O artigo que segue abaixo é do colunista gaúcho Percival Puggina.
Subscrevo cada uma de suas palavras, mas concordo com um leitor dele, Dalton Catunda Rocha (transcrito ao final), que dá as razões porque não ocorrerá o mesmo agora que ocorreu em 1992.
Infelizmente é assim: o Brasil se encontra dominado por um partido totalitário, que conseguiu controloar, e manipula, várias instituições (inclusive a Suprema Corte), e por políticos mais interessados em ganhos materiais do que na defesa dos valores da democracia, da verdade, da probidade administrativa.
Infelizmente é assim: temos de reconhecer que não vai ocorrer, não, pelo menos, nas condições atuais. A crise não é ainda grave o suficiente para incitar os donos do poder a tomar outras atitudes, nem para despejar os donos do poder, inclusive porque não temos oposição, ou estadistas à altura para conduzir o país para fora do horror em que se encontra atualmente.
Vamos ter de conviver por muito tempo mais com corrupção, com mentiras, com falcatruas, com pessoas sem caráter ocupando os mais altos cargos da república, enquanto mafiosos controlam as rédeas do poder de maneira oculta.
Paulo Roberto de Almeida
A FALSA "SACRALIDADE" DOS MANDATOS PRESIDENCIAIS
por Percival Puggina. Artigo publicado emTenho encontrado pessoas que, diante das mobilizações em favor do impeachment da presidente Dilma, expressam preocupação com a intangibilidade, espécie de "sacralidade", que adornaria o mandato de quem ocupa, simultaneamente, as funções de chefe de Estado e de governo.
É um sentimento de parte da população. Menos de 10% dos brasileiros aprovam o governo da presidente. No entanto, cerca de 30% discordam de seu impeachment. No valão desse sentimento, o petismo se entrincheira e opera para atacar como golpista quem pede às instituições da República o cumprimento dos ritos que podem levar à perda do mandato presidencial. Note-se, a propósito: são tantos os motivos para essa punição que ela pode ocorrer pela via judicial e pela via parlamentar.
Países que adotam o parlamentarismo substituem governantes com facilidade, inclusive por mau desempenho, permitindo a rápida superação, sem traumas, de crises políticas e administrativas. Em muitos deles, democracias estáveis, legislaturas podem ser interrompidas por convocação extemporânea de eleições parlamentares para atender alterações das tendências da opinião pública. Para que um primeiro-ministro caia do posto basta perder o apoio da maioria parlamentar. Faço estas referências para mostrar que, em boas e sólidas democracias, os mandatos não se revestem da mesma blindagem em nome da qual, entre nós, até grandes culpas e proverbiais incompetências pretendem ser relevadas. Pergunto: seria essa uma irredutível imposição do presidencialismo? Não! A Constituição Federal e a legislação complementar regulam perfeitamente o processo de impeachment e a natureza dos crimes que levam à perda dos mandatos.
Estou usando neste texto de modo intencional e entre aspas o vocábulo "sacralidade" como um suposto atributo dos mandatos, embora, mais adequadamente, devesse usar a palavra "respeito". Mas se "sacralidade" é um vocábulo que certamente cairia no gosto do Advogado Geral da União para defender a presidente, ele serve ainda melhor a mim para justificar o processo de impeachment.
Assim como só pode ser respeitado aquele que se dá o respeito, não há como considerar sagrado, respeitável, intangível, revestido de dignidade, o mandato de quem antecipadamente proclamou que "faria o diabo na hora da eleição". E fez! Incontáveis vezes. Antes, durante e depois da eleição, conforme abundantemente comprovado nos documentos escrutinados pelo TSE e pelo TCU. Afinal, quem não viu os usos, abusos e mentiras que varreram o país e conspurcaram a sacralidade (esta sim) do pleito de 2014?
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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
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Comentário de Dalton Catunda Rocha .