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sábado, 21 de setembro de 2024

O papel dos Estados Unidos no mundo é difícil - e acabou de ficar muito mais complicado - Tom Friedman (NYT)

O papel dos Estados Unidos no mundo é difícil - e acabou de ficar muito mais complicado

Administrar a política externa americana é tentar dialogar com Estados falidos, Estados-zumbi e homens enfurecidos."

(Grato a Carmen Lícia Palazzo pela transcrição. PRA)

Por Thomas Friedman (The New York Times)

Estadão, 19/09/2024 | 22h00

Ultimamente tenho me surpreendido comigo mesmo iniciando falas a respeito dos desafios de política externa diante do próximo presidente da seguinte maneira: “Quero dialogar hoje com todos os pais e mães neste recinto: Mãe, pai, se seu filho ou filha chegar da faculdade e lhes disser, ‘Quero ser secretário de Estado americano algum dia’, lhe respondam: ‘Amor, você pode ser o que quiser, tudo bem, mas por favor não vire secretário de Estado. É o pior trabalho do mundo. Secretário de Educação, Agricultura, Comércio — sem problema. Mas prometa para a gente que você nunca se tornará secretário de Estado’”.

A razão: a incumbência de administrar a política externa dos Estados Unidos é muito, muito mais difícil do que a maioria dos americanos jamais imaginaria. É quase uma impossibilidade numa era que você tem de lidar com superpotências, supercorporações, indivíduos e redes superempoderados, supertempestades, Estados superfalidos e superinteligências — tudo junto e misturado, criando um arranjo incrivelmente complexo de problemas a serem solucionados para conseguir fazer qualquer coisa.

Na Guerra Fria, uma diplomacia heroica sempre figurou no tabuleiro. Pensem em Henry Kissinger. Ele precisou de apenas três fichas de telefone, um avião e alguns meses para montar o vaivém diplomático que ergueu o histórico acordo que pôs fim às hostilidades da Guerra Árabe-Israelense de 1973 entre Israel, Egito e Síria. Com a primeira ficha ele ligou para o então presidente egípcio, Anwar Sadat; com a segunda, para a ex-primeira-ministra israelense Golda Meir; com a terceira ele ligou para o ex-presidente sírio Hafez Assad. E abracadabra: Egito, Síria e Israel firmaram seus primeiros acordos de paz desde os pactos do armistício de 1949.

Kissinger lidava com países. Antony Blinken não teve tanta sorte ao se tornar o 71.º secretário de Estado americano, em 2021. Blinken — juntamente com o conselheiro de segurança nacional, Jake Sullivan, e o diretor da CIA, Bill Burns — tem jogado bem um jogo difícil, mas compare o Oriente Médio com que eles têm de lidar ao de Kissinger. A região foi transformada — de uma região formada por sólidos Estados-nação para um lugar composto cada vez mais por Estados falidos, Estados-zumbi e homens enfurecidos, superempoderados e armados com foguetes de precisão.

Estou falando do Hamas em Gaza, do Hezbollah no Líbano e na Síria, dos houthis no Iêmen e das milícias xiitas no Iraque. Virtualmente para qualquer lado que Blinken, Sullivan e Burns olharam quando montaram sua diplomacia de vaivém após 7 de outubro de 2023, sua visão era dupla: o governo oficial do Líbano e a rede do Hezbollah; o governo oficial do Iêmen e a rede houthi; e o governo oficial do Iraque e as redes de milicianos xiitas controladas pelo Irã.

Na Síria, há um governo central na função em Damasco e o restante do país é uma colcha de retalhos com zonas controladas pela Rússia, pelo Irã, pela Turquia, pelo Hezbollah e por forças americanas e curdas. O único contato possível com a rede do Hamas em Gaza é através de mediadores catarianos e egípcios. E até o Hamas se divide em um braço militar dentro de Gaza e um braço político no exterior.

Enquanto isso, o Hezbollah é a primeira entidade não estatal na história moderna a estabelecer uma relação de destruição mútua assegurada com um Estado-nação. Hoje o Hezbollah é crivelmente capaz de destruir o Aeroporto de Tel-Aviv com seus foguetes de precisão tanto quanto Israel tem capacidade de ameaçar destruir o Aeroporto de Beirute — o que não ocorria quando os israelenses e a milícia travaram a guerra de 2006.

O que também não existia naquela época era a capacidade tecnológica de Israel de matar ou ferir centenas de membros do Hezbollah numa única tacada, como fez na terça-feira usando ferramentas cibernéticas à la “Matrix” para detonar pagers de seus integrantes de uma só vez — ao mesmo tempo que diplomatas americanos trabalhavam febrilmente num cessar-fogo entre as partes. Então, exatamente no momento que os diplomatas americanos tentavam arrefecer o campo de batalha no espaço físico, a guerra irrompeu no ciberespaço.

Adeus abracadabra. Hoje, alinhar os interesses de todas essas entidades simultaneamente para assegurar um cessar-fogo em Gaza é tão fácil quanto agrupar cada cor de um cubo mágico em cada face do brinquedo.

Portanto, só uma coisa é clara para mim a respeito desta nova geopolítica que o nosso próximo presidente terá de encarar: nós precisamos de muitos aliados. Não é um trabalho para “os EUA a sós”. É um trabalho para “os EUA e seus amigos”.

