Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
Boa relação com Trump é suficiente para garantir acordo comercial?
Carlos Gustavo Poggio
Dentre as mais importantes metas anunciadas para o encontro entre Bolsonaro e Trump na próxima semana está a indicação de possíveis acordos econômicos entre Brasil e Estados Unidos. Ainda que não esteja claro quais exatamente os objetivos do governo Bolsonaro nesse campo, para alguém que chegou ao poder prometendo um aprofundamento das relações com os Estados Unidos, a busca por algum tipo de acordo comercial faria sentido.
A boa notícia para Bolsonaro é que a relação pessoal com Trumpdeve fluir de forma positiva. A má notícia é que isso não deve ter muita importância.
Um fator que não pode ser negligenciado em qualquer negociação com os Estados Unidos é a importância do Congresso americano em questões de política externa. Acordos que necessitam de aprovação do Congresso têm um tempo próprio. É extremamente comum serem iniciados com um presidente e finalizados por outro.
As negociações para o NAFTA, por exemplo, começaram por iniciativa do presidente mexicano Carlos Salinas em 1990, mas o tratado foi assinado nos estertores do governo do Republicano George Bush em 1992 e ratificado pelo Congresso apenas sob o Democrata Bill Clinton, em 1993. Importante notar que, mesmo após anos de negociação e apoio de dois presidentes de partidos diferentes, o NAFTA foi aprovado com uma margem de apenas 34 votos na Câmara dos Representantes, que conta com 435 membros.
Da mesma forma, Peru e Colômbia iniciaram conversas com os Estados Unidos sob a presidência de Bush-filho, mas esses acordos foram implementados apenas durante o governo Obama. O caso do Chile é ainda mais gritante. Desde 1992 os chilenos almejavam um tratado comercial com os Estados Unidos, e Bill Clinton chegou a concordar em incluir o Chile no NAFTA. Porém, Clinton encontrou dificuldades no Congresso e o Chile acabou assinando acordos separados com o Canadá e com o México, mas não com os Estados Unidos. Apenas em 2003, com Bush, o Chile finalmente conseguiria assinar um acordo comercial com o país norte-americano.
A menção a esses casos passados também serve para ilustrar as dificuldades na comparação com o atual contexto. Quando o NAFTA foi aprovado, Clinton estava em seu primeiro ano de mandato e contava com sólida maioria Democrata na Câmara e no Senado. Além disso, o Democrata foi eleito com um discurso que enfatizava as virtudes do livre-comércio. Mesmo nessas condições, menos da metade dos Democratas nas duas casas legislativas votaram a favor do NAFTA.
O principal crítico do acordo durante a campanha presidencial de 1992 era Ross Perot, um milionário populista sem experiência política que se vendia como um “outsider” e concorreu como candidato independente. Perot acabou tendo a melhor performance da história entre os candidatos independentes à presidência dos Estados Unidos ao angariar quase 20% dos votos naquela eleição. O bom desempenho de Perot, tirando votos sobretudo dos setores mais conservadores do eleitorado, é considerada uma das principais razões pela não-reeleição de Bush.
Desde 2016, o cenário é bastante distinto. Os Republicanos elegeram um presidente que lembra mais Perot que Bush. O partido Democrata, por outro lado, está cada vez mais distante das visões liberais de Clinton, com um número crescente de apoiadores que se auto denominam socialistas. Dentre os candidatos do partido que têm se apresentado para as eleições de 2020, poucos defendem abertamente o livre-comércio.
Em 2016, Hillary Clinton encontrou dificuldades para bater Bernie Sanders pela nomeação do partido Democrata. Sanders teve como uma de suas principais bandeiras de campanha naquele ano a rejeição ao Tratado Transpacífico (TPP), negociado por Obama com o apoio de Clinton. Sanders já está novamente em campanha e suas posições são hoje mais populares no partido do que as de Hillary Clinton, que por sua vez já anunciou que está fora da disputa pela presidência.
As eleições de 2020 podem ser as primeiras da história recente dos Estados Unidos sem nenhum candidato dos principais partidos a empunhar a bandeira da liberalização comercial. Nesse contexto, as condições para um acordo do Brasil com os Estados Unidos são muito menos auspiciosas que as encontradas pelos países Latino-Americanos mencionados acima. E o Brasil, ao contrário de México, Peru, Colômbia e Chile, ainda teria que equacionar restrições impostas pelo Mercosul.
