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sábado, 19 de outubro de 2019

Pensamento Econômico no Brasil - Ralph Miguel Zerkowski


Pensamento Econômico no Brasil
Primeira Parte: Colônia, Independência até à Proclamação da República


Ralph Miguel Zerkowski
Economista (In memoriam)
Revista Aeronáutica, n. 304, 2019, pp. 16-17 (ISSN: 0486-6274; www.caer.org.br) 

Há poucas ideias econômicas na Idade Antiga e na Idade Média. Na primeira, o primado do Direito e, na segunda, as ideias religiosas. Na Antiga, os filósofos Platão e Aristóteles. O primeiro falando do meio rural e, o segundo, do político embrião da economia. Já na Média, a questão da ética religiosa e dos juros com Tomás de Aquino, dentre outros.
A partir dos séculos XVI, XVII e XVIII é que as ideias econômicas florescem impulsionadas pelos movimentos de Reforma e do Renascimento, bem como pelas necessidades administrativas dos governos, sobretudo pela operação da colonização.
Neste período, é muito importante a estruturação do governo, que resultaria no século XIX na formação do Estado-Nação. É nele também que florescem as primeiras ideias puramente econômicas, que vão se desvinculando das ideias filosóficas e religiosas, ao menos parcialmente.
Aparecem os Fisiocratas, pioneiros do Liberalismo Econômico, com ênfase na Agricultura e na produção dela derivada. Seguem-se os Mercantilistas, mais realistas, introduzindo o padrão ouro e vinculados ao Patrimonialismo, à doutrina da intervenção estatal no domínio econômico e ao protecionismo, que anos mais tarde teriam uma enorme importância na agenda dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos.
De uma maneira geral, Adam Smith, com seu livro Riqueza das Nações (1723-1790), é considerado o Pai da Ciência Econômica e é, até hoje, o mais homenageado, e a ele sempre se retorna, pois discursou sobre todos os temas: divisão do trabalho, preços, custos, salários, comércio internacional, desenvolvimento econômico, História econômica e social. Teve ampla repercussão na Europa e nos Estados Unidos.
E Portugal nisto tudo, como se apresenta? Sendo um país periférico, ora influenciado pela França, ora economicamente dependente da Inglaterra, oscila, mas a balança pende para o Mercantilismo e para o Intervencionismo; pouca racionalidade econômica anglo-saxônica. Isto é objeto de discussão de Raimundo Faoro em sua obra Donos do Poder, que terá importantes desdobramentos conforme veremos a seguir.
Entretanto existem segmentos liberais mesmo em Portugal. Existem contradições; afinal o Colbertismo mercantilista-protecionista é francês, da mesma forma que a Fisiocracia é mais liberal. Portugal, como mais tarde no Brasil, pela influência inglesa, chegaria com um certo atraso.
O pensamento básico na colônia brasileira é influenciado logicamente por Portugal, por definição. À medida que se penetra no século XIX, a influência inglesa é percebida, sobretudo pela vinda de comerciantes ingleses vinculados ao comércio internacional. Há quem fale em modernização econômica, que mais tarde no século XX seria exercida pelos Estados Unidos. 1
Um episódio marcante tanto para a Economia como para o pensamento econômico da época é a vinda do rei de Portugal, D. João VI, para o Brasil: abertura dos portos, criação do Banco do Brasil, além de outros polos de desenvolvimento econômico. A importância destes fatos só pôde ser avaliada recentemente por estudos e pela aplicação de análise econômica moderna.
E os intelectuais da época? O que pensavam? Os Bonifácio Andrada encaravam o problema econômico como parte de um problema maior: o da reafirmação do Brasil como nação, sobretudo considerando os problemas administrativos decorrentes da Independência. A grande exceção é o Visconde de Cairú, uma espécie de Adam Smith tropical. Sua obra principal de nosso interesse é Princípios de Economia Política, de 1804. Elaboraria mais tarde um Código de Comércio (1809). Além de tudo foi o inspirador da tradução da obra de Smith para o português, em 1812. Recebeu influências importantes dos autores do Iluminismo escocês, dentre os quais destacamos David Hume e Edmund Burke.
