O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sábado, 27 de outubro de 2018

Uma viagem (curta) pelas Gerais, Carmen Licia e PRA

Carmen Lícia e eu tiramos alguns dias de férias, para fazer aquilo que fizemos habitualmente, e intensamente, nas últimas décadas: viajar de carro.
Desta vez, resolvemos visitar, ou revisitar, algumas paragens que não víamos há algum tempo, ademais de conhecer novos museus ou locais que não tinhamos ainda visto até aqui.
O percurso, de ida e volta, está reproduzido aqui, mas detalho abaixo:

Começamos no sábado dia 20/10, indo direto a Três Marias, pois o percurso total, para a primeira etapa, seria muito longo.
De Brasília a Três Marias foram 466 kms, em estradas geralmente boas, ou seja, sem aqueles buracos que já enfrentamos no passado, e vários trechos duplicados. Parada em Cristalina para um lanche, depois passagem por Paracatu e João Pinheiro, para finalmente chegar às márgens da barragem da CEMIG, em Três Marias, onde ficamos num hotel que frequentamos muito no passado, mas apenas para comer: o Grande Hotel do Lago, razoável, mas nessa noite de sábado frequentando por alguns pescadores da região e suas "companhias" barulhentas. A comida estava razoável.

Domingo seguimos para Diamantina, mais 270kms, via Curvelo e por caminhos de Guimarães Rosa, como algumas placas esclareciam na estrada.
Em Diamantina, nos hospedamos no Hotel Tijuco, muito simpático e bem localizado, bem no centro, hotel aliás projetado por Oscar Niemeyer, como uma enorme fotografia no lobby se encarregava de lembrar.

Várias visitas a igrejas e à Casa da Gloria, antiga mansão senhorial, transformada durante certo tempo em escola para moças das Irmãs Ursulinas, atualmente abrigando o centro de mineralogia da Universidade Federal de Ouro Preto, que leva o nome do engenheiro alemão, Barão Eschwege, quem primeiro pesquisou cientificamente os recursos da região.
Uma belíssima exposição, feita em 2017, a propósito da viagem de Saint-Hilaire à região, duzentos anos depois merece uma publicação mais amplamente disponível.

De Diamantina seguimos direto a Sabará (326 kms), onde ficamos no Hotel Solar Corte Real, com esta belíssima pintura do trabalho de garimpo, na parede da escada do lobby.

Como em várias cidades históricas mineiras, o calçamento e as ladeiras são intimidantes, e suponho que perigosos em tempos de chuva. Ali visitamos o Museu do Ouro, recuperado desde a origem do IPHAN, e seu primeiro gestor, um dos Mello Franco.
Finalmente, Ouro Preto (mais 130 kms), uma excelente estada, pois a cidade está cada vez mais preparada para o turismo. Ponto alto das visitas, o Museu da Casa dos Contos, administrada pelo Ministério da Fazenda, com um centro de história econômica e monetária, que já ofereceu um belíssimo passeio pela nossa trajetória monetária desde a colônia.
Outra visita que vale fazer é ao Museu da Inconfidência, com material histórico muito diverso, embora nem sempre bem apresentado. Os restos mortais dos inconfidentes foram transladados para uma das salas, e Tiradentes mereceu uma bela lápide.
Visitamos ainda o Museu do pintor Alberto da Veiga Guignard, que viveu seus útlimos anos na cidade, mas ainda não conta com um diretório completa de sua imensa obra artística.
De Ouro Preto, fomos a Belo Horizonte, mais exatamente no bairo Ouro Preto, justamente, do lado da Pampulha, exclusivamente para visitar o Museu da Inquisição, menos da inquisição em geral, como esclareceu Carmen Lícia, e mais da perseguição aos judeus sefaraditas, segundo organização da documentação feita pela historiadora Anita Novinsky, quando a Inquisição teve um escopo bem mais amplo.
De Belo Horizonte, em lugar de ficarmos uma vez mais em algum hotel de estrada, resolvemos vir direto de volta a Brasília, o que nos fez uma jornada de mais de 860kms num só dia.
Ao total, fizemos 2.070 kms pelas estradas do Brasil central, uma média de 295 kms por dia, se todos os dias fossem de viagem.
Uma quilometragem pequena, para os nossos padrões de viagem, quando já atravessamos todo o Brasil de Norte a Sul (como viagem de "lua de mel", 40 anos atrás), e várias pela Europa e EUA.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27 de outubro de 2018