Por isso que minha escolha nesta eleição é também tão clara. Você prefere Donald Trump — cujas duas principais mensagens nos adesivos de carros para os nossos aliados são, basicamente, “Saia da minha propriedade” e “Paguem ou lhes entregarei para Putin” — como presidente ou Kamala Harris, que vem do governo Biden, cuja expressão mais marcante em política externa tem sido sua capacidade de construir alianças? Eis o maior legado de Joe Biden, um legado substancial.

Na região Ásia-Pacífico, o time de Biden usou alianças para contrabalançar a China militarmente e tecnologicamente. Na Europa, usaram-nas para se contrapor à invasão russa à Ucrânia. No Oriente Médio, em 13 de abril, para derrubar virtualmente todos os cerca de 300 drones e mísseis que o Irã disparou contra Israel. E na diplomacia de bastidores os enviados americanos reuniram nossos aliados para a complexa troca de prisioneiros multinacional que libertou, entre outros, o repórter Evan Gershkovich, do Wall Street Journal, que tinha sido encarcerado desonestamente por Vladimir Putin.

Será esta a razão número 1 para Rússia, Irã e China quererem ver Trump eleito? Porque eles sabem que Trump é tão transacional quando lida com a Otan e outros aliados dos EUA que nunca seria capaz de reunir alianças sustentáveis contra eles.

Não tenha dúvida: o mundo no qual nossos próximos presidente e secretário de Estado terão de liderar é mais desafiador do que qualquer período anterior à 2.ª Guerra Mundial. É por isso que tenho achado tão útil estar lendo neste momento o livro que Michael Mandelbaum, acaba de publicar, intitulado “The Titans of the Twentieth Century: How They Made History and the History They Made” (Os titãs do século 20: Como eles fizeram história e a história que eles fizeram), um estudo sobre o impacto das trajetórias de Woodrow Wilson, Lênin, Adolf Hitler, Winston Churchill, Franklin Roosevelt, Mohandas Gandhi, David Ben-Gurion e Mao Tsé-tung.

Os capítulos sobre Churchill e Roosevelt são particularmente relevantes para o presente. Esses dois grandes líderes democráticos do século 20 reconheceram o que as ditaduras na Alemanha e no Japão eram realmente — e sabiam que elas representavam uma ameaça para o Reino Unido e os EUA. Mas Churchill e Roosevelt também entenderam que seus países não poderiam ter vencido a 2.ª Guerra Mundial sozinhos (nem sem a União Soviética). As alianças foram cruciais.

“Manter alianças nunca é fácil”, disse-me Mandelbaum. “Churchill e FDR não eram tão próximos pessoalmente como com frequência demonstravam ser e tinham importantes discórdias políticas. Ambos entendiam, contudo, que precisavam um do outro — e faziam sua parceria funcionar. Manter e fortalecer as parcerias globais dos EUA diante de um mundo perigoso será um grande risco para o comandante em chefe”.

O que é especialmente verdadeiro num momento que não estamos tão preparados para o mundo em que entramos como precisaríamos estar. Rússia, Irã e China têm incrementado significativamente suas Forças Armadas há anos. Nós, em contraste, ficamos literalmente sem os armamentos necessários para lutar nesses três fronts simultaneamente. A única maneira de enfrentar esse problema em potencial não é abandonar uma ou mais dessas regiões, mas adicionar outras forças às nossas por meio de alianças — que foram, conforme sucedeu, cruciais para o nosso sucesso nas duas Guerras Mundiais e na Guerra Fria.

E também, acrescentou Mandelbaum, “um líder às vezes tem de pedir sacrifícios”. “Esse pedido só pode ser eficaz se o líder tiver reputação de credibilidade. E credibilidade, por sua vez, requer sinceridade”. Tanto Roosevelt quanto Churchill “comunicavam as escolhas diante de seus países claramente, honestamente e eloquentemente”.

Neste quesito, sou obrigado a admitir, Trump ainda pode ter certa vantagem. Ele é honesto a respeito de suas visões repulsivas. Sinalizou que para ele não é importante a Ucrânia vencer a guerra ou ser derrotada pela Rússia. E, desafortunadamente, quando perguntaram a Kamala no debate, “A senhora acredita ter alguma responsabilidade sobre a maneira que os EUA saíram do Afeganistão?”, que ocasionou as mortes de 13 militares americanos, ela desviou totalmente da questão. Um grande erro. Tenho certeza que eleitores indecisos notaram — não para o benefício de Kamala.

A resposta dela deveria ter sido: “Fiquei devastada por causa dessas mortes. Nunca me esquecerei do momento que ouvi a notícia na Sala de Situação, porque tudo tem um limite. Mas, acima de tudo, nunca me esquecerei do que aprendi dessa experiência. Isso não se repetirá no meu governo”. Harris teria ganhado votos com uma resposta assim — de eleitores que se preocupam com a possibilidade de ela ser mais muito “de esquerda” do que deixa transparecer.

Infelizmente, há outra razão para a China preferir Trump. Não só ele detesta imigração ilegal; como presidente ele reprimiu a imigração ilegal para satisfazer nativistas de direita. Isso é música para os ouvidos de Pequim, pois enfraquece a principal vantagem dos EUA sobre a China: nossa capacidade de atrair talentos de todo o planeta.

