.
Que o Direito Agrário se afirme nos tribunais, com advogados isentos e competentes. Ajuda a trazer paz no campo.
Xico Graziano - AgroBrasil
O Estado de S. Paulo, terça-feira, 11 de Agosto de 2009
O Direito Agrário nasce na Roma antiga. As questões relativas à posse e ao uso da terra acabam consolidando um capítulo especial da ciência jurídica. Nele reside a função social da propriedade rural. Teoria da reforma agrária.
Os primeiros relatos sobre conflitos agrários vêm da Grécia antiga. Licurgo, legislador de Esparta, pioneiramente reparte as terras, inaugurando um Estado militar, escravocrata e comunista. Invenção misturada da História.
Entre os séculos 5º e 1º a. C., na expansão da Roma republicana, as terras do Lácio são confiscadas e transformadas em ager publicus, passíveis de ser arrendadas aos cidadãos romanos. Desse processo brotam os inúmeros conflitos com os patrícios, a população nativa. Instala-se o latifúndio escravista típico do Império Romano.
A gênese do Direito Agrário brasileiro se encontra na legislação portuguesa sobre as sesmarias. Inventado em 1375 por dom Fernando I, o Formoso, o sistema de dação aos súditos de fatias de terras das colônias visava a assegurar o abastecimento de Portugal. Origem das capitanias hereditárias.
O Brasil foi dividido em 12 faixas de terra, com direito de colonização e exploração cedido aos súditos da Coroa. O sistema de hereditariedade acabou em 1759, nas reformas do marquês de Pombal. Em 1822, com a Independência, desmorona o sistema sesmarial, substituído mais tarde, em 1850, pela Lei de Terras.
Aqui começa a verdadeira história da propriedade privada no Brasil. A nova lei, de inspiração republicana, passa a regular a compra e venda de glebas, bem como a discriminação e destinação das terras devolutas. Estas, fora do domínio de particular, nem ocupadas por posses ou uso público, eram as terras de ninguém.
Quase um século mais tarde, na Constituição de 1946, o Direito Agrário incorpora a desapropriação por interesse social, distinguindo-a da utilidade pública, esta adequada às intervenções urbanas. A reforma agrária entra na pauta política, prevendo a justa distribuição da propriedade rural. Somente em novembro de 1964, porém, vinga o Estatuto da Terra. Nele se explicita o conceito fundamental da reforma agrária: a função social da propriedade rural. O que significa isso?
Significa que a terra deve ser palco da produção, gerando emprego e renda. Não pode, portanto, ficar ociosa, desocupada, servindo à especulação. Terra de justo trabalho, base do progresso. A propriedade produtiva opõe-se ao latifúndio ocioso.
O texto legal, porém, estabelece ainda que deve a exploração fundiária servir à qualidade de vida e preservar o meio ambiente. E afirma que todos esses requisitos, de produção e bem-estar social, devem ser atendidos simultaneamente, quer dizer, uma fazenda não pode obter elevada produtividade, por exemplo, à custa do trabalho escravo. Muito bem.
Quando uma propriedade rural cumpre sua função social, está quite com a sociedade. Parabéns. Ao contrário, se ela explora mal a terra, degradando-a ou gerando conflitos trabalhistas, seu destino poderá ser a desapropriação, por interesse social, para fins de reforma agrária. Vira um assentamento.
Assim se estabelecem, entre tantos, os princípios da produção justa e da reforma agrária no Direito Agrário brasileiro. Uma propriedade rural é impelida a ser produtiva, senão poderá ser desapropriada. A função social, claramente, portanto, limita o direito de propriedade. A regra vale para o campo, não atingindo os bens da cidade.
Nenhum industrial, nem comerciante, se obriga a obter produtividade mínima. Se ele quiser fechar seu negócio temporariamente, para aguardar melhor oportunidade de mercado, ou reduzir a produção por qualquer motivo, que seja esconder o jogo do genro interesseiro, jamais alguém o questionará por isso. Problema deles.
Na roça, não. O fazendeiro precisa garantir boa produtividade, além de cumprir a legislação trabalhista e ambiental, sob pena de perder a terra. O Direito Agrário, neste caso, opõe-se à lógica econômica capitalista. Mesmo enfrentando uma crise de rentabilidade, altamente endividado, fica impedido o agronegócio de baixar seu ritmo. Desleixar na produtividade pode provocar-lhe uma vistoria do Incra.