Brazil: The Challenges Ahead - Antony Mueller (AIER)

Brazil: The Challenges Ahead

Whoever wins the Brazilian presidential election on Sunday, October 28, will face tremendous challenges. The economy is in depression, the unemployment rate is in the double digits, and the fiscal situation is bleak. A sharp polarization has characterized the election campaign. The disapproval of each of the two leading candidates is higher than the support they get from the electorate. In the years to come, the political uncertainties and economic doldrums might not go away.
Public corruption scandals have led to political chaos. Former President Luiz Inácio "Lula" da Silva of the socialist Workers' Party is in prison because of corruption. His successor, Dilma Rousseff, continued Lula's populist agenda but was impeached and removed from office. 
Michel Temer, who followed her in the presidency, has never gained popular support. He has been unable to consolidate the country’s public finances or revive the economy. A heavy burden will fall on the next president when he takes over the helm on January 1, 2019. 

Much Potential, Little Accomplishment
Brazil is the largest country in South America with a size like that of the United States without Alaska. The country has a population of 207 million, and in terms of gross domestic product, its economy ranks number eight. The author Stefan Zweig called Brazil a land of the future, while cynics added that it always will be. Throughout its history, Brazil has experienced a series of spurts of growth, all of which ended in prolonged stagnation. This has also recently happened. After a period of high growth rates and much exuberance in the decade from 2002 to 2012, the economy fell into an ongoing deep recession.
Brazil suffers from many political barriers that stifle its economic progress. The country’s bureaucracy is the main force of obstruction along with its judicial system. Brazil’s political leadership enjoys the dubious privilege that, because of Brazil’s immense natural wealth and its favorable overall geographic conditions, they do not get much punished even when they make severe blunders. Many incompetent and corrupt politicians enjoy frequent reelections.
Brazil’s economic progress suffers from the country’s flirtation with the welfare state that came with the new constitution of 1988 after the country had shed the military dictatorship of 1964 to 1985. Brazil’s democracy has fallen victim to a process of competition in social handouts. The political game requires an endless process of coalition making, with each of the individual political parties expecting a special treatment for their clientele as the price of supporting the government.
Brazil’s integration into the world economy comes through the country’s wealth of natural resources. During commodity booms, Brazil’s currency is overvalued, and when the boom is over, its industry often lies in tatters. As for everything other than natural resources, Brazil’s international competitiveness is weak. Domestic industry speaks loudly in demanding protectionism.
Brazil’s governments follow a tradition of focusing on the short term and neglecting structural reforms. All knowledgeable observers agree about the fundamental challenges. Yet a kind of paralysis keeps the Brazilian government from addressing the fundamental deficiencies of the country in infrastructure, innovation, and education. 

Obstacles to Development
There are many problems that inhibit the Brazilian economy from achieving steady economic growth. These problems go beyond short-term macroeconomic management. Brazil is a country notorious for its intricate web of irrational regulations, its complicated tax structure, its overly powerful judicial system, its vast bureaucratic inefficiencies, and corruption at all levels. These are nightmares for those doing business in Brazil. There has been a profound negligence of basic education, and widespread professional incompetence spreads throughout the whole society. The result is a low level of productivity, even by Latin American standards (see figure).
A lack of capital formation results from a low savings rate. Low productivity and innovation characterize Brazilian businesses. Private companies spend little on research and development. There is a huge governmental apparatus in place, which should promote scientific progress but works as a bureaucratic web and hampers more than it promotes innovation. Instead of doing away with these burdens, the Brazilian government prefers monetary stimuli, implements ad hoc interventionist measures, and leads a confusing public discourse about utopian plans and fantastic measures.
The deplorable macroeconomic condition of Brazil — with insufficient savings and a weak industrial base — comes with a rotten political system and Brazil’s heavy bureaucracy. Brazil’s public administration is a gigantic apparatus that holds down the country’s economy with a myriad of useless and senseless regulations and their foolish execution. Brazilian bureaucracy represents a major blockade to economic modernization. Brazil has one large macroeconomic bottleneck — lack of savings — and it has a large structural hole where the country’s energy evaporates in the form of over-regulation of its economy. 
The country’s leadership has never abandoned the corporatist development model of the 1930s. The result is that Brazil has a large but inefficient industrial sector ranging from vehicles and small airplanes to agricultural machinery and chemicals. Yet these industries are sleeping giants limited in flexibility and innovation because of a tight web of governmental regulations and direct interventions.

