Os brasileiros comuns, cidadãos pagadores de impostos como eu e você, não se dão conta da herança maldita que está sendo construída todos os dias, pelas mãos do governo, sob a forma de um endividamento exacerbado, criando uma conta que será paga por esta geração, um pouco mais adiante, e pela geração seguinte (e se calhar pela outra também).
Pessoas comuns não se dão conta que todas essas benesses, concedidas apenas a empresários amigos, serão pagas com o dinheiro arrancado dos seus bolsos. Os próprios empresários contemplados, temporariamente aliviados de seu constrangimento financeiro, não se dão conta que eles também, a categoria como um todo, continuará pagando esses benefícios setoriais e microeconômicos, com maiores custos macroeconômicos e menor eficiência do Estado nos serviços essenciais.
Em última instância, cada vez que o Estado cria um sistema público de financiamento, ele está arrancando, literalmente, da sociedade, os recursos de que necessita para fazer essas bondades setoriais.
As pessoas simplesmente não se dão conta de que o Estado não cria rigorosamente nada, que ele não produz um quilo de riqueza, um grama de valor agregado, que tudo o que ele "entrega" a alguém foi arrancado previamente de outro alguém, vários alguens, e que essas pessoas somos nós, trabalhadores e empresários, produtores de riqueza justamente, os únicos que podem fazer isso.
Quando é que as pessoas vão começar a tomar consciência disso?
Vai demorar um bocado, suponho. Até lá, o Estado vai continuar arrancando dinheiro da sociedade e enganando todo mundo com suas falsas promessas.
Por que as pessoas não acham melhor gastar o seu próprio dinheiro, em lugar de permitir que ele faça um "passeio" pelas mãos do Estado e volte sempre menorzinho, e apenas para as mãos de alguns?
Paulo Roberto de Almeida
Tesouro e BNDES, ligações perigosas
Editorial - O Estado de S.Paulo
13 de julho de 2010
Mais que um fomentador de desenvolvimento econômico, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é hoje uma poderosa arma política na mão do governo. Pode ser usado para uma sadia política de expansão e modernização do sistema produtivo e para a elevação dos indicadores sociais. Mas também pode servir para beneficiar empresários, grupos e setores selecionados de acordo com os interesses políticos de quem chefia o governo. Com desembolsos maiores que os do Banco Mundial, o BNDES administra uma espécie de orçamento paralelo, engordado com recursos do Tesouro Nacional. Esse dinheiro é subsidiado e para transferi-lo o Executivo tem aumentado a dívida bruta do setor público.
Desde o ano passado o BNDES recebeu do Tesouro R$ 180 bilhões para fornecer empréstimos a custo reduzido. Para formalizar a ajuda ao banco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou em 2008 a Medida Provisória 453, convertida em junho do ano seguinte na Lei n.º 11.948. A lei fixa a remuneração devida ao Tesouro e determina uma prestação trimestral de contas ao Congresso. Mas não indica prioridades nem vincula o uso do dinheiro a planos ou programas identificados oficialmente como orientações de governo.
Noutros tempos, mesmo durante o período militar, o contribuinte dispunha de informação bastante clara para relacionar a ação do BNDES às grandes linhas das políticas públicas. O planejamento no atual governo não é muito mais que um conjunto mal costurado de intenções e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é uma colagem meramente improvisada de promessas e planos.
Mais do que em qualquer outro momento, o BNDES pode conduzir suas operações de acordo com critérios próprios ou apenas vagamente relacionados a qualquer ideia de plano governamental. Isso é evidente no relatório trimestral enviado em abril ao Congresso. Há no começo uma referência ao Programa de Sustentação de Investimentos (PSI), lançado pelo governo em junho de 2009 como parte da política antirrecessiva. Mas isso é ação de conjuntura. Pode ser útil, mas não caracteriza planejamento econômico. Dos R$ 32,8 bilhões emprestados para projetos do PAC, R$ 25,6 bilhões, 78%, foram destinados a investimentos da Petrobrás ou com sua participação. O BNDES operou, nesses casos, como canal de transferência de recursos do Tesouro, a custo reduzido, para a estatal.
Um dos projetos incluídos no PAC - e mencionado no relatório - é a implantação, pela Fíbria, de uma linha de produção de celulose branqueada. Essa empresa surgiu quando a Votorantim comprou a Aracruz, em 2009. O empréstimo foi um desdobramento dessa incorporação.
A transação foi possibilitada pelo apoio do BNDES, numa evidente operação de salvamento, justificada, oficialmente, pelo interesse em criar uma empresa líder no mercado mundial, etc. Argumentos de igual valor seriam aplicáveis à prestação de socorro a outras empresas. Pode-se tentar justificar a decisão, mas isso não a torna mais transparente nem menos arbitrária.
O mesmo grau de arbítrio ocorre no uso do Tesouro para reforçar o caixa de um banco estatal. Em fevereiro deste ano, o economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central (BC), alertou para a tentativa de ressurreição de um animal jurássico, a conta movimento, extinta em 1986. Essa conta, criada nos anos 60, permitia a transferência de dinheiro do BC para o Banco do Brasil. Foi uma das causas das enormes pressões inflacionárias observadas no período. Outros especialistas lançaram a mesma advertência nos meses seguintes.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-diretor do BC e ex-presidente do BNDES, chamou a atenção, em artigo publicado na semana passada, para os perigos da recriação da conta movimento, desta vez montada como um canal direto entre o Tesouro e o banco de desenvolvimento. "No fim das contas há uma aterrorizante semelhança entre a versão da conta movimento do Banco do Brasil dos governos militares e a versão atual do governo Lula", escreveu o economista. O governo está criando um ovo de serpente, advertiu. O bicho nascerá nos próximos anos, sob a forma de sérios desequilíbrios, se o ovo não for logo exterminado.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quarta-feira, 14 de julho de 2010
Espioes, burocratas e desperdicio de dinheiro...
Grandes impérios cometem grandes bobagens, como gastar o dinheiro dos contribuintes com perfeitas inutilidades, do tipo espionar os vizinhos e os supostos contendores estratégicos. Grandes ditaduras cometem mais besteiras ainda, pois não precisam prestar contas do dinheiro estatal (arrecadado do público do mesmo jeito) para ninguém.
