Book review
Worldly Philosopher - The Odissey of Albert Hirschman
No entanto, Hirschman, filho de uma família judia de classe média-alta de Berlim, deixou mais coisas para trás para cumprir sua determinação, de toda a vida, de encontrar seu próprio caminho, do que para fugir.
Foi para Paris e adquiriu os primeiros rudimentos de uma formação em economia. Desde sempre antifascista, ofereceu-se para lutar como voluntário pela Espanha republicana numa milícia de orientação anarquista - perdendo, ao observar a deletéria influência da União Soviética naquela guerra, qualquer apego renitente que pudesse ter ao comunismo.
Quando a Wehrmacht invadiu a França, em 1940, Hirschman ingressou no Exército francês - apenas para logo ser rebaixado, com a ocupação, à condição de refugiado, ao se evadir para Lisboa. Na capital portuguesa, aliou-se ao igualmente arrojado jornalista americano Varian Fry para ajudar judeus e outros alvos dos alemães - entre os quais, Hannah Arendt, André Breton, Marc Chagall e Marcel Duchamp. Com a aproximação da polícia, partiu para os Estados Unidos, onde chegou em 1941.
O que se seguiu foi mais ação. Ingressou no Exército americano e foi destacado para o Departamento de Serviços Estratégicos, precursor da CIA, onde trabalhou, em grande medida, como intérprete. Há uma foto extraordinária, que chegou à capa do "New York Times", de Hirschman olhando atentamente para o general da Wehrmacht Anton Dostler, junto ao qual atuou como tradutor no primeiro dos julgamentos dos crimes de guerra promovidos pelos Aliados. Dostler foi julgado culpado de determinar a matança de prisioneiros e foi executado.
Nos Estados Unidos, Hirschman casou-se com Sarah Chapiro, concluiu sua formação em economia, integrou o conselho de diretores do Federal Reserve e trabalhou no Plano Marshall. Voltou-se para a economia do desenvolvimento, assessorando governos como o da Colômbia, onde viveu por alguns anos. Conquistou uma série de nomeações cada vez mais prestigiosas na Universidade, num momento em que os estudos sobre o desenvolvimento se deslocavam para o centro da economia acadêmica e do debate político num país consumido, na década de 1950, pelo fervor anticomunista.
Adelman segue de perto as guinadas e saltos de qualidade do pensamento de Hirschman. Muito influenciado pelos clássicos - principalmente por "O Príncipe" de Maquiavel, pelos "Ensaios" de Montaigne e por "A Riqueza das Nações" de Adam Smith -, Hirschman procurou expandir as fronteiras da economia e das ciências sociais. Onde o consenso dos economistas do desenvolvimento apontava para o crescimento equilibrado, Hirschman defendeu o "crescimento desequilibrado". Quando outros, como Friedman, encabeçavam o triunfo da economia neoliberal com base no direito dos indivíduos de "sair" da previdência coletivista e governamental, Hirschman, sem ser um anticapitalista, argumentou haver lugar também para o comunitário.
O ecletismo era sua marca registrada: exemplos práticos sempre eram um antídoto contra a hegemonia da teoria. Isso significa que seu pensamento se baseava, em boa medida, no que ele chamava de "petites pensées": "Exit, Voice e Loyalty" teve origem em suas reflexões sobre as ferrovias da Nigéria; uma obra posterior, sobre a decepção, num anúncio de BMW. Péssimo professor, segundo a opinião geral, foi um fértil homem de ideias, entre os melhores dessa geração de centro-europeus e europeus orientais, muitos deles judeus, que enriqueceram um Ocidente conflagrado em pleno primado do totalitarismo.
Adelman, historiador da América Latina e colega do biografado em Princeton, investiu muito esforço em "Worldly Philosopher". Estendendo-se por mais de 700 páginas, a obra é implacavelmente detalhada e pode até parecer repetitiva. Mas o que neutraliza esse defeito é a solidariedade e a habilidade com que um professor chega ao outro; o tempo que dedica às ideias ; o caráter significativo das ligações que faz entre vida e obra. Trata-se de um livro admirável, digno de um homem admirável.
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