Paths to Prosperity
It is not enough for Brazil to consolidate its macroeconomic policy. To advance its economy, the country needs to take serious steps toward better governance. As of now, however, not only have the governments of the past been doing little to improve governance, but there also has been a lack of understanding about the urgency and importance of fundamental reforms. 
With more privatization and deregulation, huge investment opportunities would emerge on the horizon. The development of Brazil's gigantic agricultural potential has only just begun. Beyond that, there is the need for privatization and deregulation in infrastructure. Everything from ports and airports to the road system offers tremendous opportunities. With the help of foreign direct investment, Brazil’s metal-mechanical sector could be brought to a world-class level, as is also the case with the country’s food-processing, pharmaceuticals, and chemicals industries. All it would take for this to happen is to take some courageous steps toward de-bureaucratization; Brazil could emerge as the economic miracle of the 21st century.

State of the Economy
Brazil’s economic freedom score is 51.4 according to the index of the Heritage Foundation. With this score, Brazil ranks as the 153rd freest country in the 2018 index and falls into the category of “mostly unfree.” It ranks 27th among the 32 countries of its region, and its overall score is below the world average (see table).
The judiciary, although independent in a formal sense, is overburdened with lawsuits. Inconsistent and imprecise legislation makes judicial processes uncertain, protracted, and subject to special-interest influences. Corruption has become an integral part of political life. Only with the recent judicial actions and convictions of prominent politicians, the former President Lula da Silva among them, has a signal been sent to elected officials that bribery will no longer be tolerated.
Despite a high tax burden, the fiscal situation of the country has deteriorated. The budget deficit reached over 10 percent in 2015 and stands at 7.8 percent in 2018. From around 50 percent in 2010 and 2013, the ratio of public debt to gross domestic product climbed to 70 percent in 2016 and stands now at 74 percent. 
The personal income tax rate is 27.5 percent while the standard corporate rate is 15 percent, but specific transaction taxes lift the effective rate to 34 percent. The overall tax burden equals 32.0 percent of total domestic income. The effective tax burden is much harsher than the numbers suggest because of the complex and contradictory tax code. Many companies use the lack of simplicity to enter legal disputes, which then may last for decades. 
While salaries are low by international standards, the economy is burdened with a heavy load of non-salary labor costs, business-unfriendly labor laws, and a judiciary biased against private enterprise and in the hands of the trade unions. 
The low labor productivity is only in part the result of the low quality of the labor force. The bureaucracy, the poor infrastructure, rigid labor laws, many non-tariff trade barriers, the complex tax code, and a plethora of diffuse regulatory requirements stifle economic efficiency. 

Conclusion 
In order to put the Brazilian economy back on track, economic policy must move forward with key reforms. The Brazilian government should recognize that the country must improve its infrastructure and its system of education. It is high time to deregulate the labor market and to cut red tape. The country must end the horrendous privileges and absurd salaries in the public sector and in the judiciary. Brazil must adapt its pension system to the conditions of the future, as Brazil faces an aging population. 
To improve its position in the world economy, it is not enough for Brazil to consolidate its macroeconomic policy. Brazil needs to take serious steps toward better governance. The governments of the past have done little to improve the workings of the political system. There has been a lack of understanding about the urgency and the importance of fundamental reforms. Future governments must end this negligence. 
The next government has much to accomplish. Yet it is not impossible. Most of the reforms do not require new laws, new institutions, and much higher spending. On the contrary: what must be done is to cut many of the superfluous items of public expenditure, eliminate the many harmful regulations, and scale down the bureaucracy. Improving the infrastructure does not require new massive spending, but a better administration, effective cost control, and ending corruption. 

