Opinião : Projeto florestal na Amazônia vira modelo global
A iniciativa foi concebida de forma a ser permanente para melhorar as condições de vida das comunidades locais e o ecossistema existentePor Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 22/04/2025
A preservação da Floresta Amazônica entrou na agenda política e econômica nacional e, por sua relevância no contexto das florestas tropicais no mundo, será um dos temas a serem tratados durante a COP-30, em novembro próximo.
A I AMazonia, entidade internacional, está lançando a formulação de um modelo para projetos em florestas tropicais, inclusive no Brasil. Esse modelo visa a estruturar e a realizar investimentos em projetos que envolvem, de forma integrada, a conservação de ecossistemas naturais, com o desenvolvimento socioeconômico nos locais onde são implementados. Para participar no trabalho de desenvolvimento, foram convidadas a Fundação Getulio Vargas (FGV), a Universidade de Harvard, a PriceWaterHouseCoopers e a Caritas, entre outras instituições.
A principal característica do modelo de projeto é a combinação da conservação da floresta e da preservação da biodiversidade com as iniciativas sociais voltadas a promover o desenvolvimento das comunidades locais. Isso contribuirá para reduzir o desafio da mudança do clima, conter o aquecimento global, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa, e para apoiar atividades econômicas que possibilitem a melhoria do nível de vida na região.
Trata-se de um modelo inovador de ação para a conservação de floresta e, em geral, para evitar o impacto da mudança de clima, baseado na experiência no tocante à energia renovável e à agricultura orgânica, no monitoramento constante e no estudo do mercado de créditos voluntários de carbono. E ainda levando em conta a comparação com os melhores operadores internacionais de mercado.
Os principais elementos do modelo em desenvolvimento pela I AMazonia incluem:
Melhora das condições de vida da população local (emprego e renda, educação, saúde, nutrição, engajamento social), com o envolvimento e a participação, desde o inicio, de um número significativo da população local;
Compartilhamento em favor da população local de grande parte do valor criado pelos projetos;
Inclusão de tecnologia, conhecimento técnico e recursos financeiros na infraestrutura produtiva dos projetos;
Criação de atividade econômica adicional, como a conservação da floresta;
Aumento dos recursos naturais renováveis do território;
Otimização do potencial de criação de valor por meio dos produtos florestais e sua transformação, sempre explorados de forma sustentável, iniciando pelos produtos madeireiros, até o extrativismo tradicional da região, como frutos, óleos essenciais, pesca e outros alimentos, fibras naturais e muitos outros;
Redução das emissões de gás de efeito estufa;
Direção dos projetos em estrutura aberta a parcerias com instituições de todos os tipos, inclusive políticas e sociais;
Estruturação financeira dos projetos de forma a compatibilizá-lo com os formatos usualmente praticados pelo ambiente financeiro de investimentos, de forma a facilitar o fluxo de recursos dos projetos, seja de crédito, seja de capital de investimento;
Responsabilidade fiscal pela renúncia de várias formas de otimização fiscal característica da indústria de créditos de carbono, por meio do pagamento dos impostos onde o projeto estiver sendo desenvolvido;
Adoção dos melhores padrões internacionais e melhores práticas para promover a avaliação, monitoramento e certificação dos diferentes aspectos do projeto; e
Perenidade, de forma que os projetos não impliquem no planejamento de seu encerramento e que seus efeitos positivos se mantenham de forma permanente.
Estes elementos do modelo já estão sendo praticados, desde o início desta década, no projeto Mejuruá, no Amazonas. O projeto Mejuruá, uma das maiores iniciativas em desenvolvimento na Amazônia, está localizado nos municípios de Carauari, Juruá e Jutaí, na região centro oeste do Estado do Amazonas. A cidade de Carauari, com cerca de 30.000 habitantes, é vizinha à área conhecida como Fazenda Santa Rosa de Tenquê. A área é privada, estendendo-se por mais de 900 mil hectares de floresta tropical amazônica, riquíssima em biodiversidade.
O projeto é concebido de forma a ser permanente para melhorar as condições de vida das comunidades locais e o ecossistema existente. O manejo sustentável da floresta será efetivado em perto de 160.000 hectares, cerca de 18% da propriedade, a ser operado de forma permanente em sucessivos ciclos de 30 anos cada, conforme certificação internacional do FSC. Concebido no contexto da iniciativa REDD+, o projeto, nos primeiros 30 anos, deverá evitar a emissão de perto de 82 milhões de toneladas de CO2 equivalente.
Iniciativa pioneira, o modelo de desenvolvimento de projetos florestais tropicais, a ser criado pela I AMazonia, poderá ser replicado no Brasil ou em outros países, fortalecendo o conceito de economia regenerativa.
O lançamento inicial das bases do modelo ocorre na data de hoje, Dia Internacional do Planeta Terra da ONU – International Mother Earth Day –, em encontro em Roma. Nesta ocasião, o projeto Mejuruá está sendo apresentado como o primeiro caso de aplicação do modelo em escala global. A divulgação dos resultados preliminares desse modelo para os projetos em florestas tropicais será feita em novembro na COP-30, em Belém do Pará.
Presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), foi embaixador do Brasil em Londres (1994-99) e em Washington (1999-2004)
https://www.estadao.com.br/opiniao/rubens-barbosa/projeto-florestal-na-amazonia-vira-modelo-global/
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.