Quais eram os temas econômicos mais tratados nessa época? Se a atividade econômica era, sobretudo, associada ao comércio internacional, à exportação e à importação, por via de consequência, o câmbio, ou melhor, a taxa cambial é que era objeto das atenções, já que influenciavam de modo decisivo a expansão e a distribuição da Renda Nacional. Assim é que, se a taxa melhorava, aumentava a renda nacional, a das pessoas e a do governo. Se ao contrário, ela se contraía, isto redundava em problemas internos para a produção, ou seja, se o dinheiro circulava ou não, afetava outros setores, principalmente o comércio.
Naturalmente a gestão das finanças públicas era de crucial importância, não somente para o governo central como para as províncias. Eles eram pressionados a resolver a insuficiência de meios que havia numa nação recentemente emancipada, com um aparelho estatal deficiente e com encargos de toda a natureza. Por exemplo, certas nações, sobretudo as de colonização inglesa, conforme foi visto mais tarde, herdariam máquinas administrativas mais eficientes, muito embora em alguns casos terminassem também por se desestruturarem.
Outro objeto de preocupação, decorrente em parte dos déficits públicos, era a gestão da moeda. A cobertura destes buracos ora se fazia por emissões de moeda, ora por empréstimos que redundavam em desvalorizações, e só não provocavam maiores estragos porque o país era formado por um conjunto de ilhas econômicas não integradas, de modo que o impacto sobre os preços de certa forma se diluía. Mais tarde, já na República, sobretudo a partir dos anos 30 do século passado, esta atenuante viria a cair.
Claro que estes fenômenos despertariam a curiosidade de certa elite pensante, resultando em explicações mais ou menos condizentes com o nível de conhecimento de Economia à época. Nestas arengas entravam médicos, engenheiros, e, naturalmente, advogados, juristas, além de letrados de uma maneira geral. Em boa parte do Império os estudos eram feitos em Portugal, Coimbra principalmente.
Aumentando um pouco o espectro visual, diferente era a situação no tocante às ideias econômicas nos Estados Unidos, aonde, principalmente após a Guerra da Secessão aos 60 do século XIX, a demanda por Economia se fazia necessária, sofrendo influências da Inglaterra e, também, da Alemanha. Naturalmente isto também está relacionado ao desenvolvimento das universidades de uma maneira geral.
Infelizmente não pudemos pesquisar o ensino de Economia nas faculdades de Direito do Recife, da Bahia, de São Paulo e do Rio de Janeiro, já na segunda metade do século XIX, quando o ensino de Economia se concentrava em termos mais sistemáticos. Isto ficaria mais claro no século XX. É lícito supor que a influência seria a francesa, já que a intelectualidade também assim o era. 2
No Reino Unido, à medida que Smith, Malthus, David Ricardo e Stuart Mill iam produzindo os seus livros, os famosos clássicos da Ciência Econômica, seu conteúdo era discutido no Parlamento inglês. No Brasil, os fatos econômicos eram também discutidos no Parlamento e, talvez, tenha sido o local mais importante aonde se podem aquilatar melhor o teor das ideias que então circulavam. 3
Como vimos, o quadro brevemente traçado é relativamente pobre. As pressões, sobretudo as urbanas, só se fariam sentir ao longo do século XX, ou seja, na República. Há que assinalar as repercussões das duas grandes guerras mundiais, que foram decisivas, e, no plano externo e no interno, a Revolução de 1930.

