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terça-feira, 3 de junho de 2014

Prata da Casa - Boletim ADB: 2ro. trimestre 2014 - livros de diplomatas

Acabo de completar a série para o segundo trimestre do ano:

Prata da Casa
Boletim ADB: 2ro. trimestre 2014

Hartford, 3 Junho 2014, 3 p. 
Notas sobre os seguintes livros:

Guilherme Frazão Conduru:
O Museu Histórico e Diplomático do Itamaraty: história e revitalização
(Brasília: FUNAG, 2013, 370 p.; ISBN 978-85-7631-433-2; Coleção CAE)

             O diplomata e historiador Guilherme Conduru já tinha assinado uma bela dissertação sobre o Pacto ABC (original), iniciado pelo Barão, terminado por seu sucessor. Prosseguindo nos estudos históricos, ele aproveitou uma estada no escritório do velho palácio Itamaraty, no Rio, para preparar esta tese de CAE sobre o Museu Histórico e Diplomático, criado por um estadista, duas vezes ministro das relações exteriores e historiador diplomático, José Carlos de Macedo Soares. Criado por ele, em 1955, em sua segunda gestão, o MHD seria reinaugurado outras vezes, como resultado de revitalizações materiais, que também representam revisões mentais na história diplomática do Brasil. O livro é inédito em sua categoria, e não apenas sobre o MHD, como também sobre os museus históricos do Brasil de forma geral.

Fernando Guimarães Reis:
Por uma academia renovada: formação do diplomata brasileiro
(Brasília: FUNAG, 2013, 398 p.; ISBN 978-85-7631-458-5)

            Dizem que o serviço exterior se caracteriza pela excelência. O que não se sabe é se essa qualidade se deve a seu concurso de ingresso, notoriamente rigoroso, ou à sua academia diplomática, o Instituto Rio Branco. Ou seja, o material já era bom antes do ingresso na carreira, ou se fez melhor ao passar pelos bancos escolares do Rio Branco? Este livro trata dessa dúvida existencial, já revelada na frase introdutória de Heidegger, segundo quem todo questionamento é uma busca. O autor tenta responder, em cinco partes, cobrindo as marcas de nascença, os contrastes de personalidades, uma volta ao barão, a dúvida entre academia e instituto e uma proposta para uma academia renovada.
Termina por uma nota altamente intelectual sobre a filosofia da educação, que talvez confirme que o Itamaraty é excelente a despeito, ou independentemente, do IRBr.

Fernando Cacciatore de Garcia:
Como Escrever a História do Brasil: Miséria e Grandeza
(Porto Alegre: Sulina, 2014, 659 p.; ISBN: 978-85-205-0704-2)

            O autor já tinha assinado uma bela pesquisa histórica sobre a formação das fronteiras sulinas, Fronteira Iluminada: História do Povoamento, Conquista e Limites do Rio Grande do Sul, a partir do Tratado de Tordesilhas (1420-1920), e estava, portanto, perfeitamente habilitado para retomar a pergunta que tinha sido colocada, no início do IHGB, aos candidatos a um concurso sobre essa dúvida metodológica, ganho pelo alemão Martius. O resultado é um monumental volume sobre o nosso iluminismo historiográfico, onde figuram não apenas os grandes nomes da inteligência nacional, mas muitos outros pensadores universais. A história oficial sempre precisa de revisões constantes, e Garcia confirma sua preparação para a missão ao corrigir deformações sempre visíveis. Grandeza e miséria não são apenas conceitos, mas realidades presentes.

Rafael Souza Campos de Moraes Leme:
Absurdos e milagres : um estudo sobre a política externa do Lusotropicalismo (1930-1960)
(Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2011, 164 p.; ISBN 978-85-7631-326-7)


            Um estudo de caráter histórico-antropológico-diplomático sobre como o lusotropicalismo, ideologia construída pelo sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, já famoso pelo seu clássico sobre a formação patrimonial do escravismo brasileiro, foi usado e instrumentalizado pelo Estado Novo português para defender seu colonialismo tardio, e sobre como o Brasil foi usado nessa estratégia para manter o império africano. Dos anos 1930, até os anos 1960, o Brasil se dobrou à política externa portuguesa nesse capítulo pouco glorioso de nossa diplomacia contemporânea. Ao mesmo tempo, não se pode negar que a teoria reacionária do genial pernambucano serviu para legitimar algumas das ações e iniciativas tomadas pela diplomacia brasileira na África, na fase recente. Mais um exemplo de como a história dá muitas voltas, em torno de si mesma.

