O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

sábado, 17 de setembro de 2022

Sobre o “Estado” predatório que foi construído no Brasil - Paulo Roberto de Almeida

 Sobre o “Estado” predatório que foi construído no Brasil

Paulo Roberto de Almeida

O estupro orçamentário iniciado pelas emendas obrigatórias instituídas sob Eduardo Cunha na presidência da CD chegou ao ápice com as emendas secretas do relator, na gerência criminosa dos dois meliantes políticos do governo do Bozo: o presidente da CD e o chefe da Casa Civil.

Junto com os dois fundos pornográficos, o partidário e o eleitoral, as emendas parlamentares arbitrárias e compulsórias representam a destruição de qualquer arremedo racional de administração dos orçamentos públicos. 

Ao lado das imensas mordomias e gastos abusivos dos estamentos políticos em todos os níveis da federação, assim como dos privilégios aristocráticos dos grandes mandarins do Estado, essa predação, essa extorsão e o assalto à luz do dia, tudo isso legalizado pelos donos do poder CONTRA os seus “súditos”, nesta contrafação de nação que se chama Brasil, asseguram a semiestagnação do país no futuro indefinido. 

Como está atualmente organizado “politicamente”, o Brasil se revela uma nação inviável no plano do crescimento econômico sustentado e do desenvolvimento socialmente inclusivo no horizonte histórico que é o da atual e das próximas gerações. A nação produtiva — empresários e trabalhadores do setor privado — se arrasta penosamente, pois que carregando nas costas esse ogro famélico e predatório que se chama Estado brasileiro. Como a ignorância ganhou foros de virtude política sob os populistas e demagogos que tomaram de assalto o poder nos últimos 20 anos, não vejo nenhuma possibilidade de progresso real da nação nas atuais condições de funcionamento do Estado no futuro previsível. 


Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 17/09/2022

AGNU 2022: pelo fim do veto ao violador da Carta da ONU - Paulo Roberto de Almeida; Covas coletivas encontradas em Izyum libertada (Spectator)

 Está mais do que provado que as forças bárbaras de conquista e ocupação russas cometeram crimes de guerra e contra a humanidade, sob a responsabilidade do tirano de Moscou, que ainda perpetrou um crime contra a paz. Ou seja, Putin merece um Nuremberg só seu, pois cometeu os mesmos crimes que aqueles sob os quais foram julgados os líderes civis e militares nazistas em 1946, pelo Tribunal Internacional de Nuremberg. 

A primeira providência da próxima AGNU será discutir a suspensão, na Carta da ONU, do direito de veto para qualquer um dos cinco membros do Conselho de Segurança que violar qualquer um dos artigos dessa Constituição da Humanidade.

Paulo Roberto de Almeida 

Covas coletivas encontradas em Izyum libertada

Por Svitlana Morenets

The Spectator, 15/09/2022


O exército russo recuou de Izyum, na região de Kharkiv, no fim de semana passado, após um contra-ataque da Ucrânia. Ao lado do alívio após a libertação da região vem uma compreensão mais profunda dos horrores da ocupação. A polícia continua encontrando os corpos de civis com vestígios de tortura em aldeias e cidades e ontem, uma vala comum de 25 soldados ucranianos e cerca de 460 novas sepulturas foram encontradas perto de Izyum em Kharkiv Oblast. A maioria deles não tem nomes – apenas números em cruzes de madeira feitas à mão.

A exumação dos corpos começou hoje, com jornalistas ucranianos e internacionais convidados a testemunhar a atrocidade. ‘Bucha, Mariupol, agora, infelizmente, Izyum... a Rússia deixa a morte em todos os lugares. E deve ser responsabilizada por isso”, disse Volodymyr Zelensky no discurso da noite passada à nação.

Serhii Bolvinov, investigador-chefe da polícia da região de Kharkiv, disse que algumas das vítimas na vala comum foram mortas a tiros, enquanto outras foram mortas por fogo de artilharia ou ataques aéreos. Muitos corpos – e causas de morte – ainda não foram identificados. Maksym Strelnyk, deputado do conselho da cidade de Izyum, disse que pelo menos 1.000 civis foram mortos durante a ocupação russa.

A polícia ucraniana, promotores e outros investigadores reunirão evidências de suspeitos de crimes de guerra russos. Enquanto isso, cerca de 10.000 moradores permanecem em Izyum, uma cidade onde mais de 80% de sua infraestrutura foi destruída – mas eles podem ser evacuados com a chegada do inverno pois as condições serão difíceis.

