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sexta-feira, 22 de março de 2019

Academia Brasileira de Letras: Joaquim Nabuco


ABL dá início a suas atividades culturais de 2019 com o ciclo de conferências ‘Presenças Fundamentais’

A Academia Brasileira de Letras abriu, no dia 21 de março, quinta-feira, no Teatro R. Magalhães Jr. (Avenida Presidente Wilson, 203, Castelo, Rio de Janeiro), com o tema “Presenças Fundamentais”, a temporada 2019 de seus ciclos de conferências, sob coordenação-geral da Acadêmica e escritora Ana Maria Machado, Primeira-Secretária da ABL.
A palestra de abertura, intitulada O lugar de Machado de Assis na literatura brasileira, coordenada pelo Acadêmico Marco Lucchesi, Presidente da ABL, teve como conferencista o Acadêmico Domício Proença Filho. Jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, Machado de Assis foi o fundador da cadeira nº. 23 e ocupou por mais de dez anos a Presidência da Academia, que passou a ser chamada também de Casa de Machado de Assis.
O ciclo terá mais duas conferências, sempre às quintas-feiras, no mesmo local e horário: Nabuco: uma visão do passado brasileiro, tendo como palestrante o Acadêmico Evaldo Cabral de Mello; e Rui Barbosa, 170 anos, dimensão da atualidade do seu percurso, com o Acadêmico Celso Lafer.
Foram fornecidos certificados de frequência.
A Acadêmica Ana Maria Machado é a Coordenadora-Geral dos ciclos de conferências de 2019.