Notas:
1 Importante assinalar uma importante diferença entre Brasil e Estados Unidos. Neste, a influência da corrente migratória denominada Mayflower (1609-1622) se transferiu para os Estados Unidos em virtude das perseguições religiosas, que afetariam profundamente a vida cultural do país. Foi uma das fontes de inspiração weberiana para descrever a ética protestante e explicar o atraso relativo em países católicos.
2 Na Filosofia, a Escola de Tobias Barreto seria famosa.
3 A Editora da Câmara dos Deputados tem uma coleção de discursos avultando Bonifácio de Andrada, José de Alencar e José Antonio Saraiva, chegando a Santiago Dantas.



Ricardo Bergamini oferece o perfil de um sociopata

Alguma relação com fatos, processos, personalidades da vida real?
Não é intencional, mas cada um que tire sua conclusão...
Apenas transcrevo.

Paulo Roberto de Almeida

Entorno de um sociopata nada pode brilhar além dele 
(Ricardo Bergamini).

Sociopatia: mentira, violência e ameaça aos direitos humanos

Doença que provoca atitudes como o desrespeito e violação de direitos das outras pessoas, a psicopatia, também chamada de sociopatia ou transtorno de personalidade antissocial, pode ter início ainda na infância ou na adolescência do paciente e continuar na fase adulta. Segundo os especialistas, até 3% da população mundial é composta de psicopatas, e eles reincidem na criminalidade três vezes mais que bandidos comuns. Para receber esse diagnóstico, o paciente deve ter pelo menos 18 anos e uma história de transtorno de conduta antes dos 15 anos.

Sociopatia: mentira, violência e ameaça aos direitos humanos

Segundo o psiquiatra e professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (SP), Geraldo José Ballone, no Brasil os transtornos de personalidade atingem mais de cinco milhões de pessoas das mais variadas profissões e classes sociais. Todas sofrem do mesmo problema: total ausência de compaixão, nenhuma culpa pelo que fazem ou medo de serem punidos. Um estudo feito pelo médico também aponta que esses pacientes têm inteligência acima da média e habilidade para manipular o que está a sua volta.

Audiência pública

Para aprofundar os estudos sobre os transtornos de personalidade e avaliar as consequências desse tipo de comportamento nas violações de direitos na sociedade, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM), promove dia 17 de outubro, quarta-feira, às 14h, no plenário 9, uma audiência pública.

“O indivíduo adulto com o chamado transtorno da personalidade antissocial tem como características principais o engodo e a manipulação. Já em quem apresenta o transtorno da conduta na infância, acontece um padrão de comportamento repetitivo e persistente, com a violação dos direitos básicos dos outros, de normas e regras sociais importantes e adequadas à idade”, explica o deputado Luiz Couto (PT/PB), presidente da CDHM e que pediu a realização do debate.

Luiz Couto detalha o perigo que essa doença representa. “Há vários níveis de psicopatia, sempre diagnosticados pelos especialistas em transtornos mentais e comportamentais, e as pessoas com esses transtornos são responsáveis por violações de direitos alheios, além de tortura física e mental e até assassinatos”, alerta o deputado. 

O psiquiatra Geraldo José Ballone, também em seu trabalho sobre personalidade psicopática, diz que o psicopata não apenas transgride as normas, mas ignora e considera elas como obstáculos que devem ser superados na conquista de suas ambições. "A norma não desperta no psicopata a mesma inibição que produz na maioria das pessoas", afirma Ballone.

A lei e números

Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM, na sigla em inglês) da Sociedade Americana de Psiquiatria, a prevalência do transtorno da personalidade antissocial em amostras comunitárias é de cerca de 3% em homens e de 1% em mulheres. As estimativas em contextos clínicos variam de 3% a 30%, dependendo das características das populações pesquisadas. Essas taxas podem ser ainda mais altas em ambientes forenses ou penitenciários e relacionados a abuso de drogas.

Na legislação brasileira existem três possibilidades que a lei oferece para delitos cometidos por psicopatas: responsabilidade total; responsabilidade atenuada; e isenção de responsabilidade. Nessa última opção, o psicopata é considerado doente mental, com anomalia estrutural da personalidade, e deve ser encaminhado a um hospital psiquiátrico ou ao chamado manicômio judicial.

Como identificar  

Especialistas usam um teste específico para identificar psicopatas, a Escala Hare PCL-R. Criada pelo psicólogo canadense Robert Hare, em 1991, é uma lista de 20 itens que englobam as principais características de um psicopata, como tendência a mentir e falta de culpa ou remorso. A avaliação, que só pode ser feita por psicólogos ou psiquiatras, também considera o histórico familiar e pessoal. De acordo com os especialistas, o teste é uma grande arma contra a criminalidade, já que pode revelar, por exemplo, se um bandido tende a continuar praticando crimes ou se foi só um ato isolado.

Devem participar do encontro promovido pela CDHM, a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, que é autora do livro "Mentes Perigosas", a médica Hilda Morana, coordenadora do Departamento de Psiquiatria Forense da Associação Brasileira de Psiquiatria, o defensor público federal Vinícius Monteiro de Barros e o Conselho Federal de Psicologia.

