O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Estado: ame-o, deteste-o, mas leia este livro: Edward P. Stringham

Não preciso sequer fazer a introdução: está tudo dito abaixo (e subscrevo).
Paulo Roberto de Almeida 
Se você detesta o estado, leia este livro. Se você ama o estado, leia esse livro!
Instituto Ludwig Von Mises Brasil, quinta-feira, 11 de outubro de 2012


[Este artigo foi extraído do prefácio do livro Governo e Mercado: a economia da intervenção estatal, que está sendo lançado hoje pelo Instituto Ludwig von Mises Brasil]

governo_mercado.jpgINSTRUÇÕES PARA USO: Se você detesta o estado, leia este livro.  Se você ama o estado, leia esse livro!  Estudantes, pesquisadores e demais pessoas instruídas poderão se beneficiar com a leitura de Governo e Mercado.  No presente volume, Murray N. Rothbard (1926-1995), usa a teoria econômica para analisar diferentes projetos e propostas visando alterar ou eliminar as soluções de mercado.  Num cenário no qual os partidários da ação governamental apresentam inúmeros motivos pelos quais o governo "precisa" fazer isso ou aquilo, Rothbard põe limites às fantasias políticas.  Ele demonstra como o estado não é uma entidade benigna que poderá facilmente corrigir os problemas no mundo.  Ao contrário, o estado é um aparato imperfeito e inerentemente coercitivo.

O presente livro, após trinta e cinco anos da primeira edição, ainda é a mais sistemática análise da intervenção governamental[1].  Man, Economy, and State [Homem, economia e estado], o principal tratado de Rothbard, descreve as trocas na economia de mercado, ao passo queGoverno e Mercado analisa a economia da intervenção governamental.  Rothbard deixa claro que a economia é desprovida de juízos morais, não oferecendo nenhum julgamento ético final, ao mesmo tempo em que, também, aponta como a ciência econômica pode ser utilizada para criticar determinados posicionamentos morais, da seguinte forma: "Caso a autocontradição e a impossibilidade conceitual de execução de uma finalidade ética possam ser demonstradas, então nitidamente tal fim é um absurdo e deve ser abandonado por todos"[2].  Em certos aspectos, o livro poderia ser considerado um dos primeiros exemplos de economia da escolha pública, porque utiliza o instrumental econômico para analisar governo, e certamente elimina as visões românticas sobre a política.  No entanto, Rothbard diferia dos economistas da escolha pública, tais como James M. Buchanan e Gordon Tullock — e, a esse respeito, de todos os seus contemporâneos —, pois sempre viu o estado como um agente coercitivo, uma instituição que não foi criada para fazer o bem[3].
Os capítulos centrais de Governo e Mercado oferecem uma tipologia e debatem os diferentes tipos de intervenção estatal.  A intervenção binária ocorre quando o estado interfere diretamente num grupo privado (por exemplo, impostos e gastos do governo), e a intervenção triangular ocorre quando o estado interfere na interação de dois grupos (por exemplo, controles de preços ou regulamentos de produtos).  As pessoas estão em melhor situação quando o estado tutela o dinheiro delas contra a sua própria vontade?  As pessoas estão em melhor situação quando o estado gasta o seu dinheiro em algo que você não teria comprado por conta própria?  As entidades privadas se tornam melhores quando são impedidas de se envolver em trocas que consideram mutuamente benéficas?  Dica: A resposta correta é não! Leia os capítulos III, IV e V para ver as análises de Rothbard.
Ao longo desse volume, Rothbard descreve o porquê do governo não ser uma força benigna, como muitos defensores dessa instituição acreditam.  O governo é um aparato de coerção que interfere nas relações voluntárias no mercado.  Apenas para se ter uma ideia de até onde vai a lógica do autor, Rothbard inicia já no capítulo I com uma argumentação sobre o porquê do governo ser desnecessário!  Governo e Mercado é importante pois "é a primeira análise da economia governamental a argumentar que o fornecimento de bens ou serviços não requer a existência de governos".  Antes de Rothbard, até mesmo a maioria dos teóricos do livre mercado, tais como Ludwig von Mises (1881-1973), Henry Hazlitt (1894-1993), Ayn Rand (1905-1982) e Friedrich Hayek (1899-1992) pressupunham simplesmente que os serviços, assim como a aplicação da lei, deveriam ser fornecidos pelo estado.  Rothbard entende que a aplicação da lei deve ser analisada em termos de unidades marginais e, como outros bens, essas unidades podem ser fornecidas por agentes privados.  Ele menciona brevemente alguns exemplos históricos da aplicação privada da lei e, em seguida, especula como um sistema puramente privado poderia funcionar.  A proposta de Rothbard é demasiado utópica? Ele responde:
O conceito apresentado é bem mais funcional do que a ideia verdadeiramente utópica de um governo rigorosamente limitado; uma ideia que nunca funcionou na história. E é muito compreensível, pois o monopólio da agressão e a ausência de freios de mercado inerentes à estrutura estatal, possibilitaram a destruição de quaisquer amarras que indivíduos bem intencionados tentaram aplicar a um governo limitado[4].
O anarquismo libertário de Murray Rothbard influenciou muitos pensadores subsequentes, que, desde então, escreveram vários artigos e livros sobre o porquê do governo ser desnecessário.[5]
Além de desbravar novos caminhos na sua época, o livro é extremamente relevante para a economia política hoje.  Por exemplo, o capítulo final de Governo e Mercado é uma crítica contundente da ética antimercado, que se manteve como resquício de uma visão pré-moderna e que vem ganhando popularidade em nossos dias.  Tomemos como exemplo a visão de muitos economistas comportamentais que argumentam que a sociedade não deve confiar no livre mercado, porque as pessoas nem sempre sabem o que é melhor para elas[6].  Rothbard concorda que muitas vezes as pessoas cometem erros, mas discorda se isso é motivo para a existência do paternalismo.  Se as pessoas não sabem o que é melhor para elas, como podem estar aptas para eleger líderes que tomarão as decisões por elas?[7]  O livro serve para desmitificar a visão popular de muitos economistas da escolha pública que argumentam em favor da aplicação da coerção governamental porque a natureza humana é imperfeita.  Rothbard concorda que os homens não são anjos, mas isso não justifica, para ele, o governo[8].  Se os seres humanos são tão ruins, como podemos esperar que um governo coercitivo composto de seres humanos melhore a situação?[9]  Rothbard adota esses argumentos e muitos mais[10].
Em Governo e Mercado, nenhum aspecto da intervenção governamental é poupado.  Os argumentos de Rothbard podem servir como uma pausa e meio de reflexão para as pessoas que desejam resolver os problemas sociais usando meios políticos.  Para Rothbard, o estado não é perfeito, desejável, ou necessário, é totalmente o oposto!  O estado, em todas as suas formas, é prejudicial para a sociedade civil, e se realmente queremos melhorar o mundo, devemos olhar para além do governo.  Soluções reais não estão no poder político, mas nas forças do livre mercado.


