quinta-feira, 5 de junho de 2025

Crônicas diplomáticas: depois da iniciativa pioneira do Renato Prado Guimarães, outros escrevinhadores diplomáticos se apresentam: Christiano Whitaker

Crônicas diplomáticas: depois da iniciativa pioneira do Renato Prado Guimarâs, outros escrevinhadores diplomáticos se apresentam: Christiano Whtaker


Senhores, 

Permito-me submeter a crônica que se segue, recordação de bons tempos idos.


VIETNAM -1       O SANTO GUERREIRO

Bonum certamen certavi
 
       Demorou três anos. Cheguei, fiz as visitas de praxe: autoridades, colegas. E fui já pedindo, por Nota formal: “A Embaixada do Brasil cumprimenta”, etc. e tal que todos conhecemos, e solicita que se marque uma entrevista com o Santo Guerreiro. Semana, mês, meses: eu, novato de Vietnam e de coisas asiáticas, estranhei – por quê não respondem? Na primeira ocasião que me apareceu, perguntei aos do Protocolo local, e a minha visita ao Santo Guerreiro? Ah, Embaixador, o Senhor há de comprender: ele está muito velho, adoentado, quase não recebe ninguém, quase não sai de casa.
      Tá bem, comprendo. Mas daí a poucas semanas vou ao casamento de um figurão do Partido e da Assembléia. “Le tout Vietnam” lá estava, e eu me sentia só e estranho naquele mar de nativos que me olhavam com prudente curiosidade. Diviso ao longe outro estranho e solitário, o Embaixador da Argentina, que também me vê, e corremos um em direção do outro, em busca de amparo mútuo. “Ola, que tal, que contás”? “Tudo bem contigo? Qu’é qu’cêtá fazendo aqui?” “Lo mismo que vos, pues”. E trocamos nossas impressões sobre aquele vai e vem de gente asiática, comentamos a importância que deve ter o figurão que nos convidou, equilibramos pratos e copos. E eu diviso ao longe, sorrindo e com aparência de muita saúde, o Santo Guerreiro, que acaba de dar um abraço final no figurão e se escorre pela porta de saída. Não dava para largar o prato e o copo nas mãos de meu colega, amigo e co-mercosulino, tentar varar a barreira humana dos convidados e correr atrás do Grande Soldado, que vi afastar-se de braço dado com sua esposa, tranquilo, devagar, escapar-me. Bem, pelo menos ele sim sai de casa, pensei.
    Meses depois fui à casa do Turco, excelente colega, que estava sempre explicando detalhes da história de seu país e da insuspeitada influência da Turquia na cena mundial. Foi ele que me ensinou que o  pirata conhecido como “Barba Roxa” era, na verdade, o “rais” Babrus, almirante turco, terror do Mediterrâneo, que por coincidência sim tinha uma longa barba ruiva. E ele também me ensinou que a carne em conserva chamada “bästramë”, de origem túrquica, havia emigrado para os Estados Unidos com o nome de “pastrami” – e eu que jurava que era italiana! Grande Turco! Mas não tão grande assim que merecesse aquilo que eu estava vendo em cima de uma movel de sua sala: um porta-retrato de dentro do qual me sorriam, formais, sentados juntos, ele e o Santo Guerreiro. Essa não!
Saí furioso, e expressei minha indignação a todo o Governo local, por intermédio de ácida ironia a meu chofer de então.  No dia seguinte, o chofer veio e me disse que ele próprio, que tinha parentes entre os militares – não tivesse ele mesmo sido capitão, e andado nas estrepolias do Camboja – ia ver se poderia agendar um encontro para mim. Dias, semana, duas semanas – e o meu encontro com o Santo Guerreiro?  “Sorry, Ambassador. It is winter, very cold, and he is in Ho Chi Minh City.” Verdade? Desculpa? Como saber? Pelo menos estava realmente frio aquele meu segundo inverno em Hanói, e era possível que o Santo Guerreiro de fato tivesse ido invernar no Sul, onde o clima ora é quente e úmido, ora úmido e quente.
    Deixei correr a dor-de-cotovelo e o tempo, mas todas as vezes que passava diante do casarão de grandes árvores onde vive o Santo Guerreiro, sentia a discreta pontada da frustração.