Pedro Calvi / CDHM

Fontes:  Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais e Dr. Geraldo José Ballone, da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (SP).

Ricardo Bergamini

A derrocada: meu diagnóstico sobre o impasse do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

Mini-reflexão sobre o momento presente e mais além
Paulo Roberto de Almeida


Acredito que mais da metade dos que votaram em JB apenas para barrar a volta da quadrilha petista ao poder já chegou à conclusão de que o “mito” é um completo inepto, grosseiro, vulgar, empenhado apenas em defender familiares de crimes evidentes ou em promover seus interesses exclusivos, ou seja, sem qualquer condição para ocupar o cargo ao qual foi elevado por uma outra boa metade de iludidos.
Praticamente todas as pessoas sensatas gostariam de vê-lo longe, assim como boa parte da comunidade de negócios, que já constatou que o homem é um perigo evidente para a recuperação do Brasil.
O problema é justamente como remover o estropício sem causar prejuízos ainda mais graves ao país e isso depende de que forças sociais e políticas tenham uma convergência mínima sobre como fazê-lo e um plano de ação coerente com o objetivo da remoção do inepto.
Não se pode obviamente contar com as FFAA ou com o Congresso atuando de maneira coordenada no sentido adequado. As FFAA são estritamente constitucionais e o sistema político é tremendamente fragmentado, com políticos oportunistas interessados basicamente em vantagens pessoais, não na boa governança do país.
Daí que uma “solução” derradeira só será “encontrada” com uma deterioração ainda mais grave da situação econômica, política e social (já dou por adquirido o completo desprestígio do país no exterior).
Estou consciente de que isso pode significar uma completa anomia no funcionamento do Brasil como Estado “normal”, mas esse parece ser o preço por termos na presidência um inepto que conseguiu dividir o país ainda mais profundamente do que o fizeram os petistas. 
Não tenho nenhuma ilusão de um apelo a lideranças mais sensatas do Congresso — porque não as há — possa abreviar o sofrimento de um país que já vem de um profundo stress desde que a inepta da terceira presidente do lulopetismo assumiu as rédeas do governo.
Ou seja, lamento ser pessimista, mas nosso processo de deterioração institucional deve continuar, com o consequente agravamento do ambiente geral da sociedade, na direção da anomia já referida.
O nome da doença já temos; mas o diagnóstico preciso e a devida prescrição ainda estão faltando.
A minha receita é impeachment, por crimes e violações constitucionais já identificadas; mas não existe o necessário consenso político para iniciar o processo, e representantes eleitos com coragem suficiente para tocar o barco. 
Concluo: a vaca vai para o brejo. Isso é matemático.

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 19/10/2019

Livres debate políticas públicas em S. Paulo

Eleições 2020: evento Cidades Livres ocorre em São Paulo

18 de outubro de 2019 0  Por DANIEL
André Sturm, Caio Miranda, Andrea Matarazzo e Paulo Gontijo são alguns dos palestrantes presentes no evento
Debatendo e buscando soluções de temas como mobilidade urbana, saneamento básico e educação, o movimento Livres percorrerá o país com o Cidades Livres, uma série de conferências que discutirá alternativas em políticas públicas para os municípios brasileiros, visando a formação de uma agenda para as eleições de 2020.
O evento acontece no dia 21 deste mês, segunda-feira, às 9h, no Centro Ruth Cardoso, Jardim Paulista. Em São Paulo terá uma edição especial da conferência, debatendo sobre soluções liberais para construir uma capital paulistana com mais qualidade para todos.
Estarão presentes nomes como André Sturm, cineasta, ativista cultural e ex-diretor do Museu da Imagem e do Som de São Paulo; Caio Miranda, vereador (PSB-SP); Andrea Matarazzo, empresário, radialista e político brasileiro, e Paulo Gontijo, presidente do Livres.
Serviço
Evento: Cidades do Futuro | Cidades Livre São Paulo
Data: 21 de outubro
Horário: 9h às 13h
Local: Centro Ruth Cardoso – Rua Pamplona 1005, São Paulo-SP
Valor: Gratuito para Associados adimplentes do Livres e R$ 25,00 para não associados.
Ingressos: https://www.eventbrite.com.br/e/cidades-livres-sao-paulo-tickets-75688786197?fbclid=IwAR1e0Gaz3LOKZknlNVzKSAULPsy-9ieyVQl0E6lNjwZ5jxcmGiSpPvq8pGA
Sobre o Livres
O Livres é um movimento liberal suprapartidário que promove engajamento cívico e desenvolvimento de lideranças, projetos de impacto social e propostas de políticas públicas para aumentar a liberdade individual no Brasil. Com mais de 2 mil associados entre todas as regiões do país, o Livres possui 15 mandatários associados (1 senador, 3 deputados federais, 5 deputados estaduais, 1 prefeito e 5 vereadores) e um Conselho Acadêmico composto por Elena Landau, Leandro Piquet, Persio Arida, Ricardo Paes de Barros, Samuel Pessôa, Sandra Rios e Paulo Roberto de Almeida. Constituído formalmente como associação civil sem fins lucrativos desde 2018, o movimento nasceu em janeiro de 2016 como uma tendência partidária incubada no PSL com o propósito de renovar o partido, mas deixou a sigla por divergir da entrada do então pré-candidato à presidência Jair Bolsonaro.
Para saber mais: https://www.eusoulivres.org/

