Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
terça-feira, 3 de maio de 2016
Critica aos 15 pontos sugeridos pelo PSDB ao novo governo - Paulo Roberto de Almeida
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Davos: presidente-empresario do Panama critica liderancas da America Latina (inclusive Brasil)
Martinelli: ‘O Brasil está olhando para dentro, em vez de para fora’
- Para o presidente do Panamá, país ‘se vende mal’ no exterior
O Panama é o país que mais cresce na América Latina. Qual o segredo de 12% ao ano?
MARTINELLI – O Panama é um país muito aberto. Aproveitamos ao máximo nossa posição geográfica. É por isso que temos o maior aeroporto na América Latina, com voos para oito cidades no Brasil. Em bases competitivas, é o sexto melhor conectado do mundo. Estamos em 4º lugar no mundo no setor de portos. Isso permite convergência de pessoas e nos permite atrair muitas multinacionais. Os impostos são baixos, legalizamos todos os imigrantes ilegais, reduzimos todas as tarifas de comércio e simplificamos a burocracia.
Quanto tempo demora para abrir uma empresa no Panamá?
Vinte e quatro horas. Pode abrir por internet. Temos ainda um país com pleno emprego, baixa inflação e baixos índices de criminalidade. O governo está investindo pesado em infra-estrutura: aeroportos, metrô, estradas, linhas de ônibus. Além disso, temos o título de grau de investimento (dados pelas agências de avaliação de risco para os países com baixo risco de inadimplência) e baixo déficit do orçamento. Os brasileiros, quando chegam no aeroporto do Panamá, compram tudo! Comparado com o Brasil, tudo é tão mais barato.
Mas a fórmula para um país de 3,5 milhões de pessoas como o seu serve para um país de 190 milhões de pessoas que é a sexta maior economia do mundo como o Brasil?
Claro! Os problemas que os governos têm são os mesmos. Se você tem uma economia aberta, sem impostos, obstáculos, sem muita burocracia e sem xenofobia em relação a investimentos estrangeiro, e ao mesmo tempo um governo pro-ativo, que não está fiscalizando o que as pessoas fazem, sem intervenção. O melhor governo é o que lidera.
É um conselho para a presidente Dilma Rousseff?
Meu conselho é: mais homens de negócio na política. Para tentar mudar a política de dentro, como eu.
Dilma não é empresária. Está no lugar errado?
Não disse isso... não me cause problemas (risos). O que quero dizer é que empresários se queixam muito. São eles que pagam impostos e vêem para encontros como este (Davos) para promover um país. Ao mesmo tempo não querem se envolver com o governo. Meu conselho é que se envolvam, assumindo o comando ou aceitem convite para participar do governo. Precisamos das melhores pessoas para comandar um governo.
E quem vai comandar as empresas, se os melhores empresários pularem para a política?
Eu tenho meus filhos, que são muito qualificados. Mas pode-se sempre pagar um bom executivo-chefe.
O senhor é parte do conselho de administração de várias empresas no Panamá. Não é um choque de interesses?
Eu abri mão de todas estas posições. E coloquei minhas ações num "trust", para não tenha mais nada a ver com elas. Não vendo um centavo para o governo e tento me envolver em negócios que têm a ver com o governo.
Por que o Brasil está crescendo tão pouco?
As empresas brasileiros não estou olhando para fora. Só estão olhando para dentro. Eu comprava muitos produtos do Brasil para a minha rede de supermercados: muita comida, brinquedos, ferragens. E ia muito ao Brasil para feiras de comércio. As empresas brasileiras estão muito mais interessadas em vender para o mercado local do que no estrangeiro. Continuamos comprando produtos brasileiros. Mas um país nunca vai se desenvolver, se você não olhar para fora.
Mesmo tendo um mercado de 200 milhões de pessoas, como o Brasil?
Vocês têm um mercado de 200 milhões de pessoas. Fora são 7 bilhões. Diga-me o que prefere: 200 bilhões ou 7 bilhões ? O Brasil é um poço de energia, mas suas empresas não estão fora. Quantos hotéis brasileiros você conhece no exterior? Onde está o Itaú no exterior? E o Bradesco? O Brasil precisa ir para fora. Tem todas as vantagens para isso. Por exemplo: as ex-colônias da África que falam português, ou América do Sul. Vocês têm um mundo para conquistar. Mas o problema é que brasileiros não querem olhar para fora de suas fronteiras. É por isso que quando veem ao Panamá, compram tudo. No aeroporto do Panamá, se você não falar "portunhol" (mistura de português com espanhol) ou português, você está morto !
Que tipo de produtos os brasileiros compram?
Tudo! Todo tipo. Porque tudo é tão caro no Brasil. Abram! Vocês estão olhando para dentro, em vez de olhar para fora.
O senhor acha que o Brasil vai retormar altas taxas de crescimento?
Se vocês não olharem para fora, não vão crescer o quanto deveriam. Enquanto persistirem em olhar só para o mercado externo, vão crescer menos, menos e menos. Porque há um limite para o número de produtos que você pode vender localmente. Por exemplo: o avião do governo do Panamá (presidencial) é um Embraer. A Copa Airlines (empresa panamenha) tem uns 12. É um ótimo avião, mas não muita gente está comprando. Os brasileiros não se vendem! Vocês são ótimos promotores do carnaval no Rio de Janeiro. Mas não são bons promotores dos produtos brasileiros no exterior. Eu vim a Davos num avião da Embraer. Excelente avião. Eu adoro. E sabe por que? Porque eu conheço e uso. Mas ninguém aqui conhece. Ninguém viu. Ninguém usou. Mas no aeroporto aqui, olha para o lado e não vê Embraer. Por que? Porque vocês não se vendem! Vocês são tão bons. Mas são os piores vendedores. Brasileiros fracassariam vendendo Coca-cola no deserto!
Planejam comprar mais aviões da Embraer?
Claro! Têm bom preço e são ótimos aviões.
Vocês investiram muito em infraestrutura. O Brasil terá dois grandes eventos – Copa do Mundo e Olimpíadas. Há tempo para construir infraestrutura?
Acho que estão fazendo, mas entendo que tem um problema num dos estados com população indígena. Mas o Brasil tem a capacidade, os recursos e uma grande equipe, no futebol e em outras áreas. O que está faltando é uma boa infraestrutura nos aeroportos. Como vocês planejam trazer tanta gente? Passar por Guarulhos, em São Paulo, é uma experiência horrível! Eu conheço o seu país de uma ponta à outra. Brasil precisa se abrir e construir aeroportos. Vocês têm o maior potencial: muitos minerais, um governo sólido, recursos externos. Mas enquanto continuarem olhando para dentro...
O senhor disse que não contrataria nenhum líder latinoamericano de hoje para comandar um país. Por que?
O que quis dizer é que mais empresários precisam entrar no governo. Para trazer mais o sabor de negócios na política.
O sucessor de Dilma Rousseff deveria ser empresário?
Isso depende do eleitorado brasileiro.
