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quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Ricardo Seitenfus: Manual das Organizações Internacionais, 7a edição, aumentada (e-book, edição Kindle)

 O grande manual de Ricardo Seifenfus finalmente em e-book.

In fine, dois outros livros do mesmo autor no mesmo formato. 

Manual das Organizações Internacionais 

eBook Kindle

Feliz Natal a todos os meus amigos chineses - Paulo Roberto de Almeida

 A China voltou a ser a China e isso nada tem a ver com essa história de “socialismo com características chinesas”; tem a ver com a energia do povo chinês para o trabalho e a inovação. Os mandarins chineses são bons administradores, quer eles sejam marxistas ou não; o comunismo é um pequeno parênteses de meros 71 anos, até aqui, numa história milenar de realizações espantosas na história da Humanidade.

É uma história de séculos, nos quais os chineses inventaram TUDO o que a humanidade teve de bom durante centenas de anos, história brevemente interrompida por um imperador idiota que fechou a China por algum tempo e impediu-a de adotar rapidamente inovações de outros povos, falhando na primeira e na segunda revoluções industriais. Ela engatou na quarta e já está na quinta e estará na vanguarda da sexta revolução tecnológica, cultural e científica. Só derrapou na revolução política democrática, mas isso virá a seu tempo.

Assim como ela tem um capitalismo com características chinesas, também terá uma democracia com peculiaridades chinesas, e os arrogantes do Ocidente não têm de lhe dar lições, ainda que possam, e devam, defender direitos humanos em bases universais.

No resto, vale tudo de bom que ela faz para o seu próprio povo e no que ela oferece aos demais povos por meio da cooperação multilateral e bilateral. É no seu interesse próprio? É possível e mesmo provável, mas assim fazem todos os demais países e indivíduos.

E quanto à segurança internacional, cabe examinar na prática qual é a situação mundial, nas condições concretas de um sistema internacional ainda westfaliano e anárquico. A China atua de modo pragmático nessa esfera.

Essa coisa de “armadilha de Tucídides” é uma aberração arrogante de americanos preguiçosos demais para pensar! 

Ainda que a China e os chineses não pertençam à nossa tradição cristã ocidental, eles têm alguns poucos milhões de cristãos e os shoppings, ultra modernos, estão repletos de Papais Noel.

Bom Natal aos chineses!

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 24/12/2020

O racismo ordinário no Brasil, assassino - Cristiano Romero

 

Todos sabemos por que o Brasil não dá certo

Trata-se de questão ética: como ser feliz num país racista

 


Muitos brasileiros fazem a seguinte pergunta diante do espelho: "Por que o Brasil não dá certo?". Geralmente, quem faz a indagação não tem muito do que reclamar. Sua vida é melhor aqui, mais fácil, mais farta, com maior acesso ao que o país oferece de melhor a seus cidadãos, do que seria se ele vivesse em outra economia de renda média ou mesmo numa nação rica, ainda que sendo proporcionalmente detentor de renda equivalente. A péssima distribuição de renda explica parte dessa história.

Evidentemente, aqui, todos, pobres e ricos, reclamam da extrema violência que ceifa anualmente a vida de cerca de 60 mil pessoas - em 2018 (último dado disponível), foram 57.956, mas, como há algo de podre no reino das estatísticas dos Estados, visto que nos anos recentes houve aumento exponencial de mortes violentas sem causa determinada, o número de mortos está subestimado.

Trata-se de questão ética: como ser feliz num país racista

O contingente de pessoas que sai de casa num determinado dia para morrer parece uma espécie de maldição estatística, uma vez que, com poucas variações, se repete ano a ano. Maldição? Praga? Predestinação diabólica de um povo condenado à miséria e ao sofrimento? Não creia nisso. Não há nada intangível nas estatísticas da violência no país chamado Brasil.

Os dados oficiais da violência mostram que 75,7% dos brasileiros assassinados há dois anos eram negros - entre as mulheres, o percentual é 68%, informa o Atlas da Violência 2020, elaborado pelo Ipea com base nas ocorrências registradas pelas secretarias estaduais de segurança pública em 2018. Mais da metade (29.064) eram jovens com idade entre 15 a 29 anos.

