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sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

O novo Iluminismo de Steven Pinker

O texto é grande mas copio para quem não assina porque o Estadão PERMITE que se faça a cópia direta. Sem nem 1% da capacidade do Pinker para fazer as mesmas afirmações que ele faz, baseadas em DADOS que pesquisou e analisou atentamente, também acho, do meu ponto de vista de historiadora (o dele é de psicólogo) que o mundo atual é MUITO MELHOR do que o do passado! Sempre sorrio com os "catastrofistas" e com aqueles comentários de "onde vamos parar?" o mundo "atual" é de uma violência "nunca vista"(nunca vista porque antes não havia internet, digo eu...), etc etc.
E, na batalha que estamos no Brasil para impedir que se dissemine o obscurantismo, é fundamental prestar atenção no fato de que, como ele diz, "o iluminismo é um PROCESSO CONTÍNUO". Fiquemos atentos!
A entrevista vale MUITO a leitura!

O novo filósofo do Iluminismo: uma conversa com Steven Pinker
 05/12/2019 Estado da Arte
Por Gabriel Almeida Prado

Steven Pinker poderia ser um acadêmico como qualquer outro. Professor de psicologia da Universidade de Harvard, onde obteve seu doutorado em 1979, Pinker fez uma carreira investigando a linguagem e a cognição humana. Seu trabalho é ainda hoje bastante influente entre os pesquisadores da área, mas certamente não foi o que fez ele deixar de ser um acadêmico como qualquer outro. Explicar como crianças aprendem verbos irregulares pode até fazer sucesso entre cientistas cognitivos, mas não incita o calor das massas.

            Foi quando começou a escrever para o público geral que passou a chamar atenção. Em 2002, publicou Tábula Rasa, livro em que argumenta que o comportamento humano é substancialmente regido pela nossa história evolutiva e que características como as habilidades matemáticas ou a propensão à violência estão sujeitas a uma forte influência genética. Desagradou diversos acadêmicos que alegam que o que chamamos de natureza humana é só um conjunto de construções sociais, e que é a cultura — ou as condições materiais — que determina como pensamos e agimos. Seu ativismo a favor da ciência também acumulou descontentes, como grupos religiosos. Controvérsia a controvérsia, Pinker foi deixando de ser um acadêmico como qualquer outro para se tornar uma mente afamada do debate público, um nome indispensável nas listas de pessoas mais influentes do mundo

            No ano passado, ele voltou ao foco das atenções com seu novo livro, O Novo Iluminismo. A polêmica da vez?          
Ele já havia tratado do tema em um livro anterior, Os Anjos Bons da Nossa Natureza, publicado em 2011. Nele, Pinker argumenta que a violência tem declinado década após década e apresenta estatísticas para explicar por quê. Agora, em O Novo Iluminismo, ele vai além: não foi só em segurança que o mundo melhorou, mas também em democracia, longevidade, educação, paz, direitos civis… a lista continua. As razões do progresso? As ideias defendidas pelos filósofos iluministas, como a uso da ciência para entender o mundo e aprimorá-lo. O livro se tornou o favorito de Bill Gates e angariou elogios de diversos intelectuais, como o biólogo Richard Dawkins e o historiador Yuval Harari.
            Junto com a recepção positiva, veio uma quantia significativa de críticas. Foi acusado de desmerecer os problema do mundo e de ser um “evangelista da ciência” e defensor do neoliberalismo.

            Pinker me recebeu em seu escritório para conversar sobre o livro, suas ideias e seus críticos. A sala parece uma materialização das coisas que devem ocupar sua cabeça: pedaços de cérebro e reproduções da mente humana, prêmios nas paredes, artefatos esquisitos como uma réplica da barra de ferro que atingiu o famoso paciente neurológico Phineas Gage, e livros — muitos livros. Com seus longos cachos grisalhos e uma camisa azul (ele parece só usar azul ou roxo), ele sentou à minha frente na poltrona em que recebe visitas. Antes que eu pudesse começar a entrevista, uma mulher entrou na sala com um livro nas mãos: ela queria que Pinker autografasse pois daria o livro de presente. Após essa distração, pudemos começar nossa conversa.

Em seu novo livro, você usa evidências e dados para defender a tese de que o mundo nunca esteve melhor. A qualidade de vida tem crescido em todo mundo e as pessoas estão mais seguras, mais saudáveis e mais felizes. O que lhe motivou a escrever sobre isso?
Em parte foi a surpresa de descobrir esses fatos. Como a maioria dos leitores de jornais, eu partia do princípio de que as coisas estavam piorando porque as notícias são uma amostra não-aleatória das piores coisas acontecendo no mundo em um determinado dia. E num mundo com sete e meio bilhões de pessoas, sempre haverá coisas terríveis acontecendo todos os dias. Foi só quando eu vi gráficos, a começar pela violência, mostrando que as taxas de crimes violentos tinham caído; taxas de mortalidade e de guerra, número de países com violência institucionalizada como a pena de morte e a tortura: historicamente todos eles apresentam uma tendência de queda. E foi por meio de uma série de coincidências que eu me deparei com esses gráficos e percebi que muitas pessoas não sabem sobre eles, que valeria a pena colocá-los entre duas capas e explicar por quê. Como psicólogo, eu não fico satisfeito apenas vendo um monte de tendências e dizendo “Bem, é assim que o mundo funciona.”, eu quero saber por quê. E certamente quando se trata do progresso, da vida melhorando, é como um mistério, porque as forças do universo não melhoram a vida naturalmente; elas pioram a vida. As coisas quebram, a desordem aumenta…

A evolução é um processo competitivo, então não importa o quão feliz e saudáveis nós estamos, sempre há parasitas e germes evoluindo para nos atacar. Como conseguimos melhorar nossa vida mesmo assim? Quando se trata de violência, atuando como psicólogo, eu fiz a pergunta de por que somos violentos para começo de conversa. Quais os diferentes motivos que fazem as pessoas violentas? E quais as partes da natureza humana que inibem nossos impulsos violentos? E então, o que há em uma determinada sociedade em uma determinada época que faz com que nossos “anjos bons”, como colocou Abraham Lincoln, controlem nossos impulsos violentos? Ao fazer essa pergunta de forma mais abrangente, para incluir não somente a violência mas também coisas como saúde, longevidade, democracia e educação, eu olhei para as ideias que permitiram que as pessoas melhorassem a condição humana. E eu usei o Iluminismo como uma diretriz, como um termo geral para os processos históricos que nos permitiram melhorar nossa situação, a saber a razão, a ciência e o humanismo. A razão e a ciência sendo a tentativa de entender o mundo para que possamos mudá-lo, o humanismo sendo o objetivo de aplicar nosso conhecimento para fazer a vida dos seres humanos melhor.

Em suas obras anteriores, você era conhecido por sua defesa do impacto dos genes em nosso comportamento e pela tese de que existe algo como uma natureza humana — características inatas e universais da humanidade. Escrever sobre propensões à violência fez você ser visto como tendo uma visão pessimista da humanidade, mas agora você é visto como o cara mais otimista do pedaço. O que mudou?
[Rindo] Sim, eu estou bastante ciente desse conflito. E é um conflito. Eu comecei meu interesse pela violência em meu livro defendendo a própria ideia de natureza humana, The Blank Slate em inglês — e acho que em português era Tábula Rasa. Primeiro de tudo, nós temos sim propensões violentas: você  pode ver isso em crianças de dois anos de idade que chutam, mordem e batem, você vê isso em nossos parentes primatas, você vê isso no fato de que a violência é um universal humano: não existe sociedade sem violência e não importa quão longe você volte na história e na pré-história, você vê sinais dela. Mas, ao mesmo tempo, eu questionei a objeção que as pessoas têm ao aprender sobre esses dados, que era: “Nós não queremos que isso seja verdade, porque se for verdade isso indicaria que a violência é inevitável, que a guerra é inevitável, que seria inútil tentar buscar um mundo mais pacífico porque a guerra está nos nossos genes, ou em nossa natureza, e não queremos que isso seja verdade”. Então, em Tábula Rasa, eu argumentei que, primeiro de tudo, essa não é uma implicação lógica: mesmo se realmente tivermos propensões violentas, isso não significa que estamos condenados à violência porque a natureza humana é complexa, tem várias partes. Junto com nossas propensões à violência nós temos “anjos bons” que podem inibi-las, como o auto-controle, a empatia, as normas morais e os processos cognitivos que nos permitem resolver problemas. Se definirmos a violência como um problema a ser resolvido, então podemos pensar em soluções e alternativas para reduzi-la, como o sistema judiciário, o Estado de direito, as forças de paz, as normas contra a violência. E eu mencionei [no livro], de passagem, que havia exemplos claros na história em que a violência diminuiu, como a abolição da escravatura, a queda do Império Soviético, a redução dos homicídios desde a Idade Média (um fato com o qual eu tinha me deparado). E foi depois que eu publiquei isso que eu comecei a receber correspondência de acadêmicos de outros campos — sociólogos, cientistas políticos, economistas — dizendo: “Você poderia ter adicionado muito mais exemplos à sua lista”. Que não era só na Inglaterra que a violência havia diminuído desde a Idade Média, mas em todos os países europeus, e que as mortes em guerras haviam caído. Eu não tinha percebido que a violência contra as mulheres, como o estupro e a violência doméstica, a violências contra crianças, tudo isso tinha diminuído. E foi [só quando] eu direcionei minha atenção às forças que podem levar a violência para baixo que eu percebi quantos exemplos havia na história.

