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domingo, 20 de janeiro de 2013

Ciencia sem Fronteiras: para criar riquezas ou gerar deficit publico? - Editorial Estadao

Apesar do autor destas linhas pertencer a essa estranha tribo dos masturbadores sociais que são os sociólogos -- invoco em meu favor o fato de nunca ter registrado o título, e de jamais ter exercido a profissão, a não ser como professor, o que não credencia ninguém, pois como já disse um ex-presidente, quem sabe vai trabalhar, quem não sabe vai ensinar... -- eu jamais concordaria em dar bolsas fáceis para todos os adeptos das ditas humanidades, que carecem do mais humano sentimento da lógica elementar.
Os estudiosos e profissionais das chamadas hard sciences costumam produzir riquezas, sob a forma de patentes, inovações, processos e mecanismos produtivos. Os profissionais das humanidades costumam produzir déficit público.
Já o Ciência Sem Fronteiras me parece um programa de férias remuneradas, já que desvinculado de um processo de reaproveitamento dos bolsistas ao cabo de seu estágio no exterior, mas ainda assim pode-se considerar que os estudantes aprendem pelo menos a se expressar em outras línguas (pelo menos os 20% que não se dirige a países ibéricos e latino-americanos, que não possuem uma ciência superior à do Brasil), e até alguns rudimentos do que anda apontando na pesquisa de alguns países...
Mas e as ciências sociais, o que trariam de bom ao Brasil? Suspeito que muito pouca coisa, para não dizer nada...
Paulo Roberto de Almeida

O 'Ciência sem Fronteiras'

19 de janeiro de 2013 | 2h 03
Editorial O Estado de S.Paulo
 
Alegando que o governo tem o direito de estabelecer prioridades em matéria de financiamento ao ensino e à pesquisa, o Tribunal Regional Federal (TRF) da 5.ª Região cassou a liminar concedida pela Justiça Federal do Ceará que determinava a inclusão de 20 cursos da área de ciências sociais no programa Ciência sem Fronteiras, beneficiando com isso estudantes de letras, sociologia, artes, publicidade e comunicação. Segundo o relator do processo no TRF, desembargador Manoel Erhardt, ao ampliar a abrangência desse programa - que concentra suas bolsas nas ciências exatas e biológicas, áreas nas quais o Brasil tem um grande déficit de profissionais qualificados -, a Justiça Federal cearense "comprometeu a filosofia" do Ciência sem Fronteiras".
A liminar suspensa pelo TRF da 5.ª Região havia sido concedida em dezembro a pedido do Ministério Público Federal, que acolheu uma reivindicação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Em sua 64.ª reunião, realizada em julho de 2012, a entidade reivindicou a concessão de bolsas para pesquisadores de ciências humanas, sob a justificativa de "aprimorar a área e fortalecer a política nacional de pós-graduação".
Em resposta, os ministros de Ciência e Tecnologia e de Educação alegaram que o déficit de engenheiros, médicos, biólogos, químicos e tecnólogos é um obstáculo para o desenvolvimento do País. "O problema não está na área de ciências sociais, mas, principalmente, nas de engenharias. Nas humanidades, o Brasil já tem uma expressão bastante grande", disse o ministro Aloizio Mercadante.
Embates judiciais e pressões corporativas têm sido um dos principais entraves para a modernização do sistema educacional e do sistema de fomento à pesquisa e qualificação do pessoal do ensino superior. Lançado há um ano, o Ciência sem Fronteiras prevê a concessão de 101 mil bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado no exterior.
As primeiras bolsas se destinaram a estudos nos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França e Itália, nas áreas de matemática, física, química e biologia. Os editais seguintes deram prioridade às engenharias e às ciências aplicadas, como nanotecnologia, biotecnologia, computação, tecnologia de comunicação, tecnologia mineral, petróleo, gás e carvão mineral.
O programa tem sido elogiado pela iniciativa privada, que há muito tempo reivindica mão de obra qualificada. O crescimento da economia, ainda que modesto no ano passado, agravou o problema do déficit de profissionais preparados no mercado de trabalho. Na área financeira, a escassez de engenheiros chegou a tal ponto que os bancos, as seguradoras e os fundos passaram a contratar profissionais recém-formados em matemática, física e ciências atuariais para trabalhar em atividades que normalmente são exercidas por especialistas em engenharia financeira, como análise de risco, modelagem, precificação e uso de plataformas de investimentos com base em algoritmos.
A comunidade acadêmica também recebeu bem o Ciência sem Fronteiras, apesar das reivindicações da área de ciências humanas e sociais para ser agraciada com bolsas de estudo no exterior. Por causa dessas pressões, as autoridades educacionais assumiram uma posição ambígua. Apesar de o TRF da 5.ª Região ter cassado a liminar que permitia a participação de universitários da área de ciências humanas e sociais no Ciência sem Fronteiras, as duas agências de fomento responsáveis pelo programa - a Capes e o CNPq - mantiveram as inscrições desses alunos. No entanto, não deixaram claro se, ao final do processo de avaliação dos currículos e dos projetos de pesquisa, eles receberão bolsas - o que pode levar a novos recursos nos tribunais.
O governo acertou ao lançar um programa que reduz a distância entre as universidades brasileiras e as estrangeiras mais conceituadas nas áreas de conhecimento estratégicas para o desenvolvimento do País. Contudo, pressões corporativas e a incerteza causada por decisões judiciais que alteram as regras do jogo podem comprometer o sucesso desse programa.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Ciencia COM Fronteiras (latinas, ibericas...)