Em 2018, uma mulher foi assassinada neste país a cada duas horas, somando 4.519 vítimas. Olhemos mais de perto os números e num período maior de tempo, para tentar achar uma pista que aponte alguma tendência desta terrível mazela nacional: entre 2008 e 2018, enquanto a taxa de homicídios de mulheres não negras caiu 11,7%, a taxa de mulheres negras assassinadas aumentou 12,4%.

O resumo da violência neste imenso território é o seguinte: os homicídios vitimizam, principalmente, homens (91,8% dos casos), jovens (53,5%), negros (75,7% dos casos), pessoas de baixa escolaridade (74,3% dos homens vitimados possuem apenas sete anos de estudo) e solteiros (80,4% do total de homens assassinados). O principal instrumento de agressão é a arma de fogo, usada em 77,1% dos casos de morte de homens e em 53,7%, no caso de mulheres.

Convenhamos: os números são de uma racionalidade espantosa, é desnecessário desenhar: a sociedade brasileira assiste, indiferente, a um verdadeiro genocídio de jovens, em sua maioria absoluta, negros e pobres, o que também se aplica às mulheres negras. Será que é difícil saber qual é a verdadeira monstruosidade que explica esta vilania que nos caracteriza como sociedade e que, em vez de diminuir, só tem aumentado?

Como o tema não é novo neste espaço, um leitor escreveu para dizer que, nesta guerra civil interminável, morrem mais negros porque estes são a maioria entre os pobres. Trata-se da tese de que quase 42 mil negros foram assassinados neste canto do mundo em 2018 não porque eram negros, mas porque eram pobres. Trata-se de uma falsa questão.

Na música "Haiti", Caetano Velloso e Gilberto Gil escrevem o seguinte, a respeito do massacre do Carandiru, ocorrido no dia 2 de outubro de 1992, quando 111 presidiários foram mortos e 37 ficaram feridos após ação da polícia - como não se tratava de um presídio, a maioria dos mortos ainda não havia sido julgada ou tido a sua sentença definida pela Justiça:

" (...) Cento e onze presos indefesos

Mas presos são quase todos pretos

Ou quase pretos

Ou quase brancos, quase pretos de tão pobres

E pobres são como podres

E todos sabem como se tratam os pretos (...)"

O poema afiado como navalha de barbeiro nos lembra que, nestes tristes trópicos, é tão ruim ser negro que, se você é pobre, muito pobre, é "quase preto".

Senhores, 56% das pessoas que habitam a quarta maior extensão de terra contínua do planeta se declararam pardos ou negros no último censo demográfico conduzido pelo IBGE. A maioria de nós, portanto, é negra. Nosso problema, acima de qualquer outro, é o racismo secular, estrutural, vicejado pela minoria branca, remediada, rica e mais educada, contra a maioria.

O Brasil não dá certo por essa razão. Como poderia suceder? A escravidão nos acompanha desde a chegada dos europeus. Quando a abolimos por meio de uma lei, quase 400 anos depois, não a abolimos de fato porque o mundo quase acabou - os barões do café exigiram compensação financeira do Estado pela perda de "propriedade", "demitiram" os negros, derrubaram a monarquia, implantaram uma República condominial (sem povo e com rodízio no comando entre dois dos três Estados mais ricos), forçaram o governo a importar mão de obra do Japão e de nações europeias para substituir a mão de obra escrava, impediram os negros de ter acesso a escolas...

Por que ainda há entre nós quem seja contrário a políticas de reparação à população negra, posta em desvantagem por séculos na história deste país? Nossa sociedade não é racista, ela é o próprio racismo. Este faz parte da paisagem nacional tanto quanto o samba, o futebol (onde, aliás, manifestações racistas são crescentes), o carnaval, mas, enquanto esses símbolos são projetados como parte de nossa identidade cultural, a discriminação aos negros é negada de forma vergonhosa e institucional.