Uma razão moral e religiosa, ademais, justifica a função social no campo. Ao contrário da indústria, erigida pelo capital e pelo trabalho humano, a propriedade rural institui-se sobre uma gleba apropriada da natureza. No início da colonização, tomada de graça dos povos primitivos. Claro, para ser produtiva, investimentos se fazem necessários. Mas a parcela de terra, propriamente, ninguém a edificou. Dádiva divina.
Nessa contradição sobre o direito da propriedade rural se esconde o conflito básico da questão agrária. Primeiro, na comprovação técnica sobre o cumprimento da função social da terra. O modo de cálculo, o tempo considerado, a vistoria tendenciosa, tudo influencia a conta oficial. Segundo, nas estripulias dos sem-terra, que, julgando a seu valor, decidem invadir uma fazenda, forçando sua desapropriação. Fazem justiça com as próprias mãos. Violência na certa.
Neste 11 de agosto se comemora o Direito brasileiro. Os estudantes divertem-se nos bares, curtindo a "pindura". Alguns malandros no campo, é verdade, fazem dívidas para nunca as honrar. Mas os agricultores brasileiros não querem dar o cano em ninguém. Carecem, isso sim, de apoio para solucionar seus problemas, gerados no mercado globalizado, sem reforçar sua antiga imagem de latifundiários. Procuram saídas dentro da lei, modernas, democráticas.
Que o Direito Agrário se afirme nos tribunais, com advogados isentos e competentes. Ajuda a trazer paz no campo.
1277) Um intercambio sobre a Petrobras
A propósito deste post, já antigo:
Terça-feira, 9 de Dezembro de 2008
963) Uma opiniao radical contra a Petrobras
Recebi este comentário:
Luiz disse...
Ou esse cara é um total desinformado, que não tem a menor idéia do que está falando, ou é alguém pago pelas multinacionais que querem terminar de privatizar a Petrobrás para poder comprá-la. Essa campanha de difamação contra a Petrobrás está beirando o ridículo. Me surprende alguém de nome reconhecido nacionalmente, como Paulo Roberto de Almeida, ajudar a difundir os argumentos anti-Brasil dessa gente.
Terça-feira, Agosto 11, 2009 11:09:00 AM
Respondi assim:
Paulo R. de Almeida disse...
Luiz.... (creio que voce prefere ficar anônimo, o que é uma pena),
Não há por que ficar surpreendido. Um nome reconhecido nacionalmente (o que é certamente um exagero) como o meu não tem nenhum assunto tabu, justamente, abordando quase todos os assuntos de interesse público de maneira aberta e transparente. A Petrobras, ao que me consta, não faz parte de nenhum dogma religioso ou assunto intocável. Ela pode e deve, portanto, ser discutida intensamente, desde que de maneira clara, aberta, transparente, tendo como único objetivo o esclarecimento público. Afinal de contas, somos clientes obrigatórios, ainda que involuntários e provavelmente mal informados, dos produtos e serviços da Petrobras. Suponho que qualquer brasileiro bem informado gostaria de saber porque o preço da gasolina é esse, e não outro, porque não temos esclarecimentos plenos sobre a forma pela qual a Petrobrás adota suas decisões, etc.
Falar de complô estrangeiro para privatizar a Petrobras revela velhas teorias conspiratórias que seriam patéticas se não fossem ridiculas. E ainda que fosse esse o objetivo, não vejo qual seria o problema de discuti-lo. Muitos paises NÃO possuem empresas estatais de petróleo, e nem por isso são refens de outros, ou tem menor situação de bem estar.
O preconceito contra empresas privadas revela apenas um viés estatizante que não combina com o mundo moderno.
Se empresas estatais fossem sinais de pujança e prosperidade, os países socialistas seriam potências econômicas, e não o desastre que foram...
Paulo Roberto de Almeida
11.08.2009
Terça-feira, Agosto 11, 2009 11:34:00 AM
Terça-feira, 9 de Dezembro de 2008
963) Uma opiniao radical contra a Petrobras
Recebi este comentário:
Luiz disse...
Ou esse cara é um total desinformado, que não tem a menor idéia do que está falando, ou é alguém pago pelas multinacionais que querem terminar de privatizar a Petrobrás para poder comprá-la. Essa campanha de difamação contra a Petrobrás está beirando o ridículo. Me surprende alguém de nome reconhecido nacionalmente, como Paulo Roberto de Almeida, ajudar a difundir os argumentos anti-Brasil dessa gente.