OS CONFERENCISTAS

Domício Proença Filho é Professor Emérito e Professor Titular de Literatura Brasileira da Universidade Federal Fluminense, aposentado; Doutor e Livre-Docente em Letras; Doutor Honoris Causa pela Universidade Clermont Auvergne, da França.
Lecionou Literatura Brasileira, Teoria Literária e Língua Portuguesa em diversos outros estabelecimentos de ensino superior e médio, entre eles, a UFRJ e a PUC o Rio de Janeiro. Como Professor Titular Convidado (Gastprofessor), ministrou cursos na Universidade de Colônia e na Escola Técnica de Altos Estudos de Aachen.
Coordenou, a convite da Missão Permanente do Brasil na ONU, o Primeiro Encontro das Academias de Letras dos países da CPLP, realizado na sede da Organização, em Nova Iorque, em 2018. Participou, como conferencista e debatedor, deste encontro e de seminários e cursos promovidos por instituições de ensino superior e centros de estudos em Lisboa, Coimbra, Porto, Colônia, Tübingen, Munique, Roma, Bolonha, Pádua, Madri, Salamanca, Paris, Clermont Ferrand, Belgrado, Novi Saád, Nova Iorque e Minnesota.
É também crítico, ensaísta, poeta, ficcionista, roteirista e autor de projetos culturais.
Publicou, até o momento, 68 livros, entre eles:
Ensaios críticos: Estilos de época na literatura, a linguagem literária, Leitura do texto, leitura do mundo (Prêmio Astrogildo Pereira de crítica, da União Brasileira dos Escritores–RJ, 2016); verbetes e monografias das áreas de Teoria Literária e de Literatura Brasileira da Enciclopédia Século XX, de que foi diretor de texto; cinco capítulos da História da Literatura Brasileira (Lisboa, 1999), dirigida por Sílvio Castro);
Poesia: Oratório dos Inconfidentes; Dionísio esfacelado-Quilombo dos Palmares, (Prêmio de poesia, da União Brasileira dos Escritores-RJ 2017), O risco do jogo, este com edição espanhola na coleção Piel de Sal, da Editora Celesta, que reúne obras de Valéry, Cummings, John Donne, Quevedo, Eliot, Mallarmé e Fernando Pessoa;
Ficção: Estórias da mitologia-o cotidiano dos deuses, uma extravagância ficcional, Capitu-memórias póstumas, romance com edições em italiano e francês, e Breves estórias de Vera Cruz das Almas, mini narrativas, (Primeiro lugar no concurso de contos da Fundação Cultural de Brasília, 1991);
Língua portuguesa: Por dentro das palavras da nossa língua portuguesa, Nova ortografia da língua portuguesa-guia prático Muitas línguas, uma língua: a trajetória do português brasileiro;
Roteiros e séries radiofônicas: “Nos caminhos da comunicação”, cem programas sobre língua portuguesa, e “Os romances de Érico Veríssimo”, cinco programas. Ambas foram transmitidas pela Rádio MEC. Idealizou, com Maria Eugênia Stein, o filme “Português, a língua do Brasil”, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, do qual foi também responsável pela orientação de conteúdos.
Oratório dos Inconfidentes e o romance Capitu-memórias póstumas vêm sendo objeto de teses universitárias e vários de seus poemas integram antologias publicadas no Brasil e no exterior.
Foi agraciado com a Medalha Tiradentes, do Estado do Rio de Janeiro; com a Medalha Pedro Ernesto, da Cidade do Rio de Janeiro; com a Medalha do Mérito Tamandaré, da Marinha do Brasil; com a Medalha do Mérito Naval; com o título de Cidadão de Minas Gerais.
Recebeu, entre outros, além dos citados, os seguintes prêmios: Personalidade Cultural do Ano, da Associação Paulista de Críticos de Arte -1982; Personalidade Cultural do Ano, da Associação Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro – 1992; Prêmio Raça Negra, pelo conjunto da obra, concedido pela Afrobras; Personalidade Educacional do ano – 2011 e 2012, concedido pela Associação Brasileira de Imprensa e o jornal Folha Dirigida; Prêmio São Sebastião de Cultura-Ação Cultural, 2014, da Arquidiocese do Rio de Janeiro.
Além da Academia Brasileira de Letras, é membro, entre outras instituições, da Academia Brasileira de Filologia, da Academia Carioca de Letras, da Academia das Ciências de Lisboa, do Real Gabinete Português de Leitura e do PEN Clube do Brasil.
Evaldo Cabral de Mello nasceu no Recife em 1936 e atualmente mora no Rio de Janeiro. Estudou Filosofia da História em Madri e Londres. Em 1960, ingressou no Instituto Rio Branco e dois anos depois iniciou a carreira diplomática. Serviu nas embaixadas do Brasil em Washington, Madri, Paris, Lima e Barbados, e também nas missões do Brasil em Nova York e Genebra, e nos consulados gerais do Brasil em Lisboa e Marselha.
Um dos mais destacados historiadores brasileiros, Evaldo Cabral de Mello é especialista em História regional e no período de domínio holandês em Pernambuco no século XVII, assunto sobre o qual escreveu muitos de seus livros, como Olinda restaurada (1975), sua primeira obra, Rubro veio (1986), sobre o imaginário da guerra entre Portugal e Holanda, e O negócio do Brasil (1998), sobre os aspectos econômicos e diplomáticos do conflito entre portugueses e holandeses. É organizador do volume Essencial Joaquim Nabuco, da Penguin-Companhia das Letras.
Celso Lafer, quinto ocupante da Cadeira 14 da Academia Brasileira de Letras, eleito em 2006, é professor Emérito da Universidade de São Paulo, do seu Instituto de Relações Internacionais e de sua Faculdade de Direito, na qual estudou e da qual foi titular, tendo lecionado Direito Internacional e Filosofia do Direito, de 1971 até a sua aposentadoria, em 2011.
Obteve o seu PhD em Ciência Política na Universidade de Cornell (EUA), em 1970; a livre-docência em Direito Internacional Público na Faculdade de Direito da USP, em 1977, e a titularidade em Filosofia do Direito, em 1988. De 2007 a 2015, presidiu a FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. 
Foi Ministro de Estado das Relações Exteriores em 1992 e, em 2001-2002. Em 1999, foi Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. De 1995 a 1998, foi Embaixador, Chefe da Missão Permanente do Brasil junto às Nações Unidas e à Organização Mundial do Comércio em Genebra. É membro titular da Academia Brasileira de Ciências (2004) e membro efetivo da Academia Paulista de Letras, eleito em 2014.
Suas publicações mais recentes incluem: Norberto Bobbio – Trajetória e obra – 1ª edição, São Paulo, Perspectiva (2013); Lasar Segall: múltiplos olhares – São Paulo, Imprensa Oficial do Estado (2015); A reconstrução dos direitos humanos (Um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt) – São Paulo: Companhia das Letras, 1988. Idem em espanhol, México: Fondo de Cultura Económica, 1994. Última reedição, São Paulo: Cia. das Letras, 2015; Um percurso no Direito no século XXI. Vol. 1 – Direitos Humanos, Vol. 2 – Direito Internacional, Vol. 3 – Filosofia e Teoria Geral do Direito. São Paulo: Atlas, Grupo Gen, 2015Hannah Arendt: Pensamento, Persuasão e Poder. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2018. 3.a ed. revista e ampliada, 2018; Relações Internacionais, Política Externa e Diplomacia Brasileira – Pensamento e Ação. 2 volumes. Brasilia: Fundação Alexandre de Gusmão, 2018.
28/02/2019 