Durante anos, décadas, URSS e EUA espionaram-se reciprocamente, sem qualquer resultado efetivo que fosse capaz de mudar a história. Até a queda da decadente União Soviética, a CIA ainda pensava que se tratava de uma grande potência, quando era um Estado em estado falimentar, e com sérios problemas alimentares...
Ambos os impérios gastaram dinheiro à toa, para absolutamente nada, pois o que quer que tenham espionado não mudou aquilo que Duroselle chamava de "forças profundas da história". A URSS caminhou inexoravelmente para o brejo, e os EUA, sempre previstos para entrar em declínio irresistível na próxima crise do capitalismo -- com toda a excitação de acadêmicos a esse resoeito -- continuam por ai, desafiando prognósticos e surpreendendo os incautos.
Não que os EUA não façam bobagens, não. Eles fazem, e muitas. Mas, como disse certa vez Winston Churchill, eles terminam fazendo a coisa certa depois de todas as tentativas erradas que empreendem...
Sistemas abertos e flexíveis são auto-corrigíveis. Sistemas fechados e autoritários são capazes de fazer muito mais bobagens, impunemente, até algum grande desastre...
O artigo de Tom Friedman foca nessas ironias da história.
Acho que ele está certo. Por que, diabos, os russos querem espionar coisas, e pagar por elas, que eles poderiam perfeitamente recolher nas universidades e instituições abertas dos EUA?
É preciso ser muito besta para pagar por informações disponíveis livremente.
Enfim, todos os Estados fazem esse tipo de bobagem: acham que um serviço de "inteligência" vai ensinar mais do que a simples observação da realidade.
Mas, para isso, é preciso ter a mente aberta, funcionar sem viseiras mentais.
Certas pessoas tem dificuldades com esse tipo de prática.
Paulo Roberto de Almeida
Op-Ed Columnist
The Spies Who Loved Us
By THOMAS L. FRIEDMAN
The New York Times, July 13, 2010
I was on vacation when the story broke that 11 Russians had been charged as sleeper agents planted in America by Moscow’s spy agency to gather intelligence on the United States and to recruit moles who could gain access to our top secrets. My first reaction was: This may be the greatest gift to America by a foreign country since France gave us the Statue of Liberty. Someone still wants to spy on us! Just when we were feeling down and out, the Russians show up and tell us that it’s still worth briefcases of money to plant people in our think tanks. Subprime crisis or not, some people think we’ve still got the right stuff. Thank you, Vladimir Putin!
Upon reflection, though, it occurred to me that this is actually a good news/bad news story. The good news is that someone still wants to spy on us. The bad news is that it’s the Russians.
Look, if you had told me that we had just arrested 11 Finns who were spying on our schools, then I’d really have felt good — since Finland’s public schools always score at the top of the world education tables. If you had told me that 11 Singaporeans were arrested spying on how our government works, then I’d really have felt good — since Singapore has one of the cleanest, well-run bureaucracies in the world and pays its cabinet ministers $1 million-plus a year. If you had told me that 11 Hong Kong Chinese had been arrested studying how we regulate our financial markets, then I’d really have felt good — since that is something Hong Kong excels at. And if you had told me that 11 South Koreans were arrested studying our high-speed bandwidth penetration, then I’d really have felt good — because we’ve been lagging them for a long time.
But the Russians? Who wants to be spied on by them?
Were it not for oil, gas and mineral exports, Russia’s economy would be contracting even more than it has. Moscow’s most popular exports today are probably what they were under Khrushchev: vodka, Matryoshka dolls and Kalashnikov rifles. No, this whole spy story has the feel of one of those senior tennis tournaments — John McEnroe against Jimmy Connors, long after their primes — or maybe a rematch between Floyd Patterson and Sonny Liston in their 60s. You almost want to avert your eyes.
You also want to say to Putin: Do you mean you still don’t get it?
Everything the Russians should want from us — the true source of our strength — doesn’t require a sleeper cell to penetrate. All it requires is a tourist guide to Washington, D.C., which you can buy for under $10. Most of it’s in the National Archives: the Bill of Rights, the Constitution and the Declaration of Independence. And the rest is in our culture and can be found everywhere from Silicon Valley to Route 128 near Boston. It is a commitment to individual freedom, free markets, rule of law, great research universities and a culture that celebrates immigrants and innovators.
Now if the Russians start to find all that and take it home, then we’d have to start taking them more seriously as competitors. But there is little indication of that. Indeed, as Leon Aron, director of Russian studies at the American Enterprise Institute, noted in a recent essay, President Dmitri Medvedev of Russia just announced plans to build an “Innovation City” in Skolkovo, outside Moscow. This “technopolis” is planned as a free-enterprise zone to attract the world’s best talent.
There is just one problem, notes Aron: “Importing ideas and technology from the West has been a key element in Russia’s ‘modernizations’ since at least Peter the Great in the early 18th century. ... But Russia has tightly controlled what it imported: Machines and engineers, yes. A spirit of free inquiry, a commitment to innovation free from bureaucratic ‘guidance’ and, most important, encouragement of brave, even brash, entrepreneurs who can be confident they will own the results of their work — most certainly no. Peter and his successors sought to produce fruit without cultivating the roots. ... Only a man or woman free from fear and overseers can build a Silicon Valley. And such men and women are harder and harder to come by in Russia today. ... Disgusted and scared by the lawlessness and rampant corruption. ... Russian entrepreneurs are investing very little in their country beyond their immediate production needs.”
No, everything the Russians should want from us is everything they don’t have to steal. It is also everything we should be celebrating and preserving but lately have not: open immigration, educational excellence, a culture of innovation and a financial system designed to promote creative destruction, not “destructive creation,” as the economist Jagdish Bhagwati called it.
So, yes, let’s swap their spies for ours. But let’s also remember that being spied on by the Russians today is not an honor. It’s just an old habit. Because they are no longer our peers, except in nuclear weapons unlikely to ever be used. The countries we need to be worried about are the ones whose teachers, bureaucrats, savers, investors and innovators — not spies — are beating us in broad daylight at our own game.
A version of this op-ed appeared in print on July 14, 2010, on page A27 of the New York edition.