Terça-feira, Agosto 11, 2009 11:09:00 AM
Respondi assim:
Paulo R. de Almeida disse...
Luiz.... (creio que voce prefere ficar anônimo, o que é uma pena),
Não há por que ficar surpreendido. Um nome reconhecido nacionalmente (o que é certamente um exagero) como o meu não tem nenhum assunto tabu, justamente, abordando quase todos os assuntos de interesse público de maneira aberta e transparente. A Petrobras, ao que me consta, não faz parte de nenhum dogma religioso ou assunto intocável. Ela pode e deve, portanto, ser discutida intensamente, desde que de maneira clara, aberta, transparente, tendo como único objetivo o esclarecimento público. Afinal de contas, somos clientes obrigatórios, ainda que involuntários e provavelmente mal informados, dos produtos e serviços da Petrobras. Suponho que qualquer brasileiro bem informado gostaria de saber porque o preço da gasolina é esse, e não outro, porque não temos esclarecimentos plenos sobre a forma pela qual a Petrobrás adota suas decisões, etc.
Falar de complô estrangeiro para privatizar a Petrobras revela velhas teorias conspiratórias que seriam patéticas se não fossem ridiculas. E ainda que fosse esse o objetivo, não vejo qual seria o problema de discuti-lo. Muitos paises NÃO possuem empresas estatais de petróleo, e nem por isso são refens de outros, ou tem menor situação de bem estar.
O preconceito contra empresas privadas revela apenas um viés estatizante que não combina com o mundo moderno.
Se empresas estatais fossem sinais de pujança e prosperidade, os países socialistas seriam potências econômicas, e não o desastre que foram...
Paulo Roberto de Almeida
11.08.2009
Terça-feira, Agosto 11, 2009 11:34:00 AM
1276) Ex-ministro do STF Paulo Brossard sobre o Tratado de Itaipu
...e o acordo (ainda não totalmente desvendado) com o Paraguai.
A cartola mágica
Paulo Brossard - * Jurista, ministro aposentado do STF*
02.08.2009
Semana passada foi fartamente divulgado que "O Brasil cede em Itaipu para beneficiar Lugo". Ficou-se sabendo que seu presidente permitirá que o Paraguai venda livremente sua cota de energia de Itaipu no mercado brasileiro, quando pelo Tratado estava estipulado que a sobra não utilizada seria vendida à Eletrobrás.
É de notar-se, outrossim, que os consumidores brasileiros, em suas tarifas de luz, pagam ao Paraguai cerca de US$ 200 milhões a título de royalties. A proposta do presidente da República foi entregue ao governo paraguaio pelo nosso embaixador em Assunção e, segundo o governo, dispensaria ser submetida a exame do Congresso.
Ocorre que o presidente se permitiu alterar cláusula do Tratado, quando este, entrando em vigor, se incorporou ao acervo legislativo do país.É lei. De certa forma a iniciativa era suspeitada, depois da sujeição aos abusos de Chávez da Venezuela, de Morales da Bolívia e de Correa do Equador.
Ninguém ignora que o presidente tem sido generoso com seus hermanos e entre eles é cortejado. Mas, no caso, há uma particularidade extremamente grave. Ao oferecer o que ofereceu a D. Lugo, o presidente Luiz Inácio pretendeu doar o que lhe não pertence, mas ao Brasil, e pretendeu dispor de cláusulas de um Tratado que, ratificado e promulgado, passou a fazer parte do direito positivo nacional, que o presidente não pode revogar a seu arbítrio; configura o que se chama "crime de responsabilidade".
O fato em sua seca objetividade estampa que o presidente da República se permitiu, para mimosear o país vizinho, alterar unilateralmente o Tratado de Itaipu, em pontos maiores ou menores, pouco importa; o valor pago pela cessão de energia aumentará de US$ 120,3 milhões para US$ 360 milhões, e o Estado que custeou fartamente a construção da Usina se obriga a criar um fundo binacional e ao financiamento de uma linha de transmissão de Itaipu a Assunção, orçada em US$ 450 milhões.
O presidente não pode fazer o que fez. Assim procedendo igualou o Brasil a países em que a ordem legal não tem qualquer valor.
Ainda mais! D. Lugo se contentará com o presente ou, digerido o regalo, voltará a reclamar o que lhe foi indeferido? Pode ser que sim, pode ser que não. Contudo, a posição do Brasil ficou debilitada. E o que é mais escabroso, porque quebrou a fé de um contrato. É um mau passo.
