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sexta-feira, 18 de maio de 2012

Coreia do Norte: uma potencia capitalista

Piada, claro, mas seria o caso de saber se essa maravilhosa associação de interesses entre o bandido e os bandidos se deu antes ou depois do estabelecimento das relações diplomáticas bilaterais, por mais uma dessas brilhantes iniciativas da doutrina do nunca antes neste país...




IR de bicheiro aponta sócio na Coreia do Norte
A declaração de Imposto de Renda Pessoa Física de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, apresenta uma informação que surpreendeu os parlamentares. Que o contraventor era sócio da Bet Capital, com 49%, todos sabiam. O que chamou a atenção dos senadores é que a outra parte da sociedade, em nome da Bet Corporation, estaria sediada na Coreia do Norte, um dos países mais fechados do mundo, onde não há empresa privada, pois é um estado comunista. As informações levantam suspeitas de lavagem de dinheiro em empresa de fachada.
De acordo com o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Cachoeira recebeu vultosos recursos da Bet Capital. Em 2008, foram R$ 2,8 milhões; em 2009, R$ 4,3 milhões, mesmo valor repetido em 2010. No entanto, como afirmou o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), os rendimentos tributáveis do contraventor eram espartanos.



Lavagem de dinheiro na Coreia
A análise dos 41 volumes de documentos relativos à declaração de Imposto de Renda dos últimos 10 anos do bicheiro Carlinhos Cachoeira, encaminhados pela Receita Federal à CPI, indica que o contraventor tinha uma espécie de “lavanderia” internacional do dinheiro sujo obtido no Brasil. Nas declarações de IR dos exercícios referentes aos anos de 2008, 2009 e 2010, o bicheiro informa que recebeu da empresa BET Capital R$ 11,4 milhões a título de empréstimos. A suspeita é de que os recursos da organização criminosa eram encaminhados para a empresa BET Company, estranhamente com sede na comunista Coreia do Norte, na Ásia, e acionária majoritária da BET Capital.
Carlinhos Cachoeira teria 49% das ações e a BET Company outros 51%. O esquema que começa a ser desvendado aponta que o dinheiro sairia do Brasil e voltava para a BET Capital, que emprestava milhões ao contraventor. Cachoeira declarou ter recebido da empresa R$ 2,8 milhões em 2008; R$ 4,3 milhões em 2009; e novamente R$ 4,3 milhões em 2010. Existem também empréstimos com cifras milionárias no nome da ex-mulher e de um ex-cunhado.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Coreia do Norte: o pais du SUPER-GULAG

Desculpem as maiúsculas, mas de fato a Coreia do Norte merece: seu Gulag é muito maior, proporcionalmente, e muito mais longo, do que os exemplares (e como!) da URSS stalinista e da China maoista.
Um verdadeiro horror, praticamente desconhecido do mundo.
Paulo Roberto de Almeida 

Turning a blind eye to North Korea’s ‘hidden gulag’

The Washington Post, Editorial Board, April 12, 2012

WHILE ATTENTION focused on North Korea this week ahead of Friday morning’s missile launch, hundreds of Americans, Koreans, Japanese and others gathered in Washington to examine a different aspect of life in that communist nation: its “hidden gulag.”
That was the title of an unprecedented conference organized by the U.S. Committee for Human Rights in North Korea (HRNK) and the Jacob Blaustein Institute for the Advancement of Human Rights. The gulag is a network of labor camps that houses 150,000 to 200,000 prisoners. They are generally arrested for no crime, sent away with no trial, never again allowed to communicate with anyone outside the camps, fed on starvation rations and forced to work until they die. Other than from one camp, according to South Korean expert Yoon Yeo-sang, no one deported to North Korea’s gulag is ever released.
As noted by Blaine Harden, author of the recently published book “Escape from Camp 14,” the North Korean gulag has existed twice as long as did the Soviet network of labor camps created by Lenin and Stalin, and 12 times as long as Hitler’s concentration camps. Yet, for the most part, “Americans don’t know anything about these camps,” Mr. Harden said. “They don’t know they exist.”
This is not, the title of the conference notwithstanding, because the gulag is all that hidden, although North Korea’s regime continues to deny its existence. In fact, as David Hawk said, a great deal is known about the camps, both from the testimony of those who have escaped and from satellite imagery. Mr. Hawk has just published the second edition of his definitive survey, also called “The Hidden Gulag,” which draws on horrifying testimony from 60 former prisoners.
The reason for the ignorance is mostly political. The United States, with a goal of keeping the peace and depriving North Korea of nuclear weapons, has not made human rights a priority. In South Korea, the gulag has been a political football between left-wing politicians favoring warmer ties with the North and right-wing politicians pushing a harder line. China, North Korea’s neighbor to the north and west, abuses the human rights of its own population and does not believe any country’s freedom to abuse its population in the same way should be interfered with.
China, in fact, is complicit in North Korea’s abuses, since it sends many defectors who have made it across the Yalu River back into North Korea, where they face punishment or, if they are repeat escapees, execution. North Korean women who have become pregnant in China often are forced to abort their children. “In cases where the pregnancy is too advanced, guards beat the infants to death or bury them alive after they are born,” writes Roberta Cohen, the chair of HRNK.
Inevitably, there remains much that is unknown. It’s impossible to be confident of a population count for the gulag, Mr. Hawk said, because it’s not clear whether deaths are outpacing deportations.
Enough is known, however, for indifference to be inexcusable. As a first step, the United Nations could establish a commission of inquiry to investigate crimes against humanity taking place inside the prison camps. As Ms. Cohen said, “It is not just nuclear weapons that have to be dismantled but an entire system of political repression.”