        Meses e meses – mais de ano! – depois, mencionei por acaso a meu Intérprete Khoa o objetivo ainda não atingido, sempre tão longínquo, de visitar o Santo Guerreiro, e meu língua disse que ia ver o que ele podia fazer a respeito. Expressei meu agradecimento cético e de antemão resignado, e arquivei o assunto. Um mês depois, o Intérprete me veio informar que o Santo Guerreiro estava nas montanhas, mas devia voltar dali a uns quinze dias. Agradeci, arquivei. Mais um mês, e uma tarde chega o Intérprete e me anuncia, rebrilhando de mal-disfarçado orgulho: “El General Vo Nguyen Giap lo recibirá el próximo Jueves.”
        Nunca cheguei a saber exatamente como foi que Khoa havia logrado o feito: estranha mania tem o língua de dar as mais circunloquiais explicações. Algo a ver com a cultura local. A uma pergunta símples, como “por quê não foi assinado o acordo de pesca com a Romênia?”, segue-se uma resposta que frequentemente se inicia com episódio histórico ocorrido na Dinastia Le. Quando perguntei como havia conseguido minha visita ao General, Khoa respondeu com um enigma: “En Vietnam, Embajador, cada cosa tiene su tiempo proprio…” E mais não disse. Aceitei, mas fiquei perguntando-me por quê o tempo do Turco tinha chegado antes do meu, se tínhamos apresentado credenciais no mesmo dia…
    Chegou a quinta-feira. Preparei presentes: um livro sobre o Corpo de Fuzileiros Navais e CDs de música brasileira: Nazareth, sobretudo. O General é uma pessoa fora do comum. Nunca estudou Artes Militares: é professor de História – ou de Geografia? – por formação. E pianista, de corte chopiniano; porisso a escolha de Nazareth, o Chopin  de Pindorama. Receberam-nos, a Khoa e a mim, o General e dois coronéis; um deles, do Departamento de Relações Internacionais do Exército, fluente em espanhol, intérprete para o caso de necessidade; o outro, sabe-se lá de que Departamento, presente ou em função do Embaixador de uma potência estrangeira, ou  em função do próprio General, figura por vezes grande demais e que tem de ser discretamente contido, reconduzido a sua condição de monumento vivo. Frustraram-se – acho – todos os intépretes presentes, pois o General e eu escolhemos o francês para comunicar-nos.  Trocamos amabilidades, falei-lhe sobre Nazareth, mas o soldado nele falou mais alto, e foi pelo livro sobre os Fuzileiros Navais que se interessou mais. Perguntou-me sobre o Brasil, perguntei-lhe sobre o Presidente Ho Chi Minh (“Um homem simples que estava genuinamente à vontade com qualquer pessoa, que sabia como tocar o coração de cada um”).
    Terminada a visita, veio a cerimônia das fotografias – e as que tiraram de mim em conversa com o General são bem mais vívidas que aquela dele com o Turco. Mas a melhor de todas é a do jovem chofer Lai, que durante todo o ritual das fotos, desenrolado no jardim das Grandes Árvores, manteve-se à parte, junto do meu carro, perfilado como se ele também fosse um soldado (pode ser, nunca se sabe…). O General o percebeu, chamou-o, estendeu-lhe a mão, e – clic! – lá está estampada no rosto do jovem Lai a profunda admiração de todo um país por um dos seus maiores heróis, um homem que não perdeu seu rumo.
    Nunca estudou Artes Militares, repito: e foi quem conduziu o Dragão, os milhares e milhões de dragões, que roeram Dien Bien Phu, e que foram roendo, cuspindo fogo, morrendo aos magotes, recuando, avançando, até que o último helicóptero decolou uivando de um terraço de Saigon. E ali estava ele, o Santo Guerreiro, recebendo-me na sala de seu casarão de grandes árvores, livros e mais livros nas estantes, um que outro enfeite de cativante mau-gosto. Um homem fardado, de pequena estatura, muito velho. E que transpirava serenidade, os bons combates que combateu, a marca que deixará.
.   Um santo; e quando se for, será um dos jardineiros do Jardim. Cultivará flores.