A revista britânica The Economist disse o que fere o investimento no Panamá é a corrupção. Como lidar como isso?
Isso foi exagerado. Eu sempre digo a quem acha que tem corrupção: apresentem uma queixa formal. Quando você tem um país crescendo ao ritmo de 12%, com muita contratação de trabalhos públicos, há sempre erros. Mas chamar isso de corrupção ou de elevar demasiadamente os preços, é outra coisa.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/martinelli-brasil-esta-olhando-para-dentro-em-vez-de-para-fora-7382442#ixzz2JEiS8RhY
© 1996 - 2013. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.
terça-feira, 8 de março de 2011
Mercosul anti-americano?: no que depender do Chavez...
Wikileaks traz críticas dos EUA ao Mercosul
Estado de S.Pauoo, 7/03/2011
O jornal portenho “Página 12″ divulgou hoje o conteúdo de telegramas do Departamento de Estado dos EUA que indicavam que em 2007 o governo do então presidente George W. Bush considerava que “a entrada da Venezuela no Mercosul altera claramente o balanço e a dinâmica da organização”. Segundo os telegramas, filtrados pela Wikileaks, Washington considerava o bloco comercial do Cone Sul uma organização de oposição pertinaz aos Estados Unidos: “o Mercosul gradualmente foi transformando-se de uma união alfandegária imperfeita em uma organização mais restritiva e antiamericana”.
Na época, a Venezuela – governada pelo presidente Hugo Chávez – estava tentando ser aceita como sócia plena do Mercosul. Apesar da aprovação dos parlamentos do Uruguai e da Argentina, encontrava resistências nos Senados brasileiro e paraguaio (o senado brasileiro aprovou a entrada da Venezuela em 2009, enquanto que o Paraguai ainda não debateu o pedido de inclusão do país caribenho, devido à resistência da oposição e de parte do bloco governista).
As definições dos EUA sobre o Mercosul foram emitidas durante uma série de reuniões que foram realizadas nos dias 8 e 9 de maio de 2007 no Rio de Janeiro pelos embaixadores americanos no Brasil, Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile. O telegrama, classificado como “secreto” no dia 17 de maio de 2007 por Michael J. Fitzpatrick, da embaixada dos EUA na capital paraguaia, Assunção, leva o título de “Conferência: uma perspectiva do Cone Sul sob a influência de Chávez”.
Segundo os telegramas filtrados pela Wikileaks e publicados pelo “Página 12″, os embaixadores americanos concluíram no final da reunião que “a campanha de Chávez para expandir sua influência no Cone Sul é multifacética e está apoiada em grande parte – mas não totalmente – em uma generosa assistência energética e acordos de investimento”. Os diplomatas consideraram que “poucos países provaram que foram capazes de resistir ao atrativo da ajuda venezuelana e seus pacotes de investimento”.
Os telegramas indicam que os embaixadores consideraram necessário pedir “mais ferramentas e recursos” para enfrentar o que denominaram de “esforços políticos para fissurar a democracia, planejar estratégias econômicas para estrangular o livre comércio, a politização do Mercosul e a expansão dos laços da área de defesa”.
O então presidente Néstor Kirchner (2003-2007), falecido em outubro do ano passado, passou pelo crivo analítico dos diplomatas. “Embora Kirchner compartilhe algumas posturas esquerdistas de Chávez, ele é um pragmático”, sustentaram. O governo da presidente Cristina Kirchner, que estava em pleno feriado de carnaval, não fez declarações oficiais sobre o conteúdo dos telegramas filtrados pela Wikileaks.
domingo, 31 de outubro de 2010
Programa de governo de Serra: um comentario (Paulo R. Almeida)
Apenas agora, nas vésperas das eleições em segundo turno, ele comparece com um programa digno desse nome, uma análise sistemática do que o candidato acredita serem os principais problemas do Brasil e suas propostas e diretivas de ação para cada um das áreas selecionadas como prioritárias.
Como sempre acontece com os candidatos, TUDO é prioritário, e parece que eles vão revolucionar o Brasil no dia seguinte, com base, provavelmente, numa infinidade de recursos que vão brotar do nada.
Mas, vou limitar-me a transcrever aqui o que considero ser a parte central da mensagem de Serra ao público votante, aquela na qual ele diz o que o Brasil e os brasileiros pretendem ser e qual seria o principal obstáculo a isso:
O maior obstáculo à construção do país com que sonhamos é a desigualdade. O Brasil não é mais um país subdesenvolvido. É, isso sim, um país injusto. Sua economia se coloca entre as maiores do mundo, com pujante agropecuária, indústria de base e de manufaturados, próspero comércio. Mas a distribuição da riqueza continua concentrada, separando a imensa massa de pobres de uma elite riquíssima. Essa distância somente poderá ser reduzida com o engajamento crescente da sociedade e a definida participação do Estado, executando políticas verdadeiramente eficazes de crescimento econômico e promoção social e humana.
Agora comento (PRA):
Concordo inteiramente com o primeiro parágrafo. Os brasileiros, na verdade, querem viver num país "normal", como tantos outros que existem no mundo. Mas preferencialmente isso deveria ser alcançado pelos próprios brasileiros, através de seu trabalho e dos mecanismos de mercado, sem qualquer paternalismo ou assistencialismo exagerado por parte do Estado, como parece implícito na proposta do candidato, que pretende também ser um gestor de um Estado ativo, não necessariamente um estimulador da atividade empresarial privada, que deve e pode atender à maior parte das reivindicações dos brasileiros.
Mas discordo frontalmente do segundo parágrafo, o que pretende que o maior obstáculo a tudo isso é a desigualdade. Não, não é, nem no plano lógico-conceitual, nem no plano material-conceitual, ainda que o final do parágrafo aponte o caminho correto na superação da desigualdade.
Explicito meu pensamento. A falta de igualdade, ou se quisermos a "desigualdade" não explica a falta de prosperidade, as más condições de saúde, a violência e a delinquência generalizadas e diversos outros problemas não diretamente abordados, mas implícitos, no parágrafo anterior: o desemprego, o mau funcionamento do Estado, a corrupção, a ausência de infra-estrutura, os preços absurdamente elevados que pagamos por bens e serviços cartelizados, etc. Nada disso, nenhum desses problemas, se deve à suposta desigualdade que caracterizaria o Brasil, que é um fato, mas que não é a causa primária da maior parte de seus problemas.
O fato de colocar a "desigualdade" como elemento central dos problemas brasileiros apenas revela que o PSDB, de acordo com sua verdadeira natureza social-democrática, ainda pretende resolver os problemas do Brasil pela via do distributivismo social, não pela via do produtivismo econômico, o único meio, mais rápido e eficiente de promover o crescimento e a elevação da renda das camadas mais pobres, junto com o adequado funcionamento das instituições públicas e uma melhoria revolucionária na qualidade da educação da população brasileira.
