O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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segunda-feira, 6 de maio de 2019

Maquiavel: nascimento de um genio da politica

Mais um registro atrasado, mas esse eu não poderia deixar de fazer: o nascimento, em 3 de maio de 1469, ou seja, 550 anos atrás, de um dos mais argutos pensadores da ciência política.
Permito-me, a esse propósito, registrar que reescrevi sua obra magna, com uma visão contemporânea dos mesmos problemas:
O Moderno Príncipe (Maquiavel revisitado), versão impressa: edições do Senado Federal volume 147: Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2010, 195 p.; ISBN: 978-85-7018-343-9; disponível: http://www.senado.gov.br/publicacoes/conselho/asp/publicacao.asp?COD_PUBLICACAO=1209). 

Paulo Roberto de Almeida

Nasce Nicolau Maquiavel

No dia 3 de maio de 1469, nasce Nicolau Maquiavel, pensador político italiano autor de 'O Príncipe'  (leia mais)



Nasce Nicolau Maquiavel

Nasce Nicolau Maquiavel
Maquiavel começou sua carreira política no governo da república de Florença (Foto: Wikimedia)
O termo ‘maquiavélico’ é ligado a pessoas inescrupulosas que fazem de tudo para alcançar seus objetivos. A palavra é referência ao nome de Nicolau Maquiavel, um político e estudioso italiano que nasceu no dia 3 de maio de 1469.
A mais famosa obra de Maquiavel foi “O Príncipe” e foi por ela que nasceu o adjetivo. Em seu texto, Maquiavel inovou no estudo político ao tratar a ética como um item separado, abandonando a antiga concepção de política.
Nascido em Florença em uma família decadente e antiga da Itália, Maquiavel recebeu educação clássica. Seu primeiro trabalho com política foi no governo da República de Florença. Fez visitas diplomáticas à França e à Alemanha.
Foi exilado de seu país em 1513, quando a família Médici retornou ao poder. Nos oito anos que se seguiram, praticamente concluiu a sua mais famosa obra, publicada apenas 19 anos depois.
Voltou a Florença em 1520, quando conseguiu resolver suas diferenças com Lourenço de Médici, tornando-se historiador oficial da cidade-estado. Desenvolveu outras obras literárias e teatrais que não se relacionavam com seu pensamento político. Maquiavel morreu no dia 21 de junho de 1527.

Alexander Humboldt: o renascentista universal do seculo XIX (FSP)

Para os interessados numa excelente biografia de Humboldt, recomendo Andrea Wulf: A Invenção da Natureza. Existe edição brasileira, muito bem traduzida.
The Invention of Nature: The Adventures of Alexander von Humboldt, the Lost Hero of Science: Costa & Royal Society Prize Winner (English Edition) por [Wulf, Andrea]
Paulo Roberto de Almeida

Esquecido, Humboldt inspirou cientistas e inventou a ecologia

Nascimento do explorador que foi referência de Darwin completa 250 anos

(São Carlos) – Ele foi “o maior e mais formidável de todos os homens desde o Dilúvio”, declarou o rei da Prússia, Frederico Guilherme 4º, a quem serviu durante décadas. Quando as notícias de sua morte cruzaram o Atlântico e chegaram aos EUA, jornais do país declararam que o século 19 tinha sido “a era de Humboldt”. Por que diabos, então, quase ninguém mais recorda a carreira extraordinária do naturalista Alexander von Humboldt (1769-1859)?
Talvez porque, 250 anos após o nascimento do pesquisador, a maneira peculiar que Humboldt tinha de imaginar o mundo natural tenha se tornado uma espécie de senso comum científico, difundindo-se por muitas disciplinas.
Se muita gente hoje enxerga instintivamente a Terra como um sistema dinâmicode conexões entre atmosfera, águas, rochas e biodiversidade, isso se deve, em larga medida, ao incansável viajante nascido nas vizinhanças de Berlim.
Por outro lado, os “filhos” intelectuais de Humboldt absorveram e ampliaram de tal modo o legado de seu “pai” científico que acabaram por eclipsá-lo. O exemplo mais famoso dessa vasta descendência de naturalistas é Charles Darwin (1809-1882) —até seu estilo de escrita foi inspirado no do alemão.
Apesar de ter sido aclamado pelo público ainda na juventude, Humboldt precisou bancar o rebelde —e dependeu também de uma mistura de tragédias familiares e sorte— para iniciar sua carreira de explorador global. Membro da nobreza prussiana, ele estava destinado a uma carreira no serviço público do reino, então o Estado dominante entre as diferentes nações de língua alemã da Europa.
Quem o empurrava para essa vida de burocrata era principalmente sua mãe, Maria Elisabeth, uma figura fria e distante que se encarregara da educação dos filhos após a morte do marido, Alexander Georg.
Ele estava tentando saciar sua paixão precoce pela geologia trabalhando como inspetor de mineração quando, em 1796, Maria Elisabeth morreu, deixando para Alexander e para seu único irmão, Wilhelm, uma herança considerável. Enquanto Wilhelm seguiu a carreira de diplomata, Alexander se pôs a gastar o patrimônio da família com planos grandiosos de uma expedição aos trópicos.
Encontrar o destino certo deu algum trabalho —era o momento das Guerras Napoleônicas, um dos primeiros conflitos globais da história—, mas Humboldt enfim conseguiu permissão do governo espanhol para visitar suas colônias sul-americanas, desembarcando na Venezuela em julho de 1799.
Era o começo de jornadas que o transformariam no primeiro explorador-celebridade da Amazônia (infelizmente, sem chegar ao que acabaria sendo o lado brasileiro da floresta) e dos Andes, e que o conduziriam ainda a todas as demais regiões das Américas e até à Sibéria ao longo das décadas.
Infatigáveis, Humboldt e seu colaborador francês Aimé Bonpland coletavam espécimes da flora e da fauna, conversavam com colonos e indígenas, mediam obsessivamente a pressão atmosférica e outros parâmetros ambientais, analisavam rochas e o solo, coletavam manuscritos pré-colombianos. Numa época em que as fronteiras entre as diferentes disciplinas científicas estavam começando a se solidificar, o aventureiro prussiano desejava produzir uma síntese de todos os conhecimentos humanos sobre a Terra e o Universo.
Foi dessa ambição que surgiu o conceito de “Naturgemälde” (algo como “pintura da natureza”), retratado pela primeira vez num dos desenhos do vulcão Chimborazo, no atual Equador, que Humboldt chegou perto de escalar até o topo.
Pela primeira vez alguém mostrava com clareza como cada faixa de altitude em regiões montanhosas é um microcosmo de climas e biodiversidade, que pode ir da floresta equatorial ao polar em poucos milhares de metros de subida.
Do microscomo da “Naturgemälde”, Humboldt acabou partindo para o Cosmos como um todo —aliás, “Kosmos”, título dado à sua obra magna, publicada nos seus anos de velhice em quatro volumes (mais um quinto póstumo). O subtítulo diz tudo: “Um rascunho de uma descrição física do Universo”.
Não é por acaso que o maior divulgador científico do século 20, o astrônomo americano Carl Sagan (1934-1996), tenha tomado de empréstimo o título “Cosmos” para sua série de TV. Na obra original e em suas outras publicações, Humboldt tinha o cuidado de adotar uma linguagem viva, evocativa e poética, que conquistou admiradores como Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), o maior nome da literatura alemã da época, e virou best-seller entre o público em geral.
Darwin chegou a ser ridicularizado pela irmã por adotar as “descrições floreadas e afrancesadas de Humboldt” nos relatos sobre sua viagem científica pelo mundo a bordo do navio Beagle, nos anos 1830. A narrativa da viagem de Darwin, aliás, chegou às mãos do sábio alemão, que a comentou ponto por ponto numa carta elogiosa ao então jovem britânico.
As origens aristocráticas, ademais, não impediram o naturalista de se tornar um defensor ferrenho dos ideais da Revolução Francesa. Suas longas conversas com Simón Bolívar inflamaram ainda mais o desejo que o sul-americano tinha de buscar a independência da Coroa espanhola.
Entusiasta da nascente experiência democrática dos EUA, Humboldt não se furtava a criticar o sistema escravista e a perseguição aos indígenas em solo americano. Para ele, a harmonia da “Naturgemälde” também tinha uma dimensão política

