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sábado, 9 de abril de 2011

Politica Externa Brasileira: direitos humanos na China

Interessante essa afirmação: pelas palavras do embaixador do Brasil em Pequim, os dois dirigentes vão tratar da questão teoricamente, ou seja, cada país respeita dos direitos humanos, segundo seus princípios constitucionais e segundo suas realidades sociais, políticas e econômicas.
Segundo ele, "Os dois países enfrentam uma série de problemas nessa área, que refletem em parte o estágio de desenvolvimento em que se encontram".
Teoricamente, a polícia não deveria torturar presos nas delegacias brasileiras. Teoricamente, a China não deveria censurar a internet ou prender simples manifestantes políticos, expressando pacificamente sua opinião quanto ao regime em vigor no país, a falta de eleições diretas para os cargos dirigentes, o monopólio do Partido Comunista, etc.
Teoricamente, os dois dirigentes vão se felicitar pelo bom estado das relações bilaterais e vão continuar proclamando sua vontade de respeitar e defender os direitos humanos de seus cidadãos.
Teoricamente está tudo bem, tendo em vista o nível de desenvolvimento em que se encontram os dois países. Praticamente, esse nível de desenvolvimento dificulta a que os direitos humanos sejam plenamente respeitados em cada um deles.
Teoricamente, o mundo é perfeito, na visão panglossiana de certos dirigentes (e comentaristas).
Paulo Roberto de Almeida

Dilma vai tratar de direitos humanos em viagem oficial à China
Cláudia Trevisan - CORRESPONDENTE / PEQUIM
O Estado de S.Paulo, 09 de abril de 2011

Embaixador brasileiro em Pequim diz que assunto estará em pauta, em meio a onda de repressão do Partido Comunista - Governo prendeu pelo menos 27 dissidentes

A questão dos direitos humanos estará na agenda da visita da presidente Dilma Rousseff a Pequim, na próxima semana. A líder brasileira desembarca na China no momento em que o Partido Comunista empreende a mais violenta onda de repressão a críticos e dissidentes em dez anos, que levou à detenção ou ao desaparecimento de 27 pessoas e a dezenas de ordens de prisão domiciliar. A ênfase que Dilma dará ao tema será mais um teste para a política externa do governo, que elevou ao primeiro plano o respeito aos direitos humanos.

O embaixador do Brasil em Pequim, Clodoaldo Hugueney, disse que a presidente não deve tratar de casos específicos, como a prisão de Ai Wei Wei, um dos mais célebres artistas e dissidentes chineses. Mas ressaltou que o assunto estará na pauta. Para ele, a questão dos direitos humanos é importante para o Brasil e também para a China. "Os dois países enfrentam uma série de problemas nessa área, que refletem em parte o estágio de desenvolvimento em que se encontram", avaliou.

A atual onda repressiva teve início em meados de fevereiro, em resposta à convocação anônima para realização de protestos na China semelhantes aos que derrubaram regimes autoritários no mundo árabe. Além de prender dissidentes, o governo aumentou a censura na internet e restringiu a atuação de jornalistas estrangeiros no país - um retrocesso em relação a regras mais liberais adotadas na época da Olimpíada de 2008.

Diálogo. O diálogo na área de direitos humanos está previsto no Plano de Ação Conjunta para o período 2010-2014, assinado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega Hu Jintao. A China já tem diálogos desse tipo com outros países - o mais amplo é com os Estados Unidos. Representantes dos dois países se reúnem periodicamente para discutir o tema.

A questão dos direitos humanos também é tema permanente da agenda dos encontros entre presidentes norte-americanos e seus pares chineses. O assunto foi tratado, por exemplo, durante a reunião que Jintao e Barack Obama tiveram em Washington, em janeiro.

O primeiro sinal de mudança da política externa brasileira nessa área veio no mês passado, quando o Brasil votou na Organização das Nações Unidas (ONU) a favor do envio de um relator ao Irã para investigar a situação dos direitos humanos no país. No domingo, o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, afirmou ao Estado que a política externa mudou em relação aos direitos humanos.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O que a China quer do Brasil? E o que apavora o Brasil?