Além disso, o grau de polarização no atual ambiente político nos Estados Unidos é consideravelmente mais alto do que no passado recente, o que tem levado a constantes paralisias no governo americano e cada vez menos cooperação entre os dois partidos no Congresso.
Um exemplo para se prestar atenção é o caso do novo NAFTA (rebatizado como USCMA), renegociado por Trump e atualmente parado no Congresso com poucas chances de ser aprovado sem modificações relevantes. Já circulam comentários em Washington que a líder do partido Democrata e presidente da Câmara Nancy Pelosi não facilitaria a aprovação do acordo, isto que isso seria visto como uma vitória de Trump. Isso é uma pequena ilustração de como a polarização política tem impedido a construção de consensos domésticos nos Estados Unidos.
A conclusão óbvia é que, se o governo brasileiro considerar que seu único interlocutor é Trump, estará cometendo um erro colossal. Adicionalmente, se levarmos em conta o histórico da atual presidência americana em termos de negociações comerciais, o governo brasileiro deveria ter razões adicionais para ser cauteloso. Trump tem uma visão basicamente mercantilista das relações internacionais, que interpreta a existência de déficits comerciais como uma evidência de que os demais países tiram vantagens dos Estados Unidos.
Um alerta para o Brasil nesse sentido foi a recente decisão do governo Trump de suspender o tratamento tarifário preferencial dado à Índia por fazer parte do Sistema Geral de Preferências (SGP), que beneficia países em desenvolvimento, e do qual o Brasil também é parte. A alegação da administração Trump foi que a Índia não teria sido capaz de assegurar aos Estados Unidos, que tem um déficit comercial de mais de 20 bilhões de dólares com o país, um “acesso razoável e equitativo” ao mercado indiano. Isso, apesar de o país ser um importante aliado dos Estados Unidos e o primeiro-ministro Narendra Modi ter boa relação pessoal com Trump.
A vantagem de Bolsonaroé que os Estados Unidos possuem um superávit comercial com o Brasil que mais do que dobrou entre 2016 e 2018. Mas isso não vai adiantar de nada se o presidente não agir estrategicamente e priorizar relações pessoais de curto prazo.
*Carlos Gustavo Poggio é professor dos cursos de relações internacionais da FAAP e da PUC-SP, do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas, e coordenador do NEPEU – Núcleo de Estudos sobre a Política Externa dos Estados Unidos.
Bem, pelo menos começaremos o ano com o presidente contado 0 km de mentiras. Vamos seguir para fazer como o Washington Post em relação ao super-hiper-mega mentiroso do Trump: ele consegue contar 15 mentiras POR DIA.
Nunca antes na história daquele país, o cargo de presidente tinha descido tão baixo na escala da mentira, das falcatruas, das manipulações, dos exageros, das trapaças deliberadas, um caso patológico, sem nenhuma dúvida.
Vamos criar um mentirômetro similar para o caso do Brasil...
Paulo Roberto de Almeida
Tubarão, 31/12/2018
A year of unprecedented deception: Trump averaged 15 false claims a day in 2018
President Trump’s year of lies, false statements and misleading claims started with some morning tweets.
Over a couple of hours on Jan. 2, Trump made false claims about three of his favorite targets — Iran, the New York Times and Hillary Clinton. He also took credit for the “best and safest year on record” for commercial aviation, even though there had been no commercial plane crashes in the United States since 2009 and, in any case, the president has little to do with ensuring the safety of commercial aviation.
The fusillade of tweets was the start of a year of unprecedented deception during which Trump became increasingly unmoored from the truth. When 2018 began, the president had made 1,989 false and misleading claims, according to The Fact Checker’s database, which tracks every suspect statement uttered by the president. By the end of the year, Trump had accumulated more than 7,600 untruths during his presidency — averaging more than 15 erroneous claims a day during 2018, almost triple the rate from the year before.
Even as Trump’s fact-free statements proliferate, there is growing evidence that his approach is failing.
Fewer than 3 in 10 Americans believe many of his most-common false statements, according to a Fact Checker poll conducted this month. Only among a pool of strong Trump approvers — about 1 in 6 adults in the survey — did large majorities accept several, though not all, of his falsehoods as true.