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Alemanha caminha para a recessão: começou pela siderurgia (ArcelorMittal), vai se propagar a outros setores

 Alemanha

O caos econômico, provocado pela alta exorbitante da Energia elétrica e do gás, chegou na maior siderúrgica na Europa, que avisou que vai fechar as portas. 

Em comunicado aos investidores a ArcelorMittal, disse que está fechando uma siderúrgica na Espanha e paralisando outras duas empresas na Alemanha, nas cidades Bremen e outra em Hamburgo. A medida vai colapsar o preço do aço na Alemanha e causar uma destruição da cadeia produtiva. Em nota a empresa disse que o alto preço do gás e da energia elétrica foi o motivo, pois o "aumento exorbitante dos preços da energia", que está afetando devastadoramente a "competitividade da produção de aço". A empresa deve começar as demissões no final de setembro. 

Abaixo o comunicado da empresa:

https://germany.arcelormittal.com/icc/arcelor/broker.jsp?uMen=7a770135-5051-5e71-9945-be470aa06ac3&uCon=b611ba70-782e-2810-a61e-481f0ad3a7b3&uTem=aaaaaaaa-aaaa-aaaa-aaaa-000000000042

Estamos prestes a enfrentar uma situação preocupante no fornecimento do aço mundial. A Europa está hoje sofrendo enormes problemas  devido a decisões estratégicas tomadas em sua matriz energética. Isto está tendo um impacto severo no custo da energia, que em alguns lugares já subiu mais que 1300%.

A consequência para o mercado do aço é o fechamento e desligamento de usinas e fábricas como jamais visto antes .

São no total 14 desligamentos e fechamentos de usinas por toda a Europa, incluindo 7 da ArcelorMittal.

O resultado lógico será um sobrecarregamento dos demais produtores e um potencial aumento nos preços do aço.

Nossa avaliação é que não se trata de uma situação de fácil solução para o curto e médio prazo, afinal é um problema de direcionamento de matriz energética na Europa.

Recomendamos aos amigos que façam uma análise profunda e considerem todos os fatores macro, para as decisões nos meses que virão. E desejamos à todos que tomem decisões sábias e acertivas para os seus negócios para enfrentar os próximos meses.


A demolição da política externa brasileira - Sergio Amaral (OESP)

Opinião 

Meu livro publicado mais recente se chama, justamente Apogeu e demolição da política externa: itinerários da diplomacia brasileira (Curitiba: Appris, 2021)

Opinião 

A demolição da política externa brasileira

Sergio Amaral

O Estado de S.Paulo, 15 de setembro de 2022

O Itamaraty é uma das instituições mais respeitadas do serviço público brasileiro. Seus funcionários são, via de regra, competentes. O concurso de ingresso é rigoroso, a formação e o aperfeiçoamento dos diplomatas estendem-se ao longo de toda uma carreira. Seu compromisso com o País é inquestionável.

Não obstante, a política externa foi um dos desastres do governo de Jair Bolsonaro. De início, o presidente seguiu, em suas linhas básicas, a política externa de Donald Trump, que isolou os Estados Unidos do mundo e fez adversários em todas as partes, inclusive na Europa, onde os Estados Unidos sempre mantiveram alianças estreitas e amigos fiéis. Combateu a ordem mundial concebida e implantada por iniciativa dos Estados Unidos nas conferências de São Francisco e de Bretton Woods, logo após o término da Segunda Guerra Mundial.

As confusas e obscuras visões de mundo de Ernesto Araújo, o primeiro chanceler de Bolsonaro, inspiraram-se nas exóticas teses de Steve Bannon, o influente guru e “estrategista” de Trump, que chegou a criar um “movimento” nacional populista na Europa, com sede no mosteiro medieval de Trisulti, na Itália. Seu objetivo era o de abrigar uma escola para a formação dos cruzados do século 21. Ali eles seriam adestrados para defender os valores da cultura judaico-cristã contra as ameaças dos infiéis e do materialismo ateu. Os alunos do Instituto Rio Branco foram convocados para assistir a palestras nas quais ouviram, perplexos, uma doutrinação em defesa dos valores do cristianismo medieval. Não chegaram a realizar o seu treinamento em Trisulti, mas no auditório do Instituto Rio Branco, em Brasília.