Da Amazônia a Napoleão, as aventuras de Humboldt

Explorador incansável, alemão virou ídolo de outros cientistas
As Descobertas
Humboldt pode ser considerado o criador da ciência da ecologia antes mesmo que o termo fosse cunhado, desvendando as interações entre o meio físico e os seres vivos, como a que existe entre o clima e a biodiversidade
Conceito das zonas climáticas e de vegetação na Terra, cunhado por ele:
Relação entre zonas de vegetação e altitude no vulcão Chimborazo, nos Andes:
(Quase) Todo Mundo Ama o Alex
Naturalista inspirou maiores pesquisadores e políticos do século 19
Thomas Jefferson (1743-1826)
Além de ajudar a fundar os EUA e se tornar presidente do jovem país, Jefferson tinha interesse insaciável por todas as ciências e passou semanas discutindo o tema com Humboldt em Washington 
Simón Bolívar (1783-1830)
Ainda um jovem galanteador nascido nas colônias espanholas da América do Sul, ele conheceu Humboldt em Paris e debateu com ele os ideais de liberdade da Revolução Francesa antes de se tornar revolucionário 
Napoleão Bonaparte (1769-1821)
O imperador da França teve um ataque de ciumeira diante da atenção que Humboldt recebia do público parisiense —em parte porque os livros do prussiano competiam com a obra que ele escrevera sobre sua invasão do Egito
Charles Darwin (1809-1882)
O pai da teoria da evolução resolveu se tornar naturalista, em grande parte, por causa da admiração que tinha por Humboldt. Ficou decepcionado porque o alemão falava demais e ele não conseguiu conversar direito com ele quando se encontraram em Londres 

Por que o Brasil nao consegue se reformar? - Marcos Mendes

Como a França, mas com uma renda per capita cinco vezes menor, e uma escola pública cinco vezes pior, o Brasil é um país dificilmente “reformável”. Enxames de políticos, alcateias de corporações, xusmas de capitalistas promíscuos, maltas de prebendalistas e rentistas em todas as partes disputam o privilégio questionável de extorquir os únicos agentes econômicos produtivos que existem: empresas comuns, sem vínculos no governo, diretamente ou via associações setoriais (que costumam ser sindicatos de ladrões) e os trabalhadores do setor privado, simples contribuintes compulsórios de um Estado voraz, transformado em ogro famélico, em sanguessuga eterno dos verdadeiros criadores de riqueza na nação.
Paulo Roberto de Almeida

Por que é tão difícil fazer reformas no Brasil?