Muito frequentemente o Brasil, os brasileiros (o que me parece quase normal), mas até mesmo os melhores jornais do Brasil, como é o caso do velho Estadão, são assaltados por temores paranóicos. Infundados, em sua maior, pois concedo que existem paranóias justificadas (eu, por exemplo, junto com 190 milhões de outros brasileiros, acho que a Receita Federal está sempre tramando um golpe contra a minha renda, o meu patrimônio, minha "acumulação primitiva" de riqueza, mas deve ser simples paranóia não justificada, essa...).
Eu sempre digo que o Brasil adora o capital estrangeiro, mas detesta capitalistas estrangeiros.
Ou seja, a gente acha uma maravilha receber investimentos, capitais, dinheiros vários, tecnologia, os mais modernos gadgets da civilização industrial, mas não gostamos que tudo isso seja dado, ou trazido, por capitalistas que venham para cá ensinar o Brasil a ser um pouco menos atrasado e mais afinado com as modernidades capitalistas.
O Estadão, por exemplo, se preocupa em que os chineses estejam comprando minas e terras no Brasil, para abastecer sua voracidade industrial e alimentar de nossas matérias primas inesgotáveis...
O editorialista escreve isto:
"O risco é que complexos industriais desse tipo adquiram áreas de cultivo em território nacional além do que a lei permite."
Bem, mas se a lei fixa limites não existem riscos disso acontecer, certo? Se os chineses, ou quaisquer outros investidores movidos por intenções malévolas contra nossas riquezas inesgotáveis, comprarem além da conta, podem ser expropriados pela nossa maravilhosa, célere e justa Justiça (ou será que estou enganado?).
E se eles comprarem sem que a lei o permitisse, qual seria o risco? Para nós não tenho certeza de que exista algum, mas sempre existem paranóicos que ficam pensando no que poderia acontecer a partir de tão baixas intenções. Os chineses iriam fugir com as terras? Deixá-las improdutivas? Fazer um parque de diversões em lugar de utilizá-la para aquele famoso "fim social" definido na Constituição, que seria o de produzir alimentos?
Essa paranóia, e essa jabuticaba da finalidade social da terra, me parecem incompatíveis com pessoas inteligentes, com países modernos, enfim, com a simples racionalidade econômica...
Somos atrasados mentalmente, mais do que materialmente.
Paulo Roberto de Almeida

O que a China busca no Brasil
Editorial - O Estado de S.Paulo
06 de abril de 2011

Com base em estudo recente do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), aquele país seria o que mais investiu no Brasil em 2010. Segundo o documento, os investimentos chineses no País foram de US$ 12,9 bilhões no ano passado, o que representaria 26,6% do total de investimentos estrangeiros diretos no País em 2010 (US$ 48,46 bilhões). O levantamento, porém, deve ser examinado com cuidado, uma vez que muitos dos investimentos mencionados como feitos no Brasil não passam, na realidade, de compra de participação em companhias internacionais aqui instaladas. Não há melhor exemplo desse tipo de investimento do que os US$ 7,1 bilhões gastos pela estatal chinesa da área petrolífera, a Sinopec Corp, na aquisição de 40% da Repsol Brasil, controlada pelo capital hispano-argentino. A operação pode permitir aumento do capital da subsidiária brasileira para financiar sua atuação na camada do pré-sal, mas não se trata de um investimento estrangeiro direto, com entrada de capital. Houve outros negócios desse gênero, mas, mesmo não computando tais operações, a China, a partir do ano passado, vem se credenciando como um dos maiores investidores no País, o que pode ser útil ao desenvolvimento econômico nacional, desde que as leis em vigor sejam cumpridas e as autoridades brasileiras não se deixem levar pela ingenuidade.

"A China vem consolidando há alguns anos uma base internacional de matérias-primas e o Brasil passou a fazer parte desta base de fornecedores", diz o estudo. De fato, o maior volume de investimentos provenientes da China tem sido voltado para as áreas de petróleo, mineração e produção agrícola. Estatais chinesas já adquiriram reservas de minério de ferro de milhões de toneladas, em Minas Gerais e na Bahia, associadas ou não ao capital nacional. O níquel e a cadeia de produção do alumínio estão também na mira das gigantes estatais da China.

No setor do agronegócio, ainda há pouco foi anunciado um investimento de US$ 4 bilhões pela Chongqing Grain Group, na instalação de um polo de esmagamento de soja em Barreiras (BA), possibilitando a exportação de maior volume de óleo de soja. O risco é que complexos industriais desse tipo adquiram áreas de cultivo em território nacional além do que a lei permite.

O recente parecer da Advocacia-Geral da União, reafirmando a validade da Lei 5.709/71, que estabelece limites para a posse de terras por estrangeiros, tem caráter geral, mas certamente levou em conta o crescente interesse chinês pela aquisição de reservas minerais e de áreas agricultáveis no País.