BBC explica a globalização pelos produtos

Como as especiarias mudaram o mundo

O apetite insaciável por temperos de outras partes do mundo foi o pontapé inicial da globalização.
Feito da Terra é uma série da BBC em oito episódios, explorando como oito produtos influenciaram a economia global.
Clique abaixo para assistir aos três primeiros episódios da série Feito da Terra:

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

A tragedia da diplomacia americana sob Trump - William J. Burns (Foreign Affairs)

Se ouso mimetizar o artigo de Bill Burns, seria para também lamentar o desmantelamento da diplomacia brasileira, mas não desde meio século apenas, como ele faz, mas nos últimos DUZENTOS ANOS. José Bonifácio foi nosso primeiro chanceler, e conduziu um delicado processo de afirmação do novo Estado em construção e seu reconhecimento no plano internacional, inclusive por meio de sua atuação como constituinte, até ser afastado e exilado pelo imperador, o que mergulhou a diplomacia numa primeira fase de confusão e incertezas. 
Com o início do funcionamento pleno da Assembleia Geral, e o escrutínio que os parlamentares exerceram sobre a diplomacia, o papel da diplomacia na construção da nação – para usar o título que o embaixador Rubens Ricupero deu ao seu livro que já nasceu clássico – pode se exercer de maneira plena, e ao longo das décadas seguintes a política externa do Estado serviu aos interesses nacionais, de forma bem estruturada e consciente, com poucas exceções (como a infeliz defesa inconsequentemente do tráfico e da escravidão). Depois, a despeito de uma representação bem mais voltada para a defesa de um Brasil oligárquico e desigual, a diplomacia continuou servindo de maneira efetiva e adequada ao processo de modernização do Brasil. 
Mesmo durante o regime militar – quando eu ingressei na diplomacia profissional – e a despeito de uma adesão de princípio do lado do Ocidente, na defesa contra uma suposta ameaça comunista, a diplomacia serviu com sua proverbial competência ao esforço de modernização material do Brasil, ainda que menos enfática na defesa da democracia e dos direitos humanos. Na redemocratização, e até recentemente, a diplomacia profissional foi absolutamente essencial na configuração e conformação de um papel e de uma imagem internacional eminentemente positivos para o Brasil, como um todo, com alguns problemas que detectei durante a era lulopetista, dada a empatia dos companheiros por regimes execráveis na região, como a ditadura castrista e os bolivarianos chavistas, além da corrupção nos negócios com ditaduras africanas e os mesmos regimes em nossa região.
O que se vê na atualidade, porém, é um rebaixamento inacreditável dos padrões de qualidade da nossa diplomacia, devido à direção aloprada exercida sobre o Itamaraty por um serviçal da Família Bolsonaro e seus gurus ineptos e incompetentes em relações internacionais. Isso passa, evidentemente, pelo próprio chefe de Estado, um notório inepto nesse quesito, pelo seu filho ambicioso, mas despreparado para qualquer função na diplomacia, pelo atual conselheiro presidencial nessa área, um verdadeiro true believer fundamentalista, discípulo do suposto guia das novas orientações governamentais, um cidadão sem qualquer qualificação em assuntos internacionais. Juntos, esses responsáveis conduziram a diplomacia brasileira a uma "demolição" inacreditável, para usar o conceito de Bill Burns, uma adesão sabuja e grotesca a um outro desmantelador da diplomacia americana, o presidente trambiqueiro que está destruindo toda a ordem internacional construída laboriosamente pelos Estados Unidos desde Bretton Woods. 
A atual diplomacia brasileira envergonha o país e o corpo profissional de diplomatas, e eu tenho os personagens acima citados como responsáveis por essa diminuição de nossa reputação e pelo rebaixamento do prestígio internacional do Brasil.
Isso passará, um dia, estou seguro disso. Por enquanto fico na resistência.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 18 de outubro de 2019


