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quarta-feira, 27 de março de 2013

Albert Hirschman: uma homenagem em Princeton

Imperdível... para quem está perto...

HONORING ALBERT O. HIRSCHMAN (1915-2012)
WEDNESDAY, APRIL 24, 4:30 P. M.

Dear friends, colleagues and students,
The Program in Latin American Studies (PLAS) at Princeton University will hold an event honoring Albert O. Hirschman (1915-2012)  on Wednesday, April 24th,  4:30 p. m. in 219 Aaron Burr Hall.

 Jeremy Adelman, Peter Hakim, Hilda Sabato, Lilia Schwarcz, and Deborah Yashar will participate in a roundtable discussion on Hirschman’s work and contribution to Latin America.

The event will also include the presentation of  Jeremy Adelman’s biography The Worldly Philosopher: The Odyssey of Albert O. Hirschman (Princeton University Press).

Program in Latin American Studies
Princeton University
309-316 Burr Hall
Princeton, NJ 08544 USA
(tel.) 609.258.4148 (fax) 609.258.0113
www.princeton.edu/plas

terça-feira, 26 de março de 2013

Albert O. Hirschman: um intelectual renascentista - Jeremy Adelman

Book review

Worldly Philosopher - The Odissey of Albert Hirschman

Jeremy Adelman. Editora: Princeton Univ. Press. 758 págs., US$ 39,95
 
Por John Lloyd
Financial Times, 26/03/2013
 
Albert Hirschman, morto em dezembro, aos 97 anos, foi um dos mais destacados cientistas sociais de sua época. Ele é mais conhecido por seu livro "Exit, Voice and Loyalty" (1970), que descreve as opções que os indivíduos têm em organizações decadentes, governos ou empresas, de se retirar ou incitar uma mudança e manter fidelidade.
O livro representou, em parte, um ataque ao liberalismo de Friedrich Hayek e Milton Friedman, que, segundo Hirschman, minimizavam o papel da política - em especial, no que se refere ao ator econômico que preferia ficar e lutar, a se retirar da organização por uma opção mais racional. Para seu biógrafo Jeremy Adelman, o livro também tem relação com o sentimento de culpa de Hirschman, por ter saído da Alemanha em 1933, no momento mesmo em que Hitler se tornava chanceler.
No entanto, Hirschman, filho de uma família judia de classe média-alta de Berlim, deixou mais coisas para trás para cumprir sua determinação, de toda a vida, de encontrar seu próprio caminho, do que para fugir.
Foi para Paris e adquiriu os primeiros rudimentos de uma formação em economia. Desde sempre antifascista, ofereceu-se para lutar como voluntário pela Espanha republicana numa milícia de orientação anarquista - perdendo, ao observar a deletéria influência da União Soviética naquela guerra, qualquer apego renitente que pudesse ter ao comunismo.
Quando a Wehrmacht invadiu a França, em 1940, Hirschman ingressou no Exército francês - apenas para logo ser rebaixado, com a ocupação, à condição de refugiado, ao se evadir para Lisboa. Na capital portuguesa, aliou-se ao igualmente arrojado jornalista americano Varian Fry para ajudar judeus e outros alvos dos alemães - entre os quais, Hannah Arendt, André Breton, Marc Chagall e Marcel Duchamp. Com a aproximação da polícia, partiu para os Estados Unidos, onde chegou em 1941.
O que se seguiu foi mais ação. Ingressou no Exército americano e foi destacado para o Departamento de Serviços Estratégicos, precursor da CIA, onde trabalhou, em grande medida, como intérprete. Há uma foto extraordinária, que chegou à capa do "New York Times", de Hirschman olhando atentamente para o general da Wehrmacht Anton Dostler, junto ao qual atuou como tradutor no primeiro dos julgamentos dos crimes de guerra promovidos pelos Aliados. Dostler foi julgado culpado de determinar a matança de prisioneiros e foi executado.
Nos Estados Unidos, Hirschman casou-se com Sarah Chapiro, concluiu sua formação em economia, integrou o conselho de diretores do Federal Reserve e trabalhou no Plano Marshall. Voltou-se para a economia do desenvolvimento, assessorando governos como o da Colômbia, onde viveu por alguns anos. Conquistou uma série de nomeações cada vez mais prestigiosas na Universidade, num momento em que os estudos sobre o desenvolvimento se deslocavam para o centro da economia acadêmica e do debate político num país consumido, na década de 1950, pelo fervor anticomunista.
Adelman segue de perto as guinadas e saltos de qualidade do pensamento de Hirschman. Muito influenciado pelos clássicos - principalmente por "O Príncipe" de Maquiavel, pelos "Ensaios" de Montaigne e por "A Riqueza das Nações" de Adam Smith -, Hirschman procurou expandir as fronteiras da economia e das ciências sociais. Onde o consenso dos economistas do desenvolvimento apontava para o crescimento equilibrado, Hirschman defendeu o "crescimento desequilibrado". Quando outros, como Friedman, encabeçavam o triunfo da economia neoliberal com base no direito dos indivíduos de "sair" da previdência coletivista e governamental, Hirschman, sem ser um anticapitalista, argumentou haver lugar também para o comunitário.
O ecletismo era sua marca registrada: exemplos práticos sempre eram um antídoto contra a hegemonia da teoria. Isso significa que seu pensamento se baseava, em boa medida, no que ele chamava de "petites pensées": "Exit, Voice e Loyalty" teve origem em suas reflexões sobre as ferrovias da Nigéria; uma obra posterior, sobre a decepção, num anúncio de BMW. Péssimo professor, segundo a opinião geral, foi um fértil homem de ideias, entre os melhores dessa geração de centro-europeus e europeus orientais, muitos deles judeus, que enriqueceram um Ocidente conflagrado em pleno primado do totalitarismo.
Adelman, historiador da América Latina e colega do biografado em Princeton, investiu muito esforço em "Worldly Philosopher". Estendendo-se por mais de 700 páginas, a obra é implacavelmente detalhada e pode até parecer repetitiva. Mas o que neutraliza esse defeito é a solidariedade e a habilidade com que um professor chega ao outro; o tempo que dedica às ideias ; o caráter significativo das ligações que faz entre vida e obra. Trata-se de um livro admirável, digno de um homem admirável.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Albert Hirschman (1915-2012) - Homenagem de Roberto Macedo