quarta-feira, 4 de abril de 2012

O Gulag da Coreia do Norte - Liberation (France)


Kwan-li-so, le goulag nord-coréen scruté par les Nations unies
Par ARNAUD VAULERIN
Libération (França), 4/04/2012

Au moment où la Corée du Nord s'apprête á célébrer, le 15 avril, le centième anniversaire de la naissance de son père fondateur, Kim Il-sung, deux rapports d'enquêtes et de témoignages viennent rappeler la réalité du goulag dans la dynastie des Kim. Publiés hier, les deux documents prônent une action urgente de l'ONU.

Quels sont les objectifs des rapports?
Le premier est un état des lieux et un outil juridique pour éclairer la situation des prisonniers politiques en Co-rée du Nord. Il est soutenu par une quarantaine de grandes ONG regroupées dans la Coalition mondiale pour mettre un terme aux crimes contre l'humanité en Corée du Nord (ICNK). Il exige que le mécanisme onusien des procédures spéciales soit instauré pour qu'une enquête sur les goulags soit menée de toute urgence. L'ONU avait fait usage de ce système de consultation tous azimuts pour obtenir des informations sur les personnes détenues par les Etats-Unis à Guantánamo. Le second document détaille la situation des proches de Kang Cheol-hwan et Shin Dong-hyuk, deux survivants des camps de concentration nord-coréens ayant fui au sud.

Qu'est-ce que Kwan-li-so?
C'est l'autre nom du goulag nord-coréen que l'on connaît mieux depuis la publication de Hidden Gulag en 2003 par le comité américain pour les droits de l'homme en Corée du Nord. Entre 150 000 et 200 000 personnes seraient internées dans six camps nichés dans le nord du pays. Placés sous la coupe de l'Agence de la sécurité nationale, tous sont des forteresses qui fonctionnent en autarcie. Les tortures, exécutions, travaux forcés sont le quotidien des prisonniers - adultes comme enfants -, qui doivent également affronter le froid sibérien, les dénonciations et les famines. Les rations alimentaires sont si insuffisantes qu'un ancien garde du Camp 22 a noté qu'entre 1500 et 2000 prisonniers mouraient de faim chaque année. Certains régurgitent leurs aliments, d'autres s'empêchent de déféquer pour garder le ventre plein. L'ICNK avance que 400 000 prisonniers sont morts dans ces camps depuis leur création, en 1953.

Quelles sont les victimes du goulag?
Tous ceux qui «agissent mal», «pensent mal», ont de «mauvaises fréquentations» ou pratiques religieuses, et les familles ayant des transfuges dans leur rang. Pour ce délit, Pyongyang a inventé la culpabilité par association. Ce qu'avait théorisé Kim Il-sung en 1972: «La semence des ennemis de classe, quels qu'ils soient, doit être éliminée sur trois générations.» Kim Jong-un, son petit-fils arrivé au pouvoir en décembre, a conservé les préceptes.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Capitalistas sao implacaveis: como os chineses, por exemplo...

Êpa! Já não se respeitam mais familiares de ditadores como antigamente, sobretudo em países capitalistas como a China.
Está certo que Macau é um pedaço um pouco mais capitalista do que o resto da China, com seus cassinos, sua jogatina y otras cositas más...
Mas muito mais que Hong Kong, que conserva largamente sua autonomia administrativa e política, Macau sempre foi dominado pela China (Beijing), ainda que a condução dos automóveis, se faça à maneira inglesa, como em Hong Kong. Tudo lá é estreitamente controlado pelos "comunistas" chineses, que neste caso se revelaram mais realistas que qualquer hoteleiro de Wall Street...
Paulo Roberto de Almeida

