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sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Guerra cambial: de volta aos anos 1930? - George Magnus

Yuan’s Slide Is Gold Standard Moment for China
The decision to let the currency weaken beyond 7 to the dollar echoes previous turning points of historic global significance.
George Magnus
Straits Times, Singapura – 9.8.2019

China allowing the yuan to slide below 7 to the dollar is a watershed moment for currency markets that's symbolically equivalent to the U.S. and other countries abandoning the gold standard in the interwar period, or the collapse of the postwar Bretton Woods system of fixed exchange rates four decades ago. The implications for the global economy are equally significant.
The world’s major currencies aren’t tethered in the way they were in those periods, but gold and Bretton Woods both served as anchors for the world’s monetary system, and their demise reflected the economic and political disarray of their times. Today, the yuan is semi-pegged to the U.S. dollar. The arrangement serves as an anchor for China’s financial system, now the world’s largest by assets; for many currency systems in Asia and around the world; and for U.S.-China economic and financial relations.
If that mainstay ruptures, it’s liable to set off chain reactions inside and outside China. That’s why the loosening in currency policy by the People’s Bank of China this week, while it may seem unremarkable for most people, is an important development.
It may be too early to assert that China is “weaponizing” the yuan in the deepening trade war with the U.S., especially because the central bank’s actions still appear measured and moderate. Nevertheless, the assumption that keeping the yuan rate stable against the dollar was part of the complex politics surrounding the trade negotiations no longer holds. President Donald Trump’s decision to impose a 10% punitive tariff on a further $300 billion of Chinese imports – perhaps a waymark to 25% at a later date – looks to have changed the calculus. 
China can no longer engage in tit-for-tat tariffs because it imports so much less than it sells to the U.S. Its only options are to target American companies using its own “ entity list” of firms deemed to damage Chinese interests; make life more difficult for them in China; and ultimately to depreciate the currency. The political decision to sanction the move suggests China has weighed the costs of a weaker currency and decided they are less than those of an impasse in talks and continued economic harm from tariffs.
A cheaper yuan, or renminbi, will help Chinese exporters compete in the U.S. and global markets, offsetting the impact of tariffs to some extent. In the short term, it will help to prop up China’s fragile growth momentum. 
The negative implications are more severe, though. A weaker currency will hurt Chinese consumers, who will pay more for imports, and hinder the intended shift in the economy to a more consumer-oriented structure. It will raise the credit risk and vulnerability of Chinese property and other companies that have been borrowing increasing volumes of dollars in the past few years. It will almost certainly encourage residents to try to evade capital controls and place money offshore. This happened in 2015-16 too, though the strengthened capital controls regime since then is likely to be more effective for the time being.
Beyond China, the yuan’s slide is likely to trigger competitive currency depreciations, especially in countries that are part of its Asian supply chains and those that compete with Chinese products. The dollar will be the de facto beneficiary, often a sign that the world economy is faltering. A weaker renminbi will hurt U.S. producers and exporters at a time when the American economy is softening. It will also reduce the foreign earnings of U.S, firms, and as a result, the equity market.
The political significance may be at least as great. The importance of the renminbi, literally the “people’s money,” to China is no less than that of the dollar to America or sterling to the U.K. China’s economic narrative places much pride in, for example, its $3 trillion stock of foreign-currency reserves, and attaches extraordinary status to the role and function of the renminbi. The decision to put the stability of the currency at risk won’t have been taken lightly. 
As far as economic activity is concerned, the yuan’s move through 7 almost certainly reflects concern over the weaker trajectory of the economy, in which trade plays a relatively small direct role, though a cumulatively more important one. It’s not only the effect of tariffs that filters through China’s economy, but the loss of productive capacity as a rising number of firms move supply chain operations, and jobs, outside the country. A major Chinese investment bank recently suggested the industrial sector has lost about 5 million jobs in the last year, almost half of which are attributable to the trade war. 
The yuan’s move appears to reflect frustration at the lack of progress in trade talks, and specifically the refusal of the U.S. side to remove tariffs as a condition for any Chinese concessions. The depreciation will be managed for the time being, but it’s unlikely to stop. With time, the rapid expansion of financial assets in China, combined with political pressures, will probably lead to a much greater decline.
By then, it won’t be only financial markets that are paying attention. The yuan’s path may help shape the future of geopolitical and economic arrangements around the world. (Bloomberg)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Guerra cambial: esses banqueiros enviesados contra nos...