O que, na verdade, impede o Brasil de ser mais próspero, de ter maior nível de crescimento, maior rapidez na criação de empregos, de dispor de melhores estradas, hospitais, escolas, menor violência nas ruas, é a falta de investimentos, que se traduz, portanto, em menor taxa de crescimento e em um aumento lentíssimo da prosperidade (que existe, por certo, mas é tão reduzida que se perde no longo prazo).
E o que impede o Brasil de ter uma taxa mais elevada de investimentos não é a falta de investimentos estatais, como pretendem muitos, e sim a falta de investimentos privados, que existiriam, pelo menos em parte, se não fosse a tremenda "despoupança" estatal que caracteriza o Brasil.
Que isso seja verdade, é simplesmente comprovado pelo nível de carga fiscal existente no Brasil, praticamente no patamar dos países da OCDE -- de cerca de 38% do PIB -- para um PIB per capita cinco ou seis vezes menor. Ou seja, o Brasil é uma anomalia absoluta na economia mundial: o Estado absorve dois quintos do PIB e mantem uma taxa de investimento pública ridiculamente baixa, de 1% do PIB aproximadamente, consumido todo o restante em despesas correntes e transferências obrigatórias.
Se o PSDB, e a população brasileira, o que é mais importante, não perceberem isso, vamos continuar a patinar indefinidamente na mesma situação em que estamos vivendo pelos últimos 50 ou 60 anos, pelo menos. A desigualdade, volto a repetir, não é a causa dos problemas brasileiros, ela é apenas o reflexo das disfunções do funcionamento do sistema público no Brasil, que concentrou nas mãos do Estado a responsabilidade principal pelos mecanismos da vida econômica e, justamente, converteu o Estado na mais poderosa máquina de concentração de renda e de criação de desigualdades que poderíamos ter.
Foi o Estado quem produziu inflação, o mais perverso imposto contra os pobres e o mais poderoso mecanismo de transferência de renda de quem é pobre para as mãos e os bolsos dos ricos. Foi o Estado quem produziu descontrole fiscal, que explica o primeiro fenômeno e contribui para premiar quem já é rico, com recursos subsidiados. Foi o Estado que continua privilegiando os ricos, ao manter um sistema de ensino que concentra verbas no superior, em lugar de se ocupar da educação obrigatória universal. Foi e é o Estado que impede a concorrência e a competição saudáveis, ao manter um protecionismo exagerado e ao alimentar cartéis e monopólios, públicos e privados, que extraem renda do conjunto da população para entregar a industriais protegidos e os cartéis dos principais setores. É o Estado que garante salários duas a três vezes superiores no setor público do que no privado, uma aberração completa e absoluta, ademais da estabilidade total nos cargos público, outro absurdo anti-produtivo; é também o Estado que garante pensões acintosas para os funcionários públicos, contra magros rendimentos para os que são contemplados no sistema geral.
Basicamente é o Estado que cria a desigualdade que o documento do PSDB aponta como o "principal problema" do Brasil, quando não é; ela é apenas o reflexo desse mau funcionamento do Estado, com instituições deformadas, funcionando apenas a serviço dos privilegiados e dos próprios funcionários públicos, gastando em primeiro lugar consigo mesmo, não com a população (mas observo que o Estado não "deveria gastar" com a população, bastaria que ele não arrecadasse recursos que a própria população ou os empresários poderiam consumir, com seu bem-estar, ou investir, para fornecer serviços e bens, o que o Estado pretende fazer e faz mal, como sempre.
Que o Brasil seja um país injusto, disso ninguém duvida. Que as fontes dessa injustiça estejam na "desigualdade" já é duvidoso, pois a desigualdade pode ser gradualmente absorvida com crescimento econômico -- a ser feito basicamente por investimentos privados, e não públicos --, com uma estrutura tributária menos iníqua, que retire menos dinheiro do trabalho e dos lucros e mais do consumo, da renda e do patrimônio, com uma repartição de despesas que incida sobre serviços universais, não para transferir mais renda para os ricos -- como ocorre agora com o bolsa-empresário do BNDES, com o bolsa-classe média das universidades gratuitas, etc. -- e sobretudo com a melhoria brutal dos padrões educacionais nos dois primeiros níveis de ensino e na educação técnico-profissional de qualidade.
Este é único caminho pelo qual o Brasil poderá ser tudo aquilo que os brasileiros pretendem que ele seja, como colocado no primeiro parágrafo aqui selecionado do programa do PSDB.
Ou seja, errando no diagnóstico e errando nas prescrições é muito provável, que mesmo com a vitória do candidato do PSDB neste dia de eleições, o Brasil continue patinando penosamente em direção ao futuro nos próximos anos (ou décadas).
Boas escolhas a todos.
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 31 de outubro de 2010)
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
iPad: por enquanto estou aposentando a ideia....
Paulo Roberto de Almeida
Os 10 pecados do iPad
Redação Yahoo! Brasil
Qua, 27 Out - 21h39O tablete da Apple já vendeu mais de 4,5 milhões de unidades e é considerado o gadget do momento. A princípio, muito desse sucesso veio simplesmente da emoção de ter o novo aparelho. Mas logo começaram a surgir algumas críticas de usuários. A empresa de Steve Jobs está ciente desses defeitos e trabalha para corrigi-los.
Aqui uma complicação dos principais problemas apontados no iPad:
1- Complicações com Adobe Flash
Uma das queixas mais frequentes é a impossibilidade de reproduzir conteúdo Adobe Flash. Não deixa de ser um paradoxo ter a mão um dispositivo que lhe oferece grande experiência de navegar pela rede, mas que ao mesmo tempo lhe impede de ver alguns sites de maneira completa. Há alguns meses, Steve Jobs disse que o Flash pertence à era PC e não dos computadores portáteis, e que não é aberto como HTML5, CSS y JavaScript. Além disso, seria inseguro, instável e gasta mais bateria. O certo é que, mesmo com todos esses argumentos de Jobs, os fãs seguem decepcionados pela falta dessa ferramenta.
2- Nada de multitarefas
O iPad não conta com o sistema de multitarefas, ou seja, você não pode mudar de uma aplicação para outra sem suspender a tarefa em curso - mesmo que seja algo simples, como escrever um e-mail ou sair do Messenger para postar algo no Facebook. Há a expectativa de que novas versões do iPad corrijam esse defeito.
3- Nada de WebCam de 5 megapixels
Ao contrário de concorrentes como o Galaxy Tab da Samsung, o RIM com PlayBook e o Dell com o Streak, que integram WebCam de 5 megapixels, a Apple decidiu deixar esse recurso fora da jogada.
4- Nada de portas USB
Essa é inexplicável. O aparelho não conta com portas de conexão USB e nem para cartões de memória SD. Isso quer dizer que ele não pode conectar câmeras ou qualquer outro dispositivo periférico. Ah, claro, você pode investir mais 29 dólares (lá fora) e comprar o adaptar Camera Connection Kit.
5- Livros eletrônicos?
Assim que o iPad foi lançado, a expectativa era de que o iBooks, a loja de livros da Apple, acabaria com o mercado da Amazon. Mas não foi o que aconteceu. Um dos principais fatores para isso é a dificuldade de leitura em ambientes abertos - é complicado encontrar um ângulo em que o reflexo da luz na tela não interfira na leitura.