Os setores de energia elétrica e de telecomunicações exercem forte atração sobre as companhias chinesas, não havendo barreiras à sua entrada no País. É uma situação muito diferente daquela com a que se deparam empresas brasileiras dispostas a investir em setores considerados estratégicos por Pequim. Como o boicote à Embraer na China deixa patente, não há reciprocidade de tratamento nesses casos.

O estudo destaca que a preferência das companhias chinesas é por fusões e aquisições, que correspondem a 83% dos investimentos que têm feito no Brasil. A participação no capital pode ser feita no exterior ou no próprio país. Não há números que permitam avaliar se os chineses se contentam com uma participação minoritária, que deveria facilitar, segundo ainda a CEBC, a superação de "diferenças culturais". Pelo que a prática tem mostrado, nem sempre essa forma de operar prevalece.

Como consta do estudo, somente 11,5% dos investimentos chineses no Brasil são "joint ventures", aliando o capital de fora ao nacional. Uma terceira modalidade é denominada "greenfield" (construção de uma unidade em território estrangeiro), sendo exemplo o aporte de US$ 400 milhões pela montadora Cherry, que vai produzir automóveis no País. Esse segmento representa 5,2% do total de investimentos da China no País e, evidentemente, a Cherry veio para o País para disputar o mercado interno, já superabastecido de veículos, não para montar aqui uma plataforma de exportação.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Um samba chines na economia -- nada mais previsivel

Quando um país deixa de ser competitivo, até suas festas nacionais são "out-sourced", como diriam os economistas...

Carnaval brasileiro é 'made in China', diz 'Financial Times'
BBC, 07 de março de 2011

Jonal diz que mercadorias baratas importadas do país asiático dominam mercado de fantasias do Brasil - Produtos baratos da China inundam carnaval brasileiro

Uma reportagem do jornal britânico Financial Times afirma nesta segunda-feira que o carnaval no Brasil é "made in China". A reportagem mostra a importância que os produtos chineses ganharam na cadeia produtiva carnavalesca brasileira. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), 80% das fantasias vendidas para o Carnaval são importadas do país asiático.

"Importações baratas da China inundaram o país latino-americano nos últimos anos, em parte como resultado da rápida apreciação da moeda, causando interrupções em diversas partes da economia e colocando um dos maiores dilemas políticos para a nova presidente, Dilma Rousseff", afirma a reportagem. "Agora até mesmo o famoso Carnaval, a festa de quatro dias que termina na terça-feira, é made in China", diz.

O presidente da Abit, Jonatan Schmidt, disse à repórter do FT que "há quinze anos, tudo era diferente - tudo era brasileiro".

Uma lojista ouvida pela reportagem do diário financeiro conta que importa mercadorias da China a preços 40% abaixo dos praticados por companhias brasileiras. Com o real mais forte, a loja, que em 2005 importava 30% do seu estoque, hoje importa 60%.

"Não é só a taxa de câmbio", diz a comerciante. "Há carência de novos equipamentos e investimentos no setor têxtil. A demanda é tão forte agora que a indústria não consegue suprir."

Citando economistas, o jornal diz que os esforços do país para combater a apreciação do real são ineficientes e que "a única solução real, não apenas para a indústria têxtil mas para a indústria em geral, é melhorar a qualificação, investir em maquinário e desenvolver a infraestrutura".

A reportagem sugere que o Carnaval, se continua em espírito sendo uma festa brasileira, é em termos econômicos uma festa dos importados. "Apesar dos esforços da estatal petroleira Petrobras para expandir a sua própria produção de poliéster no Nordeste, é improvável que o Carnaval seja made in Brazil no futuro próximo."

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domingo, 6 de fevereiro de 2011

Brasil-China: fim de uma bela amizade? - Reuters

Ilusões e expectativas dolorosamente desmentidas pelos fatos. Apenas quando amadores se metem a conduzir os negócios, o que não era bem o caso. Mas talvez a ideologia de alguns e a subserviência de outros tenha levado a essa situação.

Brazil and China: A young marriage on the rocks
Reuters, February 06, 2011

U.S. Government-Commercial Service Country Commercial Guide www.focusbrazil.org.br
At least once a week during her young presidency, Dilma Rousseff has met with trusted advisers to try to solve an intractable problem -- China.
Only a few months ago, Brazil and China seemed destined to enjoy one of the defining alliances of the early 21st century -- two fast-growing emerging market economies seeking ever-greater opportunities for business together and standing side by side on key global issues such as trade negotiations.