The Demolition of U.S. Diplomacy

Not Since Joe McCarthy Has the State Department Suffered Such a Devastating Blow

In my three and a half decades as a U.S. Foreign Service officer, proudly serving five presidents and ten secretaries of state from both parties, I’ve never seen an attack on diplomacy as damaging, to both the State Department as an institution and our international influence, as the one now underway.
The contemptible mistreatment of Marie Yovanovitch—the ambassador to Ukraine who was dismissed for getting in the way of the president’s scheme to solicit foreign interference in U.S. elections—is just the latest example of President Donald Trump’s dangerous brand of diplomatic malpractice. His is a diplomacy of narcissism, bent on advancing private interests at the expense of our national interests.
Ambassador Yovanovitch is not the first professional diplomat to find herself in political crosshairs in the history of the State Department. Trump is not the first demagogue to bully career personnel. And Secretary of State Mike Pompeo is not the first secretary of state derelict in his duty. But the damage from this assault—coming from within the executive branch itself, after nearly three years of unceasing diplomatic self-sabotage, and at a particularly fragile geopolitical moment—will likely prove to be even more severe to both diplomatic tradecraft and U.S. foreign policy.

THE NEW MCCARTHYISM

Almost 70 years ago, in the early years of the Cold War, Senator Joseph McCarthy conducted a savage campaign against “disloyalty” in the State Department. Partisan investigators, untethered to evidence or ethics, forced out 81 department employees in the first half of the 1950s. Among them was John Paton Davies, Jr., an accomplished China hand. His sin was to foresee the communist victory in the Chinese Civil War. Davies was subjected to nine security and loyalty investigations, none of which substantiated the paranoid accusation that he was a communist sympathizer. Nevertheless, in a moment of profound political cowardice, Secretary of State John Foster Dulles fired him.

Purging Davies and his colleagues was not only wrong but also foolish. The loss of such expertise blinded American diplomacy on China for a generation and had a chilling effect on the department and its morale. One of the United States’ most distinguished diplomats, George Kennan, was also pushed out of the Foreign Service during this era. He tried to defend Davies, who had served with him in Moscow and on the Policy Planning Staff, to little avail. Years later, Kennan wrote in his memoirs that McCarthy’s onslaught and the department’s failure to defend its employees was the most “sobering and disillusioning” episode of his long career.
That Senator McCarthy’s chief counsel, Roy Cohn, was also Donald Trump’s lawyer and mentor is one of history’s sad ironies. Trump’s scorched-earth tactics, casual relationship with truth, and contempt for career public service bear more than a passing resemblance to the playbook that Cohn wrote for McCarthy. And when Trump cried out for a “new Roy Cohn” to replace the late original, it was hardly a surprise that former New York Mayor Rudy Giuliani appeared—or that he dove into the muck of the Ukraine scandal and agitated for the removal of a career ambassador whose integrity and expertise proved to be an obstruction.
One might imagine that the State Department’s leadership would stand up to the president and for its personnel—so many of whom are doing hard jobs in hard places around the world. If only that were the case.

