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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Um contrarianista no limbo: artigos em Via Politica, 2006-2009: livro Paulo Roberto de Almeida

Minha produção mais recente: 

3219. Um contrarianista no limbo: artigos em Via Política, 2006-2009; Brasília: Edição do Autor, 2017, 247 p. Compilação de três dezenas de escritos publicados em Via Política, dentro as oito dezenas constantes do registro. Feito em formato pdf, e divulgado através de Academia.edu (https://www.academia.edu/35509310/3219ViaPoliticaBook2006a2009.pdf).


Índice

Apresentação: Resquícios de um quilombo de resistência intelectual - 11

O Brasil e os problemas brasileiros
1. Dicionário político dos novos pecados capitais - 17
2. Prioridades possíveis em uma administração racional 19
3. Uma verdade inconveniente: pode o Brasil crescer 5% ao ano? - 24
4. Reflexão pessoal sobre as relações entre Estado e governo  - 30
5. Pequeno manual prático da decadência - 33
6. Prometeu acorrentado: o Brasil amarrado por sua própria vontade - 45
7. Algumas coisas simples que deveríamos ter no Brasil - 52
8. Como criar uma nação de assistidos - 54
9. Duro de crescer: obstáculos políticos ao crescimento no Brasil - 57
10. Presença da universidade no desenvolvimento: perspectiva histórica - 68
11. O afundamento da educação no Brasil  -  73
12. O problema da universidade no Brasil: do público ao privado?  - 81
13. Fim de consenso na diplomacia? - 87

O mundo e seus problemas
14. O Brasil no índice dos Estados falidos  -  91
15. América do Sul: desintegração política e à fragmentação econômica? - 97
16. O papel dos BRICs na economia mundial - 106
17. Fórum Social Mundial: propostas idealistas, grandes equívocos - 112
18. Socialismo do século XXI?: apenas para os incautos... - 123
19. Sete teses impertinentes sobre o Mercosul  - 127
20. Terrorismo islâmico-fundamentalista: uma quarta guerra mundial?132
21. Duzentos anos da vinda da família real: o que Portugal nos legou? - 136
22. Um outro Fórum Social Mundial é possível…  -  151
23. O império americano em sete teses rápidas  -  159
24. O império e sua segurança: quatorze novas teses  - 164
25. O Brasil e o cenário estratégico mundial: breves considerações  - 173
26. O legado de Henry Kissinger  -177
27. Pequena lição de Realpolitik  - 182
28. Bric: anatomia de um conceito - 187
29. Fórum Surreal Mundial: globalizados contra a globalização  -  217

Apêndices
30. Relação dos artigos publicados em Via Política, 2006-2009237
31. Livros de Paulo Roberto de Almeida   - 242
32. Nota sobre o autor   -  245