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Renato Prado Guimarâes mais uma vez: desta vez, meios para escapulir dos enfadonhos coqueteis diplomáticos...

Renato Prado Guimarães, escritor, jornalista, diplomata (nessa ordem)

 87 anos e ainda tanta coisa pra contar!

Das "Crônicas Tardias, Memórias Precoces", inéditas, um coquetel de minuto único:

Coquetel de um minuto

Tenho horror a coquetéis, principalmente os diplomáticos. Não há forma de convívio social mais artificial, afetada, incômoda, molesta, cansativa, frustrante, inútil, insalubre, malsã. Haja pejorativo para essa invenção abjeta.

O Marquês de Maricá certa vez disse que a pobreza não incita inveja; por mais que procure, acrescentava, não lhe descubro outra vantagem. Para o coquetel não encontro nem essa vantagem, pois há quem muita vez inveje, desavisado, seus não-participantes. A não ser que eu apele às botas de Brás Cubas, que se apiedava dos que nunca as calçaram apertadas, por não terem podido desfrutar do prazer sublime de tirá-las. Coitados dos que nunca foram a um coquetel, pois nunca experimentarão a alegria e o alívio de estar ausente de algum. 

Houve quem me dissesse que o problema do coquetel está no álcool que nele se tem de ingerir, e que perturba e deprime os sentidos e a disposição física e espiritual do convidado.  Não me furtei de testar a tese esdrúxula, mas só uma vez, pois de imediato me dei conta de que, se alguma coisa há pior do que coquetel com álcool, é ...coquetel sem álcool - abstêmio. 

Movido a álcool? Não exatamente. A ser moído na festa, dos pés à cabeça, de tédio e canseira, que seja moído a álcool. 

Festa é bom para quem quer ir; é um castigo para quem não quer. Já imaginaram o que seria ir a um casamento (ou mais), a uma festa de aniversário (ou duas, três), todo dia? Em muitos postos essa é a sina do diplomata com relação aos coquetéis – não por vontade própria, mas por dever de ofício. 

E estou em boa companhia, nesse sentimento anti-coquetel, que parece ser mais generalizado do que normalmente se imagina. Em artigo do “The Economist”, sobre a felicidade na juventude e na velhice, sábio professor de Psicologia na Universidade de Stanford pontifica: “Gente jovem pode ir a coquetéis porque acha que pode encontrar lá quem lhe venha a ser útil no futuro, mas eu não conheço ninguém que realmente goste de ir a um coquetel”.  

Tive um Chefe e colega, em tudo competente e inatacável, que detestava coquetéis. Acho que quase tanto quanto eu. Sabia de cor a planta dos recintos em que os coquetéis se realizavam, a fim de traçar com antecedência sua estratégia de retirada, logo depois de apresentados ao anfitrião os cumprimentos exigidos pelas normas da cortesia. No dia seguinte, à pergunta sobre como fora o coquetel da véspera, ou respondia, jovial, “Cinco minutos!”, ou, consternado, quase apologético: “Não deu pra sair logo. Você sabe, aquela Embaixada tem poucas rotas de escape, poucas saídas, tudo atravancado. Mais de meia hora...”.

Certo dia, encontrei-o numa de suas costumeiras brigas com a Secretária, tentando esquivar convite para coquetel. Muito ranzinza, mas com remorsos, nesse caso: “Eu tenho de ir às despedidas de Fulano. Ele é muito meu amigo e lhe devo algumas gentilezas importantes. Mas a coquetel nesse lugar, me prometi que nunca mais iria. Você não tem como sair. É só uma porta. O anfitrião vê quem entra e vigia quem sai!”. 

