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quinta-feira, 7 de junho de 2018

Jaime Cortesao: trajetorias de um triplo exílio - Francisco Roque de Oliveira

Transcrevo, sem comentários no momento, excelente relatório feito pelo professor Francisco Roque de Oliveira, sobre o colóquio recentemente realizado na Biblioteca Nacional de Portugal, em torno da obra no exílio do mais insigne representante da historiografia luso-brasileira do século XX.
Paulo Roberto de Almeida 

Jaime Cortesão: escritos e geografias do exílio

Nos dias 10 e 11 de Maio de 2018 deco­rreu na Biblio­teca Nacio­nal de Por­tu­gal, em Lis­boa, o Sim­pó­sio Inter­na­cio­nal Jaime Cor­te­são: escri­tos e geo­gra­fias do exí­lio.Tratou-se de uma ini­cia­tiva con­junta do CEG-Centro de Estu­dos Geo­grá­fi­cos da Uni­ver­si­dade de Lis­boa e do CHAM-Centro de Huma­ni­da­des da Uni­ver­si­dade Nova de Lis­boa e da Uni­ver­si­dade dos Aço­res, em par­ce­ria com a Biblio­teca Nacio­nal de Por­tu­gal. Esta reunião foi rea­li­zada no âmbito das acti­vi­da­des do Pro­jecto de Inves­ti­gação FCT/CAPES «Sabe­res geo­grá­fi­cos e geo­gra­fia ins­ti­tu­cio­nal: influên­cia e relações recí­pro­cas entre Por­tu­gal e o Bra­sil no século XX», desen­vol­vido no Cen­tro de Estu­dos Geo­grá­fi­cos da Uni­ver­si­dade de Lis­boa, e do grupo de inves­ti­gação Lei­tura e For­mas de Escrita do CHAM.
Este Sim­pó­sio propôs-se reunir os mais recen­tes resul­ta­dos da inves­ti­gação que vem sendo rea­li­zada em torno da obra do autor de Ale­xan­dre de Gus­mão e o Tra­tado de Madrid e da His­tó­ria do Bra­sil nos vel­hos mapas. Pretendeu-se tam­bém apro­fun­dar o con­he­ci­mento sobre os suces­si­vos con­tex­tos de exí­lio que Jaime Cor­te­são enfren­tou na Europa e no Bra­sil durante mais de 30 anos, com des­ta­que para aque­les que deco­rre­ram na Espanha repu­bli­cana e no Rio de Janeiro das déca­das de 1940 e 1950. Esta ini­cia­tiva foi ainda pen­sada como uma opor­tu­ni­dade para reflec­tir sobre o impor­tante legado de Cor­te­são enquanto edi­tor e tra­du­tor, assim como para ana­li­sar o estado actual dos pro­jec­tos de edição da sua obra, tanto em Por­tu­gal como no Brasil.
A escolha da Biblio­teca Nacio­nal de Por­tu­gal para local de rea­li­zação deste Sim­pó­sio repre­sen­tou um gesto sim­bó­lico. Jaime Cor­te­são (1884–1960) foi o mais des­ta­cado direc­tor da então cha­mada Biblio­teca Nacio­nal de Lis­boa durante a I Repú­blica Por­tu­guesa (1910–1926). A par­tir de 1919, quando foi nomeado para esse cargo, Cor­te­são teve opor­tu­ni­dade de exe­cu­tar aí um notá­vel tra­balho de reor­ga­ni­zação admi­nis­tra­tiva e téc­nica e – sobre­tudo – de dou­tri­nação cul­tu­ral e cívica, tendo sido saneado em 1927, na sequên­cia da ins­tau­ração da dita­dura mili­tar em Por­tu­gal. Médico por for­mação e escri­tor por vocação, este inte­lec­tual mul­ti­fa­ce­tado foi poeta e fic­cio­nista, dra­ma­turgo e escri­tor de via­gens, peda­gogo das Uni­ver­si­da­des Popu­la­res das pri­mei­ras déca­das do século XX e, final­mente, o historiador-geógrafo que reali­zou a sín­tese entre a his­to­rio­gra­fia dos Anna­les de Lucien Feb­vre e Marc Bloch e a geo­gra­fia humana de Cami­lle Vallaux e Jean Brun­hes apli­cada à his­tó­ria de Por­tu­gal e do seu império.