Resquícios de um quilombo de resistência intelectual


Considero os trabalhos reunidos neste volume, que de outra forma poderiam ser chamados de “crônicas do limbo,” como remanescentes de alguns dos meus quilombos de resistência intelectual, quando eu estava reduzido a um ostracismo funcional, ou seja, confinado a uma espécie de limbo institucional por razões que muitos sabem quais foram, mas que talvez não seja o caso de discutir aqui. Em todo caso, basta informar que, convidado no início de 2003 a assumir a coordenação do mestrado em diplomacia do Instituto Rio Branco, fui “desconvidado” logo em seguida, por motivos obscuros mas que podem ser deduzidos mediante uma simples consulta à lista de minha produção acumulada desde muitos anos. O fato é que, desde então, e pelos 13 anos seguintes, permaneci sem qualquer função na Secretaria de Estado, uma travessia do deserto que apenas foi interrompida com o impeachment de certa senhora. Tudo coincidência, claro.
Enterrado um regime, iniciado um outro, retomei meus trabalhos, não exatamente na Secretaria de Estado, mas numa função de corte acadêmico, que por acaso coincide com meus interesses intelectuais. Durante aquele longo período – do início de 2003 a meados de 2016 –, frequentei, ou criei, vários tipos de “quilombos”, que eu chamei de “resistência intelectual”, em geral sob a forma de blogs, que eu mantinha e alimentava com objetivos variados: resenhas de livros, transcrição de escritos alheios, usos tópicos diversos (por ocasião de eleições presidenciais, por exemplo), e mais frequentemente para finalidades pessoais (como o DiplomataZ, entre vários outros), ou blogs de caráter geral, dos quais o mais constante, e até hoje em uso, é o Diplomatizzando.
Em qualquer um desses quilombos, ou fora deles, a verdade é que eu estava no limbo, o que até pode ser anacrônico, uma vez que a Cúria do Vaticano parece ter extinguido esse “território” muitos anos atrás. Enfim, sempre podem subsistir limbos virtuais. O limbo, segundo os dicionários, representa, na teologia cristã, uma região próxima do inferno, um refúgio para as almas dos homens bons, que viveram antes da chegada de Cristo, e para as almas das crianças falecidas não batizadas. Num sentido civil, pode aproximar-se de uma espécie de prisão, ou confinamento, o que deve ter sido o meu caso. No sentido mais comum do termo, seria um lugar ou a condição de  negligência ou de esquecimento aos quais seriam relegadas coisas ou pessoas não desejadas. Estas são, em todo caso, as definições que retiro do Webster's New Universal Unabridged Dictionary (2nd edition; New York: Simon and Schuster, 1979), p. 1.049. Os muito curiosos por outras significações, ou por explicações mais detalhadas, podem procurar o verbete na Wikipédia.
Retomemos o meu caso. Consciente do ostracismo que me foi imposto, por decisões provavelmente políticas (ainda que não declaradas), continuei a fazer o que sempre fiz, no decorrer de toda uma vida dedicada a uma atividade fundamental: ler, refletir, escrever, eventualmente divulgar meus escritos pelos meios disponíveis. Estes meios não eram muitos; ao início, na verdade, nenhum, uma vez que eu só dispunha, em 2003, de meu próprio site pessoal (www.pralmeida.org), que se destinava unicamente a divulgar alguns trabalhos acadêmicos, em temas sobre os quais eu era frequentemente consultado por estudantes, jornalistas ou colegas acadêmicos: integração regional, política externa brasileira, relações internacionais de modo geral. O site pessoal era um instrumento passivo, pois nunca fiz dele um instrumento de comunicação, ou plataforma para qualquer outro objetivo, senão a compilação de trabalhos de natureza intelectual, que refletiam essa minha produção de tipo acadêmico. A partir de certo momento, para facilitar o trabalho de carregamento e disponibilização de trabalhos mais curtos, passei a utilizar a ferramenta dos blogs, o único free lunch real, conhecido sob o capitalismo.
Por inépcia pessoal, incompetência técnica notória, tive vários deles, sucessivos, até conseguir estabilizar no Diplomatizzando, sem que todos os demais tivessem sido desativados; foram apenas sendo deixados de lado, para não complicar muito a vida. O fato é que comecei a postar um volume crescente de materiais suscetíveis de atrair a atenção de um número maior de leitores, e até de “editores” de ferramentas semelhantes ou até de instituições de ensino e pesquisa espalhadas pelo Brasil. De várias recebi convites para colaborar, o que procurei atender na medida de minhas possibilidades e, sobretudo, interesse no tipo de veículo, seu perfil social e nicho de interesse intelectual.
Um deles foi a revista eletrônica Via Política (Porto Alegre), animada pelos jornalistas gaúchos Omar Luiz de Barros Filho e Sylvia Bojunga, que me localizaram em algum momento do início de 2006 e formularam o convite para que eu colaborasse. Refleti por algum tempo, sobre se deveria aceitar ou não, e resolvi colaborar, tanto porque havia sido contatado quase simultaneamente por dois outros veículos online de comunicação, e também porque, desde 2001, já contribuía mensalmente com a revista digital Espaço Acadêmico, um bem sucedido empreendimento editorial mantido em condições quase artesanais pelo professor Antonio Ozaí, da Universidade de Maringá, no Paraná. Depois de ter inaugurado minhas colaborações mensais nessa revista por um texto – “Dez novas regras de diplomacia” – que deve ter sido o mais acessado de toda a minha produção acadêmica (na verdade diplomática), continuei durante dez anos com meus artigos provocadores (do ambiente de gramscismo disseminado), até que o corpo editorial deve ter se cansado de meus ataques à nossa miséria acadêmica e resolveram dispensar-me dos colaboradores regulares. Ufa! Poupou-me uma obrigação adicional.