Se o mundo tem melhorado tanto em tantos aspectos diferentes, o que leva tantas pessoas a acreditar que o mundo está terrível e, mais do que isso, piorando?
Acho que boa parte é devida simplesmente à natureza do jornalismo, que se você tem uma visão de mundo que é movida por acontecimentos — e são acontecimentos repentinos, que é do que se trata o jornalismo —, é muito mais fácil para algo ruim acontecer rapidamente do que para algo bom acontecer rapidamente. Que você pode ter uma ataque terrorista, uma guerra começando, uma crise de fome, uma pandemia, e essas coisas acontecem rapidamente e são consideradas notícias. As coisas boas tendem a consistir de nada acontecendo, como uma região do mundo que não teve nenhuma guerra nos últimos 30 ou 40 anos — mas isso não dá uma manchete. Ou as coisas que mudam gradualmente, como todos os dias 137 mil pessoas escapando da extrema pobreza. Acontecimentos graduais tendem a não ser notícia, então não ficamos cientes deles, enquanto as coisas que dão errado estão no topo dos sites de notícia e ficamos bem cientes delas. Também existe na cultura do jornalismo, além desse viés negativo inerente, um pouco de viés negativo proposital. Muitos jornalistas com os quais eu conversei acreditam que qualquer mudança positiva não é jornalismo real, sério e responsável; que é propaganda para o governo, que é relações públicas corporativas, que é imprensa cor-de-rosa, e que se você é um jornalista responsável você noticia corrupção, fracassos e catástrofes.

Algumas pessoas reconhecem que o mundo melhorou em diversos aspectos, mas argumentam que alguns acontecimentos recentes podem abalar essa tendência geral. Por exemplo, dados da organização Freedom House apontam que houve uma diminuição substancial no número de democracias no mundo e na qualidade das existentes. Vimos também a ascensão de movimentos políticos populistas. Como você vê esses acontecimentos e como eles se encaixam em sua perspectiva otimista?
Bem, eu tendo a resistir à ideia de que é uma perspectiva otimista. É só, na verdade, atenção aos dados. E isso inclui coisas que pioram, porque seria inconcebível que tudo melhorasse em todo lugar todo o tempo. Isso seria um milagre! E o progresso não é um milagre, ele consiste de seres humanos usando o conhecimento para resolver problemas. Mas problemas são inevitáveis, soluções criam novos problemas, então não deveria ser surpreendente que mesmo com esse cenário de progresso as coisas podem dar errado. Ao mesmo tempo, é importante quantificar as mudanças, mantê-las em proporção. É verdade que houve desafios à democracia durante a última década, mas o índice da Freedom House é um dos mais pessimistas — outros não mostram a mesma queda, embora eles certamente mostrem uma desaceleração. Mas mesmo com a Freedom House, em quaisquer das medidas, o mundo nunca esteve mais democrático do que ele esteve nesta década. A América Latina seria um caso para estudo: nos anos 1980, a maioria dos governos eram ditaduras de direita ou militares; hoje a maioria dos países latino-americanos são democracias. E isso é verdade no mundo inteiro. Países como Espanha e Portugal, que tão recentemente quanto nos anos 1970 eram ditaduras fascistas, hoje são democráticos. Todo o Leste Europeu, que estava sob o controle de ditaduras comunistas: todos democráticos. No Leste Asiático: Taiwan, Coreia do Sul, Filipinas. Portanto é fácil se deixar levar pelos países que se tornaram menos democráticos recentemente, como a Turquia e a Rússia, e esquecer o panorama geral. E é verdade que tem coisas que estão piorando, as emissões de carbono sendo um exemplo notável, e outras ameaças ao meio ambiente. E junto com mudanças específicas que são negativas, existem forças políticas e intelectuais que eu diria que estão lutando contra os motores do progresso, entre as quais o populismo autoritário é o exemplo principal. De muitas maneiras o populismo autoritário é um movimento contra-iluminista: ele exalta líderes carismáticos ao invés do processo democrático de pesos e contrapesos; ele glorifica a nação ou a tribo, às vezes a raça, ao invés de dar valor a toda a humanidade; ele tende a depositar muita confiança na religião ao invés de na razão e na ciência; e ele se opõe a algumas instituições específicas inspiradas pelo Iluminismo, como o livre comércio e os mecanismos de governança global, como a União Europeia e a ONU. E é o mais recente de uma série de movimentos que se opuseram aos valores iluministas desde o próprio Iluminismo.

Você mencionou “valores iluministas”. O nome do seu livro no Brasil é O Novo Iluminismo. O que tem de novo no Iluminismo que você defende e como ele é diferente das ideias dos séculos XVII e XVIII?
É, e na verdade eu inicialmente pensei em chamar a versão em inglês de The New Enlightenment [O Novo Iluminismo] — esse era meu título original. O Iluminismo do século XVIII não deveria ser visto como uma fonte de revelação ou uma espécie de era de ouro da qual devemos sentir saudade. Isso iria contra a própria ideia do Iluminismo, que é a de usarmos a razão e a ciência para constantemente atualizar nossas crenças à luz de novas evidências, de novos argumentos e da experiência. Portanto, eu vejo o Iluminismo como um processo contínuo mais do que um período histórico específico. Um dos motivos pelos quais eu acredito que realmente faz algum sentido falar sobre um novo Iluminismo é que  vários dos ideais do Iluminismo original realmente só passaram a existir nos últimos 50 ou 60 anos, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, como os objetivos globais — de eliminação da pobreza no mundo, eliminação da fome —, igualdade para as mulheres, igualdade para os gays, igualdade de raças. Essas ideias foram abordadas no Iluminismo mas meio que se dissiparam, e foi só nas últimas décadas que esses ideais foram realmente implementados. Além disso, houve uma expansão incrível de nosso entendimento da natureza humana, algo pelo qual os philosophes iluministas eram obcecados, mas obviamente tinham muita pouca informação em sua época. Não existia nada como a neurociência, não existia nada como a biologia evolutiva, não existia nada como a genética, não existia nada como a psicologia experimental. Hoje temos uma ciência da natureza humana, o que realiza um dos sonhos dos filósofos iluministas, e nós estamos usufruindo dela hoje.

Em seu livro, você aborda bastante o progresso material, como os avanços tecnológicos e a melhoras nas condições de vida, mas também menciona o progresso moral, como o fim dos regimes autoritários, a abolição da escravatura e a expansão dos direitos civis. Você acredita que existe alguma distinção significativa entre essas duas formas de progresso?
Certamente há uma diferença conceitual significativa. Mas é interessante que, empiricamente, eles nem sempre andam em sintonia perfeita; mas eles tendem a se influenciar. Em média, países que são mais ricos têm muito do que nós geralmente consideramos ser valores morais melhores: igualdade para as mulheres, democracia, ausência de guerras civis, ausência de genocídios, ausência de guerras, mais proteção ambiental, melhor proteção dos direitos dos animais. São países como a Suíça, a Noruega, a Dinamarca, a Nova Zelândia e o Canadá que tendem a estar na vanguarda desses avanços morais. Com algumas exceções! Se você traçar um gráfico do Índice de Progresso Social, que é como uma soma de todas as coisas boas que acontecem em uma sociedade, em relação ao PIB per capita, você verá uma linha bem reta com exceção de alguns países árabes de extração de petróleo, como a Arábia Saudita e o Kuwait, que são podres de ricos mas de muitas maneiras atrasados moralmente, como em relação aos direitos das mulheres.