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Cor­te­são foi estu­dado como um pro­ta­go­nista, entre outros, de uma bril­hante diás­pora polí­tica e cien­tí­fica que tem inúme­ras afi­ni­da­des com a diás­pora repu­bli­cana espan­hola que se viu obri­gada a reinventar-se nas Amé­ri­cas na mesma época, fazendo fru­ti­fi­car aí as suas com­pe­tên­cias inte­lec­tuais e o seu cosmopolitismo.
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Jaime Cor­te­são foi tam­bém um homem de acção polí­tica muito empen­hado e, por isso mesmo, sem­pre muito temido pela dita­dura por­tu­guesa. Os atri­bu­la­dos anos da sua per­ma­nên­cia em Espanha e Fra­nça, entre 1927 e 1940, repre­sen­tam a expe­riên­cia de um dos prin­ci­pais pro­ta­go­nis­tas de exí­lio repu­bli­cano por­tu­guês acos­sado e dis­perso entre Madrid, Bar­ce­lona, o sul de Fra­nça e Paris. Banido para o Bra­sil por ordem de Sala­zar, em 1940, Cor­te­são rela­nçou no Rio de Janeiro o magis­té­rio e as pes­qui­sas que fize­ram dele a mais impor­tante figura da his­to­rio­gra­fia luso-brasileira do século XX. Regres­sado defi­ni­ti­va­mente a Por­tu­gal em 1957, foi eleito pre­si­dente da Socie­dade Por­tu­guesa de Escri­to­res e pro­posto como can­di­dato à Pre­si­dên­cia da Repú­blica pela opo­sição não comu­nista orga­ni­zada sob a égide do Direc­tó­rio Democrato-Social, indi­gi­tação essa que decli­nou. Preso uma última vez por moti­vos polí­ti­cos quando con­tava já 74 anos de idade, foi liber­tado na sequên­cia de uma intensa cam­panha inter­na­cio­nal de pro­testo enca­beçada pela imprensa bra­si­leira. Depois de reins­tau­rada da demo­cra­cia em Por­tu­gal, Cor­te­são seria rein­te­grado na função pública a título pós­tumo, restituindo-se-lhe então as hon­ras e dig­ni­da­des de que fora arbi­tra­ria­mente pri­vado, como se lê no Decreto-Lei 275, de 14 de Agosto de 1980, que deter­mi­nou esta repa­ração moral.
Atra­vés do estudo de algu­mas das prin­ci­pais peças da obra de Jaime Cor­te­são, os par­ti­ci­pan­tes neste Sim­pó­sio tive­ram opor­tu­ni­dade de inqui­rir aspec­tos asso­cia­dos à dura­doura marca dei­xada na ciên­cia e na uni­ver­si­dade por­tu­gue­sas por força dos exí­lios e de toda a série cons­tran­gi­men­tos mais dis­cre­tos, mas nem por isso menos efi­ca­zes, impos­tos pela dita­dura à acti­vi­dade cien­tí­fica e ao saber em geral. Nesse sen­tido, Cor­te­são foi tam­bém estu­dado como um pro­ta­go­nista, entre outros, de uma bril­hante diás­pora polí­tica e cien­tí­fica que tem inúme­ras afi­ni­da­des com a diás­pora repu­bli­cana espan­hola que se viu obri­gada a reinventar-se nas Amé­ri­cas na mesma época, fazendo fru­ti­fi­car aí as suas com­pe­tên­cias inte­lec­tuais e o seu cos­mo­po­li­tismo. O Sim­pó­sio estruturou-se em três mesas dis­tin­tas, pre­ce­di­das por uma ses­são de aber­tura e uma con­fe­rên­cia inau­gu­ral, con­forme a sequên­cia que pas­sa­mos a resenhar.