It's not quite working out that way.
Rousseff's regular meetings are just one sign of how she is steering Brazil toward a more confrontational stance with China. She is trying to address what she sees as an increasingly lopsided relationship while also bringing Brazil's strategic alliances in line with her dream of turning it into a middle-class country by the end of the decade.
The core problem is a torrent of Chinese imports that has quintupled in size since 2005, with disastrous effects for Brazilian manufacturers and the well-paying, highly skilled jobs that Rousseff is so focused on creating.
While the weekly session of ministers and finance ministry officials is ostensibly about how to improve Brazil's competitiveness in global trade, "it's basically a China meeting," said one high-level official who takes part.
"Relations between the two countries are not hostile," the official said. "But we are going to take measures to protect ourselves ... and push for a more equal relationship."
In the short term, senior government sources say that will mean more targeted tariffs on manufactured goods coming from China and tighter supervision by customs officials, as well as more anti-dumping complaints against Beijing.
New restrictions on foreign mining companies are also likely, officials say, reflecting concerns that China wants to consolidate its grip on Brazil's commodities wealth while offering insufficient access to its own market.
In a break from her predecessor, Luiz Inacio Lula da Silva, Rousseff will push for a stronger yuan currency and more access to the Chinese market for Brazilian companies like airplane maker Embraer when she visits China in April.
In the long run, Brazil and China are likely to retain relatively warm ties and continue to expand bilateral trade. Yet the shift evolving since Rousseff took office on January 1 could affect everything from Brazil's relationship with the United States to the future of so-called "south-south" ties among emerging market countries.
"It's surprising that the relationship is changing so fast," said Mauricio Cardenas, director of the Latin America program at the Brookings Institution, a Washington think tank.
"Brazil is clearly seeking major changes ... That could have consequences for all of Latin America as many other countries, who are experiencing the same problems (with China), follow the example of Brazil," Cardenas said.

Brazil 'naive' in China relationship
Redefining a relationship with China is easier said than done. Just as the United States has struggled to balance its demands for a stronger yuan against its desire for cheap Chinese imports and financing, Brazil must also untangle a web of dependence that has grown rapidly in the last decade.
Bilateral trade soared from just over USD 2 billion in 2000 to USD 56.2 billion in 2010. China has surpassed the United States as Brazil's main trading partner and was the biggest single source of foreign direct investment last year, at about USD 17 billion.
The robust trade growth helped Brazil's economy expand last year at its fastest pace in two decades. It also means that any efforts by Rousseff to pass new protectionist measures may be fruitless, said Qiu Xiaoqi, China's ambassador to Brazil.
"Trade between China and Brazil grew so fast because of a reciprocal need. When that need exists, nobody can get in the way," Qiu told Reuters in a rare interview.
Qiu, who prides himself on his Brazilian cultural knowledge and insisted on conducting the interview in Portuguese, attributed anti-China rumblings to "a minority" of officials on Rousseff's team. He also pointed out that Brazil had a large trade surplus with China last year -- about $5 billion.
A closer look, however, shows that it would have been a deficit if not for an extraordinary increase in the price of iron ore, which accounted for 40 percent of exports to China.
Brazilian exports to China as measured by weight -- thus, controlling for increases in commodities prices -- fell 3% in 2010, while Chinese imports rose 89%.
"Brazil has been naive in its management of the China relationship in recent years. It's far more uneven than most people think," said Fernando Henrique Cardoso, an opposition party leader who was president of Brazil from 1995-2003.

Seeking closer ties with Washington
Despite Brazil's strong economic growth last year, its manufacturers are reeling. Industrial production has been flat or shrinking since April, and the damage in areas like textiles and shoes has been so severe that the National Industry Confederation, or CNI, has warned of "deindustrialization."
The shift under Rousseff reflects her emphasis on nurturing local industries while Lula's trade policy was in part dictated by his dream of a grand alliance among developing nations.
Still, some who do business in both countries worry that China is being used as a scapegoat for Brazil's own problems.
"Brazil's lack of competitiveness has nothing to do with the Chinese," said Charles Tang, president of the Brazil-China Chamber of Commerce and Industry in Rio de Janeiro.
He attributed Brazil's problems to high taxes, labor costs and infrastructure bottlenecks that, along with an overvalued currency, make local goods comparatively expensive to produce.
He also said that Brazilian companies, which for decades focused primarily on their own large domestic market, have missed several opportunities to do more business in China.
Soraya Rosar, a trade expert at the CNI, agrees but says Rousseff needs to push for greater access to China's market.
Frustration with Chinese policies, especially over its slow appreciation of the yuan, has convinced Rousseff's team that Brazil must strengthen ties with the United States if it is to negotiate on anything approaching an equal footing with China.
"Brazil alone will accomplish little," said one official close to Rousseff. "With the United States by our side, maybe they'll listen to us."
The US-Brazil relationship, which suffered under Lula, has changed rapidly under Rousseff. President Barack Obama will travel to Brazil in March, and China will be "a subject ripe for discussion" when Treasury Secretary Timothy Geithner visits next week, a source with knowledge of the talks said.
Cardoso says Rousseff appears to be recasting Brazil's foreign policy with China as both a threat and an ally.
"China for many years cleverly tried to frame the relationship as 'south-south' ... that its interest was the same as Brazil's interest. But China's not the south. China is China, with its own set of interests," Cardoso said.
Cardenas, of the Brookings Institution, says Brazil's policy shift could have profound implications if other countries follow its lead.
"The Chinese were confident that they could count on the south-south relationship for support, but now they're seeing these voices of criticism are not just coming from the US," he said. "When your friends start to turn against you, maybe it's time to reexamine things."