Influenciado por essas visões insólitas, também compartilhadas por membros do gabinete da Presidência da República, o governo Bolsonaro iniciou uma meticulosa demolição de algumas de nossas mais respeitadas tradições diplomáticas. O alvo privilegiado, como também o era para Trump, foi a ONU, particularmente o Conselho dos Direitos Humanos e a Organização Mundial da Saúde. O multilateralismo passou, então, a ser considerado uma ameaça aos interesses brasileiros.

Na mesma linha, o Mercosul, que já foi um dos pilares de nossa diplomacia, sob Bolsonaro foi condenado ao descaso. Foi acusado por não ter alcançado a união aduaneira, nem mesmo o livre-comércio, o que é em parte verdade, sem lembrar que muitos dos que faziam a crítica são os mesmos que se haviam oposto a uma desgravação mais ampla. E não reconhecem tampouco a contribuição valiosa da harmonização do marco regulatório, nos mais diferentes setores, para a circulação mais desimpedida dos bens e capitais, ciência e tecnologia, transporte e serviços de infraestrutura, cultura e turismo, entre outros.

Nessas condições, o Mercosul ficou praticamente restrito a uma discussão ociosa entre Brasil e Argentina sobre o grau de redução da Tarifa Externa Comum, como se dois ou três pontos porcentuais, para cima ou para baixo, pudessem fazer a diferença para atingir um patamar mais elevado de integração entre os membros do acordo regional.

Enquanto isso, as reais questões sobre a reforma do Mercosul, a dinamização do comércio, a ampliação ou a expansão em direção à Aliança do Pacífico, ou mesmo em direção à Parceria Transpacífica, passaram para o segundo plano, pois não é possível avançar numa agenda regional, complexa e desafiadora sem o engajamento ativo dos chefes de Estado.

Outra iniciativa de que o Brasil havia participado e mesmo liderado, o acordo Mercosul- União Europeia, está paralisada diante das ofensas pessoais de Bolsonaro à esposa do presidente da França, um episódio sem precedentes na história da diplomacia brasileira. A recusa em não ratificar o acordo, da parte de outros países europeus, deveu-se ao descumprimento pelo Brasil de seus compromissos com a redução do desmatamento na Amazônia.

Por fim, vale relembrar os ruídos, senão hostilidades, em relação aos dois mais importantes parceiros econômicos do Brasil. A China, em razão das hostilidades gratuitas a membros de sua Embaixada em Brasília. Os Estados Unidos, pela embaraçosa, mas deliberada demora no reconhecimento da vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais norte-americanas.

Na iminência de concluir-se o governo do presidente Bolsonaro, resta uma indagação central: o que o Brasil ganhou com esta série de desfeitas e equívocos gratuitos de seu governo, inclusive em relação aos mais importantes parceiros do País? Os riscos e custos são conhecidos: o isolamento internacional do Brasil; a perda de sua liderança, inclusive em nossa própria região; e a criação, pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de um comitê especial para investigar a progressão do desflorestamento na Amazônia, cujos resultados serão levados em conta na aprovação ou não do pedido de adesão do Brasil ao organismo, por exemplo.

A política externa está entre os setores que o próximo governo, qualquer que seja, terá de mudar substancialmente.

* FOI EMBAIXADOR EM WASHINGTON E PRESIDENTE DO CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL-CHINA 

Books for the Century: Western Hemisphere - Foreign Affairs

Books for the Century: Western Hemisphere

For our centennial issue, our reviewers each selected a set of books essential to understanding the past century and another set essential for imagining the century ahead.

Foreign Affairs, 14/09/2022

 

Latin America’s last hundred years were ones of fitful economic gains, brutal dictatorships and tentative democracies, and complicated relations with the ascendant global superpower next door, the United States. Three books captured these and other trends that helped shape the region’s economic, political, and social trajectories.

For decades, dependency theory dominated Latin American economics, explaining the region’s struggles largely as results of its subordinate position in the global economy and the inherent limits of foreign capital for generating broad-based and inclusive growth. Because of its sweeping theoretical framework and the success of at least one of its authors—Cardoso later became president of Brazil—Dependency and Development in Latin America is a model of the genre. Governments put the authors’ views into practice through import-substitution industrialization, combining high import tariffs, quotas, and other protections with subsidies to boost domestic manufacturing. These measures spurred strong growth rates for a time, but the costs to public coffers and consumers alike precipitated a region-wide debt crisis and a lost economic decade in the 1980s. In the years that followed, many Latin American countries more fully embraced the market-oriented economic recommendations known as the Washington Consensus than did other developing regions.