Não é mais possível (nunca foi) olhar a realidade política, econômica, social, cultural, sem as lentes que corrijam a pior das miopias: a de que o racismo é apenas mais um problema a ser enfrentado, uma obrigação cidadã, uma determinação constitucional. Nada disso. Não é mais possível admirar nada neste país de 210 milhões de habitantes sem pensar, a cada segundo, que vivemos numa sociedade profundamente escravagista, onde a maioria é discriminada pela minoria. Trata-se de uma questão ética: como viver, como aceitar viver numa sociedade assim?

Cristiano Romero é editor-executivo e escreve às quartas-feiras
E-mail: cristiano.romero@valor.com.br

Um PSICOPATA na presidência do Brasil - Juan Arias (El Pais)

 Sadismo de Bolsonaro com a vacina chega ao limite da loucura (Juan Arias)

O presidente é um caso único no mundo em meio à tragédia que vive

Por Juan Arias Atualizado em 22 dez 2020, 02h09 


Leia mais em: https://veja.abril.com.br/blog/noblat/sadismo-de-bolsonaro-com-a-vacina-chega-ao-limite-da-loucura-juan-arias/?_gl=1*2ep57n*_ga*YW1wLXZzQTRTUDVSMXR1Ri1pMDhIRnVnRmc.

O assalto de Trump contra a democracia americana - Eric Posner

 O pior presidente da história americana  tentou minar a democracia para governar como um autocrata, exatamente como tenta fazer o pior presidente da história do Brasil, imitador, bajulador, serviçal do mentecapto americano.

 

The Telegraph, Londres – 24.12.2020

The Trump Paradox

For all of the irresponsible and reprehensible things outgoing US President Donald Trump said while in office, he could not have posed as great a threat to liberal democracy as many of his critics have supposed. Trump's entire political project has rested on a fundamental paradox that real authoritarian leaders know to avoid.

Eric Posner

 

Chicago -  As US President Donald Trump’s single term limps to an end, we should revisit a question that has dominated mainstream punditry for the past four years: Was America on the brink of an authoritarian takeover? Never before have so many commentators – including knowledgeable academics, seen-it-all-before political operatives, cynical journalists, and former government officials – argued as seriously that the United States was on the verge of a Weimar-style constitutional collapse.And yet, if Trump was an autocrat, he was a singularly ineffective one. When he wasn’t raging at the moon, he advanced his policies – most of them standard Republican fare – through constitutionally approved procedures.

Trump certainly provided ample material for books with titles like The People vs. Democracy: Why Our Freedom Is in Danger and How to Save It, Surviving Autocracy, and Trumpocalypse. From the start, he has lied relentlessly, expressed admiration for dictators, denigrated and threatened to jail his political opponents, disparaged judges and other public officials, vilified Muslims and foreigners, demonized journalists, and inflamed racial divisions. Even if some of his rhetoric was tongue-in-cheek or garbled, that hardly excuses him.

Trump also mixed his financial interests with government business, placed his children and son-in-law in positions of power, and frequently talked as if the government were his personal fiefdom. His presidency finally collapsed after his baseless claims of electoral fraud and spurious litigation efforts failed to gain traction.

The doomsayers will insist that the events of the past month and a half easily could have swung in Trump’s favor. But, constitutionally speaking, Trump has always been more bark than bite. His main accomplishments – a tax cut and the appointment of conservative federal judges – involved Congress, as the Constitution requires. Similarly, his efforts to reduce the flow of illegal immigration drew on longstanding statutory authority.

Indeed, from a strictly legal standpoint, Trump’s migration-related enforcement actions were less controversial than were President Barack Obama’s unilateral executive orders to protect people who were brought to the country illegally as children. Even Trump’s highly controversial travel ban targeting migrants from Muslim-majority countries was upheld by the Supreme Court on more-or-less settled doctrinal grounds.

Trump’s efforts to weaken environmental, safety, and financial regulations have also drawn on statutory authority. In foreign policy, Trump initiated a sea change by weakening US global commitments, withdrawing from international agreements and multilateral organizations, imposing tariffs on trading partners, and recklessly criticizing allies while cozying up to dictators. Again, Trump was drawing on the legal powers of his office, which are at their broadest in foreign affairs. Congress has given the president almost limitless power to adjust tariffs, and courts have ruled time and again that it is the president who conducts US foreign policy. Moreover, Trump – unlike most of his recent predecessors – did not launch any major foreign wars or enter treaties through constitutionally dubious circumvention of Congress.