Condoído, e lembrado da geografia do tal recinto, que tivera de inspecionar numa precursora de visita presidencial, tranquilizei o Chefe, assegurando-lhe que o tiraria de lá em minutos, se fôssemos juntos. Aceitou, cético, e lá fomos, ele sempre  relutante, queixoso, resmungão. Subimos por um dos quatro elevadores que serviam o recinto da recepção. Cruzamos o hall de entrada, à tal porta indiscreta o colega se abraçou efusivamente com seu amigo anfitrião. Terminados os cumprimentos gratos e reciprocamente afetuosos, olhou de imediato para mim, cobrando já meio angustiado a promessa de subtraí-lo prontamente da festa. Peguei-o pelo braço, tropeçamos nuns garçons no caminho da copa/cozinha contígua à sala, adentramos naquelas dependências, para espanto de cozinheiros e seus auxiliares, esquivamos fogões, pilhas de pratos, copos e panelas, escorregamos alguns passos no chão engordurado, de passagem furtamos um que outro salgadinho,  mas logo rumamos, determinados, para a porta de serviço, que dava, discretamente, para o mesmo hall por onde entráramos. Encontramos um dos elevadores de portas abertas e encetamos por ele, sem pausa, a reta final, e vertical, de nossa fuga. O Chefe estava exultante, olhando para o relógio: “Um minuto! E descemos pelo mesmo elevador em que subimos!”. 

Não era o mesmo elevador, e a excursão havia durado bem uns quatro minutos mais, mas para que desmerecer seu orgulho, sua alegria espontânea e tão genuína pela glória da  precoce retirada? 

A marca de um minuto, eu a alcançaria, mas apenas anos mais tarde, tirando partido de minha experiência amadurecida e de um terreno particularmente favorável - belo casarão na Siesmayerstrasse, defronte ao Palmengarten, em Frankfurt, que se alugava para abrigar recepções. Topografia muito plana, desimpedida. Após os cumprimentos de praxe, à porta de entrada, bastava caminhar em linha reta, através de dois salões, passar por ampla porta envidraçada (na verdade, uma discreta saída de emergência, só encostada, com o trinco aberto – o pormenor decisivo), e descer os sete degraus da escadaria externa, abrindo para o jardim. Faltava só contornar a casa para de novo alcançar o portão de entrada – e a liberdade. 

Colegas convivas frequentes de coquetéis nesse lugar cobraram-me várias vezes o modus faciendi dos sumiços repentinos, deveras invejados. Nunca revelei o segredo; vai que algum deles resolvesse fazer coquetel ali e decidisse, de maldade e gozação, bloquear-me a saída, fechando a porta... Só ao deixar o posto, rumo ao Japão, confessei a estratégia a uns poucos amigos. Ficaram muito agradecidos. 

Tarde na carreira, e na vida, reinventei um sucedâneo para o malfadado coquetel. Passei a organizar, em vez dele, e com aviso prévio, reuniões no velho formato do sarau, combinando os comes e bebes com ameno convívio social e alguma forma de entretenimento: pequenas apresentações musicais, palestras ligeiras sobre temas do momento, literatura – enfim, festa, enriquecimento cultural e divulgação do Brasil.  Mandava o programa com o convite bem explicado e ia quem topasse. Não me arrependi nunca. 

Anunciar no convite o que será o evento é delicadeza esquecida, que se deveria restaurar. Por exemplo, convidar para jantar mas informar o convidado do que vai comer e beber,  para que tenha mais informação e liberdade de escolha com respeito a aceitar ou não. 

Amigos da Venezuela me deram de presente um menu, finamente decorado, que seus antepassados haviam recebido como convite da então Legação do Brasil, para um jantar a 7 de março de 1899,  e  no qual vinham todos os pratos que seriam servidos, com os respectivos acompanhamentos líquidos. Bons tempos: Potage à La Reine com Xerés;  Bouchées Duchesse e Homard sauce mayonnaise com Sauterne; Filet piqué aux champignons com Pontet Canet, etc. etc. Como bebida geral, polivalente, Veuve Clicquot.