Há mais, foi dito sem meias palavras que, se não atendido, D. Lugo não terminaria o mandato. É exato "Não é exato" Não posso responder. O que me parece indúbio é que o presidente não beneficia o Brasil, com sua generosa complacência.
Amigos do governo apressaram-se em acentuar que as inovações com que o Paraguai foi aquinhoado não alteraram o Tratado! Se os presentes oferecidos e aceitos não saíram do Tratado, teriam saído da cartola do Mágico?
O presidente da República continua a distribuir presentes a seus confrades à custa de valores nacionais. O último ato de munificência é expressivo. O presidente pode fazer isso? Ele pode revogar dispositivo de lei federal? Ninguém o diria. Desenganadamente, não pode.
Faz mais de 80 anos Assis Brasil encerrou sua existência na placidez de Pedras Altas. Como sói acontecer, foi caindo uma cortina de silêncio em relação à sua figura de múltiplas faces. Faz algum tempo, foi ressuscitando. O Senado publicou suas obras principais. O Itamaraty divulgou sua correspondência diplomática.
Nesta semana será lançado, no Memorial do Rio Grande do Sul, um livro diferente a seu respeito, O Senhor do Castelo - Sonhos e Memórias do Pampa. Um livro de fotografias selecionadas por Carmen Aita e Tonico Alvares, com a colaboração de Sylvia Bojunga e Omar de Barros Filho, que lembram a figura do polígrafo e político eminente.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
(Manuel Alegre)
A cartola mágica
Paulo Brossard - * Jurista, ministro aposentado do STF*
02.08.2009
Semana passada foi fartamente divulgado que "O Brasil cede em Itaipu para beneficiar Lugo". Ficou-se sabendo que seu presidente permitirá que o Paraguai venda livremente sua cota de energia de Itaipu no mercado brasileiro, quando pelo Tratado estava estipulado que a sobra não utilizada seria vendida à Eletrobrás.
É de notar-se, outrossim, que os consumidores brasileiros, em suas tarifas de luz, pagam ao Paraguai cerca de US$ 200 milhões a título de royalties. A proposta do presidente da República foi entregue ao governo paraguaio pelo nosso embaixador em Assunção e, segundo o governo, dispensaria ser submetida a exame do Congresso.
Ocorre que o presidente se permitiu alterar cláusula do Tratado, quando este, entrando em vigor, se incorporou ao acervo legislativo do país.É lei. De certa forma a iniciativa era suspeitada, depois da sujeição aos abusos de Chávez da Venezuela, de Morales da Bolívia e de Correa do Equador.
Ninguém ignora que o presidente tem sido generoso com seus hermanos e entre eles é cortejado. Mas, no caso, há uma particularidade extremamente grave. Ao oferecer o que ofereceu a D. Lugo, o presidente Luiz Inácio pretendeu doar o que lhe não pertence, mas ao Brasil, e pretendeu dispor de cláusulas de um Tratado que, ratificado e promulgado, passou a fazer parte do direito positivo nacional, que o presidente não pode revogar a seu arbítrio; configura o que se chama "crime de responsabilidade".
O fato em sua seca objetividade estampa que o presidente da República se permitiu, para mimosear o país vizinho, alterar unilateralmente o Tratado de Itaipu, em pontos maiores ou menores, pouco importa; o valor pago pela cessão de energia aumentará de US$ 120,3 milhões para US$ 360 milhões, e o Estado que custeou fartamente a construção da Usina se obriga a criar um fundo binacional e ao financiamento de uma linha de transmissão de Itaipu a Assunção, orçada em US$ 450 milhões.
O presidente não pode fazer o que fez. Assim procedendo igualou o Brasil a países em que a ordem legal não tem qualquer valor.
Ainda mais! D. Lugo se contentará com o presente ou, digerido o regalo, voltará a reclamar o que lhe foi indeferido? Pode ser que sim, pode ser que não. Contudo, a posição do Brasil ficou debilitada. E o que é mais escabroso, porque quebrou a fé de um contrato. É um mau passo.
Há mais, foi dito sem meias palavras que, se não atendido, D. Lugo não terminaria o mandato. É exato "Não é exato" Não posso responder. O que me parece indúbio é que o presidente não beneficia o Brasil, com sua generosa complacência.