Yes, Trump did try to interfere with the Russia investigation, and to withhold military aid from Ukraine to compel its government to investigate Joe and Hunter Biden. But both of these constitutionally suspect efforts were largely unsuccessful. Finally, Trump has abused his power by dangling pardons to cronies who were under investigation.

All these actions were morally wrong and politically irresponsible. But in terms of their impact, and of their role in the exercise or expansion of the president’s power, they seem relatively minor. Virtually every president has cut corners. If Trump ruled as an autocrat and pushed the boundaries of his power, then so did every other president since Reagan. Yet none of those previous administrations came close to ending democracy in America.

Trump stands out not so much for his actions as for his words. The hue and cry against him is a reaction to his incendiary rhetoric, inattentiveness to the duties of his office, ignorance about the world, juvenile delight in the trappings of power, and obnoxious narcissism.

To be sure, the line between rhetoric and action is not always clear. Presidents rule through words – by issuing orders to subordinates, who either obey or disregard them.Trump’s claims of election fraud could have led judges and Republican election officials to fix the outcome for him. They did not. His various calls to lock up his opponents could have encouraged ambitious Department of Justice lawyers or US Attorneys to launch investigations. They did not. Once judges, politicians, and other officeholders stopped heeding Trump’s words, he was helpless.

Some people believe that constitutional democracy survived Trump because the system of checks and balances worked. Others give credit to the integrity of judges, government bureaucrats, the press, or Democratic (and a few Republican) elected officials.

But another explanation is that there was a basic contradiction in Trump’s method. In 2016, he sought power by attacking the very government institutions that he would need to exercise power. As president, he kept up his attacks on the government that he headed, acting as his own opposition.

This had two effects that undermined his position. First, Trump’s own appointees – including judges and executive-branch officials – could not have felt much loyalty to a boss who was constantly undermining their status, power, and position. And indeed, many of them refused to do his bidding. Attorney General Jeff Sessions refused to fire special counsel Robert Mueller. Attorney General William Barr refused to challenge the election results. The judges Trump appointed – including three Supreme Court justices – refused to rule that the election was flawed. The FBI refused to heed Trump’s call for investigations of his political opponents. And the military refused to suppress protests.

Second, Trump asked voters to believe that the government was incompetent, biased, and infiltrated by a “deep state,” while using that same government to expel undocumented aliens, suppress riots, wage a trade war with China, distribute pandemic aid, and hold elections. In fact, Republican politicians in Georgia, which will hold two Senate run-off elections on January 5, fear that Trump’s attacks on the electoral system will convince some supporters not to bother voting. Likewise, lack of trust in science or the health authorities, encouraged by Trump, may undermine his signature accomplishment – Operation Warp Speed, which resulted in the rapid development of COVID-19 vaccines.

Real authoritarians, like Chinese President Xi Jinping, propagate an image of governmental excellence so that people will meekly submit to the police, courts, and regulators. While many Republican voters remain personally loyal to Trump, those who abandoned him for Biden while still voting for down-ballot Republicans must have realized that Republican policies could not be implemented if the government was a smoking ruin.

This paradox does not mean that authoritarianism is impossible in the US. But it does suggest that Trump himself did not pose as grave a threat to liberal democracy as many had feared.

 

Eric Posner, a professor at the University of Chicago Law School, is the author, most recently, of The Demagogue’s Playbook: The Battle for American Democracy from the Founders to Trump.

 

Fracasso da diplomacia bolsolavista: Bolsonaro e o chanceler acidental perdem mais uma : TPI

Se a intenção era ter alguém para barrar qualquer investigação contra o capitão no TPI, por violação de direitos humanos – como morte de indígenas, por exemplo –, então a "recepção" pelos demais países da candidata selecionada a dedo pelo genocida de brasileiros inocentes, dada sua irresponsável postura no caso da pandemia, foi um rotundo e humilhante fracasso. 