[1] O presente volume foi originalmente escrito como a terceira e última parte do manuscrito de 1.500 páginas de Man, Economy and State.  O tamanho do manuscrito e o fato das conclusões políticas de Rothbard divergirem das visões dominantes sobre a análise do papel do governo na sociedade foram demais para alguns, por isso,Man, Economy, and State Power and Market foram publicados como volumes separados em 1962 e em 1970.  Ver: STROMBERG, Joseph. "Introduction to Man, Economy, and State with Power and Market". In: ROTHBARD, Murray N. Man, Economy, and State with Power and Market: Scholar's edition. Auburn: Mises Institute, 2004. pp. lxv—lxxi.
[2] ROTHBARD. Power and Market. p. 251. Na presente edição, Capítulo VI (primeiro parágrafo).
[3] A visão dos economistas da Public Choice [escolha pública] sobre o governo e a anarquia são apresentados em: STRINGHAM, Edward (Ed.). Anarchy, State, and Public Choice. Cheltenham: Edward Elgar, 2006.
[4] ROTHBARD. Power and Market. p. 9. (Capítulo I).
[5] Ver por exemplo: BARNETT, Randy. The Structure of Liberty: Justice and the Rule of Law. Oxford: Clarendon Press, 1998; BENSON, Bruce. The Enterprise of Law: Justice Without the State. San Francisco: Pacific Research Institute for Public Policy, 1990; BENSON, Bruce. To Serve and Protect: Privatization and Community in Criminal Justice. New York: New York University Press, 1998; HOPPE, Hans-Hermann. Theory of Socialism and Capitalism. Boston: Kluwer, 1989; HOPPE, Hans-Hermann. Democracy — The God That Failed: The Economic and Politics of Monarchy, Democracy, and Natural Order. New Brunswick: Transaction Publishers, 2001; HOPPE, Hans-Hermann. (Ed.). The Myth of National Defense: Essays on the Theory and History of Security Production. Auburn: Mises Institute, 2003; DE JASAY, Anthony. Against Politics: On Government, Anarchy, and Order. London: Routledge, 1997; STRINGHAM, Edward (Ed.). Anarchy, State, and Public Choice. Cheltenham: Edward Elgar Publishing, 2006; e STRINGHAM, Edward (Ed.). Anarchy and the Law: The Political Economy of Choice. New Brunswick: Transaction Publishers, 2006.
[6] THALER, Richard H. & SUNSTEIN, Cass R. "Libertarian Paternalism". American Economic Review, Volume 93, Number 2 (May 2003): 175-79.
[7] ROTHBARD. Power and Market. p. 254. (Capítulo VI).
[8] Ver: McGUIRE, Martin C. & OLSON, Mancur. "The Economics of Autocracy and Majority Rule: The Invisible Hand and the Use of Force". Journal of Economic Literature, Volume 34, Number 1 (March 1996): 72-96. O argumento libertário sobre o ponto de vista dos economistas da escolha pública aparece na já citada obra Anarchy, State, and Public Choice organizada por Edward Stringham.
[9] ROTHBARD. Power and Market. p. 260. (Capítulo VI). Ver também: POWELL, Benjamin & COYNE, Christopher. "Do Pessimistic Assumptions About Human Behavior Justify Government?" Journal of Libertarian Studies, Volume 17 (Fall, 2003): 17-38.
[10] A abrangência de muitos tópicos impediu que Rothbard descesse a minúcias em qualquer um deles. Essa amplitude de tópicos, no entanto, é parte do atrativo do livro.  Desta perspectiva, a obra de Rothbard pode ser vista como um trampolim para o aprofundamento de muitos tópicos do moderno libertarianismo.  Rothbard escreveu: "A argumentação ao longo deste livro é, primariamente, teórica. Não foi feita nenhuma tentativa de enumerar exemplos institucionais de intervenção governamental no mundo de hoje, uma tentativa que, é claro, iria requerer muitíssimos volumes" (Power and Market [1970], p. vii).  A boa notícia é que o salvo-conduto inicial de Rothbard deu aos estudiosos do libertarianismo de hoje oportunidade para ilustrar ou ampliar as ideias teóricas de Governo e Mercado.  Por exemplo, muitos de meus artigos sobre a coercibilidade das regras privadas tentam mostrar exatamente isso: STRINGHAM, Edward. "Market Chosen Law". Journal of Libertarian Studies, Volume 14, Number 1 (Winter, 1998-1999): 53-77; STRINGHAM, Edward. "The Emergence of the London Stock Exchange as a Self-Policing Club". Journal of Private Enterprise, Volume 17, Number 2 (2002): 1-19; STRINGHAM, Edward. "The Extralegal Development of Securities Trading in Seventeenth Century Amsterdam". Quarterly Review of Economics and Finance, Volume 43, Number 2 (Summer, 2003): 321-44; BRYAN, Caplan & STRINGHAM, Edward. "Networks, Law, and the Paradox of Cooperation". Review of Austrian Economics, Volume 16, Number 4 (December 2003): 309-26; STRINGHAM, Edward. "Overlapping Jurisdictions, Proprietary Communities, and Competition in the Realm of Law". Journal of Institutional and Theoretical Economics, Volume 162, Number 3 (September 2006): 516-34.
Edward P. Stringham ocupa a cadeira Lloyd Hackley Endowed de Estudos Sobre o Capitalismo e Livre Iniciativa na Fayetteville State University. Mande um e-mail para ele.

Educacao: a universidade inutil do Brasil - Olavo de Carvalho

Um texto de 2001, mas ainda válido, aliás até mais. Totalmente pertinente.
Grato ao Eduardo Rodrigues que me enviou.
Paulo Roberto de Almeida 