Irmão mais velho de líder norte-coreano é despejado de hotel na China

18/2/2012 18:31,  Por Redação, com agências internacionais - de Macau, China
Coreia
Kim Jong-nam tem problemas com a família na Coreia do Norte
Filho mais velho do falecido líder norte-coreano Kim Jong-il e irmão do atual líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, Kim Jong-nam foi despejado de um hotel de luxo em Macau, no sul da China, por não ter condições de pagar a fatura de US$ 15 mil, informou neste sábado um veículo da imprensa de Hong Kong. O diário “South China Morning Post”, que divulga informações surgidas inicialmente no semanário russo “Argumenty i Fakty”, relatou que Kim Jong-nam foi expulso do Grand Lapa Hotel quando a direção do estabelecimento descobriu que seu cartão de crédito fora cancelado.
Funcionários do hotel consultados pela Agência Efe assinalaram que não podem fazer comentários sobre o incidente, ainda que não os tenham negado. A imprensa escrita especula que o cancelamento do cartão de Kim Jong-nam pode ter relação com o fato de ele ter afirmado recentemente em entrevista à imprensa japonesa que seu irmão Kim Jong-Un, novo líder máximo da Coreia do Norte, não é o nome mais indicado para dirigir o país.
O filho mais velho de Kim Jong-il, líder falecido em dezembro após um ataque cardíaco, morava no 17º andar do luxuoso hotel de Macau, a cidade asiática dos cassinos, com sua esposa e filhos.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Viva a gloriosa Coreia do Norte, viva o novo heroi do povo: PCdoB dixit...

Camaradas se conhecem, se reconhecem e se admiram mutuamente.
Faz sentido esta homenagem sentida, pungente, sincera, entre totalitários desavergonhados, entre partidários do mesmo sistema ditatorial.
Gostei, sobretudo, da economia próspera, socialista, da melhoria da vida do povo coreano.
Que bonito...
Eles se amam.
Eles se merecem...

Estimado camarada Kim Jong Um
Estimados camaradas do Comitê Central do Partido do Trabalho da Coréia
Recebemos com profundo pesar a notícia do falecimento do camarada Kim Jong Il, secretário-geral do Partido do Trabalho da Coreia, presidente do Comitê de Defesa Nacional da República Popular Democrática da Coreia e comandante supremo do Exército Popular da Coreia.
Durante toda a sua vida de destacado revolucionário, o camarada Kim Jong Il manteve bem altas as bandeiras da independência da República Popular Democrática da Coreia, da luta anti-imperialista, da construção de um Estado e de uma economia prósperos e socialistas, e baseados nos interesses e necessidades das massas populares.
O camarada Kim Jong Il deu continuidade ao desenvolvimento da revolução coreana, inicialmente liderada pelo camarada Kim Il Sung, defendendo com dignidade as conquistas do socialismo em sua pátria. Patriota e internacionalista promoveu as causas da reunificação coreana, da paz e da amizade e da solidariedade entre os povos.
Em nome dos militantes e do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) expressamos nossas sentidas condolências e nossa homenagem à memória do camarada Kim Jong Il.
Temos a confiança de que o povo coreano e o Partido do Trabalho da Coreia irão superar este momento de dor e seguirão unidos para continuar a defender a independência da nação coreana frente às ameaças e ataques covardes do imperialismo, e ao mesmo tempo seguir impulsionando as inovações necessárias para avançar na construção socialista e na melhoria da vida do povo coreano.

Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB e Ricaro Abreu Alemão secretário de Relações Internacionais do PCdoB


Estes camaradas, em todo caso, são muito melhores em matéria de homenagens:



Escrito por Emmanuel Goldstein   
CAMARADAS! Sentimos profundamente a morte do camarada Kim Jong Il, nosso melhor amigo, líder e guia incomparável. É imensa e irreparável a nossa perda. Para todos nós a vida do camarada Kim simbolizava o futuro feliz e radioso, significava a certeza de outro mundo possível, em que os homens se verão definitivamente f....errados livres da exploração pelo próprio homem. A morte do camarada Kim é, por isso, uma perda excepcionalmente pesada, não apenas para o bravo povo Norte-Coreano, que, graças ao companheiro Kim, se libertou das cadeias da escravidão capitalista, mas também para os trabalhadores do mundo inteiro, para os maconheiros da USP e para toda a humanidade progressista.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Republica Surrealista Socialista da Coreia: imperdivel, para turistas endurecidos...

Já que estamos em ritmo de sucessão dinástica na Coreia do Norte, que tem como sua grande amiga uma amigona chamada China, também aliada estratégica do Brasil num tal de Brics, cabe relembrar uma matéria de Veja, da jornalista Thais Oyama, sobre esse país símbolo do comunismo ultra-stalinista.
A formatação é da Veja, e portanto, profissional; nada comparado com as improvisações feitas neste blog desconjuntado. Quem desejar ler diretamente no site da Veja, siga este link: http://veja.abril.com.br/260809/pais-mais-fechado-estranho-mundo-p-104.shtml
Paulo Roberto de Almeida