País tem características que dificultam mudanças

Para voltar a crescer e diminuir a desigualdade de renda, o Brasil precisa fazer um conjunto amplo de reformas. Previdência, tributos, mercado de crédito, ambiente de negócios, segurança jurídica, abertura comercial, privatização, políticas sociais e educação. 
Não é fácil fazer reformas em nenhum lugar do mundo. Reformar significa tirar privilégios de alguns grupos, que obviamente resistem. Os custos são concentrados em poucos, e os benefícios são difusos. Os prejudicados se organizam e resistem, enquanto os beneficiários muitas vezes nem sequer sabem que estão ganhando com aquela medida. 
Reformas também provocam incerteza: ainda que todos saibam que o país ficará melhor no futuro, cada indivíduo enfrenta a incerteza de qual será a sua situação particular após a reforma. Afinal, empregos menos eficientes tendem a ser destruídos e outros são criados, requerendo novas habilidades. Muitas pessoas temem não se adaptar à nova realidade, em especial os mais velhos.
Os resultados das reformas também demoram a aparecer. No Chile, por exemplo, em 1985, dez anos após o início das reformas, a renda per capita ainda era a mesma de 1969. Somente nos anos 1990 a renda começou a subir de forma consistente. 
Na Nova Zelândia, uma reforma radical, que transformou o país em uma das sociedades mais prósperas do mundo, gerou, inicialmente, uma taxa de desemprego de 14%, que só voltou ao padrão pré-reforma depois de dez anos. 
O calendário das eleições é mais curto que o prazo para o efeito das reformas. O próximo pleito acontece antes de as reformas elevarem a popularidade do governante reformista. 
Apesar dessas dificuldades, ao longo dos últimos 50 anos, muitos países fizeram reformas abrangentes. Estudando essas experiências, podemos observar características desses países que ajudaram a quebrar resistências. Infelizmente, o Brasil não possui nenhuma dessas características "facilitadoras" de reformas.
Em primeiro lugar, é mais fácil reformar economias de países pequenos. Estes não têm mercado interno significativo e precisam se abrir para o mundo. Com economia aberta, são mais vulneráveis a oscilações da economia internacional e, por isso, precisam manter a macroeconomia saudável. Para atrair capitais externos, precisam de uma Justiça rápida e segura. 
Além disso, têm uma elite menos numerosa, o que diminui o custo de transação para realizar acordos. Também têm governo unitário, não sofrendo os conflitos e bloqueios gerados nos sistemas federativos. Singapura, Malta, Hong Kong, Estônia, Nova Zelândia e Irlanda seriam exemplos nesse grupo. 
O Brasil, grande, fechado e com uma Federação conflituosa, está longe desse perfil.
Outra característica importante está na transição de ditaduras para democracias. Países que fizeram reformas econômicas antes da abertura política geraram uma economia dinâmica, capaz de elevar a renda, ampliar a classe média, criar ambiente de mercado estável e consolidar o liberalismo econômico, conduzindo a mais investimentos e crescimento. Com o tempo, a melhoria das condições de vida induz a transição para regime democrático, como ocorreu na Coreia do Sul, no Chile, na Malásia e na Indonésia, por exemplo. 
Por outro lado, redemocratizar antes de reformar a economia pode levar ao populismo e a mecanismos de apropriação de renda por grupos de interesse. 
Em uma economia fechada e estatizada, há grande espaço para a inscrição de privilégios e políticas inconsistentes na legislação. Esse parece ter sido o caso de Brasil, Argentina e Filipinas. Fazer reformas nesses países é muito mais difícil agora, pois significa desmontar benefícios a grupos organizados, cristalizados na Constituição e nas leis. 
Também facilitam as reformas os sistemas político-eleitorais que induzem a geração de maioria no Legislativo, dando maior governabilidade ao Poder Executivo. 
No Reino Unido, por exemplo, as eleições para o Parlamento seguem o modelo distrital, com voto majoritário, que induz a disputa entre dois grandes partidos, com o vencedor quase sempre sendo majoritário no Legislativo e, portanto, capaz de aprovar reformas sem precisar contar com o apoio de outros partidos.
Além disso, é mais fácil fazer reformas em Parlamentos unicamerais, onde uma medida não precisa passar pelo referendo de Câmara e Senado. Também facilita o fato de cada um dos três Poderes ter claramente delimitado o seu raio de ação, não havendo espaço para o Judiciário interferir em decisões do Legislativo.
Mais uma vez o Brasil não tem tais características. Nosso sistema eleitoral gera grande fragmentação partidária no Parlamento, temos sistema bicameral e frequente judicialização das decisões legislativas e das políticas públicas. 
A literatura também mostra que sociedades mais coesas são mais capazes de gerar os acordos sociais necessários para realizar reformas. Essas são sociedades em que a classe média tem uma parcela grande da renda (e, portanto, a desigualdade geral é baixa) e na qual há baixo grau de violência. 
Em geral, são sociedades em que as pessoas têm padrões de vida similares, não temem agressões físicas ou aos seus direitos. Por isso têm maior confiança umas nas outras e nas instituições públicas.
Confiança é essencial para o sucesso de reformas. Afinal, estas ​nada mais são que um acordo em que todos fazem sacrifícios no curto prazo com vistas a ter um futuro melhor. Se há baixa coesão e desconfiança, cada grupo de interesse tentará empurrar os custos da reforma para o outro, e a negociação emperra ou a reforma tem seus custos colocados nas costas dos mais fracos.
A figura acima mostra que o grau de coesão social no Brasil é extremamente baixo. No eixo horizontal, temos a participação da classe média na renda (percentual da renda total que vai para os 60% dos indivíduos no centro da distribuição de renda). Somente África do Sul, Namíbia, Zimbábue, Moçambique e Guiné-Bissau têm classe média "mais magra" que a brasileira, ficando mais à esquerda no gráfico.
No eixo vertical temos um índice de violência e confiança mútua. Nesse quesito, o Brasil só supera Camarões e Costa do Marfim. E fica um pouco abaixo de Quênia, El Salvador e Libéria.
A localização do país na parte inferior esquerda do gráfico é uma imagem clara da nossa baixa coesão social. Somos inequivocamente um país desigual, violento, em que as pessoas não confiam umas nas outras. No canto superior direito do gráfico estão os países mais coesos. 
A importância da coesão social como fator de estabilidade tem ficado clara nos recentes episódios de radicalização política vividos em diversos países. O encolhimento da participação da classe média na renda tem gerado desconforto com a representação política tradicional, e novos partidos extremistas têm ganhado espaço em vários países. Há crescente fragmentação partidária, levando a governos minoritários, como na Espanha e na Itália.