Durante anos, décadas, URSS e EUA espionaram-se reciprocamente, sem qualquer resultado efetivo que fosse capaz de mudar a história. Até a queda da decadente União Soviética, a CIA ainda pensava que se tratava de uma grande potência, quando era um Estado em estado falimentar, e com sérios problemas alimentares...
Ambos os impérios gastaram dinheiro à toa, para absolutamente nada, pois o que quer que tenham espionado não mudou aquilo que Duroselle chamava de "forças profundas da história". A URSS caminhou inexoravelmente para o brejo, e os EUA, sempre previstos para entrar em declínio irresistível na próxima crise do capitalismo -- com toda a excitação de acadêmicos a esse resoeito -- continuam por ai, desafiando prognósticos e surpreendendo os incautos.
Não que os EUA não façam bobagens, não. Eles fazem, e muitas. Mas, como disse certa vez Winston Churchill, eles terminam fazendo a coisa certa depois de todas as tentativas erradas que empreendem...
Sistemas abertos e flexíveis são auto-corrigíveis. Sistemas fechados e autoritários são capazes de fazer muito mais bobagens, impunemente, até algum grande desastre...
O artigo de Tom Friedman foca nessas ironias da história.
Acho que ele está certo. Por que, diabos, os russos querem espionar coisas, e pagar por elas, que eles poderiam perfeitamente recolher nas universidades e instituições abertas dos EUA?
É preciso ser muito besta para pagar por informações disponíveis livremente.
Enfim, todos os Estados fazem esse tipo de bobagem: acham que um serviço de "inteligência" vai ensinar mais do que a simples observação da realidade.
Mas, para isso, é preciso ter a mente aberta, funcionar sem viseiras mentais.
Certas pessoas tem dificuldades com esse tipo de prática.
Paulo Roberto de Almeida
Op-Ed Columnist
The Spies Who Loved Us
By THOMAS L. FRIEDMAN
The New York Times, July 13, 2010
I was on vacation when the story broke that 11 Russians had been charged as sleeper agents planted in America by Moscow’s spy agency to gather intelligence on the United States and to recruit moles who could gain access to our top secrets. My first reaction was: This may be the greatest gift to America by a foreign country since France gave us the Statue of Liberty. Someone still wants to spy on us! Just when we were feeling down and out, the Russians show up and tell us that it’s still worth briefcases of money to plant people in our think tanks. Subprime crisis or not, some people think we’ve still got the right stuff. Thank you, Vladimir Putin!
Upon reflection, though, it occurred to me that this is actually a good news/bad news story. The good news is that someone still wants to spy on us. The bad news is that it’s the Russians.
Look, if you had told me that we had just arrested 11 Finns who were spying on our schools, then I’d really have felt good — since Finland’s public schools always score at the top of the world education tables. If you had told me that 11 Singaporeans were arrested spying on how our government works, then I’d really have felt good — since Singapore has one of the cleanest, well-run bureaucracies in the world and pays its cabinet ministers $1 million-plus a year. If you had told me that 11 Hong Kong Chinese had been arrested studying how we regulate our financial markets, then I’d really have felt good — since that is something Hong Kong excels at. And if you had told me that 11 South Koreans were arrested studying our high-speed bandwidth penetration, then I’d really have felt good — because we’ve been lagging them for a long time.
But the Russians? Who wants to be spied on by them?
Were it not for oil, gas and mineral exports, Russia’s economy would be contracting even more than it has. Moscow’s most popular exports today are probably what they were under Khrushchev: vodka, Matryoshka dolls and Kalashnikov rifles. No, this whole spy story has the feel of one of those senior tennis tournaments — John McEnroe against Jimmy Connors, long after their primes — or maybe a rematch between Floyd Patterson and Sonny Liston in their 60s. You almost want to avert your eyes.
You also want to say to Putin: Do you mean you still don’t get it?
Everything the Russians should want from us — the true source of our strength — doesn’t require a sleeper cell to penetrate. All it requires is a tourist guide to Washington, D.C., which you can buy for under $10. Most of it’s in the National Archives: the Bill of Rights, the Constitution and the Declaration of Independence. And the rest is in our culture and can be found everywhere from Silicon Valley to Route 128 near Boston. It is a commitment to individual freedom, free markets, rule of law, great research universities and a culture that celebrates immigrants and innovators.
Now if the Russians start to find all that and take it home, then we’d have to start taking them more seriously as competitors. But there is little indication of that. Indeed, as Leon Aron, director of Russian studies at the American Enterprise Institute, noted in a recent essay, President Dmitri Medvedev of Russia just announced plans to build an “Innovation City” in Skolkovo, outside Moscow. This “technopolis” is planned as a free-enterprise zone to attract the world’s best talent.
There is just one problem, notes Aron: “Importing ideas and technology from the West has been a key element in Russia’s ‘modernizations’ since at least Peter the Great in the early 18th century. ... But Russia has tightly controlled what it imported: Machines and engineers, yes. A spirit of free inquiry, a commitment to innovation free from bureaucratic ‘guidance’ and, most important, encouragement of brave, even brash, entrepreneurs who can be confident they will own the results of their work — most certainly no. Peter and his successors sought to produce fruit without cultivating the roots. ... Only a man or woman free from fear and overseers can build a Silicon Valley. And such men and women are harder and harder to come by in Russia today. ... Disgusted and scared by the lawlessness and rampant corruption. ... Russian entrepreneurs are investing very little in their country beyond their immediate production needs.”
No, everything the Russians should want from us is everything they don’t have to steal. It is also everything we should be celebrating and preserving but lately have not: open immigration, educational excellence, a culture of innovation and a financial system designed to promote creative destruction, not “destructive creation,” as the economist Jagdish Bhagwati called it.
So, yes, let’s swap their spies for ours. But let’s also remember that being spied on by the Russians today is not an honor. It’s just an old habit. Because they are no longer our peers, except in nuclear weapons unlikely to ever be used. The countries we need to be worried about are the ones whose teachers, bureaucrats, savers, investors and innovators — not spies — are beating us in broad daylight at our own game.
A version of this op-ed appeared in print on July 14, 2010, on page A27 of the New York edition.
E agora, ecologistas: reclamar com quem, cobrar de quem?