6- Restrição a aplicativos
A Apple decidiu que sua plataforma de aplicativos fosse fechada, ou seja, se alguém quiser baixar um aplicativo de qualquer site, precisa passar antes pela app store para obter a autorização.
7- Baixa qualidade do vídeo
O iPad não reproduz vídeos HD de 720p, já que a resolução é baixa - 1024x768. E não dispõe de saída de vídeo.
8- Pouca memória RAM
O iPad tem 256 MB de RAM, o que pode ser um problema ao abrir várias janelas da rede.
9- Aplicativos caros
Ainda que existam milhares de apps gratuitos, 80% - desenhados especialmente para o iPad - são pagos. E custam mais, em média, do que os aplicativos para iPhone.
10- Assinaturas não disponíveis
Segundo alguns desenvolvedores, a Apple ainda não tem um sistema de assinatura. Por enquanto, os usuários devem realizar seus próprios sistemas de "subscription" ou utilizar um servidor local. No entanto, a Apple já está trabalhando para oferecer o sistema de assinaturas. Tudo indica que este elemento estaria disponível em janeiro, com um novo iPad com estas características corrigidas.
domingo, 26 de setembro de 2010
Duas criticas ao lulismo - Maria Sylvia Carvalho Franco e Sérgio Fausto
Os artigos questionam o trabalho do cientista político da USP André Singer (ex-porta voz do presidente Lula em seu primeiro mandato) e o livro publicado pelo sociólogo Rudá Ricci, Lulismo: da era dos movimentos sociais à ascensão da nova classe média.
Razões e desrazões do lulismo
O lulismo seria um continuador do varguismo? Sim, mas pelo que Getúlio tinha de pior, segundo Maria Sylvia Carvalho Franco e Sergio Fausto, que fazem um contraponto ao artigo de André Singer "A história e seus ardis", publicado na Folha de S.Paulo em 19/09/2010.
De casas, pastores e lobos
Maria Sylvia Carvalho Franco
RESUMO: Lula valeu-se da herança varguista do paternalismo para constituir seu governo e sua popularidade, calçada na cultura da carência dos brasileiros, em violações de direitos e no marketing político. O alardeado êxito comercial leva a escolhas eleitorais sem racionalidade, que ignoram fragilidades econômicas e valores cívicos.
ENTRE AS IMAGENS ARCAICAS do poder político estão as do pastor e do pai. Esta última figura, o presidente Lula reclamou explicitamente para si. Não bastasse a evocação do paternalismo, as mazelas que o acompanham fazem-se mais e mais visíveis. O cerne dessa ordem está, justamente, em transpor a casa -moradia da família grande, com pais, filhos, parentes, clientela, compadres, afilhados e companheiros- para o palácio, com seus membros convertidos em ministros, deputados e senadores, agregados, sindicalistas e executivos de empresas oficiais. Emblemáticos desse regime são os acontecimentos na Casa Civil deste governo, tornada gabinete pessoal de José Dirceu e da ministra demissionária. Ambos convenientemente descartados. Lula de nada sabia, esteve cego, surdo, calado; Dilma resguarda-se dos eventuais dolos de seu factótum, simples "assessora". A gratidão aos acólitos, nula nesses protagonistas, é virtude privada e pouco interessa em política: importantes são os princípios que fundam o Estado e o espírito da magistratura, como a prudência e o respeito à legalidade. Nesse campo ético, o governante obriga-se a responder por seus próprios atos e os de seus adjuntos. O avesso dessa máxima orienta nossos dirigentes. Em atos e palavras, a disciplina necessária aos negócios públicos é subvertida com farsas tramadas para eludir responsabilidades.
Daí é um passo converter a economia doméstica em economia política, o interesse privado em fins coletivos, a dominação pessoal em benefício para os pobres, a pura mentira em razão de Estado. O crime de violação de sigilos constitucionalmente garantidos, como as declarações de rendimentos, transforma-se em ato banal para o ministro da Fazenda. As vítimas desse atentado convertem-se em réus, a imprensa que divulga os feitos transforma-se em golpista que os maquina.
VALORES INVERTIDOS
A esse quadro de condutas e valores invertidos Dilma pertence: escolheu integrá-lo ao sagrar-se "mãe", como seu padrinho diz-se "pai" dos brasileiros. À sombra do arcaico paternalismo, acomodou-se um esmaecido perfil de mulher moderna, da jovem ex-resistente contra a ditadura, da universitária e profissional habilitada.
É confrangedor ver a espinha humana vergar às técnicas de controle político: a curvatura vai da aparência física à indumentária, ao discurso, à identidade, perdida na aliança com personagens cujo estigma a candidata quer afastar de si. José Dirceu faz sua campanha Brasil afora, Antonio Palocci -derrubado no episódio da violação, sem mais, de um preceito constitucional- a avaliza junto aos empresários, temerosos da "guerrilheira", mas desatentos à ameaça que representa, a eles como a toda a cidadania, a possível devassa, sem ordem judicial, na vida econômica de qualquer pessoa. Palocci é enaltecido em jantar, com direito a fotografia risonha e cordial, impressa em jornais, comemorando a "classe média" alardeada na propaganda e erguida ao paraíso mercantil.
DA MÃO PARA A BOCA
Há quem afirme que essa "classe média, pela primeira vez neste país, compra e vota com racionalidade". A associação é significativa: compra e vota. Racionalidade, nesse exíguo espaço de pensamento, inexiste: se a minguada Bolsa Família -suposto arcano da prosperidade- permite ao pobre comer, a racionalidade vai da mão para a boca (dizia o velho Marx).
Esse critério de voto realça outro arquétipo do mando político, o pastoreio, reativado por Lula e Dilma ao prometerem "cuidar" dos brasileiros. Filhos são singulares, não compõem um rebanho de animais dóceis, tangidos pelo pastor. Este "trata" de sua manada: a alimenta, supervisiona e preside seus cruzamentos, reproduzindo-a e engordando-a para o corte. Se o pastor e seus ajudantes fornecem comida, dia virá em que, por sua vez, comerão o redil, convertendo-se em lobos, saciando-se com o poder garantido pelos votos encurralados. É esse viés obsoleto que Lula soube expandir, distorcendo o regime democrático.
Não raro, o pastor comunga, com sua confraria, a mesma origem e formação, o que o torna conhecedor das almas que visa aliciar e bom juiz das palavras que as atingirão. Mas, neste caso, Lula não é só um ex-partícipe do rebanho e do sertão que abandonou, ao passar para a classe dominante com suas benesses: ele é simbólico dessa cultura de carência e sabe explorá-la, apoiado em suas falanges de marqueteiros.
A clássica técnica de dominação -medo e esperança-, entranhada na crença em entidades salvadoras, é a energia que nutre o fantástico aplauso ao governo: o temor de perder o recebido, conjugado à expectativa de conservá-lo e à gratidão pela dádiva concedida, não deixa nada contido "sub ordine rationis", tudo é carreado para a superstição.