Um dos críticos da sua obra, o filósofo John Gray, propõe que o progresso moral que você descreve no livro é ilusório. A qualquer momento, nós poderíamos ter um retrocesso imenso. Como evidência disso, poderíamos citar o apoio à tortura após o 11 de setembro, os crescentes movimentos xenofóbicos e homofóbicos nos Estados Unidos, ou os casos de antissemitismo na Europa. Essa crítica afeta sua tese geral?
Pois é — ela está completamente errada! A tendência geral vai imensamente contra a tortura, apesar do aparecimento bem breve da ideia de que suspeitos de terrorismo poderiam ser coagidos a divulgar informações que poderiam salvar vidas, como no “cenário da bomba-relógio”. Você não pode comparar isso de jeito nenhum com o uso da roda de tortura, com a flagelação e a evisceração, com a morte na fogueira para hereges e criminosos, onde a tortura era usada como punição, não como um método de coerção para obter informações para salvar vidas. Agora, isso não é uma defesa da tortura para obter informações para salvar vidas, mas moralmente elas são coisas bem diferentes. E mesmo o uso da tortura para extrair informações foi denunciada rapidamente e logo abandonada. Da mesma forma, […] o fato de que nem 100% do mundo é a favor dos direitos dos gays não significa que o mundo esteja ficando menos tolerante à homossexualidade — pelo contrário. Se você olhar para o número de países que descriminalizaram a homossexualidade, se você olhar para as posições em relação aos gays, pelo menos entre os países ocidentais, para os quais temos dados (na verdade acredito que no mundo todo), a tendência vai imensamente na direção de maior tolerância. Da mesma forma para o antissemitismo: ele certamente não foi extinto da face da terra, mas dizer que depois de séculos de pogroms e expurgos, e depois o Holocausto, que não houve avanços na luta contra o antissemitismo nos últimos 70 anos seria um delírio, iria de encontro aos fatos.

John Gray também lhe chamou de “evangelista da ciência”, sugerindo que você trata a ciência como uma religião e a razão como um dogma. Mas é interessante que tanto você como Gray são ativistas do ceticismo. Como você vê os comentários dele?
O fato de que Gray hipoteticamente alegaria ter um argumento razoável, que o que ele está dizendo é racional, que é uma implicação lógica, significaria que ele próprio tem um compromisso com a razão. Dado que a ciência não é nada mais do que o uso da razão para entender o mundo físico, seria inconsistente produzir um argumento para dizer que quando se trata de entender como as coisas funcionam, deveríamos voltar para a superstição e a intuição. Então ele seria completamente inconsistente se ele não fosse um um ativista da ciência para entender o mundo. E de fato o ceticismo é o fundamento da razão, pelo menos desde Descartes e provavelmente antes, desde Erasmo. Não podemos aceitar nada pela fé, mas devemos ser persuadidos pelas evidências e pela lógica. Então sim, nós compartilharíamos o ceticismo como um ponto de partida, apesar de que ser cético sobre tudo a despeito de evidências e argumentos também não seria racional — apenas ter um ônus da prova de que uma pessoa só deve acreditar em coisas para as quais há evidências e argumentos.

Nessa tendência de progresso moral da qual temos tratado, há movimentos crescentes nas universidades nos Estados Unidos e no Brasil para limitar a liberdade de expressão de discursos ou palestrantes considerados reacionários ou conservadores. Ativistas pela justiça social argumentam que o racismo, a homofobia e o machismo não devem ser considerados parte da liberdade de expressão, e que precisamos de estratégias como não dar palanque a essas pessoas e criar espaços livres desses discursos para garantir o progresso moral que atingimos nessas áreas. Como você vê esses movimentos?
Eu sou um forte opositor desses movimentos, por diversas razões. Uma delas é que se eles querem justificar qualquer uma de suas ações, eles próprios estão exercendo a liberdade de expressão, e a menos que eles estejam dispostos a alegar que são infalíveis, oniscientes e angelicais, eles não podem negar esse mesmo direito às pessoas que discordam deles. Em segundo lugar, dado que os seres humanos falham, que as convicções de qualquer época e local podem ser — e frequentemente foram — demonstradas falaciosas em retrospecto, isso significa que se buscamos o progresso moral, fazer do mundo um lugar melhor, nós temos que deixar as opiniões serem expressas e avaliadas, já que esse é o único caminho para o conhecimento. Ninguém é inspirado por Deus, ninguém é infalível, nem mesmo o Papa — apesar de alegações do contrário —, e expressar opiniões e permitir que elas sejam avaliadas é o único caminho pelo qual podemos obter progresso. E também a história nos mostra que ideias que tomamos como certas hoje foram polêmicas em suas épocas, que as pessoas que primeiro se opuseram, digamos, à escravidão, ou à perseguição dos hereges, ou ao direito divino dos reis, ou à negação dos direitos das mulheres, ou à glorificação da guerra, todos essas ideias foram opostas em seus tempos por vozes heterodoxas, polêmicas, e até “nocivas”. Temos que ser gratos agora que suas opiniões foram expressas em suas épocas e eventualmente foram vitoriosas e, portanto, nos tempos atuais, temos que preparar terreno para ideias desconfortáveis, porque não sabemos, até que permitamos que elas sejam avaliadas, se elas têm mérito ou não.

Como um defensor da razão, você também trata de muitas situações em que as pessoas não pensam racionalmente. Como você sabe, há uma área de pesquisa crescente que busca entender como e por que cometemos erros de raciocínio. Como pessoas leigas podem usar essas novas descobertas para tomar decisões melhores?
Eu acredito que precisamos estar cientes de nossas próprias limitações. Que deveria ser parte da sabedoria de toda pessoa educada que a intuição humana do dia a dia é falha, que todos nós somos vulneráveis a ilusões e vieses, e que precisamos estar cientes deles, tentar colocá-los de lado. [Temos que] perceber que nossa confiança em anedotas, por exemplo, não deveria ser a base de nosso conhecimento sobre o mundo, que nossa tendência a pensar em estereótipos sempre merece ser repensada, e que vieses como a falácia dos custos irrecuperáveis e a falácia da regressão à média… tem uma lista saudável de irracionalidades previsíveis da mente humana que uma pessoa educada, e as instituições da razão, como as universidades, a imprensa e o Estado, devem estar cientes e buscar combater.

Deveríamos ensinar esses erros cognitivos nas escolas?
Eu acho que sim. Eu acho que isso deveria ser uma parte tão básica da educação quanto a alfabetização e a aritmética: o pensamento crítico.