Amigos do governo apressaram-se em acentuar que as inovações com que o Paraguai foi aquinhoado não alteraram o Tratado! Se os presentes oferecidos e aceitos não saíram do Tratado, teriam saído da cartola do Mágico?
O presidente da República continua a distribuir presentes a seus confrades à custa de valores nacionais. O último ato de munificência é expressivo. O presidente pode fazer isso? Ele pode revogar dispositivo de lei federal? Ninguém o diria. Desenganadamente, não pode.
Faz mais de 80 anos Assis Brasil encerrou sua existência na placidez de Pedras Altas. Como sói acontecer, foi caindo uma cortina de silêncio em relação à sua figura de múltiplas faces. Faz algum tempo, foi ressuscitando. O Senado publicou suas obras principais. O Itamaraty divulgou sua correspondência diplomática.
Nesta semana será lançado, no Memorial do Rio Grande do Sul, um livro diferente a seu respeito, O Senhor do Castelo - Sonhos e Memórias do Pampa. Um livro de fotografias selecionadas por Carmen Aita e Tonico Alvares, com a colaboração de Sylvia Bojunga e Omar de Barros Filho, que lembram a figura do polígrafo e político eminente.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
(Manuel Alegre)
1275) Quatro anos de Instituto Millenium
Quatro anos do Instituto Millenium
Patricia Carlos de Andrade
06/08/2009
Deveria começar minhas reflexões sobre os quatro anos do Instituto Millenium mencionando o orgulho que sinto por ter estado à frente, desde sua criação, primeiro como diretora, depois como presidente do conselho de governança, de um instituto que hoje reúne nomes de peso, seja como mantenedores, conselheiros, colaboradores, equipe de trabalho ou leitores de nosso site, cujo número vem crescendo consistentemente.
Mas tenho que confessar que não me sinto verdadeira ao falar de meu orgulho.
Primeiro, porque olhando retrospectivamente, minha contribuição é relativamente pequena. Quase nada poderia ter sido feito sem a atitude sempre determinante de indivíduos que voluntariamente, exatamente como eu, acreditaram na possibilidade de criar um centro de divulgação dos princípios e valores que formam a base das sociedades modernas e avançadas. Indivíduos que acreditaram em seu poder individual de contribuir para o bem público. Se não tivesse sido formado um grupo persistente e trabalhador, desde o primeiro instante, eu mesma já não estaria mais no Millenium, pois foi fundamental a dedicação e determinação de nossos conselheiros, de cada um deles, com trabalho e recursos financeiros, para que eu superasse momentos importantes de desmotivação e frustração e para que o instituto ganhasse solidez como organização.
O segundo motivo é que no período desde os primeiros encontros que resultariam na criação do IM até hoje, houve uma piora significativa do ambiente, em relação à nossa missão e a grande maioria dos valores que defendemos, o que reduz meu orgulho como membro do instituto e como brasileira. Não seria de se esperar que o efeito de nossas atividades se fizesse sentir em tão pouco tempo. Quatro anos é, de qualquer maneira, um período curto diante do projeto ambicioso do instituto. Consolidar a marca, ganhar capacidade de financiamento das atividades, ganhar credibilidade, congregar um grande número de formadores de opinião e mantenedores, abrir espaço em importantes veículos de comunicação, aumentar consistentemente os recursos doados foram conquistas desse período, de todos, e não foram pequenas. Mas, de fato, ninguém pode deixar de sentir que, pelos resultados obtidos, foi pouco.
Como defensora da responsabilidade individual, convido todos a refletirem sobre suas responsabilidades individuais na lentidão em que os resultados palpáveis são alcançados. Temos uma visão de mundo que nos uniu, acreditando que apenas a mudança de mentalidade da população brasileira – com a valorização do estado de direito, da propriedade privada, das liberdades individuas, da responsabilidade individual, da transparência, eficiência, meritocracia, democracia representativa e igualdade de oportunidades e igualdade perante a lei – poderia levar às reformas que sanariam os principais problemas do país, que só se agravam, que afetam a todos nós e comprometem nosso futuro e de nossos descendentes. Mas cabe nos perguntarmos o quanto realmente cada um deu prioridade a ir além das intenções, a trabalhar para fortalecer nossas atividades que dependem muito do compromisso pessoal de dedicação, de participação, de espírito de grupo, que estamos longe de alcançar.
