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sábado, 9 de fevereiro de 2019

Da TV Lula à TV Bolsonaro? - Ricardo Bergamini e Rodrigo Constantino


Sai o populismo de esquerda e entra o populismo de direita, que a Janaina Paschoal chamou de “petistas com sinal trocado”.

O ministro Paulo Guedes já deu várias dicas da pressão que vem sofrendo para privatizar o entulho estatal, que não serve para o povo, mas somente para a burguesia estatal.

Na defesa de interesses corporativos todas as ideologias existentes no Brasil são aliadas históricas (Ricardo Bergamini).



Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.



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TV Lula. Era assim que Bolsonaro chamava a TV Brasil, subsidiária da estatal EBC. O atual presidente sempre condenou a existência desse troço, um instrumento para bancar militantes. Definiu inclusive como promessa de campanha acabar com a empresa. Uma vez eleito, no poder, o tom mudou. A EBC não seria mais fechada ou vendida. A TV Brasil não desapareceria. Ao contrário: seria alvo de uma “restruturação”.

Escrevi textos condenando tanto a decisão de não acabar com a estatal como essa suposta restruturação. Fontes internas me asseguraram se tratar de um engodo. A empresa enviou para a Gazeta do Povo uma resposta, e em nome do debate aberto vou publicar aqui um trecho:

A EBC não é um canal de televisão. Trata-se de uma empresa pública gestora de duas emissoras de TV, sete emissoras de rádio, uma agência de notícias, duas agências de conteúdos radiofônicos, portais e redes sociais.

A EBC é uma empresa estratégica de comunicação. Leva informações para lugares onde a iniciativa privada não alcança, promove a integração nacional e oferece conteúdos premiados e diferenciados. Diversos portais aproveitam grande parte do conteúdo produzido pelos veículos EBC. Fotos feitas pelos profissionais da empresa abrem a primeira página de jornais de cobertura nacional e regional.

A empresa faz a cobertura dos atos do governo federal e distribui o conteúdo a veículos de comunicação de todo o país e estrangeiros. O selo da NBR, por exemplo, aparece diariamente em matérias dos programas jornalísticos desses veículos.

O plano de reestruturação da EBC é real e está totalmente alinhado às diretrizes do Governo Federal. Propõe a racionalização e otimização dos recursos com a ampliação do alcance e espectro de atuação da empresa. Beneficia o contribuinte usuário porque busca a sustentabilidade orçamentária e financeira, com menor dependência em relação ao Tesouro Nacional.

O processo de seleção e nomeação de perfis para os cargos comissionados e de direção, Diretoria Executiva, Conselhos e Comitês, segue critérios técnicos e convergentes com a Lei das Estatais.  

A nova EBC utilizará sua competência profissional para produzir conteúdos de qualidade, educativos, culturais, científicos, informativos e de utilidade pública. O objetivo é o de apresentar uma TV para todos os brasileiros sem segmentação, oferecendo informações e programas com temas universais e de interesse geral do público.

Desde a criação da EBC, em 2007, o eixo principal das ações está em Brasília, sendo que o Rio de Janeiro permanece como principal centro de produção. É completamente falsa a afirmação de que a sede do Rio foi dizimada. Pelo contrário, os dois imóveis que abrigam as instalações e pessoal foram recentemente reformados e adequados para suportar a estrutura existente.

Em relação ao aluguel da sede de Brasília, a gestão conseguiu reduzir seu valor em 13% em 2018. As alterações estruturais, como as nomenclaturas de cargos, decorrem das necessidades de atendimento das missões da EBC e são previamente aprovadas pela Diretoria Executiva e pelo Conselho de Administração. Os recentes cortes de cargos e exonerações estão diretamente ligados à reestruturação da EBC e alinhados às diretrizes do Governo Federal. Nada tem a ver com alegados nepotismo/pessoalidade. 

Atenciosamente,

Gerência de Comunicação

Empresa Brasil de Comunicação (EBC)

“A EBC é uma empresa estratégica de comunicação. Leva informações para lugares onde a iniciativa privada não alcança, promove a integração nacional e oferece conteúdos premiados e diferenciados”. Essa justificativa é a mesma de todo estatizante. A Petrobras é “estratégica”. O Correio é “estratégico”. O Banco do Brasil é “estratégico”. A Caixa é “estratégica”. E atuam onde a iniciativa privada não “alcança”. Trata-se simplesmente de uma justificativa inaceitável para qualquer um familiarizado com o liberalismo.

O governo Bolsonaro, não obstante, preferiu ignorar sua promessa de campanha e manter a estatal. A reação a esta decisão equivocada serve como divisor de águas e facilita muito na identificação dos perfis mais à direita. Quem é realmente independente, elogiando o que merece elogio e criticando o que deve ser criticado, condenou a decisão publicamente. Foi o que fez a turma liberal em peso. Grave erro do governo optar pela manutenção da EBC.

Já os “isentões” de direita adotaram um discurso mais “neutro”, do tipo: “A medida é errada em si, mas calma, Bolsonaro não pode desfazer em um mês aquilo tudo de ruim que o PT fez em mais de uma década”. A narrativa pode confortar alguns, os mais pragmáticos podem se convencer de que seria negativo cortar a boquinha de centenas de funcionários encostados na estatal, mas a decisão continua sendo inaceitável e traindo uma promessa de campanha.

Já os “minions”, aqueles fanáticos que acham que o “mito” jamais está errado, justificaram e até aplaudiram a medida: agora o governo terá um canal de televisão para combater a doutrinação esquerdista! Esses são aqueles que Janaina Paschoal chamou de “petistas com sinal trocado”. Eles estão dispostos a adotar todos os métodos do inimigo, desde que para a “causa certa”. Os “nobres” fins justificam quaisquer meios. Assassinato de reputação, duplo padrão, perseguição e intimidação, mentiras, tudo é válido se for para ajudar na “causa”, ou seja, manter Bolsonaro no poder para ele “salvar” o Brasil.

A TV Lula também é conhecida como TV Traço, ou seja, não tem audiência. Mante-la não é perigoso por questões de doutrinação ideológica, já que ninguém assiste o troço. O ponto é outro: serve como instrumento para bancar a militância, que atua em outros canais. Bolsonaro tem militância voluntária, mas como agora é poder, muitos poderão apresentar a fatura, ou trabalhar em dobro se passarem a receber por isso. Se eram chatos nas redes sociais de graça, imagina recebendo uma bolada da estatal?

O aparelhamento da máquina estatal foi um dos pontos que mais receberam críticas na era petista, com razão. A vitória de Bolsonaro representa uma guinada à direita, e “despetizar” o estado é uma meta louvável. Mas não para aparelhar com “minions” em seu lugar! Isso é simplesmente absurdo e inaceitável. Quem aplaude a manutenção da EBC como estatal, e talvez esteja de olho num cargo na TV Brasil, demonstra ser inimigo do Brasil, ao menos de um país republicano, sério e livre.

Bolsonaro foi eleito, entre tantas outras coisas, para acabar com a TV Brasil, não para criar a TV Minion.

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