Por exemplo, quantos americanos sabem que a revolução da inteligência artificial liderada pelos EUA deu um gigantesco passo adiante em 2017, quando o Google lançou um dos algoritmos de tecnologia mais importantes já escritos? O Google criou o modelo de aprendizado profundo — o “transformador” — para processamento de linguagem que “deu início a uma era inteiramente nova de inteligência artificial: a ascensão das IAs generativas”, como Bard e ChatGPT, conforme noticiou o Financial Times.

Segundo o FT, esse algoritmo foi escrito por uma equipe de oito pesquisadores da Google AI, em Mountain View, Califórnia: Ashish Vaswani, Noam Shazeer, Jakob Uszkoreit, Illia Polosukhin e Llion Jones, “assim como Aidan Gomez, um estagiário que estudava na Universidade de Toronto, e Niki Parmar, de Pune, no oeste da Índia, que era recém-formada em mestrado e compunha a equipe de Uszkoreit. O oitavo autor foi Lukasz Kaiser, que também atuava como acadêmico do Centro Nacional para Pesquisa Científica, na França”.

Sua “diversidade educacional, profissional e geográfica — de origens variadas, como Ucrânia, Índia, Alemanha, Polônia, Reino Unido, Canadá e EUA — tornou-os singulares”, escreveu o FT. E também foi “‘absolutamente essencial para esse trabalho acontecer’, afirma Uszkoreit, que cresceu entre EUA e Alemanha”.

Tenho certeza que Harris é apta para a função de comandante em chefe. Mais franqueza de sua parte, porém, para mostrar que tem o que é necessário para enfrentar os desafios mais impossíveis de política externa e contrariar sua base progressista se preciso, convenceria mais eleitores indecisos de que ela tem o que é necessário para enfrentar Putin.

Quanto a Trump, ele é forte e equivocado em relação aos dois maiores problemas de política externa: alianças e migrações. Sua opção-padrão — EUA a sós — é uma prescrição para EUA fracos, isolados, vulneráveis e em declínio. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

sábado, 23 de setembro de 2023

Tom Friedman visita a Ucrânia (NYT)

 EM VISITA A KIEV 

Thomas Friedman

The New York Times,18/09/2023

Em visita a Kiev, semana passada, na minha primeira viagem à Ucrânia desde a invasão de Vladimir Putin, em fevereiro de 2022, eu tentei fazer meus exercícios de todas as manhãs caminhando nos arredores do Mosteiro de São Miguel das Cúpulas Douradas. Sua serenidade, porém, tem sido perturbada pela exibição destoante de blindados de transporte de tropas e tanques russos destruídos. Durante minhas caminhadas, eu meti a cabeça e olhei dentro desses cascos arrebentados por foguetes imaginando a morte terrível que os soldados russos que operavam os veículos tiveram.

Mas o choque dessa massa retorcida de aço enferrujando ao redor desse grandioso e esbranquiçado edifício evocou-me uma imagem diferente à mente: de um meteoro.

Parecia que um meteoro gigante tinha caído do céu, desfazendo a vida com a conhecíamos — quase oito décadas sem uma guerra entre “grandes potências” na Europa, um continente no qual séculos de invasões e conquistas cederam caminho para segurança e prosperidade. Agora esses escombros feiosos estão entre nós, fumegando — e nós, tanto na Ucrânia quanto na comunidade internacional, estamos com dificuldades para encontrar uma maneira de lidar com isso.

Quase todos os ucranianos com que conversei em Kiev estão ao mesmo tempo exaustos com a guerra e apaixonadamente determinados a recuperar cada centímetro de território ocupado pela Rússia — mas ninguém tem respostas claras a respeito do caminho adiante nem sobre as dolorosas contrapartidas à espera, apenas certeza de que a derrota significaria o fim do sonho democrático da Ucrânia e o fim da era pós-2.ª Guerra que produziu uma Europa mais integrada e livre do que jamais havia ocorrido em sua história.

O que Putin está fazendo na Ucrânia não é apenas irresponsável, não é apenas uma guerra de escolha, não é apenas uma invasão que se distingue pelo exagero, desonestidade, imoralidade e incompetência que lhe é peculiar, tudo isso envolto num emaranhado de mentiras. O que Putin está fazendo é perverso. Ele vomitou uma variedade de justificativas — um dia estava removendo um regime nazista no poder em Kiev, depois impedindo uma expansão da Otan e então repelindo uma invasão cultural do Ocidente — para o que foi, em última instância, um devaneio pessoal que requer neste momento que seu Exército de superpotência peça ajuda à Coreia do Norte. É como se o maior banco da cidade fosse pedir empréstimo em uma casa de penhores local. Eis no que deu aquela virilidade descamisada de Putin.

O que é tão perverso — além da morte, da dor, do trauma e da destruição que ele infligiu sobre tantos ucranianos — é que num momento em que mudanças climáticas, fome, crises sanitárias e tantas outras aflições acometem o Planeta Terra, a última coisa que a humanidade precisava era destinar tanta atenção, tanta energia colaborativa, tanto dinheiro e tantas vidas para responder à guerra de Putin com intenção de transformar a Ucrânia novamente uma colônia russa.