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O Antagonista resume o momento atual: politico e eleitoral


E aproveita para tentar vender seu novo produto, a revista digital Crusoé.
Recolho da matéria apenas a parte expositiva, sobre a situação do Brasil, e deixo de transcrever toda a sua publicidade em prol da nova revista (da qual já sou assinante, e recomendo).
Paulo Roberto de Almeida 

Bolsonaro enfrentará fortes turbulências, e o país juntamente com ele. Você precisa estar preparado
Caro leitor,
Bolsonaro está muito perto da Presidência.
Muito perto de derrotar o petismo e seu projeto de poder.
Eleito, ele enfrentará fortes turbulências, e o país juntamente com ele, prevê Mario Sabino, na Crusoé.
Por causa do estilo de paraquedista que salta atirando do capitão do Exército.
Porque ele é declaradamente de direita, fato inadmissível para tanta gente bonita e democrática que acha que o “anti-humano” deve ser “varrido da face da Terra”.
Para lidar com a turbulência, Sabino apresenta uma série de recomendações ao virtual presidente eleito.
É coisa séria.

Eleito, Bolsonaro deveria, entre outras recomendações:
   dizer já na comemoração da vitória que será o presidente de todos os brasileiros
   vigiar os filhos Eduardo, Flávio e Carlos
   colocar mulheres no ministério
   deixar 1964 no passado
   empenhar-se para diminuir drasticamente a criminalidade já no primeiro ano de governo

O seu futuro pessoal e o do Brasil como nação dependem fortemente da capacidade de Bolsonaro de lidar com essa turbulência e liderar a mudança no país.
Afinal, a partir de agora, só resta ao Brasil um dos seguintes caminhos:
1— Ou o país retoma as rédeas do crescimento, com a aprovação das reformas estruturais necessárias para resgatar a economia do limbo;
2— Ou retrocede à antiga matriz populista, responsável pelas atuais mazelas como desemprego, inflação, falência da indústria e total desajuste nas contas públicas.
Mas, apesar da importância histórica destas eleições, a imprensa não está falando toda a verdade para você.
Não espere para ser pego de surpresa.
Pense que diferença faria se todos estivessem vigilantes há exatos quatro anos.
Às vésperas da reeleição de Dilma Rousseff, em outubro de 2014, as verdadeiras intenções da ex-presidente não eram plenamente conhecidas.
E o resultado foi catastrófico:

O que Dilma prometeu em out/2014
Baixar a conta de luz
Retomada do crescimento
Controlar a inflação
Não elevar juros
Geração de emprego

Impacto na economia até o impeachment
Apagão e tarifaço
O PIB despencou e chegou a 3,85% negativos
A inflação saltou de 6,40% para 10,67%
A Selic chegou a 14,25%
A taxa de desemprego cresceu 90%

Economia não admite experiências de laboratório. Erros cobram seu preço e as consequências podem se estender por gerações.

InfoMoney — outubro 2016

Depois será tarde para você se dar conta que não conhecia toda a verdade.


 (...)