João Augusto Costa Vargas
Um mundo que também é nosso: o pensamento e a trajetória diplomática de Araujo Castro
(Brasília : FUNAG, 2013, 265 p.; ISBN: 978-85-7631-470-7; Coleção política externa brasileira)

            O Itamaraty possui algumas dinastias persistentes ou descontinuadas, entre elas a do próprio barão, preservada na incorporação do título ao nome de família, e a de Araujo Castro, um dos mais distinguidos diplomatas da geração contemporânea. Um novo João Augusto refaz a trajetória intelectual e diplomática do anterior, que deixou sua marca na política externa brasileira e não apenas por ter sido o último chanceler do caótico governo Jango, derrubado em 1964, e pela “teoria” do “congelamento do poder mundial”, mas sobretudo por ter oficializado uma nova “teoria” sobre nossa suposta “condenação à grandeza”, nacional e internacional, talvez por já ser grande no mapa do mundo. Araujo Castro foi um grande diplomata porque estudava intensamente o Brasil, pensava de forma lógica e escrevia claramente. Boas sugestões aos jovens de hoje.

Marcelo P. S. Câmara
A política externa alemã na República de Berlim: de Gerhard Schröder a Angela Merkel
(Brasília : FUNAG, 2013, 326 p.; ISBN: 978-85-7631-447-9; Coleção CAE)

            São poucas as teses de CAE que examinam toda a política externa de um grande país, aliás, importante parceiro do Brasil no cenário diplomático e econômico mundial. A Alemanha de Berlim renovou as tradições criadas em Bonn e, tanto na administração socialdemocrata quanto na conservadora, passou a projetar de modo mais incisivo o país no cenário mundial. O capítulo sobre as relações bilaterais segue o padrão usual no Itamaraty para esse tipo de análise, mas o importante, para a historiografia diplomática brasileira, é o exame minucioso da política externa alemã no período pós-Guerra Fria, especialmente relevante, na fase atual, sobretudo em sua vertente econômica, como visto na crise do euro, que foi basicamente uma crise fiscal de vários membros da UE. A liderança de Angela Merkel restabeleceu padrões aceitáveis de política econômica.
  

Paulo Roberto de Almeida

[Hartford, 3/06/2014]

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Prata da Casa: livros de diplomatas - Paulo Roberto de Almeida ( Boletim ADB)


1128. “Prata da Casa - Boletim ADB: 1ro. trimestre 2014”, [Notas sobre os seguintes livros: Ana Patrícia Neves Tanaka Abdul-Hak: O Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS): objetivos e interesses do Brasil (Brasília: FUNAG, 2013, 280 p.; ISBN 978-85-7631-446-2; Coleção CAE); Denis Rolland, avec Marie-José Ferreira dos Santos e Simele Rodrigues (org.): Le Brésil, territoire d’histoire: Historiographie du Brésil contemporain (Paris: L’Harmattan, 2013, 306 p.; ISBN 978-2-336-30512-7; Recherches Amériques Latines); Eugênio V. Garcia: Conselho de Segurança das Nações Unidas (Brasília: FUNAG, 2013, 133 p.; ISBN 978-85-7631-473-8; Coleção Em Poucas Palavras); Carlos Márcio B. Cozendey: Instituições de Bretton Woods (Brasília: FUNAG, 2013, 181 p.; ISBN 978-85-7631-488-2; Coleção Em Poucas Palavras); Renato Mendonça: História da Política Exterior do Brasil: do período colonial ao reconhecimento do Império (1500-1825) (Brasília: FUNAG, 2013, 246 p.; ISBN 978-85-7631-468-4); Luiz Maria Pio Corrêa: O Grupo de Ação Financeira Internacional (GAFI): organizações internacionais e crime transnacional (Brasília: FUNAG, 2013, 282 p.; ISBN 978-85-7631-439-4; Coleção tese de CAE). Publicado no Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros – ADB (ano 21, n. 84, janeiro-fevereiro-março 2014, p. 30-32; ISSN: 0104-8503). Relação de Originais n. 2567.

Prata da Casa - Boletim ADB: 1ro. trimestre 2014

Paulo Roberto de Almeida
Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros
(ano 21, n. 84, janeiro-fevereiro-março 2014, p. 30-32; ISSN: 0104-8503)

Ana Patrícia Neves Tanaka Abdul-Hak:
O Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS): objetivos e interesses do Brasil
(Brasília: FUNAG, 2013, 280 p.; ISBN 978-85-7631-446-2; Coleção CAE)

            O Brasil promoveu a criação da Casa, depois convertida em Unasul, porque o governo Lula achava a OEA um veículo de intrusões americanas na região. Depois criou o CDS porque o TIAR já estava morto, segundo alguns. O CDS é de defesa, mas parece mais de segurança, nas suas metas de construção de confiança, de cooperação em aspectos limitados da capacitação militar e, se possível, como alavanca para o fortalecimento da (sua) indústria de equipamentos bélicos. O Brasil, o maior da região, tem de assumir maior responsabilidade pelo CDS, que todavia não ainda tem caráter operacional. Se diminuir os focos regionais de tensão pode ser um ganho. Para a autora, existem grande diferença entre o que seja uma ameaça para a OEA e para a Unasul. Será? Mas o Brasil, ligando o Cone Sul à Amazônia, é o alicerce de uma futura comunidade de segurança na região. Oxalá.

