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quarta-feira, 10 de julho de 2013

Abrindo os arquivos americanos sobre a ditadura militar - James Green e Sidnei Munhoz

Meus colegas e amigos acadêmicos James Green e Sidnei Munhoz estão conseguindo fazer, pelo menos em parte, o que eu tentei e não consegui fazer durante minha estada em Washington, entre 1999 e 2003: copiar os arquivos americanos contemporâneos sobre o Brasil.
Assim que cheguei na Embaixada do Brasil em Washington, ajudei a organizar duas reuniões com brasilianistas, e já a partir da primeira, minha proposta foi adotada: efetuar um balanço global da produção brasilianista desde a disseminação do fenômeno no segundo pós-guerra.
O resultado pode ser visto nos dois livros publicados:
O Brasil dos Brasilianistas: um guia dos estudos sobre o Brasil nos Estados Unidos (1945-2000)
(São Paulo: Paz e Terra, 2001)
e
Envisioning Brazil: A Guide to Brazilian Studies in the United States
(Madison: University of Wisconsin Press, 2005)

O outro projeto consistia, justamente, em copiar os arquivos americanos sobre o Brasil, uma tarefa imensa, que requereria pessoal e bastante dinheiro. Depois de visitar os National Archives and Record Administration (NARA) solicitei, por telegrama oficial, 70 mil dólares ao Itamaraty, explicando do que se tratava, mas não tive sequer resposta. Entendi. Ai pedi apenas 4 mil dólares, para copiar os manuscritos da Biblioteca Oliveira Lima sobre o Brasil colonial, que por sinal já tinham sido copiados em 1949, sob recomendação do historiador José Honório Rodrigues, mas o microfilme, enviado ao Itamaraty, já estava dado como perdido há muitos anos. Ninguém, nem mesmo o diplomata que copiou esses manuscritos, Mário Calabria, se lembrava disso (eu ainda não tinha nascido, mas li a correspondência nos arquivos oficiais).
Bem, não tive nada do que queria, mas tive a sorte de conhecer o grande bibliófilo brasileiro José Mindlin, que passou por Washington para uma palestra na Library of Congress. Não sem alguma cara de pau, considerando-o um mecenas generoso, achaquei-o devidamente, explicando meu projeto, não mais de copiar arquivos (pois isso requereria verbas e estrutura de que não dispunha), mas de fazer um levantamento completo de todos os arquivos americanos sobre o Brasil. Mindlin me conseguiu 20 mil dólares, através da Fundação Vitae.
O dinheiro foi aplicado na compra de um computador laptop, um scanner, e talvez uma máquina fotográfico (mas aqui já não me lembro). Paguei um salário de fome a um pós-graduando de história morando nos EUA, Francisco Rogido, mobilizei (desviei seria o termo mais exato) estagiários brasileiros e americanos fazendo estágio na Embaixada brasileira em Washington (talvez fazendo tarefas mais nobres) e coloquei-os para identificar e descrever os arquivos americanos sobre o Brasil, em diversas instituições oficiais, universitárias e privadas, o que envolvia um bom número delas, espalhadas de costa a costa.
O material foi recolhido sob minha direção, ficou pronto já em 2002, e como também ocorre em determinadas circunstâncias, demorou séculos para ser editado pelo Itamaraty. Mas está disponível neste link do meu site:
Guia dos Arquivos Americanos sobre o Brasil
e pode ser downloadado neste link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/66GuiaArquivos2010.html
Paralelamente, eu fazia contatos com historiadores em diversas instituições para identificar fontes e materiais suscetíveis de serem copiados. Foi assim que cheguei, em 2001, ao "chief historian of the CIA", já com a intenção de copiar o material da CIA sobre o golpe de 1964.
As tratativas estavam avançadas e até almocei com o historiador -- que por acaso era um brasilianista, Gerald K. Heines, cujo livro eu conhecia: The Americanization of Brazil, sobre os anos Dutra e o segundo governo Vargas -- num clube de Washington, e tínhamos prometido fazer um projeto logo mais adiante.
Bem, logo mais adiante veio o Onze de Setembro e todos os arquivos, sobretudo os confidenciais, se fecharam, de uma maneira acintosa (tanto que o presidente George W. Bush chegou a ser processado pela Association of American Historians, por cerceamento de acesso a arquivos já abertos), e não tive mais condições de prosseguir com meus insidiosos projetos.
Depois fui embora e nunca mais tratei desses arquivos, a não ser continuar sempre tentando estimular projetos de levantamento, identificação e cópia, e procurando editar o livro acima que ficou parado um bom tempo.
Por isso, fico contente de saber deste projeto abaixo, cujos resultados espero conhecer em tempo hábil. Haverá um site, bilingue, que informarei aqui, assim que possível.
Boa sorte a todos, meus parabéns ao James Green e ao Sidnei Munhoz, dois historiadores amigos, e a todos os participantes do projeto.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 10/07/2013

Opening the Archives Project
 James Green, Sidnei Munhoz
(recebido em 10/07/2013)