Home  »  Revistas  »  Edição 2127 / 26 de agosto de 2009


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Especial

O país mais fechado (e estranho) do mundo

A reportagem de VEJA entrou na Coreia do Norte, onde não há celular nem internet, crianças de 5 anos recitam juras de vingança contra os Estados Unidos e é proibido dobrar jornais que trazem a foto do líder Kim Jong-Il


Thaís Oyama, de Pyongyang
"O PRESIDENTE ETERNO"
Em Pyongyang, norte-coreanos reverenciam a estátua de Kim Il-sung, pai do ditador Kim Jong-Il e o único morto a presidir um país

VEJA TAMBÉM
O presidente da Coreia do Norte não aparece em público há mais de quinze anos. Mesmo assim, os 23 milhões de habitantes do país enxergam seu rosto da hora em que acordam até a hora em que vão dormir. A imagem de Kim Il-sung, o "eterno presidente", pai do atual ditador Kim Jong-Il, está nos prédios, nos vagões de trem, nas estações de metrô e no broche que 100% da população de Pyongyang, a capital da Coreia do Norte, carrega "voluntariamente" no peito. "Embora tenha falecido em 1994, o nosso presidente continua vivo em nosso coração", diz a guia que recebe a reportagem de VEJA no aeroporto de Pyongyang. Ter um presidente morto é só uma das extravagâncias que fazem da Coreia do Norte uma aberração planetária. O regime mais isolado do mundo sobreviveu à morte de seu fundador, à derrocada do comunismo e a uma gestão catastrófica que matou de fome quase 3 milhões de pessoas no fim dos anos 90. Hoje, seria apenas um fóssil grotesco não fosse o fato de seu líder estar sentado sobre a bomba atômica. Esta repórter visitou o país de Kim Jong-Il na condição de turista (a entrada de jornalistas só é permitida mediante autorização do governo, que nunca a concede), levada por uma agência de viagens chinesa juntamente com um grupo de dezenove estrangeiros. Os seis dias passados lá mostraram que, mais do que um picadeiro para as bizarrices de Kim Jong-Il, a Coreia do Norte é uma sociedade oprimida pela fome e controlada pelo medo – e isso nem mesmo a onipresente propaganda do regime consegue esconder.
A viagem aérea de Pequim a Pyong-yang leva uma hora e meia e é feita num Tupolev russo. A parte mais desconfortável é ter de equilibrar sobre as pernas uma edição do Pyongyang Times,distribuída aos passageiros, sem amassá-la nem deixá-la cair no chão. Não se trata de mania. Ainda na China e, novamente, antes do embarque, os organizadores da excursão alertaram os turistas para que não dobrassem jornais que estampassem a foto de Kim Jong-Il (caso da edição lida no avião e, pelo que se viu mais tarde, de todas as outras já rodadas no país), sob pena de "ofender gravemente" os norte-coreanos. A lista de atitudes proibidas incluía ainda falar com a população nas ruas, tirar fotografias sem permissão e perguntar aos guias nativos sobre questões como a saúde de Kim Jong-Il ou a existência de campos de concentração no país. Na chegada ao aeroporto de Pyongyang, o grupo foi obrigado a entregar os celulares e a submeter toda a bagagem a uma revista cuidadosa, destinada a evitar o ingresso de material ideologicamente suspeito. O que seria ideologicamente suspeito? Basicamente tudo. Os norte-coreanos não podem ler livros, jornais e revistas estrangeiros e, à exceção de uma reduzidíssima elite, não têm acesso à internet, celular nem a rádio ou canais de TV que não sejam os oficiais.
O QUE SE MOSTRA E O QUE SE ESCONDE
No espetáculo exibido aos turistas, meninos e meninas de menos de 6 anos de idade cantam músicas de louvor ao regime e juram vingança contra o "imperialismo americano". À direita, criança pede esmola em parque de diversões: essa a propaganda não mostra

