O artigo não menciona o excelente livro de meu colega diplomata e grande historiador
Luis Claudio Villafane Gomes Santos
O Dia em Que Adiaram o Carnaval
(SP: Unesp, 2011),
que, a despeito do nome, não trata propriamente do episódio em questão, e sim da construção da ideia de identidade nacional a partir das diversas elaborações construídas, ao longo dos séculos XIX e XX, sobre o que o Brasil representa, efetivamente, no plano da formação de nossas características nacionais.
Dito isto, vejamos o artiguinho de jornal, muito fraquinho, po sinal...
Paulo Roberto de Almeida
Os dois carnavais em 1912
Texto publicado no Globo a Mais
"Existem no Brasil, apenas duas coisas realmente organizadas: a desordem e o carnaval.".
Mesmo que não se possa confirmar com exatidão sua origem, essa frase, atribuída ao Barão do Rio Branco, é perfeita para explicar como, há cem anos, tivemos dois carnavais devido justamente à morte do então Ministro do Exterior José Maria Paranhos Júnior, um apaixonado por Carnaval e pela cultura brasileira.
O Barão morreu no dia 10 de fevereiro de 1912, quando estava tudo pronto para o Carnaval no dia 17 de fevereiro.
O governo decretou luto oficial, e transferiu o Carnaval para o dia 6 de abril. Mas muitos blocos desfilaram na data marcada, embora as lojas e repartições públicas estivessem fechadas, e depois do luto, outro Carnaval começou.
O Carnaval de 1912 ficou marcado na história da diplomacia e da cultura brasileiras. A irreverência das marchinhas não poupou nem mesmo o Presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca:
"Com a morte do Barão/ Tivemos dois carnavá/Ai que bom ai que gostoso/ Se morresse o Marechá".
Para o professor Luigi Bonafé, do IBGE, doutor em História pela Universidade Federal Fluminense e professor de História do Brasil do Curso Atlas, um dos mais respeitados cursos preparatórios para admissão à carreira diplomática, é fácil entender a comoção em torno de sua morte, "cercada de todo o luto, pranto, pompa, circunstância, cerimônia e crepe negro que a República costumava dispensar ao funeral de seus homens públicos".
No início da República, manteve o título nobiliárquico no nome apesar da proibição oficial, e sabia-se que ele era monarquista.
Mas o próprio d. Pedro II o encorajara a seguir servindo o país por meio da diplomacia, e a República, jovem e carente de quadros qualificados, virtualmente alçou o Barão ao estrelato.
Primeiro, com a defesa das pretensões brasileiras na questão de limites com a Argentina (Questão de Palmas), em que convenceu o árbitro, o presidente americano Cleveland, homenageado com o nome de uma cidade brasileira na região disputada, Clevelândia, do direito brasileiro às terras disputadas.
A vitória foi mais espantosa ainda, ressalta Bonafé, se lembrarmos de que cerca de dez anos antes um chanceler assinara tratado com a Argentina, não ratificado pelo nosso Congresso, dividindo ao meio o território em litígio.
Numa época em que o futebol ainda não se tornara a paixão nacional, vencer os argentinos numa disputa dessas, pela definição do "Corpo da Pátria", era como vencer a seleção argentina hoje em dia, compara o professor.
A imprensa fez festa, o barão ganhou notoriedade nacional, e foi nomeado para nova questão de limites (Questão do Amapá), agora contra a França, potência imperialista, e cujo árbitro era suíço, bem menos inclinado a favor do Brasil do que deveria ser um presidente norte-americano da época.
Mais uma vez, o Barão venceu. Com a ajuda da imprensa, com quem, segundo Luigi Bonafé estabelecera vínculos e laços pessoais muito bem sedimentados ao longo de sua carreira, o Barão virou herói nacional, com fama de ter desenhado o contorno do território nacional do Oiapoque, fronteira com a Guiana Francesa, ao Chuí, próximo da região disputada com a Argentina, que corresponde a partes dos atuais estados de Santa Catarina e Paraná.
Depois de uma década inteira como diplomata bem sucedido fora do país, cada vez mais famoso e comemorado, ele retornou ao Brasil em 1902 para exercer a chancelaria, que ocuparia durante 10 anos e 4 presidências.
Logo no início de sua gestão, ainda conseguiu resolver, pacificamente, a espinhosa e explosiva questão do Acre, que era território da Bolívia e tornou-se brasileiro pelo Tratado de Petrópolis (1903), evitando uma guerra que no ano anterior era iminente.
O diplomata Mauricio Costa ressalta que o Brasil como nós conhecemos hoje, não seria possível sem o esforço diplomático do Barão do Rio Branco. "Ele foi o melhor advogado que o Brasil poderia ter", afirma.
Alguém consegue imaginar o Brasil sem parte dos estados de Santa Catarina e Paraná? Sem o estado do Acre?, pergunta o diplomata.