Em Via Política, com total liberdade de colaboração, cheguei até a dispor de uma coluna dedicada e especial, que reproduzia o título de um dos meus blogs na ocasião – a “Diplomatizando”; link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando – e mandava minhas contribuições a intervalos regulares, embora sem uma periodicidade fixa. No total, salvo engano de registro, contei 87 publicações, mas pelo menos duas delas foram longos artigos divididos em postagens diferidas ao longo de algumas semanas, como foi o caso de um ensaio sobre o Brics e uma análise das parvoíces do Fórum “Surreal” Mundial (que parecem ter desaparecido da paisagem, mais por falta de dinheiro oficial do que de besteirol à disposição dos incautos).
Nesta minha seleção ilustrativa, escolhi três dezenas de trabalhos, reproduzidos neste volume de compilação (nem sempre fiel aos textos efetivamente publicados, pois que buscados nas minhas pastas de “originais”, organizadas ano a ano. Creio que podem ser considerados os trabalhos mais representativos, e ainda válidos, de minhas reflexões e de minha produção intelectual nesses anos em que me encontrava afastado de qualquer atividade funcional na Secretaria de Estado ou de postos no exterior. Depois da decisão de efetuar o “renascimento” desta colaboração com um blog infelizmente já desaparecido, comecei a pensar em como intitular esta nova série de trabalhos atinentes às minhas pesquisas, reflexões e escritos. Diferentes opções estavam à disposição deste autor: crônicas do deserto, do cerrado, do agreste, ou qualquer outro conceito denotando uma situação áspera, difícil, de isolamento ou de dificuldade, enfim, algo conforme às minhas condições naquele período.
Resolvi então adotar o que era mais característico quanto ao autor e sua situação: um “contrarianista” – ou seja, alguém não absolutamente contrário a tudo o que vê, ou encontra, mas praticando o que eu sempre chamei de “ceticismo sadio” – ,“no limbo”, pois esta era, efetivamente, a minha situação naquele momento. Esta foi, pois, a decisão de deixar registrados trabalhos de uma fase já passada, mas que ainda pode voltar a ocorrer novamente, pois nunca se sabe que tipo de complicações esses contrarianistas profissionais podem criar para si mesmos, em termos de projetos de vida, tanto pelo lado profissional, como pelo lado acadêmico ou pessoal. Acredito que as pessoas são responsáveis, em grande medida, pelo seu próprio destino, na medida em que fazem escolhas, adotam posturas, assumem atitudes que as colocam em maior ou menor conformidade com o seu meio social, com o seu ambiente profissional, com o seu universo de relacionamentos e interações. Sou o resultado de minhas próprias escolhas, ainda que outros possam ter contribuído, direta ou indiretamente, para minha condição, em determinados momentos de minha carreira profissional ou itinerário acadêmico.
Não pretendo lamentar nada, ainda que exercícios de autorreflexão e revisões críticas de trajetórias passadas e presentes sejam sempre desejáveis, na perspectiva de corrigir o que está errado e impulsionar caminhos mais atrativos, ou interessantes. Ao refletir sobre esse tipo de situação, em dezembro de 2006, ao confirmar-se o limbo no qual eu andava metido, escrevi num dos textos pessoais: “Vou estabelecer, neste final de ano [2006], um plano de trabalho para enfrentar os próximos meses, talvez anos, de travessia do meu deserto particular”. Não sabia, naquela momento, que o limbo teria a exata duração de dez anos, durante os quais preferi ficar com minha consciência e em defesa de certos princípios e valores, do que aderir a um governo que sempre considerei um desastre no plano econômico, político, institucional, e até ético e moral. Acho que eu não estava errado a este respeito, como constatamos pelos incontáveis processos, delações, investigações sendo feitas e casos sendo julgados atualmente no Judiciário.
O Brasil atual, de certo modo, me dá vergonha, pelo aspecto de corrupção impune a que se assiste. Mas, por outro lado, existem pessoas e instituições lutando para que tal vergonha seja corrigida, punida, senão eliminada, pelo menos limitada. É isso que eu sempre procurei fazer através de meus escritos e publicações. Eles não são fortuitos, ou puramente circunstanciais. Eles traduzem um compromisso com certos princípios de vida, com certos valores que julgo importantes, para minha geração e as que se seguirão nas décadas seguintes, agora representadas por meus filhos e netos.
A palavra limbo talvez não é mais adequada à minha situação atual. Ela fica, em todo caso, como conceito chave destas minhas crônicas de um período especial, hoje felizmente superado, mas que talvez possa voltar pelo lado de um contrarianismo sempre presente em meus textos. Nesse caso, eu talvez tenha de escolher algum substantivo mais apropriado. No momento este é o que me convém para expressar estas colaborações a um dos muitos veículos com os quais colaborei ao longo dos anos.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 26 de dezembro de 2017