Da janela do ônibus que leva o grupo ao hotel, a paisagem que se avista é de romance do inglês George Orwell, autor da distopia 1984: imensos pôsteres de propaganda comunista decoram as avenidas, hordas de soldados marcham nas ruas – parte das tropas entoa uma música que será ouvida à exaustão nos próximos dias, a Canção do General Kim Il-sung – e carros equipados com alto-falantes conclamam a população para o trabalho. A guia explica que o país está no penúltimo mês da "Campanha dos 150 Dias": a primeira etapa do esforço nacional destinado a fazer a Coreia do Norte crescer 20% até 2012, data em que o país celebrará os 100 anos do nascimento de Kim Il-sung. As outras atrações do percurso são a Universidade Kim Il-sung, o Estádio Kim Il-sung e a Praça Kim Il-sung, de onde é possível avistar, ao longe, a próxima parada: uma imensa estátua de bronze de Kim Il-sung, em cujos pés os recém-chegados são convidados a depositar flores. Onde quer que se olhe, lá está a imagem do presidente eterno em várias versões: sentado, com o olhar voltado para o futuro; caminhando, de mãos dadas com criancinhas; de peito empinado, entre um soldado, um camponês e alguém que carrega um livro (bingo, é o intelectual).
E onde está Kim Jong-Il, o filho?
Não demora para o visitante entender que o tirano norte-coreano, de cabelos espetados como os do cantor Chico César, é, entre os Kims, o menor. O "Querido Líder", como é chamado no país, é pouco mais do que o representante de seu pai na terra. O culto a Kim Il-sung – cujo nome não é jamais pronunciado sem um dos epítetos costumeiros: "Grande Líder", "Sol da Humanidade" ou "Inigualável Patriota" – deve-se principalmente ao fato de que, sob o seu reinado, a Coreia do Norte viveu os seus melhores dias, graças à mesada da então União Soviética. Até 1965, o PIB do país era três vezes o da Coreia do Sul e cada grão que brotava do solo era apresentado como um presente ofertado ao povo por Kim Il-sung. Quando cessou a ajuda dos camaradas russos e a grande fome do fim dos anos 90 devastou a Coreia do Norte, obrigando as embaixadas da vizinha China a instalar cercas de arame farpado para impedir que multidões de refugiados famintos pulassem os muros em busca de comida e asilo, o Grande Líder já desfrutava a paz dos mortos. Sobrou para o filho a ruína em que se transformou o país depois de décadas de isolamento e gestão calamitosa. O Chico César coreano não é exatamente um gênio da política e administração – sua opção preferencial é pelo investimento em armas nucleares. Resultado: hoje, o PIB da Coreia do Norte equivale a 3,1% do da Coreia do Sul (veja o quadro).
FANTASIA E REALIDADE
O outdoor com a maquete de um edifício inexistente ilustra a Pyongyang que a Coreia do Norte gostaria de ter; o bonde decrépito dos anos 70 revela a falta de infraestrutura da capital do país

A foto de Kim Jong-Il, ao lado da do pai, aparece pela primeira vez no hotel em que a reportagem se hospedou. O Yanggakdo, no centro de Pyongyang, tem 1 000 quartos e 47 andares. No fim da década de 80, quando a sua construção teve início, a inimiga Coreia do Sul havia começado a erguer em Cingapura o que seria um dos hotéis mais altos da Ásia. O Yanggakdo e o Ryugyong, esse último jamais terminado, vieram para mostrar que os norte-coreanos também eram capazes de fazer edifícios altos. Ainda que vazios. Na última semana do mês passado, dos 1.000 quartos, apenas quarenta estavam ocupados. No Yanggakdo, os telefonemas são monitorados, os fax recebidos são lidos antes de ser entregues ao hóspede e os cartões-postais enviados de lá podem ou não chegar ao destino, dependendo do seu conteúdo, conforme aviso dado pela agência de turismo chinesa. Antes de irem para os quartos, os turistas têm de entregar seu passaporte à guia norte-coreana, que ficará com ele até o fim da viagem.
Do alto do 38o andar, a visão que se tem de Pyongyang é a de uma bela cidade cercada de colinas. O Rio Taedong, margeado por árvores e parques, corre ao longo de boa parte da região central, o que faz com que, além de imaculadamente limpa, a cidade pareça fresca e verde. Pyongyang foi inteiramente reconstruída depois da Guerra da Coreia (1950-1953). Tem avenidas largas, monumentos grandiosos e nenhuma casa térrea, só prédios – monótonos, compactos, soviéticos. Nas avenidas centrais, as mulheres se vestem basicamente do mesmo jeito: saia azul e blusa branca, sempre com salto alto. Olhá-las caminhando nas calçadas provoca uma imediata sensação de estranhamento no recém-chegado – parece que falta alguma coisa na paisagem. E falta mesmo: além da ausência de lojas, os carros em circulação em Pyongyang são tão poucos que, entre a passagem de um e outro, seria possível comer um prato inteiro de kimchi – a apimentada conserva de acelga que é a base das refeições na Coreia do Norte. Mas nada supera o espanto causado pela visão das guardas de trânsito da capital. Postadas em pedestais instalados nos cruzamentos, elas mantêm uma frenética atividade de sinalização com a cabeça e os braços mesmo quando as ruas estão desertas – e elas sempre estão desertas. A explicação da guia para o comportamento é a seguinte: como, por muito tempo, os Estados Unidos impediram a Coreia do Norte de desenvolver seu programa de energia nuclear, o país passou a sofrer de um déficit crônico de eletricidade. Assim, as controladoras de tráfego atuam como semáforos humanos, já que o uso de similares eletrônicos seria um desperdício. E por que elas têm de gesticular sem parar mesmo quando não há um único carro na rua? A guia não sabe responder. Diz-se na Coreia do Norte que o Querido Líder em pessoa (também conhecido como "Inteligente Líder" ou "Respeitado Líder") é quem escolhe as belas guardas – dissimulados símbolos sexuais e heroínas de muitos dos filmes produzidos lá (Sentinela do Cruzamento, por exemplo, fala sobre "a dedicação ao trabalho e o terno amor das guardas pelo povo e também sobre a verdadeira supremacia do socialismo do nosso país", diz o texto que resume o enredo).
ELES ESTÃO DE OLHO EM VOCÊ
Passageiros norte-coreanos em vagão de trem com retratos de Kim Il-sung e Kim Jong-Il: pai e filho estão também nas estações de metrô, prédios e avenidas de Pyongyang