Albert Hirschman (1915-2012)
Roberto Macedo
O Estado de S.Paulo, 17 de janeiro de 2013

Escrevo em homenagem a esse grande economista e professor, do qual tive o privilégio de ser aluno. Seu falecimento em 10 de dezembro de 2012 não recebeu da imprensa brasileira a atenção devida a alguém de tanto destaque internacional como ele. E atento ao Brasil, especialista que era em desenvolvimento econômico, e a vários brasileiros que teve como alunos ou a seu lado como pesquisadores.

O que me atraiu às suas aulas de Desenvolvimento Econômico em Harvard foi principalmente esse tema central do seu curso. Mas, informado previamente por colegas que já haviam passado por elas, tornei-me ainda mais atraído ao saber que traziam novas ideias e iam além de questões puramente econômicas. Vários outros cursos ficavam apenas nestas e no seu "estado das artes".

Hirschman correspondeu a essas expectativas. Em economia, uma ideia nova sua era a contestação que fazia da teoria do desenvolvimento equilibrado, o qual propõe investimentos simultâneos num amplo conjunto de atividades complementares entre si. Segundo ele, isso levaria apenas a um aumento do produto interno bruto (PIB), mas depois este se estabilizaria no novo nível, sem seguir avançando. Como alternativa propunha o desenvolvimento desequilibrado, começando por enfatizar uns poucos setores, também de grande complementaridade com outros. De início, o desenvolvimento mais forte daqueles levaria a um desequilíbrio, mas geraria demanda por bens e serviços de outros setores que em sequência também se desenvolveriam. E a economia cresceria continuamente mediante novos desequilíbrios estimulantes.