Trump’s scorched-earth tactics, casual relationship with truth, and contempt for career public service bear more than a passing resemblance to the playbook that Cohn wrote for McCarthy.
Instead, today’s leaders have shown no more spine than Dulles did. Secretary Pompeo apparently worked around the embassy in Kiev to advance the president’s private agenda, allowed specious opposition research about Yovanovitch to circulate around the department, and sat on his hands as Trump slandered Yovanovitch on the infamous call with Ukrainian President Volodymyr Zelensky and warned ominously that “she’s going to go through some things.” The ghost of Roy Cohn was smiling somewhere.
Even before the Ukraine mess, the Trump administration had been waging a war on diplomacy for nearly three years. The White House regularly pushes historic cuts to diplomacy and development spending, which is already 19 times smaller than the defense budget. Career diplomats are sidelined, with only one of 28 assistant secretary-rank positions filled by a Foreign Service officer, and more ambassadorships going to political appointees in this administration than in any in recent history. One-fifth of ambassadorships remain unfilled, including critical posts.
Not coincidentally, applications to join the Foreign Service have declined precipitously, with fewer people taking the entrance exam in 2019 than in more than two decades. The pace of resignations by career professionals is depressing, the pernicious practice of retaliation against individual officers just because they worked on controversial issues in the last administration is damning, and the silence from the department’s leadership is deafening.

AGAINST THE AMERICAN INTEREST

Last spring, I wrote an essay in Foreign Affairs called “The Lost Art of American Diplomacy.” It was meant less as an elegy than as a reminder of diplomacy’s significance. I’m feeling much more elegiac today.
To clean up the institutional wreckage in the State Department will take many years. The damage to our influence and reputation may prove to be even longer lasting—and harder to repair.
The practical consequences are not hard to discern. If a U.S. ambassador doesn’t speak for the president, and the embassy is seen as an enemy of the White House, why would the local government take seriously its diplomatic messages? Why use official channels, rather than speak directly to the president’s personal lawyer and his grifting confidants? If the key to unlocking aid is stroking the president’s vanity, why undertake the hard work of economic or political reform, with all the risks that entails?

For dictators, Trump is the gift that keeps on giving, a non-stop advertisement for Western self-dealing.
The president’s actions distort diplomatic practice and decapitate the American interest. Because of them, a new Ukrainian administration is all the more exposed to corruption and democratic backsliding, and all the more vulnerable to Russian manipulation and aggression. Russian President Vladimir Putin, professionally trained to manufacture compromising material on all sorts of opponents, couldn’t have produced a more disruptive document than the summary of the Trump-Zelensky call last July, which has sowed political dysfunction in both Washington and Kiev.
By using his public office for personal gain, Trump has affirmed Putin’s long-held conviction—shared by autocrats the world over—that Americans are just as venal and self-absorbed as they are, just more hypocritical about it. For dictators, Trump is the gift that keeps on giving, a non-stop advertisement for Western self-dealing. So much for enlightened self-interest. So much for the power of our example. So much for our credibility.
We are digging a deep hole for ourselves in a world that is changing fast, filled with players who won’t wait for us to stop digging and a landscape that is quickly hardening against U.S. interests. Our allies are confused. Our adversaries are quick to take advantage. The institutions and coalitions we shaped over decades are wobbling. The confidence of the American people in the power and purpose of disciplined American leadership is evaporating.

THE URGENCY OF RENEWAL

The Trump administration’s dereliction of duty takes place at a time when the United States will need to rely on diplomacy more, not less, to advance its interests and values in an ever more competitive world.
I closed my essay six months ago on a reasonably optimistic note. I acknowledged that a long, tough journey lay ahead—that American diplomacy would take a lot longer to fix than it has taken to break. But I also emphasized the opportunity before us, which the malpractice of the Trump administration has thrown into sharp relief. The journey toward renewal will be even more arduous now, and even more urgent.