Deve ser mentira: ou então se basearam no que disse o ministro da Fazenda, a pessoa justamente menos preparada para tratar de política cambial...
Esses banqueiros acreditam em qualquer um...
Paulo Roberto de Almeida

Brasil é o 4º mais intervencionista no câmbio, diz HSBC

País cai no ranking, pois no ano passado ocupava a segunda posição; Suíça e Japão são os países que mais intervêm

13 de fevereiro de 2013

Fernando Nakagawa, da Agência Estado
LONDRES - O Brasil deixou de ser um dos países mais ativos na proteção de sua moeda. A constatação é de um estudo divulgado nesta quarta-feira: o Ranking da Guerra Cambial. Produzido pela equipe de pesquisa global do banco britânico HSBC, o levantamento compara 36 moedas e a ação desses países no mercado. De zero a dez, o Brasil ficou com sete pontos na contagem dos mais intervencionistas no câmbio - o que lhe rendeu o quarto lugar da lista. Com dez pontos, Japão e Suíça dividem o título de mais ativos na defesa de suas moedas.
No estudo, economistas do HSBC compararam o comportamento de 35 diferentes países e também da União Europeia nos últimos 12 meses. Levaram em conta desde aspectos subjetivos, como os discursos e a retórica dos líderes econômicos, até itens comparáveis, como taxa de juro, volume de intervenções diretas, medidas regulamentares e programas de relaxamento quantitativo.
Feita a comparação, o Brasil recebeu sete pontos em uma escala que varia de zero - o menos intervencionista - até dez - o mais ativo possível. Além de medidas tradicionais de política monetária como corte de juros, o estudo diz que "a regulamentação tornou-se a tática adicional favorita dos emergentes".
O HSBC dá como exemplos a mudança de alíquotas de impostos ou novas regras para o mercado. "O Brasil é um exemplo notável disso, onde novas alíquotas passaram a ser cobradas em operações financeiras que estavam pressionando o real."
Com sete pontos, o Brasil divide o 4.º lugar no ranking com o Peru e Taiwan. À frente estão Colômbia, Venezuela e Turquia, com oito pontos, e Argentina, com nove pontos, além dos líderes Japão e Suíça, que têm a pontuação máxima.
Queda. No ano passado, o Brasil era mais intervencionista e estava em segundo lugar, atrás apenas da Suíça. "Um ano atrás, a intervenção era maior e visava a enfraquecer o real. Agora, há uma ação de duas vias para manter a relação entre o dólar e o real em um intervalo", diz o estudo, que sinaliza que o menor esforço brasileiro tem a ver com a cotação do dólar no Brasil que, nos últimos meses, tem oscilado entre R$ 1,95 e R$ 2,05.
Outro fator que explica o Brasil menos ativo é o custo dessa intervenção. "Uma moeda mais fraca pode aumentar a inflação. O Brasil usou sua moeda para estimular o crescimento, mas recentemente reconheceu que o impacto negativo disso é ter mais inflação", diz o relatório. Diante desse custo para a economia, o HSBC prevê que o governo brasileiro passará a agir de maneira "mais suave".
Atrás do Brasil no ranking estão todos os outros grandes emergentes e também as economias maduras: os Estados Unidos têm seis pontos, China e Reino Unido têm quatro pontos, Rússia e Chile fizeram três pontos e a Índia tem apenas um ponto. Na lanterna, Canadá, México e África do Sul têm zero ponto e recebem o título de menos intervencionistas no mercado cambial.
As perspectivas de curto prazo para a guerra cambial não são muito otimistas. Para o banco, atualmente são maiores as chances de um recrudescimento da disputa de moedas nos próximos meses, especialmente com uma possível reação do Banco Central Europeu e de países produtores de commodities. O estudo, porém, não cita quais os países produtores de produtos básicos poderiam reagir.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Uma suposta guerra cambial para o NYTimes

Ate o New York Times caiu nessa esparrela da guerra cambial...
PRA

EDITORIAL
Preventing a Currency War
New York Times: February 13, 2013

The Group of 7 industrialized countries appeared to tamp down talk of a currency war in a statement this week that said markets should determine exchange rates and that countries should use fiscal and monetary policies to achieve faster growth. It may help curb fears that stagnant economies will devalue their currencies to make their exports more affordable relative to competitors.

The statement came in response to sharp moves in currencies like the euro and the yen and calls by some Group of 7 countries like France for policies that could lead to competitive devaluations.

The yen, for instance, has fallen by about 11 percent against the dollar since the recent election in Japan of Prime Minister Shinzo Abe, who has pushed for economic stimulus and more aggressive asset purchases by the Bank of Japan to fight deflation. Critics say those policies are aimed at lowering the value of the yen, which Mr. Abe’s government has denied.

And last week President François Hollande of France proposed that euro-zone nations should adopt a policy to manage the value of the common currency to maintain the competitiveness of European goods. (The euro has appreciated about 2 percent against the dollar and nearly 10 percent against the yen this year.)

Such misguided thinking can lead only to chaos and retaliation. If all countries were to competitively devalue their currencies, the result would be a downward spiral that would benefit no one, but could lead to high inflation. Certainly in Europe, altering exchange rates is not the answer; reviving economies will require giving up on austerity, which is choking demand and investment.