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Diplomacia da "pressao" (ou nao-diplomacia): relacoes Brasil-China

Fazer diplomacia pela imprensa, mandando recadinhos sobre possíveis intenções não faz parte, normalmente, dos instrumentos diplomáticos. Salvo em situações "híbridas", em que todo mundo se julga no direito de "dar um pitaco" nas relações exteriores do país.
O que acontece em vácuos institucionais, ou de pouca definição decisória.
Paulo Roberto de Almeida

Brasil estuda como pressionar China
Eliane Oliveira
O Globo, 25.01.2011

No momento em que busca reerguer os setores prejudicados pelo avanço dos produtos chineses, o governo esbarra em dificuldades práticas, a começar pelo fato de o Brasil ter reconhecido a China como economia de mercado em 2004. As autoridades brasileiras ameaçam não formalizar o novo status, enquanto as chinesas pressionam e afirmam que o Brasil assinou mas não cumpriu o memorando de intenções.

Quando um país não é formalmente reconhecido como economia de mercado, é mais fácil comprovar a existência de dumping (preço abaixo do custo de produção) ou subsídios e exigir compensações. Basta comparar os valores das mercadorias que entram no país com os preços em terceiros mercados.

Mas, se a economia chinesa for vista pelo Brasil como economia de mercado, os investigadores terão de buscar dados sobre custos e mão de obra na própria China, o que não é fácil, explicou uma fonte. Ou seja, quando o governo brasileiro reconhecer o status reivindicado pelos chineses, será mais difícil instaurar um processo.

— Esse reconhecimento nunca nos afetou. O problema é se isso for formalizado. Aí não seria mais possível usar terceiros países para fazer comparações — confirma Marcos Imamura, sócio da Guedes, Bernardo e Imamura Consultoria, especializada em dumping.

Segundo uma fonte que participou das discussões, o reconhecimento quase ocorreu no fim de 2010, por pressão chinesa. O governo brasileiro, porém, fez um recuo estratégico: quer negociar compensações para o câmbio artificial que mantém o yuan desvalorizado frente ao dólar. Mesmo porque Dilma Rousseff vai a Pequim em abril e não quer voltar de mãos vazias.

Um dos trunfos brasileiros é a forte dependência da China por alimentos e recursos naturais. Ela importa do Brasil cerca de US$20 bilhões por ano de soja e minério de ferro. Mas qualquer passo exige cautela, para que o Brasil não seja alvo de ações na Organização Mundial do Comércio (OMC).

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Diplomacia do endurecimento: relacoes Brasil-China (não pode ser diplomacia)

Jornalistas não são diplomatas, e por isso mesmo não sabem se ater a uma linguagem diplomática.
Nenhum serviço diplomático sério empregaria tais palavras, ou mandaria tais "recados" pela imprensa, no caso de uma relação tão importante.
Só pode ser coisa de amadores...
Algum gaiato, ou jornalista ainda mais "aéreo", ainda vai sacar aquela famosa frase, tão mal usada, sobre endurecimento e ternura: aguente-se tanta bobagem...
Paulo Roberto de Almeida

Dilma quer endurecer relação com China
NATUZA NERY, SIMONE IGLESIAS, LEILA COIMBRA
DE BRASÍLIA
Folha de S.Paulo, 24.01.2011

Plano prevê raio-X de produtos sensíveis, comitê para tratar de problemas e reforço da embaixada em Pequim
Itamaraty admite elevar o tom em algumas áreas e cobrar mais apoio, por exemplo, para vaga no Conselho de Segurança