In 1978, aside from the English-speaking Caribbean, only three Latin American countries were democratic. A mix of  authoritarian civilian and military regimes held sway. Nunca Más, the report of a truth commission set up by newly elected President Raúl Alfonsín in 1983 as Argentina returned to democracy, chronicled the individual horrors and the systematic violation of human rights during one period of military rule between 1976 and 1983. Based on thousands of interviews and exhaustive research, this almost unbearable read became a surprise bestseller and a model for other truth commissions as countries emerged from repressive rule. Its devastating clarity bolstered support for democracy in Argentina and throughout the region that remains strong, if somewhat diminished, today.

According to public opinion polls, most Latin Americans have a positive view of the United States and its people. Still, justified outrage over the country’s actions in the past have left many people suspicious of its intentions in the region in the present. No book better depicted the rationale and raw emotion behind this distrust than Galeano’s famous account, which chronicled centuries of exploitation by outsiders, from European conquistadors to U.S. multinational corporations. This memory of Latin America’s victimhood remains politically salient and expedient; in 2019, Mexican President Andrés Manuel López Obrador demanded that Spain apologize for its conquests and the atrocities committed by the conquistadors.

 

 

Redeemers: Ideas and Power in Latin America

By Enrique Krauze

Harper, 2011, 560 pp.

 

Forgotten Continent: A History of the New Latin America

By Michael Reid

Yale University Press, 2008, 400 pp.

 

Few authors have written about the region as a whole in recent years, nor have many laid out a vision for its future. In part, the paucity of works reflects a recognition of the region’s great variety across dozens of countries; after all, few books have been written about Asia writ large, either. But this deficit also suggests a Latin America on the margins of today’s global trends. Economic growth in the region has been too tepid to draw the serious investment by global companies. The lack of widespread terrorism and war has, in good ways, consigned it to the geopolitical sidelines. Meanwhile, governments in the region have turned inward to focus on their own political struggles and their failures to meet voters’ demands for better public services, increased economic opportunities, and reduced corruption.

By delving into Latin America’s intellectual history, Krauze illuminates the old ideas that continue to drive debates. Varied strains of anti-Americanism still pervade diplomatic relations and often stymie bilateral initiatives. Aspiring politicians on the left and the right today emulate the tactics of leaders such as Eva Perón, who served as Argentina’s first lady from 1946 to 1952, and Hugo Chávez, the Venezuelan president from 2002 to 2013, who railed against elites and sought to channel the so-called popular will without the interference of pesky democratic checks and balances. A century ago, the Peruvian intellectual José Carlos Mariátegui argued for the rights of indigenous peoples, foreshadowing the identity politics now taking root. These theories, philosophies, and approaches remain alive and vital to understanding the region today.

Reid, a longtime Latin America reporter and editor for The Economist, wrote the best current history of the region. In his 2008 classic, he did not gloss over the region’s problems, but he also told a quieter story of falling poverty rates, slightly narrowing inequalities, expanding social services, and hard-fought democratic advances.

The COVID-19 pandemic has devastated health, education, and economic structures, threatening decades of gains in Latin America. Violence, corruption, and poor infrastructure and public services hold back economic opportunities and prosperity. The region has done little to prepare for the industrial and labor transformations that automation and technology will swiftly bring.

Still, Latin America can play a vital role in the global fight against climate change. It is home to many of the world’s largest reserves of minerals essential for green technologies. And many of its countries have begun their own transition away from fossil fuels from an enviable base of already productive renewable energies. The region is well placed to take advantage of the once-in-a-generation unmooring of global supply chains now underway, with so many of its countries already free trade partners and democratic allies of the United States. Yet its political leaders, companies, workers, activists, and voters will need to grab the opportunities before other regions do to ensure that Latin America does not flatline while other parts of the world rise. As Reid notes in his 2017 revised edition, Latin America has surmounted considerable challenges in the past. And although democratic governance requires that reforms be incremental, Latin America’s history shows such efforts can bring real, lasting, and positive change.


Ukraine consolidates its gains against Russia's troops - Financial Times

Ukraine consolidates its gains agains Russia's troops

Financial Times, 15/09/2022:
Away from London, our biggest story this week had been the spectacular rout of Russian forces in eastern Ukraine. Slowly first and then suddenly, Ukrainian troops over the weekend won their biggest victory since forcing the Russians out of Kyiv.
They liberated 3,800 square kilometres of the country’s north-east in just six days with a co-ordinated attack of tanks, infantry and air cover that sent Russian troops fleeing. So the question now is whether this is a turning point in the war. I would argue that while hugely significant, it is too early to tell. Will the Russians regroup and learn from their mistakes?
The prospect of a Russian defeat is real and exhilarating, but as Gideon Rachman, our chief international columnist, writes, Ukraine’s advances also open a new and dangerous phase in the conflict.