Mensagem de solidariedade e de conforto - Paulo Roberto de Almeida

Mensagem de solidariedade aos vencidos

Paulo Roberto de Almeida

Nas vésperas do segundo turno eleitoral, venho apresentar, preventivamente, minhas sinceras expressões de solidariedade e de condolências (se o termo se aplica) aos que saem frustrados deste mais recente embate político em nosso país, certamente o mais polarizado, o mais aguerrido e o que mais trouxe animosidade e mesmo cizania na sociedade.
O ideal seria que o presidente eleito fizesse um apelo à acalmia dos ardores políticos, chamasse seus próprios eleitores, e os do seu adversário à razão, e conclamasse todos ao imenso trabalho de soerguimento da nação, ainda nos esforços de recuperação da maior crise econômica jamais vista no Brasil.
Aos eleitores de Bolsonaro, se ele for eleito, não creio que se tenha de fazer qualquer recomendação especial, pois a imensa maioria está muito distante daqueles conceitos abusivamente empregados durante semanas a fio pela campanha opositora — fascismo, nazismo, homofobia, racismo, elitismo, antiambientalismo, misoginia, etc. —, uma vez que a principal motivação era apenas afastar a volta do PT ao poder, e quase todos se sentirão recompensados na noite de domingo. Os poucos que exibirem qualquer um dos traços estereotipados acima, deverão ser isolados e contidos.
Aos eleitores de Haddad, que aparentemente vai perder, cabe mais exatamente esta mensagem de solidariedade, pois eles se sentirão frustrados, raivosos e talvez até exibam sentimentos vingativos.
Se ouso consolá-los, eu diria que eles tiram, dessa derrota, pelo menos uma vantagem: terão uma poupança extra, mesmo indireta, uma vez que deixarão de ser roubados, como todos nós fomos nos treze anos e meios de cleptocracia petralha, e também porque o Estado deixará de extrair menos recursos para aplicação em políticas totalmente equivocadas, como foi o caso durante a gestão inepta e corrupta do regime companheiro. 
Ufa! Já é uma enorme vantagem saber que não continuaremos a ser indevidamente extorquido por um Estado obeso e ineficiente, um ogro famélico que contribui, justamente, para a concentração de renda em favor dos mais ricos, como tem sido a marca das políticas públicas sob os governos desastrosos da organização criminosa travestida de partido político que tomou o poder de assalto no Brasil, entre 2003 e 2016.
Com estas palavras, encerro minha mensagem de congratulações aos vencedores, quaisquer que eles sejam, e de sincera solidariedade aos vencidos.
Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 27/10/2018

Matias Spektor: pressões externas contra Bolsonaro (FSP)

Matias Spektor
Descrição de chapéu Eleições 2018

Pressão externa contra Bolsonaro será pequena no início do governo

Caso candidato do PSL seja eleito, suas decisões não enfrentarão oposição cerrada


Folha de S. Paulo, 25.out.2018 às 2h00 

Se eleito, Jair Bolsonaro encontrará um ambiente internacional permissivo a sua agenda de governo. Os ventos do mundo lhe são favoráveis.
Suas decisões não enfrentarão oposição cerrada de nenhum país ou organismo internacional com influência imediata sobre o Brasil.
Comecemos pelos Estados Unidos: embora seja impossível prever quão fluida será a relação interpessoal de Bolsonaro com Trump, o próximo governo brasileiro gozará, ao menos no início, da anuência tácita de Washington.
Mesmo que a lua de mel com o mercado financeiro dure pouco, o tom oficial na capital americana se parecerá mais ao último editorial positivo do jornal The Wall Street Journal que ao negativo do diário The New York Times.
Na Argentina, Mauricio Macri não poderá alardear intimidade com Bolsonaro (o sistema político argentino não tolera o radicalismo do capitão).
Mas Macri, enfraquecido, tampouco pode se dar ao luxo de provocar o Brasil. Se Bolsonaro chegar propondo uma parceria na segurança das fronteiras, tema caro à Casa Rosada, o governo em Buenos Aires tende a engolir a seco as diferenças e a seguir o Planalto a reboque.
 China, por sua vez, é o país que mais tem a perder se Bolsonaro implementar suas promessas de campanha. Nada indica, no entanto, que Pequim vá correr para as trincheiras. Antes, trabalhará nos bastidores para diminuir arestas e encontrar convergências.
Muito menos se ouvirão críticas de Vladimir Putin (Rússia) ou Narendra Modi (Índia). A empatia dos governantes dos Brics com Bolsonaro já está contratada: assim como ocorre com o capitão, eles são alvo da imprensa internacional e da opinião de intelectuais.
oposição externa a Bolsonaro virá, no primeiro momento, de movimentos sociais transnacionais, organizações não-governamentais e imprensa. A comunidade de cientistas na área de mudança do clima também tende a vocalizar suas críticas.
Esses atores buscarão influenciar governos estrangeiros, parlamentares e organismos internacionais mundo afora.
Burocracias de instituições tais como Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio, Nações Unidas e União Europeia são candidatas naturais a ecoar argumentos críticos em relação a uma administração Bolsonaro. Governos de países como França, México e Canadá tendem a ser particularmente sensíveis a isso.
A pressão externa, portanto, será fraca no início. A implicação prática é que, ao menos em 2019, os contrapesos necessários para manter o prumo democrático terão de vir aqui de dentro. O resto do mundo será passivo no primeiro momento.
O impossível de prever agora é durante quanto tempo.