Entrevista de Olavo de Carvalho
à Revista Digital

Participando de um ciclo de palestras promovido pela ACLAME (Associação da Classe Média do RS) em universidades do interior do estado - em cidades como Cruz Alta, Ijuí, Santa Cruz do Sul, Erechim, entre outras – intitulado Universidade Para Quê?–, o polêmico filósofo e jornalista Olavo de Carvalho fala de assuntos na pauta dos gaúchos: o papel da universidades e a Uergs, o governo Olívio Dutra e os guerrilheiros colombianos, Fórum Social x Fórum da Liberdade, a ascensão do PT ao poder, segurança pública, e muito mais! Leia e discuta essa entrevista exclusiva para a Revista Digital.
Professor, o senhor está visitando o Estado a convite da Aclame (Associação da Classe Média do Rio Grande do Sul), para um ciclo de palestras intitulado Universidade pra quê?. Qual é a função da universidade, na opinião do senhor? O senhor acredita que a universidade brasileira perdeu sua função original?
— A universidade pode ter inúmeras funções diferentes. Porém, a característica que a define é a de constituir o maior centro de busca e preservação do conhecimento. É uma grande ilusão pensar que a universidade se destinasse a formar a classe dominante. Na Idade Média, havia esta consciência do benefício incalculável que o conhecimento representa, pela sua simples posse. Não se pensava na hipótese de usar isto para outra coisa, ao contrário, isto era o supremo benefício.
Com o tempo, a universidade vai adquirindo finalidades secundárias. Em primeiro lugar, na Renascença, começou a disputa entre os reis e o papado pelo domínio da universidade. O declínio da intelectualidade católica dominante da época é terrível - se você compara os intelectuais dos séculos XII e XIII com aqueles idiotas do Concílio de Trento, é algo absolutamente deplorável. Há uma queda do nível das universidades ocasionada pela sua politização, por culpa dos papas e dos reis. Com a restauração na Alemanha, a universidade conserva uma imensa autonomia, possibilitando o surgimento do movimento notabilíssimo que foi o romantismo e o idealismo alemão. Filho direto da liberdade, da não interferência dos poderes externos na universidade.
No entanto, a partir daí, esta intervenção é cada vez maior, sobretudo e em primeiro lugar no sentido comercial. A universidade vai se transformando em uma instituição para a formação profissional, e, logo em seguida, como efeito quase imediato, vem a politização da universidade. Não que essas finalidades econômicas e políticas não devam ser atendidas, mas para elas há outros instrumentos.
O senhor acha então que dever-se-ia separar essa questão do conhecimento instrumental, voltado para fins técnicos e para a formação profissional?
— A universidade pode abranger tudo isso, mas sem abrir mão da consciência do valor do conhecimento objetivo. Nesse sentido, ela poderia se tornar o árbitro das disputas sociais e políticas, realmente dando uma ajuda na esfera econômica. Mas, se ela perder a sua função própria e se prostituir a fins comerciais ou políticos, ela perde a autoridade e se transforma em um órgão auxiliar, ela é subjugada. É o que acontece hoje.
A maioria dos políticos usa a universidade sem nenhum respeito ao conhecimento objetivo. Os partidos, sobretudo o famoso PT e esse pessoal comunista todo, quer instituir a sua doutrina partidária como programa de universidade, vetando inclusive o conhecimento de doutrinas antagônicas. Isto é o máximo da prostituição que se pode conceber na universidade. E no Brasil isto acontece em todas as universidades, sem exceção.
O senhor traçou uma origem bastante antiga para esse processo de intervenção política. E no Brasil, quando é que isso começou?
— O Brasil não tem tradição universitária. Ele tem, ao contrário, uma tradição das faculdades isoladas, que, por não poderem exercer esta função mais elevada, acabavam virando centros de agitação política. O tempo que os estudantes perderam fazendo passeatas e revoluções foi tempo roubado à formação da elite intelectual nacional. A desvantagem que o Brasil leva no cenário internacional ocorre simplesmente pelo despreparo e pela burrice da sua elite política. Em vez de estudar, ficavam fazendo passeata. Hoje, temos como resultado esse Congresso de analfabetos. Em outros países, é uma tradição os políticos de primeiro plano serem homens que dominam a arte da palavra. Na França, um político não se incomodará de ser acusado de corrupção, mas o desafiará para um duelo se você disser que ele cometeu um erro de gramática. Nos Estados Unidos, um dos políticos mais populistas, como Theodore Roosevelt, era autor de ensaios literários de valor extraordinário. Abraham Lincoln era um dos maiores estilistas da língua inglesa. E isso é uma tradição, que há em quase todos os países.
E o Brasil também tinha esta tradição intelectual, até as décadas de 40 e 50. O tempo da ditadura ainda conservou um pouco, mas, pelo simples fato de ser uma ditadura, por não se ter uma circulação normal das idéias e dos debates políticos, rompe-se a tradição. E, na constituinte, se elegeram pessoas que não sabem conjugar um verbo, completar uma frase, não têm domínio do idioma. Você tem o exemplo grotesco do Lula, da Benedita, pessoas que oferecem a desculpa da sua origem pobre, mas a origem deles não é mais pobre que a de Machado de Assis, ou mais pobre do que a minha. Machado de Assis era filho de lavadeira, eu sou neto de lavadeira.
Qual tem sido a reação das comunidades acadêmicas visitadas pelo senhor neste ciclo de palestras?
— Em geral, eles gostam. Quando não gostam, não respondem nada. Ficam quietinhos [risos].
Existe alguma perspectiva de mudança deste quadro? E, se existe, qual o papel do governo nisto, ele ajuda ou atrapalha?
— O governo só atrapalha! Ele é o culpado direto disso aí. Não só este governo, mas todos os governos! Todos os governos sempre tentaram usar a universidade como instrumento de ação política.
E isto independentemente de partidos?
— E sobretudo criando esta ilusão de que a universidade deve prestar serviço público. A existência da universidade já é o serviço público! A finalidade da universidade se esgota na busca e na transmissão do conhecimento. Se você disser que a universidade tem que planejar a reforma social, então qual é a diferença entre a universidade e um ministério? Ou um partido político? Aí se cria uma confusão, perdendo-se a noção da função específica das várias instituições.
O senhor tem acompanhado a experiência do Rio Grande do Sul na área da educação, onde se discute a questão da criação da universidade estadual, a Uergs?
— Sim. Isso é uma palhaçada, mais uma palhaçada. Primeiro, você já tem um montão de universidades. Essa vai ser mais um cabide de empregos. Imagine, vai ser uma universidade feita pelo PT, vai ser uma universidade petista. E é apenas isso o que eles querem: mais um megafone para fazer propaganda. Aliás, a única coisa que esse governador daqui sabe fazer é propaganda, alardeia obras que ele não fez, até obras dos seus adversários.
O senhor fez duras críticas ao governador Olívio Dutra em seu artigo O direito de duvidar, publicado em Zero Hora de 11/03/2001. O senhor vê mesmo uma relação entre a guerrilha colombiana, o narcotráfico e a ascensão da esquerda ao poder no Brasil?
— Mas essa relação não sou eu que vejo, são eles mesmos que afirmam! Eles dizem isso! Eles se irmanam na luta pelo socialismo na América Latina, eles declaram isso. Não é uma interpretação que eu estou fazendo. Então, é evidente que, se o PT ganha votos aqui, isso é bom para a guerrilha colombiana lá. Se o colombiano ganha mais meio metro quadrado de terra, isto é bom para o PT aqui.  Agora, se o dr. Olívio Dutra não tem interesses ligados a isso, ele que condene as violências da guerrilha. Eu o desafio em público a fazer isso! Essa guerrilha todo mundo viu na televisão: os guerrilheiros amarraram uma bomba na cabeça de uma prisioneira e a mulher explodiu. Essa é a maior organização criminosa que já existiu no continente. Se o dr. Olívio Dutra for sincero, que condene esses crimes. Ele que chame o representante da guerrilha de criminoso, se ele tiver coragem. Esse é o tratamento que o governador tem obrigação de dar a essa gente. É esse o tratamento que ele está dando? Não, ele está tratando esses sujeitos como hóspedes normais! Você recebe o Al Capone na sua casa e o trata como se fosse um homem honrado e, sobretudo, empresta um megafone nacional para o sujeito falar, para fazer propaganda? O que fez o Fórum Social Mundial se não dar a esse pessoal da guerrilha instrumentos de propaganda? Ora, dar instrumento de propaganda não é cumplicidade? É o caso de facilitar meios para a apologia do crime. E essa guerrilha é criminosa.
O senhor tem alguma avaliação de por que este processo de ascensão do PT ao poder começou no Rio Grande do Sul?