A existência da natureza humana, que você defendeu em livros anteriores, é uma ideia ainda muito controversa, especialmente em departamentos de ciências humanas. Muitos acadêmicos alegam que nossos comportamentos e ideias são socialmente construídos, e não universais, e você escreveu um livro inteiro contra-argumentando essas ideias. Por que você acha que ainda existe tanta resistência à ideia de natureza humana?
É, você está certo de que existe resistência. Eu tenho um paper que vai sair daqui a algumas semanas sobre a universalidade da música, com um time de Harvard, em que incluímos no apêndice uma sondagem com antropólogos sobre se música é universal, se existe nas sociedades que eles estudaram. Recebemos muitas respostas inflamadas, de que isso é racista e colonialista; bizarramente dado que você poderia imaginar que mostrar que algo é universal provaria a igualdade de toda a humanidade, mas não. Uma razão é que muitos intelectuais ficam aterrorizados com a ideia de que se a natureza humana existir pode haver diferenças entre os sexos, entre indivíduos, entre grupos étnicos, e isso justificaria a discriminação e a opressão. Eu defendo que isso é um non sequitur, que é ilógico, que o princípio da igualdade é de que as pessoas devem ser tratadas de forma justa como indivíduos e não por preconceitos pelas estatísticas de seus grupos. E portanto podemos afirmar o princípio da igualdade mesmo que seja o caso que grupos de pessoas não sejam indistinguíveis; isto é, que o conceito de equidade não deve ser confundido com o de homogeneidade. A segunda objeção é um medo do fatalismo, que se seres humanos têm defeitos “de fábrica”, então nunca poderemos ter uma sociedade perfeita; logo seria uma perda de tempo tentar fazer do mundo um lugar melhor. Eu defendo que isso também é um erro básico, porque como a natureza humana é complexa, nós temos características bem desagradáveis mas também temos empatia, temos auto-controle, temos cognição, temos linguagem, e podemos pensar em alternativas para os defeitos em nossa natureza. Isso abre caminhos para melhora, e como falamos anteriormente na entrevista, eu mostrei que isso aconteceu de fato quando se trata de violência. Um terceiro medo é o medo do determinismo, de que se nosso comportamento é determinado por nossa história evolutiva, por nossos genes, por nossos estados mentais, então ninguém poderia ser considerado responsável por suas ações, que todo mundo terá uma desculpa: “Não fui eu! Meus genes me fizeram agir assim!” e ninguém poderia ser considerado responsável por nada. Agora isso, por sinal, atravessa o debate de “natureza versus criação”, porque mesmo se formos determinados pelo nosso ambiente, você pode dizer: “Bem, eu tive uma infância triste, sou uma vítima de abuso, tive um trauma, e por isso eu matei o vendedor”. Portanto eu acredito que essa objeção se aplica aos dois lados [do debate], mas é também irrelevante porque todos os fatores que influenciam o comportamento são probabilísticos; o determinismo é a rigor falso no sentido de ser capaz de prever exatamente o que alguém vai fazer. E, de qualquer maneira, se nós queremos considerar as pessoas culpadas, estamos, paradoxalmente, esperando que o comportamento delas seja previsível, isto é, nós presumimos que se ameaçarmos alguém com punição ou vergonha, este alguém melhorará o seu comportamento. Então na verdade nós estamos contando com alguma previsibilidade no comportamento pelo próprio ato de considerar as pessoas culpadas, por recompensá-las por coisas boas e puni-las por coisas ruins. A propósito, existe um medo mais confuso de que se for o caso que somos criaturas biológicas, de alguma maneira a vida perde todo o sentido e propósito, um medo da ideia de que nós morremos quando nosso cérebro para de funcionar. Que razão existe para viver uma vida moral se não vamos para o paraíso, ou não temos que nos preocupar com ir para o inferno? Se não temos uma alma imortal que pode sobreviver à morte do cérebro? E eu defendo que essa também é uma crença ilógica, que a moralidade vem do fato de que cada um de nós quer prosperar e florescer, que preferimos estar vivos a estar mortos, preferimos estar saudáveis a estar doentes, preferimos ser educados a ser ignorantes, e é inconsistente querer todas essas coisas para você sem desejar o mesmo para todo mundo. A moralidade vem da universalização de suas próprias preferências e isso dá sentido à vida: tornar a vida o mais benéfica possível para o maior número de pessoas possível; eliminar a fome, a doença, a guerra e a ignorância; e eu acho que isso fornece razões suficientes para a existência.

Nós conversamos bastante sobre progresso moral, então para terminar eu gostaria que você fizesse uma previsão. A humanidade mudou muitas de suas convicções morais nos últimos séculos. Quais de nossas convicções morais atuais você imaginaria que serão questionadas nas próximas décadas ou séculos?
Eu suspeito que nosso tratamento dos animais — esse é um candidato óbvio. Provavelmente algumas das práticas punitivas do sistema de justiça criminal; certamente punir crimes sem vítima como a posse de drogas e possivelmente a prostituição, e em geral a severidade da punição criminal. [Eu suspeito] que possamos pensar em maneiras melhores de influenciar o comportamento do que trancar pessoas por longos períodos de tempo. Vejamos… Eu suspeito que ter armas nucleares será visto como algum tipo de insanidade moral — mesmo que não as usemos, o fato de que temos a capacidade de causar mortes e destruição em larga escala. É também concebível que a lentidão em agir a respeito das mudanças climáticas poderia ser visto como um crime moral se as futuras gerações sofrerem por nossa inação hoje.

O caos da extrema-direita: os engenheiros do caos - João Paulo Charleaux

‘O caos criado pela extrema direita é calculado’

O cientista político Giuliano da Empoli fala ao ‘Nexo’ sobre os ‘engenheiros do caos’, que usam as redes para impulsionar a nova onda populista
O cientista político franco-italiano Giuliano Da Empoli pesquisa a relação entre as redes sociais e a ascensão ininterrupta da extrema direita populista no mundo.
Para ele, esse movimento – que no Brasil é liderado pelo presidente Jair Bolsonaro – é fruto de uma mistura entre intuição e cálculo. A intuição é parte da habilidade política desses novos líderes. O cálculo é parte do trabalho do que o autor chama de “engenheiros do caos” – nome dado por ele aos especialistas em transformar algoritmos em votos.
O tema foi exposto por Da Empoli em seu livro mais recente, cujo título é auto-explicativo: “Os engenheiros do caos: Como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições”, disponível em português, no Brasil, pela editora Vestígio.
No livro, Da Empoli mostra como a lógica do engajamento nas redes se sobrepôs à do engajamento político tradicional. Nas redes, o motor do engajamento é o susto, o medo, o escândalo e a superexcitação permanentes, não importando se o conteúdo que circula é verdadeiro ou falso.
Na política, o engajamento costumava ocorrer por um longo caminho de militância e busca de consensos. Esse caminho, diz ele, foi ultrapassado por uma lógica que demanda da política a mesma resposta satisfatória, imediata e narcisista que qualquer aplicativo promete hoje em dia. Os “engenheiros do caos” perceberam essa mudança e tomaram as rédeas do processo, em benefício da extrema direita populista atual.
Nesta entrevista, concedida ao Nexo por telefone, no dia 2 de dezembro, Da Empoli – que já foi conselheiro político do primeiro-ministro italiano Matteo Renzi e hoje dirige o centro de estudos Volta – falou sobre o trabalho desses “engenheiros do caos” no mundo e particularmente no Brasil atual.

Como os estrategistas dos atuais partidos populistas de extrema direita manipulam e se beneficiam da circulação de emoções negativas nas redes sociais, como raiva, ressentimento e desconfiança do eleitorado?

Giuliano Da Empoli Os engenheiro do caos, como eu os chamo no livro, são personagens que importaram para a política a lógica das grandes plataformas de internet. O Google, o Facebook e o Youtube têm no engajamento de seus usuários o principal parâmetro de sucesso. Esses engenheiros políticos funcionam da mesma forma – eles vão utilizar todos os conteúdos possíveis para conseguir o engajamento de seu próprio público.
Nessa empreitada, esses engenheiros analisam em detalhe as opiniões e preferências de seus apoiadores, aos quais eles não têm nenhuma obrigação de oferecer conteúdos coerentes. Nesse mundo do engajamento, a superexcitação é mais importante que todo o resto. Não importa se existem contradições entre o que é dito hoje e o que será dito amanhã ou entre o que é dito a um grupo de apoiadores e a outro grupo de apoiadores. O que importa é gerar o máximo de super excitação possível e, com isso, o máximo de engajamento. Essa é a nova lógica política.

O Partido 5 Estrelas criou na Itália uma plataforma online para medir em tempo real a opinião de seus simpatizantes. Tempos atrás, esse seria um sonho tornado realidade para qualquer defensor da democracia direta, inclusive à esquerda. Mas o sr. desconfia do método. Quais são suas críticas?

Giuliano da Empoli Há duas questões aqui. Uma é a questão específica do 5 Estrelas. A outra é a situação em geral. O 5 Estrelas diz ter criado uma plataforma digital para a participação direta, em intermediários, de seus apoiadores. Mas a verdade não é bem essa.
Antes disso, o Partido Pirata [criado na Suécia em 2006] tinha esse mesmo objetivo. A diferença é que o Partido Pirata tinha uma plataforma aberta, open source, no qual lidava com as opiniões de seus simpatizantes. O sistema desenvolvido pelo 5 Estrelas, ao contrário disso, é completamente opaco. Eles desenvolveram uma plataforma que é administrada por uma empresa privada. Isso é feito com possibilidades enormes de manipulação dos dados e com uma total falta de transparência.
Mas há ainda um segundo ponto sobre o qual eu gostaria de falar, um ponto mais geral em relação a essa ideia da democracia direta digital. Eu acho que esses instrumentos podem melhorar a democracia. Eu penso que a democracia representativa vai evoluir para levar em conta as novas tecnologias e as novas ferramentas. Acho que isso corresponde a uma necessidade real. A questão que vem depois disso é: a democracia representativa pode ser substituída por um sistema completamente digital e que governe a si mesmo? Francamente, eu acho que não.

O sr. diz no livro que o eleitorado espera hoje da política as mesmas respostas rápidas e eficazes encontradas em aplicativos como Uber e iFood. Essa é uma aspiração negativa, criticável? Por quê?