FÉ E GRAÇA O amálgama -fé e graça- impulsiona o calamitoso circuito inverso, rumo ao retrocesso, de nossas instituições políticas. Em entrevista à Folha, Maria Celina D"Araujo cotejou o presente "pai do povo" com Getúlio Vargas, destacando decisiva diferença entre ambos: Vargas formou uma força de trabalho industrial, urbana, organizada. Interferiu, portanto -muitas vezes para o mal, com implacável ditadura-, nas diretrizes da organização econômica e social do país. Sua outorga de direitos ao trabalhador não gerou uma consciência autônoma, mas não explorou o puro assistencialismo.
Lula projetou a cultura política para atrás de Vargas, revertendo-a no mínimo à República Velha (1889-1930), com a sua tralha de favores, hoje reforçada pela ampliação capitalista e pelas técnicas de controle sociocultural, monitorando as eleições desde as imagens dos candidatos até o mais recôndito sufrágio. De Vargas, retomou o domínio do sindicato e transfez o peleguismo em arma para o aparelhamento do Estado.
COMÉRCIO
Voltando ao pastor: se o rebanho prospera, alimentado pelos milhões aspergidos na economia, o milagre alimenta o comércio especializado em vender para pobres, para a "classe média" que teria alterado, reza a propaganda, a estrutura social do país. Mas, de fato, os pobres continuam pobres, não raro adquirindo produtos inferiores e precários (por isto mesmo reiterativos das compras), "made in China" ou aqui produzidos por imigrantes ilegais na situação de escravos.
Enquanto isto, o comércio de altíssimo luxo multiplica-se nos centros ricos. A pletora de importações -da quinquilharia aos carros preciosos, todos produtos acabados- anuncia a desindustrialização e compromete as reservas cambiais (lembremos de Dutra). Insistindo no plano comercial -a grande arma publicitária-, indaga-se: que é da menor desigualdade social? Até quando se afastará a inadimplência (Serasa, agosto 2010)?
E o setor produtivo, com a perda bilionária da exportação de bens industrializados, face à de matérias-primas, com a pauta de exportações regredindo ao nível de l978, resultando em queda no saldo comercial, rombo nas contas externas e maior dependência de capitais a curto prazo?
Enfim, menos empregos e menos riqueza, somadas a outras consequências, como a falta de infraestrutura e a evasão empresarial (Associação do Comércio Exterior do Brasil). A economia vai bem? O ministro da Fazenda inverte sua tendência funesta e afirma que a exportação majoritária de commodities não é problema.
DESRAZÃO
Impossível ser contra mitigar a pobreza material, mas a vida do espírito não deve continuar miserável. Que livre-arbítrio pode emergir nesse mundo avesso à consciência crítica? Esta é outra arma brandida pela sofística própria à propaganda. Quanto menos informados os eleitores (a não ser no interesse da facção que sustenta a catequese, como o merchandising de seus prosélitos), melhor para os marqueteiros, exímios em desvirtuar os valores democráticos para alavancar seus mecenas.
Essa inversão ética bloqueia compreensões racionais: há quem fique perplexo diante da sobrevivência de Lula através dos escândalos que o atingem, razões sobejas para sua rejeição. Mas a solércia o leva a abandonar os náufragos, convertendo a ingratidão pessoal em decoro cívico, punitivo da prevaricação. Os subterfúgios que implementou fornecem-lhe a escapatória: nada acontece porque o chamado "cenário" onde ele habita funda-se na desrazão instalada ao longo das camadas sociais, tornando-as crédulas em maravilhas. Todas as aparências servem à prestidigitação publicitária: o mundo efetivo é escondido, as deformações de seus aspectos são meticulosamente produzidas, mitos fabricam os candidatos, engrandecendo suas proporções.
O perigo, nessa engrenagem de seres vivos, é que estes podem escapar ao planejado: a irracionalidade que a sustenta pode ameaçá-la, pelo açodamento e por certezas impensadas, como em suas crises periódicas.
De todo modo, enquanto a falange de marqueteiros a serviço de Lula, infantaria pesada, faz razia no território político e colhe seu butim, a desordenada oposição custou a perceber que caíra, distraída, em um campo de batalha.
"Lula não é só um ex-partícipe do sertão que abandonou, ao passar para a classe dominante: ele é simbólico dessa cultura de carência e sabe explorá-la"
"Impossível ser contra mitigar a pobreza, mas a vida do espírito não deve continuar miserável. Que livre-arbítrio pode emergir nesse mundo avesso à consciência crítica?"
.-.-.-.-.-.-.-.-.-
A outra face do lulo-petismo
Sergio Fausto
RESUMO: A recorrente associação de Lula com Getúlio Vargas significa antes o seu batismo nas águas do populismo nacional-estatista, marcado por práticas que negam a história do presidente e do PT, como a cooptação de partidos, de grandes grupos empresariais e das classes baixas, num processo de enfraquecimento da democracia.
ANDRÉ SINGER ABRE seu artigo "A história e seus ardis", publicado domingo passado neste caderno (leia em folha.com/ilustrissima), descrevendo um suposto encontro entre Brizola e Lula aos pés do túmulo de Getúlio Vargas, em São Borja (RS). Brizola teria pedido a Lula que cumprimentasse Vargas. Não se sabe qual foi a reação do atual presidente.
Pouco importa se a história é semirreal ou totalmente imaginária. Toda ideologia, pequena ou grande, precisa de um mito fundador. Para Singer, a cena mítica simboliza o reatamento de fios rompidos da história brasileira.
As consequências se fariam sentir anos depois, com Lula na Presidência. Vale citá-lo: "Ao constituir, desde o alto, o povo em ator político, o lulismo retoma a combinação de autoridade e proteção aos pobres que Getúlio encarnou".
Singer esquece de dizer que o reatamento com a herança de Vargas implicou ruptura com a própria história original de Lula e seu partido, que surgiram em oposição ao controle corporativo da sociedade pelo Estado.
Em São Borja, dá-se o batismo de Lula nas águas da velha tradição do populismo nacional-estatista. Não poderia haver melhor padrinho do que Brizola, quem mais encarnou a vertente caudilhesca dessa tradição.
PÃO PARA AS CRIANÇAS
No lulismo que ali nasce, para depois desenvolver-se "a partir do alto", ou seja, da Presidência da República, não há lugar para o "povo como ator político". Ator político é uma categoria discursiva do Lula anterior. Para o Lula que nasce em São Borja, o que existe são os "pobres". E estes não são atores, mas sujeitos de uma história em que o protagonista é o líder das massas: o pai protetor que providencia o pão para suas crianças e lhes dá puxões de orelha, quando necessário, mas sempre com doçura, na metáfora regressiva tantas vezes repetida pelo atual presidente.