A arma do riso como resistência democrática- Paulo Roberto de Almeida

A resistência pela via do humor.
Paulo Roberto de Almeida

A melhor maneira de retirar legitimidade a um governo medíocre e perverso, do ponto de vista dos valores democráticos, é abrir caminho para o seu enfraquecimento, pela via do ridiculo e da chacota. 
Não cabe opor-lhe resistência organizada em movimentos contrários, pois isso poderia dividir ainda mais a sociedade e resultar em violência, o que sempre oferece riscos para a institucionalidade democrática.
Expor as vísceras de um governo desprezível pelo método do riso e da gozação permite que as pessoas reflitam sobre a fragilidade dos aparentemente poderosos, contrariando seus desejos de serem vistos como grandiosos e esclarecidos.
Não por outra razão, cartunistas, chargistas, humoristas, cronistas do desenho caricatural, são vistos como os piores inimigos de ditadores e de personalidades autoritárias, e por vezes sofrem as consequências por serem os reveladores dos ridículos desses seres grotestos. 
Hitler terminou com o riso na Alemanha de Weimar. Stalin tinha horror aos poetas livres. Mao fez pior: anunciou a politica das “mil flores” para depois ceifá-las impiedosamente na primeira grande onda de repressão política.
Minha mensagem pessoal aos democratas da atualidade brasileira: o governo da Bolsofamiglia é absolutamente ridículo, e como tal deve ser considerado por todos aqueles que ainda conservam certo sentido de humor nas presentes circunstâncias.
No que me concerne particularmente, a Bolsodiplomacia expõe o Brasil e o Itamaraty ao desprestígio universal, e por isso suas características ridículas devem ser expostas claramente por todos os profissionais da carreira que prezam pela dignidade da instituição.
Cabe, finalmente, recorrer ao velho latim, não para qualquer tipo de exibicionismo ridículo como faz habitualmente o chanceler acidental, mas para reforçar o nosso método:
Ridendo castigat mores!
Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 18/10/2019

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Harold Bloom: uma memória prodigiosa (NYRBooks)

‘His Mind Was Itself a Library’: Harold Bloom, 1930–2019

Tanya MarcuseHarold Bloom, June 2019
When my wife, the photographer Tanya Marcuse, and I went to visit Harold Bloom at his home in New Haven in June, for Tanya to take his portrait, we didn’t plan to spend time in his study. As we knew from a previous visit, Bloom was too weak to move far from the cluttered dining room table where he both worked—writing, or rather dictating, several books at any one time—and received the many admirers, protégés, and students who paid him visits, at his invitation. His study was far away, up two flights of stairs that Bloom had not been able to climb for several years. But he insisted we go there, to see a William Blake watercolor hanging on the wall.
We were Bloom’s only company that morning, apart from his caregivers; his wife, Jeanne, was out shopping, and he seemed lonely at his table, a king without a court. Perhaps his stream of well-wishers had dried up, frightened by his extreme frailty. Bloom’s hands were skeletal and palsied, their skin nearly translucent; yet his eyes, and his mind, were sharp. He willingly, even proudly, posed for Tanya’s portrait camera, insisting that his chair—into which he was strapped by a safety harness—be repositioned to give a better angle. Then, he sent us upstairs.
In the wood-paneled room on the house’s third floor, where Bloom had studied and written for decades, we took stock of a life of letters such as few have led and fewer still, in the screen-ridden ages to come, will lead again. Every shelf swelled with the works of matchless poets and timeless critics; thinner volumes were wedged sideways above the serried rows. Stacks of more recent volumes lay about the floor; a quick glance revealed that most, perhaps all, had been lovingly inscribed by their authors. A plain cardboard box marked “Articles on Harold” contained piles of newspaper and magazine profiles. The faded Blake print was nearly lost amid a welter of words, words, words.
Across the hall were two small rooms, one an ancient bathroom, another a bedroom likely not slept in for years. We wondered how hard it must have been for Bloom to abandon this floor, when his strength would no longer allow him to reach it. By then, as we knew from a daughter of ours who’d studied with him, his mind was itself a library, containing vast stretches of Shakespeare, Stevens, Donne, Dickinson, Bishop, and many others. He needed no books to teach English poetry; he quoted at length, from memory, passages he had lived with for decades. A cadre of literature students, whom he addressed as “children,” met in his home for these virtuosic classes once his physical decline had immobilized him. Some found his manner patronizing or patriarchal; his habit of praising women’s looks made many squirm, and more serious allegations have been reported. But no one could deny his critical insight.
Back downstairs in the dining room, Bloom inscribed for us one of his latest volumes, an entry in his four-part series on “Shakespeare’s Personalities.” As his shaking hand struggled to sign his name, I thought of the line from As You Like It describing extreme old age: “Sans teeth, sans eyes, sans taste, sans everything.” Yet Bloom, at eighty-nine, still had his teeth and vision, and his taste—his appreciation of great verse, especially—seemed only to grow with the passage of time. His life did not end in “second childishness and mere oblivion,” the fate of senility forecast in that play, but in clarity, knowledge, and grace. 
Tanya MarcuseBloom’s study, New Haven, June 2019