Denis Rolland, avec Marie-José Ferreira dos Santos e Simele Rodrigues (org.):
Le Brésil, territoire d’histoire: Historiographie du Brésil contemporain
(Paris: L’Harmattan, 2013, 306 p.; ISBN 978-2-336-30512-7; Recherches Amériques Latines)

            Diversos acadêmicos brasileiros participam deste empreendimento coletivo, inclusive colaboradores do Itamaraty e do Instituto Rio Branco, mas um único diplomata: Paulo Roberto de Almeida, que comparece com um texto de síntese bibliográfica sobre a historiografia econômica do final do século 19 ao início do século 21, destacando os grandes nomes da produção nacional nessa área. Em quatro partes são examinadas a historiografia política, a econômica e social, a da cultura e a de relações internacionais, com uma predominância de colaboradores brasileiros, especialmente convidados para a obra. Os organizadores introduzem a obra sublinhando os vínculos tradicionais entre a historiografia francesa e a brasileira, fornecem dados sobre o crescimento da produção histórica brasileira e apresentam os trabalhos dos colaboradores. Uma boa iniciativa, que merece continuidade.

Eugênio V. Garcia:
Conselho de Segurança das Nações Unidas
(Brasília: FUNAG, 2013, 133 p.; ISBN 978-85-7631-473-8; Coleção Em Poucas Palavras)


Carlos Márcio B. Cozendey:
Instituições de Bretton Woods
(Brasília: FUNAG, 2013, 181 p.; ISBN 978-85-7631-488-2; Coleção Em Poucas Palavras)

            As 160 páginas do corpo de texto não perfazem exatamente um livro “em poucas palavras”, mas cada linha da obra está impregnada de um triplo conhecimento: histórico, teórico e prático, sobre as origens, o desenvolvimento, nas décadas seguintes, e sobre o funcionamento atual dos dois irmãos de Bretton Woods, o Banco e o Fundo, que foram criados em 1944 na pequena cidade do New Hampshire para presidir à ordem econômica do pós-guerra. O autor é o secretário de Assuntos Internacionais da Fazenda, e como tal segue, no G20 e em outras instâncias, as negociações para a reforma do sistema monetário, que já passou por fases melhores do que a atual. Depois das paridades cambiais estáveis, o regime de flutuação não ajuda a manter a estabilidade mundial, mas o maior perigo advém dos desequilíbrios fiscais nacionais, um tema que todavia foge do escopo deste livro.

Renato Mendonça:
História da Política Exterior do Brasil: do período colonial ao reconhecimento do Império (1500-1825)
(Brasília: FUNAG, 2013, 246 p.; ISBN 978-85-7631-468-4)

            O autor, que entrou no Itamaraty com Guimarães Rosa, em 1934, já tinha escrito A influência africana no Português do Brasil (1933), republicado pela Funag em 2012, quando se comemorou o centenário de seu nascimento. Com 30 anos, ele publicou uma clássica biografia do Barão do Penedo, o mais longevo embaixador brasileiro (na corte da Inglaterra), seu conterrâneo de Alagoas. Este livro foi escrito no México e foi objeto de uma única edição, pelo Instituto Pan-Americano de Geografia e História, em 1945. Agora vem enriquecido por uma introdução de Paulo Roberto de Almeida, que coloca o autor no contexto dos demais historiadores da diplomacia brasileira e destaca as qualidades da obra em face das poucas sínteses históricas então existentes. O livro traz em anexo os principais tratados da história colonial e tem ainda um apêndice sobre a obra demarcadora do Barão.

Luiz Maria Pio Corrêa:
O Grupo de Ação Financeira Internacional (GAFI): organizações internacionais e crime transnacional
(Brasília: FUNAG, 2013, 282 p.; ISBN 978-85-7631-439-4; Coleção tese de CAE)

            A criminalidade financeira internacional – lavagem de dinheiro de tráfico de drogas, financiamento do terrorismo, corrupção de agentes governamentais– vem se desenvolvendo pari passu à globalização, representando de 2 a 5% do PIB mundial. O GAFI foi criado para enfrentar esses problemas e o Brasil integrou o órgão por iniciativa do ministro Pedro Malan, em 1999, passando igualmente a atuar no Gafisud, criado em seguida no âmbito da América Latina. A tese analisa os instrumentos internacionais nessa área, a atuação do GAFI e, no terceiro capítulo, a inserção do Brasil no regime global. Desde 2001 o Itamaraty criou uma unidade especializada no tema, atua em coordenação com o COAF (Fazenda) e no âmbito do G-20 financeiro. O Brasil já possui instrumentos para tratar da corrupção e da lavagem de dinheiro, mas ainda não adotou algum adaptado ao terrorismo. Por que será?


[Hartford, 9 de Fevereiro de 2014.]