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terça-feira, 16 de abril de 2013

Joaquim Nabuco - Minha Formacao, em edicao em ingles - Editora Bem-Te-Vi

Um convite que viria a calhar se eu estivesse no Rio, mas que vem a calhar já que estou nos Estados Unidos, onde o livro deve circular...
Paulo Roberto de Almeida
Permito-me lembrar que a mesma editora já publicou dois livros anteriores de ensaios sobre Joaquim Nabuco, num dos quais figura um ensaio deste blogueiro, como referido neste link:
http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/112NabucoBemtevi.html
Paulo Roberto de Almeida

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Joaquim Nabuco em Yale e Wisconsin: livro da Bem-te-vi

Um livro de que participei, no capítulo Wisconsin, está sendo lançado nesta quinta-feira, dia 19 de agosto, no Rio de Janeiro, conforme convite abaixo.

David K. Jackson (Yale) e Severino Oliveira (Wisconsin), organizadores:
Conferências sobre Joaquim Nabuco (Yale e Wisconsin)
Rio de Janeiro: Editora Bem-te-vi, 2010



Participarão do lançamento os organizadores e grande parte dos autores, mas não poderei estar presente, pois estou a 15 mil kms de distância.
Para compensar minha ausência dou conhecimento de parte do meu capítulo no livro.

Meu capítulo tem este título:
O Brasil e os Estados Unidos antes e depois de Nabuco: uma avaliação de desempenho relativo no plano do desenvolvimento social

Transcrevo os parágrafos iniciais:

A participação de dois grandes países no mundo moderno
O objetivo principal deste ensaio é o de oferecer uma visão comparada do desempenho relativo, em termos de realizações materiais e intelectuais, da sociedade e da economia dos Estados Unidos, por um lado, e do Brasil, por outro, no espaço dos últimos cem anos. O ponto de partida é dado pela releitura da avaliação geral feita pelo Embaixador Joaquim Nabuco sobre a contribuição dos Estados Unidos – uma designação que ele não usa em seu ensaio original, adotando o termo usado pelos próprios americanos, de “América” – à civilização mundial, na sua aula inaugural preparada para a abertura do ano acadêmico de 1909 na Universidade do Wisconsin em Madison.
Em sua ‘Madison lecture’ – cujo título exato é “The Share of America in Civilization”, publicado oportunamente na The American Historical Review (15.1 [1909] 54-65) – Nabuco apresentou o que ele entendia serem as mais importantes contribuições dos Estados Unidos à civilização moderna, que listou assim: imigração, democracia, igualdade de condições sociais para todas as classes da Nação, iniciativa individual, competição e, finalmente, educação, ou melhor, o sistema americano de educação, baseado na autonomia do indivíduo, ou self-reliance. Ele notou, também, o papel da ciência e da inovação no desenvolvimento da civilização contemporânea; mas considerou que, naquele momento, os Estados Unidos não estavam totalmente preparados para desafiar as realizações européias nesses terrenos.
No que se refere ao Brasil e a América Latina, ele comentou, en passant, que os países ibéricos ainda não estavam preparados para desempenhar um grande papel na disseminação da civilização: “É ainda muito cedo para falar da parte reservada à América Latina na história. Ainda não nos foi dada a ordem para entrar no palco; as peças de Deus são muito longas; seus atos são eras inteiras.” (Nabuco, “The Share…”, p. 64). Ele reconhecia as dificuldades que enfrentavam esses países, referiu-se a algumas de suas contribuições, como a participação na Segunda Conferência da Paz da Haia e o vôo de Santos-Dumont, e elogiou a postura pacifista da Constituição brasileira de 1891, única no mundo ao recusar a guerra de conquista.
Este ensaio examinará o ponto de partida dos Estados Unidos e do Brasil, no momento da independência, seguirá seus respectivos processos de desenvolvimento econômico ao longo do século 19 – testemunhado por Nabuco – e estenderá essa avaliação para os cem anos seguintes ao seu discurso. Obviamente, taxas de crescimento do PIB e indicadores nacionais de renda per capita representam abordagens parciais, incompletas e insuficientes aos caminhos divergentes de modernização seguidos pelos Estados Unidos e pelo Brasil durante o “longo século 20”, isto é, aquele que se estende da última década do século anterior até nossa própria época. Provavelmente, mais importante do que as realizações materiais foram: a construção institucional, ou seja, a qualidade da democracia; a natureza meritocrática do sistema educacional, que premia o desempenho individual e a competição saudável; e aquele traço de caráter e de organização institucional especificamente Anglo-Saxão, que sequer possui um equivalente hispânico, chamado accountability (prestação de contas, ou ‘responsabilização’ no desempenho de qualquer cargo público).