Giuliano da Empoli Não é necessariamente negativa, mas a rapidez com que a demanda dos consumidores é satisfeita hoje em todos os campos comerciais está em contraste radical com a lentidão dos processos democráticos, e sobretudo da democracia representativa, que é baseada na ideia dos processos lentos para gerar compromissos, para conseguir consensos e grandes maiorias. Então, há uma verdadeira diferença hoje entre os hábitos dos consumidores em todas as áreas e os ritos e procedimentos da democracia representativa.
Agora, é ruim que haja uma exigência de parte dos eleitores em relação ao output e à rapidez dos processos democráticos? Eu penso que é natural e é justo. Mas é um problema colocar a democracia no mesmo plano que uma aplicativo de telefone no qual a rapidez imediata é um elemento chave, assim como a satisfação imediata do ego e do narcisismo do consumidor. E é esse o problema que o movimento nacional-populista e que os engenheiros do caos sabem explorar muito bem.

As autoridades do atual governo brasileiro mantém nas redes sociais um clima permanente de susto, sobressalto, com anúncios inesperados, comentários chocantes e elogios à ditadura. Em que medida isso corresponde a uma comunicação espontânea e em que medida demonstra uma estratégia encontrada em outros governos populistas do mundo?

Giuliano da Empoli Há as duas coisas. Em geral, onde vimos a emergência desse tipo de movimento, há um animal político ou muitos animais políticos, como Donald Trump nos EUA, Matteo Salvini na Itália e Bolsonaro no Brasil, que são pessoas com uma tendência natural a se comportar dessa maneira.
Em seguida, eles se unem ao que eu chamo de engenheiros do caos. É a entrada em cena dos estrategistas, das plataformas, da tecnologia e da ideologia, que são muito mais sofisticados e que aplicam essa estratégia da superexcitação, do escândalo, mesmo das notícias falsas, das campanhas de desinformação, de maneira consciente e estratégica, porque é um método que funcionou bem, de maneira surpreendente, em muitos contextos. É um método que justamente busca criar o máximo de engajamento possível nas redes e que põe em crise a mídia tradicional e a mídia de massa, que são ultrapassadas e exploradas por esse movimento. Aí há certamente uma estratégia. Eu nem diria que é uma estratégia internacional, mas há um mimetismo internacional no qual esses atores copiam uns aos outros. Isso, com certeza.

Como a esquerda usa essas mesmas ferramentas tecnológicas? Essa corrente populista se manifesta em outros nichos ideológicos?

Giuliano da Empoli É preciso dizer que a nova política feita de análise de dados e da utilização massiva da internet e das redes sociais é algo introduzido sobretudo pelo progressismo e especialmente pela campanha de Barack Obama de 2008 e aperfeiçoado em seguida pela campanha do mesmo Obama em 2012, que usou muito de tecnologia de dados.
Depois, o movimento populista de direita tomou a liderança e, não contentes em usar essa tecnologia, subverteu completamente sua utilização. Trump, em 2016, por exemplo, despachou informações precisas para eleitores de Bernie Sanders dizendo que Hillary Clinton estava corrompida, que era uma candidata corrupta. Para as mulheres jovens, foram despachadas mensagens falando do escândalo sexual do marido de Hillary [o ex-presidente Bill Clinton]. Para os negros, foram despachadas informações que diziam que Hillary era contra questões raciais. Houve, portanto, uma exploração específica dessa tecnologia pelos populistas, mas hoje todo mundo joga o jogo das redes.

Qual sua percepção sobre Bolsonaro?

Giuliano da Empoli O Brasil é hoje um dos laboratórios políticos dessa nova forma de fazer política. Ele é um político que bagunçou valores tradicionais da política. Por exemplo: antes, se um membro do governo dissesse algo que não fosse verdadeiro, isso provocaria a queda do governo em questão. Hoje, Bolsonaro, assim como Trump e Salvini, faz uso de fake news e provocação para, em primeiro lugar, poder fixar a própria agenda. Como isso funciona? Mesmo para corrigi-lo, mesmo para se indignar, nós somos forçados a falar daquilo que ele quer que nós falemos. Isso é fixar uma agenda.
Em segundo lugar, com isso, ele demonstra sua liderança porque ele não entra na realidade das estatísticas, na realidade das coisas tais como elas são. Ele permanece no papel de um líder voluntarista mesmo contra a realidade.
Em terceiro lugar, ele realiza a promessa mais importante de todos os populistas, que é a promessa da punição das elites. Cada vez que Bolsonaro diz uma coisa, e que há indignação dos intelectuais, dos jornais, da esquerda, Bolsonaro, como todos os outros líderes populistas, realiza sua promessa principal, que não é a luta contra a criminalidade nem a arrumação econômica, mas a punição das velhas elites corruptas, que são consideradas responsáveis por uma situação que os apoiadores dele não aguentam mais.
Pode parecer um fenômeno um pouco absurdo, mas há forças muito profundas por trás de um movimento como esse. E é muito difícil de combatê-lo porque, além do mais, como Salvini e como Trump, Bolsonaro realizou algo que só [Joseph] Goebbels [ministro da Propaganda Nazista] tinha realizado – e eu não estou dizendo que Bolsonaro é igual aos nazistas: a ideia de que a instituição reforça a propaganda. Então, se você usa a instituição para difundir fake news, publicar imagens violentas e chocantes, você multiplica sua força porque você empresta à propaganda a força da instituição. Isso se transforma numa máquina muito poderosa. Estamos vendo isso nos EUA de Trump e no Brasil de Bolsonaro.

João Paulo Charleaux é repórter especial do Nexo e escreve de Paris

Bolsonaro indica diretor de empresa israelense para embaixada em Israel

Não deveria haver, em princípio, nenhuma objeção a que um empresário – ou acadêmico, ou militar, ou qualquer outro membro de tribos exóticas – ocupe a função de embaixador num país qualquer, ou até, neste caso, um militar capacitado no plano técnico e internacional. O que há, neste caso, é um NÍTIDO conflito de interesses, pelo fato desse militar ter estado ligado a companhias privadas, ou a pelo menos uma, operando na interface entre os dois países, e em negócios que podem envolver algum lobby, mesmo superficial. Isso pode torná-lo embaixador dessa empresa, mas não necessariamente do Brasil.
O presidente não parece ter consciência do que envolve um trabalho de representação diplomática, de informação não enviesada, de negociação de questões de interesse nacional, e não apenas setorial ou empresarial.
Paulo Roberto de Almeida 

