Dos membros restantes, o diplomata Paulo Sérgio Pinheiro, a psicanalista Maria Rita Kehl e os advogados José Carlos Dias e José Paulo Cavalcanti se uniram contra Rosa Cardoso, de todos a mais ligada à presidente Dilma Rousseff, de quem foi advogada na ditadura militar (1964-1988).
As divergências entre os dois grupos têm origem na divulgação de investigações, revisão da Lei da Anistia, com punições a agentes do Estado que atuaram na ditadura, e abertura dos arquivos do regime militar. Dipp e Fonteles, que já saíram, além de Rosa, são a favor de que os documentos sejam tornados públicos antes mesmo do término dos trabalhos da Comissão da Verdade, previsto para o fim do ano que vem. Os outros são contrários.
"O estilo do Fonteles é exatamente o contrário do Paulo Sérgio Pinheiro. Ele publicou dez textos na página da Comissão da Verdade. Ele ia para o Arquivo Nacional, cruzava os dados e fazia um texto. Pinheiro foi contra. E, quando foi coordenador (a cada três meses um dos integrantes assume a coordenadoria) quis proibir o Fonteles de fazer isto. Mas o Fonteles respondeu que continuaria fazendo", diz Cunha, autor de reportagem da revista Veja que salvou a vida dos uruguaios Universindo Díaz e Lilian Celiberti, sequestrados por policiais brasileiros em 1979. Com a reportagem ele venceu os Prêmios Esso, Vladimir Herzog e Abril. Em 2008, ele publicou pela editora L&PM o livro Operação Condor: o sequestro dos uruguaios, com o qual obteve o segundo lugar no Prêmio Jabuti.
"Há um problema grave na Comissão da Verdade. As reuniões dos componentes não podem ser assistidas por nenhum assessor e não têm ata. A Comissão da Verdade do Brasil não tem memória. E sabe por quê? Porque o Pinheiro quer que atue de forma secreta." Pinheiro diz que não quer comentar as declarações.
Burocracia. Ainda segundo o jornalista demitido na semana passada, o grupo agora majoritário na comissão é burocrata. "Se a comissão tenta fazer reuniões abertas é uma dificuldade, uma burocracia. Hoje a Comissão da Verdade tem mais ou menos 60 pessoas trabalhando, entre consultores, colaboradores e outros. Dois terços deste pessoal são atividade meio. Só um terço, vinte pessoas, está ligado à pesquisa - quando deveria ser o inverso. Um país deste tamanho, com 21 anos de ditadura para pesquisar... Isto se considerarmos o período de 64 a 75. Sem falar do resto. Uma tarefa maluca. E se não há a participação, empenho e colaboração da imprensa, das entidades da universidade, tudo fica muito mais difícil", afirma.
Cunha diz haver ainda uma distorção numérica. "Existem treze áreas temáticas: no Araguaia são dois pesquisadores, Fundamentos do Golpe Militar apenas dois. A Condor tem dois pesquisadores. Mortes e Desaparecidos políticos, o centro da comissão, tem dois pesquisadores. O Estado Ditatorial Militar tem uma pesquisadora. Mas no item coordenado por Pinheiro - O papel das Igrejas na ditadura - são 14 pessoas. A parte centrada no Itamaraty, também dele, tem 15."
Nenhum comentário:
Postar um comentário