Com a sua antipolítica externa, e uma criminosa política interna, o capitão continua isolado na cena internacional. Não chegam aos cinco dedos de uma só mão os dirigentes estrangeiros que teriam disposição para convidá-lo a uma visita, que seja de trabalho, para discutir assuntos de interesse mútuo. Não existe: o capitão está sozinho no seu labirinto, com um chanceler medíocre e tão despreparado quanto ele. Enquanto isso, o Brasil afunda no descrédito internacional.

Paulo Roberto de Almeida


 Ernesto Araújo, o competente: Brasil prestes a perder vaga em tribunal que julgará bolsonaro por genocídio 

TPI é uma das três principais cortes do sistema multilateral

Época Negócios | 23/12/2020, 13h22

Ernesto Araújo tem dado mais uma demonstração de sua reconhecida competência no comando da diplomacia brasileira.

O Brasil está prestes a perder uma vaga de juiz no Tribunal Penal Internacional. Haverá daqui a pouco mais uma rodada de votações, mas a brasileira Monica Sinfuentes deve ser derrotada.

O TPI é uma das três principais cortes do sistema multilateral, com a Corte Internacional de Justiça e o Tribunal Internacional sobre Direito do Mar.

Bolsonaro foi aconselhado a indicar juristas com experiência no tema, mas preferiu o nome da desembargadora do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. 

Essa será a segunda derrota neste ano, dado que o candidato brasileiro ao Tribunal sobre Direito do Mar ficou em terceiro de quatro candidatos para duas vagas na América Latina, na eleição que ocorreu em agosto.

O TPI deveria preocupar o governo Bolsonaro.

A representação contra ele, de incitação ao genocídio, apresentada ao TPI por entidades de direitos humanos, pela forma como Bolsonaro conduz o combate à pandemia, não foi arquivada de pronto, como esperava o governo.

Ficou sob análise.

https://epoca.globo.com/guilherme-amado/ernesto-araujo-competente-brasil-prestes-perder-vaga-em-tribunal-que-julgara-bolsonaro-por-genocidio-1-24809381?%3Futm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=post

 

Isolado, Brasil não consegue eleger juíza para Tribunal Penal em Haia

Jamil Chade, UOL | 23/13/2020, 14h28

Em uma derrota diplomática para o governo de Jair Bolsonaro, a desembargadora Mônica Sifuentes não consegue somar votos suficientes e fica sem um assento de juíza no Tribunal Penal Internacional. Ela abandonou a corrida, depois de um desempenho fraco nas urnas e revelador do isolamento político do Itamaraty. 

A votação é interpretada como um teste da popularidade internacional do governo, justamente num momento em que é o maior devedor da corte em Haia. Além disso, o presidente é alvo de uma comunicação por parte de entidades de direitos humanos, que o acusam em Haia de incitação ao genocídio e crimes contra a humanidade no caso dos povos indígenas.

Seis vagas para juizes estavam em disputa e um total de 18 candidatos concorriam. Pelo sistema do tribunal, são os países que votam e rodadas são realizadas até que seis nomes consigam dois terços dos votos. 

Pela América Latina, foram eleitos Sergio Ugalde, da Costa Rica, e Maria del Socorro Flores, do México. Eles acumularam 87 votos cada. Foram eleitos ainda nomes do Reino Unido, Sierra Leoa e Geórgia.

Faltando três candidatos na corrida na disputa pela última e sexta vaga no Tribunal, a brasileira abandonou o processo. Ela tinha somado apenas 16 votos na última rodada. 

O processo continua, mas com apenas dois candidatos disputando uma vaga. Eles representam Trinidade e Tobago e Tunísia. Sempre distante das líderes, a brasileira viu suas chances aumentarem quando os candidatos do Uruguai, Colômbia e Equador abandonaram a corrida. A migração desses votos, portanto, poderia ser decisiva. Mas não foram suficientes para eleger a brasileira.

Bolsonaro havia ignorado uma recomendação de juristas brasileiro para a nomeação de um candidato do país para concorrer ao cargo de juiz no Tribunal Penal Internacional. O Palácio do Planalto optou por uma escolha de um nome fora da lista sugerida. 