Tempestade destruiu o equivalente a três anos de desmatamento
iG São Paulo, 13/07/2010
Os pesquisadores americanos e brasileiros divulgaram hoje um estudo que mostra que uma única tempestade em 2005 derrubou meio bilhão de árvores em toda a Floresta Amazônica. O estrago causado pelos três dias de chuvas e ventos fortes em janeiro daquele ano equivaleu ao desmatamento dos últimos três anos na região da Amazônia Legal.
Segundo cálculos do professor Edson Vidal, da Esalq-USP, a média de árvores na Amazônia é de 180 por hectare. De acordo com a taxa de desmatamento anual calculada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre 2009 e 2007 foram desmatados 32.026 quilômetros quadrados, o que equivaleria à 576.468.000 árvores derrubadas no período.
Mas os ambientalistas não calculam o valor da devastação, seja pelo homem ou natureza, apenas pelo número de árvores caídas -- para eles, a perda maior está na biodiversidade da floresta. Segundo John Kricher, autor de “A Neotropical Companion”, em um hectare de floresta tropical no Brasil existem 200 espécies de árvores, 600 espécies de plantas e 60.000 espécies de animais e microrganismos.
===========
Comentário PRA: eu sempre me pergunto o que devem pensar disso os ecologistas, que parecem ter uma idéia idílica da natureza, dos equilíbrios naturais, só perturbados pela mão do homem, ser perverso, que destrói a natureza, polui os rios, extingue espécies e pratica toda sorte de maldades contra essa natureza tão boazinha...
Espécies desapareceram aos milhões, antes da aparição do homem sobre a Terra, tanto pela ação das forças naturais, quanto pela ação de outras espécies, predadoras, que não deixam de ser forças "naturais". Bem, o homem também é uma espécie predadora, muito poouco sensível a essas pregações ecologistas.
Quando ele resolver ser bonzinho, aí vem a natureza e "crek", pau nela mesma: tsunamis, inundações, terremotos, tempestades, etc.
Que planeta mais doido...
iG São Paulo, 13/07/2010
Os pesquisadores americanos e brasileiros divulgaram hoje um estudo que mostra que uma única tempestade em 2005 derrubou meio bilhão de árvores em toda a Floresta Amazônica. O estrago causado pelos três dias de chuvas e ventos fortes em janeiro daquele ano equivaleu ao desmatamento dos últimos três anos na região da Amazônia Legal.
Segundo cálculos do professor Edson Vidal, da Esalq-USP, a média de árvores na Amazônia é de 180 por hectare. De acordo com a taxa de desmatamento anual calculada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre 2009 e 2007 foram desmatados 32.026 quilômetros quadrados, o que equivaleria à 576.468.000 árvores derrubadas no período.
Mas os ambientalistas não calculam o valor da devastação, seja pelo homem ou natureza, apenas pelo número de árvores caídas -- para eles, a perda maior está na biodiversidade da floresta. Segundo John Kricher, autor de “A Neotropical Companion”, em um hectare de floresta tropical no Brasil existem 200 espécies de árvores, 600 espécies de plantas e 60.000 espécies de animais e microrganismos.
===========
Comentário PRA: eu sempre me pergunto o que devem pensar disso os ecologistas, que parecem ter uma idéia idílica da natureza, dos equilíbrios naturais, só perturbados pela mão do homem, ser perverso, que destrói a natureza, polui os rios, extingue espécies e pratica toda sorte de maldades contra essa natureza tão boazinha...
Espécies desapareceram aos milhões, antes da aparição do homem sobre a Terra, tanto pela ação das forças naturais, quanto pela ação de outras espécies, predadoras, que não deixam de ser forças "naturais". Bem, o homem também é uma espécie predadora, muito poouco sensível a essas pregações ecologistas.
Quando ele resolver ser bonzinho, aí vem a natureza e "crek", pau nela mesma: tsunamis, inundações, terremotos, tempestades, etc.
Que planeta mais doido...
Aumento preocupante da idiotice nacional: a busca da felicidade...
Certos políticos, em lugar de procurar resolver problemas concretos da sociedade brasileira, vivem dando tratos à bola para assegurar que a Constituição, já por si um calhamaço cheio de direitos e muito poucas obrigações (if any), contemple ainda mais direitos e garantias a bens intangíveis.
O ex-governador, atual senador e supostamente pessoa bem informada Cristovam Buarque introduziu (é o verbo) uma PEC que estende um pouco mais esses direitos. Leio num despacho de imprensa:
O objetivo da PEC é incluir no artigo sexto da Constituição Federal alteração que declara como "essenciais à busca da felicidade" os direitos sociais já previstos na Carta. Se aprovada a mudança, o artigo ficará com a seguinte redação: “São direitos sociais, essenciais à busca da felicidade, a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.”
Creio que o senador faria melhor em se ocupar de coisas sérias, em lugar de praticar auto-ilusão e pretender iludir colegas e os brasileiros em geral.
Ele está gastando o meu, o seu, o nosso dinheiro com a tramitação de uma perfeita inutilidade, que vai consumir horas, dias, semanas do Parlamento, para uma discussão tão bizantina quanto deve ter sido o debate sobre o sexo dos anjos no antigo império cristão do oriente. Uma pena que pessoas supostamente inteligentes pretendam gastar nosso dinheiro com bizantinices desse tipo...
O ex-governador, atual senador e supostamente pessoa bem informada Cristovam Buarque introduziu (é o verbo) uma PEC que estende um pouco mais esses direitos. Leio num despacho de imprensa:
O objetivo da PEC é incluir no artigo sexto da Constituição Federal alteração que declara como "essenciais à busca da felicidade" os direitos sociais já previstos na Carta. Se aprovada a mudança, o artigo ficará com a seguinte redação: “São direitos sociais, essenciais à busca da felicidade, a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.”
Creio que o senador faria melhor em se ocupar de coisas sérias, em lugar de praticar auto-ilusão e pretender iludir colegas e os brasileiros em geral.
Ele está gastando o meu, o seu, o nosso dinheiro com a tramitação de uma perfeita inutilidade, que vai consumir horas, dias, semanas do Parlamento, para uma discussão tão bizantina quanto deve ter sido o debate sobre o sexo dos anjos no antigo império cristão do oriente. Uma pena que pessoas supostamente inteligentes pretendam gastar nosso dinheiro com bizantinices desse tipo...