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Disponível neste link de Academia.edu: 
https://www.academia.edu/35509310/3219ViaPoliticaBook2006a2009.pdf

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Academia.edu: balanco de um ano de acessos a trabalhos Paulo Roberto de Almeida

Apenas transcrevendo o relatório gerado pelo Analytics da plataforma Academia.edu, iniciando com a lista dos acessos totais em cada um dos três últimos anos. Registre-se que entre meados de 2015 e o início de 2016, a progressão foi de apenas 6 mil acessos, ou seja, 1.000 por mês aproximadamente.
Mas, do início desse ano ao mês de dezembro deste ano, ou seja, aproximadamente 23 meses, a progressão foi de 38.600 acessos, ou quase 1.700 por mês.


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Saturday, January 30, 201615:5726084Download
Sunday, August 16, 20159:0320520Download
Sunday, August 16, 20151:1720516Download


Balanço de um ano dos Acessos a minha produção em Academia.edu
De 1o. de dezembro de 2016 a 30 de novembro de 2017

Your Impact from December 01, 2016 to November 30, 2017; Fonte: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida/Analytics/activity/impact/12month

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Politica brasileira: entre o presidencialismo e o parlamentarismo - Ives Gandra Martins, Jorge Geisel

Por instinto político, ou por simples constatação quanto ao fracasso absoluto do presidencialismo no Brasil -- dando abertura para ditaduras e populismos demagógicos, como sempre são -- sou adepto do parlamentarismo, mas ATENÇÃO, não tenho NENHUMA ILUSÃO de que será a solução dos nossos problemas, pois tenho certeza de que NÃO SERÁ, pelo menos numa primeira fase.
Ele representará, na verdade, a exacerbação de todos os nossos "ismos" negativos, durante certo tempo, que não sei precisar, mas que pode se estender por dois ou três mandatos presidenciais, senão mais, ou melhor, duas ou três legislaturas completas.
Dito isto, transcrevo dois textos sobre o sistema, primeiro um artigo de mestre Ives Gandra Martins, como "true believer" no parlamentarismo, e depois os comentários de Jorge Geisel, sobre os cuidados que se deve ter, em face da deseducação política do eleitorado. Finalizo com o comentário totalmente pragmático de Ricardo Bergamini, de cuja correspondência retirei os textos abaixo.
Paulo Roberto de Almeida

 Parlamentarismo, um sistema bem-sucedido
Ives Gandra da Silva Martins
O Estado de S. Paulo, 16/09/2016 