O fato de que mais de dois terços dos candidatos ao CsF estejam se dirigindo a países latino-americanos ou aos ibéricos, em lugar de lugares onde se faz ciência de verdade, significa que, finalmente, esses jovens vão fazer mais turismo acadêmico, remunerado pelo CNPq, do que propriamente formação científica de qualidade.
Ou seja, um programa que não está, de verdade, integrado aos centros produtores de ciência, e ao cabo do qual não se conecta a programas brasileiros de formação, sendo uma espécie de turismo à la carte voluntário (mas financiado por todos nós), vai terminar sendo apenas um gasto inútil de dinheiro.
Paulo Roberto de Almeida

Desafios fronteiriços
Ciência Hoje On-line, 30/11/2012

Aposta do governo federal para melhorar educação superior no País, o programa 'Ciência sem Fronteiras' é destaque de revista científica internacional, mas ainda enfrenta obstáculos e críticas quanto à sua implementação.
Cem mil brasileiros estudando no exterior até 2015. A ambiciosa meta do programa federal 'Ciência sem Fronteiras' tem chamado a atenção da comunidade científica internacional. A iniciativa é tema de editorial da edição atual da Science, uma das mais influentes revistas científicas do mundo. Mas, em meio à exaltação, o programa também suscita críticas entre professores e estudantes.

Assinado pela química Célia Garcia, da Universidade de São Paulo (USP), pelo presidente do CNPq, Glaucius Oliva, e pelo pesquisador argentino Armando J. Parodi, o editorial da Science destaca o papel do 'Ciência sem Fronteiras' (CsF) como promotor de inovação e pontua a importância de outras iniciativas de intercâmbio na América Latina.

"O sucesso alcançado até agora com programas como os aqui descritos deixa claro que esse caminho vai fazer com que o continente se torne um líder global em ciência, tecnologia e inovação", diz o texto. "De fato, toda nação pode se beneficiar com o fomento do conhecimento e da capacidade de sua força de trabalho."

O CsF vai fechar seu primeiro ano com 20 mil alunos de graduação, doutorado e pós-doutorado enviados para universidades estrangeiras de 30 países. Podem concorrer às bolsas estudantes que tenham concluído 20% de algum curso das áreas listadas no site do programa, focado nas disciplinas tecnológicas, exatas e biomédicas. Os alunos selecionados recebem seguro de saúde, uma 'mesada' e auxílio para instalação e material didático.

Os países que mais recebem estudantes do programa são Estados Unidos, com 3.898 bolsas concedidas; Portugal, com 2.775; e França, com 2.478. Portugal é também o país mais procurado: 12 mil pedidos foram feitos para universidades do País.