Da história dos últimos oito anos, Singer ilumina o aspecto eleitoral, para firmar sua tese de que o "lulismo" produziu um realinhamento de forças duradouro. Antes desconfiados do radicalismo do PT, os mais pobres aderiram a Lula quando este, já no poder, apontou o caminho da distribuição da renda sem confronto social. Formou-se uma aliança que se nutre da força simbólica do líder e do vigor de uma economia centrada no mercado interno de massas, impulsionado por políticas sociais ativas.
Não é o caso de discutir aqui a explicação que Singer dá ao desempenho atual da economia brasileira. Ela segue a linha de atribuir ao atual governo, em especial em seu segundo mandato, a origem de tudo de bom que acontece no país. Mais importante é observar que, na análise do autor, ficam obscurecidas as mudanças introduzidas pelo lulo-petismo nas relações entre Estado, governo e sociedade. Também estas podem ser mudanças duradouras. E são preocupantes para quem acredita que a democracia não se limita a eleições.
DIRCEU Mais ou menos na mesma época em que se deu o suposto encontro no cemitério de São Borja, Lula indicou José Dirceu para ocupar a presidência do PT, cargo para o qual o ex-deputado se reelegeria em 1997 e 2001. Nesses anos, Dirceu transformou o partido em uma organização capaz de obter e gerenciar recursos eficientemente.
Marginalizadas as tendências mais à esquerda, consolidou-se um grupo hegemônico, com controle sobre os recursos da organização. O crescimento do número de prefeituras conquistadas ampliou as bases de financiamento do partido. Processo análogo ocorreu com a Central Única dos Trabalhadores (CUT). No grupo hegemônico que se formou no partido e na central, sobressaem as lideranças egressas do movimento sindical do setor público (Gushiken, Berzoini etc.) e figuras da esquerda pura e dura convertida ao realismo político (Dirceu à frente). É este o PT que chega ao poder em janeiro de 2003: politicamente mais moderado do que antes, organizacionalmente mais robusto do que nunca. Pela primeira vez na história deste país, uma organização partidária que de fato estrutura as bases materiais e simbólicas da vida de um amplo contingente de quadros e militantes, e não apenas de um restrito conjunto de dirigentes, ingressa em cheio no Estado brasileiro. Com muito apetite.
COOPTAÇÃO
O partido já havia aprendido que sem alianças mais amplas não era possível ganhar eleições, tampouco governar. No poder, mobilizou, para tanto, todos os instrumentos de cooptação presentes no arsenal do Estado brasileiro. Repetiu velhas práticas e inovou para pior.
Todos os governos anteriores em período democrático compuseram alianças para obter maioria no Congresso. É uma contingência do nosso presidencialismo, não por acaso chamado "presidencialismo de coalizão". Nenhum outro, porém, o fez de maneira tão nociva ao quadro partidário e aos costumes políticos. Primeiro, promoveu o inchaço de legendas de aluguel, abrigo de "picaretas" de fácil cooptação para a maioria governista. Com isso, ao mesmo tempo que mercantilizou a formação da maioria parlamentar, preservou o PT do inchaço artificial. Segundo, organizou um sistema de pagamento por votação, abastecido por recursos públicos e privados: o "mensalão".
A cooptação não se limitou ao Congresso. Todos os governos anteriores em período democrático buscaram alianças no meio sindical. Nenhum cooptou o mundo sindical como o atual. As centrais sindicais receberam de presente uma bela fatia do bolo das receitas compulsoriamente arrecadadas dos trabalhadores, contra as quais, em nome da liberdade sindical, Lula se bateu quando líder do "novo sindicalismo".
O presente foi dado sem restrições: o presidente vetou emenda de um deputado da oposição que previa a fiscalização do Tribunal de Contas da União sobre esses vultosos recursos. Beneficiada pela nova fonte de recursos e incorporada à gestão do Ministério do Trabalho, a Força Sindical, que nasceu em oposição à CUT, aderiu ao governo -que, por sua vez, não poupou esforços para livrar seu presidente, o deputado Paulinho da Força, de um processo no Conselho de Ética da Câmara. Em junho, todas as centrais, menos a União Geral dos Trabalhadores, manifestaram apoio a Dilma.
A cooptação se estendeu ainda aos grandes grupos empresariais. Acontece principalmente por intermédio do BNDES, acionado para subsidiar a consolidação de alguns poucos grupos "campeões nacionais", ao mesmo tempo que o governo expande a distribuição de recursos através dos programas de assistência às famílias de menor renda.
Na combinação do Bolsa Família com o Bolsa BNDES, Singer enxerga o ressurgimento da "aliança entre a burguesia nacional e o povo, relíquia de tempos passados que ninguém mais achava que pudesse funcionar". Nenhuma palavra sobre o que pode vir a significar para a democracia brasileira a formação de duas clientelas governamentais, uma no andar de cima, com recursos para financiar campanhas, outra no andar de baixo, com votos para eleger.
HERÓIS E IDEOLOGIAS
Tamanho entusiasmo pelo "projeto nacional pluriclassista" e seu líder-condutor leva Singer, no final de seu artigo, a traçar um paralelo entre a política econômica do segundo mandato e o New Deal dos anos 30 nos Estados Unidos. Lula é assim erguido ao patamar de Roosevelt. O paralelo não é propriamente um exemplo de avaliação sóbria quanto à importância relativa dos dois personagens.
Todos temos as nossas ideologias e os nossos heróis. Eu também não sou um observador isento da cena nacional. Não há mal nisso. Ruim é quando a ideologia nos faz muito seletivos na leitura da realidade.
A tese de Singer sobre o realinhamento eleitoral parte de uma constatação empírica inequívoca. O fenômeno que aponta pode ser duradouro. Em torno da tese bem fundamentada, Singer constrói, no entanto, uma interpretação da história recente que, bem ao estilo de seu herói, engrandece o presidente Lula e deixa à margem os aspectos menos luminosos, para dizer o mínimo, do lulo-petismo.
A crítica ao modo pelo qual este se constitui e opera a partir do Estado não é "moralismo udenista" tardio, como Singer sugere. É, isto sim, um dever de consciência de quem acredita que a democracia se enfraquece e pode periclitar onde o chefe de Estado se arvora a protetor paternal dos pobres, onde as fronteiras entre partido, governo e Estado se confundem, onde a cooptação estatal prevalece sobre a representação mais autônoma dos interesses da sociedade.
"Para o Lula que nasce em São Borja, o que existe são os "pobres". E estes não são atores, mas sujeitos de uma história em que o protagonista é o líder das massas"
"A cooptação não se limitou ao Congresso. Todos os governos anteriores em período democrático buscaram alianças no meio sindical"
terça-feira, 29 de junho de 2010
Combatendo a Krugmanmania: um austriaco
Paul Krugman há muito tempo tem esse status, e vem exagerando no direito de acumular bobagens. Reparei nisso desde o primeiro governo Bush, quando ele começou a colaborar como colunista regular no New York Times: ainda que Bush merecesse ser criticado por um monte de coisas, inclusive por suas políticas econômicas irresponsáveis (sobretudo no plano fiscal, onde ele conduziu um dos mais exemplares keynesianismos militares desde a era Reagan), Krugman escrevia de forma totalmente política, não como economista, o que ele era supostamente.
