Sobre
Pobreza e Desigualdade
25 Jan 2015
04:49 AM
Todo ano é a mesma ladainha. Às
vésperas do Fórum Econômico de Davos, a ONG Oxfam joga na mídia os seus famosos
estudos “provando” que a desigualdade de riqueza tem aumentado no mundo e
requerendo ações imediatas para frear esse descalabro. Foi assim no ano passado e
não é diferente este ano. O Globo, em 19/01,
por exemplo, reverbera um comunicado da diretora executiva da Oxfam, Winnie
Byanyima, no qual se lê que “A escala da desigualdade global está
simplesmente excessiva. A diferença entre os ricos e os demais está aumentando
em velocidade muito rápida”. Segundo a mesma ONG, a crescente
desigualdade estaria restringindo a luta contra a pobreza global.
“Queremos realmente viver em um mundo
onde um por cento é dono de mais do que o resto de nós juntos? Manter os
negócios como de costume para a elite não é uma opção sem custos. O
fracasso em lidar com a desigualdade vai atrasar a luta contra a pobreza em
décadas. Os pobres são atingidos duas vezes com a desigualdade crescente: eles
recebem uma fatia menor do bolo econômico e, porque a extrema desigualdade
prejudica o crescimento, há um bolo menor para ser compartilhado”,
disse Winnie.
Interessante que, no mesmo dia 19, e no mesmo jornal,
ficamos sabendo que, entre 1990 e 2014, cerca de 70 milhões de
latino-americanos deixaram de ser pobres e passaram a engrossar a fila de uma
nova classe média, de acordo com os dados oficiais dos próprios governos desses
países. Segundo informe da CEPAL (uma organização com viés francamente de
esquerda), a redução dos índices de pobreza na A.L. foi de 48,7%, em 1990, para
cerca de 27%, em 2014. Apesar disso, segundo a mesma fonte, a
América Latina continua sendo o continente mais desigual do planeta.
Como se pode ver, ao contrário do que
querem fazer crer os apologistas do igualitarismo, como Oxfam e Obama, pobreza
e desigualdade não são duas variáveis positivamente correlacionadas. Não
há sequer comprovação de que elas sejam, de alguma maneira,
correlacionadas. A pobreza pode aumentar, enquanto a
desigualdade diminui (Cuba). A pobreza pode diminuir, enquanto a
desigualdade aumenta (China) – a propósito, essa gente deveria perguntar aos
chineses se eles se sentem melhor agora ou há 40 anos, quando a igualdade de
renda era quase absoluta.
Mas façamos um exercício de aritmética
simples. Imaginemos que a renda de João seja de $1.000 por mês e a de Pedro,
$5.000. A desigualdade de renda entre os dois é, obviamente, de $4.000.
Suponhamos agora que a renda real dos dois tenha duplicado num período de três
anos. Nesse caso, a diferença nominal de renda entre os dois, que era de
$4.000, passou a ser de $8.000 (João = $2.000 e Pedro = $10.000). Embora
a renda real de João tenha aumentado na mesma proporção que a de Pedro, a
diferença nominal entre ambos aumentou bastante. Pergunta: a vida de João
melhorou ou piorou? Façam as contas: ainda que a renda de João triplicasse e a
de Pedro somente duplicasse, a disparidade absoluta de renda – e provavelmente
de riqueza – aumentaria.
A simplicidade do exemplo acima não lhe
tira o mérito de mostrar quão estéreis são esses relatórios cujo foco principal
recai sobre o falso problema das desigualdades, seja de renda ou de riqueza.
Só quem pensa no bem estar de João olhando para os rendimentos de Pedro
pode achar que não.
Ao contrário do que pensa e diz a Sra.
Winnie, não há um bolo fixo, preexistente, de riquezas que, de alguma forma
injusta, escorrem para os bolsos dos ricos, deixando os pobres mais pobres. Nas
economias capitalistas, a riqueza é constantemente criada, multiplicada e
trocada de forma voluntária. A desigualdade, portanto, é um efeito. Sua
causa é a diferença de produtividade, ou a capacidade de cada um de gerar bens
e serviços de valor para os demais.
Graças a esse fenômeno, nos últimos 200
anos houve um aumento exponencial do padrão de bem-estar no mundo e,
consequentemente, uma redução espetacular dos níveis de pobreza. Só para se ter
uma ideia desse milagre, 85% da população mundial viviam com menos de um dólar
por dia (valores de hoje), em 1820, enquanto hoje são 20%. Será que esta verdadeira
revolução pode ser atribuída à distribuição de recursos dos ricos para os
pobres, ou será que isso se deve ao efeito multiplicador da produtividade
capitalista e ao aumento exponencial do bolo de riquezas?
Confiscar as riquezas e a renda do Bill
Gates, como gostariam Obama, Winnie Byanyima e Thomas Piketty, entre outros, de
fato, reduziria a desigualdade no mundo, mas é muito pouco provável que
melhorasse a vida dos pobres.
Muito pelo contrário. Em economias
verdadeiramente capitalistas, onde o governo não interfere escolhendo
vencedores e perdedores, a existência de milionários e, consequentemente, de
desigualdade, longe de ser algo a lamentar, é altamente benéfica. Em condições
de livre mercado, a riqueza pressupõe acúmulo de capital e investimentos em
empreendimentos rentáveis, onde os escassos recursos disponíveis são utilizados
de forma eficiente na produção de coisas necessárias e desejáveis. Num sistema
desse tipo, os ricos criam um monte de valor para um monte de gente, além, é
claro, de um monte de empregos.
Portanto, um eventual desaparecimento
dos ricos em nada melhoraria a vida dos pobres e eles certamente veriam
diminuir as suas chances de conseguir emprego e melhorar a renda. Onde
não há gente rica, não há acumulação de capital. Sem capitais, o
incremento da produtividade do trabalho é deficiente. Como os mais pobres
vivem exclusivamente do próprio trabalho, não é difícil concluir que, quanto
mais capitais houver, melhor será para eles.
O resto é chororô de invejosos.
Administrador de Empresas e
Diretor do Instituto Liberal
João Luiz Mauad é administrador de
empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e
diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O
Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.
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