Developing countries like Brazil and Mexico also complain that looser monetary policy in industrialized nations can produce effects similar to currency manipulation. When central banks in countries like Japan and the United States pump more money into their financial systems, investors are driven to put their money into emerging markets where interest rates are higher. That pushes up currencies like the real and peso, making exports from those countries more expensive on the world market. Instead of responding to this effect by manipulating their exchange rates, those countries could protect themselves from volatile capital flows by regulating them.

With much of Europe in a recession, Japan struggling with deflation, and the weak American economy potentially falling back into a recession if the automatic spending cuts go through, the global economy is fragile. The last thing the world needs is a currency war.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Brasil ja vai a guerra, e escolheu os inimigos...

Sim, tem aquela velha canção do Juca Chavez, dos tempos aparentemente saudosos do JK, quando tínhamos até comprado um Porta Aviões, uma velha banheira reformada dos ingleses, que deveria servir, supostamente para aviões da Aeronáutica ou da Marinha (pois é, não se entenderam na época).
Hoje o Brasil também vai à guerra, pelo menos na linguagem belicosa daquela que é chamada de "presidenta", pelos linguistas do Planalto (ou seriam linguarudos?).
Aparentemente, os inimigos são as velhas potências coloniais, que já não se aguentam mais de déficits, e ainda encontram maneira de inundar o mundo com seus dólares e euros.
Não tenho certeza de que os indianos vejam americanos e europeus como inimigos, mas a presidenta sim...
Acho que essa batalha não vai dar em nada, se não fizermos o dever de casa.
Paulo Roberto de Almeida

Texto atualizado em 02/04/2012 - 00:33
Brasil e Índia têm ‘sólidas credenciais’ para lutar contra política monetária expansionista, diz Dilma
por Redação *
publicado originalmente no Blog do Planalto
A presidenta Dilma afirmou que Brasil e Índia têm “sólidas credenciais” para lutar contra as políticas monetárias expansionistas dos países desenvolvidos, durante o Seminário Empresarial Brasil-Índia, na última semana, em Nova Délhi.
“Nós, Brasil e Índia, temos sólidas credenciais para lutar contra os efeitos das políticas monetários expansionistas do mundo desenvolvido que não tem tomado as providências necessárias para garantir uma expansão das suas economias. Somos, sem sombra de dúvida, favoráveis à superação da crise na Europa. Achamos que houve uma melhora na medida em que foi evitada uma crise mais aguda, uma crise monetária mais aguda e acreditamos que é imprescindível que os países desenvolvidos tomem medidas efetivas para garantir a retomada da economia mundial”.
Para a presidenta, não resta dúvida que os dois países podem, juntos, enfrentar e superar de forma mais efetiva os efeitos da crise econômica internacional.
“Quando nós exploramos as nossas complementaridades, respeitando, cada um, a característica do outro, nós podemos enfrentar juntos, de forma muito mais efetiva, todos os desafios que a conjuntura nos apresenta. Por isso, eu tenho certeza que o dinamismo característico das nossas economias permitirá que superemos no melhor sentido esta fase crítica da economia internacional. Por isso é com alegria que eu vejo a nossa relação comercial se tornar cada vez mais expressiva. O Brasil permanece com principal parceiro comercial da Índia na América Latina”.
Dilma afirmou aos empresários que o comércio entre Brasil e Índia, hoje concentrado no petróleo e nos seus derivados, deve ser diversificado e defendeu a ampliação da parceria na área de medicamentos. Já no setor de combustíveis, Dilma afirmou que o Brasil está disposto a contribuir com o governo indiano na busca de alternativas energéticas sustentáveis.

sexta-feira, 2 de março de 2012

"Brasil declara guerra cambial" - Contra si mesmo???

Curiosas essas matérias de imprensa, e curiosos esses jornalistas, que acham que o Brasil vai começar, e ganhar, uma "guerra cambial", ou seja lá o que isso queira significar...
Quem fala em "guerra cambial" -- um termo absolutamente inapropriado e totalmente equivocado -- é o próprio governo, que distraído, parte em guerra contra ele mesmo...
Pois é, o governo provoca a valorização do real, ao manter juros estratosféricos (que mesmo a 10% são o triplo, ou o quádruplo da média mundial), e depois diz que vai lutar contra a "guerra cambial", como se esta nos fosse imposta por americanos -- que despejam, isso é certo, dólares no mundo -- e por chineses -- que espertamente colam sua moeda à divisa americana para não perder partes de mercado.
Mas vocês já se deram conta da imensa bobagem proclamada por Mantega e outros neófitos da "guerra cambial"?
Os EUA estão ficando mais pobres, ao desvalorizar sua moeda, e eles o fazem por absoluta necessidade, já que de outro modo o ajuste seria ainda mais brutal. Os chineses apenas defendem seu modelo exportador, fazendo ajustes cambiais dirigidos, algo que o Brasil praticou durante 40 anos seguidos (e o mundo não nos acusou de fazer "guerra cambial", ainda que manipulássemos o câmbio).
O governo é absolutamente risível, ou patético, ao falar de guerra cambial.
Deveria cuidar das suas contas, o que ele não faz...
Paulo Roberto de Almeida