O Projeto “Opening the Archives: Access to Information, Memory, and Justice Thirty Years After the End of the Brazilian Military Dictatorship”(Abrindo os arquivos: acesso à informação, memória e justiça 30 anos após o fim da ditadura militar brasileira) foi idealizado pelo professor James N. Green, da Brown University e contou na coordenação com a parceria do professor Sidnei Munhoz, da UEM.
O projeto tem por objetivo resgatar a documentação existente nos EUA que possa auxiliar a melhor compreensão do processo que desencadeou o golpe civil-militar de 1964 e possibilitou a instauração  do regime ditatorial que governou o Brasil por 21 anos. A pesquisa ainda tem por objetivo, com o envolvimento de professores e estudantes do Brasil e dos EUA, auxiliar a Comissão Nacional da Verdade, instituída pela presidenta Dilma Rousseff. O projeto é resultado de uma parceria entre a UEM e a Brown e ainda tem o National Archives (EUA) e o Arquivo Nacional (Brasil) como co-parceiros. Para o sucesso do projeto foi fundamental o envolvimento da administração da Brown e da UEM. Na UEM o projeto contou com o apoio da reitoria e da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação e ainda recebeu a colaboração da PJU (Procuradoria Jurídica)e do ECI (Escritório de Cooperação Internacional).
As atividades do projeto tiveram início no ultimo domingo dia 2 com um jantar de confraternização organizado pelo professor James Green, mentor do projeto e nosso principal parceiro na Brown University. Participaram da atividade todos os integrantes do projeto. A atividade teve como objetivo promover a apresentação e a integração entre os participantes do grupo de pesquisa.
Na segunda feira, dia 3, fomos recebidos por diretores setoriais do Nara (National Archives & Record Administration) que nos apresentaram o as instalações da instituição e nos forneceram as informações introdutórias para o desenvolvimento das nossas atividades, com a atenção especial de William A. Mayer, Executive Director of Research Services, que é responsável pelo Arquivo Nacional em Washington e quinze outros arquivos em várias partes dos Estados Unidos.  Na ocasião recebemos do Nara uma sala exclusiva para as nossas atividades durante esta parceria, fato inédito na instituição.
Na terça-feira no período da manhã fomos conhecer as Instalações do National Security Archives (sediado na George Washington University). Na ocasião, fomos recebidos por Peter Kornbluh, um dos diretores e analista sênior da instituição e assessor da Comissão Nacional da Verdade no Brasil. Entre outras atividades, Kornbluh é autor do livro The Pinochet File: A Declassified Dossier on Atrocity and Accountability. O livro foi considerado pelo Los Angeles Times como o melhor livro publicado nos EUA em 2003.
Ainda no dia 4, a pesquisadora e ativista brasileira Janaina Teles fez uma apresentação sobre o seu livro Mortos e desaparecidos políticos: reparação ou impunidade que relata as atrocidades cometidas pela ditadura militar brasileira, inclusive contra a sua própria família. Janaina Telles tem auxiliado a Comissão Municipal da Verdade de São Paulo e a sua obra tem desempenhado um importante papel nesse processo. Kornbluh ofereceu em sua residência um jantar para os professores james Green, Sidnei Munhoz, Janaina Telles e Nina Schneider da Universität Konstanz (Alemanha). A professora alemã tem estudado o regime ditatorial brasileiro e a atual Comissão Nacional da Verdade. A recepção foi fantástica e Kornbluh mostrou-se um verdadeiro chef. Tudo Impecável!!!
Na quarta feira pela manhã tivemos uma reunião de orientação dos procedimentos técnicos do Nara coordenada por David Langbert, arquivista com trinta cinco anos de experiência e a pessoa responsável para os arquivos com o código 59, que são todos os documentos produzidos pelo Departamento do Estado, que se enfileirados totalizam 709 kilometros de material.
Após a reunião a equipe iniciou efetivamente os trabalhos de consulta e de digitalização dos documentos produzidos pela diplomacia dos EUA sobre o Brasil no período que antecede o Golpe civil-militar de 1964 e sobre os primeiros anos da ditadura. A documentação está organizada em dois grandes acervos: um relacionado à documentação produzida pelo Departamento de Estado ou por ele recebida da embaixada e dos consulados dos EUA no Brasil; o outro é composto por documentos de diferentes origens e distintos órgãos governamentais ou de instituições civis dos EUA. Toda a equipe está muito animada com o projeto que a cada dia ganha uma dinâmica mais poderosa e envolvente.
Na sexta-feira dia 7, os professores James Green e Sidnei Munhoz e os estudantes do Programa de Pós-graduação em História da UEM Priscila Borba e Antonio Bianchett foram recebidos na embaixada do Brasil em Washington. Participou ainda da reunião a estudante Emma Wohl da Brown que falou em nome dos estudantes estadunidenses envolvidos no projeto. Na embaixada fomos recebido por Pedro Saldanha, conselheiro da Divisão de Educação, Raphael Tosti, chefe da Divisão Cultural e por Maricy Schmitz , assistente técnica da Divisão de Educação.
Na ocasião falamos sobre a importância do projeto e pedimos o apoio do governo brasileiro para a continuidade dessa atividade. Fomos recebidos com simpatia e cordialidade pela equipe da embaixada que demonstrou grande entusiasmo pelo projeto e ficou de encaminhar os resultados do encontro ao embaixador que se encontrava em viagem.

Segue abaixo a relação da equipe toda vinculada ao projeto: 
James Green (Coordenador); Sidnei Munhoz (Coordenador); Estudantes da Brown University: Adam Waters; Emma Wohl; Michael Hoffmann; John Ford Beckett; Kevin Leitão; André Pagliarini; Erika Manouselis; Clemente Ben Vila; Nicole Cacozza; 
Estudantes da UEM: Antonio Batista Bianchet Jr.; Priscila Borba da Costa

LEGENDA DA FOTO NA EMBAIXADA:

Da esquerda para direita: Raphael Tosti (Segundo Secretário), Antonio Bianchet (pesquisador - UEM), Emma Wohl (pesquisadora - Brown), Sidnei Munhoz (Professor responsável pelo projeto - UEM), James Green (Professor responsável pelo projeto - Brown), Priscila Borba (pesquisadora - UEM), Pedro Saldanha (Conselheiro da Embaixada), Maricy Schmitz (Assistente técnica da Seção de Educação).

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