— Em parte é porque você tem uma tradição de estatismo forte, muito arraigada. Mas é curioso que justamente o gaúcho tenha essa mania, porque ele não precisa disso, o gaúcho é um tipo independente, que sempre teve iniciativa própria. Se fosse um povo fracote, incapaz, que precisa de um governo forte que o proteja, eu admitiria isso. Mas o gaúcho realmente não precisa disso, esta é uma situação irônica, uma excrescência. Isso ficou assim por falta de repertório cultural. Sobretudo, quando não há outras idéias em circulação, você adere às idéias que estão aí. Por exemplo, a tradição liberal é todinha ignorada aqui neste país. Você fala de liberalismo, as pessoas não sabem a que autores você está se referindo, não têm as fontes, nunca leram nada a respeito, você não vê os livros liberais nas livrarias. Você encontra, no máximo, um ou outro best seller sobre globalização, livros de terceira ou quarta categoria. Você não encontra os livros do von Mises, do Hayek, do Rothbard. Tudo o que há de mais significativo do pensamento liberal não chega aqui.
Falando nisso, o senhor vai ter uma participação no Fórum da Liberdade, que está em sua 14ª edição. Como o sr. vê a sua participação nesse fórum e mesmo a existência deste tipo de iniciativa, que já está consagrada no estado?
— Ah, isso vai ser muito divertido! Em primeiro lugar, porque eu tive um debate pela imprensa com o deputado José Dirceu, e eu vou encontrá-lo lá, eu quero que ele me diga, cara a cara, que ele não é um técnico em inteligência militar formado em Cuba. Ele diz que o PT só investiga nas fontes oficiais, o que é uma impossibilidade pura e simples porque, em certas CPIs, o PT aparecia sabendo até o número da cédula que foi dada em propina para um sujeito. O que mostra que existe espionagem. E o deputado José Dirceu nega isso aí. Ameçou até me processar. Agora, ele deve explicar como é que se deu essa estranha mutação na cabeça dele que, de agente secreto, se transformou em jurista. Esse é um dos motivos pelos quais eu estou ansiosíssimo para chegar lá, eu quero que ele me conte essa história.
Como é que o senhor contrasta uma iniciativa como o Fórum da Liberdade com o Fórum Social, por exemplo? No Fórum da Liberdade a gente vê que existe contraste de opiniões, o que não parece ser o caso do Fórum Social.
— O Fórum Social, que pretendeu ser um contraponto ao Fórum de Davos, verdade foi apenas uma caricatura do Fórum da Liberdade, uma macaquice muito mal feita, porque ali não tem Fórum nenhum, aquilo é um coro, o Coro Social Mundial. O conceito de debate deles é o do centralismo democrático leninista. É o debate interno dos comunistas. Nesse sentido, não digo nem que eles sejam contra a liberdade: eles são a favor da liberdade, só que da liberdade para eles! Quem não é da curriola deles não precisa de liberdade. Esse Fórum Social Mundial foi duplamente fraudulento: não só por se apresentar como Fórum, o que não verdade não foi, mas também por posar como o grande inimigo da Nova Ordem Mundial, que o financiou e o paparicou, passou a mão na cabeça dele e o carregou no colo. Toda a constelação dos grão-senhores da Nova Ordem Mundial apoiou essa porcaria e esses meninos ficam fazendo o papel de enfants terribles: “Nós somos os revoltadinhos.” São nada, são uns vendidos!
O senhor também atribuiu aos intelectuais de esquerda um papel de formadores de guerrilheiros, durante os anos em que estes intelectuais estiveram encarcerados com ladrões comuns, durante a época da ditadura no Brasil.
— Isso é um longo processo. A utilização do banditismo para a revolução é uma tradição. Começa na Revolução Francesa, Lênin aperfeiçoou a coisa e ela segue sendo usada, de maneira que não há novidade alguma nisso aí.
O senhor deve ter visto os movimentos de pequenos agricultores invadindo a Secretaria da Agricultura do Estado. Será que isso aí é o feitiço se voltando contra o feiticeiro, ou é pura tática de desinformação?
— Eu não creio que isso configure um caso de o feitiço virar contra o feiticeiro em escala maior. Essas coisas não são muito difíceis de controlar e são percalços no caminho de uma estratégia revolucionária. Isso acontece mesmo. Agora, no caso dos bandidos, é mais difícil governá-los. Mas nem por isso foi impossível fazer uma rebelião simultânea de 29 presídios em São Paulo, preparada desde a década de 70 por intelectuais esquerdistas presos, que ensinaram a essa gente as técnicas de guerrilha e de organização política. Esses mesmos intelectuais e líderes esquerdistas aparecem na televisão, falando das causas do banditismo como se fossem autoridades neutras e superiores no assunto. Ora, as causas são eles mesmos! Nosso banditismo não tem a ver com problemas sociais, miséria, principalmente porque os grandes centros produtores de violência não são as regiões mais pobres. Para falar em causas sociais do banditismo, você precisaria de causas sociais para transformar o sujeito pobre em um traficante em grande escala, e isso é impossível. Mas a idéia de que o banditismo tem causas sociais acaba funcionando como um pretexto legitimador do banditismo. Para o bandido, essa é uma retórica agradável aos ouvidos dele: o sujeito investe contra a sociedade e a sociedade é que é culpada. Para o bandido isso é uma delícia.
Do ponto de vista da segurança pública, o sr. deve ter acompanhado os protestos de cidades do interior do RS, nas quais a Brigada Militar está sendo retirada, concentrando suas operações em uns poucos municípios. Como é que o senhor vê esse processo?
— Isso tem uma lógica. Por um lado, você fomenta a formação de organizações revolucionárias, como o MST. Você paparica e dá apoio publicitário à guerrilha. E, por outro lado, você desmonta o aparato policial civil e militar. Você está agindo com muita lógica. Você está preparando uma revolução. Mas, como as pessoas hoje em dia não estudam mais estratégia leninista, só os que a praticam ainda a estudam, elas vêem esse fatos e os consideram coisas isoladas, quando tudo isso é de uma lógica absolutamente implacável. A Brigada Militar é um centro de resistência ao processo revolucionário, logo, temos de desmontá-la, é óbvio!
O senhor acha que isso é apenas a ponta do iceberg?
— Nem ponta de iceberg: o processo é visível! Não se pode nem mesmo dizer que é uma conspiração, porque o processo está acontecendo na nossa cara! Por exemplo, toda essa campanha pela ética, inventada em 1990, com a finalidade de atribuir à esquerda o monopólio da autoridade moral e de jogar as demais tendências umas contra as outras, está sendo feita na nossa cara, e, depois de doze anos de experiência, as pessoas ainda não se deram conta disso. A incapacidade de aprender com a experiência assinala uma grave deficiência mental. Um país que ainda não aprendeu a unidade desse processo está em um estado de torpor mental absolutamente patético!
O senhor chegou mesmo a comentar que a briga recente do ACM com o FHC era resultado desse processo.
— Esse foi um resultado maravilhoso! Prova que a coisa está funcionando. Eles estão arrebentando com todas as lideranças que possam se opor no caminho deles, desmontando o país com base em acusações de corrupção, com uma ressalva: eles próprios nunca são investigados, porque antes tiveram o bom senso de penetrar na Polícia Federal, no Ministério Público, e sobretudo na mídia. Se o petista que está no Ministério Público quer investigar um sujeito, o que ele faz? Ele solta aquilo para a imprensa, a imprensa noticia e aí ele usa o noticiário da imprensa como motivo para iniciar a investigação. Na hora que se inicia a investigação, o sujeito já está queimado, com indisponibilidade de bens, já se abre seu sigilo bancário. A reputação do sujeito está acabada. No fim, se ele for inocentado pela Justiça, a reputação dele será restaurada? Não, a reputação do juiz é que estará acabada! Se o sujeito é inocentado, isso não é prova de que ele é inocente, mas é prova de que o juiz é culpado. E as pessoas ainda não são capazes de ver aí a unidade de uma estratégia revolucionária, a qual os próprios revolucionários já confessaram.
E o senhor acha que há a possibilidade de mudança? Ou o processo de aprendizado vai ser muito longo?
— Bom, tudo depende de as pessoas se tornarem um pouco inteligentes. O Gilberto Amado dizia que tinha um orgasmo quando ele encontrava um brasileiro capaz de juntar causa e efeito. Aqui, para que isso aconteça, a gente precisa de uma sucessão formidável de orgasmos! Eu não sei se é possível ainda – mas, se as pessoas tomarem consciência, essa porcaria acaba em uma semana. A única força que esse pessoal tem é a ignorância e o torpor da opinião pública, sobretudo da elite, em especial a elite empresarial. As pessoas estão afundando, vão ser mortas daqui a pouco e estão brincando com essa coisa, dando dinheiro para financiar a sua própria liquidação. A primeira coisa a fazer é fechar a torneira do dinheiro. Aí a brincadeira esquerdista acaba em dois dias. Porque poder efetivo eles não têm, o poder deles é a ilusão que eles cultivam na cabeça dos outros. A ilusão, a cegueira, o poder das trevas.