O Brexit surgiu de movimento de descontentamento de uma classe trabalhadora ameaçada pela abertura comercial. Donald Trump e sua política externa mercantilista têm origem semelhante. 
No Brasil, o baixo consenso social alimenta um ambiente antirreformas por uma combinação de populismo, conflito distributivo em torno de rendas intermediadas pelo Estado, fragmentação política e protecionismo comercial e regulatório.
Não obstante todas essas dificuldades "estruturais" para fazer reformas no Brasil, sempre surgem algumas janelas de oportunidade. Em geral, elas são criadas por crises, que evidenciam a necessidade de mudanças e enfraquecem a defesa de interesses corporativos específicos.
Também abre espaço para reformas o "efeito lua de mel", que existe nos primeiros meses de gestão de um governante recém-eleito.
Desde os anos 1980, o Brasil aproveitou essas situações para fazer reformas. Assim, por exemplo, a crise de balanço de pagamentos de 1982-83 gerou reformas fiscais e monetárias. A hiperinflação criou condições para o sucesso do Plano Real. 
O efeito lua de mel no governo Collor permitiu um movimento de abertura comercial, e nos governos FHC e Lula viabilizaram-se duas reformas da Previdência. 
Da crise de balanço de pagamentos de 1998 vieram o sistema de metas de inflação, o câmbio flutuante e o regime de metas fiscais.
Porém, recentemente o Brasil andou na direção contrária. De 2005 a 2015 vivemos um período de reversão de reformas. A crise política do mensalão levou à expansão do gasto público como forma de sustentar politicamente o governo. Uma expansão no preço internacional de commodities deu impulso ao crescimento e criou a ilusão de que os desequilíbrios fiscais estruturais estavam resolvidos. 
Relaxou-se o equilíbrio fiscal e praticou-se política pública na direção oposta das reformas de que o país necessita: aumentou a interferência estatal nas decisões privadas, a exploração do petróleo foi praticamente reestatizada, houve generalizada interferência do governo nos preços de energia e combustíveis, proteção setorial e fechamento da economia, grande desperdício de recursos públicos e privados em investimentos inviáveis.
A crise daí decorrente abriu nova oportunidade de reformas, e o governo Temer avançou nessa agenda, criando um teto de gastos, fazendo reformas relevantes no mercado de crédito, revertendo a estatização do setor de petróleo, retomando o controle dos gastos públicos e as privatizações e concessões, desmontando equivocadas políticas de créditos subsidiadas.
Porém, as reformas necessárias ainda são muitas. O que fazer para continuar avançando? 
Em primeiro lugar, temos de reconhecer que, no ambiente adverso em que vivemos, elas levarão décadas para se concretizar. A Nova Zelândia, que fez reformas radicais em tempo recorde, com condições políticas e institucionais favoráveis, consumiu dez anos. Na Austrália foram 20 anos. No Brasil será muito mais. 
As reformas serão um tema presente por muitas décadas. Não é uma corrida de 100 m, em que se faz reforma durante um mandato e o país passa a crescer aceleradamente. É uma maratona, que requer persistência. Se não for possível aprovar reforma ampla hoje, aprove-se algo mais restrito, mas na direção correta, e retome-se mais adiante.
Não podemos desperdiçar oportunidades: as propostas de reforma precisam estar prontas, na prateleira. Se a condição política para uma reforma ficar difícil, muda-se a agenda e parte-se para outra. Foi o que ocorreu no governo Temer, quando a reforma da Previdência se inviabilizou e, rapidamente, a agenda mudou para a reforma do mercado de crédito.
Mais importante que não perder oportunidades é não dar espaço para retrocessos. O Brasil não pode ter outro período nefasto de contrarreformas como o do passado recente.
Para que as reformas ganhem crescente apoio social, é preciso que elas sejam capazes de reduzir a desigualdade e ampliar a classe média. 
Felizmente temos espaço para isso. O Estado brasileiro é concentrador de renda, e as reformas podem fazer o país mais igualitário, gerando clima favorável a novas rodadas de modernização. O desenho das diversas reformas sempre precisará ter essa preocupação redistributiva e de criação de empregos para os mais pobres.
Como esse processo de redistribuição e aumento de coesão é lento, é essencial uma convincente política de comunicação, para já no curto prazo induzir a cooperação e apoio. 
É preciso olhar, também, a dimensão da violência e da baixa confiança. Já passou da hora de o Brasil ter um plano sério e consistente de redução da violência, que deve ser conduzido simultaneamente às reformas econômicas. 
Em relação à confiança, é preciso investir em sistemas eletrônicos de certificação e garantias nos negócios, em agilização e maior previsibilidade da Justiça. A digitalização dos serviços públicos aumenta a confiança no governo e o controle a fraudes nos programas sociais. 
O combate à corrupção, tão demandado pela sociedade, precisa ser usado como argumento a favor da reforma. Privatizar reduz espaço para o uso corrupto de empresas públicas. Também reduzem a corrupção: o fortalecimento das agências regulatórias, a melhoria da governança dos fundos de pensão das estatais ou o aperfeiçoamento e transparência das contas públicas.
No âmbito do Legislativo, dada a alta resistência política às reformas, deve-se preferir sempre a tramitação mais curta, para diminuir as chances de uma crise política paralisar o processo, como ocorreu com a reforma da Previdência no governo Temer. Uma vitória parcial em um tema abre a agenda para que se trate de outra reforma. 
As relações entre os três Poderes precisam evoluir, para que haja clara delimitação das fronteiras dos poderes de decisão, para evitar tanto a judicialização da política quanto a politização do Judiciário.
Na arena política, a experiência de reformas econômicas bem-sucedidas na Austrália, na Índia, na Coreia e na Nova Zelândia indicam que um ingrediente essencial é a liderança do processo pelo presidente da República (ou primeiro-ministro). A terceirização da responsabilidade enfraquece e mutila as reformas.
Também é preciso reconhecer que formar governo de coalizão não é crime. Em qualquer lugar do mundo onde o Parlamento é importante na aprovação de reformas, um Poder Executivo minoritário compartilha o poder para poder ter maioria e aprovar seus projetos. 
Se há atos criminosos por parte de algum ministro indicado por partido aliado, demite-se o ministro, entrega-se o caso à Justiça, e o partido responsável por aquele ministro indica substituto. 
O atual momento de crise e de lua de mel é propício para reformas. Mas não há automatismos, e o ambiente continua hostil. Será preciso muita arte e habilidade política para que não se perca essa oportunidade histórica para avançar em direção a um país mais rico e civilizado.