Ukraine seeks to consolidate its gains in the east. Source: Institute for the Study of War, AEI’s Critical Threats Project, WorldPop, FT research © FT

 


Qual a importância da região reconquistada pela Ucrânia? - Roman Goncharenko (Deutsche Welle)

Qual a importância da região reconquistada pela Ucrânia?
Roman Goncharenko
Deutsche Welle, 15/09/2022


Em poucos dias, a Ucrânia conseguiu retomar da Rússia grandes áreas a leste da cidade de Kharkiv. Izyum, um entrocamento de transporte próximo à região do Donbass, é considerada particularmente importante.
São números que ainda surpreendem quem vive na Ucrânia: desde 6 de setembro, o Exército ucraniano reconquistou mais de 6 mil quilômetros quadrados e mais de 300 localidades na região de Kharkiv, com uma população total de cerca de 150 mil, afirmou a vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Maljar, nesta terça-feira (13/09).
Em decorrência, liberou-se quase todo o território no norte e leste da região de Kharkiv que fora rapidamente ocupado e mantido pelos russos no início da invasão, em 24 de fevereiro. Para a Ucrânia, essa contraofensiva é o segundo grande sucesso desde o final de março, quando a ofensiva russa em Kiev falhou – e Moscou retirou suas tropas que estavam ao norte da capital.
A princípio, Moscou ficou em silêncio por dias – e, depois, finalmente, classificou a retirada precipitada como um "reagrupamento". Porém, para Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, isso não significa um alívio: por se localizar próxima à fronteira com a Rússia, a cidade é bombardeada quase todos os dias pelos russos – e, recentemente, cada vez mais. Mas, para as áreas mais a leste, o fim da ocupação russa tem uma importância estratégica.
Izyum: a porta de entrada para a região do Donbass
Localizada no sudeste da região de Kharkiv, com cerca de 50 mil habitantes antes da invasão russa, Izyum é a cidade mais importante que a Ucrânia conseguiu reconquistar. A estratégica rodovia M-03 que passa pela localidade conecta Kharkiv com Sloviansk, na região vizinha de Donetsk. São apenas 50 quilômetros de Izyum a Sloviansk, que é a porta de entrada para o Donbass.
Desde o início da guerra no Donbass, em 2014, essa rodovia se tornou uma das principais vias da Ucrânia. Por meio dela, a Ucrânia abastecia suas tropas na região, a partir de Kharkiv.
A Rússia tenta cercar as tropas ucranianas perto de Sloviansk, também no norte, mas até agora não obteve sucesso. Houve combates pesados na área durante todo o verão europeu, a recaptura de Izyum aliviou as tropas ucranianas no Donbass e tornou possível continuar a ofensiva mais a leste.
Izyum não é importante apenas como entroncamento rodoviário. Uma fábrica de armas da estatal Ukroboronprom, localizada na cidade, é a única que produz vidros ópticos na Ucrânia. No local são fabricados a maioria dos dispositivos de visão noturna para a tecnologia militar ucraniana, incluindo os principais tanques e veículos blindados.
Além disso, partes do sistema de controle a laser para mísseis antitanque ucranianos dos tipos Stuhna e Korsar são produzidos na fábrica de armas em Izyum. Ambos os sistemas são usados na guerra.
Kupiansk: entroncamento ferroviário na fronteira russa
Não menos significativa é a cidade de Kupiansk, segundo entroncamento ferroviário mais importante da região de Kharkiv. Ela está localizada no norte, a apenas 40 quilômetros da fronteira com a Rússia.
As forças de ocupação russas usavam Kupiansk para transportar suprimentos para o front perto de Izyum. No lado russo, uma nova base militar foi construída nos últimos anos perto da cidade de Valuyki, quase na fronteira com a Ucrânia.
Kupiansk está localizada à margem do rio Oskol. Como resultado da contraofensiva ucraniana, as tropas russas recuaram para a sua margem oriental. Cerca de 60 mil moravam na cidade antes da invasão.
Durante a ocupação, uma "administração civil-militar" controlada por Moscou foi instaurada no local. A ofensiva ucraniana forçou os russos, primeiro, a se deslocarem para Vovchansk, perto da fronteira e, depois, para Belgorod, na Rússia.
Esta "administração" planejava realizar nos próximos meses um "referendo" para se unir à Rússia, a exemplo de outros territórios ocupados. Agora, esses planos foram interrompidos.