Ultimamente Putin nem sequer tem se incomodado em justificar a guerra — talvez por até ele mesmo estar constrangido demais para pronunciar em voz alta o niilismo que suas ações transparecem: já que eu não consigo possuir a Ucrânia, farei o que puder para que ninguém mais possa tê-la.

“Não se trata de uma guerra em que o agressor tem alguma visão, algum projeto para o futuro. Em vez disso, ao contrário, para eles tudo é obscuro, sem forma, e a única coisa que importa é a força”, notou o historiador Timothy Snyder, de Yale, em um painel do qual participamos em uma conferência em Kiev, no fim de semana passado.

Estar na cidade foi esclarecedor para mim em três aspectos. Eu entendi ainda melhor o quão doentia e perturbadora esta invasão russa é. Entendi ainda melhor como será difícil — talvez até impossível — para os ucranianos expulsarem o Exército de Putin de cada centímetro de seu território. Acima de tudo, talvez, eu entendi ainda melhor algo que o ex-conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos Zbigniew Brzezinski observou quase 30 anos atrás: “Sem a Ucrânia, a Rússia deixa de ser um império; mas com a Ucrânia cooptada e então subordinada, a Rússia torna-se automaticamente um império”.

O comandante da unidade de assalto da 3ª Brigada de Assalto, que atende pelo nome de "Fedia", passa por corpos de soldados russos mortos na linha de frente a caminho de Andriivka, região de Donetsk, Ucrânia

O comandante da unidade de assalto da 3ª Brigada de Assalto, que atende pelo nome de "Fedia", passa por corpos de soldados russos mortos na linha de frente a caminho de Andriivka, região de Donetsk, Ucrânia Foto: Alex Babenko / AP

Estados Unidos

A maioria dos americanos não sabe muita coisa a respeito da Ucrânia, mas eu afirmo o seguinte sem nenhuma hipérbole: a Ucrânia é um país decisivo para o Ocidente dependendo do desfecho desta guerra, para o bem ou para o mal. A integração da Ucrânia à União Europeia e à Otan algum dia constituirá uma mudança de equilíbrio de poder que poderá se equiparar à queda do Muro de Berlim e à unificação da Alemanha. A Ucrânia é um país com capital humano, recursos agrícolas e recursos naturais impressionantes — “mãos, cérebros e grãos”, conforme costumam dizer investidores ocidentais em Kiev. Sua integração plena à segurança democrática da Europa e sua arquitetura econômica seria sentida em Moscou e Pequim.

Putin sabe disso. Sua guerra, na minha visão, nunca foi primeiramente sobre combater a expansão da Otan, sempre foi muito mais sobre impedir a Ucrânia eslava de aderir à União Europeia e se tornar um exemplo bem-sucedido de contraposição à eslava e criminosa autocracia de Putin. A expansão da Otan é amiga de Putin — permite-lhe justificar uma militarização da sociedade russa e apresentar a si mesmo como guardião indispensável da força russa. A expansão da UE para a Ucrânia é uma ameaça mortal — expõe o putinismo como fonte da fraqueza russa. E todos os ucranianos com que conversei, unanimemente, parecem entender que seu povo e a Europa estão unidos em um momento histórico contra o putinismo — um momento, contudo, que não pode ser fortuito sem a firmeza dos EUA. Por este motivo, as perguntas mais frequentes — e afitas — que ouvi durante minha visita foram variações de, “Você acha que Trump, o amigo de Putin, pode virar presidente outra vez?”.

Basta olhar nos olhos dos soldados ucranianos que voltam do front ou conversar com pais e mães nas ruas de Kiev para despir-se de qualquer ilusão a respeito do equilíbrio moral desta guerra. Eu estive somente três dias na Ucrânia — muito menos que meus colegas do Times e outros correspondentes de guerra que têm narrado testemunhos marcantes dos combates e sofrimentos. Mas minhas interações relativamente breves fizeram ressuscitar em mim as imagens que nós vemos de cidades e vilarejos arruinados por bombas no leste da Ucrânia e as constatações horripilantes sobre as quais lemos das Nações Unidas documentando casos em que crianças foram “estupradas, torturadas e confinadas ilegalmente” pelos invasores russos.

Trata-se do caso mais óbvio do certo contra o errado, do bem contra o mal em relações internacionais desde o fim da 2.ª Guerra.

Quanto mais nos aproximamos do atual conflito, porém, e pensamos sobre como resolvê-lo, aquele balancete preto e branco, nu e cru de equilíbrio moral não oferece nenhum mapa do caminho suave para alguma solução.

O que define um desfecho justo é claro como o dia. É uma Ucrânia inteira e livre — com reparações pagas pela Rússia. Mas não é completamente claro quanto dessa justiça é alcançável — e a que preço — ou se algum acordo sujo será a opção menos pior. E se assim suceder, que tipo de acordo, quão sujo, quando e garantido por quem?

Em outras palavras, no instante que abandonarmos o ordenamento jurídico nesta guerra — e entrarmos no campo da realpolitik diplomática — todo o quadro deixa de ser preto ou branco e se funde em diferentes tons de cinza. Porque o criminoso ainda é poderoso e tem amigos — e, portanto, voz. A Ucrânia também tem bastante amigos comprometidos a ajudar sua luta por quanto tempo ela quiser — até o “tempo que ela quiser” se tornar longo demais em Washington e outras capitais ocidentais.