O chantecler confundiu alhos com bugalhos - Mailson da Nobrega

Blog de Mailson da Nobrega, 12 de abr de 2019 , 12h48

PRODUTIVIDADE OU MEDIOCRIDADE

Produtividade ou mediocridade
A economia cresce pela conjugação de três elementos: o investimento, o emprego da mão de obra e a produtividade. O segundo pode ser desdobrado em dois: a mão de obra propriamente dita e o capital humano, isto é, o estoque de conhecimentos e os atributos sociais e de personalidade do trabalhador — incluindo a criatividade —, adquiridos com a educação e a experiência.
A produtividade é o principal desses três elementos. Tem a ver com eficiência, cujo aumento permite produzir mais com os mesmos recursos. Para Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia, “a produtividade não é tudo na economia; a longo prazo, é quase tudo”. Ela não costuma, todavia, ser valorizada entre nós como fonte básica do crescimento econômico. Muitos desconhecem o seu papel.
Em aula magna no Instituto Rio Branco, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse que éramos o país de maior crescimento quando tínhamos como principal parceiro os Estados Unidos. Isso teria mudado quando essa posição foi assumida pela China. “De fato, a China passou a ser o grande parceiro comercial do Brasil e, coincidência ou não, tem sido um período de estagnação do Brasil.”
Na verdade, esses dois momentos se explicam essencialmente pelo desempenho da produtividade. É o que está escrito no livro Anatomia da Produtividade no Brasil (Editora FGV, 2017). O crescimento da produtividade no período 1950-1980 alcançou 4,2% anuais, enquanto se expandiu 0,6% ao ano nas três décadas posteriores, ou seja, um sétimo apenas. O Brasil cresceu muito ou pouco em função do desempenho da produtividade. O ministro confundiu alhos com bugalhos.
O medíocre crescimento da economia teria sido pior sem a China, cuja demanda por nossas commodities explica os expressivos superávits que passamos a exibir na balança comercial (58,3 bilhões de dólares em 2018), o que equivale a ganhos de produtividade. O decorrente fortalecimento do balanço de pagamentos nos permitiu minimizar os efeitos da crise financeira global de 2008.
Não vamos “vender nossa alma” à China, como disse o ministro, mas precisamos ampliar as nossas vantajosas relações comerciais. Se a reforma da Previdência ocorrer, o desafio seguinte será o de ganhar produtividade.
Quatro ações são essenciais: (1) elevar os investimentos em infraestrutura, particularmente a de transporte, para melhorar a operação da logística; (2) promover uma reforma tributária para eliminar o caos da tributação do consumo, mediante a instituição de um tributo nacional sobre o valor agregado (IVA), em substituição à confusão do ICMS, do ISS, do PIS e da Cofins; (3) gradativamente, abrir a economia para expor a indústria à competição internacional, o que incentivará a busca de eficiência; e (4) melhorar a qualidade da educação, de modo a incrementar a produtividade do trabalhador brasileiro, que representa 20% da produtividade do trabalhador americano. Sem isso, nosso desempenho econômico será igual ou inferior ao atual, com graves efeitos no emprego e na renda dos brasileiros.
Publicado em VEJA de 17 de abril de 2019, edição nº 2630

Neste dia na historia: nascimento de Karl Marx

Ao contrário do que diz a matéria, Marx não era um economista, a despeito de tentar ser, mas nunca conseguiu. Ele se tornou. no máximo, um filósofo social, mas jamais um economista. Exerceu seus talentos com teses pré-concebidas sobre o desenvolvimento da economia de mercado, e nunca conseguiu entender o capitalismo. Sua teoria da "mais valia" é uma fraude completa, e não recebe uma mínima consideração de economistas sérios. Só se estuda a mais valia nas faculdades de humanidades gramscianas, brasileiras e estrangeiras. Não tem nenhuma importância para a vida moderna, ou até a do capitalismo no século XIX.
O que não o impediu de se tornar uma das grandes referências na construção da sociologia moderna, com Saint Simon, Proudhon, Tocqueville, Comte, até chegar nos contemporâneos: Simmel, Spencer, os franceses Emile Durkheim, Marcel Mauss, o alemão Max Weber, e obviamente Raymond Aron.
Por acaso, eu que sou sociólogo (pelo menos titulado, embora nunca tenha exercido profissionalmente, a não ser por breves períodos como professor em mestrado de sociologia), também sou um pouco (ou muito) marxista, pois é impossível ser sociólogo sem ser também marxista.
Acho que foi por isso que fui defenestrado do IPRI pelo chantecler: ele devia achar que eu estava disseminando marxismo cultural no Itamaraty. Com muita honra, chantecler...
Paulo Roberto de Almeida