A preferência revela um dos desafios do programa: a língua. A maioria das universidades cadastradas ministra aulas em inglês e a dificuldade geral dos estudantes brasileiros com o idioma já vem sendo criticada por representantes de instituições estrangeiras envolvidas com o CsF. Na última chamada de bolsas, dois terços dos estudantes foram reprovados por falta de conhecimentos em inglês.

O físico Ivan Oliveira, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e que tem alunos beneficiados no CsF, destaca esse entrave do programa. "Mandar 100 mil estudantes para o exterior, muitos sem preparo, é uma loucura, é jogar dinheiro fora", diz. "O que vai acontecer é que a maioria dos estudantes, principalmente os de graduação, não vai aproveitar nada porque não tem fluência na língua; ou então vai para Portugal." E completa: "Mas, desde as grandes navegações, Portugal deixou de ser uma potência tecnológica."

Na sua avaliação, o CsF foi lançado como estratégia política, sem uma reflexão mais aprofundada envolvendo a comunidade acadêmica. "Para mudar realmente o nível, é preciso primeiro investir na educação de base, para depois mandar os estudantes para as universidades top. Do jeito que está, o CsF só aumenta a desigualdade, pois só quem é de classe média e fez curso de inglês tem alguma chance de tirar proveito."

O problema da língua fez com que o governo anunciasse o investimento de R$ 21 milhões na criação o programa 'Inglês sem Fronteiras', que vai organizar núcleos de ensino de inglês nas universidades federais e promover testes de proficiência da língua entre os estudantes. Aqueles que mostrarem nível próximo do necessário para passar em provas de certificação, como o TOEFL, serão selecionados como prioritários para participar gratuitamente de cursos intensivos.

Fuga de cérebros - Outra questão preocupante por trás da iniciativa é a emigração de profissionais. A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, apoia o CsF, mas teme que os alunos, depois de qualificados em universidades estrangeiras, não retornem ao Brasil.

"O que me preocupa é que temos que ter uma garantia para a volta com qualidade desses profissionais, para que eles encontrem no Brasil condições para colocar em prática o que aprenderam no exterior", coloca Nader.

Oliveira também se preocupa com a captação de profissionais brasileiros. "Existe uma demanda nos países desenvolvidos pelos alunos que se destacam nas ciências duras", diz. "Os Estados Unidos drenam força especializada de países como o Brasil e acredito que os melhores estudantes não vão voltar. O CsF vai ser um mecanismo para financiar a mão de obra ultraespecializada brasileira para o exterior, só vai voltar para cá quem não for convidado para ficar por lá."

Humanas de fora - Outro ponto do CsF que vem sofrendo críticas é a ausência de bolsas para estudantes das ciências humanas e sociais. Quando o programa foi lançado, cerca de mil estudantes dessas áreas conseguiram bolsas inscrevendo-se na vagamente denominada 'Indústria criativa'. Mas o governo já sinalizou que a prática não poderá continuar.

No site do projeto, esse setor já está descrito como voltado "a produtos e processos para desenvolvimento tecnológico e inovação" e o mais recente edital do programa deixou claro que alunos de cursos de humanas e sociais não podem concorrer a bolsas.  Em resposta, alunos dessas áreas que já se preparavam para concorrer a bolsas entraram com uma ação no Ministério Público Federal pedindo que a atual chamada seja suspensa.

Estudantes indignados criaram no Facebook a página 'Ciência com fronteiras', que tem mais de 41 mil seguidores. No grupo, os alunos reivindicam: "O fato de alguns cursarem faculdades exatas ou biológicas não os torna melhores que nós. Vocês podem revolucionar as descobertas na saúde, na robótica, na ecologia e tudo quanto é mais ciência, mas não se esqueçam: nós revolucionamos o pensamento e, sem ele, nenhuma sociedade democrática se sustenta."

A assessoria de comunicação do CNPq responde que o novo edital do CsF só reforça a ideia original do programa, que tem ênfase tecnológica. O órgão ressalta ainda que "os estudantes de ciências humanas e sociais continuam sendo atendidos pelo CNPq com bolsas concedidas por outros programas institucionais", que agora estão até menos concorridas.