Rushdie, again: the memoirs of Joseph Anton

Escritores perseguidos existem e existiram muitos. Poucos conseguem fazer um relato tão interessante quanto este. Já lí o começo do livro no sistema Kindle Sample. Vou ler o resto, no mesmo...
Paulo Roberto de Almeida 

The New York Times Review of Books, October 12, 2012

A Fictional Character

JOSEPH ANTON

A Memoir
By Salman Rushdie
636 pp. Random House. $30.
Salman Rushdie’s memoir is many books in one book. It’s a personal story that takes place at the center of an international crisis: the Ayatollah Ruhollah Khomeini’s 1989 denunciation of the author’s fourth novel, “The Satanic Verses,” as a work of blasphemy against Islam, and his call for Rushdie’s death. It’s a portrait of the artist as a young man that describes his influences, obsessions and ambitions as well as his rise in the publishing world. It’s a record of his relocation from Bombay to London to New York, where he settled in 2000. It’s an intimate tale of fathers and sons, of the beginnings and ends of marriages, of friendships and betrayals.
At the same time, “Joseph Anton” is a large-scale spectacle of political and cultural conflicts during an era in which, Rushdie writes, “incompatible realities frequently collided with one another.” The death decree, or fatwa, would come to be seen by some as an early signal of a clash of absolutes that would lead up to 9/11 and into our tinderbox present — of the continuing struggle between religious belief in the immutable word of God on one hand and secular faith in the unconditional right of free speech on the other.
One unifying theme that emerges from this multilayered account is the concept of flight — though here that word assumes a double identity. Flight from the fatwa meant a “fretful, scuttling existence” in which the author, a 41-year-old British citizen, abandoned his home in the London neighborhood of Islington and dashed from one safe house to another around the United Kingdom. While Rushdie located and paid for these dozens of hide-outs himself, the British government provided him with nine years of round-the-clock protection by the “A” Squad of the Special Branch of the Metropolitan Police, who in turn answered to Britain’s intelligence services.
If flight meant forced departure, for Rushdie it also meant an insistence on certain freedoms. Most critically, he would not give up his literary life, his flights of fancy. Battling depression and writer’s block, he managed during this time to write a major novel, “The Moor’s Last Sigh,” along with a charming children’s book called “Haroun and the Sea of Stories,” at his young son’s insistence. He collected a volume of short fiction (“East, West”) and another of essays (“Imaginary Homelands”). He wrote book reviews, poems and op-ed essays. Whether large or small, every completed piece of writing felt, to him, like “victory over the forces of darkness.”
Who shall have control over the story? Who has, who should have, the power not only to tell the stories with which, and within which, we all lived, but also to say in what manner those stories may be told?” Rushdie is right to pose the conflict over “The Satanic Verses” as a question not of ideology but of power and control. And he is right to claim his own story after many humiliating years of surrendering that story to other people, most of whom transformed it for their own purposes.
But the question of control is also a tricky issue in Rushdie’s own writing. His novels are giant winged contraptions, packed to capacity, hurtling across time and space, “pitting levity against gravity,” as he describes one of his airborne protagonists at the beginning of “The Satanic Verses.” At their best, Rushdie’s imaginative machines attain lift and remain thrillingly aloft. At their worst, their centers cannot hold, and they spin into pieces. In “Joseph Anton,” which Rushdie has composed very much like a novel, both these scenarios come to pass. There are sections where the narrative soars, and more than a few in which it plummets.
One of the memoir’s novelistic approaches is its perspective, which shifts from the autobiographical “I” to “he.” It’s not as mannered a choice as it sounds in a narrative consumed, as much of Rushdie’s writing is, with the multiplicity of identity. “He was a new self now,” he realized after news of the fatwa reached him. In fact he split into several selves: not just the Salman his friends and family knew but also a “Rushdie” reviled by screaming demonstrators in England and abroad, “an effigy, an absence, something less than human”; and reproached, too, by many unsympathetic compatriots in the Western press. The sense of fracture was heightened when the police insisted he invent an alias so he could write checks without being identified. He came up with “Joseph Anton,” the first names of two favorite writers, Conrad and Chekhov. Not lost on him was the peculiarity that a man who invented characters for a living had now “turned himself into a sort of fictional character as well.”
In early sections — among the best in the book — the author reveals that his actual surname was itself an invention. His father, a nonpracticing Muslim, changed his “fine old Delhi” name to Rushdie in homage to Ibn Rushd, the 12th-century Spanish-Arab polymath who wrote commentaries on the works of Aristotle and made a forceful case, 800 years before the uproar over “The Satanic Verses,” for rationalism over Islamic literalism. Yet if his father’s “fearless skepticism” was his gift to young Salman and his three sisters, a dire home environment was his curse, for Anis Rushdie was so wrathful an alcoholic that Salman’s mother admitted she survived the marriage by developing a “forgettery” instead of a memory. In 1961, 13-year-old Salman was only too willing to leave his hometown, Bombay, for boarding school in England, where he was lonely and unpopular, and on to Cambridge, where, as a history student, he first learned about the “satanic verses,” a set of lines expunged from the Koran.
These absorbing coming-of-age passages are followed by equally engaging recollections of Rushdie’s London jobs as an advertising copywriter, where he developed his distinctive verbal bounciness. Those jingly effects and aphorisms pop up in the memoir as well (“Life was lived forward but was judged in reverse”). And he vividly conveys the exhilaration he felt in the mid-1970s while dreaming up his first big success, “Midnight’s Children,” scene by scene, finding the tools and tone to tell his story: “India was not cool. It was hot. It was hot and overcrowded and vulgar and loud and it needed a language to match that and he would try to find that language.” Rushdie also comes across as tenderly devoted to his two sons, Zafar and Milan, and grateful to many of the individual police officers who guaranteed his and his family’s safety for nearly a ­decade.
If “Joseph Anton” builds up a lot of reader-friendly capital in these sections, it exhausts that capital rather too freely as the story continues. While the first days of the fatwa unfold grippingly, there’s a steep drop in momentum as the years drag on. Not even as talented a writer as Rushdie can avoid writing about tedium without becoming tedious himself. Clichés abound: “The house was beautiful but it felt like a gilded cage”; “What was he,” he wonders while contemplating moving to America after his ordeal is over, “but a huddled mass yearning to breathe free?”
As that last quotation suggests, Rushdie shows a cheerful willingness throughout the memoir to show off his less than dignified side. These scenes can be bleakly funny: when the police persuade him to wear a wig to avoid recognition in public, he tries it out on Sloane Street in London and is immediately the center of amused attention. “Look,” he hears a man say, “there’s that bastard Rushdie in a wig.” But there are occasions in which his goofiness grates and creates an uncomfortable dissonance in what is, after all, a sobering chronicle of state-sponsored terrorism that resulted in the murder of Rushdie’s Japanese translator and near-fatal attacks on his Italian translator and Norwegian publisher.
It’s of course lots of fun to read of the author’s unflagging bedazzlement at mingling with all kinds of celebrities, from Playboy bunnies to heads of state, and in his access, post-fatwa, to every sort of party. (“Willie Nelson was there! And Matthew Modine!”) It’s fun also to render cheap sideline judgments during the many instances of score-settling here (particularly unflattering are Rushdie’s portrayals of his ex-wives Marianne Wiggins and Padma Lakshmi; his publishers at Penguin and Random House; and the former New Yorker editor Robert Gottlieb).
Are readers likely to remember mostly these juicy bits, and if so, how will that affect Rushdie’s literary legacy? “It was as a writer that he wanted to be defended, as a writer that he wanted to defend himself,” he eloquently states. But with “Joseph Anton,” is he risking becoming the kind of writer whose books are not so much read as skimmed for their potential provocations — a barbarism he’s fought against for nearly a quarter-century? Read all of “Joseph Anton,” then, for its lessons in how books are used, and whether they matter.
Donna Rifkind is writing a book about the screenwriter Salka Viertel and her Hollywood émigré salon.