Coquetel de festa nacional é um anátema entre os diplomatas de todo o mundo. Obrigatório, não há recursos para custeá-lo, há muita gente a convidar, o limite de número de convidados força discriminações embaraçosas. Acaba uma reunião mal-humorada, de terno escuro, geralmente só na hora do almoço e homens, uísque, vinho e refrigerantes, ambíguos salgadinhos e doces da nacionalidade festejada. Presentes, colegas diplomatas, solidários, algumas autoridades disponíveis do Governo local, os papa-festas habituais da elite autóctone, um que outro líder da comunidade brasileira, se ali existente.  Que trocam trivialidades, como em qualquer evento equivalente, esquecidos, o mais das vezes, do motivo da celebração. Uma que outra vez, Embaixador ou Cônsul mais ousado (ou inexperiente) “inova”, apresentando um artista ou conjunto musical de seu país – iniciativa em geral tida  como de gosto duvidoso, recebida pelos colegas de nariz torcido, com uma complacência mal disfarçada. 

Em Frankfurt, resolvi tentar fazer diferente. Em lugar do coquetel tradicional de 7 de setembro, uma festa cívica, de massa, da população. Todos os brasileiros convidados – e também os  alemães amigos do Brasil. Num clube local, com campo de futebol e quadras de vôlei, playground, etc. A partir das 12:00 horas. Preço simbólico de entrada. Barracas de comida e bebida típicas brasileiras, de diversas origens regionais, do churrasco gaúcho ao pato no tucupi paraense, passando pela feijoada carioca, o bobó bahiano, o tutu e a polenta de Minas, sortidos salgadinhos de toda parte. Cerveja nossa, guaraná, caipirinha! Diversos esportes, capoeira, entretenimento cívico para as crianças, dança e música ao vivo. Muita bandeira, muito verde e muito amarelo. Sorteios de passagens para o Brasil. Discurso e Hino. 

Uma certa bagunça, também,  no melhor estilo nacional.  O público dependia muito do tempo: 600, 800, até 1.300 pessoas, de acordo com o sol, ou a chuva. Meus sucessores imediatos continuaram prestigiando a festa, que era organizada pelo Centro Cultural Brasileiro em Frankfurt. Dentre os aperfeiçoamentos, logo no segundo, a novidade da presença do Coral Vozes do Brasil, de Colônia, que veio cantar para seus compatriotas de Frankfurt, e também se disputou pela primeira vez a “Copa Independência” de futebol de botão! 

Nada mais brasileiro... E cívico!

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Renato Prado Guimarães: um jornalista na diplomacia, sempre ativo

Que sabe escrever, escreve, como um grande amigo diplomata, Renato Prado Guimarães:  


87 anos e tanta coisa ainda pra contar... 
Das "Crônicas Tardias, Memórias Precoces", a Epígrafe:

A crônica é a poesia da notícia,

a trova do evento;

a memória é o passado em conserva,

servido a gosto.


Amanhã: "Coquetel de um Minuto"

Antes, o Renato Prado Guimarães enviou isto: 

Já conto 87 anos. A proximidade do fim definitivo me angustia sobretudo pelo tanto que ainda tenho a contar, da vida pessoal e das experiências profissionais, jornalista e diplomata. Publiquei dois livros, “Crônicas do Inesperado” em 2009 (Macunaíma é venezuelano, Guimarães é nome alemão, a primeira “bush party” australiana foi regada com cachaça fluminense, etc. etc.), e “Vou-me Embora pra Colina” em 2017 (coleção de crônicas - as “Colinenses” - antes postadas na Internet sobre minha cidade natal). Mais recentemente preparei outros três volumes, todos zelosamente guardados em minha gaveta, por certo tímida, cautelosa: “Crônicas Tardias, Memórias Precoces”, “Marcha Soldado, Direita pra Dentro, Esquerda pra Fora”, e “Panamérica” (seleção de crônicas das demais edições, a ser publicada em espanhol para circulação nos vizinhos latino-americanos). A ansiedade ante a proximidade do término terminal me levou, contudo, à decisão de molestar os leitores deste site com fragmentos da “obra”, na forma de crônicas e notas isoladas. E começo com o melhor dos começos, nosso Barão, contando novidade a seu respeito com que jamais havia topado, na boca de nenhum colega ou qualquer meio impresso.
Confiram:

Minuto de silêncio 

Quem inventou o minuto de silêncio? 