Usa­ram da pala­vra na ses­são de aber­tura os direc­to­res dos dois Cen­tros de inves­ti­gação orga­ni­za­do­res – Mário Vale pelo CEG e João Paulo Oli­veira e Costa pelo CHAM –, Car­los Kes­sel, chefe do Setor Cul­tu­ral da Embai­xada do Bra­sil em Lis­boa, Vera Lucia Ama­ral Fer­lini, res­pon­sá­vel pela Cáte­dra Jaime Cor­te­são da Uni­ver­si­dade de São Paulo e Ins­ti­tuto Camões, para além de Fran­cisco Roque de Oli­veira, pela comis­são orga­ni­za­dora do Sim­pó­sio. A lição inau­gu­ral esteve a cargo de Joa­quim Romero Magal­hães (Uni­ver­si­dade de Coim­bra), que dis­ser­tou sobre «O des­con­he­cido Bra­sil, de los comien­zos a 1799, de Jaime Cor­te­são (1956)». Trata-se de uma obra que apa­re­ceu inte­grada no volume 26 da His­to­ria de Amé­rica y de los Pue­blos Ame­ri­ca­nos diri­gida por Anto­nio Balles­te­ros y Berreta, publi­cada em Bar­ce­lona pela Edi­to­rial Sal­vat. Sabe-se que a mesma obra teve ori­gem num con­trato assi­nado ainda em 1933, quando Cor­te­são vivia exi­lado em Madrid e cuja con­cre­ti­zação em livro seria pro­te­lada pelas vicis­si­tu­des da Gue­rra Civil de Espanha e da II Gue­rra Mundial.
Jaime Cortesão durante o seu exílio no Brasil (c. 1950) Fotografia: Espólio Jaime Cortesão, Biblioteca Nacional de Portugal (Lisboa).
Jaime Cor­te­são durante o seu exí­lio no Bra­sil (c. 1950)
Foto­gra­fia: Espó­lio Jaime Cor­te­são, Biblio­teca Nacio­nal de Por­tu­gal (Lisboa).
A pri­meira mesa do Sim­pó­sio foi subor­di­nada ao tema «Jaime Cor­te­são, edi­tor e edições», tendo sido preen­chida por duas comu­ni­cações que arti­cu­la­ram a prin­ci­pal acti­vi­dade de Cor­te­são enquanto publi­cista durante a I Repú­blica Por­tu­guesa e o seu con­tri­buto como edi­tor e tra­du­tor ao longo das déca­das seguin­tes. Daniel Pires (Cen­tro de Estu­dos Boca­gea­nos e CLEPUL-Centro de Lite­ra­tu­ras e Cul­tu­ras Lusó­fo­nas e Euro­peias da Uni­ver­si­dade de Lis­boa) trouxe uma comu­ni­cação sobre «Jaime Cor­te­são, o Grupo da Biblio­teca e a Seara Nova», tendo apre­sen­tado uma carta des­con­he­cida na qual o escri­tor e jor­na­lista Raul Proença – chefe da Divi­são dos Ser­viços Téc­ni­cos da Biblio­teca Nacio­nal durante a Dire­cção de Cor­te­são – se insurge con­tra a cen­sura imposta na sequên­cia do golpe mili­tar do 28 de Maio de 1926, que ins­ti­tuiu a dita­dura em Por­tu­gal. Coube a Daniel Melo (CHAM) apre­sen­tar «Jaime Cor­te­são enquanto pro­mo­tor da edição e da lei­tura», suma­riando a fecunda acti­vi­dade que deco­rreu entre a cola­bo­ração de Cor­te­são com o movi­mento cul­tu­ral Renas­ce­nça Por­tu­guesa e o magis­té­rio da Uni­ver­si­dade Popu­lar do Porto, em 1914, e o seu tra­balho como edi­tor lite­rá­rio no Bra­sil, pas­sando pelo com­pro­misso que teve com a Asso­ciação Inter­na­cio­nal de Escri­to­res para a Defesa da Cul­tura, em par­ti­cu­lar por via da par­ti­ci­pação nos Con­gres­sos Inter­na­cio­nais de Escri­to­res pela Defesa da Cul­tura de 1935 (Paris) e 1937 (Valência-Madrid-Barcelona-Paris).