domingo, 8 de agosto de 2010

Joaquim Nabuco: lancamento de livro sobre sua vida e obra

Um livro de que participei, no capítulo Wisconsin, está sendo lançado proximamente no Rio de Janeiro, conforme convite abaixo.

David K. Jackson (Yale) e Severino Oliveira (Wisconsin), organizadores:
Conferências sobre Joaquim Nabuco (Yale e Wisconsin)
Rio de Janeiro: Editora Bem-te-vi, 2010



Meu capítulo tem este título:
O Brasil e os Estados Unidos antes e depois de Nabuco: uma avaliação de desempenho relativo no plano do desenvolvimento social

Transcrevo os parágrafos iniciais:

A participação de dois grandes países no mundo moderno
O objetivo principal deste ensaio é o de oferecer uma visão comparada do desempenho relativo, em termos de realizações materiais e intelectuais, da sociedade e da economia dos Estados Unidos, por um lado, e do Brasil, por outro, no espaço dos últimos cem anos. O ponto de partida é dado pela releitura da avaliação geral feita pelo Embaixador Joaquim Nabuco sobre a contribuição dos Estados Unidos – uma designação que ele não usa em seu ensaio original, adotando o termo usado pelos próprios americanos, de “América” – à civilização mundial, na sua aula inaugural preparada para a abertura do ano acadêmico de 1909 na Universidade do Wisconsin em Madison.
Em sua ‘Madison lecture’ – cujo título exato é “The Share of America in Civilization”, publicado oportunamente na The American Historical Review (15.1 [1909] 54-65) – Nabuco apresentou o que ele entendia serem as mais importantes contribuições dos Estados Unidos à civilização moderna, que listou assim: imigração, democracia, igualdade de condições sociais para todas as classes da Nação, iniciativa individual, competição e, finalmente, educação, ou melhor, o sistema americano de educação, baseado na autonomia do indivíduo, ou self-reliance. Ele notou, também, o papel da ciência e da inovação no desenvolvimento da civilização contemporânea; mas considerou que, naquele momento, os Estados Unidos não estavam totalmente preparados para desafiar as realizações européias nesses terrenos.
No que se refere ao Brasil e a América Latina, ele comentou, en passant, que os países ibéricos ainda não estavam preparados para desempenhar um grande papel na disseminação da civilização: “É ainda muito cedo para falar da parte reservada à América Latina na história. Ainda não nos foi dada a ordem para entrar no palco; as peças de Deus são muito longas; seus atos são eras inteiras.” (Nabuco, “The Share…”, p. 64). Ele reconhecia as dificuldades que enfrentavam esses países, referiu-se a algumas de suas contribuições, como a participação na Segunda Conferência da Paz da Haia e o vôo de Santos-Dumont, e elogiou a postura pacifista da Constituição brasileira de 1891, única no mundo ao recusar a guerra de conquista.
Este ensaio examinará o ponto de partida dos Estados Unidos e do Brasil, no momento da independência, seguirá seus respectivos processos de desenvolvimento econômico ao longo do século 19 – testemunhado por Nabuco – e estenderá essa avaliação para os cem anos seguintes ao seu discurso. Obviamente, taxas de crescimento do PIB e indicadores nacionais de renda per capita representam abordagens parciais, incompletas e insuficientes aos caminhos divergentes de modernização seguidos pelos Estados Unidos e pelo Brasil durante o “longo século 20”, isto é, aquele que se estende da última década do século anterior até nossa própria época. Provavelmente, mais importante do que as realizações materiais foram: a construção institucional, ou seja, a qualidade da democracia; a natureza meritocrática do sistema educacional, que premia o desempenho individual e a competição saudável; e aquele traço de caráter e de organização institucional especificamente Anglo-Saxão, que sequer possui um equivalente hispânico, chamado accountability (prestação de contas, ou ‘responsabilização’ no desempenho de qualquer cargo público).

