3319. “Percursos Diplomáticos: uma reflexão necessária”, Brasília, 12-24 agosto 2018, 5 p. Introdução ao depoimento do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães Neto, no quadro da série de depoimentos de diplomatas aposentados, que se acrescentam ao anteriores (http://www.funag.gov.br/ipri/index.php/percursos-diplomaticos). Revisto e lido em 24 de agosto de 2018, no auditório do Instituto Rio Branco. Divulgado no blog Diplomatizzando(24/08/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/08/percursos-diplomaticos-samuel-pinheiro_24.html).
Registro agora o texto que havia preparado para o atual SG, que acabei não lendo por inteiro, senão usando oralmente alguns dos argumentos nele contidos, e que transcrevo agora por inteiro.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 5 de outubro de 2018
O IPRI e sua circunstância: saudação ao SG em sua palestra
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27 de setembro de 2018
[Objetivo: abertura de palestra-debate no IRBr; finalidade: saudação ao SG Marcos Galvão, em 3/10/2018]
O IPRI, que tenho dirigido desde agosto de 2016, com a incansável ajuda e mesmo direção efetiva de meu colega e amigo Marco Túlio Scarpelli Cabral, tem a honra de receber hoje, 3 de outubro de 2018, o Secretário Geral das Relações Exteriores Marcos Galvão, numa palestra que constitui, provavelmente, o primeiro e único evento que organizamos com sua presença solitária e exclusiva no âmbito deste governo. O que não quer dizer que o IPRI não poderá convidá-lo novamente, em outras oportunidades, em outro formato e local, sempre quando as circunstâncias assim o determinarem.
Tenho, pessoalmente, especial satisfação em receber o SG pelo fato de eu tê-lo conhecido ainda antes dele ser admitido no Instituto Rio Branco, num desses cursinhos preparatórios que nós, os recentemente felizes ingressados na carreira diplomática, organizávamos para, secundariamente auxiliar os sequiosos candidatos à carreira, e, mais possivelmente, para complementar os magros vencimentos que recebíamos como Terceiros-Secretários com alguns tostões arrancados aos alunos desses cursos.
Eu tinha, falo de 1978, recém retornado de um exílio voluntário de sete anos na Europa, o primeiro de uma série, até aqui, de dois exílios, o segundo, ainda recente e involuntário, com o dobro da duração daquele primeiro. Considerava-me então sapiente em quase todas as matérias que compunham os exames de ingresso, com a possível exceção de duas ou três matérias, e me acreditava apto a transmitir aos jovens candidatos todo o saber acumulado em quase sete anos de leituras em bibliotecas da Europa. Foi então que descobri que um dos jovens candidatos já conhecia mais História do Brasil do que eu mesmo, provavelmente porque eu tinha perdido muito tempo dos meus anos juvenis lendo os clássicos do marxismo.
Esse jovem candidato entrou logo em seguida na carreira e conheceu brilhante trajetória ao longo dos anos, o que o habilitou a ser legitimamente convidado a exercer o maior cargo a que pode aspirar um diplomata de carreira nos quadros do Itamaraty. Como eu sempre valorizo bem mais o conhecimento e a capacidade de trabalho do que propriamente os dois sacrossantos princípios da nossa instituição: a disciplina e o respeito à hierarquia, tendo a creditar essa brilhante trajetória sobretudo ao seu saber e à capacidade de trabalho.
O IPRI, que o convida hoje, não se pauta exatamente por alguma adesão estrita à hierarquia e à disciplina, e valorizamos bem mais, eu e Marco Tulio, o conhecimento acumulado, o saber especializado, a dedicação ao trabalho e a capacidade que exibem os nossos convidados de transmitir conhecimentos úteis, dúvidas pertinentes, problemas da agenda corrente aos diplomatas mais jovens, aos estudantes da área, aos curiosos em geral. Não nos pautamos, em nossos convites, por nenhuma subserviência à burocracia da Casa, por qualquer sentimento de respeito ao poder.
O IPRI, aliás, não tem qualquer poder, sequer o de dispor de orçamento próprio ou de recursos autônomos. Valorizamos mais a liberdade do que o poder. Foi aliás por essa característica que, da primeira vez, decidi abandonar ao meio o curso de Ciências Sociais na USP para aventurar-me pela Europa nos anos de chumbo da ditadura militar brasileira. No segundo exílio, aqui mesmo no Brasil, sem qualquer cargo na carreira na qual ingressei por concurso direto, também passei alguns anos lendo na Biblioteca da Secretaria de Estado, dela fazendo meu escritório de trabalho.
Este segundo exílio durou até que, na gestão do SG Marcos Galvão, pude assumir este pequeno núcleo sem muita hierarquia e com pouco respeito à disciplina que constitui o IPRI. Desejo, em todo caso, nesta oportunidade, agradecer formal e abertamente, a oportunidade que tive, sob a gestão do SG Marcos Galvão, de retornar à burocracia do Itamaraty, e de poder empreender algumas atividades nas áreas que mais prezo: a da promoção do saber, a da produção do conhecimento, a da dignidade do trabalho intelectual.
Junto com essa felicidade espiritual, veio, embora eu jamais tivesse solicitado, uma recompensa material: minha promoção, ainda que tardia, mas também devida pelo Itamaraty, em retorno a certa dedicação de minha parte às lides da nossa carreira. Essa promoção me permite, justamente, ignorar mais um pouco essas coisas de hierarquia e de disciplina, que no entanto não devem ser descuradas pelos mais jovens.
Sem mais delongas, vamos ouvir a conferência do Sr. Secretário Geral das Relações Exteriores, com todo o respeito devido pela hierarquia da Casa.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27 de setembro de 2018
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