Retrato de uma ditadura ordinaria - Eduardo ????
Um Eduardo "alguma coisa" -- sinto muito, mas tem muita gente que escreve aqui sem se identificar, talvez por constrangimento e relutância com seus próprios argumentos, vergonha por defender ditaduras, falta de coragem para assumir seus próprios pontos de vista, e defender uma opinião pessoal, enfim, vocês escolhem o motivo -- escreveu no post anterior, o que segue (e que destaco pois se trata de uma postura muito comum no Brasil de hoje):
Eduardo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Retrato de uma ditadura ordinaria - Yoani Sanchez":
Como tem poucos comentários nesse blog, resolvi ajudar.
Acho sua visão sobre o Brasil e o mundo completamente equivocada.
Deveria saber que a tal blogueira cubana é uma farsante. Leia a entrevista que ela deu ao jornalista francês Salim Lamrani:
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=128182&id_secao=7
Sinceramente, não tenho saudade do tempo em que a diplomacia brasileira tirava os sapatos para entrar nos EUA.
Como cidadão brasileiro, tenho orgulho do que os diplomatas brasileiros vem fazendo atualmente pelo mundo.
Ele pretende me ajudar, pois minha visão do Brasil e do mundo seria, como ele escreve, "completamente equivocada".
Como esse Eduardo "alguma coisa" não diz exatamente em que minha visão do mundo seria equivocada, sua opinião vale tanto quanto uma completamente contrária, ou seja, nada.
Suponho que ele tenha uma visão do mundo completamente acertada, adequada, correta, o que não se pode comprovar, pois ele é incapaz de escrever coisa com coisa, preferindo esconder-se num "nome + qualquer coisa".
Mas, sendo um leitor do "Vermelho" dá para saber um pouco do que ele pensa.
Trata-se de um órfão do socialismo, um aliado das piores ditaduras do planeta, um nostálgico de regimes fechados, nos quais o Estado manda e o indíviduo obedece.
Pessoas assim me dão pena, pois elas não tem nenhum constrangimento em conviver com a mentira, em aceitar fraudes, em admitir desonestidade intelectual.
Pessoas assim deveriam aceitar viver sem internet, com vigilância policial, sem acesso a revistas e jornais decentes, enfim, submeter-se a uma ditadura ordinária.
Pessoas assim também devem aceitar um regime de penúria, em que todos os serviços são organizados e distribuídos pelo Estado.
Pessoas assim apreciam ser enganadas, em obedecer cegamente consignas das autoridades de segurança, em conformar-se com a mediocridade intelectual e o conformismo.
O Eduardo "qualquer coisa" deveria abrir um blog para esparramar suas opiniões pelo mundo.
Ele deve se sentir tremendamente desconfortável com um blog que expressa opiniões pessoais que não são as que ele gostaria de ler.
Acho que ele se sentiria bem em Cuba, ainda que muito dificilmente ele conseguiria ter um blog por lá. Enfim, ele e seus amigos do "Vermelho" devem achar isso normal.
Mas, tudo é uma questão de escolha.
A minha todo mundo sabe qual é: sou contra ditaduras ordinárias...
Paulo Roberto de Almeida
Eduardo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Retrato de uma ditadura ordinaria - Yoani Sanchez":
Como tem poucos comentários nesse blog, resolvi ajudar.
Acho sua visão sobre o Brasil e o mundo completamente equivocada.
Deveria saber que a tal blogueira cubana é uma farsante. Leia a entrevista que ela deu ao jornalista francês Salim Lamrani:
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=128182&id_secao=7
Sinceramente, não tenho saudade do tempo em que a diplomacia brasileira tirava os sapatos para entrar nos EUA.
Como cidadão brasileiro, tenho orgulho do que os diplomatas brasileiros vem fazendo atualmente pelo mundo.
Ele pretende me ajudar, pois minha visão do Brasil e do mundo seria, como ele escreve, "completamente equivocada".
Como esse Eduardo "alguma coisa" não diz exatamente em que minha visão do mundo seria equivocada, sua opinião vale tanto quanto uma completamente contrária, ou seja, nada.
Suponho que ele tenha uma visão do mundo completamente acertada, adequada, correta, o que não se pode comprovar, pois ele é incapaz de escrever coisa com coisa, preferindo esconder-se num "nome + qualquer coisa".
Mas, sendo um leitor do "Vermelho" dá para saber um pouco do que ele pensa.
Trata-se de um órfão do socialismo, um aliado das piores ditaduras do planeta, um nostálgico de regimes fechados, nos quais o Estado manda e o indíviduo obedece.
Pessoas assim me dão pena, pois elas não tem nenhum constrangimento em conviver com a mentira, em aceitar fraudes, em admitir desonestidade intelectual.
Pessoas assim deveriam aceitar viver sem internet, com vigilância policial, sem acesso a revistas e jornais decentes, enfim, submeter-se a uma ditadura ordinária.
Pessoas assim também devem aceitar um regime de penúria, em que todos os serviços são organizados e distribuídos pelo Estado.
Pessoas assim apreciam ser enganadas, em obedecer cegamente consignas das autoridades de segurança, em conformar-se com a mediocridade intelectual e o conformismo.
O Eduardo "qualquer coisa" deveria abrir um blog para esparramar suas opiniões pelo mundo.
Ele deve se sentir tremendamente desconfortável com um blog que expressa opiniões pessoais que não são as que ele gostaria de ler.
Acho que ele se sentiria bem em Cuba, ainda que muito dificilmente ele conseguiria ter um blog por lá. Enfim, ele e seus amigos do "Vermelho" devem achar isso normal.
Mas, tudo é uma questão de escolha.
A minha todo mundo sabe qual é: sou contra ditaduras ordinárias...
Paulo Roberto de Almeida
terça-feira, 13 de julho de 2010
Retrato de uma ditadura ordinaria - Yoani Sanchez
Guillermo Fariñas: a luta contra a morte
Yoani Sánchez
O Estado de S.Paulo, 13.07.2010
O ar-condicionado ronronava às minhas costas, enquanto o cheiro de sala de cirurgia grudava na roupa verde que recebi ao entrar. Sobre a cama, o corpo enfraquecido de Guillermo Fariñas expunha as consequências de 134 dias sem ingerir alimentos sólidos e líquidos.
