Alemanha no pós-guerra: liberalização econômica, milagre de crescimento
Luiz Guilherme Medeiros
15 de Janeiro de 2015
O fim da Segunda Guerra Mundial trouxe mais do que a libertação da Europa das garras de Hitler: ela criou o cenário para que o povo alemão se livrasse das correntes impostas pelo Estado nacional-socialista sobre a produção do seu trabalho.
Pesadas regulações, controle de preços, quotas de produção, tabelamento de salários, racionamento de comida e planejamento centralizado eram algumas das medidas que tornavam o Terceiro Reich similar à União Soviética no que concerne ao funcionamento da economia. [1]
Os Aliados que ocuparam o território alemão perpetuaram o modelo nazista, acreditando que o racionamento de comida impedia uma crise de fome.
Tais controles não aplacavam as necessidades da população, que ignorava as restrições ao comércio monetizado e faziam trocas sob um rudimentar sistema de escambo, oferecendo objetos em troca de itens que precisavam, como comida.
A consequência foi uma imensa queda de produtividade em relação ao período antes da guerra. [2]
Havia, contudo, economistas alemães que questionavam corajosamente tais manipulações governamentais autoritárias mesmo durante o auge do poder nazista: os ordoliberais.
Ludwig Erhard, membro desta escola de pensamento, acabaria sendo nomeado Ministro das Finanças da Bavária em 1945, dado que os Aliados buscavam veementes anti-nazistas para a composição do novo governo.
A medida que Erhard foi subindo na hierarquia, realizou a de-nazificação e liberalização da economia: fim do controle de preços, fim do racionamento de comida, redução e padronização da carga tributária para as empresas alemãs, redução do imposto sobre a renda dos alemães, elevação da quantia necessária para ser considerado rico (que pagava mais impostos), dentre inúmeras outras medidas que proporcionaram grande autonomia financeira para a população.
Sem as restrições governamentais, as pessoas compreendiam com clareza o que as outras demandavam, e o que precisariam produzir para atender suas próprias necessidades e desejos. O mercado e o sistema de preços pautavam então o que seria produzido.
O resultado foi o Wirtschaftswunder, o milagre econômico alemão.
As reformas ordoliberais trouxeram um mecanismo efetivo para o combate à pobreza do pós-guerra, bem como uma independência econômica que o cidadão alemão simplesmente nunca havia experimentado.
O resultado foi um aumento drástico na produtividade da Alemanha Ocidental a partir de junho de 1948, com o país retendo uma taxa de crescimento acima da média mundial por décadas a fio. [3]
O Plano Marshall, tão citado na recuperação alemã, na realidade teve pouca participação na sua rota para a prosperidade. Não apenas a ajuda financeira era pequena em relação ao PIB, como nem toda nação que recebeu o auxílio teve o mesmo sucesso que a Alemanha [4].
Outras, como a Bélgica, utilizaram a liberdade econômica para se recuperar da miséria gerada pela guerra antes mesmo do Plano Marshall ser implementado em qualquer parte da Europa.
A história alemã é mais um exemplo de que o planejamento central não atende aos interesses da população, mas do Estado. Seja pelos megalomaníacos objetivos nazistas ou as bem-intencionadas causas dos militares Aliados, o controle burocrático prestava um desserviço à estabilidade e ao enriquecimento do cidadão alemão.
A interdependência gerada pelo livre-comércio e os incentivos do mercado para que as necessidades populares sejam atendidas são qualidades fundamentais que as ideias liberais possuem para proporcionar um convívio benéfico entre todos que integram a sociedade.
#MaisLiberdadeMenosEstado
[1] http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=98
[2] http://www.econlib.org/library/Enc/GermanEconomicMiracle.html
[3] http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1419
[4] http://www.cato.org/publications/commentary/look-behind-marshall-plan-mythology
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
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