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sábado, 30 de março de 2013

Agronegocio: o eixo dinâmico da economia brasileira

O artigo é bom, self-praise, mas deixa de identificar e de mensurar, claramente, os fatores positivos e negativos de produtividade e de competitividade do agronegócio nacional.
Paulo Roberto de Almeida

O eixo dinâmico da economia nacional
O Estado de S.Paulo, 30 de março de 2013
Luiz Carlos Corrêa Carvalho *

Alguns dias atrás, neste jornal, o ex-governador de São Paulo José Serra mostrou a sua preocupação com o processo de desindustrialização do País e questionou: "Nada contra a brilhante expansão da produção e da exportação de bens agrominerais. Mas alguém acredita, e demonstra, que, além do papel estratégico na geração de divisas, esse setor poderia tornar-se o eixo dinâmico de um país continental, de 200 milhões de habitantes?". É preciso avaliar isso com cuidado. Em época antecipada de disputa eleitoral, seus comentários foram, provavelmente, uma crítica à falta de políticas públicas nos níveis macroeconômico e industrial. Tais observações, no entanto, fixam em nossa mente a imagem do Brasil como mero exportador de commodities, como algo negativo.

Essa visão clássica, em texto de Evaristo Eduardo de Miranda, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em seu livro recém-lançado Agricultura no Brasil do Século XXI, é desconstruída, pois é atrasada, preconceituosa e revela desconhecimento sobre a importância do agronegócio para a economia nacional. "Para compreender a agricultura brasileira, não basta apresentar números recordes de produção, sempre crescentes. Propalar ideias como 'maior exportador do mundo', disso e aquilo, acaba por esconder a evolução das condições da produção, os impactos e a sustentabilidade. Mais do que quanto, é essencial entender como se produz no Brasil". Para a imensa população brasileira, que luta e vive os riscos no campo, fica a ideia de um setor menos importante.

Há, porém, um discurso comum: o Brasil é competitivo no agronegócio! É importante, no entanto, salientar a enorme evolução havida na tecnologia agroindustrial, graças à inovação, e o empreendedorismo de pequenos, médios e grandes agricultores e indústrias correlatas, nacionais e internacionais. A liderança do agronegócio tropical é brasileira e continuará sendo se depender da lógica das limitações físicas dos países e da competência das organizações de pesquisa atuantes no Brasil. A tecnologia e o nível de manejo contidos em um grão ou em um grama de produto acabado superam, e muito, produtos outros que fazem brilhar os olhos do consumidor desavisado.

A discussão global no século 21 gira em torno das inseguranças alimentar e energética. Ambas definem a paz ou a guerra. Até 2050, mais 2 bilhões de pessoas irão ao consumo, cobrando alimentos e energias produzidas de forma sustentável. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), juntamente com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), organização dos países desenvolvidos, convocou o Brasil a responder por 40% da oferta adicional de alimentos. Além do potencial do Brasil em produzir, salta aos olhos do mundo o fato que o País expande constantemente a sua oferta, mesmo retraindo, anualmente, nos últimos dois anos, 2 milhões de hectares. Isso é competitividade!

Há 20 anos, Ney Bittencourt de Araújo criou, com companheiros progressistas, a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), entidade do agronegócio que segue o conceito das cadeias produtivas, lançado em Harvard. Os elos da cadeia vão de bens de capital e insumos, passando pela produção agrícola e industrial, indo à distribuição, ao atacado e ao varejo, incluindo as exportações. Isso explica o peso e a importância da agroindústria, do agronegócio, hoje um quarto do produto interno bruto (PIB) brasileiro e responsável por cerca de 1,5 milhão de empregos formais no País.

Ignacy Sachs, cientista internacional e que conhece profundamente o Brasil, comentou na revista Estudos Avançados, da Universidade de São Paulo (USP), que "o País possui a maior biodiversidade do mundo, uma reserva confortável de solos agrícolas (mesmo que não se toque em uma só árvore da floresta amazônica), climas amenos, vantagens naturais do trópico na produção de biomassa, etc. Ao juntar todas essas coisas pode-se partir para a construção de uma nova civilização do trópico, baseada no trinômio biodiversidade, biomassas e biotecnologias".

O sucesso do agronegócio norte-americano ou europeu nos séculos passados já é o do Brasil neste e assim será nos séculos vindouros. E este é o grande diferencial que este século reserva ao Brasil: ser a flor da geopolítica de alimentos e de energia, pelo potencial de oferta; pelos extraordinários e positivos impactos na cadeia produtiva, estímulo às indústrias e agriculturas; pelos resultados da balança comercial; pela descentralização das ofertas e dos investimentos no interior do País; pelo processo contínuo de inovações tecnológicas, que gera competitividade de forma crescente e sustentável.

Nossos governantes separam os negócios em caixas. Privilegiam algumas caixas e há dezenas de anos não investem em logística e infraestrutura. Nosso PIB também vive o pesadelo do limite da tampa da sua caixa, fazendo sofrer a população brasileira, seus investidores e trabalhadores. Tudo isso são barreiras ao agronegócio.

As oportunidades para o Brasil no campo da agroindústria de alimentos são motivo de convocação das entidades globais. No da energia renovável somos liderança apreciada. Afinal, na lei norte-americana de energia, o etanol brasileiro da cana-de-açúcar é considerado avançado e apto para importação. Trata-se de um dos mais importantes convites que o Brasil já recebeu.

A nova fase do mundo, no século 21, mostrará as conquistas da ciência, em particular da biologia e da biotecnologia. Dessa forma, é cada vez mais difícil, mesmo para aqueles com a visão das cercanias das cidades, esconder o sucesso e o futuro do agronegócio brasileiro como um eixo dinâmico, competitivo e gerador de empregos e renda para um país de dimensões continentais.

* Luiz Carlos Corrêa Carvalho é presidente da Associação Brasileira do Agronegócio.

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