O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Davos: presidente-empresario do Panama critica liderancas da America Latina (inclusive Brasil)

Martinelli: ‘O Brasil está olhando para dentro, em vez de para fora’

  • Para o presidente do Panamá, país ‘se vende mal’ no exterior
Deborah Berlinck (Email · Facebook · Twitter)
O Globo,

Ricardo Martinelli: política precisa de mais homens de negócios
Foto: Brendan Hoffman/Bloomberg
Ricardo Martinelli: política precisa de mais homens de negócios Brendan Hoffman/Bloomberg
DAVOS – Ele é magnata de rede de supermercados. Comprou muitos produtos brasileiros e, como muitos empresários envolvidos em negócios com o Brasil, conta que teve experiência traumática nos aeroportos do país. Mas é hoje com a autoridade de líder da economia que mais cresce na América Latina (12%) que o presidente do Panamá, Ricardo Martinelli, um descendente de italiano de 62 anos que fez fortuna no setor da grande distribuição, diz ao GLOBO: o Brasil se vende mal. “Vocês fracassariam vendendo Cola-cola no deserto”, provoca. O grande erro brasileiro que explica o baixo crescimento, segundo ele: o país está se voltando para dentro quando deveria estar olhando para fora. Num debate nesta quarta-feira sobre América Latina, ele disse que não contrataria nenhum dos líderes do continente “nem para comandar uma usina de refrigerantes”.
O Panama é o país que mais cresce na América Latina. Qual o segredo de 12% ao ano?
MARTINELLI – O Panama é um país muito aberto. Aproveitamos ao máximo nossa posição geográfica. É por isso que temos o maior aeroporto na América Latina, com voos para oito cidades no Brasil. Em bases competitivas, é o sexto melhor conectado do mundo. Estamos em 4º lugar no mundo no setor de portos. Isso permite convergência de pessoas e nos permite atrair muitas multinacionais. Os impostos são baixos, legalizamos todos os imigrantes ilegais, reduzimos todas as tarifas de comércio e simplificamos a burocracia.
Quanto tempo demora para abrir uma empresa no Panamá?
Vinte e quatro horas. Pode abrir por internet. Temos ainda um país com pleno emprego, baixa inflação e baixos índices de criminalidade. O governo está investindo pesado em infra-estrutura: aeroportos, metrô, estradas, linhas de ônibus. Além disso, temos o título de grau de investimento (dados pelas agências de avaliação de risco para os países com baixo risco de inadimplência) e baixo déficit do orçamento. Os brasileiros, quando chegam no aeroporto do Panamá, compram tudo! Comparado com o Brasil, tudo é tão mais barato.
Mas a fórmula para um país de 3,5 milhões de pessoas como o seu serve para um país de 190 milhões de pessoas que é a sexta maior economia do mundo como o Brasil?
Claro! Os problemas que os governos têm são os mesmos. Se você tem uma economia aberta, sem impostos, obstáculos, sem muita burocracia e sem xenofobia em relação a investimentos estrangeiro, e ao mesmo tempo um governo pro-ativo, que não está fiscalizando o que as pessoas fazem, sem intervenção. O melhor governo é o que lidera.
É um conselho para a presidente Dilma Rousseff?
Meu conselho é: mais homens de negócio na política. Para tentar mudar a política de dentro, como eu.
Dilma não é empresária. Está no lugar errado?
Não disse isso... não me cause problemas (risos). O que quero dizer é que empresários se queixam muito. São eles que pagam impostos e vêem para encontros como este (Davos) para promover um país. Ao mesmo tempo não querem se envolver com o governo. Meu conselho é que se envolvam, assumindo o comando ou aceitem convite para participar do governo. Precisamos das melhores pessoas para comandar um governo.
E quem vai comandar as empresas, se os melhores empresários pularem para a política?
Eu tenho meus filhos, que são muito qualificados. Mas pode-se sempre pagar um bom executivo-chefe.
O senhor é parte do conselho de administração de várias empresas no Panamá. Não é um choque de interesses?
Eu abri mão de todas estas posições. E coloquei minhas ações num "trust", para não tenha mais nada a ver com elas. Não vendo um centavo para o governo e tento me envolver em negócios que têm a ver com o governo.
Por que o Brasil está crescendo tão pouco?
As empresas brasileiros não estou olhando para fora. Só estão olhando para dentro. Eu comprava muitos produtos do Brasil para a minha rede de supermercados: muita comida, brinquedos, ferragens. E ia muito ao Brasil para feiras de comércio. As empresas brasileiras estão muito mais interessadas em vender para o mercado local do que no estrangeiro. Continuamos comprando produtos brasileiros. Mas um país nunca vai se desenvolver, se você não olhar para fora.
Mesmo tendo um mercado de 200 milhões de pessoas, como o Brasil?
Vocês têm um mercado de 200 milhões de pessoas. Fora são 7 bilhões. Diga-me o que prefere: 200 bilhões ou 7 bilhões ? O Brasil é um poço de energia, mas suas empresas não estão fora. Quantos hotéis brasileiros você conhece no exterior? Onde está o Itaú no exterior? E o Bradesco? O Brasil precisa ir para fora. Tem todas as vantagens para isso. Por exemplo: as ex-colônias da África que falam português, ou América do Sul. Vocês têm um mundo para conquistar. Mas o problema é que brasileiros não querem olhar para fora de suas fronteiras. É por isso que quando veem ao Panamá, compram tudo. No aeroporto do Panamá, se você não falar "portunhol" (mistura de português com espanhol) ou português, você está morto !
Que tipo de produtos os brasileiros compram?
Tudo! Todo tipo. Porque tudo é tão caro no Brasil. Abram! Vocês estão olhando para dentro, em vez de olhar para fora.
O senhor acha que o Brasil vai retormar altas taxas de crescimento?
Se vocês não olharem para fora, não vão crescer o quanto deveriam. Enquanto persistirem em olhar só para o mercado externo, vão crescer menos, menos e menos. Porque há um limite para o número de produtos que você pode vender localmente. Por exemplo: o avião do governo do Panamá (presidencial) é um Embraer. A Copa Airlines (empresa panamenha) tem uns 12. É um ótimo avião, mas não muita gente está comprando. Os brasileiros não se vendem! Vocês são ótimos promotores do carnaval no Rio de Janeiro. Mas não são bons promotores dos produtos brasileiros no exterior. Eu vim a Davos num avião da Embraer. Excelente avião. Eu adoro. E sabe por que? Porque eu conheço e uso. Mas ninguém aqui conhece. Ninguém viu. Ninguém usou. Mas no aeroporto aqui, olha para o lado e não vê Embraer. Por que? Porque vocês não se vendem! Vocês são tão bons. Mas são os piores vendedores. Brasileiros fracassariam vendendo Coca-cola no deserto!
Planejam comprar mais aviões da Embraer?
Claro! Têm bom preço e são ótimos aviões.
Vocês investiram muito em infraestrutura. O Brasil terá dois grandes eventos – Copa do Mundo e Olimpíadas. Há tempo para construir infraestrutura?
Acho que estão fazendo, mas entendo que tem um problema num dos estados com população indígena. Mas o Brasil tem a capacidade, os recursos e uma grande equipe, no futebol e em outras áreas. O que está faltando é uma boa infraestrutura nos aeroportos. Como vocês planejam trazer tanta gente? Passar por Guarulhos, em São Paulo, é uma experiência horrível! Eu conheço o seu país de uma ponta à outra. Brasil precisa se abrir e construir aeroportos. Vocês têm o maior potencial: muitos minerais, um governo sólido, recursos externos. Mas enquanto continuarem olhando para dentro...
O senhor disse que não contrataria nenhum líder latinoamericano de hoje para comandar um país. Por que?
O que quis dizer é que mais empresários precisam entrar no governo. Para trazer mais o sabor de negócios na política.
O sucessor de Dilma Rousseff deveria ser empresário?
Isso depende do eleitorado brasileiro.
A revista britânica The Economist disse o que fere o investimento no Panamá é a corrupção. Como lidar como isso?
Isso foi exagerado. Eu sempre digo a quem acha que tem corrupção: apresentem uma queixa formal. Quando você tem um país crescendo ao ritmo de 12%, com muita contratação de trabalhos públicos, há sempre erros. Mas chamar isso de corrupção ou de elevar demasiadamente os preços, é outra coisa.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/martinelli-brasil-esta-olhando-para-dentro-em-vez-de-para-fora-7382442#ixzz2JEiS8RhY
© 1996 - 2013. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.

