Década Perdida (Carrasco et al.)
Blog de José Roberto Afonso, Sexta, 01 Agosto 2014
Apenas um destaque do sumário: "... o desempenho brasileiro, quando medido em relação ao melhor grupo de
comparação entre emergentes, foi, em geral, muito aquém do que poderia
ter sido.
Em suma, o Brasil avançou, mas poderia ter avançado muito mais.
Neste sentido a década foi perdida."
Será que os companheiros vão pedir a cabeça dos pesquisadores?
Paulo Roberto de Almeida
A década perdida: 2003 - 2012
por
Vinicius Carrasco, João M. P. de Mello e Isabela Duarte
publicado pela PUC Rio; link:
http://www.econ.puc-rio.br/uploads/adm/trabalhos/files/td626.pdf
Exceto pelo mercado de trabalho, em todas as
outras dimensões socioeconômicas relevantes, o Brasil foi tão bem quanto
ou, mais frequentemente, pior do que o melhor grupo de comparação...Em
suma, crescemos menos e assentamos bases mais frágeis para o futuro do
que países similares.
Sumário O economia brasileira avançou na década seguinte à chegada ao poder do ex‐presidente Lula. Ainda mais importante foi o avanço nos temas sociais. Não obstante, o desempenho brasileiro, quando medido em relação ao melhor grupo de comparação entre emergentes, foi, em geral, muito aquém do que poderia ter sido. Tendo recebido um choque de renda externa mais generoso, o Brasil, em relação ao melhor grupo de comparação:
1) cresceu, investiu e poupou menos;
2) recebeu menos investimento estrangeiro direto e adicionou menos valor na indústria;
3) teve mais inflação;
4) perdeu competitividade e produtividade, avançou menos em Pesquisa e Desenvolvimento e piorou a qualidade regulatória;
5) foi pior ou igual em quase todos os setores importantes;
6) a distribuição de renda, a fração de pobres, e a subnutrição caíram em linha ou um pouco menos;
7) a escolaridade avançou menos, a despeito de maiores gastos;
8) a saúde andou em linha.
Fomos melhor no mercado de trabalho, onde avançamos na margem mais fácil: colocar as pessoas para trabalhar.
Em suma, o Brasil avançou, mas poderia ter avançado muito mais.
Neste sentido a década foi perdida.
Palavras Chave : Contrafactual; Avaliação de Desempenho; Grupo de Controle Sintético
Índice:
1. Introdução ............... 5 2 O Desempenho relativo do Brasil ...... 13 2.1 Crescimento Econômico ................. 13 2.2 Condições estruturais ...................... 24 2.2.1 O Maná Externo............................ 24 2.2.2 O Maná Interno ........................... 27 2.3 Produtividade ................................. 29 2.3.1 O que explica o pior desempenho relativo do produto médio do trabalho no Brasil? .. 31 2.3.2 Produtividade Marginal do Capital e Infraestrutura ........... 36 2.3.3 Produtividade Agregada .............. 42 2.4 Instituições .................................... 46 2.4.1 Resumo: Construindo o Futuro? ...... 49 2.5 Desempenho Macroeconômico Comparado ......... 50 2.5.1 Inflação e Câmbio .................... 50 2.5.2 Poupança .................................. 52 2.5.3 Competitividade Internacional, Exportação e Importação ....... 53 2.5.4 Desempenho Fiscal .................. 59 2.5.5 Política Monetária e Juros........ 63 2.5.6 Setor Externo, Reservas e Balanço .......... 64 2.6 Análise Setorial .................... 67 2.6.1 Indústria ............................. 67 2.6.2 Setor Elétrico ..................... 69 2.6.3 Intermediação Financeira... 72 2.6.4 Agricultura ........................ 74 2.6.5 Mineração ......................... 76 2.6.6 Gás e Petróleo ................... 78 2.6.7 Telecomunicações ............ 82 2.6.8 Resumo da Análise Setorial ....... 85 2.7 Progresso Social ................ 86 2.7.1 Mercado de Trabalho, Emprego e Renda do Trabalho ......... 87 2.7.2 Educação ..................... 93 2.7.3 Segurança Pública ................. 96 2.7.4 Saúde ................................... 98 2.7.5 Desigualdade e Pobreza .................... 103 3 Conclusão ............................. 108 Referências .............................. 110 Apêndice A: Metodologia ....... 112 Apêndice B: Dados e Construção dos Grupos de Controle Sintéticos ...... 117 Apêndice C: Placebos para o PIB per capita ........... 133
E agora um destaque do conteúdo:
Resumindo os resultados, encontramos os seguintes fatos. A partir de 2003, os termos de troca do Brasil, assim como de vários países emergentes, melhoraram substancialmente, impulsionados pelo aumento do preço de commodities agrícolas e minerais. De fato, o Brasil recebeu um maná externo mais generoso do que os outros países emergentes. No entanto, tivemos um desempenho econômico inferior ao do melhor grupo de comparação em quase todas as dimensões relevantes. Em particular, o PIB per capita cresceu menos e o investimento cresceu substancialmente menos do que o melhor grupo de comparação. A produtividade, principal fonte de crescimento de longo‐prazo de uma país, cresceu menos do que no melhor grupo de comparação. A Produtividade Total dos Fatores (TFP, da sigla em inglês), uma medida de produtividade agregada,piorou tanto em termos relativos comoem termos absolutos. Em linha com a evolução da TFP, a produção científica cresceu menos do que no melhor grupo de comparação. O investimento em infraestrutura foi também aquém daquele obtido pelo melhor grupo de comparação. O investimento estrangeiro direto foi menor do que no melhor grupo de comparação. Na macroeconomia, melhoramos nas dimensões fiscal, posição externa e política monetária, mas quase sempre em linha com o melhor grupo. Tivemos mais inflação do que o melhor grupo de comparação, o que é particularmente notável dado que crescemos menos. Ou seja, menos crescimento e mais inflação. Nos quesitos institucionais também fomos mal. A qualidade institucional, medida pelo índice de Qualidade Regulatória do Banco Mundial, piorou muito em relação ao melhor grupo de comparação. Em realidade, a qualidade regulatória piorou também em termos absolutos. A percepção corrupção piorou em relação ao melhor grupo de comparação. Em suma, em termos de investimento, produtividade e construção institucional, o legado econômico para o futuro é, na melhora das hipóteses, desalentador. Avaliamos também vários setores importantes para a economia brasileira, como setor elétrico, mineração, telecomunicações, infraestrutura, petróleo e gás, e setor bancário. Com a honrosa exceção das telecomunicações – setor inteiramente privatizado no final dos anos 1990 – em todos esses casos o desempenho brasileiro foi abaixo ou igual ao do melhor grupo de comparação. A disponibilidade de dados determina a escolha dos setores que analisamos. Estudamos todos os setores importantes para os quais há um painel de dados com pelo menos 5 países disponível desde pelo o ano 2000. Nos quesitos sociais, o Brasil avançou tanto quanto o melhor grupo de comparação. Renda do trabalho e emprego são as duas estrelas. O aumento da participação no mercado de trabalho é maior do que no melhor grupo de comparação. A participação da renda do trabalho na renda aumentou, mas isso não adveio de aumentos no salário mínimo real, que andou em linha com o melhor grupo de comparação, mas sim do aumento da participação na força de trabalho e do emprego. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) melhorou em linha com o melhor grupo de comparação. A queda da desigualdade de renda, menina dos olhos dos governos Lula e Dilma, foi menor do que no melhor grupo de comparação. A pobreza caiu em linha com o melhor grupo de comparação. A educação foi um pouco pior, a saúde em linha e a segurança pública bem pior. Novamente, a disponibilidade de dados determinou a escolha das variáveis socais. Olhamos todas as variáveis para as quais há um painel de no mínimo 5 países desde 2000. Por exemplo, um quesito importante que faltou foi o déficit habitacional. Simplesmente não encontramos informações para a construção do melhor grupo de comparação.
Em suma, em relação aos melhores grupos de comparação, deveríamos estar mais ricos e, principalmente, poderíamos ter construído bases mais sólidas para a prosperidade futura se tivéssemos investido o mesmo que o melhor grupo de comparação, tanto na formação de capital físico quanto de capital humano. Por fim, comprometemos inutilmente as bases da prosperidade futura piorando o arcabouço institucional do país, enquanto o melhor grupo de comparação melhorou ao longo da década. Tivemos alguns importantíssimos avanços nos quesitos sociais. Não avançamos, no entanto, em termos relativos. Em suma, colhemos as frutas que estavam baixas na árvore: colocamos as pessoas para trabalhar, o que aumentou a massa salarial e a renda dos trabalhadores. Isso é bom, mas certamente insuficiente para criar crescimento sustentável no longo prazo. Em quase todas as outras dimensões fomos mal relativamente.
(p. 10-12)