A segunda mesa foi dedi­cada à «Escrita da His­tó­ria», agru­pando qua­tro comu­ni­cações. Vera Fer­lini apre­sen­tou «Jaime Cor­te­são: novas dimen­sões para a His­tó­ria de São Paulo». Par­tindo das obras A Fun­dação de São Paulo – Capi­tal Geo­grá­fica do Bra­sil (1955), Ale­xan­dre de Gus­mão e o Tra­tado de Madrid (1952–1961) e Raposo Tava­res e a For­mação Terri­to­rial do Bra­sil (1958), Fer­lini salien­tou o modo como as mes­mas dia­lo­ga­ram com as pers­pec­ti­vas his­to­rio­grá­fi­cas do Ins­ti­tuto His­tó­rico e Geo­grá­fico de São Paulo (IHGSP) e as teses de alguns dos seus notá­veis his­to­ria­do­res bra­si­lei­ros de então, como Afonso d’Escragnolle Tau­nay e Sér­gio Buar­que de Holanda. Renato Amado Pei­xoto (Uni­ver­si­dade Fede­ral do Rio Grande do Norte) cen­trou a sua inter­ve­nção inti­tu­lada «Oxy­mo­ron: Cor­te­são, Varn­ha­gen, o Meri­diano de Tor­de­sil­has e a repre­sen­tação da For­mação do Bra­sil» numa pers­pec­tiva equi­va­lente a essa. Neste caso, tratou-se de con­fron­tar alguns dos con­teú­dos con­so­li­da­dos na his­to­rio­gra­fia bra­si­leira do século XIX, que se reper­cu­ti­ram dura­dou­ra­mente na cons­trução pro­gra­má­tica da iden­ti­dade nacio­nal atra­vés do ensino da Geo­gra­fia e da His­tó­ria, com algu­mas das teses que Cor­te­são gizou para expli­car o pro­cesso de for­mação terri­to­rial deste país e que for­ma­li­zou em dois pro­jec­tos edi­to­rais orga­ni­za­dos no âmbito do Minis­té­rio das Relações Exte­rio­res do Bra­sil: o Atlas His­tó­rico do Bra­sil (1959) e a His­tó­ria do Bra­sil nos vel­hos mapas (1957–1971).
«Os irmãos Jaime e Armando Cor­te­são. Dos exí­lios e das polé­mi­cas his­to­rio­grá­fi­cas na expan­são atlân­tica» cons­ti­tuiu o título escol­hido por Rui S. Andrade (Cen­tro de His­tó­ria da Uni­ver­si­dade de Lis­boa), numa comu­ni­cação cen­trada em algu­mas das mais rele­van­tes teo­rias que estes dois his­to­ria­do­res desen­vol­ve­ram ao longo de déca­das no qua­dro de um esfo­rço inte­lec­tual mais vasto, com raí­zes fun­das na his­to­rio­gra­fia do século XIX, e de que são exem­plo a cha­mada «polí­tica do sigilo» e o suposto des­co­bri­mento pré-colombino da Amé­rica pelos por­tu­gue­ses. Como ilus­trou Andrade, tais teo­rias esti­ve­ram na ori­gem de um intenso debate tra­vado entre os irmãos Cor­te­são e diver­sos aca­dé­mi­cos anglo-saxónicos, assim como com alguns dos seus pares por­tu­gue­ses e bra­si­lei­ros, cons­ti­tuindo um dos aspec­tos mais inter­es­san­tes, mas tam­bém mais con­tro­ver­sos do seu legado. A fechar a ses­são, José Manuel Gar­cia (Aca­de­mia Por­tu­guesa da His­tó­ria) apre­sen­tou «Os Des­co­bri­men­tos Por­tu­gue­ses de Jaime Cor­te­são: bala­nço de uma carreira his­to­rio­grá­fica». Como o título indi­cia, tratou-se de uma abor­da­gem àquela que cons­ti­tui a última grande empresa his­to­rio­grá­fica de Cor­te­são, vista aqui, simul­ta­nea­mente, como ponto de che­gada e sín­tese monu­men­tal de cerca de qua­tro déca­das de carreira no domí­nio da his­tó­ria da expan­são portuguesa.
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Entre as suces­si­vas ini­cia­ti­vas aglu­ti­na­do­ras da opo­sição por­tu­guesa no exí­lio dina­mi­za­das por Jaime Cor­te­são, destacou-se a União dos Anti­fas­cis­tas Por­tu­gue­ses Resi­den­tes em Espanha, criada em Madrid depois da vitó­ria elei­to­ral da Frente Popu­lar, em Feve­reiro de 1936, e a Dele­gação da Frente Popu­lar Por­tu­guesa ins­ti­tuída em Bar­ce­lona com apoio do governo repu­bli­cano e da Gene­ra­li­tat da Catalunha.