5 comentários:

dan disse...

Caro Paulo Almeida, Com todo respeito que tenho pelo senhor, creio que esse presidente não tem autoridade moral para falar coisa alguma para nenhum país.. pois alguém que está sendo acusado de corrupção, trata mal a imprensa não merece credibilidade

saudações

Anônimo disse...

http://unctad.org/en/PublicationsLibrary/webdiaeia2013d1_en.pdf

Vale!

Eduardo R., Rio disse...

Obrigado pela ótima entrevista. Eu ficaria sem lê-la se o senhor não a publicasse aqui.

Anônimo disse...

Gostei muito da entrevista e concordo com o entrevistado. O reporter - apoiador do status quo estatista anti-livre comercio brasileiro - ficou usando diferenca de tamanho de populacao entre paises como desculpa. Se fossem dois paises de tamanho de populacao semelhante a desculpa seria outra.

Os raros entrevistados que leio com defensores de livre mercado que criticam o Brasil "em geral" (por exemplo nao somente os ptistas mais adiciona empresarios oligopolistas por exemplo) sao tratados com agressividade pelos jornalistas como se estivessem ofendendo a religiao local.

Uma recente entrevista com o excelente Edemar Bacha e um exemplo.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Dan (primeiro comentarista),
Não sei se o presidente atual do Panamá é ou não corrupto. Isso não foi cogitado na entrevista e nem eu, nem vocês temos de comentar o que está fora da postagem.
Prefiro ater-me aos argumentos de fato, relativos à gestão pública, seja ela mais estatizante e centralizada, como no estilo brasileiro, seja ela mais empresarial e descentralizada, como esse presidente favorece.
O importante, no final de tudo, são os resultados: saber se há crescimento, melhoria de bem-estar para todos, modernização tecnológica, etc. A questão moral, é relevante, mas se houver um judiciário independente e ativo, pode-se combater a corrupção com a ajuda da população, e de pessoas como você, que parece estar bem informado a esse respeito.
Mas não há dúvida de que o Brasil decaiu terrivelmente também nesse quesito. Como é que o outrora partido "campeão" da ética na vida política nacional pode coonestar a eleição para presidente do Congresso de um corrupto notório, que renunciou ao poder para não ser cassado pelos seus pares?
Como é que o Lula explica os negócios escusos de sua amante do escritório em SP?
Como é que os petistas explicam o Mensalão, e o fato de que não aplicar sequer o estatuto do partido, que comanda expulsão para os condenados em justiça?
As instituições se deterioraram terrivelmente no Brasil e isso tem a ver com a leniência do PT com a corrupção.
Quanto ao crescimento, não preciso mencionar o fato do estatismo exacerbado ser hoje um obstrutor de qualquer dinâmica econômica.
O Brasil é, sobretudo, um país atrasado mentalmente, ao permitir que corruptos ascendam na vida política.
Paulo Roberto de Almeida