Já se disse que a Coreia do Norte é um lugar em que ninguém sorri. Um país cuja economia se encontra há quase quinze anos em estado de flagelo de fato não oferece motivos para riso. A cambaleante produção agrícola – que, mês sim, mês não, leva à interrupção do fornecimento das cotas de comida à população – e a fome crônica que já dura doze anos deixaram marcas visíveis nos norte-coreanos. Não nas moças que desfilam de salto alto pelas avenidas, mas nos passageiros que é possível espreitar no interior dos bondes decrépitos, fabricados na Checoslováquia dos anos 70, e nos camponeses, magros e encovados, que se veem na beira das estradas. Por causa da subnutrição, 64 anos depois da separação das Coreias, os comunistas do norte são, em média, 7 centímetros mais baixos do que os capitalistas do sul. A diferença fica clara na visita que o grupo faz à Zona Desmilitarizada, na cidade de Kaedong. A área é guardada por soldados norte e sul-coreanos, que chegam a ficar separados por apenas 50 centímetros de distância, a largura da faixa de concreto que delimita aquela fronteira entre as duas Coreias. Diante dos bem nutridos militares do sul – de ombros largos, capacetes, botas reluzentes e óculos escuros – é que se percebe quão esquálidos e pequenos são os famélicos soldados do norte, com seus uniformes rotos que dão a impressão de pertencer a seus irmãos mais velhos. Mas a aparente melancolia dos norte-coreanos não vem apenas do seu estômago vazio ou do justificado medo que eles têm de pisar fora da linha – e ir parar num dos seis campos de concentração do país, que abrigam estimados 150.000 prisioneiros políticos (veja ao lado o depoimento de uma ex-prisioneira de um campo de concentração norte-coreano). Há outro detalhe que ajuda a entender a aparente morbidez da população. A Coreia do Norte vive na escuridão – e não somente no sentido metafórico. Embora a cidade de Pyongyang, cartão de visita do país, seja poupada dos cortes diários de luz que atingem o resto do território, também lá o fornecimento de energia é precário. Pouco iluminados, museus, estações de metrô e vagões de trem ganham uma atmosfera lúgubre. Some-se a isso o hábito de as pessoas baixarem os olhos quando veem turistas (a curiosidade em relação ao mundo exterior é malvista pelo regime) e entende-se o motivo pelo qual todo norte-coreano parece profundamente infeliz aos olhos de um estrangeiro.
Na distopia totalitária de Kim Jong-Il, a população é dividida em três castas: a dos "leais", que compreende de 20% a 30% da população; a dos "neutros", em que se encaixam em torno de 60% dos norte-coreanos; e a dos "reacionários", ou "hostis" – que totaliza 10% ou 20% da população. É com base nessa classificação, com 56 subdivisões, que o governo define se uma pessoa pode ou não cursar a universidade, a quantidade de ração que vai receber e a ocupação que terá ao longo da vida. A família da guia da excursão, como a maioria das famílias autorizadas a morar na capital, pertence à casta privilegiada. A jovem estudou inglês e russo numa das melhores universidades de Pyongyang e já viajou para a China – prerrogativa rara, já que mesmo os moradores da capital têm de ter autorização para se deslocar de uma cidade para outra. Aos 29 anos de idade, bonita e inteligente, ela é uma autêntica representante da elite norte-coreana. Indagada se o fato de dois homens cami-nharem de mãos dadas nas ruas (como se vê vez ou outra em Pyongyang) significa que são homossexuais, ela, demonstrando genuíno espanto, negou. Depois, achando graça no desconhecimento da visitante, explicou: "No nosso país não há gays nem lésbicas".
FRONTEIRA
Os galpões azuis delimitam as duas Coreias. Postados entre eles, os magros soldados do norte

