sábado, 30 de junho de 2012

Cada um tem o Lula que merece - João Luiz Mauad

Nota liminar: Mais um da série rascunhos esquecidos. O fato de ser de um ano atrás, não diminui em nada o interesse, pois trata de um problema atual e crescentemente preocupante: a dívida pública americana e seus efeitos para os americanos.
Paulo Roberto de Almeida 


O Lula deles
João Luiz Mauad
O Globo, 13/08/2011


O fato de que estamos aqui hoje para debater o aumento do limite da dívida americana é um sinal de fracasso das nossas lideranças. É um sinal de que o governo dos Estados Unidos não pode pagar suas próprias contas. É um sinal de que agora dependemos da assistência financeira de países estrangeiros para financiar as políticas fiscais irresponsáveis do nosso governo.... O aumento do limite da dívida da América nos enfraquece nacional e internacionalmente. Liderança significa responsabilidade pelas próprias decisões. Em vez disso, Washington está jogando o ônus de suas más escolhas de hoje nas costas dos nossos filhos e netos. A América tem um problema com a dívida e uma falha de liderança. Os americanos não merecem isso. Eu, portanto, sou contra o aumento do limite da dívida.”


Sabe de quem são essas duras palavras, caro leitor? Acredite, o discurso acima foi proferido pelo então senador Barak Obama, ainda em 2006, quando o Congresso daquele país discutia o limite da dívida federal, durante o mandato de George W. Bush. Na época, o aumento aprovado trouxe o teto da dívida para US$ 9 trilhões. Sob a presidência de Obama, o número já fora elevado para US$ 14,3 trilhões. Antes do recente aumento, portanto, a dívida já estava 60% maior do que quando ele sinalizava um suposto "fracasso de liderança", há cinco anos.


Malgrado a enormidade dos números, os políticos norte americanos chegaram a um acordo, ao apagar das luzes, evitando assim que o governo daquele país ficasse inadimplente perante os seus credores internos e externos. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos – pelo menos por enquanto.


Durante a longa queda de braço, fomos bombardeados por notícias e comentários - ecoados principalmente do notório New York Times, carro-chefe da mídia liberal (esquerdista) americana, à frente o estridente “nobelado” Paul Krugman - acerca do radicalismo e irresponsabilidade dos conservadores, capitaneados pelos fundamentalistas/terroristas do Tea Party, que insistiam numa postura de prudência e parcimônia – oh! Grande heresia! - em relação aos gastos do governo e, consequentemente, em relação à dívida pública. Aliás, os economistas podem discordar sobre o montante da dívida que um governo pode carregar com segurança, mas há certo consenso de que 100% do PIB é demais, especialmente quando se olha para os efeitos sobre a atividade econômica.


Mas os ditos radicais do Tea Party cometeram o supremo pecado de contrariar São Obama e, principalmente, a visão progressista segundo a qual quanto mais o governo gasta e se intromete na vida privada das pessoas, melhor para todo mundo. Embora seja muito difícil para qualquer pessoa de bom senso entender como é possível que um endividamento constante e progressivo do governo possa ser algo sadio, o que se viu foi o linchamento sem trégua dos atrevidos que se recusavam, constitucional e democraticamente, a dar carta branca para o executivo gastar a vontade.


Neste ponto, pode ser útil esclarecer exatamente sobre o quê estavam discutindo os dois lados. A questão não era propriamente se o governo federal deveria ou não expandir os seus gastos. Quase ninguém em Washington propôs o encolhimento do leviatã. Ao contrário, no final de dez anos tanto os gastos nominais quanto a dívida total serão bem maiores do que são hoje. Tenha-se em mente ainda que esses aumentos virão após uma das mais rápidas expansões de gastos federais na história dos EUA – desde que Obama tomou posse, houve um aumento de aproximadamente 30% em relação ao último ano de Bush.


Ademais, pouco se falou sobre isso, mas durante a maior parte do tempo o impasse esteve ancorado não no radicalismo do Tea Party, mas na intransigência do presidente, que insistia, mesmo contra a opinião majoritária do seu próprio partido, em aprovar limites muito maiores, além de aumentos de impostos.


Finalmente, pode-se discutir o que for, mas não é apropriado dizer que não havia legitimidade do legislativo para debater o tema, afinal eles foram eleitos exatamente para isso. Ao contrário da escatologia do NYT, a verdade é que o Congresso americano deu uma lição de democracia ao mundo, apesar do comportamento malsão de Obama, que, com discursos irresponsáveis, insistia em jogar a opinião pública contra os congressistas. Quisera eu que os nossos políticos discutissem os temas importantes da nação como fizeram os yankees, sem barganhas por cargos, liberação de verbas ou mensalões, mas apenas defendendo o que consideram melhor para o país.