É muito difícil impedir um líder desavergonhado e sem consciência. Na terça-feira, Putin afirmou que as 91 acusações criminais registradas contra Donald Trump em quatro jurisdições diferentes dos EUA representam a “perseguição de um rival político por motivos políticos” e evidenciam “a podridão do sistema político americano, que não pode ter a pretensão de ensinar democracia para os outros”. O salão desatou em aplausos para um líder reconhecido por colocar veneno na cueca de um opositor, explodir um avião com um rival dentro e “ensinar democracia” a dissidentes presos em campos de trabalho na Sibéria.

A falta de vergonha é de tirar o fôlego. E ainda que sua súplica à Coreia do Norte por ajuda militar seja patética, o fato dele estar disposto a pedir enfatiza que ele tem intenção de continuar sua guerra até conseguir um pedaço da Ucrânia que possa ostentar como um sucesso que lhe guarde as aparências."


terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Israel e a democracia - Tom Friedman (NYT, Estadão)

 Thomas Friedman: Biden envia uma mensagem clara a Israel, em 46 palavras

Por Thomas L. Friedman
NYTimes, Estadão, 14/02/2023

Acordei na manhã de sábado, li as notícias dizendo que em Israel, pelo menos 50 mil pessoas tinham acabado de participar de mais uma manifestação contra os planos do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que busca limitar a independência da suprema corte israelense e subjugá-la a si próprio, em um momento em que o próprio Netanyahu é investigado por corrupção, e fiz a mim mesmo uma pergunta simples: “O que o presidente Joe Biden acha disso?”

Instintivamente, Biden é um dos presidentes que mais defendem Israel dentre os que já acompanhei. Ele também tem uma longa relação de respeito mútuo com Netanyahu. Então, posso dizer que qualquer comentário de Biden a respeito de Israel é fruto de uma preocupação sincera.

Uma preocupação com a transformação radical do sistema judiciário de Israel que a coalizão ultranacionalista e ultrarreligiosa de Netanyahu busca aprovar à força na Knesset e a possibilidade de ela danificar seriamente a democracia do país, e consequentemente, seus laços com os Estados Unidos e as democracias de todo o mundo.

Eis a declaração que Biden me enviou na tarde de sábado quando pedi a ele que comentasse a situação: “O que a democracia americana e a democracia israelense têm de genial é o fato de serem ambas alicerçadas em instituições robustas, em sistemas de freios e contrapesos, em um judiciário independente. A formação de consensos para mudanças fundamentais é muito importante para garantir a adesão das pessoas, de modo que tais mudanças sejam sustentadas”.

‘Orbanização’
É a primeira vez que me lembro de ver um presidente americano opinar a respeito de um debate interno israelense envolvendo o próprio caráter da democracia do país. E ainda que sejam poucas palavras, a declaração de Biden é feita em um momento crucial desta importantíssima discussão interna em Israel, podendo energizar e expandir a já significativa oposição àquilo que os adversários de Netanyahu estão chamando de golpe dentro da lei, podendo situar Israel entre os países que vêm se afastando da democracia, como Turquia, Hungria e Polônia.

Eis o motivo de as palavras de Biden serem tão importantes: primeiro, ele se coloca claramente em defesa da abordagem conciliadora pedida pelo presidente israelense Isaac Herzog, e defende claramente a independência do judiciário de Israel, amplamente respeitado.

Ainda que a presidência de Israel seja um cargo principalmente simbólico, atribui-se a ela peso moral. Herzog é um bom homem que tenta afastar o que teme ser o caos civil mais grave já visto na sociedade israelense caso seja aprovada tamanha mudança no judiciário do país, parcialmente inspirada por um centro de estudos estratégicos de extrema-direita.

Herzog pediu a Netanyahu e sua coalizão que recuem e organizem algum tipo de diálogo nacional e bipartidário que possa estudar pacientemente o tipo de mudanças judiciais que poderiam ser saudáveis para Israel, fazendo isso com especialistas em direito e de maneira não partidária, preservando a integridade do sistema judicial que existe desde a fundação de Israel.

Infelizmente, Netanyahu rechaçou o presidente israelense, levando Herzog a dizer no dia 24 de janeiro, a respeito da dita reforma do judiciário: “Os alicerces democráticos de Israel, incluindo o sistema de justiça, os direitos humanos e as liberdades, são sagrados, e devemos protegê-los e os valores expressos na declaração de independência. A reforma dramática, se implementada rapidamente sem negociação, inflama a oposição e as preocupações do público”. Ele acrescentou, “A ausência de diálogo está nos dilacerando internamente, e digo claramente: este barril de pólvora está prestes a explodir. Isso é uma emergência”.

Adversários de Netanyahu estão chamando plano de golpe dentro da lei, podendo situar Israel entre os países que vêm se afastando da democracia, como Turquia, Hungria e Polônia.

Pressão sobre Bibi
Com as palavras de Biden, Netanyahu se vê agora em uma situação na qual, se insistir em seguir no rumo apesar de tudo, estará contrariando não apenas o presidente de Israel, mas também o presidente americano. Não é pouca coisa. Também suspeito que o posicionamento de Biden nessa questão, comedido e claro, incentivará outras lideranças democráticas, lideranças empresariais, senadores americanos e demais representantes a fazer o mesmo, o que vai energizar a oposição.