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A última mesa do Sim­pó­sio agru­pou três comu­ni­cações à volta do tema gené­rico «Geo­gra­fias do exí­lio». Cris­tina Clí­maco (Uni­ver­sité Paris 8) leu «O exí­lio euro­peu de Jaime Cor­te­são e a luta anti­fas­cista (1927–1940)», des­cre­vendo e con­tex­tua­li­zando os perío­dos de per­ma­nên­cia de Cor­te­são em Espanha e Fra­nça na sequên­cia da sua par­ti­ci­pação na frus­trada revolta de Feve­reiro de 1927 con­tra a dita­dura mili­tar por­tu­guesa e o papel que lhe coube como dina­mi­za­dor de suces­si­vas ini­cia­ti­vas aglu­ti­na­do­ras da opo­sição no exí­lio. Entre estas, Clí­maco des­ta­cou a União dos Anti­fas­cis­tas Por­tu­gue­ses Resi­den­tes em Espanha, criada em Madrid depois da vitó­ria elei­to­ral da Frente Popu­lar, em Feve­reiro de 1936, e a Dele­gação da Frente Popu­lar Por­tu­guesa ins­ti­tuída em Bar­ce­lona com apoio do governo repu­bli­cano e da Gene­ra­li­tat da Cata­lunha. Fran­cisco Roque de Oli­veira (CEG-Universidade de Lis­boa), Roger Lee de Jesus (Uni­ver­si­dade de Coim­bra) e Rui S. Andrade apre­sen­ta­ram «Abraça-te o teu irmão muito amigo: a corres­pon­dên­cia entre Jaime e Armando Cor­te­são», tendo sin­te­ti­zado o con­teúdo do extenso con­junto de car­tas dis­per­sas pelos arqui­vos de Lis­boa, Coim­bra e Rio de Janeiro atra­vés das quais se podem seguir as vicis­si­tu­des do exí­lio durante muito tempo par­til­hado pelos irmãos Cor­te­são, os con­tex­tos que os enqua­dra­ram, assim como o desen­vol­vi­mento das res­pec­ti­vas obras cien­tí­fi­cas, desig­na­da­mente no domí­nio da his­tó­ria da car­to­gra­fia, cujo inter­esse par­til­ha­ram. Por último, Aqui­lino Machado (CEG-Universidade de Lis­boa) expôs «Do Vera Cruz ao Bra­sil: entre a via­gem de Aqui­lino Ribeiro e as geo­gra­fias do exí­lio de Jaime Cor­te­são», comu­ni­cação cen­trada nos regis­tos autó­gra­fos e na docu­men­tação exis­tente sobre a des­lo­cação de Aqui­lino Ribeiro ao Bra­sil, em 1952, e o círculo de socia­bi­li­da­des do exí­lio polí­tico por­tu­guês aí radi­cado com o qual este escri­tor man­teve impor­tan­tes contactos.
Em ses­são extra­or­di­ná­ria que deco­rreu no início do segundo dia de tra­bal­hos, Roger Lee de Jesus intro­du­ziu os dois úni­cos regis­tos sono­ros de Jaime Cor­te­são edi­ta­dos em disco no final da década de 1950. De seguida, o mesmo Roger Lee de Jesus e Fran­cisco Roque de Oli­veira apre­sen­ta­ram o Dia­po­rama que ela­bo­ra­ram a par­tir da longa entre­vista con­ce­dida por Cor­te­são ao jor­na­lista Igre­jas Caeiro em 1958 e então emi­tida pelo Rádio Clube Por­tu­guês. Na mesma oca­sião, foi exi­bido na sala Mul­ti­mé­dia da Biblio­teca Nacio­nal o epi­só­dio do docu­men­tá­rio À Porta da His­tó­ria dedi­cado a Jaime Cor­te­são. Rea­li­zado por Jorge Pai­xão da Costa para a Rádio e Tele­vi­são de Por­tu­gal (RTP) em 2015, este epi­só­dio foi gen­til­mente cedido para exi­bição não comer­cial durante o Sim­pó­sio pela Ukbar Fil­mes. Para­le­la­mente, os Ser­viços da Biblio­teca Nacio­nal de Por­tu­gal, coor­de­na­dos por Manuela Rêgo, orga­ni­za­ram uma pequena mos­tra biblio­grá­fica que reuniu algu­mas das mais impor­tan­tes obras de Jaime Cor­te­são nos domí­nios da his­to­rio­gra­fia – sobre­tudo sobre o Bra­sil –, da cró­nica de via­gens, do registo memo­ria­lís­tico de gue­rra e da poesia.