Educacao: Canada oferece bolsas para jovens lideres

Programa Sauvé Scholars – Bolsa de Estudos candense para jovens líderes


Estão abertas as inscrições para participação no processo seletivo do Programa Sauvé Scholars, promovido pela fundação canadense Jeanne Sauvé. Até o dia 1º de novembro, jovens estudantes entre 23 e 30 anos de idade que tenham se destacado ou venham se destacando na vida acadêmica, que tenham concluído ou estejam concluindo sua graduação até 31 de julho de 2013, poderão se inscrever no Programa.
A Jeanne Sauvé Foundation foi criada pela Honorável Jeanne Sauvé, primeira mulher a ocupar o cargo de Governadora-Geral do Canadá entre 1984 e 1990. A Fundação é dedicada ao desenvolvimento do talento excepcional e da liderança entre os jovens de hoje, sendo seu principal programa o Sauvé Scholars.
O Programa recebe jovens líderes de 23 a 30 anos que queiram mudar o mundo. Os candidatos são escolhidos sobretudo com base em qualidades como iniciativa, motivação, visão, imaginação e que demonstrem habilidades de comunicação, sensibilidade para as questões nacionais e internacionais, além de um forte desejo de realizar mudanças. Desde 2003, o Programa já recebeu 126 estudantes de 50 países diferentes.
Aos candidatos selecionados é oferecida uma oportunidade ímpar de passar nove meses em um período de reflexão e auto realização tanto profissional quanto pessoal. Os participantes do Programa Sauvé Scholars têm a oportunidade de compartilhar a Residência Jeanne Sauvé e possuem status de “Estagiários de Pesquisa de Pós-Graduação”, o que possibilita a participação em programas acadêmicos oferecido pelaUniversidade McGill, além da gama de eventos culturais e recursos intelectuais oferecidos pela comunidade de Montreal.
O Governo do Canadá oferece bolsas de estudos para estudantes internacionais como a Bolsa de Pós-Doutorado Banting, que está com as inscrições abertas até 1º de novembro, a Bolsa de Doutorado Vanier, com inscrições abertas até 6 de novembro e a Bolsa ELAP (Futuros Líderes nas Americas) para estudantes de graduação, mestrado ou doutorado, com previsão de abertura de novas inscrições ainda em 2012.
Visite o site Bolsas de Estudos e conheça as demais oportunidades de estudos e pesquisas no Canadá.

Educacao: e a qualidade?


Horrible Schools for the Whole World
by Mike Reid on October 12, 2012
Free Market, July 2012
Mises Daily, October 12, 2012

At a United Nations meeting in the year 2000, the world's governments agreed on the goal of enrolling every child on the planet in primary schooling by 2015.[1] Strangely, this lofty plan does not say anything about the quality of schooling; the whole idea is to get children into government-approved classrooms, apparently regardless of what happens there.
The reports of UN agencies like Education for All (EFA) are full of ideas on how to get kids to come to school in third-world countries: making education entirely taxpayer funded (commonly by taxpayers from richer countries), providing free medication or food to students who show up, or even just paying cash to the parents in return for kids' attendance.
But are the pupils who spend more time at these schools actually learning more as a result? MIT's Abdul Latif Jameel reports, "Several programs which have raised participation, from providing worm medicine to free meals, show no evidence that children are learning more as a result."[2]
And EFA's Fast Track Initiative admits that
In nearly all developing countries the levels of learning achievement are shockingly low.… In many low-income countries students learn virtually nothing and end up functionally illiterate.[3]
In fact, the situation is so bad that Jameel says one area to be improved is "more regular attendance of teachers."
Public education has been a slowly degenerating disaster throughout the West, and now it seems we're exporting it to the rest.

A Crucial Fallacy

The international education agencies seem to have been duped by what the great Austro-libertarian Murray Rothbard calls, "A crucial fallacy … confusion between formal schooling and education in general."
Promising to educate every child in every culture through primary schooling is a bit like promising to clothe every child in every climate by giving them a parka.
In fact, until recently, nearly all children learned the important skills of life largely outside of schools, through observing and joining in with the activities of adults.[4] Rothbard writes with respect to American education,
Education is a lifelong process of learning, and learning takes place not only in school, but in all areas of life. When the child plays, or listens to parents or friends, or reads a newspaper, or works at a job, he or she is becomingeducated.
All the medicine handouts and free school lunches proposed by EFA are attempts to offset the direct economic opportunity cost of the child spending a day at school instead of working on the farm or factory. This does take into account the child's economic contribution to the family's labor. But what about that labor's educational contribution to the child? What about the educational opportunity cost?
If students in many schools are learning very little and graduating "functionally illiterate," if attendance doesn't actually produce real education, and if teachers sometimes don't even bother to show up, perhaps the parents and children feel that they would learn more outside the schools than in.
Sadly, this important educational opportunity cost doesn't seem to be on the global pedagogical philanthropists' radar. Jameel speaks only of the
complex relationship between school quality and participation. It might seem reasonable to expect that families are more likely to bear costs like fees, uniforms or lost income for a good quality education.
And, he says,
There is no consensus on why so many poor children don't attend school, or the best way to increase participation. If children's labor is crucial to their family's welfare … it may prove very difficult to attract more children to school.
There is no mention of any learning that might happen while the child is outside the classroom.
So for a moment, let us grant this assumption: Only schooling is education. No learning happens outside of schools.
Under this assumption, not only do children's minds profit nothing from a day spent at home or in the bush, but most of the parents of children in the third world are themselves totally un-"educated" — benighted savages whose heads are filled with cobwebs.
Thus, for our benevolent pedagogical overlords, it could make sense to get those kids away from their parents and into schools as soon as possible, even if, as EFA acknowledges,
in some countries nearly every aspect of the schooling system is seriously deficient — infrastructure, teaching materials, teacher availability and qualifications, lack of student assessments and lack of incentives for improving learning outcomes.[5]

Obedience for All

So, if kids aren't learning to work and play in their traditional cultures, but they aren't learning to read or do math in these atrocious schools either, what are they learning? In a word, obedience.
To the extent that the schools are operated and authorized through the national states, the children are taught to identify with those states. All the tests are in the national language, and children must memorize the state-approved version of history.
Oh, there is often a grand effort to make schools receptive to local cultures, but so long as the state pays the piper, the state calls the tune. And the sound every state wants to hear is children singing its national anthem.
Rothbard writes of
a conscious scheme to coerce the mass of the population into a mould desired by the Establishment. Recalcitrant minorities were to be forced into a majority mould; all citizens were to be inculcated in the civic virtues, notably and always including obedience to the State apparatus.
Perhaps, some might hope, this force is counterbalanced by the influence of the international aid agencies that support the schools. And what do these organizations hope to inculcate in the children? Take a look at what the EFA Global Monitoring Report claims as a major benefit of schooling:
Education has a key role in fostering national and international support for the multilateral governance needed to address problems such as finance, trade, security and environmental sustainability.[6]
That is to say, kids who go through schools funded by international bureaucracies are likely to approve of the other programs run by such bureaucracies. Even if you do believe that more "multilateral governance" is needed for finance, trade, etc., isn't it a little disturbing that one stated benefit of UN-sponsored schools is more support for UN-sponsored activities?
Finally, regardless of whether states or NGOs fund the schools, to succeed in schooling means to win the approval of your teachers. Each child's grades tell him how well he has met his masters' expectations. Innovation is rewarded rarely, and defiance never. This is perfect preparation for a world of the total state, where cops and bureaucrats lay out rules for everyone, and there is no way to succeed except to obey their commands.
In the world of free commerce, the way to make a profit is to do something that other people think cannot be done. Success comes from taking risks, from seeing what others miss, and from convincing others to join you — not from hanging on every word uttered by benevolent authorities.
In fact, in many poorer countries, the office jobs (the only ones for which schooling is actually required) are nearly all government and international NGO jobs. So those kids who do succeed in school end up moving to the capital and writing reports on the importance of international funding for schools.
The kids who do not do well in school go back home to the farms or the factories, having spent years of their lives learning, in some cases, "virtually nothing." But since the bureaucrats seem to believe that the traditional cultures the children might have spent those years immersed in held no knowledge anyways, this might not be seen as much of a loss.

