Em 2005, o governo já tinha efetuado uma revisão das contas públicas, dando maior peso ao item serviços na economia e assim produzindo o "efeito mágico" de um crescimento no PIB de mais de 10% (o que permitiu, inclusive, uma redução proporcional, e artificial, da dívida pública sobre o PIB e, sobretudo, da carga fiscal, que de outro modo já se aproximaria dos 40% hoje, se medida na série antiga).
Agora o governo pretende fazer, e vai fazer, nova revisão das contas públicas, retirando certos itens da categoria serviços e alocando para a categoria indústria. Não creio que seja justificado, por exemplo, colocar limpeza, segurança e atendimento telefônico -- QUE SÃO SERVIÇOS! -- como atividades industriais. Creio que uma das consequências disso -- e aí reside a "experteza" dos burocratas governamentais -- é a tonificação do setor industrial, que anda esquálido, coitadinho, e já alimenta todo um debate sobre a "desindustrialização" do Brasil.
Acredito que o debate é falho e que essa desindustrialização é em grande medida fantasmagórica, mas é um fato que muitas indústrias tem sido levadas a se extinguir, e unidades a fecharem, no Brasil, uma vez que o país se tornou muito caro e as unidades simplesmente não são e não mais podem ser competitivas, sobretudo e principalmente devido ao chamado custo Brasil, com destaque para a carga tributária, justamente.
Isso o governo reluta em admitir, e como bom stalinista industrial, o governo dos companheiros não quer passar à História e ser acusado de ter sido o responsável pela desindustrialização do país.
Enfim, este é um argumento poderoso, mas acredito que exista outro, ainda mais poderoso -- e talvez o único que justifica essa reclassificação esdrúxula -- que é o deslocamento de bases tributárias. Ao reclassificar essas "indústrias" -- que SÃO SERVIÇOS, repito -- o governo federal retira da esfera da cobrança de ISS, que são MUNICIPAIS, uma faixa ampla, e crescente, de atividades, que passam a recolher tributos INDUSTRIAIS para o governo central.
Vocês já repararam que cada vez que o governo precisa fazer "sacrifícios", ele o faz com o dinheiro dos outros?
1) Crise das montadoras automobilisticas? Redução do IPI, que é um imposto dividido com Estados e municípios...
2) Excesso de recolhimentos laborais? Redução dos tributos para o INSS e criação de uma taxa (obviamente federal) sobre o faturamento...
3) Perda da CPMF? Sem problemas: criação de um IOF equivalente, e que o governo federal manipula a seu bel prazer, sem ter de passar pelo Congresso.
"Experto" esse governo, não é mesmo? Acho que ele acaba de fazer o mesmo com essa revisão das contas do IBGE, especialmente desenhada para "engordar" o PIB industrial e "engordar" as receitas federais.
Assim vai o Brasil...
Paulo Roberto de Almeida
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