CENTRO DE ESTUDOS GEOGRÁFICOS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA. Sabe­res geo­grá­fi­cos e geo­gra­fia ins­ti­tu­cio­nal: influên­cia e relações recí­pro­cas entre Por­tu­gal e o Bra­sil no século XX, Pro­jecto Con­vé­nio FCT-CAPES, 2016–2018, Proc. 44.1.00 CAPES/8513/14–7. <http://www.ceg.ulisboa.pt/saberesgeograficos/>

OLIVEIRA, Fran­cisco Roque de. A «Ilha Bra­sil» de Jaime Cor­te­são: ideias geo­grá­fi­cas e expres­são car­to­grá­fica de um con­ceito geo­po­lí­tico. Biblio 3W. Revista Biblio­grá­fica de Geo­gra­fía y Cien­cias Socia­les. [En línea]. Bar­ce­lona: Uni­ver­si­dad de Bar­ce­lona, 25 febrero 2017, Vol. XXII, nº 1.191. <http://www.ub.edu/geocrit/b3w-1191.pdf>

Fran­cisco Roque de Oli­veira é inves­ti­ga­dor do Cen­tro de Estu­dos Geo­grá­fi­cos e pro­fes­sor no Ins­ti­tuto de Geo­gra­fia e Orde­na­mento do Terri­tó­rio da Uni­ver­si­dade de Lisboa.

Ficha biblio­grá­fica:
OLIVEIRA, Fran­cisco Roque de. Jaime Cor­te­são: escri­tos e geo­gra­fias do exí­lio. Geo­cri­tiQ. 30 de mayo de 2018, nº 391. [ISSN: 2385–5096]. <http://www.geocritiq.com/2018/05/jaime-cortesao-escritos-e-geografias-do-exilio>

terça-feira, 17 de abril de 2018

A cartografia do Brasil nas coleções da Biblioteca Nacional (1700-1822)


A Cartografia do Brasil nas Colecções da Biblioteca Nacional (1700-1822)