Permaneci um bom tempo olhando para os tubos que levam ao interior de suas veias o soro que o mantém vivo e os antibióticos para combater múltiplas infecções. Faz apenas dois dias que Coco - apelido recebido por Fariñas dos amigos - anunciou a interrupção de sua greve de fome para proporcionar o tempo necessário para que se cumpra a libertação dos presos políticos. O primeiro gole de água que deu depois de tanto tempo provocou em seu ressecado esôfago a sensação de uma língua de fogo que o queimava por dentro.
Com as sequelas produzidas por um período tão longo de inanição, voltar a beber e a comer não é garantia de sobrevivência para este psicólogo e jornalista independente. Sua saúde se encontra num estado limítrofe de deterioração, como consequência de outras 22 greves de fome anteriores. Ninguém pode saber ao certo se Fariñas chegará, num futuro próximo, a apertar a mão dos prisioneiros que, com sua determinação, ajudou a libertar. Um coágulo instalou-se perto de sua jugular, as bactérias e os germes infectam seu sangue e um intestino atrofiado, pela falta de uso, mal consegue conter a flora que é derramada em seu abdômen. O herói da batalha pela libertação de 52 dissidentes e opositores terá dificuldade para vencer a luta contra a morte. O homem que desafiou um governo que nunca foi caracterizado pela clemência terá pela frente um caminho difícil para vencer suas debilidades físicas.
Justo na primeira madrugada depois de anunciar a suspensão da greve de fome, a família de Fariñas permitiu que eu cuidasse dele na sala de terapia intensiva do hospital de Santa Clara. Voltei para casa triste e cansada, rodeada de anúncios otimistas sobre os presos que deixavam o cárcere, mas imbuída da convicção pessoal de que, para Fariñas, a cruzada pela vida acaba de começar. Ainda assim, me pergunto como foi possível que nos tenham cortado todos os caminhos da ação cívica, até nos deixarem apenas com nossos corpos para ser usados como estandarte, cartaz, escudo. Quando um país se torna palco de tais greves de fome, é hora de se perguntar que outras vias restam aos inconformados e quem teriam sido os responsáveis por inibir os mecanismos de expressão dos cidadãos, e por quê.
Ainda que as grandes manchetes divaguem agora sobre o trabalho de mediação do chanceler Miguel Ángel Moratinos e a negociação entre a Igreja Católica e o governo cubano, todos sabemos quem são os verdadeiros protagonistas destas lutas.
Cidadãos como as Damas de Branco, pessoas simples como Fariñas e gente sofrida como o próprio Orlando Zapata Tamayo, conseguiram que Raúl Castro começasse a destrancar as celas.
Sem o empurrão proporcionado por eles, os sete anos de detenção suportados por aqueles que foram detidos durante a Primavera Negra de 2003 poderiam ter se convertido numa década ou até em meio século de condenação. No entanto, um homem decidiu fechar o estômago à bênção da comida para conseguir que eles voltassem a caminhar pelas ruas de seu país e a abraçar suas famílias. Quem o vê de perto comprova que se trata de um cidadão magro e comum, que um dia vestiu um uniforme militar como soldado de Cuba combatendo em Angola.
A mesma força de vontade que o levou a caminhar 13 km em terras africanas com uma bala cravada nas costas permitiu a ele manter até poucos dias atrás sua recusa em se alimentar. O terreno onde se deu o persistente protesto foi seu próprio corpo que é, afinal, o único espaço que lhe restou para protestar.
TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
É DISSIDENTE CUBANA E EDITORA DO BLOG "GENERACIÓN Y"
Yoani Sánchez
O Estado de S.Paulo, 13.07.2010
O ar-condicionado ronronava às minhas costas, enquanto o cheiro de sala de cirurgia grudava na roupa verde que recebi ao entrar. Sobre a cama, o corpo enfraquecido de Guillermo Fariñas expunha as consequências de 134 dias sem ingerir alimentos sólidos e líquidos.
Permaneci um bom tempo olhando para os tubos que levam ao interior de suas veias o soro que o mantém vivo e os antibióticos para combater múltiplas infecções. Faz apenas dois dias que Coco - apelido recebido por Fariñas dos amigos - anunciou a interrupção de sua greve de fome para proporcionar o tempo necessário para que se cumpra a libertação dos presos políticos. O primeiro gole de água que deu depois de tanto tempo provocou em seu ressecado esôfago a sensação de uma língua de fogo que o queimava por dentro.
Com as sequelas produzidas por um período tão longo de inanição, voltar a beber e a comer não é garantia de sobrevivência para este psicólogo e jornalista independente. Sua saúde se encontra num estado limítrofe de deterioração, como consequência de outras 22 greves de fome anteriores. Ninguém pode saber ao certo se Fariñas chegará, num futuro próximo, a apertar a mão dos prisioneiros que, com sua determinação, ajudou a libertar. Um coágulo instalou-se perto de sua jugular, as bactérias e os germes infectam seu sangue e um intestino atrofiado, pela falta de uso, mal consegue conter a flora que é derramada em seu abdômen. O herói da batalha pela libertação de 52 dissidentes e opositores terá dificuldade para vencer a luta contra a morte. O homem que desafiou um governo que nunca foi caracterizado pela clemência terá pela frente um caminho difícil para vencer suas debilidades físicas.
Justo na primeira madrugada depois de anunciar a suspensão da greve de fome, a família de Fariñas permitiu que eu cuidasse dele na sala de terapia intensiva do hospital de Santa Clara. Voltei para casa triste e cansada, rodeada de anúncios otimistas sobre os presos que deixavam o cárcere, mas imbuída da convicção pessoal de que, para Fariñas, a cruzada pela vida acaba de começar. Ainda assim, me pergunto como foi possível que nos tenham cortado todos os caminhos da ação cívica, até nos deixarem apenas com nossos corpos para ser usados como estandarte, cartaz, escudo. Quando um país se torna palco de tais greves de fome, é hora de se perguntar que outras vias restam aos inconformados e quem teriam sido os responsáveis por inibir os mecanismos de expressão dos cidadãos, e por quê.