Pode ser que, como indivíduos, cada um de nós tenha feito menos do que poderia. Pode ser que diante de ataques diários e intensos à democracia, ao estado de direito, à economia de mercado e à liberdade, que crescem a cada dia no Brasil e em outros países da América Latina, cada um de nós venha a concluir que poderia e deveria ter feito mais, com trabalho, com recursos, com mobilização de outros para trabalharem e proverem os recursos. Eu, pessoalmente, considero que poderia ter feito mais, não fosse um cansaço diante das dificuldades e frustrações que são inerentes às atividades de think tanks, que exigem trabalho administrativo, no dia a dia do escritório, intelectual, de liderança, de captação de recursos, de criação de redes de relacionamentos, tudo isso sempre com recursos limitados, resultados lentos, alto nível de cobrança e uma dose muito grande de altruísmo. Dificuldades que em outros lugares e para outras pessoas não funcionam como impeditivos, como funcionaram para mim.
Apesar de tudo, no entanto, o Instituto Millenium se fortalece a cada dia, ganha novos mantenedores, novos colaboradores, se profissionaliza, se torna mais e mais conhecido. Só que o desafio também cresceu e o sucesso e necessária aceleração dos resultados produzidos, com forte presença na mídia, influenciando formadores de opinião, trazendo temas importantes para o debate público, atraindo grande número de leitores que se engajem no debate por meio do site, depende do crescimento da aposta de cada um dos que hoje já fazem parte do IM.
O interesse no IM por parte de um público maior não poderá existir se não houver o interesse real daqueles que já se sentem parte do IM, dedicando uma parte significativa de suas atenções, de suas atividades, de seus esforços no sentido daqueles mesmos resultados — levando o nome do IM para diferentes espaços nos meios de comunicação, a que cada um tem acesso como formador de opinião, atraindo novos formadores de opinião, sugerindo temas e participando dos debates, e, muito importante, lendo o site e transformando-o num grande centro de debates, alimentando-o com artigos, comentários de outros artigos, comentários dos temas surgidos na mídia, sugestões, críticas. Só esse espírito de rede poderá criar a identidade de um instituto do qual todos terão orgulho de pertencer e motivação para participar ativamente de seu crescimento e fortalecimento no longo prazo.
Patricia Carlos de Andrade
06/08/2009
Deveria começar minhas reflexões sobre os quatro anos do Instituto Millenium mencionando o orgulho que sinto por ter estado à frente, desde sua criação, primeiro como diretora, depois como presidente do conselho de governança, de um instituto que hoje reúne nomes de peso, seja como mantenedores, conselheiros, colaboradores, equipe de trabalho ou leitores de nosso site, cujo número vem crescendo consistentemente.
Mas tenho que confessar que não me sinto verdadeira ao falar de meu orgulho.
Primeiro, porque olhando retrospectivamente, minha contribuição é relativamente pequena. Quase nada poderia ter sido feito sem a atitude sempre determinante de indivíduos que voluntariamente, exatamente como eu, acreditaram na possibilidade de criar um centro de divulgação dos princípios e valores que formam a base das sociedades modernas e avançadas. Indivíduos que acreditaram em seu poder individual de contribuir para o bem público. Se não tivesse sido formado um grupo persistente e trabalhador, desde o primeiro instante, eu mesma já não estaria mais no Millenium, pois foi fundamental a dedicação e determinação de nossos conselheiros, de cada um deles, com trabalho e recursos financeiros, para que eu superasse momentos importantes de desmotivação e frustração e para que o instituto ganhasse solidez como organização.
O segundo motivo é que no período desde os primeiros encontros que resultariam na criação do IM até hoje, houve uma piora significativa do ambiente, em relação à nossa missão e a grande maioria dos valores que defendemos, o que reduz meu orgulho como membro do instituto e como brasileira. Não seria de se esperar que o efeito de nossas atividades se fizesse sentir em tão pouco tempo. Quatro anos é, de qualquer maneira, um período curto diante do projeto ambicioso do instituto. Consolidar a marca, ganhar capacidade de financiamento das atividades, ganhar credibilidade, congregar um grande número de formadores de opinião e mantenedores, abrir espaço em importantes veículos de comunicação, aumentar consistentemente os recursos doados foram conquistas desse período, de todos, e não foram pequenas. Mas, de fato, ninguém pode deixar de sentir que, pelos resultados obtidos, foi pouco.