Nasce Karl Marx

Nasce Karl Marx
Em suas obras, Marx obtém uma perspectiva muito mais abrangente e adequada da dinâmica social capitalista (Foto: Wikimedia)
O pensador e economista alemão Karl Marx nasceu em uma família de classe média, na cidade de Tréveris na atual Alemanha, no dia 5 de maio de 1818. Sua mãe Henri Pressburg (1771–1840) era judia holandesa e seu pai, Herschel Marx (1759–1834), um advogado e conselheiro de Justiça.
Aos 17 anos, Marx foi para a faculdade de Direito na Universidade de Bonn. Na universidade ele ficou noivo de Jenny von Westphalen, a filha do Barão von Westphalen. No ano seguinte, Marx foi para a tradicional Universidade de Berlim, onde ele ficou por quatro anos. Nesta época, ele se interessou pelas ideias do filósofo Hegel. Em Berlim, Marx ingressou no Clube dos Doutores, que era liderado por Bruno Bauer.
Impedido de seguir uma carreira acadêmica, ele virou, em 1842, redator-chefe da Gazeta Renana (Rheinische Zeitung), um jornal da província de Colônia; conheceu Friedrich Engels neste mesmo ano, durante visita dele a redação do jornal. Em 1843, Marx conheceu a Liga dos Justos (que mais tarde iria se tornar a Liga dos Comunistas).
Integrante de um grupo de jovens que tinham afinidade com a teoria pregada por Hegel (Georg Wilhelm Friedrich, um dos mais importantes e influentes filósofos alemães do século XIX), Marx começou a ter mais familiaridade com os problemas econômicos que afetavam as nações quando trabalhava como jornalista.
Dedicado desde a juventude ao estudo da Economia Política, disciplina fundada no século XVII, na Inglaterra das revoluções burguesas, Marx contou com o estímulo e a colaboração de seu grande amigo Friedrich Engels (1820-95). Juntos escreveram vários textos; e na maturidade Engels continuou ajudando Marx em alguns pontos de sua grande obra sobre a economia moderna.
Em suas obras, Marx obtém uma perspectiva muito mais abrangente e adequada da dinâmica social capitalista. Em o “Manifesto Comunista” de 1848, ele faz o diagnóstico eloquente do tempo instituído pelo capital: “Essa subversão contínua da produção, esse abalo constante de todo o sistema social, essa agitação permanente e essa falta de segurança distinguem a época burguesa de todas as precedentes. Dissolvem-se todas as relações sociais antigas e cristalizadas, com seu cortejo de concepções e de idéias secularmente veneradas; as relações que as substituem tornam-se antiquadas antes de se consolidarem. Tudo o que era sólido e estável se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado.”
Desiludido com as mortes de sua mulher (1881) e de sua filha Jenny (1883), Karl Marx morreu no dia 14 de março de 1883. Foi então que Engels reuniu toda a documentação deixada por Marx para atualizar “O Capital”.

domingo, 5 de maio de 2019

Junto com a diplomacia teologica, a diplomacia da canelada (FSP)

Bolsonaro exerce diplomacia da canelada na América Latina

Brasileiro parece distante de liderar uma possível guinada à direita na região

Em 2007, Lula disse aos jornais argentinos que Néstor Kirchner era “uma bênção extraordinária” e que a continuidade de sua gestão era “extremamente importante para a integração regional”. O petista dava os braços a outros políticos de esquerda para conquistar um papel de liderança na América Latina.
Na eleição daquele ano, Néstor lançou Cristina Kirchner, que saiu vitoriosa da disputa. Agora, a ex-presidente tenta voltar ao poder sob a oposição obstinada de Jair Bolsonaro.
A aliança esquerdista foi turbinada pela prosperidade econômica da época, graças à alta do petróleo e de outras matérias-primas. A diplomacia brasileira lubrificou ainda mais a relação, com financiamentos generosos. Os tempos mudaram, e o Brasil joga seu peso em outra direção.
Bolsonaro aposta numa onda de direita, escorado em sua própria eleição e na parceria com Donald Trump. A diferença é que sua diplomacia usa a truculência como método, tem pouco poder econômico e abusa das lentes ideológicas que sua chancelaria adora denunciar.
Nos últimos dias, o presidente atacou três vezes a possível volta de Cristina à Casa Rosada. “Peço a Deus que não aconteça”, afirmou. A candidata peronista carrega oito acusações de corrupção, mas lidera as pesquisas para a eleição de outubro.
Enquanto metia o bedelho na disputa, Bolsonaro fazia festa com um acordo comercial diminuto com os argentinos. Na sexta (3), ele foi às redes sociais para celebrar a abertura do mercado vizinho ao abacate brasileiro. A fruta representa só 0,007% das exportações do país.
O presidente dá outras caneladas internacionais violentas. Em meio à escalada da tensão na Venezuela, ele voltou a flertar com uma ação armada no país: “Quando acaba a saliva, entra a pólvora”.
Ainda que a América Latina vire à direita, Bolsonaro parece longe de liderar essa guinada. O chileno Sebastián Piñera, que nada tem de esquerdista, distanciou-se do brasileiro. Ele não gostou do entusiasmo com as ditaduras militares da região.  

