domingo, 26 de fevereiro de 2012

Os dois Carnavais de 1912 - artigo no Globo

Este artigo já foi publicado há vários dias, antecedendo ligeiramente o Carnaval de 2012, em torno do qual voltou a se falar dos dois carnavais de 1912 e do Barão do Rio Branco, cujo falecimento há exatos cem anos motiva, justamente, um conjunto de manifestações "rememorativas".
O artigo não menciona o excelente livro de meu colega diplomata e grande historiador
Luis Claudio Villafane Gomes Santos
O Dia em Que Adiaram o Carnaval
(SP: Unesp, 2011), 
que, a despeito do nome, não trata propriamente do episódio em questão,  e sim da construção da ideia de identidade nacional a partir das diversas elaborações construídas, ao longo dos séculos XIX e XX, sobre o que o Brasil representa, efetivamente, no plano da formação de nossas características nacionais.
Dito isto, vejamos o artiguinho de jornal, muito fraquinho, po sinal...
Paulo Roberto de Almeida 

Os dois carnavais em 1912

Texto publicado no Globo a Mais
"Existem no Brasil, apenas duas coisas realmente organizadas: a desordem e o carnaval.". 
Mesmo que não se possa confirmar com exatidão sua origem, essa frase, atribuída ao Barão do Rio Branco, é perfeita para explicar como, há cem anos, tivemos dois carnavais devido justamente à morte do então Ministro do Exterior José Maria Paranhos Júnior, um apaixonado por Carnaval e pela cultura brasileira. 
O Barão morreu no dia 10 de fevereiro de 1912, quando estava tudo pronto para o Carnaval no dia 17 de fevereiro. 
O governo decretou luto oficial, e transferiu o Carnaval para o dia 6 de abril. Mas muitos blocos desfilaram na data marcada, embora as lojas e repartições públicas estivessem fechadas, e depois do luto, outro Carnaval começou. 
O Carnaval de 1912 ficou marcado na história da diplomacia e da cultura brasileiras. A irreverência das marchinhas não poupou nem mesmo o Presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca: 
"Com a morte do Barão/ Tivemos dois carnavá/Ai que bom ai que gostoso/ Se morresse o Marechá". 
Para o professor Luigi Bonafé, do IBGE, doutor em História pela Universidade Federal Fluminense e professor de História do Brasil do Curso Atlas, um dos mais respeitados cursos preparatórios para admissão à carreira diplomática, é fácil entender a comoção em torno de sua morte, "cercada de todo o luto, pranto, pompa, circunstância, cerimônia e crepe negro que a República costumava dispensar ao funeral de seus homens públicos". 
No início da República, manteve o título nobiliárquico no nome apesar da proibição oficial, e sabia-se que ele era monarquista. 
Mas o próprio d. Pedro II o encorajara a seguir servindo o país por meio da diplomacia, e a República, jovem e carente de quadros qualificados, virtualmente alçou o Barão ao estrelato. 
Primeiro, com a defesa das pretensões brasileiras na questão de limites com a Argentina (Questão de Palmas), em que convenceu o árbitro, o presidente americano Cleveland, homenageado com o nome de uma cidade brasileira na região disputada, Clevelândia, do direito brasileiro às terras disputadas. 
A vitória foi mais espantosa ainda, ressalta Bonafé, se lembrarmos de que cerca de dez anos antes um chanceler assinara tratado com a Argentina, não ratificado pelo nosso Congresso, dividindo ao meio o território em litígio. 
Numa época em que o futebol ainda não se tornara a paixão nacional, vencer os argentinos numa disputa dessas, pela definição do "Corpo da Pátria", era como vencer a seleção argentina hoje em dia, compara o professor. 
A imprensa fez festa, o barão ganhou notoriedade nacional, e foi nomeado para nova questão de limites (Questão do Amapá), agora contra a França, potência imperialista, e cujo árbitro era suíço, bem menos inclinado a favor do Brasil do que deveria ser um presidente norte-americano da época. 
Mais uma vez, o Barão venceu. Com a ajuda da imprensa, com quem, segundo Luigi Bonafé estabelecera vínculos e laços pessoais muito bem sedimentados ao longo de sua carreira, o Barão virou herói nacional, com fama de ter desenhado o contorno do território nacional do Oiapoque, fronteira com a Guiana Francesa, ao Chuí, próximo da região disputada com a Argentina, que corresponde a partes dos atuais estados de Santa Catarina e Paraná. 
Depois de uma década inteira como diplomata bem sucedido fora do país, cada vez mais famoso e comemorado, ele retornou ao Brasil em 1902 para exercer a chancelaria, que ocuparia durante 10 anos e 4 presidências. 
Logo no início de sua gestão, ainda conseguiu resolver, pacificamente, a espinhosa e explosiva questão do Acre, que era território da Bolívia e tornou-se brasileiro pelo Tratado de Petrópolis (1903), evitando uma guerra que no ano anterior era iminente. 
O diplomata Mauricio Costa ressalta que o Brasil como nós conhecemos hoje, não seria possível sem o esforço diplomático do Barão do Rio Branco. "Ele foi o melhor advogado que o Brasil poderia ter", afirma. 
Alguém consegue imaginar o Brasil sem parte dos estados de Santa Catarina e Paraná? Sem o estado do Acre?, pergunta o diplomata. 
Também houve uma questão muito importante envolvendo a Inglaterra e as Ilhas de Trindade. A disputa com a Inglaterra, na época uma potência mundial, foi definida favoravelmente graças ao perfil estratégico do Barão. 
Além disso, foi na gestão do Barão que abrimos nossa primeira embaixada. Em 1905, Joaquim Nabuco foi o primeiro embaixador brasileiro em Washington. Este fato simbolizou o prestígio que o Barão tinha no Brasil e no resto do mundo.

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