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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Crise mundial e Unasul: um diagnostico equivocado, tres medidas ineficazes

Primeiro a notícia:

Unasul fecha acordo sobre medidas de combate à crise econômica mundial
Monica Yanakiew
Jornal do Brasil, 25/08/2011

Os chanceleres dos 12 países da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) chegaram a um acordo hoje (24) sobre três mecanismos para fazer frente aos efeitos da crise internacional: a criação de um fundo regional de reservas; a implementação do Banco do Sul para financiar obras de infraestrutura e desenvolvimento na região; e o aumento de intercâmbio comercial em moeda local.

A crise internacional tem sido tema de reuniões da Unasul desde reunião de presidentes, em Lima, no ultimo dia 28 de julho. Um dos resultados foi a criação, duas semanas depois, do Conselho Sul-Americano de Economia e Finanças, a fim de fomentar a troca de ideias entre ministros da Economia e presidentes dos Bancos Centrais da entidade. O conselho, por sua vez, criou três grupos de trabalho, que terão um prazo de 60 dias para entregar os resultados.

Uma das tarefas é promover o intercâmbio comercial na região (que hoje alcança US$ 120 bilhões) e diminuir o numero de transações feitas em dólares.

“Chegamos a um acordo, que foi aprovado hoje (quarta-feira) pelos chanceleres, de avançar num sistema multilateral de pagamentos, que use as moedas locais”, disse o vice-ministro da Economia da Argentina, Roberto Foletti. Ele citou como exemplo um acordo que permite o intercâmbio comercial de certos produtos entre o Brasil e a Argentina, sem recorrer ao dólar.

Outros dois mecanismos em estudo são: um fundo de reservas regional, que os países possam usar quando tiverem problemas de balança de pagamentos, e um banco regional, para financiar o desenvolvimento na América do Sul.

“Precisamos ter um banco de desenvolvimento regional próprio e, por isso, queremos criar o Banco do Sul, e fortalecer a Corporação Andina de Fomento (CAF), que desempenhou um papel importante na região durante a crise de 2009”, disse Foletti.

Por enquanto, a crise internacional não atingiu os países da Unasul porque, segundo Foletti, os Bancos Centrais contam com suficientes reservas (US$ 550 bilhões). Mas ele acha fundamental conservar o mercado regional porque existe o perigo de uma “retração da demanda global”.

Amanhã (25), os chanceleres do Foro de Cooperação América Latina – Ásia do Leste (Focalae) se reunirão em Buenos Aires. Um dos temas é o comércio entre os 18 países latino-americanos e 15 da Ásia do Leste – duas regiões em crescimento, apesar da crise que atinge os Estados Unidos e os países da União Europeia.

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Agora meus comentários [PRA]:

Meu primeiro diagnóstico é que o diagnóstico, justamente, é equivocado. Não existe uma crise que afete a Unasul, uma vez que essa região possui baixa densidade de interações recíprocas, não tem políticas comuns, sequer convergentes, e não dispõe de mecanismos para implementar políticas comuns ou que afetem reciprocamente, no plano econômico, esses países. Cada país tem uma forma de interação, entre si e com o sistema internacional, e cada um deve ter respostas próprias aos desafios externos. O equívoco, portanto, é inicial e primário, eu diria até patético.
Quanto às medidas, eu diria que se trata de "tomar carona" nas bondades dos outros, e se enganar quanto ao que deve ser feito. Vejamos:
(a) criação de um fundo regional de reservas
PRA: Quem paga, quem usa, sob quais condições? O Brasil vai colocar US$ 150 bilhões à disposição do FLAR, ou meros US$ 10 bilhões, uma merreca, como se diz? Quem usar não tem condicionalidade: pode pagar salário de soldados e policiais, por exemplo?

(b) implementação do Banco do Sul para financiar obras de infraestrutura e desenvolvimento na região;
PRA: Uma inutilidade e uma duplicação sobre o que já existe: BIRD, BID, CAF, BNDES, etc. Ou seja, dinheiro a rodo, mais dinheiro, com projetos de qualidade duvidosa?

(c) aumento de intercâmbio comercial em moeda local
PRA: Um retrocesso imenso, sobre 80 anos de multilateralização dos pagamentos correntes, uma bobagem contábil e um custo adicional sobre empresas que devem exportar; os BCs agora vão garantir riscos comerciais e cambiais privados?

Finalizando: o Brasil, os países da Unasul pretendem se iludir sobre as soluções.
Desenvolverei estes pontos em próximos trabalhos.
Paulo Roberto de Almeida

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