E o PT criou Bolsonaro - Rudolfo Lago e Wilson Lima (IstoE)

Revista ISTO É

E o PT criou Bolsonaro

O recado da sociedade é inequívoco: em busca do novo, tentando enterrar a política do compadrio, da corrupção e da mentira disseminada pelo lulopetismo, o País está prestes a eleger como presidente Jair Bolsonaro, antagonista que o próprio Lula gerou

26/10/18 - 09h00
Ilustração: SattuFoi durante um pesadelo que a escritora inglesa Mary Shelley buscou a inspiração para, aos 19 anos, escrever a obra prima da literatura de horror. No livro, o médico Viktor Frankenstein ousa brincar de Deus recriando a vida a partir de uma criatura que constroi a partir de partes de corpos humanos. Logo, porém, o médico percebe que o ser que julgava ter criado era na verdade uma criatura que, logo no primeiro momento após a vida, se voltaria contra seu criador. Há um parentesco óbvio entre a obra de Mary Shelley e o desenlace da disputa presidencial. Em boa parte, foi o PT quem engrossou o caldo de cultura responsável pela provável eleição de Jair Bolsonaro, candidato do PSL. O ex-presidente Lula, que já se comparou a Jesus Cristo, fez de tudo para transformar o pleito numa eleição polarizada. Acabou gerando sua própria antítese, que se revelou nas urnas um líder de massas, como ele. Inicialmente, Lula imaginava que o eleitorado brasileiro iria ungí-lo novamente. Sabendo que não poderia ser candidato, com base na Lei da Ficha Limpa, sancionada por ele mesmo quando presidente, considerou que conseguiria transferir sua popularidade para um preposto, como fez com Dilma Rousseff em 2010. Posaria de vítima, reafirmando que sua prisão era política. Ao final, apostava que essa narrativa seria consagrada nas urnas. Era a eleição plebiscitária com que sonhava. Ao contrário da Justiça, que o condenava, as urnas, acreditava, o absolveria. De roldão, viriam juntos absolvidos todos os demais petistas condenados e denunciados.


Ricardo Moraes/Reuters; Fabio Rodrigues-Pozzebom/Ag. Brasil; Geraldo Bubniak/agb; Juca Rodrigues/Framephoto; Jorge Araújo/Folhapress; Ricardo Stuckert; VANESSA CARVALHO/BRAZIL PHOTO PRESS; AFP PHOTO/Raysa Leite; Reprodução