Setting Young Minds Free

No doubt, some kids who would profit from schooling are being kept out of it by very bad things: wars, forced prostitution, and outright poverty. EFA's programs to make schooling more accessible could have a huge positive impact on such children's lives.
But instead of focusing on gimmicks to get kids into the classes governments want to teach, educators should focus on materials that kids want to learn, or that their parents are willing to invest in.
That cannot happen until we break the chain between government and education. It cannot happen until we once again, in Rothbard's words, "give children their head," and let them seek out "a genuine and truly free education, both in and out of formal schools."
Of course, the quality of instruction tailored to individual children and communities might not be easily measurable by states and statisticians. But if schooling someday provides a service that fits their needs, the students will come.
Mike Reid is primus inter pares at Invisible Order, a libertarian editorial-solutions company. He also teaches anthropology at the University of Winnipeg. Send him mail. Follow him on Twitter. See Mike Reid's article archives.
You can subscribe to future articles by Mike Reid via this RSS feed.
Copyright © 2012 by the Ludwig von Mises Institute. Permission to reprint in whole or in part is hereby granted, provided full credit is given.
Notes
[1] Universal primary education is goal #2 of the Millennium Development Goals.
[2] Jameel, "Primary Education for All," Fighting Poverty: What Works, Fall 2005.
[3] Fast Track Initiative, "Learning for All: An Educational Case for Financial Replenishment of EFA FTI."
[4] In India's Andaman Islands, when the indigenous Jarawa people were asked if they would like their kids to go to government school, they responded, "you and your children constantly rely on doing something with paper, look at you … listening and working on paper. Our children do not need to do so, they need to know about finding and locating things in the forest. It is work! It has to be learned!" See Vishvajit Pandya,"From Dangerous to Endangered."
[5] Fast Track Initiative, "Learning for All."
[6] Education for All Global Monitoring Report, Policy Paper 04, June 2012.Download PDF

Cronicas do racismo ordinario: no STF, no dia da posse de um presidente negro


FSP, 12/10/2012 - 09h58

Leia carta de diplomatas negros barrados no STF


Os diplomatas Carlos Frederico Bastos da Silva, 45, e Fabrício Prado, 31, ambos negros,foram barrados pela segurança do STF (Supremo Tribunal Federal) no dia em que o ministro Joaquim Barbosa foi eleito presidente da corte. Só conseguiram entrar autorizados por um superior.
Desconfiados de racismo, os diplomatas pediram explicações ao secretário de segurança institucional do STF, José Fernando Martinez. Leia, na íntegra, a carta dos diplomatas.

LEIA A CARTA DOS DIPLOMATAS
Brasília, 11 de outubro de 2012

Nós, Carlos Frederico Bastos Peres da Silva e Fabrício Araújo Prado, viemos registrar nossa indignação com o tratamento que recebemos da equipe de segurança do Supremo Tribunal Federal.
O Senhor Carlos Frederico dirigiu-se, por volta das 14 horas do dia 10 de outubro, ao Supremo Tribunal Federal, a fim de assistir à eleição dos novos Presidente e Vice-Presidente da Egrégia Corte. Ao chegar ao Tribunal, passou pelo detector de metais, sem que houvesse nenhuma anormalidade, e seguiu em direção à mesa de identificação e registro do público, a qual dá acesso ao salão plenário. Ao entregar sua identidade funcional de diplomata, foi informado, pela atendente, de que havia um problema no sistema eletrônico de identificação. Ato contínuo, um segurança aproximou-se e reiterou que o sistema de registro havia sofrido pane, razão pela qual não seria possível autorizar a entrada do Senhor Carlos Frederico à plenária.
Causou estranheza que ele tenha sido o único visitante a ser afetado pela pane, uma vez que diversas outras pessoas, brasileiras e estrangeiras, entraram no salão sem empecilho algum.
Diante da demora em ver o problema resolvido, o Senhor Carlos Frederico reiterou a pergunta ao segurança sobre o que estava acontecendo. O segurança repetiu o argumento da pane do sistema e conduziu o Senhor Carlos Frederico até a saída do STF, pedindo que ele aguardasse lá enquanto o problema estava sendo resolvido.
Por volta das 14:10 horas, o Senhor Fabrício Prado chegou ao STF para encontrar-se com o Senhor Carlos Frederico (ambos diplomatas e colegas de trabalho). Ao ver seu colega do lado de fora, o Senhor Fabrício Prado perguntou a um segurança que se encontrava na entrada se haveria algum problema. O mesmo segurança esclareceu que a situação já estaria sendo resolvida e que o Senhor Fabrício Prado poderia passar pelo detector de metais e proceder à identificação. Assim o fez. Ao chegar à mesa de identificação, foi comunicado pela atendente que, também no seu caso, havia um problema no sistema. Logo depois, o Senhor Carlos Frederico foi novamente conduzido por outro segurança (não o senhor Juraci) à mesa de registro e lá se juntou ao Senhor Fabrício, enquanto aguardavam pela solução da "pane". Passado algum tempo, durante o qual outras pessoas se identificaram e entraram no salão plenário, o segurança Juraci fez ligação telefônica e informou que a entrada havia sido autorizada. Questionado sobre a razão do problema, mencionou "razões internas de segurança".
Já dentro da plenária, tivemos a oportunidade de conversar com o chefe da segurança, salvo engano, chamado Cadra. Ele explicou que as restrições à entrada remontavam à nossa primeira visita ao salão plenário ao Supremo Tribunal Federal, no dia 3 de outubro. Não entrou em maiores detalhes, mas disse que teríamos demonstrado comportamento suspeito naquela ocasião. No dia 3 de outubro, chegamos juntos ao STF, de ônibus, e passamos por três controles de segurança do STF, a saber: o externo, localizado na Praça dos Três Poderes (a cerca de 10 a 20 metros de distância do ponto de ônibus); o de metais, na entrada do Palácio do STF; e o interno, na mesa de identificação e registro do público geral. Assistimos a parte da sessão de julgamento da Ação Penal 470 e saímos separados.
Ao final da eleição do dia 10 de outubro, deixamos o STF e retornamos ao Ministério das Relações Exteriores. Inconformados com o tratamento constrangedor e sem entender o fundamento da alegação de "comportamento suspeito", retornamos ao STF, por volta das 16:45 horas, em busca de esclarecimentos. Fomos, então, recebidos pelo Secretário de Segurança Institucional do STF, o senhor José Fernando Nunez Martinez, em seu gabinete. Este último esclareceu que estava ciente de nosso caso desde a primeira visita ao STF, no dia 3 de outubro, ocasião na qual teríamos sido classificados como "dupla de comportamento suspeito".
No dia 3 de outubro, a "suspeição" teria sido registrada em nossos cadastros pessoais do sistema de segurança da Corte, disse o Senhor Martinez. Esclareceu que, ao retirar o Senhor Carlos Frederico das dependências do STF, o Senhor Juraci teria desobedecido a suas ordem diretas, as quais determinariam que ninguém poderia ser retirado daquelas dependências sem aval da chefia de segurança. O Senhor Martinez afirmou, ainda, que o assunto deveria ter sido conduzido de outra maneira. Disse, literalmente, que a equipe de segurança teria visto "fantasmas", os quais teriam crescido ao longo do tempo e provocado o incidente do dia 10 de outubro.
Não satisfeitos com a explicação oferecida pelo Secretário de Segurança, perguntamos qual teria sido o "comportamento suspeito" de nossa parte. Após ressalvar que esse é um julgamento subjetivo dos agentes de segurança e que não teria sido ele próprio a formar esse juízo, enumerou os supostos motivos que lhe foram relatados pela equipe de segurança:
1- Que nós teríamos aparência "muito jovem" para ser diplomatas. Registre-se, aqui, que o Senhor Carlos Frederico tem 45 anos e que o senhor Fabrício Prado tem 31 anos de idade, como atestam as carteiras de identidade emitidas pelo Ministério das Relações Exteriores, apresentadas à mesa de identificação já no dia 3 de outubro
2- Que os seguranças suspeitaram da veracidade dos documentos de identidade apresentados
3- Que, na saída da sessão do dia 3 de outubro, as suspeitas teriam sido reforçadas por termos, supostamente, saído "juntos" do STF, "com o passo acelerado", comportamento interpretado como tentativa de despistar os seguranças que nos seguiam.
Cumpre esclarecer que, no dia 3 de outubro, deixamos o STF em momentos distintos, o que não condiz com o relato que, segundo o Secretário de Segurança, lhe teria sido feito por sua equipe. Além disso, nunca nos demos conta de que estávamos sendo seguidos nem apressamos passo algum. Todas estas revelações nos causaram desconforto ainda maior com relação aos incidentes.
Perguntado se o incidente teria relação com o fato de sermos afrodescendentes, negou veementemente que o comportamento da equipe de segurança tivesse tais motivações. Também pediu desculpas em nome de sua equipe pela sucessão de incidentes.
Diante da gravidade dos fatos relatados, manifestamos nossa indignação com os injustificados constrangimentos aos quais fomos submetidos, a saber: registro no cadastro de entrada como "suspeitos"; remoção temporária do Senhor Carlos Frederico das dependências do STF; obstruções a nossa entrada na plenária; e perseguição por seguranças após nossa saída do STF.
Sentimos-nos discriminados pelo tratamento recebido --e no caso do Senhor Carlos Frederico, profundamente humilhado por ter sido retirado do STF no dia 10 de outubro.
Dada a natureza "kafkiana" dos incidentes, as explicações insuficientes e desprovidas de qualquer lógica razoável prestadas pela Secretaria de Segurança Institucional não nos satisfazem, razão pela qual não nos furtaremos a adotar as medidas cabíveis para fazer valer nossos direitos.
Não poderíamos deixar de expressar nossa tristeza com o fato de termos sido submetidos a tal constrangimento na data da eleição do primeiro negro a assumir a Presidência do Supremo Tribunal Federal, pelo qual temos profundo respeito e admiração.
_Atenciosamente,_
Carlos Frederico Peres Bastos da Silva
Fabrício Araújo Prado