Com exceção dos Estados Unidos, o presidencialismo nas Américas tem sido um permanente fracasso. Todos os países que o adotaram tiveram golpes de Estado, revoluções e períodos de uma frágil democracia.
Se analisarmos, depois da 2.a Guerra Mundial os principais países sul-americanos foram agitados por rupturas institucionais e regimes de exceção. Assim, Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Bolívia, Peru, Venezuela, Cuba, etc., passaram por rupturas democráticas e pela implantação de regimes de força.
O Brasil, que viveu 42 anos no sistema parlamentar monárquico, desde 1889 jamais teve um período tão longo de estabilidade. De 1889 a 1930, foram 41 anos interrompidos pela ditadura Vargas (de 1930 a 1945). O período de 1946 a 1964 (18 anos) terminou com a revolução de 31 de março. A redemocratização de 1985 deu início a um período de 31 anos, com dois impeachments presidenciais e alta instabilidade. Os governos dos presidentes Lula e Dilma Rousseff levaram o País à crise econômica sem precedentes em sua História, com queda assustadora do PIB, 11,5 milhões de desempregados, retorno da inflação e fantástico nível de corrupção.
Decididamente, o presidencialismo não é um bom sistema, pois confunde o chefe de Estado com o chefe de governo e este, quando eleito, se sente dono do poder, transformando-o, o mais das vezes, numa ditadura a prazo certo.
Presidi entre 1962 e 1964, na cidade de São Paulo, o extinto Partido Libertador, o único partido autenticamente parlamentarista entre os 13 existentes até o Ato Institucional n.° 2. Declarava Raul Pilla, seu presidente nacional, ser o parlamentarismo o sistema de governo da “responsabilidade a prazo incerto”, pois, eleito um chefe de governo irresponsável, por voto de desconfiança é alijado do poder, sem traumas. O presidencialismo, ao contrário, considerava Pilla, é o sistema “da irresponsabilidade a prazo certo”, pois, eleito um presidente incompetente ou corrupto, só pelo traumático processo do impeachment é possível afastá-lo.
Vejamos, por exemplo, o Brasil atual. Desde 2014 os sinais de fracasso do modelo econômico adotado eram evidentes, mas só houve consenso em iniciar o processo de impeachment em meados de 2016.
Arend Lijphart, professor da Universidade Yale, publicou um livro, em 1984, intitulado Democracies: Patterns of Majoritarian & Consensus Government in Twenty-one Countries. Examinou o sistema dos 21 principais países do mundo onde não houvera ruptura institucional depois de 2.a Guerra Mundial e encontrou 20 hospedando o parlamentarismo e só os Estados Unidos presidencialista.
Historicamente, os dois sistemas têm origem na Inglaterra, o parlamentar (1688/89), e nos Estados Unidos, o presidencial (1776/87). A própria influência inglesa nas 13 colônias levou os norte-americanos a adotar um sistema presidencial quase parlamentar, pois lá o Congresso tem participação decisiva nas políticas governamentais.
O grande diferencial entre parlamentarismo e presidencialismo reside na responsabilidade. No parlamentarismo, o mau desempenho é motivo de afastamento do primeiro-ministro, eleito sem prazo certo para governar. A própria separação entre chefe de Estado e chefe de governo cria um poder ultrapartidário capaz de intervir nas crises, seja para avalizar novos governos escolhidos pelo Parlamento, seja para dissolver o Parlamento quando este se mostre também irresponsável, a fim de consultar o povo se aquele Parlamento continua a merecer a confiança do eleitor.
O simples fato de o chefe de governo ter de prestar contas ao Parlamento e os parlamentares poderem voltar mais cedo para casa impõe a seus governos a responsabilidade, característica dominante no sistema parlamentarista.
Por outro lado, a separação da chefia de governo da chefia de Estado – algo que, no presidencialismo, se confunde na mesma pessoa – facilita a adoção de outros atributos próprios do sistema parlamentar, como o da burocracia profissionalizada. Este jornal publicou em 3/1/2015 que, enquanto o governo parlamentar alemão tinha 600 funcionários não concursados para tais funções, a presidente Dilma Rousseff tinha 113 mil.
Eleito um governo, este escolherá entre os servidores públicos que estão no topo da carreira os que mais se afinam com a maneira de ser do novo governo. Gozam os presidentes dos Bancos Centrais de autonomia maior, quando não de independência. Por essa razão, nas quedas de Gabinete os servidores administram o País até a escolha de um novo governo, sem a economia ser afetada.
Acrescente-se que a maioria dos países parlamentares adota o voto distrital puro ou misto, o que facilita o controle do eleitor sobre o político eleito.
Os modelos parlamentaristas são diversos, com maior ou menor atuação do chefe de Estado. Alguns até exercem funções de governo, como nos modelos francês e português, por exemplo, mas a regra é não exercê-las.
Também os partidos políticos se fortalecem no parlamentarismo, enquanto no presidencialismo se esfacelam, à luz da maior força do presidente. Quando se diz que o Brasil não pode ter o parlamentarismo porque não tem partidos políticos, respondo que o Brasil não tem partidos políticos porque não tem o parlamentarismo. Cláusula de barreira é fundamental para evitar legendas de aluguel, algo que, no Brasil, é um dos maiores males do presidencialismo.
Creio que chegou o momento de repensar o modelo político brasileiro e adotar o sistema parlamentar, que sempre deu certo no mundo, substituindo o adotado pelo Brasil, cujo fracasso é fantasticamente constante na sua História. (O Estado de S. Paulo – 14/09/2016)
IVES GANDRA DA SILVA MARTINS É PROFESSOR EMÉRITO DAS UNIVERSIDADES MACKENZIE, UNIP, UNIFIEO E UNIFMU, DO CIEE/”O ESTADO DE S. PAULO”, DA ECEME, DA ESG E DA ESCOLA DA MAGISTRATURA DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL-13 REGIÃO