Armadilha
À medida em que avançava nesse projeto, o PT e Lula radicalizavam o discurso e a postura de vítimas. Afrontavam a Justiça e outras instituições na conformação da sua narrativa. Iam, assim, juntando as peças do seu Frankenstein político. Quando o Frankenstein acordou, revelou-se algo bem mais virulento do que previam. Como reação à radicalização do discurso petista, surgiu em contraposição Jair Bolsonaro, do PSL, um candidato radical, de discurso por vezes perigoso, mas que parece encarnar aos olhos do eleitor justamente a contraface do que, para ele, o PT representa. “Bolsonaro é uma armadilha que o PT inicialmente não previa”, considera o analista político Leopoldo Vieira, da empresa de consultoria IdealPolitik.
O que torna complicada a situação para o PT é que boa parte do eleitorado de Bolsonaro declara saber dos riscos que ele representa. Mas fez a escolha por rejeição ao PT. O efeito teflon migrou de Lula para Bolsonaro. Para o analista político, um dado importante desse fato incontestável é que alguns dos defeitos que o PT aponta em Bolsonaro, o próprio eleitor de Bolsonaro enxerga no PT. Se o aspirante do PSL ao Planalto, agora, é acusado de ter criado uma ampla rede na internet para propagar fake news, antes era o PT quem montava uma estrutura de disseminação de notícias e perfis falsos. Se Bolsonaro às vezes demonstra ter pendores antidemocráticos, expostos por diversas declarações suas e de seus filhos, Eduardo e Flávio, o PT foi além: financiou governos que em nada respeitavam os princípios básicos da democracia, como Cuba e Venezuela. Se o candidato do PSL provoca sobressaltos, capazes de pôr em vigília instituições como o Supremo Tribunal Federal, o PT assustava ao ameaçar levar a cabo atitudes revanchistas caso vencesse as eleições – consubstanciadas na frase do ex-ministro José Dirceu, para quem o partido não iria vencer a disputa, mas “tomar o poder”.
Embriagado pela ideia de reescrever a história e redimir Lula, o PT, portanto, não enxergou os sinais de que a história de radicalização que vinha construindo tinha grande chance de refluir para o nascimento de um contraponto igualmente radical. Atônitos para o que antes do domingo 28 parece já ser uma derrota inevitável, hoje integrantes do partido e de seus aliados, como PDT e PSB, admitem que deveriam ter prestado mais atenção ao que começou a transparecer no país a partir dos protestos de 2013, durante a Copa das Confederações. “A gente pareceu esquecer que tudo começou como reação a aumentos de passagens de ônibus, trem e metrô na gestão do próprio Haddad na Prefeitura de São Paulo”, observa agora um parlamentar do PT.
Em algum momento da trilha para o fracasso nas urnas, Lula tentou promover uma espécie de evangelização de seus aliados e correligionários. Foi quando comparou-se a Cristo. “Jesus Cristo foi condenado à morte sem dizer uma palavra, recém-nascido. E, se o José não corre, ele tinha sido morto. E olhe que não tinha empreiteira naquele tempo, não tinha Lava Jato”, disse. Às vésperas de ser preso, o petista autoproclamou-se uma “ideia”. “Eu não sou mais um ser humano, eu sou uma ideia misturada com as ideias de vocês”, proclamou. “Minhas ideias já estão no ar e ninguém poderá encerrar. Vocês são milhões de Lulas”. No seu entender, ele havia ascendido à dimensão divina. Agora ele encontra no extremo oposto e “com a mão na faixa presidencial”, o antagonista gestado por ele próprio – embora nem Bolsonaro seja capaz de encarnar o “mito”, alardeado pelo seu séquito, nem Lula possa arvorar-se de ente divino, como querem crer os fanáticos petistas.
Dentro do próprio PT, integrantes da sigla admitem que o antipetismo chegou a um nível tão grande que dificilmente ele será dissipado nas próximas eleições. A grande questão é que esse antipetismo foi fomentado, justamente, por ações do próprio partido. A autocrítica cobrada por muitos, Fernando Haddad só começou a fazer, de forma tímida, na reta final da campanha eleitoral. Para um integrante da Executiva Nacional do PT, um grande equívoco agora seria o partido desistir de aprofundar essa revisão dos seus erros. Ainda que, no que parece hoje improvável, o PT venha a virar as eleições, a autocrítica precisará ser feita. E, no caso mais provável de derrota, será essencial para que o partido não acabe minguando nos próximos anos. Hoje, parte do PT ressente-se de não ter feito o que o ex-ministro Tarso Genro propôs quando presidia o partido logo após o escândalo do mensalão, uma revisão profunda, que chamava de “refundação”. “Éramos para ter cortado na própria carne enquanto havia tempo”, diz o petista.
Ao contrário, o PT não apenas renegou seus erros como passou a atacar todos aqueles que os explicitavam. A começar pela imprensa, passando pelo juiz Sérgio Moro, condutor da Operação Lava Jato, por todos os juízes em todas as instâncias, até chegar ao próprio Supremo Tribunal Federal (STF), e alguns de seus integrantes, como o ex-ministro Joaquim Barbosa, relator do mensalão. Para tanto, valeu-se de uma ampla rede de blogueiros e influenciadores digitais. No esforço para estabelecer uma narrativa distorcida da realidade, o PT acabou criando em contraposição outra realidade igualmente distorcida. Assim, a racionalidade foi ficando de lado e as paixões afloraram.
Outro sinal que hoje os petistas admitem ter ignorado foi a reeleição de Dilma Rousseff em 2014. Estava clara ali uma profunda divisão do país, a partir da constatação de que Dilma vencia o pleito com somente pouco mais da metade dos votos. Deveria ter sido feito, avaliam petistas hoje, um aceno de conciliação. Não foi feito. Nem cogitado. Dilma passou a campanha incutindo nas pessoas o temor de que perderiam suas conquistas sociais caso não fosse reeleita. E de que ela era a única alternativa para evitar a recessão e a crise. Mais uma mentira deslavada propagada pelo PT. Tão logo tomou posse, Dilma passou a fazer exatamente o que dizia que seus adversários fariam. Ali apareceu uma figura que, dizem, hoje Bolsonaro explora: a do petista arrependido. “Quando tentamos rever posições, ele cola na gente a ideia do petista arrependido”,diz um integrante do partido. Ou seja: estabelece uma falta de firmeza e de convicção, em vez de um reconhecimento de erro.
No processo de impeachment de Dilma, já parecia claro, pela falta de reação mais forte das ruas, que a narrativa do golpe não ganhava eco na sociedade. Foi outro sinal ignorado. Com efeito contrário, a manutenção de tal discurso reforçou o antipetismo. Na prisão de Lula, a intensidade só aumentou. Finalmente, o erro fatal: a manutenção da candidatura de Lula pelo máximo de tempo possível quando já se sabia da sua impossibilidade legal. A visão colhida até mesmo de petistas é que, ao insistir em uma candidatura que todos sabiam insustentável, Haddad ficou sem tempo de construir a sua própria identidade. Quando entrou, não era como um candidato próprio à eleição. Era como um reserva de Lula. “Lula é Haddad”, dizia o slogan da campanha. “Com o arrefecimento do antipetismo, Haddad herdou mais a rejeição de Lula do que os seus votos”, observa o analista Leopoldo Vieira. Como disse Ciro Gomes, do PDT, era dançar “uma valsa à beira do abismo”. Às vésperas do segundo turno, o PT exibe o que chama de “face perigosa” de Bolsonaro. A essa altura, o eleitor parece decidido. Prefere correr o risco com Bolsonaro, do que endossar a volta do PT ao poder, cujas práticas ele conhece bem e quer ver extirpadas do País.
STF sob ataques
“Eu já adverti o garoto”, disse Bolsonaro