Ainda que as grandes manchetes divaguem agora sobre o trabalho de mediação do chanceler Miguel Ángel Moratinos e a negociação entre a Igreja Católica e o governo cubano, todos sabemos quem são os verdadeiros protagonistas destas lutas.
Cidadãos como as Damas de Branco, pessoas simples como Fariñas e gente sofrida como o próprio Orlando Zapata Tamayo, conseguiram que Raúl Castro começasse a destrancar as celas.
Sem o empurrão proporcionado por eles, os sete anos de detenção suportados por aqueles que foram detidos durante a Primavera Negra de 2003 poderiam ter se convertido numa década ou até em meio século de condenação. No entanto, um homem decidiu fechar o estômago à bênção da comida para conseguir que eles voltassem a caminhar pelas ruas de seu país e a abraçar suas famílias. Quem o vê de perto comprova que se trata de um cidadão magro e comum, que um dia vestiu um uniforme militar como soldado de Cuba combatendo em Angola.
A mesma força de vontade que o levou a caminhar 13 km em terras africanas com uma bala cravada nas costas permitiu a ele manter até poucos dias atrás sua recusa em se alimentar. O terreno onde se deu o persistente protesto foi seu próprio corpo que é, afinal, o único espaço que lhe restou para protestar.
TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
É DISSIDENTE CUBANA E EDITORA DO BLOG "GENERACIÓN Y"
Aumento preocupante na idiotice nacional
Eu pensei que eram apenas as crianças, indefesas, que estavam expostas aos perigos de um péssimo sistema de ensino e à deterioração geral da qualidade da educação no Brasil.
Mas, como sou ingênuo!
Os adultos, inclusive os que lêem jornais, também estão expostos a cenas explícitas de idiotice consumada.
Um dos que mais contribuem para o aumento da idiotice nacional é um frei que já não é mais frei, mas que continua pontificando de forma tão idiota como sempre fez.
Nem vou comentar o verdadeiro arsenal de bobagens que esse idiota famoso consegue perpetrar em cada linha de sua lamentável crônica. Nada, absolutamente nada do que ele escreve faz sentido.
Creio, sim, que caminhamos para uma decadência mental irremediável.
Quando um jornal como O Globo se permite publicar bobagens desse tipo, estamos caminhando rapidamente para a decadência intelectual.
Como operar a transição do velho para o novo paradigma
Leonardo Boff
O Globo, 14.07.2010
Damos por já realizada a demolição crítica do sistema de consumo e de produção capitalista com a cultura materialista que o acompanha. Ou o superamos historicamente ou porá em grande risco a espécie humana.
A solução para a crise não pode vir do próprio sistema que a provocou. Como dizia Einstein:"o pensamento que criou o problema não pode ser o mesmo que o solucionará".
Somos obrigados a pensar diferente se quisermos ter futuro para nós e para a biosfera. Por mais que se agravem as crises, como na zona do Euro, a voracidade especulativa não arrefece.
O dramático de nossa situação reside no fato de que não possuimos nenhuma alternativa suficientemente vigororosa e elaborada que venha substituir o atual sistema.
Nem por isso, devemos desistir do sonho de um outro mundo possível e necessário. A sensação que vivenciamos foi bem expressa pelo pensador italiano Antônio Gramsci:"o velho resiste em morrer e o novo não consegue nascer".
Mas por todas as partes no mundo há uma vasta semeadura de alternativas, de estilos novos de convivência, de formas diferentes de produção e de consumo.
Projetam-se sonhos de outro tipo de geosociedade, mobilizando muitos grupos e movimentos, com a esperança de que algo de novo poderá eclodir no bojo do velho sistema em erosão.
Esse movimento mundial ganha visibilidade nos Fórums Sociais Mundiais e recentemente na Cúpula dos Povos pelos direitos da Mãe Terra, realizada em abril de 2010 em Conchabamba na Bolivia.
A história não é linear. Ela se faz por rupturas provocadas pela acumulação de energias, de idéias e de projetos que num dado momento introduzem uma ruptura e então o novo irrompe com vigor a ponto de ganhar a hegemonia sobre todas as outras forças. Instaura-se então outro tempo e começa nova história.
Enquanto isso não ocorrer, temos que ser realistas. Por um lado, devemos buscar alternativas para não ficarmos reféns do velho sistema e, por outro, somos obrigados a estar dentro dele, continuar a produzir, não obstante as constradições, para atender as demandas humanas. Caso contrário, não evitaríamos um colapso coletivo com efeitos dramáticos.
Devemos, portanto, andar sobre as duas pernas: uma no chão do velho sistema e a outra no novo chão, dando ênfase a este último.
O grande desafio é como processar a transição entre um sistema consumista que estressa a natureza e sacrifica as pessoas e um sistema de sustentação de toda vida em harmonia com a Mãe Terra, com respeito aos limites de cada ecossistema e com uma distribuição equitativa dos bens naturais e industriais que tivermos produzido.
Trocando idéias em Cochabamba com o conhecido sociólogo belga François Houtart, um dos bons observadores das atuais transformações, convergimos nestes pontos para a transição do velho para o novo.
Nossos paises do Sul devem em primeiro lugar, lutar, ainda dentro do sistema vigente, por normas ecológicas e regulações que preservem o mais possível os bens e os serviços naturais ou trate sua utilização de forma socialmente responsável.
Em segundo lugar, que os paises do grande Sul, especialmente o Brasil, não sejam reduzidos a meros exportadores de matérias primas, mas que incorporem tecnologias que dêem valor agregado a seus produtos, criem inovações tecnologias e orientem a economia para o mercado interno.
Em terceiro lugar, que exijam dos paises importadores que poluam o menos possível e que contribuam financeiramente para a preservação e regeneração ecológica dos bens naturais que importam.
Em quarto lugar, que cobrem uma legislação ambiental internacional mais rigorosa para aqueles que menos respeitam os preceitos de uma produção ecologicamente sustentável, socialmente justa, aqueles que relaxam na adaptação e na mitigação dos efeitos do aquecimento global e que introduzem medidas protecionistas em suas economias.