Como defensora da responsabilidade individual, convido todos a refletirem sobre suas responsabilidades individuais na lentidão em que os resultados palpáveis são alcançados. Temos uma visão de mundo que nos uniu, acreditando que apenas a mudança de mentalidade da população brasileira – com a valorização do estado de direito, da propriedade privada, das liberdades individuas, da responsabilidade individual, da transparência, eficiência, meritocracia, democracia representativa e igualdade de oportunidades e igualdade perante a lei – poderia levar às reformas que sanariam os principais problemas do país, que só se agravam, que afetam a todos nós e comprometem nosso futuro e de nossos descendentes. Mas cabe nos perguntarmos o quanto realmente cada um deu prioridade a ir além das intenções, a trabalhar para fortalecer nossas atividades que dependem muito do compromisso pessoal de dedicação, de participação, de espírito de grupo, que estamos longe de alcançar.
Pode ser que, como indivíduos, cada um de nós tenha feito menos do que poderia. Pode ser que diante de ataques diários e intensos à democracia, ao estado de direito, à economia de mercado e à liberdade, que crescem a cada dia no Brasil e em outros países da América Latina, cada um de nós venha a concluir que poderia e deveria ter feito mais, com trabalho, com recursos, com mobilização de outros para trabalharem e proverem os recursos. Eu, pessoalmente, considero que poderia ter feito mais, não fosse um cansaço diante das dificuldades e frustrações que são inerentes às atividades de think tanks, que exigem trabalho administrativo, no dia a dia do escritório, intelectual, de liderança, de captação de recursos, de criação de redes de relacionamentos, tudo isso sempre com recursos limitados, resultados lentos, alto nível de cobrança e uma dose muito grande de altruísmo. Dificuldades que em outros lugares e para outras pessoas não funcionam como impeditivos, como funcionaram para mim.
Apesar de tudo, no entanto, o Instituto Millenium se fortalece a cada dia, ganha novos mantenedores, novos colaboradores, se profissionaliza, se torna mais e mais conhecido. Só que o desafio também cresceu e o sucesso e necessária aceleração dos resultados produzidos, com forte presença na mídia, influenciando formadores de opinião, trazendo temas importantes para o debate público, atraindo grande número de leitores que se engajem no debate por meio do site, depende do crescimento da aposta de cada um dos que hoje já fazem parte do IM.
O interesse no IM por parte de um público maior não poderá existir se não houver o interesse real daqueles que já se sentem parte do IM, dedicando uma parte significativa de suas atenções, de suas atividades, de seus esforços no sentido daqueles mesmos resultados — levando o nome do IM para diferentes espaços nos meios de comunicação, a que cada um tem acesso como formador de opinião, atraindo novos formadores de opinião, sugerindo temas e participando dos debates, e, muito importante, lendo o site e transformando-o num grande centro de debates, alimentando-o com artigos, comentários de outros artigos, comentários dos temas surgidos na mídia, sugestões, críticas. Só esse espírito de rede poderá criar a identidade de um instituto do qual todos terão orgulho de pertencer e motivação para participar ativamente de seu crescimento e fortalecimento no longo prazo.
1274) Uma previsao imprevidente: a nao-punicao como norma
Como sabem todos aqueles que me lêem regularmente, sou dado a um tipo de exercício que não tem nada a ver com meu natural racionalista, pessoa ponderada, que normalmente pensa antes de falar uma bobagem qualquer (sim, ninguém está isento de sua cota de besteirol por inadvertência, distração ou ousadia).
Todo final de ano (às vezes atrasado no começo do ano) publico um conjunto de "previsões imprevidentes" cujo único objetivo é exatamente o de desafiar o senso comum e apostar em coisas incomuns, praticamente impossíveis de serem materializadas, apenas para quebrar a placidez bovina dessas astrologias de fundo de quintal, que prometem bons fluídos ao leitor, amor, riqueza e tranquilidade, ao mesmo tempo em que matam artistas de novelas, personalidades do mundo político e distribuem desastres aqui e ali, sem esquecer algum golpe de Estado ou crise econômica...
Enfim, ainda não reuni todas as minhas previsões imprevidentes, mas uma delas está aqui, para consultar a posteriori:
Sábado, 31 de Dezembro de 2005
102) Astrologia diplomática?
Pois bem, agora, meio do ano, vou fazer uma previsão abolutamente séria, que corre o risco de ofender os mais altos magistrados desta Nação feita de bacharéis, juristas e outros cultores do Direito (ainda antes de Rui Barbosa). Ofendendo ou não, vou fazer.