A quem homenageava?

Pois não é que essa homenagem hoje universal foi criada pelo Senado de Portugal para expressar o pesar da nação portuguesa ante o falecimento de nosso Barão do Rio Branco, Patrono da diplomacia brasileira?! Rio Branco era muito querido e admirado na mãe-Pátria, e sua perda foi ali genuinamente sentida. A proposta inicial dos Senadores era de 10 minutos sem ruído; à medida em que o gesto fúnebre foi-se expandindo, contudo, sua duração foi-se também reduzindo, até chegar ao minuto único, observado no mundo todo.  

Na Wikipedia há menção a que a primazia poderia ser outra: “Um jornalista de Melbourne,  Edward George Honeyfoi  o primeiro a propor um período de silêncio pelo Dia da Memória Nacional em uma carta publicada no London Evening News em 8 de maio de 1919.” 

Erro da Wiki! Como ter precedência por carta, e meramente sugestiva, e muito posterior ao silêncio reverente dos parlamentares lusitanos? A tal carta é de 1919; Rio Branco faleceu a 10 de fevereiro de 1912.  

          E por que não incluir o minuto mudo no cerimonial da celebração de seu aniversário no Palácio Itamaraty, em Brasília? Até mesmo, quem sabe, fazer com que naquele dia seja observado em todas as nossas repartições no exterior - Embaixadas, Consulados, Delegações ante órgãos internacionais? 

É bem verdade que momentos de silêncio podem igualmente ensejar ruído e sentimentos opostos. A Wikipedia escolhe para ilustrar o ponto um exemplo bem brasileiro: 

Jogo Ceará x Fortaleza, em 1984. Antes do jogo, um minuto de silêncio pela morte da mãe do juiz. Aos 5 minutos, o juiz anula um gol do Ceará. E a torcida começa a gritar: 

“Órfão da p...!”. “Órfão da p...!”


Depois vai ter mais..

terça-feira, 3 de junho de 2025

O Massacre da Praça da Paz Celestial em 1989 - Paulo Roberto de Almeida

O Massacre da Praça da Paz Celestial em 1989

Paulo Roberto de Almeida

        Em 4 de junho de 1989, eu me encontrava em Washington, para uma conferência diplomática internacional da OMPI, sobre circuitos integrados (não serviu para nada). Mas segui as manifestações, nos dias anteriores, pela CNN, que transmitia tudo diretamente. No próprio dia, deu blecaute total, e a famosa foto do chinês carregando uma sacola de compras e barrando uma coluna de quatro tanques, só vim a conhecer algum tempo depois.
        Onze anos depois, eu me encontrava na China, trabalhando a serviço da diplomacia brasileira, e realmente tinha acesso aos canais estrangeiros (CNN, BBC, Deutsche Welle, France 24 etc.), mas não acesso às redes de comunicação social (desde o Google e todos os demais), e tive de assinar um VPN (50 dólares anuais) para acessar meu. próprio blog e outros canais simplesmente vetados na China.
        Os canais estrangeiros funcionavam sob estreito controle dos batalhões (milhares deles) de censores: podíamos ter as notícias normais, sobre temas correntes de cada rede estrangeira, inclusive sobre a China, mas quaisquer menções a Tibete, Xinjiang, manifestações contra o governo, direitos humanos na China (até sobre a Primavera Árabe, em pleno curso então) eram imediatamente barradas na TV: um painel preto, nas línguas desses canais (francês, inglês, alemão, japonês etc), tentava enganar a audiência mencionando um problema técnico temporário. Durava o tempo da notícia que os censores consideravam negativa ao poder do PCC, depois voltava ao normal, geralmente os poucos minutos da notícia. Quando se tratava de uma matéria mais extensa, os censores tentavam enganar mais ainda, colocando no lugar uma matéria daquele próprio canal, sobre turismo, por exemplo, enquanto durasse a matéria.
        A censura era tão extensa e atenta que, em jogos de futebol em países estrangeiros, quando aparecia algum cartaz grande no alambrado, que os militantes democráticos pudessem colocar, tipo "Free Tibet" por exemplo, a transmissão do jogo também era interrompida, e no seu lugar entrava qualquer outro jogo.
        Quando a CNN fez uma emissão especial dos seus 30 anos em funcionamento, justamente em 2010, eu também me encontrava na China: a CNN fez uma síntese de suas grandes matérias no período – guerra do Golfo, desastres naturais etc. –, mas ao chegar nos eventos de 4 de junho de 1989, novo blecaute total, e substituição ridícula por outras matérias "inocentes" da própria CNN.
        A China um dia será livre e democrática, e esses eventos serão recuperados para a história, assim como a Alemanha unificada recuperou a memória do período totalitário da RDA e da URSS.
        Vai demorar, mas virá um dia...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 3/06/2025 (já é 4 de junho na China)