Agua fria no aquecimento global: ceticismo cientifico sempre recomendavel


Nota liminar: mais um rascunho perdido nas catacumbas de meu blog, que ainda merece leitura, a despeito da divulgação tardia,
Paulo Roberto de Almeida

Por definição, cientistas que merecem esse nome devem sempre exibir aquela espécie de ceticismo sadio que os leva a sempre desconfiar das explicações fáceis, das "teorias gerais" -- keynesianas ou outras -- e procurar mergulhar mais fundo no funcionamento dos fenômenos que estudam, para oferecer interpretações mais adequadas aos dados reais. Embarcar nas tendências do momento, seguir a "opinião geral" não deveria ser, em princípio, uma atitude responsável. Deve-se deixar tal tipo de comportamento para políticos, feiticeiros e outros palpiteiros atirando a esmo no que não viram para não acertar no que viram.
Eu sempre desconfio das causas únicas, ou exclusivas, de qualquer fenômeno natural ou social.
Deveria ser assim também com o aquecimento global.
Vejamos, em todo caso, um artigo que não deveria contentar Al Gore.
Paulo Roberto de Almeida

The Other Climate Theory
Anne Jolis
The Wall Street Journal, September 7. 2011
In April 1990, Al Gore published an open letter in the New York Times "To Skeptics on Global Warming" in which he compared them to medieval flat-Earthers. He soon became vice president and his conviction that climate change was dominated by man-made emissions went mainstream. Western governments embarked on a new era of anti-emission regulation and poured billions into research that might justify it. As far as the average Western politician was concerned, the debate was over.
But a few physicists weren't worrying about Al Gore in the 1990s. They were theorizing about another possible factor in climate change: charged subatomic particles from outer space, or "cosmic rays," whose atmospheric levels appear to rise and fall with the weakness or strength of solar winds that deflect them from the earth. These shifts might significantly impact the type and quantity of clouds covering the earth, providing a clue to one of the least-understood but most important questions about climate. Heavenly bodies might be driving long-term weather trends.
The theory has now moved from the corners of climate skepticism to the center of the physical-science universe: the European Organization for Nuclear Research, also known as CERN. At the Franco-Swiss home of the world's most powerful particle accelerator, scientists have been shooting simulated cosmic rays into a cloud chamber to isolate and measure their contribution to cloud formation. CERN's researchers reported last month that in the conditions they've observed so far, these rays appear to be enhancing the formation rates of pre-cloud seeds by up to a factor of 10. Current climate models do not consider any impact of cosmic rays on clouds.
Description: osmicjolis
Description: osmicjolis
CERN
A cutting-edge physics experiment at the European Organization for Nuclear Research has scientists' heads in the clouds.
Scientists have been speculating on the relationship among cosmic rays, solar activity and clouds since at least the 1970s. But the notion didn't get a workout until 1995, when Danish physicist Henrik Svensmark came across a 1991 paper by Eigil Friis-Christensen and Knud Lassen, who had charted a close relationship between solar variations and changes in the earth's surface temperature since 1860.
"I had this idea that the real link could be between cloud cover and cosmic rays, and I wanted to try to figure out if it was a good idea or a bad idea," Mr. Svensmark told me from Copenhagen, where he leads sun-climate research at the Danish National Space Institute.
He wasn't the first scientist to have the idea, but he was the first to try to demonstrate it. He got in touch with Mr. Friis-Christensen, and they used satellite data to show a close correlation among solar activity, cloud cover and cosmic-ray levels since 1979.
They announced their findings, and the possible climatic implications, at a 1996 space conference in Birmingham, England. Then, as Mr. Svensmark recalls, "everything went completely crazy. . . . It turned out it was very, very sensitive to say these things already at that time." He returned to Copenhagen to find his local daily leading with a quote from the then-chair of the U.N. Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC): "I find the move from this pair scientifically extremely naïve and irresponsible."
Mr. Svensmark had been, at the very least, politically naïve. "Before 1995 I was doing things related to quantum fluctuations. Nobody was interested, it was just me sitting in my office. It was really an eye-opener, that baptism into climate science." He says his work was "very much ignored" by the climate-science establishment—but not by CERN physicist Jasper Kirkby, who is leading today's ongoing cloud-chamber experiment.
On the phone from Geneva, Mr. Kirkby says that Mr. Svensmark's hypothesis "started me thinking: There's good evidence that pre-industrial climate has frequently varied on 100-year timescales, and what's been found is that often these variations correlate with changes in solar activity, solar wind. You see correlations in the atmosphere between cosmic rays and clouds—that's what Svensmark reported. But these correlations don't prove cause and effect, and it's very difficult to isolate what's due to cosmic rays and what's due to other things."
In 1997 he decided that "the best way to settle it would be to use the CERN particle beam as an artificial source of cosmic rays and reconstruct an artificial atmosphere in the lab." He predicted to reporters at the time that, based on Mr. Svensmark's paper, the theory would "probably be able to account for somewhere between a half and the whole" of 20th-century warming. He gathered a team of scientists, including Mr. Svensmark, and proposed the groundbreaking experiment to his bosses at CERN.
Then he waited. It took six years for CERN to greenlight and fund the experiment. Mr. Kirkby cites financial pressures for the delay and says that "it wasn't political."
Mr. Svensmark declines entirely to guess why CERN took so long, noting only that "more generally in the climate community that is so sensitive, sometimes science goes into the background."
By 2002, a handful of other scientists had started to explore the correlation, and Mr. Svensmark decided that "if I was going to be proved wrong, it would be nice if I did it myself." He decided to go ahead in Denmark and construct his own cloud chamber. "In 2006 we had our first results: We had demonstrated the mechanism" of cosmic rays enhancing cloud formation. The IPCC's 2007 report all but dismissed the theory.
Mr. Kirkby's CERN experiment was finally approved in 2006 and has been under way since 2009. So far, it has not proved Mr. Svensmark wrong. "The result simply leaves open the possibility that cosmic rays could influence the climate," stresses Mr. Kirkby, quick to tamp down any interpretation that would make for a good headline.
This seems wise: In July, CERN Director General Rolf-Dieter Heuer told Die Welt that he was asking his researchers to make the forthcoming cloud-chamber results "clear, however, not to interpret them. This would go immediately into the highly political arena of the climate-change debate."
But while the cosmic-ray theory has been ridiculed from the start by those who subscribe to the anthropogenic-warming theory, both Mr. Kirkby and Mr. Svensmark hold that human activity is contributing to climate change. All they question is its importance relative to other, natural factors.
Through several more years of "careful, quantitative measurement" at CERN, Mr. Kirkby predicts he and his team will "definitively answer the question of whether or not cosmic rays have a climatically significant effect on clouds." His old ally Mr. Svensmark feels he's already answered that question, and he guesses that CERN's initial results "could have been achieved eight to 10 years ago, if the project had been approved and financed."
The biggest milestone in last month's publication may be not the content but the source, which will be a lot harder to ignore than Mr. Svensmark and his small Danish institute.
Any regrets, now that CERN's particle accelerator is spinning without him? "No. It's been both a blessing and the opposite," says Mr. Svensmark. "I had this field more or less to myself for years—that would never have happened in other areas of science, such as particle physics. But this has been something that most climate scientists would not be associated with. I remember another researcher saying to me years ago that the only thing he could say about cosmic rays and climate was it that it was a really bad career move."
On that point, Mr. Kirkby—whose organization is controlled by not one but 20 governments—really does not want to discuss politics at all: "I'm an experimental particle physicist, okay? That somehow nature may have decided to connect the high-energy physics of the cosmos with the earth's atmosphere—that's what nature may have done, not what I've done."
Last month's findings don't herald the end of a debate, but the resumption of one. That is, if the politicians purporting to legislate based on science will allow it.