No penúltimo dia da excursão, a guia perguntou à repórter, que ela supunha ser uma turista, o que se falava no Brasil sobre a Coreia do Norte. Ouviu em resposta que as últimas notícias giravam em torno da realização de nova bateria de testes nucleares com mísseis de longo alcance e da suposta doença de Kim Jong-Il. Diante disso, a guia balançou tristemente a cabeça: "Não são mísseis, são satélites. E o nosso líder não está doente: goza de perfeita saúde. Vocês não deveriam acreditar em tudo o que dizem os Estados Unidos". Como reza a cartilha dos regimes totalitários, a Coreia do Norte elegeu seu Inimigo Número Um e faz dele uma presença tão constante no imaginário popular quanto o rosto do Inigualável Patriota nas ruas. O ódio ao inimigo não aparece apenas no Museu da Vitoriosa Guerra da Liberação da Pátria, onde uma soldada-guia exibe com orgulho pilhas de botas de combatentes americanos mortos na Guerra da Coreia. No parque de diversões que o grupo visitou, a versão norte-coreana do tiro ao alvo era um painel com a pintura de três soldados americanos em chamas. A brincadeira, da qual participavam adultos e crianças, consistia em acertar pedras nos buracos cavados na altura do peito de cada um. Em outro programa da excursão, os turistas foram convidados a assistir a um show em que crianças de 5 a 6 anos de idade cantavam, dançavam e tocavam instrumentos com perfeição. Os números incluíam um minicantor que, maquiado, levantava o punho enquanto jurava vingança contra "os imperialistas americanos" e uma minicantora e dançarina que descrevia entre bailados a felicidade que sentia pelo fato de os pais terem cumprido sua cota na Campanha dos 150 Dias e contribuído, assim, para o engrandecimento da pátria socialista. Para se apresentarem aos turistas, as crianças treinaram três horas diárias durante um ano e meio, informaram as professoras.
Segundo o hiperativo serviço de inteligência da Coreia do Sul, Kim Jong-Il está gravemente doente. Sua pouco revolucionária pança – abastecida por sushis e sopa de barbatana de tubarão, suas iguarias preferidas, conforme entregou ao mundo um de seus ex-chefs – hoje parece tão murcha quanto seu outrora eriçado topete. Se a informação for verdadeira, a Coreia do Norte terá em breve uma chance de sair da escuridão. A morte de Kim Jong-Il pode começar a pôr fim ao totalitarismo mais eficiente do mundo. O desconhecido Kim Jong-un, filho caçula de Kim Jong-Il, não seria capaz de manter, acreditam especialistas, o regime e seus dois principais pilares: o culto à personalidade dos Kims e o isolamento do país.
BELAS E INÚTEIS
Escolhidas pessoalmente por Kim Jong-Il, segundo se diz, as controladoras de trânsito mantêm sua coreografia mesmo quando as ruas estão vazias, o que é frequente em Pyongyang

Esse isolamento já começa a apresentar fendas. Indício disso seriam recentes movimentos de Kim Jong-Il – como a libertação das jornalistas americanas capturadas em março, com a intercessão do ex-presidente Bill Clinton, e a autorização para a entrada de turistas sul-coreanos em território nacional, dada na semana passada. Outro sinal seria o surgimento de uma classe de comerciantes no país. Estima-se que já existam na Coreia do Norte mais de 300 pequenos e grandes mercados de produtos contrabandeados – roupas, alimentos e mercadorias provenientes da China. O governo faz vista grossa para o negócio, já que parte do lucro acaba revertendo para ele em forma de suborno. "Assim como aconteceu na antiga União Soviética, o aparecimento de uma elite econômica, paralela à elite política, sinaliza o enfraquecimento do regime", acredita o professor sul-coreano Ji-sue Lee, da Universidade Myongji, em Seul.
Ao fim da excursão, a volta do grupo para a China é feita de trem. Na fronteira, soldados do Exército do Povo Coreano entram nos vagões para uma revista que dura quase quatro horas. Todos os passageiros têm suas malas e câmeras fotográficas vasculhadas. Soldados olham foto por foto e, sem cerimônia, apagam as imagens que não lhes agradam – em geral, cenas de pobreza em Pyongyang. Uma das soldadas para, maravilhada, diante de uma turista obesa, sentada em uma das cabines. Gesticula e chama um colega, que fita a mulher com igual admiração. Os dois sorriem para ela e balançam afirmativamente a cabeça, como que a cumprimentando pela boa fortuna – no país em que tantos perecem de fome, ser gordo é ser feliz.
AFP
BILL E KIM
Bill Clinton posa ao lado de Kim Jong-Il pouco antes da libertação das jornalistas americanas. O líder norte-coreano estaria gravemente doente

Pouco antes de embarcar no trem, esta repórter havia procurado a guia para relatar-lhe um "problema". Contou-lhe que, cumprindo a determinação recebida, havia levado com cuidado para o hotel a edição do Pyongyang Times com a foto de Kim Jong-Il. Que, durante os seis dias da excursão, manteve o jornal perfeitamente esticado sobre a penteadeira. Que, no momento de fazer as malas, achou por bem não levar o jornal e, assim... A guia acompanhou o relato arregalando progressivamente os olhos amendoados, a ponto de virarem uma perfeita circunferência. Ao final, quando soube que o jornal havia sido deixado intacto sobre a penteadeira do quarto, suspirou aliviada: "Pensei que você o tivesse jogado no lixo". Esta repórter achou graça na reação da jovem, mas o que havia visto nos seus olhos segundos antes era algo próximo do terror. A Coreia do Norte pode ser um circo, mas, para os participantes compulsórios desse espetáculo, ele está longe de ser divertido.
UM DESERTO DE CONCRETO
Com o traje que é quase um uniforme das norte-coreanas, blusa branca e saia azul, mulher conversa com amiga em meio a uma avenida vazia em Pyongyang