Jornais estrangeiros veem nova ‘guerra cambial’

Blog Estadão, 2 de março de 2012 | 7h00
Sílvio Guedes Crespo
Os dois principais jornais de economia e finanças do mundo, o americano “Wall Street Journal” e o britânico “Financial Times”, publicaram reportagens nesta sexta-feira, 2, a respeito das medidas tomadas pelo governo brasileiro para tentar conter e valorização do real.
O primeiro diz no título da reportagem que o “Brasil intensifica a batalha para frear a alta do real”, enquanto o segundo afirma que
o País “declara uma nova guerra cambial”.
Ambos reforçaram a informação, já comentada em sites na quinta-feira, de que a mudança no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) tem pouco efeito no mercado, mas vale como um sinal de que o governo está disposto a usar suas munições para conter a apreciação do real.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou ontem que a taxa de 6% de IOF sobre empréstimos no exterior, que incidia apenas as operações com vencimento de até dois anos, passaria a valer também para aquelas com prazo de até três anos.
Paralelamente, o Banco Central vem atuando no mercado de câmbio, por meio da compra de dólares à vista e no mercado futuro.
O governo argumenta que a política de afrouxamento monetário dos países ricos (o que inclui emissão de moeda) faz aumentar a quantidade de recursos nas mãos dos investidores, que, por sua vez, levam parte desse capital para países emergentes, como o Brasil, de forma especulativa.
“O ministro da Fazenda do Brasil e a presidente estão defendendo a moeda deles”, afirma o “Journal”.
No “FT”, o texto da versão impressa limita-se a descrever e explicar as medidas do governo brasileiro. Mas um artigo no blogBeyondBrics, do mesmo jornal, traz uma opinião sobre o caso. Recomenda que os investidores não ignorem “retórica belicista” de Mantega porque “desta vez a presidente se envolveu com a questão”.
Além disso, “Mantega sabe que tem grande parte do mundo emergente do seu lado”. O Peru e a Coreia do Sul também adotaram medidas de controle de capital.
China
Em outra reportagem, o “Journal” diz que a China está diversificando seus ativos, de modo a reduzir a participação do dólar em suas reservas, “uma tendência que pode significar menor fluxo de capital oriundo de Pequim e um possível aumento dos custos de empréstimos na economia americana”.

sábado, 8 de outubro de 2011

Aliados desestrategicos e guerra cambial imaginaria... (editorial Estadao)


Guerra cambial e fantasia

Editorial O Estado de S.Paulo
08 de outubro de 2011 | 3h 05
A presidente Dilma Rousseff levantou, na Turquia, a bandeira de mais uma campanha fantasiosa, ao propor a união dos emergentes contra a "guerra monetária" movida pelos bancos centrais de países desenvolvidos. Poderia ter usado a expressão "guerra cambial", posta em circulação há mais de um ano por seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, para denunciar principalmente a inundação do mercado internacional por enormes volumes de dinheiro emitido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Centenas de bilhões de dólares foram lançados pelo Fed, em duas grandes ondas, na tentativa de estimular a expansão do crédito nos Estados Unidos. Uma das consequências foi a valorização de várias moedas - entre elas o real, com sérios prejuízos para o comércio do Brasil. Mas a manipulação cambial mais antiga, mais evidente e mais danosa a um grande número de economias, incluída a brasileira, é praticada há muitos anos pelo governo de um país emergente, a China, a maior potência comercial do mundo.
Bastaria esse pormenor para mostrar o irrealismo da proposta da presidente Dilma Rousseff em seu discurso perante um auditório de cerca de 1.200 empresários turcos e brasileiros em Ancara, nessa sexta-feira. Segundo ela, os emergentes deveriam juntar-se para manifestar sua oposição à guerra cambial na próxima reunião do Grupo dos 20 (G-20), formado pelas maiores economias desenvolvidas e emergentes, marcada para novembro, em Cannes.
O governo brasileiro tem sido extremamente parcimonioso nas críticas à persistente depreciação da moeda chinesa. No início de sua campanha contra a "guerra cambial", o ministro Guido Mantega nem sequer se dispôs a falar contra a manipulação do yuan. Chegou quase a justificar essa política, ao descrever a ação das autoridades chinesas como defesa contra a desvalorização do dólar. Mas nem ele foi capaz de sustentar por muito tempo esse evidente despropósito. De fato, as autoridades chinesas vincularam o yuan ao dólar depois do agravamento da crise, em 2008, mas a estratégia de depreciação do yuan já era mantida havia muitos anos, apesar dos protestos da maior parte dos governos ocidentais.
A China tem sido o grande alvo das pressões, por sua política de câmbio, na maior parte das conferências do G-20. A depreciação do yuan tem sido também, por muitos anos, um assunto importante nas discussões de organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. O governo brasileiro nunca se comprometeu seriamente com essas críticas nos foros internacionais, mas tem sido forçado pelos fatos - e pelas pressões do empresariado nacional - a tomar medidas defensivas contra as práticas desleais de comércio da China.
Neste momento, nem se pode acusar o banco central americano de persistir na estratégia de grandes emissões. Sua política monetária continua frouxa, com juros próximos de zero, e, agora, com um programa de alongamento de prazo de títulos públicos de sua carteira. Também essa operação pode resultar em expansão monetária, mas o resultado nem de longe será parecido com o da segunda etapa de "afrouxamento quantitativo", quando foram emitidos cerca de US$ 600 bilhões. Essa etapa terminou em junho. Uma terceira poderá ocorrer, mas, por enquanto, está fora da agenda. A grande novidade nessa área, nos últimos dias, foi a decisão do Banco da Inglaterra de iniciar a compra de títulos no valor de 75 bilhões de libras, com a emissão, é claro, do valor correspondente em moeda. Teria a presidente notado esse fato?
Os chineses são hoje os maiores parceiros comerciais do Brasil e os maiores predadores de nossa indústria em todos os mercados - incluído o brasileiro. O governo brasileiro faria um trabalho político e diplomático muito mais útil à indústria nacional se reforçasse, nos foros internacionais, as pressões pela mudança da política de câmbio e do modelo chinês de crescimento. Já é tempo de abandonar em Brasília as fantasias terceiro-mundistas e a crença pueril na identidade de interesses dos países do grupo Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