Balakliya: depósito de armas e campo de gás
Balakliya foi uma das primeiras cidades reconquistadas na região de Kharkiv. Com cerca de 27 mil habitantes antes da guerra, o lugar é menor que Izyum e Kupiansk, mas não está longe da estratégica rodovia M-03, no caminho de Kharkiv para Izyum.
Em 2017, Balakliya ganhou as manchetes na Ucrânia e no exterior quando um depósito de munições explodiu. De acordo com alguns relatos, ela já abrigou o maior depósito de munição do país, descrito como um legado da União Soviética. Na época, as autoridades em Kiev afirmaram que o depósito foi alvo de sabotagem.
O entorno de Balakliya é importante para o abastecimento de gás da Ucrânia, já que o campo de Shebelinka, o maior da Ucrânia, está localizado na área. Devido à proximidade das frentes de batalha, a produção estava em perigo. Quase metade do gás da Ucrânia é produzido na província de Kharkiv.

Ucrânia conseguirá manter os territórios recapturados?
Após o sucesso dos últimos dias, a Ucrânia está tentando avançar ainda mais para o leste e liberar outras regiões. No entanto, a velocidade diminuiu significativamente. A questão central nas próximas semanas provavelmente será se se conseguirá manter os territórios já reconquistados.
Os observadores não descartam a possibilidade de a Rússia se reorganizar e atacar novamente o norte. O líder tchetcheno Ramzan Kadyrov, cujas tropas são notórias na guerra da Ucrânia, anunciou que o território perdido seria trazido de volta ao controle de Moscou.
No entanto, tal não será fácil para o Exército russo: a Ucrânia está atualmente tentando avançar no sul, na região de Kherson, e conseguiu recapturar cidades menores.
Devido a sua proximidade com a Crimeia anexada, a Rússia aparentemente considera Kherson muito mais importante do que Kharkiv, e por isso tem enviado reforços para a região.

How Bad Will the German Recession Be? - Der Spiegel

A Alemanha, a maior economia da Europa, pode entrar em recessão, em função da guerra na Ucrânia e seu impacto nos preços e no fornecimento de insumos para sua indústria.

Der Spiegel, Hamburgo – 14.9.2022

How Bad Will the German Recession Be?

The first German companies have begun throwing in the towel and consumption is collapsing in response to the fallout from exploding energy prices. The economy is sliding almost uncontrolled into a crisis that could permanently weaken the country.

Michael Brächer, Matthias Kaufmann, Florian Diekmann, Simon Hage, Martin Hesse, Isabell Hülsen, Henning Jauernig, Kristina Gnirke, Simon Book, Gerald Traufetter and Cornelia Schmergal

 

To get a better idea of what lies ahead for the German economy, you can go out and talk to executives in the automotive industry and scholars of the economy; you can study inflation data and share prices. But it's probably also enough just to take a look at an indispensable, everyday product: toilet paper.

In the early days of the coronavirus pandemic, the product served as a gauge of the level of Germans' anxiety. The steeper the rate of infection, the emptier the shelves. Manufacturers of the hygiene product were even among the beneficiaries of the pandemic. Now, worries are once again growing across the country about potential shortages of toilet paper, only this time for completely different reasons. Hakle, a household brand name in Germany founded almost 100 years ago, last week filed for bankruptcy in self-administration.

The medium-sized paper manufacturer is one of the first victims of the crisis that is eating through the entire country. You need energy to turn wood into toilet paper – quite a lot of it. Hakle uses 60,000 megawatt hours of natural gas and 40,000 megawatt hours of electricity annually at its Düsseldorf plant alone. And the company can no longer afford it. Skyrocketing energy and raw material prices combined to push Hakle over the edge.

And they're not alone. Bad news from companies all over the country is piling up.

Company CEOs and union leaders are now speaking openly about their fears. "The worst is yet to come," says CEO Klaus-Dieter Maubach of the German natural gas import giant Uniper, referring to energy prices. And Yasmin Fahimi, head of the powerful DGB union, warned in an interview with DER SPIEGEL that if the government doesn't take swift countermeasures, there is a risk of domino effect that could lead to the de-industrialization of Germany. "That would be a disaster."

The question is no longer whether the crisis will come. The question is how bad it will be and how long it will last.