Bolsonaro indica diretor de empresa israelense para embaixada em Israel

Coronel da reserva trabalha na aeroespacial IAI e foi adido militar em Tel Aviv

O governo Jair Bolsonaro decidiu indicar um militar, diretor de marketing de uma empresa de defesa israelense no Brasil, para ser o próximo embaixador do país em Israel.
O arranjo não tem precedente na história recente da diplomacia brasileira e deverá gerar mais uma polêmica na política externa do presidente, que tentou sem sucesso emplacar o filho Eduardo como embaixador em Washington.
O indicado é o coronel da reserva Paulo Jorge de Nápolis, que trabalha na empresa aeroespacial IAI (Israel Aerospace Industries).
Diferentemente de Eduardo, contudo, ele tem experiência prévia com a função. Entre 2013 e 2015, foi adido militar na embaixada brasileira em Tel Aviv.
Na função, que o Brasil mantém em cerca de 50 países, ele foi responsável pela interlocução entre os canais diplomáticos brasileiros e israelenses na área de defesa.
Depois de voltar ao Brasil, ele serviu como oficial de ligação entre adidos militares no exterior, os 40 adidos estrangeiros baseados em Brasília e o Estado-Maior do Exército.
Antes, havia sido comandante do centro de instrução de operações especiais da Força. O coronel é formado na turma de 1987 da Academia Militar das Agulhas Negras.
Naquilo que conhecidos dele consideram uma injustiça, Nápolis não foi escolhido pelo Alto-Comando do Exército para progredir na carreira como general e foi para a reserva em março de 2017.
Um mês depois, ele foi trabalhar na IAI, que opera no Brasil com um de seus principais produtos, a linha de drones, sistemas de segurança e na área de aviônicos.
A Folha o procurou, tanto na empresa como enviando mensagem a seu celular, mas Nápolis não respondeu.
Questionado se o trâmite de informar Israel da indicação já começou, o Itamaraty afirmou que não comentaria o caso.
Hoje, todos os postos estão ocupados por funcionários de carreira do Itamaraty, embora não haja nenhuma obrigação legal para tanto.
Eventuais conflitos de interesse não são regulados, mas certamente serão objeto caso a indicação de Nápolis prospere e ele seja sabatinado pelo Senado, passo obrigatório para virar embaixador.
Não há tradição no Brasil, como nos EUA, de enviar empresários para representar o país no exterior.
No passado, políticos importantes sem cargo público eram frequentadores da representação em Lisboa, e a posição na Agência Internacional de Energia Nuclear, em Viena, foi ocupada por um físico especializado no tema.
O nome de Nápolis foi apoiado dentro do Palácio do Planalto pelo general Luiz Eduardo Ramos, chefe da Secretaria de Governo.
O ministro, que carregava na farda a insígnia de ter treinado como paraquedista em Israel, chegou a ter o nome ventilado para a função, o que não procede. Aliados dele afirmam que isso foi uma intriga para desgastá-lo.
A troca em Tel Aviv é especulada há bastante tempo e chegou a ser citada pelo próprio presidente.
Bolsonaro disse a aliados que considerava o atual ocupante, Paulo César de Vasconcellos, “um petista” —algo refutado por seus amigos, lembrando que sua indicação se deu em 2017, no governo conservador de Michel Temer (MDB).
Esses interlocutores creditam a uma suposta resistência do diplomata à ideia bolsonarista de mudar a embaixada de Tel Aviv para Jerusalém o motivo maior de seu desgaste, mas ele nunca se pronunciou sobre o tema.
Na quarta (4), Vasconcellos se recusou a participar de um jantar oferecido ao deputado Eduardo Bolsonaro (SP), que lidera uma comitiva parlamentar a Israel.
Segundo relato publicado pelo jornal O Globo, Vasconcellos disse que consultou o Itamaraty e que teria sido acordado que ir ao local, num assentamento judaico em área palestina, poderia ser visto como um endosso à colonização que historicamente era criticada pelo Brasil.
A relação de Bolsonaro com Israel sob o governo de Binyamin Netanyahu é de extrema proximidade.
Bibi, como o premiê ora ameaçado por não ter conseguido formar um governo de coalizão é conhecido, foi um dos poucos líderes mundiais a prestigiar a posse do brasileiro.
Bolsonaro tem interlocução constante com o embaixador israelense no Brasil, Yossi Shelley, que também é próximo do secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, membro da comunidade judaica e que ajudou a organizar a visita de Bibi ao país em janeiro, antes de integrar o governo. ​
A mudança da embaixada para Jerusalém, algo que os Estados Unidos de Donald Trump fizeram, é vista nos meios diplomáticos como uma forma de legitimar o status judaico da cidade, que é disputada como capital também pelos palestinos.
A ONU recomenda a manutenção de representações em Tel Aviv até que a questão seja solucionada.
Bolsonaro, seus filhos políticos, o chanceler Ernesto Araújo e todo o entorno dito ideológico da cúpula do governo se dizem favoráveis à medida, mas a pressão de países árabes e ameaça de retaliação no setor agropecuário fizeramo presidente recuar.
Em sua visita a Israel, em março, ele frustrou Bibi ao anunciar a abertura de um escritório de representação em Jerusalém, mas manteve a promessa da mudança. 
No caso de Bolsonaro, além do conhecido alinhamento a políticas de Trump, há uma questão interna a motivar o presidente brasileiro.
Grupos evangélicos são parte central da base de apoio do presidente, e em muitos deles há a crença de que Jesus Cristo só voltará à Terra se os judeus estiverem fixados em Israel —algo que afirmam acreditar ser reforçado pelo reconhecimento de Jerusalém como capital.
Neste primeiro ano de governo, a relação com Tel Aviv se estreitou. Os israelenses têm interesse de maior cooperação na área de defesa, segurança e alta tecnologia, nas quais são líderes.
Em outubro, a Polícia Nacional de Israel abriu um escritório em São Paulo com esse fim. Grupos de esquerda fizeram circular teorias sobre a presença de espiões no país, algo que de resto ocorre no mundo todo com várias nações, mas a iniciativa tem cunho comercial.
Há negócios em curso no campo, como os da IAI e da Elbit, que controla a empresa gaúcha AEL, fabricante do painel do novo caça da Força Aérea Brasileira, o sueco Gripen —e que fornecerá o produto aos novos modelos da Aeronáutica da Suécia.

Chinese Oppression of the Uighurs - Bernhard Zand

Persecution of the Uighurs The West Must Respond to Chinese Oppression

There are many disturbing aspects to modern-day China, but its treatment of the Uighurs is the most despicable. The West must come up with a response to the inhuman persecution.

Working as a reporter in the Xinjiang region of China is an experience both exhilarating and depressing. From the vast expanse of the Taklamakan Desert to the majestic peaks of the Pamir range, the panoramas are overwhelming, the landscapes straight out of a painting. Fully two hours are needed to fly across China's largest province from east to west. On the ground, it can take days.
But few are interested in talking -- neither the man sitting next to you on the airplane nor the family sharing your compartment on the high-speed train. After a while, you grow hesitant about addressing anyone at all. Every encounter could have consequences: unpleasant ones for the reporter, but potentially dreadful ones for his counterpart.
Living in Xinjiang, after all, is dangerous. Those who talk to the wrong people or take the risk of speaking with foreigners, those who read the wrong books, visit the wrong websites or express the wrong thoughts: They all risk being interrogated or locked up that same night. Hundreds of thousands of people, and likely more than a million, have suffered that fate. Beijing has set up a surveillance state in the homeland of the Muslim Uighurs of a kind that the world has never seen before.
People across the globe have been broadly aware of the situation for years. But in the last few weeks, the New York Times and an international collective of investigative journalists have published details that had remained secret until now. They provide an in-depth look at how the camp system was conceived and how the state put it into practice. The documents include procedures for answering the questions of children whose parents are locked away in a camp. They include an instruction manual for running hundreds of penal and re-education camps, which Beijing euphemistically refers to as "vocational training centers." It makes it clear that it is of utmost importance to "prevent escapes," and states that inmates must be strictly monitored "while they are at class, dining, using the toilet, washing, receiving medical care or meeting with family."
Of all the disturbing aspects of the Chinese regime, it is what it is doing in Xinjiang that is the most disturbing. It reveals the true nature of the Chinese Communist Party (CCP) and may shape modern China's global image more lastingly than any event since the brutal crushing of the Tiananmen Square protests in 1989. It remains doubtful whether Beijing understands the intensity of the shock that the recent reports have triggered around the world.
The problem now facing the West is that of coming up with an adequate response to these hundreds of thousands of violations of basic human rights. Of breaking the silence about the fate of the Uighurs, a silence that is still there despite the recent revelations. Of determining what can actually be done for Muslims in China beyond empty statements of solidarity, given the tight political and economic relations the United States and Europe have with Beijing.

A Conflict over Values
The West finds itself involved in a number of conflicts with the burgeoning global power, from the U.S. trade war to the pro-democracy movement in Hong Kong, from Beijing's industrial policies to its influence along the New Silk Road, from the bickering over telecommunications company Huawei to the territorial disputes in the South China Sea. Some of these clashes are the inevitable consequence of an emerging China stepping on the toes of an insecure West that is worried that its days of supremacy may be fading. On most issues, there are interests and arguments on both side, but compromise is fundamentally possible.
Xinjiang is different. There are, to be sure, interests at stake here as well: the Chinese population's legitimate need for security along with the equally legitimate concerns of the many countries to which thousands of oppressed Uighurs have fled. But at its core, the Xinjiang conflict is one over values. The degree of discrimination combined with the severity with which Beijing is persecuting its Muslim minority, represents a violation of fundamental values that are not up for negotiation. Rather, they are anchored in the Universal Declaration of Human Rights, which China also signed when it joined the United Nations -- and which Beijing isn't shy about invoking when it feels the rights of Chinese citizens have been violated abroad.
This conflict of values has been exacerbated by the technological aspect. In Xinjiang, China is relying on digital tools for mass surveillance to an unprecedented degree. DNA-profiling, compulsory installation of spying apps, algorithm-driven facial recognition, identifying citizens based on ethnic characteristics: Beijing is essentially using all of the technical tools at its disposal to keep the Uighurs under tight control.
Even many Chinese harbor fears that these technological tools could soon be used elsewhere in China and even beyond the country's borders. These concerns are justified. The scale of digital surveillance being used in Xinjiang is nothing short of a civilizational rupture. For the first time, it has become conceivable that an authoritarian regime will succeed in robbing an entire population of its culture and religion using digital means.