China as "currency manipulator": as time goes by... (The Economist)


Free trade and the yuan

One step forward, one back

As trade deals head towards approval, a backlash grows against China

Designed to get up a politician’s nose
THIS was supposed to be a good week for American trade policy. On October 3rd Barack Obama submitted three long-stalled trade agreements to Congress for ratification. Republican and Democratic leaders promised speedy passage. If all goes as planned, the pacts with Colombia, Panama and South Korea could be ratified in time for a state visit on October 13th by Lee Myung-bak, the Korean president.
But that advance for trade was tempered by a revival of protectionism against China. Also on October 3rd the Senate voted by an overwhelming and bipartisan 79-19 to proceed with a bill that would punish China for keeping its currency artificially low. The legislation enables a company to demand an investigation of a country it thinks is using an undervalued currency for unfair trade advantage. If the government concludes that the currency is indeed “fundamentally misaligned”, countervailing duties could be imposed. China, predictably, has given warning of dire consequences if the bill becomes law; “waves of trade protectionism that would favour nobody”, declared Xinhua, a Chinese government-controlled news agency.
A similar bill in the House of Representatives has more than enough co-sponsors to guarantee passage, if it gets to a vote. However, Republican leaders in the House, who like free trade more than do their rank and file, are not inclined to act; John Boehner, the Republican speaker of the House, called the bill “pretty dangerous”. A similar bill passed the House last year, and versions of it have repeatedly made progress in the Senate, but none has yet reached a president’s desk for signing. Mr Obama has also kept his distance. Despite frequent tough talk, his Treasury department has, in its twice yearly currency reports, declined officially to label China a “currency manipulator”.
Congressional threats are a useful crowbar for extracting concessions. China first allowed its tightly controlled currency to rise in 2005 when the Senate was on the verge of passing a similar measure. The rise came to a halt in 2008 when the Chinese authorities sought to cushion exporters from the turbulence of global recession but resumed in 2010 just weeks before the House passed a bill (see chart). After rising 7%, the yuan again stopped appreciating in early August as the world economy threatened to come unglued and as investors fled the euro for the dollar, which rose sharply on a trade-weighted basis.
There are reasons to believe that the yuan is not as obviously undervalued as it once was. Fiscal and monetary stimulus, which jolted domestic demand, has caused China’s current-account surplus to narrow dramatically, from 10.1% of GDP in 2007 to a projected 2.9% this year, according to Nomura, a financial services group, which sees it almost disappearing by 2013. Nevertheless, the protectionist threat in America remains very much alive. America’s trade deficit with China continues to widen. Mitt Romney, the front-runner for the Republican presidential nomination, has said that on his first day in office he would order China to be designated a currency manipulator in preparation for imposing punitive duties.
Public hostility to free trade has risen, and has been matched by growing political truculence, notes the report of a task force of trade experts organised by the Council on Foreign Relations. Presidents have relied on their fast-track Trade Promotion Authority (TPA) to negotiate pacts that Congress can ratify or reject but not amend. But Congress has declined to grant the Oval Office TPA power since its expiration in 2007. The report says Mr Obama himself violated the spirit of the TPA by insisting on further concessions from Colombia, Panama and Korea, whose trade agreements were negotiated by George Bush in 2006-07. It could be years before free traders have another deal to celebrate.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Politica comercial do Brasil: dois erros...