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Comentários: 

De: Jorge Geisel
Enviada em: segunda-feira, 25 de dezembro de 2017 01:32
Para: undisclosed-recipients:
Assunto: Parlamentarismo, um sistema bem-sucedido - Ives Gandra

Quase ninguém aponta a medonha realidade das maiorias votantes dos Brasis. Como transformar vereadores, deputados estaduais e congressistas da pior qualidade, em fontes eleitorais indiretas para a escolha, dentro de seus âmbitos, de governantes sem mandato por prazo certo? Ainda mais,tudo dentro de  uma federação capenga, com autonomias aleijadas de subsidiariedades, eis um questionamento crucial. 
Povo decente e dono do seu nariz e livre para ditar as normas de seus governos locais e regionais, é o que faltará em qualquer tentativa de reformas políticas em Pindorama. Me atrevo dizer, que sem corrigir a gravíssima situação da Política atual, no regime presidencialista vigente, muito mais difícil seria uma mudança para o parlamentarismo. E digo isso sendo adepto dele.
Infelizmente, a elite republicana que proclamou-se sucessora das elites imperiais, optou pelo presidencialismo norte-americano, sem saber muito bem o que fazer dele, na União e nos Estados Federados. Alguns tentaram, mas foram abortados pelas forças centrípetas das tendência herdadas do passado centralizador do Império. Tudo desembocou no Estado Novo, com ditadura de Getúlio por quinze anos...E diga-se, não foi uma ditamole de generais seguidos, eleitos indiretamente pelo Congresso Nacional ou de um Imperador magnânimo   - fora uma ditadura na acepção da palavra.
Num  pais de povo analfabeto em política, por ignorância endêmica e ou comodista por hábito, domesticado na servidão voluntária, os autoritarismos, ditaduras disfarçadas, reaparecem periodicamente, mas sem educar o povo para o self-government , sempre adiando sine die  a participação responsável do Indivíduo, desde a esfera de poder republicano municipal, que lhe deveria dizer mais próximo. Mas, ao contrário, o poder centralizador, onipresente e onisciente de Brasília,  é que lhe chama atenção diária e de onde acredita possa vir o incremento de seus direitos e a redução de suas obrigações...
Os intelectuais de Pindorama, oferecem seus equacionamentos, baseados no que deu certo em outros países, mas esquecem-se de que brasileiros  querem lições mais fáceis para suas vidas... A preguiça mental abunda por aqui.

Jorge Geisel

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Comentário de Ricardo Bergamini: 

Querido amigo Cyro 

Todas as opiniões dos membros de nosso grupo partem de uma premissa errada, qual seja: comparando as mazelas existentes no presidencialismo. Porém, em sendo aprovado o Parlamentarismo as regras eleitorais e partidárias serão diferentes das existentes no presidencialismo. Com isso é óbvio e ululante que os perfis dos políticos eleitos serão diferentes dos atuais, apenas por um único motivo, conforme abaixo: 

- No Presidencialismo o legislativo aprova o orçamento repleto de gastos com bondades para atender as suas bases e o executivo que se exploda em cumprir.

- No Parlamentarismo o legislativo aprova o orçamento e fica responsável pela sua execução.

Somente pelo motivo acima o Parlamentarismo é muito menos ruim do que o Presidencialismo.

Sugiro pesquisar os artigos e livros do mestre Ives Gandra Martins sobre o tema e dificilmente alguém poderia ser contra o Parlamentarismo.

Não vou afirmar que o Parlamentarismo, por si só, resolverá todos os nossos problemas, mas posso afirmar que todos os conflitos políticos necessários para resolvermos os nossos graves problemas serão conduzidos de forma menos traumática do que no Presidencialismo. Disso não tenho dúvida.

Feliz Natal para todos