Posso apostar com todos vocês como o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, atualmente deputado federal pelo PT-SP será devidamente absolvido pelo STF da acusação mais grave -- dentre pelo menos 25 outras -- que o alcançou em sua vida adulta e de político a serviço de uma causa (não me perguntem qual...), isto é, a de que ele foi principal beneficiário da quebra de sigilo bancário do humilde caseiro Francenildo.
Vejam bem, eu disse beneficiário, e não o comanditário, ordenador, arquiteto, organizador do nefando ato (que não vai parecer tão horrendo assim a preclaros juizes políticos).
Sim, eles vão recorrer a esse expediente capcioso para dizer que ele não teve nada a ver com isso, ou que pelo menos não há provas cabais de que sabia, por antecipação, e ordenou esse crime, que teria ficado apenas a cargo de zelosos funcionários subordinados, na verdade uma gangue de meliantes focados apenas no poder, sem qualquer escrúpulo ou princípio moral.
Com base nesse desvio de intenção, digamos assim, o referido político poderá ser absolvido, e assim montar a sua campanha ao governo de São Paulo, quando não a vôos mais altos.
E tudo isso com a conivência voluntária -- repito, voluntária -- de juízes políticos, pois eles estão ali para isso mesmo.
Querem apostar comigo?
Sou capaz de apostar um livro meu, pois não tenho posses para apostar mais alto, e sequer tenho condições de contratar advogados se for processado por difamação por tão preclaros magistrados.
Tenho apenas um feeling, e meu feeling me diz que bandidos de alto coturno sempre escapam pela tangente...
É apenas uma percepção, e por isso marco encontro neste mesmo bat-lugar assim que terminar o julgamento...
Paulo Roberto de Almeida
11.08.2009
Todo final de ano (às vezes atrasado no começo do ano) publico um conjunto de "previsões imprevidentes" cujo único objetivo é exatamente o de desafiar o senso comum e apostar em coisas incomuns, praticamente impossíveis de serem materializadas, apenas para quebrar a placidez bovina dessas astrologias de fundo de quintal, que prometem bons fluídos ao leitor, amor, riqueza e tranquilidade, ao mesmo tempo em que matam artistas de novelas, personalidades do mundo político e distribuem desastres aqui e ali, sem esquecer algum golpe de Estado ou crise econômica...
Enfim, ainda não reuni todas as minhas previsões imprevidentes, mas uma delas está aqui, para consultar a posteriori:
Sábado, 31 de Dezembro de 2005
102) Astrologia diplomática?
Pois bem, agora, meio do ano, vou fazer uma previsão abolutamente séria, que corre o risco de ofender os mais altos magistrados desta Nação feita de bacharéis, juristas e outros cultores do Direito (ainda antes de Rui Barbosa). Ofendendo ou não, vou fazer.
Posso apostar com todos vocês como o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, atualmente deputado federal pelo PT-SP será devidamente absolvido pelo STF da acusação mais grave -- dentre pelo menos 25 outras -- que o alcançou em sua vida adulta e de político a serviço de uma causa (não me perguntem qual...), isto é, a de que ele foi principal beneficiário da quebra de sigilo bancário do humilde caseiro Francenildo.
Vejam bem, eu disse beneficiário, e não o comanditário, ordenador, arquiteto, organizador do nefando ato (que não vai parecer tão horrendo assim a preclaros juizes políticos).
Sim, eles vão recorrer a esse expediente capcioso para dizer que ele não teve nada a ver com isso, ou que pelo menos não há provas cabais de que sabia, por antecipação, e ordenou esse crime, que teria ficado apenas a cargo de zelosos funcionários subordinados, na verdade uma gangue de meliantes focados apenas no poder, sem qualquer escrúpulo ou princípio moral.
Com base nesse desvio de intenção, digamos assim, o referido político poderá ser absolvido, e assim montar a sua campanha ao governo de São Paulo, quando não a vôos mais altos.
E tudo isso com a conivência voluntária -- repito, voluntária -- de juízes políticos, pois eles estão ali para isso mesmo.
Querem apostar comigo?
Sou capaz de apostar um livro meu, pois não tenho posses para apostar mais alto, e sequer tenho condições de contratar advogados se for processado por difamação por tão preclaros magistrados.
Tenho apenas um feeling, e meu feeling me diz que bandidos de alto coturno sempre escapam pela tangente...
É apenas uma percepção, e por isso marco encontro neste mesmo bat-lugar assim que terminar o julgamento...
Paulo Roberto de Almeida
11.08.2009
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