Primeiro: um atentado contra o Português, mas o Brasil, ou o ministro Mantega, não é culpado: o tradutor, ou o jornalista, da Agência EFE não sabe que advertir é um transitivo indireto: "adverte sobre...", não "de".
Depois, um atentado contra as regras da OMC, este sim sob responsabilidade do ministro em questão, a quem os assessores internacionais, ou de política comercial, não alertaram-no de que a OMC não tem jurisdição sobre políticas cambiais nacionais. Isso pertencia ao FMI, muito antigamente, mas seria precisa alertar o ministro Mantega que tampouco o FMI cuida agora -- ou desde 1973, oficialmente, desde 1971, de fato -- de políticas cambiais. Os países são livres para fazerem o que quiserem de suas moedas, apreciarem, desvalorizarem, deixarem estável, ancorá-la em alguma outra moeda, até abandonar a moeda nacional e, portanto, a política cambial, tout court.
A OMC vai ouvir o ministro e depois alguém deveria dizer-lhe: "So what? O que o Brasil pretende fazer a esse respeito? Somos todo ouvidos..."
Na prática, não vão fazer absolutamente nada, como não podem fazer.
Ou o Brasil se entende com os americanos -- e suas políticas de "quantitative easing" -- ou ele se entende com os chineses -- e suas políticas de manipulação cambial.
Pode também atuar nas causas reais da falta de competitividade brasileira: o excesso de tributação na cadeia produtiva, a falta de inovação, uma infra-estrutura miserável e diversos outros problemas todos "made in Brazil", inclusive as políticas fiscais e comerciais do governo.
O ministro Mantega se quiser resolver o problema poderia começar atacando suas causas internas, antes de pensar em transferir o problema para outros países ou a OMC...
Paulo Roberto de Almeida

Brasil adverte de[sic] uma guerra comercial por causa da manipulação cambial
Agencia EFE, Seg, 10 Jan, 07h16

Londres, 10 jan (EFE).- O ministro da Fazenda, Guido Mantega, adverte de [sic; PRA] uma "guerra comercial global" pela manipulação monetária e menciona concretamente os Estados Unidos e China, em entrevista publicada nesta segunda-feira pelo "Financial Times".

Segundo Mantega, o Brasil está tomando medidas para impedir que o real continue se valorizando e colocará o tema na Organização Mundial do Comércio (OMC) e outros foros mundiais.

"Trata-se de uma guerra monetária que está se transformando em uma guerra comercial", afirma Mantega em sua primeira entrevista exclusiva desde que Dilma Rousseff substituiu Luiz Inácio Lula da Silva à frente do país.

Seus comentários, assinala o jornal, acompanham as intervenções que foram feitas na semana passada nos mercados de divisas tanto do Brasil como de Chile e Peru, as recentes e fortes altas do franco-suíço e de outras moedas, e a fuga dos investimentos das economias dos EUA e Europa.

O Fundo Monetário Internacional insinuou a semana passada que o mundo precisa de novas regras que governem o recurso pelos Governos aos controles de capitais.

Mantega já utilizou em setembro passado a expressão "guerra de divisas" antes de aplicar controles aos investimentos de bolsa estrangeiras no Brasil para frear uma apreciação de 39% do real frente ao dólar nos dois últimos anos.

Na quinta-feira, o Banco Central do Brasil pôs em prática de surpresa uma medida destinada a impedir a venda a curto prazo do dólar (apostando por sua depreciação) contra o real pelos bancos e anunciou que devem ser esperadas mais medidas "no mercado de futuros".

Segundo Mantega, o tema das manipulações cambiais estará este ano na agenda do G20 e o Brasil também o apresentará na OMC para que seja considerado como um tipo de subsídio velado às exportações.

Os analistas acham, no entanto, que será difícil mudar as regras da OMC para incluir as taxas de câmbio porque a China seguramente vetaria uma proposta nesse sentido.

Segundo Mantega, o comércio do Brasil com os Estados Unidos passou de um superávit de cerca de US$ 15 bilhões a favor do país para um déficit de US$ 6 bilhões desde que Washington começou a flutuar sua economia mediante uma política monetária relaxada.

Para o ministro, a super-valorizada moeda chinesa também está distorcendo o comércio mundial: "Temos excelentes relações com a China, mas há alguns problemas. Certamente gostaríamos de ver uma valorização do iuane".

domingo, 14 de novembro de 2010

A presidenta eleita quer que os brasileiros fiquem mais pobres...

Parece incrível mas é verdade. E isso vindo de uma pessoa que disse que pretendia, não diminuir, ou limitar, a pobreza, mas erradicá-la, simplesmente.
Esse é o resultado, inevitável, de sua intenção proclamada, de desvalorizar o real, sem dizer o que pretende colocar no lugar do sistema de câmbio flutuante.
Minha convicção é a de que ela não vai fazer absolutamente nada, inclusive porque não tem segurança sobre as consequencias de um gesto desse tipo, e seus conhecimentos de economia -- a despeito dos diplomas, ou dos créditos que disse que tinha -- são muito limitados.
Em todo caso, vamos acompanhar esse tema com muito carinho, como diria alguém...
Paulo Roberto de Almeida

Dilma Rousseff sugirió que podría devaluar el real en cuanto asuma

El Clarín, 13/11/2010.