This tragedy has five acts, and it begins with the energy price shock. Its first victims have been manufacturers that are highly dependent on electricity and gas: paper manufacturers, fertilizer producers, steelmakers. They pass on the price increases – the second act – to other sectors, from industrial companies to small and medium-sized enterprises. For many companies, it is now a matter of sheer survival: More than 90 percent of companies see the increased prices for energy and raw materials as a strong or even existential challenge, according to a recent survey conducted by the Federation of German Industries (BDI).

Companies usually have no choice but to pass on the price increases to consumers, who are already having to save money to cover their skyrocketing electricity and gas bills. And that raises the curtain on the third act, the one with the makings of an economic disaster: Consumer sentiment is worse than it has ever been in postwar German history.

Vacation? A dinner out? New furniture? "These are purchases that millions of people in Germany will now postpone," warns economic researcher Sebastian Dullien, director of the trade union-affiliated Macroeconomic Policy Institute (IMK). Skyrocketing energy prices, he says, are a "gigantic macroeconomic shock." Some households don't know how they are going to pay the next heating bill, the economist warns. If the heater even works at all – a certainty is beginning to waiver in the face of looming shortages .

Consumption goes down, the first companies throw in the towel and, at some point, unemployment rises. Welcome to acts four and five of the economic drama. There is a word for this horror scenario that awakens age-old fears: recession. And it looks like the country will soon be right in the middle of one.

In the second quarter of 2022, the German economy grew by a paltry 0.1 percent. Economic researchers and policymakers alike are convinced that the next quarterly numbers will be negative. The question is whether politicians will manage to mitigate the consequences – or if there is a threat of an economic crisis that may last for several years with "losses of prosperity on a previously unimaginable scale," as Peter Adrian, the president of the Association of German Chambers of Commerce and Industry (DIHK) put it. In other words, a crisis that could eat away at the country's substance, undermining social security funds and the state's ability to act. It could also lead to the permanent disappearance of many companies. A crisis that would make Germans poorer.

These days, it's difficult to tell where to draw the line between pessimism and justified panic. What is certain is that Putin's economic war is hitting Germany where it hurts most: a gas price that has already more than quadrupled is crushing competitiveness, across pretty much all industries.

The current gas crisis has all the "ingredients for this to be the energy industry's Lehman Brothers," Finnish Economic Affairs Minister Mike Lintilä said recently. Back in 2008, investment banks triggered a global financial and economic crisis by selling toxic home mortgages tied up in wild securities constructs. This time, it is high gas and electricity prices that could trigger a systemic collapse.

 

Act One: Freezing Production

 

Alexander Becker is desperate. "We really don't know what to do anymore," says the CEO of the Georgsmarienhütte Group (GMH). "We're in a state of shock."

The company is one of Germany's larger steel producers. With 21 facilities, 6,000 employees, its own foundries and forgers – and a power requirement of 1 terawatt hour of electricity a year. That's more than the electricity consumption of 300,000 single-family homes.

Last year, the company paid 120 million euros for electricity and gas. If prices remain at current levels, costs will rocket to 1.2 billion euros next year. At worst, a loss of 1 billion euros would be incurred in the coming year. "We would be bankrupt immediately," Becker says.

To avoid that, GMH would have to raise its steel prices by 50 percent. "Customers won't go along with that," Becker says. Even the 20 percent boost in prices that have already been applied can't be implemented at two locations because customers have long since started buying their steel from China and India, where energy costs have so far risen only moderately, if at all. Becker has even instructed his own forges, which normally process domestic steel, to buy cheaper in Asia, a move that is particularly painful for him. "If policymakers don't take action quickly, Germany's energy-intensive industrial companies won't survive," Becker warns.

 

Para acessar a íntegra:

https://www.spiegel.de/international/business/energy-crisis-fallout-how-bad-will-the-german-recession-be-a-9e1f479e-5fef-4e62-b5ca-2f9e87b9bbca

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Almoço na embaixada do Japão: o mais interessante, além da conversa, foi o menu - Paulo Roberto de Almeida, Sergio Florêncio

 Tudo o que posso revelar sobre o almoço na embaixada do Japão no dia 31 de agosto. Só posso dizer que não foi um free lunch, um almoço grátis: foi pago com conversas...

Paulo Roberto de Almeida


Tive a honra de receber o Dr. Paulo Roberto de Almeida e o Embaixador Sergio Florêncio na minha residência. Estamos agradecidos por terem compartilhado seus profundos conhecimentos da #Diplomacia Brasileira.







Nossos agradecimentos pelo convite e cumprimentos ao chef da residência, que nos pródigo um lauto almoço e um dos melhores sakes. Saimos dirigindo...