Numa reação orquestrada, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) foram duros. Entenderam que precisavam se impor como instituição e deixar claro os limites democráticos de um presidente, por maior que seja sua popularidade. O vídeo que começou a circular no fim de semana, em que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, fala que bastam “um cabo e um soldado” para fechar o STF chocou os ministros. “Eu já adverti o garoto”, desculpou-se Bolsonaro.
Em julho, durante uma palestra para estudantes, Eduardo Bolsonaro foi perguntado sobre o que aconteceria se o STF impugnasse a candidatura de seu pai. “Aí vai ter que pagar pra ver. Pessoal até brinca lá, cara, se quiser fechar o STF sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe, manda um soldado e um cabo”, disse Eduardo. Diversos ministros reagiram. Para o ministro Celso de Mello, a fala foi “inconsequente e golpista”. Para o presidente do STF, Dias Toffoli, “atacar o Judiciário é atacar a democracia”.
As reações mostram uma ação combinada de defesa da ordem institucional. Mas não foi a primeira vez que o STF foi atacado. Como reação à prisão de Lula, petistas também falaram em “fechar” o Supremo. Defendiam diminuir a importância da Suprema Corte. “Temos que redesenhar o papel do Poder Judiciário. Temos que fechar o STF. Fazê-lo virar corte constitucional”, disse o deputado Wadih Damous (PT-RJ). Em entrevista a um portal do Piauí, o ex-ministro José Dirceu foi na mesma linha. “É preciso tirar poderes do STF para ser só corte constitucional”, disse. “Nossa Constituição estabeleceu três poderes, mas só existem dois, que são eleitos: o Legislativo e o Executivo”. Afrontar as instituições, bem como ameaçar a imprensa, é moda perigosa e precisa ser duramente combatida.
A criatura
ADEMIR PHOTOGRAFO/FUTURA PRESSDe escândalo em escândalo, o chamado “quadrilhão do PT” – termo usado pelo STF para investigar os petistas que comandaram o maior esquema de corrupção já desvendado no Brasil – acabou sendo responsável pelo empoderamento dos grupos que orbitavam em torno de Bolsonaro, como a bancada evangélica (que clamava contra a crise nos costumes), a bancada de bala (inconformada com a onda de violência) e a bancada ruralista (insatisfeita com o crescente desprestígio do agronegócio). Foi o rio caudaloso onde desaguou o capitão reformado