An Aside
How should the West react to something like that?
The first step must be that of ascribing the diplomatic and political weight to the Xinjiang issue that it demands. Thus far, only the U.S. government has done so sufficiently. European heads of government, by contrast, have "addressed" the persecution of the Uighurs during their recent visits to China, but only as a side note and among other issues.
Second, European countries must insist more forcefully than they have thus far that Western diplomats be guaranteed unimpeded access to Xinjiang. It is important that they get a firsthand look at a situation that only very few journalists have thus far laid eyes on. Furthermore, such visits to the region by European diplomats are necessary to shine the spotlight on oppression. In contrast to the protest movement in Hong Kong, whose representatives have traveled the world to drum up attention for their demands, and in contrast to Tibet, whose plight is never completely ignored because of the presence of the Dalai Lama, the Uighurs have few prominent supporters abroad.
Third, the West must significantly increase both the political and economic cost for Beijing should it continue its human rights violations in Xinjiang. That could include import restrictions for companies that benefit from the tech-powered surveillance regime in Xinjiang, including firms like Dahua, Hikvision and Iflytek. Should the conflict escalate, the West could also consider targeted export bans.
Some of this may sound dated and somewhat futile given China's current economic strength. And one shouldn't have any illusions about how much influence the West has on Chinese domestic policy. It's not much. But for Beijing, the use of severe -- or even extreme -- measures in foreign policy is a matter of course. Norway learned as much in 2011 after regime critic Liu Xiaobo received that year's Nobel Peace Prize. South Korea likewise bore the brunt in 2017 after the deployment of a U.S. missile defense system in the country, and Canada was penalized by Beijing in 2018 after arresting the chief financial officer of Huawei, including the arrest of two Canadian citizens who are still behind bars to this day.
To be sure, China wouldn't be alone in bearing the costs for a more robust Xinjiang policy. Western companies would suffer as well. And Germany, because of its reliance on exports, is particularly exposed. But together with its European and American allies, Berlin does have significant influence. And because of its own history, Germany has a greater responsibility than any other country to flex its muscles.

Unacceptable
Earlier this year, the European Commission released a report in which it referred to China as a "systemic rival." That is particularly true when it comes to Xinjiang. Still, the West must resist the temptation to conflate the human-rights violations in Xinjiang with other ongoing China conflicts and turn it into an all-encompassing confrontation between two worldviews. That would neither be a fruitful approach to the Xinjiang question, nor would it contribute to finding solutions to the other disputes. On the contrary, it would constitute a relapse into a world divided along an ideological fault line. With humanity currently facing an array of problems that cannot be solved without China -- nuclear proliferation, climate change, the fight against poverty and the consequences of globalization, to name a few -- that is something we can ill afford.
What is taking place in Xinjiang is unacceptable. Even as a million Uighurs have been separated from their children for indoctrination in camps, hundreds of millions of people further to the east in this vast country are living the "Chinese dream," working hard, ensuring a good education for their children, amassing consumer goods and traveling the world. 
But sometimes, even in faraway Beijing, the reality of the surveillance state in western China makes an appearance. A few weeks after I had returned to the capital after my last trip to Xinjiang and written about the oppressive realities in the region for DER SPIEGEL, I was called in by the Foreign Ministry.
An official there lectured me about the "irresponsibility" of my coverage and about my ignorance of the true conditions in Xinjiang. "You sit in your air-conditioned office," he said, "and don't have a clue what is going on there." When I reminded him that I had just spent a week in the region, he pulled out a slip of paper and said: "Yes, and you pressured a taxi driver into talking about his family, among other things." He knew the exact place, date and time: the morning of July 7 in the oasis city of Kashgar. 
It was true. On that day, a driver in Kashgar had taken me to the airport. And we chatted along the way, about our children.

Armenian Genocide Descendants Face Another Turkish Onslaught - Amy Austin Holmes, Lerna Ekmekçioğlu

Armenian Genocide Descendants Face Another Turkish Onslaught, One Century Later

One of the deadliest sites of the Armenian genocide – Ras al-Ayn – has once again fallen under Turkish control because of a ceasefire agreement negotiated by the United States. The incursion of Turkish-backed rebels in the swath of land ceded to Turkey has forced Armenian families to flee – one century after their ancestors fled those who sought to exterminate them. When Turkish President Erdogan visited the White House on November 13, President Trump failed to mention the ethnic cleansing campaign and assault on the descendants of Armenian genocide survivors.
The U.S. President paved the way for Turkey’s military to invade northern Syria earlier this fall when he ordered the withdrawal of U.S. troops against the advice of the U.S. military, key advisors, and members of Congress from both political parties.
Now, more than 100 years after the Armenian genocide, the United States negotiated a deal that ceded a swath of land between Tel Abyad and Ras al-Ayn (Serêkaniyê in Kurdish) to Turkey, granting Erdogan’s regime de-facto occupation of additional Syrian borderlands.
In 1915, long-held fears of territorial dismemberment and anti-Armenian sentiment led the Ottoman Turkish government to launch a brutal campaign against its Armenian population, who were killed, forced into Muslim households, or deported into remote areas to perish. Ras al-Ayn became one of twenty five concentration camps where deported Armenians from Anatolia were settled temporarily.  In 1916 the Ottoman government ordered the massacre of Armenians in two major camps (the other in Deir Ezzor is known as “Armenia’s Auschwitz”). An estimated 70,000 Armenians in Ras al-Ayn alone were killed by Turks and their militias. They were buried in mass graves or just left in open fields where bones of victims can still be found today.
Those who survived put down roots in the area, which enabled a multiethnic society to develop in northeastern Syria. The current cross-border military operation, however, seeks to change these dynamics permanently. Houses owned by Armenians, as well as other Christian and Kurdish families are being looted by Turkish-backed militias. “Taken by al-Jabha al-Shamiyya” has been scrolled on the gates of their homes to signal to other Turkish-commanded militias that the properties had already been confiscated.  Since the start of the Turkish assault, known as Operation Peace Spring, more than 200 civilians have been killed and hundreds of thousands have been displaced. All 30 Armenian families living in the region recently ceded to Turkey between Tel Abyad and Ras al-Ayn/Serêkaniyê have reportedly fled. Armenians are also under attack by the Islamic State (ISIS) in other parts of Northeast Syria. Just recently, Ibrahim Hevsop Bedo, an Armenian-Catholic priest, and his father were killed by ISIS gunmen while traveling to Deir Ezzor to restore an Armenian Catholic church.
The Turkish incursion has now forcibly displaced approximately 300,000 people from the so-called “safe zone” where Turkish-backed militias operate under the umbrella of the “Syrian National Army” and include groups known for their brutality including Ahrar al-Sharqiya, Jaysh al-Islam, Sultan Murad, al-Jabha al-Shamiyya, Hamza Brigade, and others.  On October 12, Hevrin Khalaf, a Kurdish female politician and head of the Syria Future Party, was captured and executed by Ahrar al-Sharqiya. Amnesty International referred to her murder and other summary executions as war crimes. In recent testimony, Syria Envoy James Jeffrey acknowledged that the State Department was investigating crimes committed by Turkey and Turkish-backed rebels. In a leaked memo, Ambassador William Roebuck, the top American diplomat working in northern Syria, wrote: “Turkey’s military operation in northern Syria, spearheaded by armed Islamist groups on its payroll, represents an intentioned-laced effort at ethnic cleansing.” 
President Erdogan publicly announced at the United Nations General Assembly intentions to deport Syrian refugees living in Turkey into the areas now being depopulated by Turkey and its militias.  The forced return of refugees into a war zone is illegal under international human rights law, yet Erdogan’s plan has not been denounced strongly by world leaders, in part because he regularly threatens to send Syrian refugees and captured ISIS members to Europe and other countries.  
In recent days, the House of Representatives recognized the Armenian genocide and condemned the murder of about 1.5 million Armenians. On the same day, the House also passed a bill sanctioning Turkey for recent actions. While these actions are long overdue, the decision to move this legislation now signals unprecedented congressional anger at Turkey, a NATO ally that will remain mostly rhetorical as the Senate is unlikely to pass a genocide resolution or adapt meaningful sanctions.
Ignoring and rewarding Turkey’s increasingly authoritarian ruler sends a terrible message, condoning ongoing war crimes by Turkish forces and allied militias in Syria. Some of these groups actually film themselves carrying out executions of civilians.  
Turkey and Turkish-backed militias should be sanctioned, and displaced families should be allowed to return to their homes. The United States should not lend its support for the Turkish government’s goal of re-engineering the demographics of a geography already stained by genocide a century ago.  It is not too late to reverse some of the damage that has been done. 