Também houve uma questão muito importante envolvendo a Inglaterra e as Ilhas de Trindade. A disputa com a Inglaterra, na época uma potência mundial, foi definida favoravelmente graças ao perfil estratégico do Barão.
Além disso, foi na gestão do Barão que abrimos nossa primeira embaixada. Em 1905, Joaquim Nabuco foi o primeiro embaixador brasileiro em Washington. Este fato simbolizou o prestígio que o Barão tinha no Brasil e no resto do mundo.
Mesmo que não se possa confirmar com exatidão sua origem, essa frase, atribuída ao Barão do Rio Branco, é perfeita para explicar como, há cem anos, tivemos dois carnavais devido justamente à morte do então Ministro do Exterior José Maria Paranhos Júnior, um apaixonado por Carnaval e pela cultura brasileira.
O Barão morreu no dia 10 de fevereiro de 1912, quando estava tudo pronto para o Carnaval no dia 17 de fevereiro.
O governo decretou luto oficial, e transferiu o Carnaval para o dia 6 de abril. Mas muitos blocos desfilaram na data marcada, embora as lojas e repartições públicas estivessem fechadas, e depois do luto, outro Carnaval começou.
O Carnaval de 1912 ficou marcado na história da diplomacia e da cultura brasileiras. A irreverência das marchinhas não poupou nem mesmo o Presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca:
"Com a morte do Barão/ Tivemos dois carnavá/Ai que bom ai que gostoso/ Se morresse o Marechá".
Para o professor Luigi Bonafé, do IBGE, doutor em História pela Universidade Federal Fluminense e professor de História do Brasil do Curso Atlas, um dos mais respeitados cursos preparatórios para admissão à carreira diplomática, é fácil entender a comoção em torno de sua morte, "cercada de todo o luto, pranto, pompa, circunstância, cerimônia e crepe negro que a República costumava dispensar ao funeral de seus homens públicos".
No início da República, manteve o título nobiliárquico no nome apesar da proibição oficial, e sabia-se que ele era monarquista.
Mas o próprio d. Pedro II o encorajara a seguir servindo o país por meio da diplomacia, e a República, jovem e carente de quadros qualificados, virtualmente alçou o Barão ao estrelato.
Primeiro, com a defesa das pretensões brasileiras na questão de limites com a Argentina (Questão de Palmas), em que convenceu o árbitro, o presidente americano Cleveland, homenageado com o nome de uma cidade brasileira na região disputada, Clevelândia, do direito brasileiro às terras disputadas.
A vitória foi mais espantosa ainda, ressalta Bonafé, se lembrarmos de que cerca de dez anos antes um chanceler assinara tratado com a Argentina, não ratificado pelo nosso Congresso, dividindo ao meio o território em litígio.
Numa época em que o futebol ainda não se tornara a paixão nacional, vencer os argentinos numa disputa dessas, pela definição do "Corpo da Pátria", era como vencer a seleção argentina hoje em dia, compara o professor.
A imprensa fez festa, o barão ganhou notoriedade nacional, e foi nomeado para nova questão de limites (Questão do Amapá), agora contra a França, potência imperialista, e cujo árbitro era suíço, bem menos inclinado a favor do Brasil do que deveria ser um presidente norte-americano da época.
Mais uma vez, o Barão venceu. Com a ajuda da imprensa, com quem, segundo Luigi Bonafé estabelecera vínculos e laços pessoais muito bem sedimentados ao longo de sua carreira, o Barão virou herói nacional, com fama de ter desenhado o contorno do território nacional do Oiapoque, fronteira com a Guiana Francesa, ao Chuí, próximo da região disputada com a Argentina, que corresponde a partes dos atuais estados de Santa Catarina e Paraná.
Depois de uma década inteira como diplomata bem sucedido fora do país, cada vez mais famoso e comemorado, ele retornou ao Brasil em 1902 para exercer a chancelaria, que ocuparia durante 10 anos e 4 presidências.
Logo no início de sua gestão, ainda conseguiu resolver, pacificamente, a espinhosa e explosiva questão do Acre, que era território da Bolívia e tornou-se brasileiro pelo Tratado de Petrópolis (1903), evitando uma guerra que no ano anterior era iminente.
O diplomata Mauricio Costa ressalta que o Brasil como nós conhecemos hoje, não seria possível sem o esforço diplomático do Barão do Rio Branco. "Ele foi o melhor advogado que o Brasil poderia ter", afirma.
Alguém consegue imaginar o Brasil sem parte dos estados de Santa Catarina e Paraná? Sem o estado do Acre?, pergunta o diplomata.
Também houve uma questão muito importante envolvendo a Inglaterra e as Ilhas de Trindade. A disputa com a Inglaterra, na época uma potência mundial, foi definida favoravelmente graças ao perfil estratégico do Barão.
Além disso, foi na gestão do Barão que abrimos nossa primeira embaixada. Em 1905, Joaquim Nabuco foi o primeiro embaixador brasileiro em Washington. Este fato simbolizou o prestígio que o Barão tinha no Brasil e no resto do mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.