Minha ojeriza a ele foi crescendo, até que desisti de ler seus artigos, que eram cansativos, rebarbativos e puramente bullshit.
Pois bem, no Brasil ele continua a ser admirado, beatamente, como convém às mentes simples que frequentam nossos jornais e academias.
Agora descobri um site que critica, economicamente, as bobagens de Krugman.
Leiam e pensem (o que todo mundo deveria fazer):
Krugman-in-Wonderland
William L. Anderson
Analysis and criticism of America's most prominent public intellectual and champion of Keynesian economics. I am part of the Austrian School of Economics, and I critique Krugman's writings from that perspective.
William L. Anderson
I teach economics at Frostburg State University in Frostburg, Maryland. We are located on the Allegheny Plateau, and we have cool summers and tough winters. I am the father of four children, three of them adopted from overseas, and the husband of a beautiful wife. I have two grandchildren. My family and I are members of Faith Presbyterian Church (PCA).
Complete profile
Um exemplo de post:
Monday, June 28, 2010
Krugman and the Keynesian "Stones into Bread" Fallacy
The more I read Paul Krugman's columns and papers, the more I realize just how great the gulf is between Austrian and Keynesian thought. It is impossible to sum up all of the differences between the two camps, but I do think that perhaps the disparities can be summed up in the Austrian rejection of Keynes' famous 1943 statement that expansion of credit by the central bank will create a “miracle . . . of turning a stone into bread.”
In his column today, Krugman in a roundabout fashion repeats this notion, as he excoriates the governments of the world for not borrowing, printing, and spending at a rate that he believes will keep the world economy from slipping into depression. At the heart of Krugman's exhortation is his belief that credit expansion is the same thing as creating wealth. I don't think so.
Krugman has almost a religious belief that borrowing and printing money and policies of spending for the sake of spending will pull the country out of a recession. He writes of the current mess:
...this third depression will be primarily a failure of policy. Around the world — most recently at last weekend’s deeply discouraging G-20 meeting — governments are obsessing about inflation when the real threat is deflation, preaching the need for belt-tightening when the real problem is inadequate spending.
In 2008 and 2009, it seemed as if we might have learned from history. Unlike their predecessors, who raised interest rates in the face of financial crisis, the current leaders of the Federal Reserve and the European Central Bank slashed rates and moved to support credit markets. Unlike governments of the past, which tried to balance budgets in the face of a plunging economy, today’s governments allowed deficits to rise. And better policies helped the world avoid complete collapse: the recession brought on by the financial crisis arguably ended last summer.
Krugman ignores the recoveries after the 1921 recession and the 1982 recession, both of which occurred in the absence of inflation and and the presence of higher interest rates. Furthermore, while the U.S. Government in both instances ran deficits, they were deficits brought on by the fall in tax revenues due to the recession, not as matters of "deficit-based stimulus" policies.
But, there is a larger issue here, and it is this: Current spending by government does not create wealth, and it is the creation of wealth that will bring us out of the depression. Borrowing from future generations (or repudiating the debt through inflation) is nothing more than making a claim on future wealth. Furthermore, Krugman's recommendations do nothing to address the current set of malinvestments which plague the economy, not to mention the huge added burden of government-imposed costs which make production of wealth more difficult.
Lest we think that Krugman is saying something new, the great Ludwig von Mises more than 60 years ago exposed this faulty thinking. He wrote:
The stock-in-trade of all Socialist authors is the idea that there is potential plenty and that the substitution of socialism for capitalism would make it possible to give to everybody “according to his needs.” Other authors want to bring about this paradise by a reform of the monetary and credit system. As they see it, all that is lacking is more money and credit. They consider that the rate of interest is a phenomenon artificially created by the man-made scarcity of the “means of payment.”
In hundreds, even thousands, of books and pamphlets they passionately blame the “orthodox” economists for their reluctance to admit that inflationist and expansionist doctrines are sound. All evils, they repeat again and again, are caused by the erroneous teachings of the “dismal science” of economics and the “credit monopoly” of the bankers and usurers. To unchain money from the fetters of “restrictionism,” to create free money (Freigeld, in the terminology of Silvio Gesell) and to grant cheap or even gratuitous credit, is the main plank in their political platform.
Indeed, it was as though Professor Mises was anticipating Krugman's arguments. No doubt, Krugman would think Mises was a fool and a charlatan, but the joke is on Krugman. True, Mises did not have a Nobel Prize; but Mises had wisdom, and that makes all the difference.
Posted by William L. Anderson at 7:19 AM
domingo, 9 de maio de 2010
Lula é criticado por Moises Naim - El Pais (Madrid)
MOISÉS NAÍM
El País, 09/05/2010
La revista Time acaba de incluir a Luiz Inácio Lula da Silva entre las personas más influyentes del planeta. Ciertamente las actuaciones del presidente de Brasil han afectado la vida de millones de personas y, en el caso de sus compatriotas, muy positivamente. Pero Lula no sólo merece aplausos y admiración. También hay aspectos de su conducta que son vergonzosos. Veamos.
- Lo bueno. Diez millones de brasileños se incorporaron a la clase media entre 2004 y 2008. La pobreza cayó del 46% de la población en 1990 al 26% en 2008. La desigualdad en la distribución del ingreso ha disminuido. La hiperinflación es una pesadilla que ya nadie recuerda. La deuda externa está en un envidiable 4% del PIB. Las exportaciones se multiplicaron por cinco en sólo veinte años. Y por si fuera poco, en la próxima década Brasil podría llegar a ser una importante potencia petrolera.
Gracias a su éxito y a su tamaño, Brasil es ahora una presencia indispensable en las negociaciones internacionales sobre clima, energía, comercio, finanzas, desarrollo, proliferación nuclear y demás retos que confrontan al mundo. Así, Lula ha hecho obsoleto el mal chiste según el cual Brasil era el país del futuro y seguiría siéndolo para siempre. Brasil ya ha alcanzado mucho de su potencial y no hay duda de que Lula merece un enorme reconocimiento por estos éxitos.
- Lo malo. Lula es poco generoso. Debería compartir el crédito por los logros de su país con Fernando Henrique Cardoso, su predecesor en la presidencia. Lula heredó una economía reformada, políticas sociales de vanguardia y una base muy sólida para continuar profundizando la liberalización y desregulación económica que explican el actual éxito de Brasil. El gran mérito de Lula es haber mantenido, ampliado y defendido estas políticas, que contrastan con las posiciones ideológicas que mantuvo durante años. Lula lideró la oposición a las reformas que hoy le ganan el aplauso del mundo. Mientras en las cumbres revolucionarias con los Chávez, Castros y Ortegas del mundo Lula comparte con entusiasmo las loas al socialismo, en sus decisiones en Brasil éste brilla por su ausencia. Lula ha sido de los presidentes más pro-mercado y pro-sector privado e inversión extranjera que ha tenido Brasil. Él suele decir que sus políticas económicas de mercado sirven para construir las bases para el socialismo. Pocos le creen. Y es fácil suponer que uno de los que no se lo cree es el propio Lula.