O mais importante de tudo, no entanto, é formar uma coalizão de forças a partir de governos, instituições, igrejas, centros de pesquisa e pensamento, movimentos sociais, ONGs e todo tipo de pessoas ao redor de valores e princípios coletivamente partilhados, bem expressos na Carta da Terra, na Declaração dos Direitos da Mãe Terra ou na Declaração Universal do Bem Comum da Terra e da Humanidade (texto básico do incipiente projeto da reinvenção da ONU) e no Bem Viver das culturas originárias das Américas.
Destes valores e principios se espera a criação de instituições globais e, quem sabe, se organize a governança planetária que tenha como propósito preservar a integridade e vitalidade da Mãe Terra, garantir as condições do sistema-vida, erradicar a fome, as doenças letais e forjar as condições para uma paz duradoura entre os povos e com a Mãe Terra.
Leonardo Boff é autor do livro Ecologia, Mundialização e Espiritualidade,Record 2008
Mas, como sou ingênuo!
Os adultos, inclusive os que lêem jornais, também estão expostos a cenas explícitas de idiotice consumada.
Um dos que mais contribuem para o aumento da idiotice nacional é um frei que já não é mais frei, mas que continua pontificando de forma tão idiota como sempre fez.
Nem vou comentar o verdadeiro arsenal de bobagens que esse idiota famoso consegue perpetrar em cada linha de sua lamentável crônica. Nada, absolutamente nada do que ele escreve faz sentido.
Creio, sim, que caminhamos para uma decadência mental irremediável.
Quando um jornal como O Globo se permite publicar bobagens desse tipo, estamos caminhando rapidamente para a decadência intelectual.
Como operar a transição do velho para o novo paradigma
Leonardo Boff
O Globo, 14.07.2010
Damos por já realizada a demolição crítica do sistema de consumo e de produção capitalista com a cultura materialista que o acompanha. Ou o superamos historicamente ou porá em grande risco a espécie humana.
A solução para a crise não pode vir do próprio sistema que a provocou. Como dizia Einstein:"o pensamento que criou o problema não pode ser o mesmo que o solucionará".
Somos obrigados a pensar diferente se quisermos ter futuro para nós e para a biosfera. Por mais que se agravem as crises, como na zona do Euro, a voracidade especulativa não arrefece.
O dramático de nossa situação reside no fato de que não possuimos nenhuma alternativa suficientemente vigororosa e elaborada que venha substituir o atual sistema.
Nem por isso, devemos desistir do sonho de um outro mundo possível e necessário. A sensação que vivenciamos foi bem expressa pelo pensador italiano Antônio Gramsci:"o velho resiste em morrer e o novo não consegue nascer".
Mas por todas as partes no mundo há uma vasta semeadura de alternativas, de estilos novos de convivência, de formas diferentes de produção e de consumo.
Projetam-se sonhos de outro tipo de geosociedade, mobilizando muitos grupos e movimentos, com a esperança de que algo de novo poderá eclodir no bojo do velho sistema em erosão.
Esse movimento mundial ganha visibilidade nos Fórums Sociais Mundiais e recentemente na Cúpula dos Povos pelos direitos da Mãe Terra, realizada em abril de 2010 em Conchabamba na Bolivia.
A história não é linear. Ela se faz por rupturas provocadas pela acumulação de energias, de idéias e de projetos que num dado momento introduzem uma ruptura e então o novo irrompe com vigor a ponto de ganhar a hegemonia sobre todas as outras forças. Instaura-se então outro tempo e começa nova história.
Enquanto isso não ocorrer, temos que ser realistas. Por um lado, devemos buscar alternativas para não ficarmos reféns do velho sistema e, por outro, somos obrigados a estar dentro dele, continuar a produzir, não obstante as constradições, para atender as demandas humanas. Caso contrário, não evitaríamos um colapso coletivo com efeitos dramáticos.
Devemos, portanto, andar sobre as duas pernas: uma no chão do velho sistema e a outra no novo chão, dando ênfase a este último.
O grande desafio é como processar a transição entre um sistema consumista que estressa a natureza e sacrifica as pessoas e um sistema de sustentação de toda vida em harmonia com a Mãe Terra, com respeito aos limites de cada ecossistema e com uma distribuição equitativa dos bens naturais e industriais que tivermos produzido.
Trocando idéias em Cochabamba com o conhecido sociólogo belga François Houtart, um dos bons observadores das atuais transformações, convergimos nestes pontos para a transição do velho para o novo.
Nossos paises do Sul devem em primeiro lugar, lutar, ainda dentro do sistema vigente, por normas ecológicas e regulações que preservem o mais possível os bens e os serviços naturais ou trate sua utilização de forma socialmente responsável.
Em segundo lugar, que os paises do grande Sul, especialmente o Brasil, não sejam reduzidos a meros exportadores de matérias primas, mas que incorporem tecnologias que dêem valor agregado a seus produtos, criem inovações tecnologias e orientem a economia para o mercado interno.
Em terceiro lugar, que exijam dos paises importadores que poluam o menos possível e que contribuam financeiramente para a preservação e regeneração ecológica dos bens naturais que importam.
Em quarto lugar, que cobrem uma legislação ambiental internacional mais rigorosa para aqueles que menos respeitam os preceitos de uma produção ecologicamente sustentável, socialmente justa, aqueles que relaxam na adaptação e na mitigação dos efeitos do aquecimento global e que introduzem medidas protecionistas em suas economias.
O mais importante de tudo, no entanto, é formar uma coalizão de forças a partir de governos, instituições, igrejas, centros de pesquisa e pensamento, movimentos sociais, ONGs e todo tipo de pessoas ao redor de valores e princípios coletivamente partilhados, bem expressos na Carta da Terra, na Declaração dos Direitos da Mãe Terra ou na Declaração Universal do Bem Comum da Terra e da Humanidade (texto básico do incipiente projeto da reinvenção da ONU) e no Bem Viver das culturas originárias das Américas.
Destes valores e principios se espera a criação de instituições globais e, quem sabe, se organize a governança planetária que tenha como propósito preservar a integridade e vitalidade da Mãe Terra, garantir as condições do sistema-vida, erradicar a fome, as doenças letais e forjar as condições para uma paz duradoura entre os povos e com a Mãe Terra.
Leonardo Boff é autor do livro Ecologia, Mundialização e Espiritualidade,Record 2008
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