Amy Austin Holmes is a visiting scholar at the Middle East Initiative of Harvard University, and the author of Social Unrest and American Military Bases in Turkey and Germany since 1945, (Cambridge University Press). She has carried out research in Northeast Syria since 2015, and has conducted the first survey of the Syrian Democratic Forces.  Lerna Ekmekçioğlu is an Associate Professor of History at MIT and the author of Recovering Armenia: The Limits of Belonging in Post-Genocide Turkey, published by Stanford University Press. She studies and teaches about women’s experiences during and after wars.
*** To watch a clip from Amy Austin Holmes' video interview on this subject, click here. 
Statements and views expressed in this commentary are solely those of the author and do not imply endorsement by Harvard University, the Harvard Kennedy School, or the Belfer Center for Science and International Affairs.  – Via Belfer Center for Science and International Affairs, Harvard Kennedy School.

Brasil-China-EUA-chantagem no 5G: como anda essa relação especial?

A relação muito especial do olavo-bolsonarismo diplomático, e delirante, com o trumpismo ainda mais delirante, mas maldoso e chantagista, está cada vez mais especial, no sentido em que se exige, como diria o capitão, fidelidade matrimonial, sem qualquer aventura com amantes asiáticas.
O pior é que esse "matrimônio" submisso é absolutamente vergonhoso, pois o mandante grandalhão quer deixar a noiva trancada em sua jaula.
Que recompensa os sabujos estão obtendo pelo seu americanismo servil?
Paulo Roberto de Almeida

EUA ameaçam cancelar acordo de Alcântara se Brasil mantiver China no leilão 5G

Recado chegou após mútuas sinalizações de Bolsonaro e Xi Jinping na cúpula do Brics. Americanos temem espionagem de tecnologia espacial.

Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão está agora no centro...
EVARISTO SA via Getty Images
Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão está agora no centro da disputa EUA-China na qual o Brasil precisa se equilibrar.
O governo dos Estados Unidos fez chegar ao presidente Jair Bolsonaro um recado que pode ser considerado uma retaliação muito maior que taxar o aço: o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas para uso da base de Alcântara, no Maranhão, está ameaçado caso o Brasil mantenha os chineses no leilão 5G — que está previsto para o segundo semestre de 2020. Os americanos temem espionagem e alegam que não vão utilizar sua tecnologia espacial em um país no qual as redes de tecnologia da informação são controladas por seu rival comercial, a China. 
O AST permite o uso comercial da base de Alcântara para o lançamento de satélites, mísseis e foguetes americanos. Em contrapartida, o Ministério da Defesa estima um faturamento de até US$ 10 bilhões (cerca de R$ 41 bilhões) por ano com o aluguel do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA).
Ao HuffPost, o brigadeiro do ar Rogério Veríssimo, que coordena o grupo de trabalho brasileiro formado para implementar o acordo, nega a informação, a qual classificou como “fake news”. “Não há a menor chance de o AST ser prejudicado por conta da China. Fake news. AST já está aprovado por lei”, afirmou o brigadeiro Veríssimo em troca de WhatsApp. A reportagem confirmou a advertência recebida dos EUA com diplomatas e interlocutores do governo. 
Apesar da alegação do brigadeiro Veríssimo, que dá a entender que não há como voltar atrás no acordo, há trechos no texto do próprio AST que abrem espaço para os EUA colocá-lo em suspeição, em especial sobre a questão de troca de tecnologia. É o caso do artigo IX, que trata da implementação:
“As Partes deverão entrar em consultas, por solicitação de uma das Partes, para avaliar a implementação deste Acordo, com particular ênfase na identificação de qualquer ajuste que possa ser necessário para manter a efetividade dos controles sobre a transferência de tecnologia.” 
O Acordo de Salvaguardas Tecnológico de Alcântara foi aprovado no Senado em 12 de novembro, e existe um grupo que reúne 13 ministérios trabalhando para sua implementação. Desde o governo Fernando Henrique Cardoso o Executivo tentava tirar o AST do papel e o Palácio do Planalto tem se vangloriado de que foi a relação próxima da família Bolsonaro com Trump que propiciou sua assinatura em Washington, em março deste ano.
Na tarde desta quarta-feira (4), a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil refutou a reportagem do HuffPost, classificando-a de “falsa”. A assessoria negou qualquer disposição do governo americano em cancelar o acordo. Ao longo desta quarta, o HuffPost conversou com novas fontes, também de Washington, e mantém a versão originalmente publicada. 

Brasil vira alvo

A mensagem com a ameaça da suspensão foi enviada de maneira informal pela diplomacia dos EUA à brasileira dias após a realização da cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), realizada em Brasília em meados de novembro.
O evento, monitorado de perto pelo governo americano, contou com várias sinalizações de Bolsonaro aos chineses. A princípio crítico da China, o mandatário brasileiro disse que o país “cada vez mais faz parte do futuro do Brasil”. 
O Brasil tem objetivos claros na relação com a China. Aumentar o valor agregado das exportações brasileiras, atualmente concentradas em commodities é um deles. Há uma demanda crescente pela carne suína, bovina e de frango brasileira — motivada pela febre aftosa africana, que reduziu os rebanhos. De janeiro a outubro de 2019, o País exportou 3,86 milhões de toneladas do produto, aumento de 44% na comparação com o mesmo período do ano passado. 
Outro foco é atrair investimentos em infraestrutura, fato sinalizado pelo presidente chinês Xi Jinping durante a cúpula dos Brics. A China colocou à disposição do governo Bolsonaro mais de US$ 100 bilhões de ao menos cinco fundos estatais. 
O movimento desta segunda-feira (2) de Donald Trump de anunciar sobretaxa sobre o aço brasileiro e argentino, acusando os países de manipular o câmbio, foi interpretado internamente por alguns palacianos como estratégia eleitoral do presidente dos EUA. Pode, porém, resultar num movimento de aproximação de Bolsonaro com a China, embora muito esteja em jogo agora, com a ameaça americana da vez.
Sala de controle do Centro de Lançamento de Alcântara
EVARISTO SA via Getty Images
Sala de controle do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). 
Apesar de já ter chegado a Brasília há cerca de duas semanas, o recado de Trump ainda não tinha sido levado a sério até o tuíte do presidente dos Estados Unidos de segunda sobre aço. Os bolsonaristas não acreditavam que o mandatário, considerado “amigo” pelo presidente brasileiro — que chegou a falar até que ligaria para ele e o faria repensar a medida —, seria capaz de algo drástico a esse ponto. É deste grupo que parte a insistência por um alinhamento automático com os Estados Unidos. 
O núcleo mais pragmático, que reconhece a necessidade de intensificar a relação comercial e estratégica com a China, correu para acalmar Jair Bolsonaro na segunda e aproveitou o momento de “chateação” para abordar temáticas sobre desconfiança e a importância de não se poder entregar tanto aos EUA. 

Saia justa

Na mesma ocasião em que assinou o acordo com os Estados Unidos, em uma visita que Bolsonaro fez aos Estados Unidos, em março, o Brasil também retirou a obrigatoriedade de visto para os americanos, canadenses, australianos e japoneses. Abriu mão ainda de tratamento especial na OMC (Organização Mundial do Comércio) em troca de apoio de Donald Trump na entrada na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o que não se concretizou mais à frente.
Por outro lado, são dos chineses os pacotes mais baratos em 5G quando se compara com os concorrentes, como Ericsson e Samsung. Os EUA, porém, já proibiram a empresa chinesa Huawei de operar por lá — o veto total deve entrar em vigor em fevereiro de 2020.
Acontece que a China também pode retaliar o Brasil caso seja excluída do leilão do ano que vem sem justificativas claras. Até o momento, apenas Austrália, Nova Zelândia, Japão e Vietnã se renderam às pressões norteamericanas de boicote aos chineses.  
Com tantos passos atrás dos EUA, a diplomacia brasileira agora foi colocada em teste de fogo. Jair Bolsonaro está, desde ontem, em cima de seus subordinados em busca de soluções. Até o momento, não recebeu resposta com a qual tenha se contentado. Quem olha de fora e já foi “chutado” do governo avalia que a ideologia foi colocada acima dos interesses do País e trouxer a política externa até o atual impasse.