Entusiasta do modelo de desenvolvimento chinês e leitora contumaz das dinastias que dominaram o passado milenar da potência asiática, a presidente Dilma Rousseff quer tirar mais da China do que fez qualquer um de seus antecessores.
Ela encomendou à sua equipe uma estratégia para impulsionar a diplomacia sino-brasileira; um plano que reflita posições do governo, não somente do Itamaraty.
Quer ampliar parcerias, mas autorizou seu ministério a endurecer no front comercial e, quando possível, selecionar investimentos que venham de lá.
A estratégia brasileira em discussão indica um reposicionamento do jogo diplomático em relação a Pequim.
Até mesmo o Itamaraty admite elevar o tom em algumas áreas e cobrar mais apoio do aliado em embates internacionais.
Não está claro, porém, se a cobrança se estenderá à defesa dos direitos humanos.
O Ministério do Desenvolvimento já prepara um raio-X de produtos domésticos e setores da economia prejudicados pelos baixos preços dos "made in China".
Dilma Rousseff sugeriu a criação de um comitê exclusivo para tratar de problemas e potenciais oportunidades de negócios.

O governo pretende ainda reforçar sua representação na nação mais populosa do mundo (1,3 bilhão de habitantes) e deve elevar o número de diplomatas atuando lá.
Hoje, são 12, mas poucos fluentes em mandarim. O novo chanceler, Antonio Patriota, tenta sair dessa estatística: toma aulas semanais para aprender a língua.
Outro objetivo, mais difícil, é obter apoio por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Lula jamais arrancou esse compromisso de Hu Jintao.
Quando o presidente Barack Obama convidou Dilma para visitar os EUA em dezembro, ela disse a assessores: "Se for, vou à China também". A petista desembarca em Washington em março.
Em abril, em Pequim, onde participa da reunião com os emergentes que integram os Brics (Rússia e Índia).
Integrantes do novo governo reclamam da ausência de um plano de aproximação na gestão anterior, apesar de reconhecerem o incremento substancial no comércio entre as duas nações.
Foram US$ 30,8 bilhões exportados pelo Brasil em 2010. Na outra mão, o Brasil comprou US$ 25,6 bilhões dos chineses no ano passado. Logo, tem um saldo favorável de US$ 5,2 bilhões.
"Acho que a Dilma vai privilegiar mais o interesse nacional", diz o economista Roberto Giannetti da Fonseca, da Fiesp.

MEDIDAS
Segundo a Folha apurou, Dilma não pretende entrar em batalhas com a China contra a desvalorização do yuan. Julga mais eficaz atacar no front comercial.
Pode, com isso, lançar mão de algumas medidas: salvaguardas para setores sob risco; processos mais rápidos antidumping; nacionalização de cadeias produtivas; imposição de barreiras técnicas e até o estabelecimento de cotas para a entrada de produtos chineses.
Os investimentos de estatais chinesas no Brasil serão avaliados para não impor riscos ao mercado nacional.
O Planalto quer dificultar o avanço da nação asiática no setor de mineração.
Hoje, o governo brasileiro não sabe quantas jazidas de minério de ferro já estão em mãos chinesas. Dilma quer ver o novo código da mineração enviado ao Congresso e aprovado neste ano.

O QUE DILMA QUER DA CHINA

Instrumentos que o governo brasileiro pode usar para pressionar os chineses

1 Impor barreiras técnicas (exigências extras à importação) a produtos "made in China"

2 Criar salvaguardas para tentar impedir a inundação de alguns produtos chineses no mercado brasileiro

3 Agilizar no Ministério do Desenvolvimento a análise de ações antidumping

4 Nacionalizar alguns setores da cadeia produtiva, a exemplo do que ocorreu na construção de plataformas pela Petrobras

5 Regulamentar setores da economia, como um novo marco para a mineração

- O que o Brasil quer politicamente da China
Apoio para obter um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas
- Apoio para ampliar a influência do Brasil no FMI (Fundo Monetário Internacional) e no Banco Mundial
- Maior coordenação entre os Brics nos fóruns internacionais, sobretudo no G20
- Práticas mais respeitosas na área de direitos humanos

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Politica comercial do Brasil: dois erros...