Meu Reino por uma Máquina de Escrever antiga (não elétrica) - Paulo Roberto de Almeida e CGPH-MRE

 Meu Reino por uma Máquina de Escrever antiga (não elétrica)

Acreditem os mais jovens: eu já escrevi metade de minha produção em máquinas de escrever manuais; já minha tese de doutoramento foi escrita numa IBM elétrica, aquelas de bolinha; comprá-la, no meu primeiro posto na Suíça, me custou o preço de um Fusca usado no Brasil.
Bem, mas não é por isto que escrevo aqui. Quero pedir, solicitar, suplicar que alguma alma caridosa desta capital federal no cerrado central que possua uma máquina de escrever e que queira ceder para uma boa causa – o Museu das Antiguidades (ops, Memorial das Comunicações) do MRE – que está organizando as ferramentas vetustas que usávamos no Itamaraty nos tempos de Matusalém. Eu nunca trabalhei em criptografia, mas já decifrei telegramas confidenciais naquelas velhas fitas perfuradas que depois transitavam pelo telex (tem gente que nunca viu um).
Que puder ceder aqui em Brasília, me contate que eu busco em qualquer lugar acessível a carro ou burro...
Abaixo a comunicação suplicante:

"Caros colegas,
A Coordenação-Geral de Patrimônio Histórico (CGPH) está reorganizando partes do Memorial das Comunicações do Itamaraty (https://www.gov.br/mre/pt-br/assuntos/palacio-itamaraty/patrimonio-historico/memorial-das-comunicacoes), localizado no térreo do anexo I. Planejamos incluir, em breve, algumas atividades interativas, como jogos de cifração e decifração de mensagens e conteúdo audiovisual a ser acessado em um antigo computador.

Gostaríamos, se possível, de também oferecer aos nossos visitantes acesso a uma máquina de escrever, já que os visitantes mais jovens nunca tiveram a oportunidade de utilizar o equipamento. As que temos em exibição não estão em condições de uso para esse fim. Já vasculhamos o Ministério e não achamos nenhuma extra - devem ter sido descartadas há tempos. Apelo, assim, para este nosso grupo.

Caso algum de vocês tenha uma máquina em estado razoável que desejasse ceder ao Memorial, peço a gentileza de me contatar, por este email ou em elisa.breternitz@itamaraty.gov.br ou patrimoniohistorico@itamaraty.gov.br. O ideal seria que a máquina estivesse em Brasília e fosse mecânica, não elétrica (o espaço disponível está longe de uma tomada).

Aproveito para reiterar que a CGPH está à disposição de todos os colegas que queiram compartilhar conosco histórias, documentos, fotografias ou objetos que envolvam algum aspecto relativo ao setor de comunicações no MRE. Aos que ainda não tiveram a oportunidade de visitar a mostra, reforço o convite e informo que, em julho, o Memorial deverá ser aberto ao público externo, com visitas mediadas gratuitas e programação especial para o público infanto-juvenil durante as férias.