domingo, 4 de abril de 2010

1022) Joaquim Nabuco - Bruno Garschagen

Joaquim Nabuco e a transição no Brasil
Bruno Garschagen
Ordem Livre e Instituo Millenium

O Brasil vive um período de transição bastante interessante. Se na década de 1990 surgiram no cenário público algumas vozes dissonantes da cartilha marxista e suas derivações, a partir do ano 2000 despontou uma nova geração livre dos grilhões ideológicos turbinados durante o governo militar (1964-1985).

A ditadura maculou três gerações nas esferas política e cultural: a que estava no auge na época do golpe, a que tentava abrir espaço e a que nascia sob os coturnos. Essas gerações foram atacadas de dois lados: por um regime ditatorial e pela dominação cultural e educacional da esquerda de vários matizes. Nas universidades, no meio artístico, no jornalismo etc. o sujeito que não fosse de esquerda (o que não quer dizer que fosse de direita) era mal visto e rechaçado. Era preciso se posicionar. Do lado deles.

E já que vivemos num período de transição é fundamental que determinadas idéias sejam apresentadas e estudadas. E aqui vai minha dica: Joaquim Nabuco e seu livro Minha formação (1900).

Nabuco teve a sorte de ter um pai que o influenciasse e estimulasse. Seu liberalismo, segundo revela logo no primeiro parágrafo da obra, tinha um fundo hereditário. A herança vinha por obra e graça do senador José Tomás Nabuco de Araújo, político conservador que fez sua passagem para o liberalismo entre 1857 e 1865.

Foi nesse período que José Nabuco arrastou consigo "um grande movimento em sentido contrário, do campo conservador para o liberal, da velha experiência para a nova experimentação, das regras hieráticas de governo para as aspirações ainda informes da democracia". É a esse pai inspirador que Nabuco dedica outra obra notável, Um estadista no império: Nabuco de Araújo (1896).

Aspecto pouco ou superficialmente tratado nos ensaios sobre Minha formação é não só o liberalismo vigoroso, contundente e empolgado, mas sua transição de liberal mezzorepublicano para entusiasta e, por fim, defensor ardoroso da monarquia constitucional liberal. Em ambos os casos, vê-se como o jovem forma o homem sem graves rupturas que levem ao extremismo, desencanto ou exasperação.

As chaves de sistemas e concepções políticas que modelaram a mente de Joaquim Nabuco, por ele chamado de "verdadeiros estados do espírito moderno", foi-lhes dada pela obra The English Constitution, do economista e jornalista inglês Walter Bagehot (1826-1877), autor de outros ensaios importantes como Lombard Street: A Description of the Money Market, de 1873, e A New Standard of Value, de 1875.