Primeiro: um atentado contra o Português, mas o Brasil, ou o ministro Mantega, não é culpado: o tradutor, ou o jornalista, da Agência EFE não sabe que advertir é um transitivo indireto: "adverte sobre...", não "de".
Depois, um atentado contra as regras da OMC, este sim sob responsabilidade do ministro em questão, a quem os assessores internacionais, ou de política comercial, não alertaram-no de que a OMC não tem jurisdição sobre políticas cambiais nacionais. Isso pertencia ao FMI, muito antigamente, mas seria precisa alertar o ministro Mantega que tampouco o FMI cuida agora -- ou desde 1973, oficialmente, desde 1971, de fato -- de políticas cambiais. Os países são livres para fazerem o que quiserem de suas moedas, apreciarem, desvalorizarem, deixarem estável, ancorá-la em alguma outra moeda, até abandonar a moeda nacional e, portanto, a política cambial, tout court.
A OMC vai ouvir o ministro e depois alguém deveria dizer-lhe: "So what? O que o Brasil pretende fazer a esse respeito? Somos todo ouvidos..."
Na prática, não vão fazer absolutamente nada, como não podem fazer.
Ou o Brasil se entende com os americanos -- e suas políticas de "quantitative easing" -- ou ele se entende com os chineses -- e suas políticas de manipulação cambial.
Pode também atuar nas causas reais da falta de competitividade brasileira: o excesso de tributação na cadeia produtiva, a falta de inovação, uma infra-estrutura miserável e diversos outros problemas todos "made in Brazil", inclusive as políticas fiscais e comerciais do governo.
O ministro Mantega se quiser resolver o problema poderia começar atacando suas causas internas, antes de pensar em transferir o problema para outros países ou a OMC...
Paulo Roberto de Almeida

Brasil adverte de[sic] uma guerra comercial por causa da manipulação cambial
Agencia EFE, Seg, 10 Jan, 07h16

Londres, 10 jan (EFE).- O ministro da Fazenda, Guido Mantega, adverte de [sic; PRA] uma "guerra comercial global" pela manipulação monetária e menciona concretamente os Estados Unidos e China, em entrevista publicada nesta segunda-feira pelo "Financial Times".

Segundo Mantega, o Brasil está tomando medidas para impedir que o real continue se valorizando e colocará o tema na Organização Mundial do Comércio (OMC) e outros foros mundiais.

"Trata-se de uma guerra monetária que está se transformando em uma guerra comercial", afirma Mantega em sua primeira entrevista exclusiva desde que Dilma Rousseff substituiu Luiz Inácio Lula da Silva à frente do país.

Seus comentários, assinala o jornal, acompanham as intervenções que foram feitas na semana passada nos mercados de divisas tanto do Brasil como de Chile e Peru, as recentes e fortes altas do franco-suíço e de outras moedas, e a fuga dos investimentos das economias dos EUA e Europa.

O Fundo Monetário Internacional insinuou a semana passada que o mundo precisa de novas regras que governem o recurso pelos Governos aos controles de capitais.

Mantega já utilizou em setembro passado a expressão "guerra de divisas" antes de aplicar controles aos investimentos de bolsa estrangeiras no Brasil para frear uma apreciação de 39% do real frente ao dólar nos dois últimos anos.

Na quinta-feira, o Banco Central do Brasil pôs em prática de surpresa uma medida destinada a impedir a venda a curto prazo do dólar (apostando por sua depreciação) contra o real pelos bancos e anunciou que devem ser esperadas mais medidas "no mercado de futuros".

Segundo Mantega, o tema das manipulações cambiais estará este ano na agenda do G20 e o Brasil também o apresentará na OMC para que seja considerado como um tipo de subsídio velado às exportações.

Os analistas acham, no entanto, que será difícil mudar as regras da OMC para incluir as taxas de câmbio porque a China seguramente vetaria uma proposta nesse sentido.

Segundo Mantega, o comércio do Brasil com os Estados Unidos passou de um superávit de cerca de US$ 15 bilhões a favor do país para um déficit de US$ 6 bilhões desde que Washington começou a flutuar sua economia mediante uma política monetária relaxada.

Para o ministro, a super-valorizada moeda chinesa também está distorcendo o comércio mundial: "Temos excelentes relações com a China, mas há alguns problemas. Certamente gostaríamos de ver uma valorização do iuane".

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Diplomacia Sul-Sul, pelo lado unilateral...