A cartografia Cartografia do Brasil nas colecções da Biblioteca Nacional foi um projecto de levantamento e descrição da cartografia manuscrita e impressa relativa ao Brasil, existente nas colecções das Áreas de Cartografia, Iconografia e Divisão de Reservados da Biblioteca Nacional. O projecto, da responsabilidade da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses e da Biblioteca Nacional, foi desenvolvido ao longo de dois anos (1998-2000) no âmbito das comemorações dos 500 anos da descoberta do Brasil.
O objectivo principal do projecto foi conhecer e divulgar a documentação cartográfica existente nas colecções da Biblioteca Nacional. Foram objecto de levantamento sistemático os documentos cartográficos, manuscritos e impressos, das colecções de Reservados, de Cartografia e de Iconografia. O período cronológico abrangido situou-se entre 1700 e 1822. A partir de 1700, pelo facto do século XVIII ser, por excelência, o tempo do Brasil na História da Cartografia Portuguesa; até 1822 porque a data da independência do território constitui, por si só, um marco cronológico com repercussões na responsabilidade e origem da cartografia oficial posterior . 
Do levantamento realizado foram identificados e seleccionados trezentos e setenta e nove mapas, que deram origem a trezentas e trinta e três descrições bibliográficas, uma vez que alguns mapas se encontram subordinados a um título comum e, por essa razão, foram descritos em segundo nível. São mapas de autores portugueses e estrangeiros, incluindo reedições e variantes do mesmo mapa. Trata-se de um conjunto de mapas avulsos e de mapas oriundos de diferentes tipos de publicações, tais como livros de viagens, histórias gerais, atlas ou, ainda, mapas soltos ou conjuntos de mapas, que foram retirados das obras em que foram originalmente publicados. Foram contemplados os mapas desde a escala da planta de edifício até à escala da inserção do Brasil na América do Sul. 
Este Projecto contou com a coordenação científica do Professor João Carlos Garcia, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e com a colaboração de especialistas de diferentes áreas do saber, designadamente com uma equipa de investigadores e bolseiros da Comissão Nacional para os Descobrimentos Portugueses das áreas de História da Cartografia, História do Brasil e Geografia Histórica; na Biblioteca Nacional, contou com a coordenação biblioteconómica da responsável da Área de Cartografia e envolveu uma equipa de funcionários, de diferentes áreas, entre os quais, os Bibliotecários que têm a seu cargo as colecções estudadas [Ficha técnica]. 
Procurou-se, assim, que a comunidade científica pudesse contar com uma obra de referência que disponibilizasse toda a informação resultante do estudo das colecções analisadas, informação essa que foi disponiblizada, de uma forma organizada e sistemática, de acordo com as normas internacionais em vigor, ISBD-CM (International Standard Bibliographic Description for Cartographic Materials).
Os resultados deste projecto consubstanciaram-se nas seguintes publicações e eventos: 
History of the Project
The project The Cartography of Brazil in the Collections of the National Library consisted in a systematic inventory and description of all the manuscript and printed maps related to eighteenth-century Brazil that existed in the Special Collections of the National Library (Map Department, Manuscript and Rare Book Department, Prints and Drawings Department). This project was developed for two years (1998-2000) and was the outcome of a joint initiative of the National Library and the former National Commission for the Commemoration of the Portuguese Discoveries (CNCDP), in the context of the celebration of the five hundred years of the “discovery” of Brazil by Pedro Álvares Cabral in 1500.
The main goal of this project was to make an inventory of the eighteenth-century maps of Brazil existing in the collections of the National Library in order to make them available to the public. The printed and manuscript maps were selected from the collections kept in the Map Department, the Prints and Drawings Department, and the Rare Books and Manuscript Department. The maps are dated from 1700 to 1822. This time span can be easily explained, as the eighteenth-century corresponds to the most important period of Portuguese cartographic production concerning Brazil. The choice of the independence year of Brazil as the end of the period covered is due to the fact that it represented an important landmark, which also led to relevant changes concerning both the responsible agents and the production of official cartography. [Credits
The project was scientifically coordinated by Professor João Carlos Garcia from the Geography Department of the University of Oporto, and had the collaboration of a research group that included researchers specialised in different areas, namely in History of Cartography, History of Brazil and Historical Geography, and scholars funded by the CNCDP. In the National Library, the project was coordinated by the curator of the Map Division, especially in what concerned all the matters related to librarianship, and also involved the librarians in charge of the different collections as well as other specialised staff with different technical responsibilities. 
Another aim of this project was to make available to all the scientific community a work of reference that would comprise all the information that resulted from the study of the collections in an organised and systematic form, according to the established international norms or ISBD (International Standard Bibliographic Description). 
The results of the project correspond to the following publications and events:

Este catálogo tem por base um levantamento sistemático realizado nas colecções especiais da Biblioteca Nacional (Reservados, Iconografia e Cartografia). Foram identificados e seleccionados 379 mapas, que deram origem a 333 descrições bibliográficas, uma vez que alguns mapas se encontram subordinados a um título comum e, por essa razão, foram descritos em segundo nível. São mapas de autores portugueses e estrangeiros, incluindo reedições e variantes do mesmo mapa. Trata-se de um conjunto de mapas avulsos e de mapas oriundos de diferentes tipos de publicações, tais como livros de viagens, histórias gerais, atlas ou, ainda, mapas soltos ou conjuntos de mapas, que foram retirados das obras em que foram originalmente publicados. Foram contemplados os mapas desde a escala da planta de edifício até à escala da inserção do Brasil na América do Sul. 
Digital Catalogue
The research was carried out in the holdings of the National Library’s Special Collections (Manuscript and Rare Book Department, Prints and Drawings Department and Map Department), resulted in 333 records corresponding to a total of 379 maps, as some of them belong to the same work and were jointly catalogued. This group of maps are from Portuguese and foreign mapmakers and include different versions and editions of the same map. The catalogue comprises single maps and maps that were included in different kinds of publications like travel books, general histories, atlases, as well as loose maps, or factitious compilations of maps, that is to say, volumes of sets of maps bound together which were found out of the context of their original publications. It includes a great diversity of cartographic objects depicted in different scales, from the scale of a building plan to the scale of a general map of Brazil as part of South America.

Títulos
Titles
AutoresAuthors
CronologiaChronology
ToponímiaToponymy
TipologiaTypology
BibliografiaBibliography
CotasCall numbers

A Cartografia do Brasil nas Colecções da Biblioteca Nacional (1700-1822) | Exposição


No caso do Brasil, o processo ideológico de identificacão do território de colonização portuguesa com a "Nova Lusitania" está indissociavelmente ligado à sua crescente importancia política e económica, que se verificou ao longo dos séculos XVII e XVIII, processo esse que ocorreu paralelo às sucessivas tentativas de atribuição de identidade e a construção do sentimento de unidade espacial, manifestando-se no pensamento político, na produção historiográfica, geográfica e cartográfica. 
A exposição A Nova Lusitânia, que esteve patente na Biblioteca Nacional entre 23 de Novembro de 2000 e 21 Fevereiro de 2001, foi um dos resultados mais relevantes do projecto de inventariação da cartografia setecentista do Brasil, tendo permitido divulgar a qualidade e a diversidade dos mapas que se guardam na Biblioteca Nacional a um público mais vasto. 
De um universo de mais de trezentos mapas foram seleccionados cerca de oitenta de entre os mais representativos, na sua maioria mapas impressos, mas também alguns manuscritos. Foram, assim, expostos quer mapas avulsos, quer mapas insertos em atlas ou outras obras, como descrições geográficas, livros de viagens, relatos de embaixadores, de militares ou de viajantes, de grande e de pequena escala, e de dimensões diferentes, que incluem desde pequenos mapas, que servem de ilustrações de livros, aos grandes mapas parietais da América do Sul. 
Os mapas seleccionados foram organizados em cinco núcleos, em que procurámos reconstituir dentro da Biblioteca Nacional outras tantas bibliotecas setecentistas, onde cada um dos mapas, ou dos volumes que os contêm, poderiam ter estado antes de chegar até nós. 
Guião: http://livrariaonline.bnportugal.pt/Issue.aspx?i=22194
Gravuras (D. 118 R e C.C. 1690 A): adquirir fac-símiles das duas gravuras em http://livrariaonline.bnportugal.pt/Issue.aspx?i=22195; consultar cópia digital dos dois documentos originais em: http://purl.pt/881 e http://purl.pt/898.

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