Similarly, a November Quinnipiac poll found 58 percent of voters saying Trump wasn’t honest, compared with just 36 percent who said he was honest. The same poll found 50 percent saying he is “less honest” than most previous presidents, tying his own record for the highest share of registered voters saying so in Quinnipiac polling.
“When before have we seen a president so indifferent to the distinction between truth and falsehood, or so eager to blur that distinction?” presidential historian Michael R. Beschloss said of Trump in 2018.
Beschloss noted that the U.S. Constitution set very few guidelines in this regard because the expectation was that the first president would be George Washington and he would set the tone for the office. “What is it that schoolchildren are taught about George Washington? That he never told a lie,” the historian said. “That is a bedrock expectation of a president by Americans.”
Trump began 2018 on a similar pace as last year. Through May, he generally averaged about 200 to 250 false claims a month. But his rate suddenly exploded in June, when he topped 500 falsehoods, as he appeared to shift to campaign mode. He uttered almost 500 more in both July and August, almost 600 in September, more than 1,200 in October and almost 900 in November. In December, Trump drifted back to the mid-200s.
Trump’s midsummer acceleration came as the White House stopped having regular press briefings and the primary voice in the administration was Trump, who met repeatedly with reporters, held events, staged rallies and tweeted constantly.
Trump is among the more loquacious of recent presidents, according to Martha Kumar, professor emerita at Towson University, who has kept track of every presidential interaction with the media, dating to Ronald Reagan. Through Dec. 20, Trump held 323 short question-and-answer sessions with reporters, second only to Bill Clinton through the first 23 months, and granted 196 interviews, second to Barack Obama.
More than a quarter of Trump’s claims were made during campaign rallies. On Nov. 5, the day before the midterm elections, for instance, Trump held three rallies, yielding a total of 139 false or misleading claims. A review of every statement made by Trump at two of his earlier 2018 rallies found that he exaggerated or made up at least 70 percent of his assertions.
Almost as many false claims came during remarks at press events, and about 17 percent were the result of his itchy Twitter finger.
The president often makes statements that are disconnected from his policies. He said his administration did not have a family separation policy on the border, when it did. Then he said the policy was required because of existing laws, when it was not.
The president also simply invents faux facts. He repeatedly said U.S. Steel is building six to eight new steel plants, but that’s not true. He said that as president, Obama gave citizenship to 2,500 Iranians during the nuclear-deal negotiations, but that’s false. Over and over, Trump claimed that the Uzbekistan-born man who in 2017 was accused of killing eight people with a pickup truck in New York brought two dozen relatives to the United States through “chain migration.” The real number is zero.
In one of his more preposterous statements of 2018, Trump labeled the Palm Beach Post as “fake news” for blaming him for traffic jams across the nation — when an article about the effect of low gas prices on driving habits never mentioned his name.
Sometimes, Trump simply attempts to create his own reality.
When leaders attending the U.N. General Assembly burst into laughter when Trump uttered a favorite false claim — that his administration had accomplished more in less than two years than “almost any administration in the history of our country” — the president was visibly startled and remarked that he “didn’t expect that reaction.” But then he later falsely insisted to reporters that the boast “was meant to get some laughter.”
In an October interview with the Wall Street Journal, Trump emphatically denied he had imposed many tariffs. “I mean, other than some tariffs on steel — which is actually small, what do we have? . . . Where do we have tariffs? We don’t have tariffs anywhere,” he insisted. The newspaper responded by printing a list of $305 billion worth of tariffs on many types of U.S. imports.
Trump exaggerates when the facts are on his side.
He routinely touts a job-growth number that dates from his election, not when he took office, thus inflating it by 600,000 jobs. And although there’s no question Trump can draw supporters to his rallies by the thousands, he often claims pumped-up numbers that have no basis in fact. At a Tampa rally, he declared that “thousands of people” who could not get in were watching outside on a “tremendous movie screen.” Neither a crowd of that size nor the movie screen existed.
The president even includes references to The Fact Checker in his dubious remarks.
On Oct. 18, in Missoula, Mont., Trump falsely said that no one challenges his description of the Democrats as the party of crime. “Democrats have become the party of crime. It’s true. Who would believe you could say that and nobody even challenges it. Nobody’s ever challenged it,” he said.