A segunda razão da importância das palavras de Biden é o momento em que ele se manifesta, que não poderia ser mais importante. Na segunda-feira, 13, a primeira leitura no Parlamento de alguns dos aspectos mais controvertidos da reforma judicial de Netanyahu foi feita. Uma proposta de lei deve passar por três leituras antes de se tornar lei, e a coalizão indicou que busca uma aprovação relâmpago do texto no Knesset até abril.

Biden está indicando que, faça o que fizer, Israel não deve se afastar fundamentalmente desses valores compartilhados com os EUA

Um golpe contra o Judiciário
Em terceiro, Biden situou a si mesmo e aos EUA claramente do lado da maioria israelense que se opõe à aprovação apressada das “reformas” de Netanyahu em um episódio que cada vez mais parece um putsch jurídico.

Uma pesquisa de opinião publicada na sexta feira “indica que mais de 60% do público querem que o governo suspenda ou atrase seus esforços legislativos para enfraquecer dramaticamente a Suprema Corte de Justiça e garantir o controle político das nomeações para o judiciário”, informou o Times israelense.

Isso também coloca os EUA claramente ao lado do procurador-geral do próprio Netanyahu quando este ocupou o cargo pela última vez, Avichai Mandelblit — que indiciou Netanyahu em 2020 por acusações de fraude, suborno e quebra de confiança, e que denunciou as alterações judiciais de Netanyahu como tentativa disfarçada de acabar com o próprio julgamento e evitar a prisão.

Falando ao programa “Uvda”, da TV israelense, Mandelblit disse que as amplas reformas propostas por Netanyahu para o judiciário “não são uma reforma”, e sim uma “mudança de governo”.

Como Israel não possui uma constituição e o executivo sempre controla o Knesset, Mandelblit explicou que a única separação entre os poderes — o único contrapeso para o executivo — é o judiciário israelense e a Suprema Corte. E o que Netanyahu está propondo é que uma maioria simples no Knesset — 61 dos 120 assentos — tenha poder para rejeitar qualquer decisão da Suprema Corte. Com a menor das maiorias, o governo seria capaz de aprovar qualquer lei que desejasse.

O plano de Netanyahu também daria ao governo o controle da escolha dos juízes, há muito responsabilidade de uma comissão independente, e removeria também os conselheiros jurídicos independentes (supervisores internos) de cada ministério. Atualmente, estes são nomeados pela comissão de serviços civis e só podem ser afastados pelo procurador-geral. Em vez disso, Netanyahu quer que sejam nomeados por cada ministro, a quem seriam leais.

Somando-se tudo, o resultado seria um governo eleito por 30 mil votos dentre um eleitorado de 4,7 milhões assumindo controle total da Suprema Corte, da escolha dos juízes e dos conselheiros jurídicos de cada ministério.

“Não posso me calar”, concluiu Mandelblit. “Se não houver judiciário independente, será o fim. Teremos um sistema de governo diferente.” O governante “vai decidir”, acrescentou ele. “Terá seus próprios procuradores, seus próprios conselheiros jurídicos, seus próprios juízes. E se as pessoas nesses cargos forem pessoalmente leais a ele, não haverá primazia da lei. É um buraco sem fundo que vai nos engolir a todos.”

Finalmente, o que Biden fez dará credibilidade à voz dos EUA em apoio à democracia global. Vê-se que os EUA não se manifestam somente quando a China esmaga a democracia em Hong Kong. Os americanos se manifestam ao ver a democracia ameaçada em qualquer lugar. Com frequência, os EUA criticaram abusos dos direitos humanos cometidos por Israel no tratamento dos palestinos na Cisjordânia ocupada. Mas não me lembro de um presidente americano ter criticado mudanças propostas na natureza democrática do estado israelense, pois nenhum presidente teve que fazer isso até semanas atrás.

Uma aliança em risco
Se a mensagem de Biden não for clara o suficiente para a coalizão de Netanyahu, vou tentar traduzi-la nos termos mais simples possíveis: os EUA apoiaram Israel militarmente e diplomaticamente, com bilhões de dólares oferecidos como auxílio desde a fundação do país, mas não por partilhar dos seus interesses. Nem sempre seus interesses coincidem. Israel manteve-se neutro no conflito entre Ucrânia e Rússia, mostra-se indiferente aos abusos dos direitos humanos no Egito e na Arábia Saudita, e empresas israelenses às vezes vendem à China tecnologias de defesa que preocupam muito o Pentágono. Oferecemos muito apoio a Israel desde a sua fundação porque acreditamos que o país partilha dos nossos valores.

E mesmo quando, em Gaza ou na Cisjordânia, Israel se comporta de maneiras que não condizem com nossos valores, os israelenses frequentemente os retomam como referência. Eles nos dizem: “Ei, americanos, sejam menos rigorosos. Vivemos em constante conflito violento com os palestinos. Habitamos uma região louca. E ainda assim conseguimos manter a supervisão judiciária de nossas forças armadas, instituições democráticas sólidas, um judiciário independente e uma imprensa livre”.

Essa linha de raciocínio é seriamente ameaçada pelo que Netanyahu está tentando fazer. E, na ausência dessa coincidência de valores, o que resta? Interesses partilhados não serão suficientes, pois estes são transitórios.