Lamentablemente, el presidente brasileño tampoco ha podido impedir que en sus círculos más cercanos florezca la corrupción que invade los gobiernos de América Latina. Decir que esto es lo usual es tan correcto como reconocer que la lucha contra la corrupción nunca ha sido una prioridad para Lula.
- Lo feo. Lula da Silva ha sido muy bueno para los brasileños y muy malo para millones de sus vecinos. Los déspotas que tienen la suerte de ser amigos del presidente brasileño y que están arruinando sus países, mientras Brasil progresa, saben que cuentan tanto con el estridente apoyo como con el silencio cómplice de Lula. Su incondicional respaldo público les aporta una valiosísima legitimidad internacional que les sirve para actuar con aún mayor impunidad dentro de sus países. Sería ingenuo esperar que Lula sea el gendarme de la democracia y los derechos humanos en la región. Pero no debería ser ingenuo esperar que quienes violan reiteradamente los derechos básicos de sus pueblos sepan que no cuentan con el tolerante silencio de Lula y su fraternal abrazo en las cumbres presidenciales. ¿No sería maravilloso que quienes son encarcelados por luchar por la democracia en otros países sepan que Lula es su aliado, y no el de sus carceleros?
La lista de las contradicciones, inconsistencias y ejemplos de la doble moral de Lula es triste y larga. Y no pasa semana sin que crezca. La última adición ha sido la de obligar a que fuese excluido de la cumbre presidencial de la Unión Europea y América Latina el nuevo presidente de Honduras, Porfirio Lobo. Según Brasil, Lobo -quien ganó las elecciones sin las trampas, comunes en la región, de Hugo Chávez y Daniel Ortega- no tiene las suficientes credenciales democráticas para estar en esa reunión. Esto viene del mismo presidente que explicó al mundo que Mahmud Ahmadineyad ganó las elecciones en su país limpiamente y que los miles de iraníes que protestaron en las calles se estaban portando como los díscolos hinchas de un equipo de fútbol después de que su equipo pierde. Al mismo tiempo que Lula decía esto, Ahmadineyad ordenaba la pena de muerte para algunos de los manifestantes. Feo, ¿no?
Por todo esto Lula pasará a la historia como un muy buen presidente para su pueblo y un muy mal vecino para los amantes de la libertad.
domingo, 2 de maio de 2010
Um inimigo da escola austriaca de economia (e amigo do Estado keynesiano)
O autor abunda em caracterizações e é mais escasso em argumentos substantivos, mas vamos deixar postado para constatar o que pensa (ou quase) um decidido inimigo da escola liberal.
Depois, caberia fazer um exercício, ou dois: ou tentar responder às acusações do autor, ou verificar em que medida o Brasil se aproxima mais das idéias execradas por ele, ou se distancia delas, no sentido desejado por ele.
Paulo Roberto de Almeida
9Shanghai, 3 de maio de 2010)
Debates e ideias
Circo dos horrores
*Manuel Soares Bulcão Neto
Diario do Nordeste online, 2/5/2010
Em 2001 realizou-se, na cidade de Porto Alegre, a primeira edição do Fórum Social Mundial. De pronto, os ideólogos e propagandistas do turbocapitalismo denominaram o congresso de parque temático da esquerda jurássica: uma exposição de tiranossauros stalinistas, velociraptores trotsquistas, saurisquianos populistas, PTerossauros…
A bela Porto Alegre, no entanto, destaca-se por ter uma sociedade civil plural e efervescente. Logo, cedo ou tarde, o antípoda ideológico do FSM haveria de dar o troco “in loco”. Foi o que aconteceu nos dias 12 e 13 de abril do ano em curso. Na mesma arena em que a esquerda mundial realizou, por quatro anos (2001, 2002, 2003 e 2005), o seu espetáculo, a extrema-direita liberal, pelas mãos do Instituto Mises Brasil, armou o seu circo de horrores teratológicos: o I Seminário da Escola Austríaca.
Galinhas de ovos dourados (os miseanos nostálgicos do padrão-ouro), “micos” empresários (os federalistas da escola de Ayn Rand), bodes de duas cabeças (a da esquerda, anarquista; a da direita, capitalista: os asseclas “libertários” de David Friedman) e outros portadores de taras bestialógicas falaram no encontro. Quanto ao lugar-comum dos discursos, não poderia ser mais óbvio: elogio do deus Mercado – da sua providente mão invisível, clara versão pseudolaica do Espírito Santo – e catarse histérica contra o Estado, suposta fonte de todos os males.
O radicalismo e o antiestatismo “a priori” atestam o caráter profundamente religioso desse ultraliberalismo tardio. À guisa de ilustração, cito a defesa, pelos escolásticos austríacos, da abolição de qualquer política econômica – mesmo daquela, minimalista, levada a cabo por bancos centrais autônomos (afinal, o termo “política” remete a Estado, horror!).
Outro exemplo digno de nota é a proposta do anarcocapitalista David Friedman, filho de Milton Friedman, de privatização do aparato judicial de segurança do Estado, o que implicaria a substituição do ordenamento jurídico único por uma miríade de sistemas legais – os indivíduos escolheriam o que melhor lhes conviria – e a quebra do monopólio da violência. Ora, Mr. David, ao contrário do que supõem os illuminati do livre-cambismo, não são os homens suficientemente racionais em seu egoísmo; de modo que, caso queira ver a tradução real da sua utopia, é só aportar em Mogadíscio, capital da Somália. Lá verá uma sociedade mercantil-simples sem Estado, fragmentada em feudos (o federalismo randiano em sua máxima entropia), cada feudo com seu senhor da guerra, seu aparato legal – cortes islâmicas autárquicas – e masmorras privadas. Sim, parodiando Hayek, sustento que o “libertarismo” de direita é o caminho mais curto para a servidão às máfias.
Ainda sobre o antiestatismo dos ultraliberais pós-modernos, ressalvo que nada tem a ver com o de Locke e Montesquieu. Estes, grandes nomes do Iluminismo, travaram luta teórica contra o irracional Estado absolutista; aqueles, darwinistas entusiastas da selva do mercado, o que visam com sua defesa do Estado mínimo ou inexistente é minar o grande (e frágil) legado das revoluções americana e francesa: o Estado de Direito Democrático.
Saudosos do sufrágio censitário, sua implicância não é tanto com o aparato repressivo do Estado (Lembro que M. Friedman teceu elogios rasgados ao liberista Pinochet), mas, sobretudo, com os órgãos de representação popular: instrumentos, segundo eles, a serviço dos inaptos e falhados.
Vivemos uma época de mudanças climáticas catastróficas, provavelmente antropogênicas. Para enfrentar tão grave desafio, urge que todo o espectro político tenha uma visão pragmática e dessacralizada seja do mercado ou do Estado.
Não há mais, definitivamente, espaço para fanáticos superapegados a ideias e desapegados dos homens.