Premio Nobel da Paz: integracao Europeia - 60 anos de paz

Faz sentido. Acabo de escever um livro sobre a integração regional. Vou ter de incluir esta informação também.
Paulo Roberto de Almeida

EU wins Nobel Peace Prize

By Richard Milne in Oslo and Peter Spiegel in Brussels
Financial Times, October 12, 2012

The EU was awarded the Nobel Peace Prize on Friday for its role in bringing democracy to a war-ravaged continent and in reconciling France and Germany.
The timing of the prize is contentious, with much of the EU embroiled in theeurozone crisis and deep debate over the future of Europe.
But Thorbjørn Jagland, head of the Oslo-based Nobel Committee, stressed that the award was a reminder to Europe not to discard the fruits of 60 years of integration as social unrest increases because of the economic crisis.
“We want to focus on what has been achieved in Europe in terms of peace and reconciliation,” Mr Jagland said. “It is a message to Europe to secure what they have achieved . . . and not let the continent go into disintegration again because it means the emergence of extremism and nationalism.”
Shortly after the Nobel announcement, José Manuel Barroso, who as the European Commission president is the most recognisable face of the EU, said he was honoured by the decision and that it was a reminder that even during the current crisis “the EU is something very precious”.
“It is a great honour for all 500m citizens of Europe, for all the member states and for all the European institutions,” Mr Barroso said at a hastily called news conference. “Through its transformative power, the EU was able, starting with six countries, to reunite almost all the European continent.
Herman Van Rompuy, the European Council president, said the award was a deserving recognition to previous generations of European leaders and called the EU the “biggest peacemaking institution in world history”.
“We were in wars for centuries, we had two world wars,” Mr Van Rompuy said. “We put an end to them. With the EU, that kind of war cannot happen again.”

Mr Barroso and senior EU officials said they had no inkling the award was to be awarded to the institution until news reports out of Norway began to filter in. “I have to say that when I woke up this morning, I did not expect it to be such a good day,” Mr Barroso said.
The EU award follows a number of recent Nobel Peace Prizes that have been shrouded in controversy from US President Barack Obama in 2009 to Chinese democracy activist Liu Xiaobo the following year. Norwegian business is still feeling the effects of the latter award with visas to China almost impossible to obtain.

The Norwegian committee, which hands out only the peace prize, with all other Nobel awards coming from Sweden, has discussed the possibility of the EU winning for several years.
Geir Lundestad, the secretary of the committee, said two years ago that the EU was behind only Mahatma Gandhi in terms of being overlooked for the prize.
Mr Jagland said this year’s decision had been unanimous but Norwegian media reported that Ågot Valle, a former leading light of the anti-EU campaign in the country who sat in the committee, had been ill this year and thus unable to oppose the award as she had in previous years.

O homem de um livro so - Francisco Seixas da Costa

Do blog "2 ou 3 Coisas...", do meu amigo embaixador português em Paris, antes em Brasília, Francisco Seixas da Costa, mas enviado pelo meu amigo André Eiras.
Paulo Roberto de Almeida  
O livro

Francisco Seixas da Costa

2 ou 3 Coisas, 12/10/12

Não recordo o seu nome e, mesmo se dele me lembrasse, não o diria aqui. Era um homem muito simples, na casa dos 50 anos, que me contava belas histórias da sua infância em João Pessoa, na Paraíba, terra de que sentia saudades que a melhor vida que tinha em São Paulo não conseguia atenuar. Era o meu motorista habitual quando tinha de me deslocar a São Paulo, ido de Brasília, o que ocorria com alguma frequência, nesses quatro anos em que vivi no Brasil.
Entre o aeroporto e os compromissos, ou nos intervalos entre eles, eu tinha por invariável hábito passar pela fabulosa Livraria Cultura, na avenida Paulista, de longe o mais completo e bem arrumado lugar de venda de livros em língua portuguesa, em todo o mundo. Por necessidade, por tentação ou por simples vício, nunca de lá saía sem um saco, mais ou menos recheado, de edições brasileiras.
Numa das muitas vezes em que eu acomodava no carro as novas aquisições, esse meu motorista inquiriu:

- O senhor consegue ler todos esses livros que compra?

Expliquei-lhe que não, longe disso!, mas que eu fazia parte de um grupo de pessoas, bastante vulgar, que compra sempre muitos mais livros do que aqueles que alguma vez conseguiria ler, mas que, nem pelo facto de disso ter plena consciência, era capaz de deixar de o fazer. Era uma espécie de "doença", algo dispendiosa mas incurável. Sem surpresa, fiquei com a impressão de não foi sensível a esta minha irónica explicação.

Segundos volvidos, disse-me: 

- Eu também já li um livro.

Aceitei com discreta delicadeza a sua singular revelação e inquiri que livro era.

- Era um livro sobre religião, escrito por um americano, um livro muito bom. Gostava de lê-lo outra vez. Mas emprestei-o a um conhecido que foi para João Pessoa e nunca mais consegui voltar a lê-lo. Já falei com gente de lá, para lho pedirem, mas não mo devolve. Para o ano, quando fôr à Paraíba, vou ter com ele e vai ter de mo devolver. A bem ou a mal.

- Mas há tantos livros! Porque é que não lê outro livro? Por exemplo, a pessoa que escreveu o livro que leu até pode ter escrito outros, tão bons ou melhores do que esse. Sabe o nome da pessoa que escreveu o livro?

- Não sei, não me lembro, mas também não me interessa. Eu só quero voltar a ler esse livro. Não quero ler outros livros.

E calou-se, numa tristeza evidente.

Nunca cheguei a saber como se chamava o livro que o meu simpático motorista tinha lido, nem quem era o americano que o tinha escrito. E para sempre senti imensa pena daquele homem, não pelo facto de não querer ler mais livros, mas porque percebo muito bem a angústia de alguém perder aquela que era toda a sua biblioteca.

 duas ou três coisas de Francisco Seixas da Costa