But then he had an unusual moment of doubt. “Maybe they have. Who knows? I have to always say that, because then they’ll say they did actually challenge it, and they’ll put like — then they’ll say he gets a Pinocchio.”
Meg Kelly and Salvador Rizzo contributed to this report.
Futuro chanceler está perto de Trump e longe da China
Escolhido para chefiar Itamaraty diz que mudança climática é uma trama marxista para favorecer País asiático
Lu Aiko Otta, O Estado de S.Paulo
16 Novembro 2018 | 05h00
O futuro chanceler brasileiro, o embaixador Ernesto Fraga Araújo, de 51 anos, acredita que a mudança climática é um dogma científico influenciado por uma cultura marxista que quer atrapalhar o ocidente e favorecer a China. “Esse dogma vem servindo para justificar o aumento do poder regulador dos Estados sobre a economia e o poder das instituições internacionais sobre os Estados nacionais e suas populações, bem como para sufocar o crescimento econômico nos países capitalistas democráticos e favorecer o crescimento da China”.
A tese publicada em seu blog, o Metapolítica 17, no último dia 12 de outubro, revela a aversão à esquerda do futuro ministro das Relações Exteriores. Em ensaios e artigos, Ernesto Araújo coloca a China como um inimigo do desenvolvimento do Ocidente. Ele afirma que o “globalismo” tem entre seus projetos “transferir o poder econômico” do Ocidente para o País asiático e que esse movimento era algo que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estaria tentando evitar.
O “globalismo”, diz o futuro chanceler, “surgiu quando alguém entendeu que o consumismo era o melhor caminho para o comunismo” e a ideia de um mundo onde não haveria fronteiras para o comércio e o investimento avançou para um mundo no qual os países não têm mais identidade. “É a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural”.
O futuro chanceler afirma que o “marxismo cultural” estaria transformando os seres humanos em uma “paçoca maleável” incapaz de assumir um papel social ou ter ideias “que não sejam os chavões politicamente corretos veiculados na mídia”. Esse processo estaria enfraquecendo o Ocidente não do ponto de vista econômico ou militar, mas do ponto de vista da identidade, do “espírito”. Por isso, ele afirma que o “globalismo” é “anti-humano” e “anticristão”.
Em artigo publicado na revista do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais (Ipri), ele sustenta que Trump é um raro líder que identificou o processo de decadência do Ocidente e decidiu reagir. É nesse contexto que Trump estaria travando sua guerra contra a China.
A China, diz ele num post, está até hoje sob um sistema de dominação “disfarçado de pragmatismo e abertura econômica”. Em outro post, ele menciona o maoísmo. “Haddad é o poste de Lula. Lula é o poste de Maduro, atual gestor do projeto bolivariano. Maduro é o poste de Chávez. Chávez era o poste do Socialismo do Século XXI de Laclau. Laclau e todo o marxismo disfarçado de pós-marxismo é o poste do maoísmo. O maoísmo é o poste do inferno. Bela linha de transmissão”, escreveu. Ernesto Laclau era um teórico político argentino identificado como “pós-marxista” que viveu entre 1935 e 2014.
No artigo, Araújo diz que, além de uma política externa, o Brasil precisa de uma metapolítica externa, “para que possamos situar-nos e atuar naquele plano cultural-espiritual em que, muito mais do que no plano do comércio ou da estratégia político-militar, estão-se definindo os destinos do mundo.”
O quanto das ideias de Araújo será transferido para a prática da política externa brasileira ainda não se sabe. A sua escolha não foi propriamente uma surpresa no Itamaraty, já que ele era cotado há várias semanas para o cargo. Mas avaliava-se que, pelo fato de ser um diplomata recém-promovido a embaixador, ele deveria perder o posto para algum colega mais experiente e ocupar alguma outra posição na equipe do presidente eleito.
A ruptura dessa lógica causou mal-estar e preocupação. Porém, os diplomatas são treinados para seguir instruções com um rigor semelhante ao dos militares. Até para proteger a instituição, o sentimento predominante é o de “dar uma força” ao jovem chanceler.
Procurado, Araújo não se manifestou. As assessorias do Itamaraty e da equipe de transição informaram que, por ora, ele não concederá entrevistas.