The English Constitution forjou no espírito liberal de Nabuco a idéia de que era não só possível, mas democraticamente justo, a conjugação do liberalismo com o regime monarquista sob a égide do sistema parlamentarista:

"Devo a esse pequeno volume que hoje não será talvez lido por ninguém em nosso país, a minha fixação monárquica inalterável; tirei dele, transformando-a a meu modo, a ferramenta toda com que trabalhei em política, excluindo somente a obra da abolição, cujostock de idéias teve para mim outra procedência". (1)

Bagehot, um estilista e retórico sedutor, convenceu Nabuco de que o governo de gabinete, a alma da então moderna Constituição inglesa, era, de fato, superior ao sistema presidencialista por permitir um governo mais direto e mais próximo do povo do que os mecanismos aplicados pelos governos republicanos.

Cabia ao Poder Legislativo, no governo de gabinete descrito por Bagehot, a escolha do Poder Executivo, espécie de comissão, incumbido de pôr em prática as medidas necessárias ao país. E a harmonia entre os poderes era garantida pela possibilidade de o Poder Legislativo mudar a comissão executiva, caso esta não atendesse aos interesses na nação. E para que o Poder Executivo não ficasse à mercê da obediência servil ao legislativo, a comissão tinha o direito de levar os parlamentares até os eleitores, que, por sua vez, poderiam trocá-los.

A tese de Bagehot assimilada por Nabuco é a de que os Poderes Legislativo e Executivo eram unidos pelo governo de gabinete, a principal comissão da Câmara dos Comuns, a única instituição a deter, de fato, o poder. O governo de gabinete se caracterizava pela combinação e fusão dos poderes Executivo e Legislativo, não na absorção de um pelo outro.

Nabuco manteve-se fiel a esse modelo político contra o republicano sistema presidencial, que, segundo ele, enfraquecia o Poder Executivo e diminuía o valor intrínseco do Poder Legislativo. (2)

E a escolha desse sistema é, antes de tudo, a opção pelo liberalismo do tipo inglês, que guarda características importantes que o diferem do liberalismo continental. Uma delas é a tipificação normativa das condutas do indivíduo na sociedade:

"Freeman mostrava no seu pequeno livro O Crescimento da Constituição Inglesa que essa Constituição nunca foi feita; que nunca nas grandes lutas políticas da Inglaterra a voz da nação reclamou novas leis, mas só o melhor cumprimento das leis existentes; que a vida, a alma da lei inglesa foi sempre o procedente (...)". (3)

A segunda característica é a relação dos ingleses com a lei e com a Justiça:

"(...) só há um país no mundo em que o juiz é mais forte que os poderosos: é a Inglaterra. O juiz sobreleva à família real, à aristocracia, ao dinheiro, e, o que é mais do que tudo, aos partidos, à imprensa, à opinião; não tem o primeiro lugar no Estado, mas tem-no na sociedade. O cocheiro e o groom sabem que são criados de servir, mas não receiam abusos nem violência da parte de quem os emprega. Apesar de seus séculos de nobreza, das suas residências históricas, da sua riqueza e posição social, o marquês de Salisbury e o duque de Westminster estão certos de que diante do juiz são iguais ao mais humilde de sua criadagem. Esta é, a meu ver, a maior impressão de liberdade que fica da Inglaterra. O sentimento de igualdade de direitos, ou de pessoa, na mais extrema desigualdade de fortuna e condição, é o fundo da dignidade anglo-saxônica". (4)

Antes um entusiasta do modelo político americano, Nabuco, nas suas memórias escritas aos 51 anos, pretendeu desmontar aquele sistema de forma comparativa: se num grave momento o gabinete inglês tinha o poder de dissolução, os americanos deveriam esperar pacientemente a resolução dos conflitos de opinião entre os poderes Executivo e Legislativo até o término dos mandatos dos representantes eleitos:

"A idéia principal que recebi de Bagehot foi essa da superioridade prática do governo de gabinete inglês sobre o sistema presidencial americano: por outra, que uma monarquia secular, de origens feudais, cercada de tradições e formas aristocráticas, como é a inglesa, podia ser um governo mais direta e imediatamente do povo do que a república". (5)

A idéia parece sedutora pela aparente facilidade de mudança diante de problemas políticos sérios, mas não encerra o assunto. Nabuco era suficientemente inteligente para não cair numa esparrela dessas:

"Não podia deixar de inclinar-me interiormente à Monarquia a idéia de que o governo mais livre do mundo era um governo monárquico. Ainda assim um estrangeiro inteligente não seria no seu país inabalavelmente monarquista somente porque o governo chegou na Inglaterra a um grau maior de perfeição do que nos Estados Unidos, que tomaram a forma republicana, Desde que não tínhamos no Brasil os elementos históricos que a liberdade inglesa supõe, a não querer ou cometer o maior erro que se pode cometer em política, – o de copiar de sociedades diferentes instituições
que cresceram, – eu não podia repelir a República no Brasil somente por admirar a Monarquia inglesa de preferência à Constituição americana. Era preciso alguma coisa mais, no que respeita à forma de governo, para eu não me deixar arrastar". (6)

O interessante é lê-lo aos 21 anos, num texto para o jornal Reforma, aconselhar o imperador brasileiro a visitar os Estados Unidos para lá ver o progresso industrial e moral de uma sociedade amplamente liberal e livre que prescindia da tutela do rei, "um luxo, uma superfetação". (7)

Nabuco era um monarquista de ideal que julgava a República o melhor governo praticável num dado momento e dadas certas contingências. Independentemente do sistema político que adotara como o melhor, o que interessa em Nabuco é seu inabalável compromisso liberal. O sistema que regia as liberdades era menos importante do que a conquista, garantia e manutenção da liberdade.

A formação política teórica alicerçou o espírito do político eleito deputado em 1878. "Com efeito, quando entro para a Câmara, estou tão inteiramente sob a influência do liberalismo inglês, como se militasse às ordens de Gladstone; esse é em substância o resultado de minha educação política: sou um liberal inglês – com afinidades radicais, mas com aderências whigs – no Parlamento brasileiro; esse modo de definir-me será exato até o fim, porque o liberalismo inglês, gladstoniano, macaulayano, perdurará sempre, será a vassalagem irresgatável do meu temperamento ou sensibilidade política (...)". (8)

Nascido no Recife em 1849, Nabuco foi expoente de uma linhagem de intelectuais que, no início do século XIX, levada pelo espírito da geração anterior, "consolidou a idéia de que aos homens de letras cabia uma espécie de missão civilizatória", segundo notou em ensaio introdutório, Leonardo Dantas Silva, da Fundação Joaquim Nabuco. Esses homens de letras eram, entre outros, José Veríssimo, Silvio Romero, Álvares de Azevedo, Machado de Assis.

Nabuco também é autor de O abolicionismo, "um dos textos fundadores da sociologia brasileira", nas palavras do historiador Evaldo Cabral de Mello, livro que antecipou conceitos depois tornados célebres com Gilberto Freyre, como a existência de uma raça brasileira (embora célebre, o conceito de raça já foi derrubado).

Jornalista, deputado combativo, escritor, diplomata e membro fundador da Academia Brasileira de Letras, Nabuco trabalhava como embaixador em Washington quando morreu em 1910, ainda sorumbático pela queda do império em 1889. Já havia confessado em Minha formação que o espírito político que o moveu durante a vida tinha dado lugar a interesses religiosos e literários.

Perfeitamente explicável: tomou a queda do Império em 1889 como o fim de sua carreira. "A causa monárquica devia ser o meu último contato com a política... (...) O meu espírito adquirira em tudo a aspiração da forma e do repouso definitivo". (9)

Em vez do lamento improdutivo, Nabuco nos legou uma pequena jóia autobiográfica (e a notável biografia do pai) na qual compartilha sua visão liberal da política, da relação do indivíduo com a sociedade e com o poder constituído. Este texto é um pequeno tributo ao intelectual empolgado, vigoroso, combativo e, acima de tudo, apaixonado pela civilização.
_________________________________________

(1) NABUCO, Joaquim. Minha formação, Fundação Biblioteca Nacional, p. 3. Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000096.pdf.
(2) Ibid. 5.
(3) Ibid. 6.
(4) Ibid. 28.
(5) Ibid. 7.
(6) Ibid. 28.
(7) Ibid. 8.
(8) Ibid. 47.
(9) Ibid. 67.