Goldman Sachs: o desastroso desempenho economico do Brasil em 4 decadas

Goldman Sachs sobre crescimento do Brasil: ‘Duas décadas perdidas em 40 anos’

Avanço tem sido uma ‘desilusão absoluta’
Para banco, problemas são estruturais
Defendeu realização de reformas fiscais
O Banco Goldman Sachs divulgou, em comunicado, preocupações acerca da provável década perdida do Brasil em 2010 Divulgação/Goldman Sachs
03.maio.2019 (sexta-feira) - 20h49
atualizado: 05.maio.2019 (domingo) - 8h22

O banco Goldman Sachs encaminhou relatório nesta 6ª feira (3.mai.2019) aos clientes do banco alertando para o quadro conjuntural da economia brasileira.
De acordo com Goldman Sachs, o avanço da economia doméstica tem sido uma “desilusão absoluta”, segundo o qual não é consequência, apenas, da forte recessão pela qual o país passou em 2014 e 2015.
Segundo o banco, a renda real per capita desapontou nos últimos 4o anos. Com isso, a instituição financeira prevê que, na década de 2010, o Brasil provavelmente verá 1 declínio do PIB Per Capita, repetindo a trajetória da década de 1980.
Goldman Sachs, no entanto, estabelece diferenças da conjuntura econômica global entre as décadas de 1980 e 2010. Enquanto na 1ª a desaceleração do crescimento esteve relacionada ao cenário exterior, o forte recuo econômico observado na 2ª é oriunda de erros da política econômica interna, passando pelo agravamento do cenário fiscal.
“De fato, em relação aos pares, o crescimento do Brasil apresentou 1 desempenho inferior durante a década atual (2011-18) do que durante os anos 80”, diz o comunicado.
Em quadro comparativo com décadas anteriores, o Banco Goldman Sachs revela preocupação com o desempenho econômico da década de 2010 Reprodução/Goldman Sachs
O banco também comentou mais cedo sobre o resultado da produção industrial nacional, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que apontou para queda, em março, de 1,3%.

Ciclos preocupam

Em uma 2ª abordagem, Goldman Sachs menciona o comportamento de ciclos econômicos após períodos de crise, os quais, historicamente, são seguidos por taxas robustas de crescimento, representadas, graficamente, pela letra ‘V’.
No entanto, o banco afirma que, no caso brasileiro, a recuperação da economia brasileira, ainda que superficial, dá-se graficamente pelo formato ‘U’.
Goldman Sachs menciona a retomada econômica do país, que ocorre de maneira lenta e gradual, em meio à balança comercial positiva, inflação abaixo do centro da meta estabelecido pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), e a taxa Selic administrada, há mais de 1 ano, no menor nível histórico.
Apesar de ciclos econômicos, normalmente, apresentarem projeção em ‘V’, o problema estrutural da economia brasileira impede a recuperação do quadro Reprodução/Goldman Sachs

Problemas são estruturais

Segundo Goldman Sachs, o atual cenário macroeconômico do país pode ser observado de maneira estrutural e não cíclica.
Em alerta, o banco disse que se o Brasil “não conseguir abordar questões de solução fiscal de médio prazo e complementá-las com reformas estruturais de longo alcance para abrir a economia” a década de 2020 poderá ser perdida também.
“Em nossa avaliação, se o país não conseguir abordar questões de solução fiscal de médio prazo e complementá-las com reformas estruturais de longo alcance para abrir a economia, aumentar o baixo estoque de capital físico e melhorar a eficiência- produtividade geral – a próxima década poderia tornar-se perdida também. Nesse caso, o Brasil não perderia apenas mais uma década, mas renunciaria a meio século”, disse o banco. 

Mini-reflexao sobre a crescente rejeição do Brasil nas relações internacionais - Paulo Roberto de Almeida

Uma preocupação pessoal com os espaços diminuídos para contatos, negócios e cooperação internacional em virtude da rejeição que vem experimentando o atual governo no que tange não só nossa imagem, mas igualmente as possibilidades de expandir nossas interações e intercâmbios com parceiros externos:

Depois do “custo Ernesto Araujo”, que significa restrições a negócios e exportações brasileiras derivadas da postura deformada em diversas áreas da política externa — como o Oriente Médio, por exemplo, uma vez que se tomou partido por Israel nos diversos conflitos que assolam a região —, temos de agregar um novo custo, “Ricardo Salles”, dada a postura anti-ambientalista do patético ministro do Meio Ambiente (que obviamente cumpre desígnios superiores), em vista do verdadeiro boicote que entidades científicas, universidades, organizações ambientalistas e mesmo governos podem fazer a negócios e contatos com o Brasil e suas entidades correspondentes, inclusive o próprio governo Bolsonaro. 
Esqueçam acordo UE-Mercosul, esqueçam grandes projetos de cooperação: estamos condenados à rejeição em diversas áreas de real interesse nacional. Esses dois custos “ministeriais” nada mais são do que o reflexo do custo maior que se chama “governo aloprado da Bolsofamiglia” e seus gurus associados.
Ou seja, o país está tendo menores possibilidades no cenário mundial atual com o tipo de governo que temos.
Quase se pode parodiar um famoso filme de ficção científica de Hollywood:
“Honey, I shrink the kids!”.
Traduzindo para o nosso ambiente:
“Queridos, encolhemos o país!”