Paulo Roberto de Almeida



O Briefing do New York Times sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia - Yana Dlugy (Sept 14, 2022)

Três vezes por semana, o NYT faz o point sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia.

Ukraine-Russia News

Author Headshot

By Yana Dlugy

The New York Times, September 14, 2022

The Russia-Ukraine War Briefing covers the most important news from the conflict. Expect it in your inbox three times a week.

Since the conflict began, more than a dozen New York Times journalists have reported from the region. We provide additional insight from our global newsroom, with more than 150 Times journalists contributing to on-the-ground reports, economic analysis and coverage of international reaction.


Welcome to the Russia-Ukraine War Briefing, your guide to the latest news and analysis about the conflict.

Suddenly, Putin in a bind


The rout that Ukraine inflicted on Russia in the northeast has put the Kremlin in an unfamiliar position.

Under President Vladimir Putin, Russia has spent years crushing his domestic opposition. After the start of the war, he cranked it up by criminalizing dissent from the Kremlin’s narrative of the war. In last week’s issue of this newsletter, the independent journalist Yevgenia Albats described how the system worked.

But the weekend defeat, in which Ukraine gained more ground in a few days than Russia had in months, drew protests from the opposite side of the political spectrum — the bloggers and politicians who make up the pro-war camp, my colleague Anton Troianovski writes.

Some of the loudest criticism has come from pro-war bloggers who have huge followings on social media and want the Kremlin to ramp up its fight in Ukraine.

Over the weekend, when Putin presided over the opening of a Ferris wheel in Moscow as Russian troops fled the battlefield in Kharkiv, one such blogger, Pyotr Lundstrem, was livid.

“You’re throwing a billion-ruble party,” he wrote in a widely circulated post. “What is wrong with you? Not at the time of such a horrible failure.”

On Russian state television, where criticism of the Kremlin is rare, there is now some debate. Supporters of the war are pointing fingers over what they describe as a disorganized and insufficiently concerted invasion; others are raising the idea of suing for peace.


So far the criticism has not been directed at Putin but toward the military leadership and officials, saying they have not waged the war the right way or have not delivered all the facts to Putin. This despite reports in May that Putin was micro-managing the invasion.

Putin’s opponents have also been emboldened. This week, more than 40 elected officials across Russia signed a two-sentence petition demanding Putin’s resignation — an extraordinary step in a country where people have been jailed for calling the war a war.

Daring to hope

“Many have the hope that something will finally break,” Ivan Kurilla, a historian at the European University at St. Petersburg and a Putin critic, told Anton. “We are probably wrong, it’s probably not yet time, but since everyone has been waiting for half a year for something to crack, this hope is very strong.”

Putin now finds himself in a bind. The Kharkiv defeat has undercut the image of competence and might that he has worked to build over two decades. Hawks are calling for a full mobilization, but that would shatter the image of normality that the Kremlin has built around the war. The Kremlin still refers to the war as a “special military operation” and has refused to resort to a draft.

As a result, Putin faces an increasingly energized and motivated enemy in Ukraine, while his army is spent and often demoralized. The Russians do not appear to be prepared for the sacrifices that could come with an escalating conflict.


What next

Putin faces no good options, analysts say. Escalating a war whose domestic support may turn out to be superficial could stir domestic unrest. Continuing retreats on the battlefield could spur a backlash from hawks who have bought into the Kremlin narrative that Russia is fighting “Nazis” for its very survival.

A Russian lawmaker, Konstantin Zatulin, said an “urgent adjustment” to the war effort was needed. But he cautioned: “It must be underlined that this criticism should not go overboard. Otherwise, it could spark an uncontrollable reaction.”

Ukraine has continually upped its definition of victory, from a Russian withdrawal to lines before Feb. 24, to the recapture of all territory including Crimea and Donbas areas under separatist control since 2014, to reparations and war crimes trials, Russia expert Anne Applebaum wrote in The Atlantic.

A victory for Ukraine on its terms would bring about the fall of Putin, Applebaum wrote. “It is inconceivable that he can continue to rule if the centerpiece of his claim to legitimacy — his promise to put the Soviet Union back together again — proves not just impossible but laughable,” she wrote.

But such a scenario would also bring uncertainty because “there is no transition mechanism in Russia. There is no dauphin,” she wrote. “The possibility of instability in Russia, a nuclear power, terrifies many. But it may now be unavoidable.”


Source: Institute for the Study of War | By The New York Times