Mas não me lembro de que ele tenha identificado o que chamo de "desequilíbrio desequilibrado". Aqui, no Brasil, por exemplo, deu-se e continua sendo dado grande incentivo à indústria automobilística, que gera enorme demanda de autopeças e serviços complementares. E, também, de uma adequada infraestrutura viária nas cidades e fora delas. Contudo o governo não cuidou de bem provê-la e dentro de muitas o trânsito é próximo do caos, implicando altos custos. Estes também alcançam rodovias em más condições espalhadas por todo o País. Noutro passo errado, o transporte ferroviário de passageiros tornou-se quase inexistente e o de cargas ficou muito restrito, quando poderiam competir com o dos veículos automotores, aliviando males que estes trazem.

Também aprendi com ele sobre outras teorias, suas ou não, fora do contexto só econômico. Uma delas, a Teoria da Dissonância Cognitiva, atribuída a Leon Festinger. Ela argumenta que as pessoas procuram manter a coerência entre suas várias crenças e opiniões, bem como entre elas e seu comportamento. E quando este destoa daquelas pode acontecer que seja mudado. Mas também pode ocorrer que a permanência nele faça as pessoas mudarem suas convicções. Isso é comum no Brasil, onde, por exemplo, muitos chegam ao poder político defendendo uma postura ética no seu exercício. Neste, porém, suas convicções costumam sucumbir às tentações que vêm com ele. A partir daí esse comportamento dissonante leva à mudança das convicções anteriores, com as novas defendidas com base em absurdos, como o de que tais desvios são inerentes ao poder e que outros também os praticam.

Tenho aplicado essa teoria ao processo de escolha de carreiras profissionais. A teoria usual diz que uma pessoa escolhe uma profissão condizente com sua vocação e busca a formação educacional correspondente. Mas no mercado de trabalho poderá não encontrar uma ocupação típica da profissão escolhida, caindo numa atípica. Com isso poderá insistir em buscar uma típica, mas também poderá rever sua vocação, acomodando-a àquilo que faz.

Voltando às obras próprias de Hirschman, uma famosa é o livro Saída, Voz e Lealdade (São Paulo: Perspectiva, 1973), no qual aborda o declínio de empresas, organizações e Estados nacionais. Diante de conflitos que envolvem uma dessas instituições, a opção de saída guarda similaridade com a observada em decisões econômicas, como a de um consumidor insatisfeito que simplesmente deixa um produto ou serviço. Isso em lugar de protestar, recorrendo à segunda opção do título do livro, a voz. Esta é opção política, que juntamente com a da lealdade, a de ficar, está no plano das convicções. Entendo que a lealdade também ocorre no plano econômico, como a conferida às marcas de bens e serviços.

Na linha desse processo explorado por Hirschman, no momento tenho grande interesse pelo que acontecerá em Cuba diante das notícias de que serão facilitadas as viagens de seus cidadãos ao exterior. E se muita gente se mandasse definitivamente, como ficaria? Creio que a esperança dos líderes cubanos é de que seus cidadãos manterão sua lealdade ao país e a seu regime político, sem sair ou sem deixá-los em definitivo. E, assim, retornando de passeios a cidades como Miami, para onde se foram muitos que logo no início do regime optaram pela saída ou depois fugiram. Minha percepção atual é de que as saídas serão controladas e poderão até se tornar privilégios a recompensar a lealdade.

Depois de Harvard, Hirschman passou ao Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Princeton. Neste, voltado para pesquisas, em várias oportunidades recebeu acadêmicos que como tais e em outras atividades se destacaram no Brasil. Entre eles, Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Antônio Barros de Castro e Pérsio Arida. Deles se esperavam pesquisas e palestras. E não era moleza, não, ante a qualidade acadêmica dos ouvintes e debatedores.

Em retrospecto, a carreira de Albert Hirschman lembra frase de outro economista famoso, Frederick Hayek, Prêmio Nobel de 1974: "Um economista que é só economista não é um bom economista". Por esse bom critério, Hirschman alcançou a excelência.

ECONOMISTA (UFMG,  USP, HARVARD),  PROFESSOR ASSOCIADO À FAAP,  É CONSULTOR ECONÔMICO, DE EMPRESAS