China x Brazil (BBVA)


The impact of the emergence of China on Brazilian international trade, published by BBVA, indicated by Enestor dos Santos. This work studied the impact that the Chinese trade expansion had on the Brazilian international trade. Available data analyzed in this paper evidences that in the last years Brazilian exports of commodity products increased significantly due to the emergence of China and other Asian countries. They showed that Brazilian exports of high technological content and high quality increased more than the average and more than low technological and low quality exports in the last years.
http://bit.ly/8XBwbJ
anexos
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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O dueto Brasil-China - Rolf Kuntz

O dueto Brasil-China
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, 8 de setembro de 2010

As contas externas são o ponto mais frágil da economia brasileira neste momento. De janeiro a agosto as exportações de mercadorias foram 28% maiores que as de um ano antes. O valor importado ficou 48,6% acima do registrado nos oito meses correspondentes de 2009. A tendência havia sido observada na fase de rápido crescimento até 2008, foi interrompida na recessão e voltou a manifestar-se com a recuperação da atividade. Embora involuntariamente, o Brasil vem cumprindo o papel proposto para os emergentes pelo Grupo dos 20 (G-20) e pelos principais dirigentes do Fundo Monetário Internacional (FMI): os superavitários deveriam depender mais do mercado interno e importar mais. A mensagem foi dirigida principalmente à China, a maior potência exportadora, mas também o Brasil acabou seguindo o caminho recomendado.

No segundo trimestre, as importações brasileiras de mercadorias foram 56% maiores que as de um ano antes, enquanto as exportações ficaram 29% acima das de igual período de 2009. No caso da China, as diferenças em relação ao ano anterior foram, respectivamente, 44% e 41%. Proporcionalmente, a resposta do Brasil ao apelo do FMI e dos países mais desenvolvidos foi maior que a chinesa. Na Índia, as taxas quase empataram: 33% mais para as importações e 32% mais para as exportações.

Só um dos Brics, a Rússia, tomou caminho diferente, faturando 43% mais que no segundo trimestre do ano passado e gastando 33% mais com as compras de produtos estrangeiros. Ninguém pode acusar o Brasil de não colaborar para a recuperação da economia mundial – embora a China tenha sido a principal potência beneficiada pelas importações brasileiras.

Também a conta de serviços tem piorado, principalmente por causa da valorização do real. Essa conta inclui, entre outros itens, as viagens ao exterior, agora mais baratas por causa do dólar barato. No segundo trimestre, a contribuição do setor externo – transações com mercadorias e serviços – foi negativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), com receitas 7,3% superiores às de abril a junho de 2009 e despesas 38,8% mais altas.

O descompasso entre importações e exportações foi apontado como o principal motivo de preocupação pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), em seu comentário sobre as contas nacionais do período de abril a junho.

A redução do crescimento econômico para um ritmo equivalente a 4,9% ao ano foi avaliada como boa notícia pelos analistas do instituto, assim como pelos economistas do governo. Embora ainda vigorosa, é uma expansão mais sustentável que a do trimestre anterior. Mas por quanto tempo será sustentável, se o balanço de pagamentos continuar em deterioração?

As projeções do mercado financeiro e das consultorias para as transações correntes continuam sombrias. No último relatório Focus, baseado em pesquisa divulgada semanalmente pelo Banco Central (BC), o déficit estimado para este ano aumentou ligeiramente, para US$ 50 bilhões. A previsão estava em US$ 49 bilhões duas semanas antes. Para 2011 o valor projetado foi mantido em US$ 58 bilhões.

De janeiro a julho, o déficit na conta corrente, US$ 28,3 bilhões, superou o de todo o ano passado, US$ 24,3 bilhões. Em 12 meses, o valor chegou a US$ 43,8 bilhões, equivalentes a 2,2% do PIB. Entre 2003 e 2007 a conta havia sido superavitária.

Nos 12 meses até julho entraram US$ 26,7 bilhões de investimento direto estrangeiro. O resto do buraco foi coberto com outros tipos de financiamento – empréstimos e aplicações especulativas -, menos estáveis e menos saudáveis para o País.

Segundo a análise do Iedi, a piora das contas externas é atribuível ao câmbio valorizado e a outros fatores “enormemente” prejudiciais à competitividade da produção nacional.

Não se discutem no texto esses fatores, mas são em geral bem conhecidos e compõem o chamado “custo Brasil”. Para eliminar ou atenuar esses problemas, o próximo governo terá de trabalhar duramente. Parte da solução dependerá de inovações legislativas e do aumento da eficiência do setor público. Tudo isso vai exigir muita disposição para negociar, principalmente quando se tratar da alteração de impostos estaduais e da racionalização dos gastos da União. Desse esforço poderão depender também a política de juros e, indiretamente, a evolução do câmbio. O dólar barato tem contribuído para a contenção da alta de preços. Se a situação do câmbio mudar, o governo terá de cuidar de outros fatores inflacionários, a começar pelo desequilíbrio de suas contas.