É por isso que as palavras de Biden são tão importantes. Com essas palavras, Biden está dizendo a Israel que nossa relação nunca se baseou de fato em interesses compartilhados. Sempre teve como base os valores que partilhamos. É por isso que durou tanto tempo, mesmo quando nossos interesses divergem. Com essa simples declaração, Biden está indicando que, faça o que fizer, Israel não deve se afastar fundamentalmente desses valores compartilhados. Caso contrário, estaremos em um mundo inteiramente novo. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

domingo, 28 de setembro de 2014

Geopolitica: Reagan ou Obama, quem enfrenta os maiores desafios? - TomFriedman

Para o colunista do NYT, é Obama, pois o Reagan "só" tinha um império decadente, mas com endereço e telefone, para derrotar. Obama, ao contrário, tem uma miríade de não-estados bandidos, pipocando aqui e ali.
Se eu quiser ajudar a Dilma a "dialogar" com o Estado Islâmico, eu telefono para quem, para onde?
Pois é...
Paulo Roberto de Almeida 

Who Had It Easier, Reagan or Obama?


Thomas L. Friedman
OVER the past few weeks I’ve been reading Ken Adelman’s fascinating history “Reagan at Reykjavik: Forty-Eight Hours That Ended the Cold War.” Adelman, who led Reagan’s arms control agency, was an adviser at Reagan’s 1986 Iceland summit meeting with Soviet President Mikhail Gorbachev. Using some newly declassified documents, Adelman fills out the extraordinary dialogue between the two leaders that set in motion a dramatic cut in nuclear arms.
You learn a lot about Reagan’s leadership in the book. For me, the most impressive thing was not Reagan’s attachment to his “Star Wars” strategic defense initiative, which is overrated in ending the Cold War. What is most impressive about Reagan is that he grasped that Gorbachev was a radically different kind of Soviet leader — one with whom he could make history — long before his intelligence community did. That made a big difference.
These days there is a lot of “if-only-Obama-could-lead-like-Reagan” talk by conservatives. I’ll leave it to historians to figure out years from now who was the better president. But what I’d argue is this: In several critical areas, Reagan had a much easier world to lead in than Obama does now.
“Easier world, are you kidding?” say conservatives. “Reagan was up against a Communist superpower that had thousands of nuclear missiles aimed at us! How can you say that?”
Here’s how: The defining struggle in Reagan’s day was the Cold War, and the defining feature of the Cold War was that it was a war between two differentsystems of order: Communism versus democratic capitalism. But both systems competed to build order — to reinforce weak states around the world with military and economic aid and win their support in the Cold War. And when either Moscow or Washington telephoned another state around the world, there was almost always someone to answer the phone. They even ensured that their proxy wars — like Vietnam and Afghanistan — were relatively contained.
Obama’s world is different. It is increasingly divided by regions of order and regions of disorder, where there is no one to answer the phone, and the main competition is not between two organized superpowers but between a superpower and many superempowered angry men. On 9/11, we were attacked, and badly hurt, by a person: Osama bin Laden, and his superempowered gang. When superempowered angry men have more open space within which to operate, and more powerful weapons and communication tools, just one needle in a haystack can hurt us.
Most important, Reagan’s chief rival, Gorbachev, won the Nobel Peace Prize in 1990 for doing something he never wanted to do: peacefully letting go of Eastern Europe. Obama’s foes, like the Islamic State, will never win the Nobel Peace Prize. Reagan could comfortably challenge Gorbachev in Berlin to “tear down this wall” because on the other side of that wall was a bad system — Communism — that was suppressing a civilization in Eastern and Central Europe, and part of Russia, that was naturally and historically inclined toward democratic capitalism. And there were leaders there — like Lech Walesa, another Nobel Peace Prize winner — to lead the transition. We just needed to help remove the bad system and step aside.
“The countries of Eastern and Central Europe were forcibly part of a Communist empire but culturally were always part of Western civilization,” explained Michael Mandelbaum, the Johns Hopkins University foreign policy specialist and author of “The Road to Global Prosperity.” “They never saw themselves as Communist, but rather as Westerners who had been kidnapped.” After Gorbachev, under pressure from Reagan and the West, released them, “they ran as fast as they could to embrace Western institutions.”
In the Middle East, which has consumed so much of Obama’s energy, the people tore down their walls — their systems — but underneath was not a civilization with the suppressed experience, habits and aspirations of democracy and free markets. Instead it was a toxic mix of Islamism, tribalism, sectarianism and an inchoate aspiration for democracy.
Reagan’s leadership challenge was to bring down a wall and then reap the peace dividends by just letting nature take its course. Obama’s challenge is that on the other side of the wall that the Arabs took down lies the world’s biggest nation-building project, with a civilization that is traumatized, divided and often culturally hostile to Western values and institutions. It’s an enormous job that only the locals can lead.
The one time that Reagan faced the miniversion of Obama’s challenge was in Lebanon. After Israel toppled the Palestinian ministate there, Reagan hoped it would unleash a naturally democratic order, with just a little midwifing help from American Marines. But after 241 U.S. servicemen were blown up in Beirut in 1983, Reagan realized that the civilization there was a mix of Islamists, sectarian Christians, Syrians, Shiite militias, Palestinian refugees and democrats. It required a lot more than us just standing guard. It required nation-building. And what did Reagan do? He left.
I was there to wave goodbye to the last Marines on the beaches of Beirut.
So comparing Reagan with Obama in foreign policy is inevitable. But when you do, also compare their respective contexts. The difference is revealing.