Coreia do Sul – La presidenta electa de Brasil Dilma Rousseff admitió que puede devaluar el real. Fue al señalar de manera contundente que la moneda brasileña no puede seguir tan valorizada: “No es bueno para el país. Vamos a tener que mirar cuidadosamente y tomar todas las medidas posibles” para reajustar el cambio en relación al dólar. Dilma, que acompañó al presidente Lula da Silva a la cumbre del G20 en Seúl, sostuvo al conversar con la prensa brasileña que era “malo” llegar a la capital de Corea con el título de moneda más sobrevaluada entre todos los países que participaron de la reunión .

La ex ministra de Lula mostró un perfil diferente de quien todavía es su jefe político. Viajó en el avión con el ministro de Hacienda Guido Mantega, el único prácticamente confirmado en el universo ministerial de la futura presidenta. Ambos comparten una visión “desarrollista” y, desde ese lugar, difieren de las concepciones del actual presidente del Banco Central Henrique Meirelles. Para Dilma, devaluar el real es una prioridad. Y en ese sentido no se diferencia de quien fue su competidor durante el proceso electoral, el ex gobernador paulista José Serra.

Es curioso el distanciamiento del presidente Lula desde el punto de vista conceptual, justo en una reunión donde las dificultades que aparecen con las devaluaciones competitivas estuvieron en el orden del día, precisamente por las medidas que adoptó el presidente Barack Obama y que consistió ni más ni menos que en devaluar el dólar en relación a otras monedas fuertes. Rousseff se vio con el norteamericano, pero no hablaron ni una palabra sobre las diferencias entre ambos países, “Fue un encuentro muy simpático”, dijeron en la delegación brasileña.

Sin embargo, en confesiones a los periodistas brasileños que la seguían en Seúl, más todavía que a Lula, la ex ministra criticó “la devaluación disfrazada” en EE.UU. provocada con una inyección de US$ 600 mil millones. Y sostuvo que el dólar débil significa que “el ajuste norteamericano recae sobre las espaldas de otras economías”. Con todo, primó el pragmatismo de esta señora, elegida por 56% de los votos de su país el 3 de noviembre. Según ella, había una solución ideal: que Washington evitara devaluar el dólar. “Pero nosotros no controlamos la Reserva Federal”, aclaró. De modo que es poco lo que se puede hacer ahora para remediar los desequilibrios. Y ese “poco” es lo que está en las manos de los gobiernos nacionales. Para ella, China hizo lo que debía. Es decir, mantuvo el yuan en estricta relación con el dólar.

Cuando a Dilma le preguntaron qué medidas adoptará para preservar a Brasil del cimbronazo devaluatorio del dólar, respondió: “Hay ciertas medidas que no se confiesan ni siquiera para uno mismo”. Como sea, esa situación plantea diferencias con el presidente saliente y obligará a los socios de Brasil en el Mercosur, especialmente la Argentina, a estar muy alertas a partir del 1º de enero de 2011. Quien ganó posiciones en el nuevo gobierno fue Mantega, a quien Lula preservó en un lugar secundario en el esquema monetario y financiero conducido por el titular del BC Meirelles.

Entre tanto, Lula trató de disimular las críticas veladas en el discurso de Rousseff. Dijo lo que ya había asegurado en otras oportunidades: el tipo de cambio es flexible, lo que quiere decir que “fluctúa para arriba o para abajo”. A su gobierno no le preocupa devaluar el real, sino con conseguir que EE.UU. valorice el dólar.

Mantega, quien se hallaba con el mandatario saliente, marcó exactamente lo contrario. Sostuvo que “son insuficientes” las medidas que ya habían adoptado en Brasil para frenar la caída de la divisa norteamericana frente a la brasileña. “No dieron el resultado que esperábamos”, sostuvo. Y aclaró: “Una cotización de 1,7 real por dólar no es satisfactoria”, advirtiendo que volverá a actuar en breve si no se corrige la situación.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A "guerra cambial" do ministro Mantega (3): enxugando gelo...

O governo anda feito barata tonta.
Limito-me a transcrever um artigo perfeitamente racional sobre um assunto que o governo trata de maneira completamente irracional.
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Paulo Roberto de Almeida

A questão cambial: enxugando gelo
João Luiz Mauad
Diário do Comércio, 18/10/2010

A solução do problema do câmbio passa longe de pacotes intervencionistas, como o aumento do IOF recentemente divulgado, que não enfrenta o cerne da questão. Na tentativa de estabilizar a taxa cambial, o governo acaba contribuindo para que esta valorização se acentue.