Os nomes sugeridos eram os de Marcos Coelho Zilli e Leonardo Nemer Caldeira Brant. Zilli defendeu sua tese de doutorado sobre a questão de admissão de provas no TPI. Já Brant foi membro do corpo jurídico na Corte Internacional de Justiça e com ampla produção acadêmica sobre o direito internacional. 

Os nomes foram submetidos por Celso Lafer, Antonio Augusto Cançado Trindade, Nadia de Araújo e Eduardo Grebler, brasileiro que ocupam cargos de juizes em instâncias internacionais. No passado, o Brasil já contou com uma representante no TPI, a juíza Sylvia Steiner. 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/12/23/isolado-brasil-nao-consegue-eleger-juiza-para-tribunal-penal-em-haia.htm?cmpid=copiaecola&cmpid=copiaecola 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

O inacreditável chanceler acidental e o "orgulho de ser pária" - O Antagonista

 Ernesto Araújo e o orgulho de ser pária

O Antagonista | 22/12/2020, 19h00

O Brasil, em 2020, ficou ainda mais isolado. Resultado, em boa parte, da falta de diplomacia do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que já disse não se importar se o país virar um “pária internacional”.

Se a comunidade internacional já reagia negativamente à política ambiental, ficou escandalizada com a forma como Jair Bolsonaro atuou no enfrentamento da Covid-19.

O chanceler não se constrangeu por um minuto ao defender as posturas ridículas de seu chefe e tampouco conseguiu explicar o fracasso total do alinhamento automático em relação ao governo Donald Trump.

Em maio, Trump barrou a entrada nos Estados Unidos de cidadãos brasileiros e não americanos que chegassem do Brasil e ainda citou o país como exemplo de má administração na pandemia.

Araújo ainda se meteu, do lado errado, na briga entre o deputado Eduardo Bolsonaro e a embaixada da China no Brasil.

Depois de diversas postagens em redes sociais atacando o principal parceiro comercial do Brasil, o filho do presidente da República acusou a China de usar a tecnologia 5G para espionagem.

O bananinha falou em “repúdio a entidades classificadas como agressivas e inimigas da liberdade, a exemplo do Partido Comunista da China”.

A embaixada respondeu à mensagem publicada no Twitter por Eduardo, apagada após a repercussão negativa, com uma ameaça: “Cessem as calúnias ou vão arcar com as consequências”.

Em nota, o Itamaraty afirmou que “o tom e conteúdo ofensivo e desrespeitoso” da embaixada “prejudica a imagem da China junto à opinião pública brasileira”.

Dias depois, o chanceler voltou a provocar a China e publicou em suas redes sociais o trecho de um texto do pensador chinês Lao Tzu sobre tentar “controlar o mundo”:

 

“Tentando controlar o mundo? Vejo que não conseguirás. O mundo é um vaso espiritual. E não pode ser controlado.”

Para bajular o governo americano, Ernesto Araújo permitiu que o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, usasse Roraima como palanque para a campanha de Trump pela reeleição.

No Brasil, Pompeo fez um discurso contra o regime do ditador Nicolás Maduro, a quem se referiu como narcotraficante. Araújo seguiu a mesma linha e chamou a ditadura venezuelana de “narcorregime”. Dizer verdades quase nunca é recomendável na diplomacia.

A vitória de Joe Biden na eleição presidencial americana foi uma péssima notícia para o chanceler olavista. Ele e Bolsonaro apostaram todas as fichas na relação com o governo Trump, e levaram tempo demais para reconhecer o democrata eleito.

Ao longo do ano, Jair Bolsonaro foi aconselhado por integrantes do governo e parlamentares a demitir o ministro das Relações Exteriores. O nome de Michel Temer figurou entre os possíveis sucessores, mas o ex-presidente rejeitou o suposto convite.

Afinal, o ocupante do Palácio do Planalto continua sendo o mesmo.

https://www.oantagonista.com/brasil/ernesto-araujo-e-o-orgulho-de-ser-paria-internacional/