domingo, 11 de maio de 2014

Yankee, DO NOT Go Home, Please - Tom Friedman, de Kiev a Hanoi

Parece que a Doutrina Obama é a do retraimento, a de se desvencilhar dos problemas do mundo.
Mas o mundo não quer.  O mundo quer a presença americana.
Menos os companheiros, claro.
Esses preferem a companhia de russos, chineses, cubanos, essas maravilhas da democracia e dos direitos humanos.
Paulo Roberto de Almeida 

More Chopsticks, Please
The New York Times, May 10, 2014

HANOI, Vietnam — BY an accident of scheduling, I’ve visited Kiev and Hanoi in the last couple weeks, and it’s been accidentally extremely revealing. Ukraine is a middle power living next to a giant bear, and Vietnam is a middle power living next to a giant tiger. Ukraine is struggling with how to deal with a declining Russia that is looking for dignity in all the wrong places — like in Crimea — and Vietnam is struggling with how to deal with a rising China that is looking for oil in all the wrong places — like in Vietnam’s territorial waters. Russia’s attitude toward Ukraine has been: “Marry me, or I’ll kill you.” And China’s toward Vietnam has been a variation of that line from “There Will Be Blood”: “I have a long straw, so I think I’ll drink my milkshake and yours.”
Meanwhile, America is trying to figure out how to buttress both Vietnam and Ukraine in their struggles with their giant neighbors without getting entangled in either dispute. And in my jet-lagged torpor, all I’ve been trying to do is make sure I don’t order Chicken Kiev in Hanoi and Chicken Spring Rolls in Kiev.
Both conflicts tell us a lot about the post-post-Cold War world. Neither Russia’s intervention in Ukraine nor China’s in Vietnam’s territorial waters is based on grand ideology or global aspiration. Both are about regional control, spurred by nationalism and resource competition.
Another similarity is that both Russia and China have not engaged in traditional crossborder aggression with their neighbors, choosing instead to operate behind cutouts. Russia used “little green men” in Ukraine — camouflaged pro-Russia gunmen whose identities are unclear — and China deployed a flotilla of 70 civilian vessels and just a few navy ships to the South China Sea. They towed a giant deep-sea drilling rig 130 nautical miles off the coast of Vietnam — well within Vietnam’s continental shelf but also in range of the disputed Paracel Islands that China claims are its own and therefore entitle Beijing to control a wide arc of surrounding waters.
Vietnamese TV has been airing an animated re-enactment of the confrontation: When a Vietnamese navy patrol boat challenged a larger Chinese vessel, it rammed the Vietnamese ship, wounding six sailors. Then another Chinese ship used a giant water cannon to shoo away the Vietnamese boats. It’s a huge story here in Hanoi.
In both cases, Russia and China used tactics firm enough to get their way but calibrated not to galvanize the international community to react much. China’s timing, though, right after President Obama’s visit to the region — when he criticized China’s expansive maritime claims — seemed to be a squirt gun in his face.
“It has been a real shock for the whole region,” Ha Huy Thong, the vice chairman of the foreign affairs committee of the Vietnamese Parliament told me. “They use civilian vessels, and then if you attack them they say, ‘Why did you attack our civilians?’ ”
But Vietnam has limited options. China “is a rising power. The question is how can we deal with it?” said Thong. “It is not only a violation of our territory but of international law.”
The only way to deter such regional powers when they bully one neighbor is with a coalition of all the neighbors. But such coalitions are hard to build when the threat is to just one country, is relatively low level and when the threatening country (China or Russia) controls so much trade to the rest of Asia in the case of China and so much gas to Ukraine and Europe in the case of Russia.
 “We have a saying in Vietnamese,” added Thong: “It’s easy to break two chopsticks, but it’s very hard to break a bundle of them.” Until such a coalition gets built, Vietnam — in an irony of history — finds itself now looking to America for more protection from its historical predator, China.
Le Duy Anh, 24, a lecturer at Hanoi’s FPT School of Business (FSB), remarked to me when I visited his campus that whenever China does something to Vietnam these days people go to the American Embassy in Hanoi and demonstrate. For so many years, Vietnamese fought a war with Americans “trying to get you out,” he said, “and now we are demonstrating to get you to intervene. We don’t want bloodshed, so we need someone to tell someone else to calm down.”
So Americans may think we’ve lost influence in the world, but, the truth is, many people out here want our “presence” more than ever. This is especially true of those living on the borders of Russia and China, who are each sort of half in and half out of today’s globalization system — beneficiaries of its trading and investment regimes but revisionists when it comes to playing by all the rules in their own neighborhoods. We may not be so interested in the world, but a lot of the world is still interested in us — and saying: “Yankee come hither” more than “Yankee go home.”

We’re not going to go to war on either front. And Russia and China also have claims and interests that bear consideration. But if we are to persuade Moscow and Beijing to resolve these border disputes peacefully, not unilaterally, we’ll clearly need a few more chopsticks in our bundle. Which is why America’s ability to build coalitions is as vital today as the exercise of its own power.