Ainda bem que as pessoas não saem por aí desafiando a lei da gravidade, tal qual insistem em pôr à prova a velha lei econômica da oferta e da demanda. Fico imaginando indivíduos usando as janelas dos edifícios, no lugar das escadas e dos elevadores, ou saltando de aviões em pleno voo. Seria uma catástrofe, sem dúvida.

A alguns, esta pode parecer uma comparação descabida – afinal afrontar a lei da oferta e da demanda não mata (pelo menos não instantaneamente). No entanto, em determinadas circunstâncias, pode provocar danos consideráveis. Vejamos, abaixo, um caso bastante atual.

Todos os dias, chova ou faça sol, abrimos os jornais ou ligamos a TV e nos deparamos com a infalível choradeira de empresários, políticos, ministros de Estado, economistas e outros opinantes por causa do câmbio. Lamentam, com certa razão, que a taxa estaria defasada. Entretanto, prisioneiros do velho credo protecionista – que remonta à era mercantilista, mas vem sendo alimentado com maciças doses de nacionalismo, tanto pela esquerda quanto pela direita –, não enxergam que a solução do problema passa longe de pacotes intervencionistas, como o aumento do IOF recentemente divulgado pelo governo, que não enfrenta o cerne da questão.

Qualquer pessoa de bom senso sabe que enquanto a oferta de moeda estrangeira continuar maior do que a demanda, seja em função dos superávits comerciais, seja por conta da afluência de investimentos externos, o real permanecerá apreciado. Sabemos também que, em condições de livre mercado, quando há excesso de oferta, a consequente queda dos preços a desestimulará e aquecerá a demanda, até que as duas se equilibrem num novo patamar. O problema é que as soluções espontâneas do mercado não funcionam quando os governos interferem no jogo. E este é, exatamente, o caso em questão. Na tentativa de estabilizar a taxa de câmbio, o governo acaba contribuindo para que ela valorize ainda mais.

Só os ingênuos podem acreditar, por exemplo, que as nossas vendas externas são superiores às compras porque temos alguma vocação exportadora natural ou porque o resto do mundo precisa mais dos nossos produtos do que nós dos deles. Nada poderia ser mais falso. Nossa balança comercial é (ainda) superavitária simplesmente porque os bens e serviços exportados são isentos de impostos, enquanto os importados são taxados de todas as formas possíveis. Os tão festejados superávits são, por conseguinte, induzidos por uma penca de ardis protecionistas.

Para que a taxa de câmbio passe espelhar o efetivo poder de compra do real em relação às outras moedas, é preciso acabar com os artificialismos hoje existentes, o que só será possível se liberarem as amarras das importações. Falo de redução e corte de impostos, desburocratização aduaneira e outras medidas que tornem atraentes as compras no exterior (algo não só possível hoje em dia, como desejável, já que a nossa dívida externa encontra-se perfeitamente equacionada e as reservas suficientes para administrá-la com tranquilidade).
O problema é que, para pôr em prática essa solução, seria necessário, primeiro, remover o ranço protecionista incrustado na cultura econômica brasileira, resultado do trabalho árduo, zeloso e dedicado da velha guarda nacionalista, estimulada e financiada por empresários ineficientes que se dizem capitalistas, mas têm ojeriza à concorrência e ao livre mercado.

Uma eventual abertura aos importados, além de beneficiar o consumidor com a oferta de mercadorias baratas e de qualidade, deteria a desvalorização do dólar . E seria especialmente benéfica para o controle da inflação –a concorrência costuma fazer cair os preços –, facilitando, inclusive, a redução da taxa básica de juros pelo BC. Isso sem falar no enorme incentivo que tal medida traria ao crescimento econômico do País, pois muito mais que o superávit comercial, o que realmente estimula o crescimento é a soma das correntes de comércio com exterior.

Outra coisa que o governo poderia fazer, urgentemente, é parar de operar no mercado de câmbio, comprando dólares a rodo para tentar estabilizar a taxa em patamares que os tecnocratas, do alto de sua enorme arrogância, entendem mais correta para o Brasil.

Adquirir divisas e engordar as nossas já inchadas reservas tem um custo muito alto, além da imensa diferença entre os juros pagos pelo Tesouro para captar recursos no mercado interno e os juros que remuneram as reservas brasileiras no exterior, o aumento da dívida pública contribui para a manutenção dos juros internos em patamares sempre elevados.

E nunca é demais lembrar que a alta remuneração dos títulos públicos tem sido um atrativo poderoso para os capitais especulativos, especialmente agora, com o mercado internacional altamente líquido, depois que os países do primeiro mundo inundaram as respectivas economias na tentativa de deter a recessão.

Se mantiver as atuais políticas, o governo vai continuar enxugando gelo e, pior, jogando fora o dinheiro dos pagadores de impostos.

João Luiz Mauad é empresário e colunista do site www.midiaamais.com.br