Desde já, muito obrigada."

Russia’s Defense Collapse Exposed by Ukraine Strike - Jaison Jay Smart interviews Chuck Pfarrer (Kyiv Post)

O conoisseur americano, nesta vídeo-entrevista, um ex-militar extremamente competente em suas "artes", termina seu último comentário sobre as "próximas ofensivas" russas contra as forças ucranianas concedendo, com um sorriso nos lábios, um "good luck Mister Putin, sabendo que o tirano de Moscou vai sacrificar mais alguns milhares de soldados nas linhas de frente sem atingir qualquer objetivo estratégico em sua insana guerra de agressão contra a Ucrânia. Recomendo visualização completa. PRA

Russia’s Defense Collapse Exposed by Ukraine Strike

Jaison Jay Smart interviews Chuck Pfarrer (Kyiv Post, June 3, 2025)
https://www.youtube.com/watch?v=eqOHb3Dwrdo

In this explosive Kyiv Post interview, Jason Jay Smart and former Navy SEAL Chuck Pfarrer break down Ukraine’s largest drone strike of the war—crippling Russia’s strategic airpower in a single night and signaling a dramatic shift in the Ukraine-Russia war.

Ukraine’s deep strike drone operation targeted five Russian airbases, including Siberian and central facilities. The attack destroyed over 40 Russian bombers, including Tu-95 and Tu-22M3 nuclear-capable aircraft, and even eliminated A-50 radar planes—vital to Russia’s early warning and air command capabilities.

This unprecedented Ukrainian drone strike exposes critical weaknesses in Russian air defense and suggests that Russia’s military collapse is accelerating faster than anticipated. The destruction of Russia’s strategic bomber fleet not only undermines its long-range nuclear deterrence but also sends shockwaves through the Kremlin’s military planning.

Jason Jay Smart and Chuck Pfarrer explain how Ukraine’s military strategy, leveraging long-range drone warfare and advanced intelligence, has changed the nature of modern warfare—and why Russia’s air force disaster could mark the beginning of a broader unraveling of Putin’s war machine.

This is more than a battlefield success. It’s a clear sign of Ukraine’s growing dominance in asymmetric warfare and Russia’s declining ability to project power.

Connect with Chuck Pfarrer:

X: https://x.com/ChuckPfarrer 


segunda-feira, 2 de junho de 2025

Comemoração aos 200 anos da Confederação do Equador - Senado Federal


 A Comissão Temporária Interna em Comemoração aos 200 anos da Confederação do Equador encaminha a programação das atividades que marcam o encerramento de seus trabalhos.

Programação:
1º de julho de 2025

14h
Local: Salão Negro do Palácio do Congresso Nacional

Ato formal de abertura da exposição iconográfica e lançamento da coleção de publicações sobre a temática dos 200 anos da Confederação do Equador.

15h
Local: Plenário 19 da Ala Alexandre Costa (Senado Federal)

Seminário “Outras terras, outras gentes”, com os convidados:
Dr. André Heráclio do Rêgo
Dr. George Felix Cabral de Souza
Dr. Josemir Camilo de Melo
Dr. Júlio Lima Verde Campos de Oliveira

16h
Local: Plenário 19 da Ala Alexandre Costa (Senado Federal)

Lançamento da produção “Outras terras, outras gentes”, segunda parte do documentário “Uma outra independência”, criação da TV Senado para a Comissão Temporária Interna em Comemoração aos 200 anos da Confederação do Equador.
Documentário disponível a partir de 1º/7/2025 no canal da TV Senado: senado.leg.br/tv

Local: Plenário 19 da Ala Alexandre Costa (Senado Federal)

7 de julho de 2025

10h
Local: Plenário do Senado Federal

Sessão especial para a entrega de certificados de reconhecimento a instituições, autoridades e pesquisadores que se destacam na difusão do conhecimento a respeito da Confederação do Equador e contribuíram de forma significativa na condução dos trabalhos da Comissão.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...