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 5 de maio de 2019

Sou parte do Uniceub, desde 2004; aniversario da instituicao

Parece que foi ontem. 
Tomar a decisão de erguer os pilares do conhecimento não foi tarefa fácil. Enquanto a capital crescia e fervia de novidades, estávamos determinados a sustentar os sonhos de quem chegava à cidade pronto para vencer desafios.
Sentimos o sabor do tempo. Uma doce jornada que trouxe mais de 100 mil alunos em 51 anos de história, com aquele frio na barriga que só o futuro causa na gente. Comemoramos hoje a dedicação de pessoas que acreditaram e acreditam em um mundo melhor. 
Obrigado por nos ajudar a firmar cada um destes pilares.  Somos excelência em Educação Superior porque tivemos a sua convicção e o seu empenho ao nosso lado. 
Celebre muito esse aniversário com a gente.
Você é parte fundamental dessa festa! 

sábado, 4 de maio de 2019

Dia do diplomata: diplomacia teologica e intervencao nos assuntos internos de outros Estados

Independentemente da diplomacia "teológica" – absolutamente inédita nos anais da diplomacia brasileira – e dos pruridos "subfilosóficos" sobre uma nova categoria de ideólogos, que seriam os "tautólogos" (não se espantem: se trata de personagens de um dos romances distópicos do chantecler), o importante a reter nesta matéria e na substância dos pronunciamentos do presidente sobre a política interna argentina – o que contraria frontalmente nossos dispositivos constitucionais e até as boas práticas diplomáticas – é a tentativa do dito chantecler de contornar a evidente infração cometida pelo presidente contra normas mínimas de nossas relações internacionais, como a não interferência nos assuntos internos dos outros países, por exemplo. Parece que o presidente não foi devidamente instruído pelos seus subassessores internacionais.
Paulo Roberto de Almeida

Em discurso, chanceler compara Bolsonaro a Jesus Cristo

Em discurso na cerimônia de formatura dos novos diplomatas do Instituto Rio Branco, o chanceler Ernesto Araújo elogiou o presidente Jair Bolsonaro, comparando-o a Jesus Cristo, e se emocionou diversas vezes, chegando até a chorar. Em referência ao presidente da República, que estava presente na cerimônia, Araújo citou trecho do Evangelho que diz que "a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular". No Evangelho, a pedra angular simboliza Jesus Cristo.
"A pedra que os órgãos da imprensa rejeitaram, a pedra que os intelectuais rejeitaram, que os especialistas rejeitaram... Essa pedra tornou-se a pedra angular do edifício do novo Brasil", completou o chanceler.
Citando a homenageada da turma de 30 formandos do Instituto Rio Branco, Aracy Guimarães Rosa, Araújo disse que "diplomacia não significa ficar em cima do muro, nem ficar assistindo em cima do muro esperando ver quem ganha e aí aderir ao vencedor". "Diplomacia precisa ter sangue nas veias", disse.
Ainda fazendo menção à Aracy, que no período nazista salvou a vida de dezenas de judeus, Araújo disse que se solidariza aos que sofrem perseguição política atualmente "na Venezuela e em todos os lugares do mundo".
Ao se dirigir aos formandos, o ministro de Relações Exteriores afirmou que o governo luta por renovação e que Bolsonaro admitiu os diplomatas nessa "causa" de maneira inédita. Também orientou os formandos a "pensarem" e "não terceirizarem informações aos meios de comunicação".
"Nenhum presidente da República valorizou mais o papel do Itamaraty do que o senhor, nenhum teve visão mais clara sobre o papel da política externa para a transformação nacional", elogiou o chanceler ao dirigir-se a Bolsonaro.
Araújo contou que, recentemente, Bolsonaro enviou a seguinte mensagem: "enquanto não faltar água no mar, não deixaremos de lutar". Ele frisou que esse sentimento do presidente o anima. "Temos a oportunidade única de mudar o Brasil e transformá-lo em uma grande nação."
Venezuela
Sobre a crise no país vizinho, o chanceler afirmou que o Brasil ajudou "de maneira decisiva a criar uma marcha irreversível de democracia na Venezuela". Também lamentou pessoas que, segundo ele, torcem a favor "da tirania e do cinismo" no país vizinho apenas por torcer contra o governo Bolsonaro, mencionando entre essas pessoas setores da imprensa.
Depois do evento, Araújo afirmou aos jornalistas que o líder opositor venezuelano Juan Guaidó não foi derrotado no último dia 30 ao convocar a população para pressionar Nicolás Maduro. A interpretação de Araújo foi que houve "avanço" no processo e que a pressão diplomática dos países do Grupo de Lima já fez efeito no país vizinho.
"No Grupo de Lima, hoje, nós queremos deixar muito claro o fato de que o que aconteceu no dia 30, no dia 1º, não é de forma nenhuma uma derrota desse ímpeto pela liberdade, pela democracia. Ao contrário, isso exige que a comunidade internacional continue trabalhando, como vem trabalhando", disse.
O ministro afirmou que os países que apoiam o autoproclamado presidente interino da Venezuela se esforçam para não deixar ser criada uma narrativa, "que seria falsa", de um retrocesso no processo. Ele enfatizou que houve "um avanço" e que é preciso discutir novos elementos de pressão diplomática sobre a Venezuela.
Argentina
Araújo negou que o presidente Jair Bolsonaro apoie a reeleição de Mauricio Macri na Argentina, mas destacou que há uma preocupação do chefe do Planalto com uma eventual eleição de Cristina Kirchner no país vizinho.
"Apoio acho que não é bem a questão. Acho que é simplesmente esse nosso compromisso com achar uma pauta, já temos uma pauta muito intensa com o governo Macri", disse o ministro após almoço com diplomatas formando do Instituto Rio Branco, no Itamaraty.
Ele destacou que Bolsonaro deixou bem claro sua "preocupação" com um retorno de um regime anterior na Argentina. O chanceler afirmou ainda que o governo brasileiro espera desenvolver a relação "independentemente do governo" daquele país.