Miss Jolis is an editorial page writer for The Wall Street Journal Europe.

Commanding Heights - Daniel Yergin, Joseph Stanislaw

Meu correspondente benévolo, sempre interessado em melhorar o meu conhecimento e o dos meus leitores, me envia os links para uma série televisiva que eu já utilizo, em DVD, em minhas aulas.
Mas, seguem as recomendações para a série:


Commanding Heights: The Battle for the World Economy
Roteiro de Daniel Yergin, Joseph Stanislaw
PBS videos

-EPISODE ONE:"THE BATTLE OF IDEAS"(19 Chapters)

-EPISODE TWO:"THE AGONY OF REFORM"(21 Chapters)

-EPISODE THREE:"THE NEW RULES OF THE GAME"(23 Chapters) 

O grafico da miseria (ou da precariedade) - The Economist

Nota liminar: um post antigo, que tinha ficado nos rascunhos, aparentemente sem publicação.

Daily chart

Feeling gloomy

Jan 9th 2012, 15:41 by The Economist online


More bad news for Europe's troubled economies
THE new year was a bad time for a public figure to die. Kiro Gligorov, the first president of independent Macedonia, was rather ignored when he died on January 1st: the foreigners who might normally be interested in such an event were occupied trying to work out whether nuclear war was imminent on the Korean peninsula. Macedonia may remember Mr Gligorov fondly, but the country is in a mess. It comes top of our misery index, which combines two powerful indicators of economic gloom—unemployment and inflation. Out-of-control price rises are mainly a problem in oil-rich countries with loopy economic management such as Venezuela and Iran (and, to a lesser degree, Russia). One striking feature of the updated index, however, is that high unemployment now places a number of rich European countries right up there with the most miserable countries in the world—or at least in the 92 for which we have good data.