"Fiquei dois meses num campo de concentração"


"Resolvi fugir da Coreia do Norte depois de ver minha neta de 6 anos morrer de fome, em 1998. Fui presa nas duas primeiras tentativas. Da segunda vez, fui mandada para Chongjin (campo de concentração no norte do país), onde fiquei por dois meses. Tive sorte de sobreviver. A comida que eles dão aos prisioneiros não serve nem para os porcos: é uma mistura de água com cascas de grãos mofadas ou podres. Os guardas são treinados para nos tratar como insetos. Vi-os chutar com suas botinas a barriga de uma jovem grávida capturada na China. Gritavam que ela carregava o filho de um chinês no ventre. O bebê nasceu e eles o deixaram chorando num canto até que morresse. Escapei porque adoeci gravemente e meu irmão subornou guardas para que dissessem que eu havia morrido. Moro em Seul há oito anos. Na Coreia do Norte, eles dizem que a sociedade daqui é doente e decadente e que lá é o paraíso dos trabalhadores. Como eles podem enganar as pessoas assim?"
Jong Bok Soon, de 63 anos

"Há os que fogem e depois voltam. 
Acho que essas pessoas são loucas"


"Eu era criança e estava visitando a fábrica em que meu pai trabalhava. Peguei um graveto e escrevi no chão de areia: ‘Kim Il-sung’. O chefe do meu pai viu e ficou furioso: ‘Como você escreve o nome do Grande Líder no chão?’. Tive medo e comecei a esfregar os pés na areia para desmanchar o que havia escrito. Isso o deixou ainda mais furioso: eu não devia estar usando os meus pés para apagar aquele nome. Lembro do meu pai se ajoelhando diante do chefe e implorando para que não me denunciasse. Consegui fugir de lá há sete anos. Sei de pessoas que escapam da Coreia do Norte e voltam, dizendo-se decepcionadas. Isso acontece porque a imagem que elas têm da Coreia do Sul é aquela que veem nas novelas contrabandeadas, em que todos são ricos. Quando chegam, percebem que é preciso encontrar emprego, um lugar para morar e, aí, resolvem voltar. Eu acho que essas pessoas são loucas."
Oh Sun Hwan (nome fictício), de 32 anos

"Não tinha nenhum sonho, não vim 
atrás de liberdade. Fugi para sobreviver"


"Em 1999, eu, minha mãe e meu irmão fugimos para a China. Minha mãe se casou com um chinês e nós moramos com ele por três anos, até que vizinhos nos denunciaram, a polícia apareceu no meio da noite e fomos mandados de volta para a Coreia do Norte. Pouco depois, conseguimos fugir novamente e chegar a Seul. Não tinha nenhum sonho, não vim em busca de liberdade – só queria sobreviver. Entre 1997 e 1998, minha avó, meu avô e meu pai morreram de fome. Atualmente, estudo psicologia na Universidade Sogang. No começo, eu me sentia incomodada ao ouvir colegas se referirem de maneira desrespeitosa a Kim Il-sung e a Kim Jong-Il. Também ficava confusa quando diziam que muita coisa do que eu havia aprendido lá não era verdade. Hoje, não tenho mais tanto respeito por Kim Jong-Il. Mas continuo admirando Kim Il-sung. Ele é como se fosse o nosso pai."
Keum Ju (nome fictício), de 24 anos

"Passei trinta anos sequestrado na Coreia do Norte


"Eu cresci na Coreia do Sul e sobrevivi a duas guerras: lutei na da Coreia e na do Vietnã, ao lado dos americanos. Quando voltei do Vietnã, em 1975, no meu primeiro dia de trabalho num barco pesqueiro, fui sequestrado por norte-coreanos com outros 32 homens. Fiquei trinta anos naquele país. Eles usam os sequestrados para fazer propaganda do regime: somos apresentados como se tivéssemos deixado a Coreia do Sul voluntariamente. Em 2005, meus irmãos conseguiram subornar um traficante para me trazer de volta. O traficante disse que traria também minha família – eu constituí uma na Coreia do Norte –, mas nunca cumpriu a promessa. Soube depois que, por causa de minha fuga, minha mulher e meus filhos foram mandados para um campo de concentração. Nunca mais tive notícias deles."
Goh Myong Seop, de 65 anos