Resenhas do passado: retomando as postagens; Welber Barral (org.), Direito e Desenvolvimento

Retomo a postagem de minhas resenhas antigas, publicadas na revista do Ipea (que já foi boa, mas que hoje virou um repositório do pensamento único), uma vez que elas estão relinkadas; mas nem sempre postadas corretamente: em várias resenhas simplesmente faltam os dados editoriais dos livros, que geralmente vinham com a capa do livro, igualmente suprimida em muitos casos.
Vão ter de contratar um webmaster mais competente.
Geralmente as minhas resenhas, dada a dimensão, eram implacavelmente cortadas pelo editor. Eu aqui recomponho o tamanho original, e o texto completo.
Paulo Roberto de Almeida  

21. “Conexões entre direito e desenvolvimento”, Brasília, 9 outubro 2005, 2 p. Resenha de Welber Barral (org), Direito e Desenvolvimento: Análise da ordem jurídica brasileira sob a ótica do desenvolvimento (São Paulo: Editora Singular, 2005, p. 360). Publicado em Desafios do Desenvolvimento (Brasília: IPEA-PNUD, Ano 2, nº 16, novembro 2005, p. 61; link: http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=1792:catid=28&Itemid=23). Relação de Trabalhos nº 1479. Relação de Publicados nº 603.



Conexões entre direito e desenvolvimento


Welber Barral (org),
Direito e Desenvolvimento: Análise da ordem jurídica brasileira sob a ótica do desenvolvimento
São Paulo: Editora Singular, 2005, 360 p.

“É difícil pensar que o desenvolvimento possa realmente ser visto independentemente de seus componentes econômicos, sociais, políticos ou jurídicos”, diz Amartya Sen no texto que serve de prefácio a esta obra, que recolhe contribuições de uma dúzia de especialistas no direito brasileiro sob a direção do professor de direito internacional econômico da UFSC, Welber Barral. A intenção foi a de analisar os vários ramos do direito no contexto do ordenamento jurídico brasileiro, tendo o objetivo do desenvolvimento como critério funcional. O economista e prêmio Nobel indiano, que se esforçou por incorporar a liberdade como um componente necessário do processo de desenvolvimento, reconhece que o capitalismo não emergiu até que o direito evoluísse e ocorresse a aceitação jurídica e prática dos direitos de propriedade, de forma a tornar possível uma economia baseada na propriedade privada.
O organizador apresenta, por sua vez, os elementos constitutivos de uma ordem jurídica que não seja um empecilho ao processo de desenvolvimento. Eles podem ser resumidos nos seguintes fatores: regras claras e previsíveis; tratamento eqüitativo dos cidadãos; participação democrática e eficiência do judiciário. Alguns obstáculos ao bom funcionamento da ordem jurídica podem, por outro lado, ser identificados nos problemas seguintes: a ignorância do processo econômico pelos responsáveis pela aplicação das leis, uma crença exagerada no poder das normas, bem como uma retórica romântica e abstrata sobre a defesa dos direitos humanos, resultando numa ordem jurídica imaginária, distante da realidade da vida das pessoas.
Os países latino-americanos são conhecidos por ostentar uma rica tradição jurídica, ao mesmo tempo em que a estrutura regulatória do direito conhece altos custos de transação, uma insegurança jurídica notória e a falta de transparência nos processos. Como diz Barral, “a história latino-americana é infelizmente pródiga em exemplos de uma elite (jurídica e política) predatória”. 
Os colaboradores convidados abordam tanto aspectos conceituais das conexões entre o direito e o desenvolvimento – sua inserção na Constituição de 1988, o desenvolvimento sustentável, as relações com os direitos humanos e a educação, o acesso à justiça, as políticas de desenvolvimento regional e o papel das agências reguladoras – como sua vinculação com os diversos ramos do direito no quadro do ordenamento brasileiro: concorrência, sistema tributário, investimentos e os direitos de propriedade intelectual.
Aqui e ali emerge certo idealismo jurídico, como a demanda por uma mudança na “lógica do capitalismo” que deveria, segundo um jurista belga, substituir a “noção de lucro por aquela de necessidade”, ou o “consumo como meio e não como objetivo”. No conjunto, porém, o volume preenche de maneira satisfatória seu objetivo de análise crítica da ordem jurídica brasileira do ponto de vista do desenvolvimento.

Brasília, 1479: 9 outubro 2005, 2 p.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...