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domingo, 9 de maio de 2021

O pior cenário possível em outubro de 2022 - Luciano Trigo (Gazeta do Povo)

Se for isto mesmo, o ambiente vai ficar irrespirável, entre duas tribos combatentes, e milhões de beócios ou indecisos atrás. Nem vou tentar interpor qualquer palavra, na miséria mental a que o Brasil será conduzido: declaro forfait, ou seja, me absterei de me ocupar do presente e do futuro do Brasil, pois não haverá nada a ser feito. Vou ficar no passado, tentando entender como chegamos a isso, a mesma pergunta que devem se fazer milhares de argentinos que não são nem peronistas, nem antiperonistas, apenas cidadãos que se esforçam para manter a racionalidade num contexto dominado por extremos irracionais.

Paulo Roberto de Almeida

 A eleição do fim do mundo: uma análise da nova pesquisa eleitoral.


A eleição não é tão boa assim para Bolsonaro. O problema é que Lula e o PT contam com uma base parecida de eleitores incondicionais, que votarão nele independentemente do que ele diga ou faça. Luciano Trigo para a Gazeta do Povo:

Sempre hesito diante do impulso de escrever sobre pesquisas eleitorais, porque invariavelmente uma parcela dos leitores reage sem ler, com argumentos do tipo “Mas você acredita em pesquisas?” – ou, pior ainda, chamando o articulista de petista (ou de bolsominion, conforme o caso). Mas não resisto a comentar a nova pesquisa * do Paraná Pesquisas, divulgada ontem, porque de certa forma (e infelizmente) ela confirma o que escrevi no final de 2020, no artigo “O risco de um segundo turno sangrento em 2022 é real”.

Naquele momento Lula ainda estava legalmente impedido de ser candidato, mas como no Brasil a interpretação das leis muda ao sabor do vento, já havia um sentimento de que o STF ia mudar as regras do jogo mais uma vez, desdizendo o que já tinha dito em relação à competência para julgar os crimes expostos pela Operação Lava-Jato – como, aliás, o Supremo já fizera em relação à prisão em segunda instância. Insegurança jurídica, a gente se vê por aqui.

Mesmo sem Lula no páreo, eu advertia, a polarização do país apontava para uma reedição da eleição de 2018, com Bolsonaro enfrentando o candidato do PT em um segundo turno violento. Com Lula elegível, a situação piorou. Basicamente porque os eleitorados dos dois candidatos têm uma coisa em comum: ambos estão tão convencidos da vitória que não aceitarão a derrota.

A hipótese da volta de Lula ao poder é tão insuportável para a direita quanto a hipótese da reeleição de Bolsonaro é insuportável para a esquerda. Isso sinaliza que em 2022 a atmosfera ficará irrespirável, nas ruas e nas redes sociais. Nada de bom pode vir daí. Mas vamos aos números da pesquisa.

(Antes, uma observação: pelo histórico apresentado nos últimos anos, o Paraná Pesquisas me parece o mais competente e confiável em pesquisas eleitorais, e digo isso com base em um critério muito simples: é o instituto que mais acerta. Um segundo critério é o bom senso: por exemplo, uma pesquisa recente que deu uma vantagem absurda para Lula no segundo turno, aliás citada no último artigo de Alexandre Borges, “Apoiar candidato que perde para Lula é ajudar Lula. Lide com isso”, não convenceu quase ninguém porque discrepava absurdamente das tendências apontadas por todas as demais pesquisas feitas desde a eleição de Bolsonaro. Além disso, o timing da divulgação dessa pesquisa, praticamente simultânea à decisão de Facchin que tornou Lula elegível, me pareceu, digamos, suspeito - e com algo de teatral.)

Primeiro turno:


Em todos os cenários da pesquisa do Paraná Pesquisas, Bolsonaro aparece à frente de Lula no primeiro turno, e em nenhum cenário aparece um terceiro nome com reais condições de ameaçar um dos dois. Conclusões possíveis:
1.Neste momento, a não ser que aconteça algo de muito inesperado, um segundo turno entre Bolsonaro é Lula parece quase inevitável; não haverá terceira via;

2.O chamado “centro” vem se mostrando incompetente para criar uma narrativa atraente para o eleitor – e mais incompetente ainda para buscar a união em torno de um nome eleitoralmente viável;

3.Levará vantagem no segundo turno o candidato mais hábil em atrair os votos dos demais candidatos.
A pesquisa é boa para Bolsonaro? Evidente, por ser uma demonstração de força e resiliência do presidente. Depois de mais de um ano de pandemia e de consequente crise econômica, sem falar nos ataques diários e na sabotagem explícita da grande mídia, Bolsonaro conserva a lealdade de mais de um terço do eleitorado. São os eleitores incondicionais, que proporcionam um base confortável para o presidente no primeiro turno e a garantia de uma vaga no segundo.

Mas não é tão boa assim. O problema é que Lula e o PT contam com uma base parecida de eleitores incondicionais, que votarão nele independentemente do que ele diga ou faça. E a diferença apontada pela pesquisa é muito pequena. Nenhum dos dois candidatos está em condições de cantar vitória - e subestimar o potencial do adversário pode vir a ser um erro fatal para os dois lados.

Segundo turno:


Os números do segundo turno são resultado de dois fatores combinados, ambos difíceis de estimar: a redistribuição dos votos dos candidatos derrotados no primeiro turno e o grau de rejeição dos dois candidatos. É fácil visualizar eleitores que rejeitam Bolsonaro, mas que, para evitar a volta do PT ao poder, votarão nele mesmo assim – bem como eleitores que odeiam Lula, mas que, para evitar a reeleição de Bolsonaro, votarão nele mesmo assim.

Outro fator a considerar aqui: a pesquisa do Paraná Pesquisas contabiliza todas as respostas, incluindo os votos brancos e nulos. Descartadas essas respostas, e só considerado os votos válidos, por uma regra de três simples os números passam a ser:

Bolsonaro: 51,6%

Lula: 48,4%

Em outras palavras: empate técnico.

A eleição do fim do mundo

Nas outras simulações de segundo turno, tanto Bolsonaro quanto Lula derrotam com facilidade qualquer outro candidato. A situação do PSDB parece particularmente desesperadora, já que Luciano Huck não se decide e João Dória não decola – a ponto de terem lançado como balão de ensaio o nome do desconhecido governador do Rio Grande do Sul, que aparece com menos de 1% das intenções de voto.

Outra tabela interessante da pesquisa é a que mostra o potencial eleitoral comparativo dos candidatos:


Como se vê, Bolsonaro e Lula apresentam índices altíssimos de rejeição, o que significa que o presidente eleito terá que lidar com o ódio ou antipatia de metade do eleitorado – o que tornará muito difícil a tarefa de governar o país.

Ciro e Dória apresentam uma boa margem de crescimento (eleitores que admitem votar neles, ainda que não sejam seu candidato preferencial). Aqui a notícia não é boa para Bolsonaro, já que os votos de Ciro tendem a migrar integralmente para Lula, mas os votos de Dória não devem migrar na mesma proporção para Bolsonaro. Isso porque o PSDB, já desde a eleição passada, prefere bater em Bolsonaro a bater no PT (e não faltarão explicações para isso).

A situação de tensão e de conflito permanente vai continuar. A intolerância a quem pensa de forma diferente, deliberadamente cultivada no Brasil como estratégia política já há 20 anos, vai persistir, ou mesmo aumentar. Não duvido que haja violência nas ruas. Para quem sonha com um país normal, no qual parentes e amigos não rompem relações por causa de política, a melhor saída pode ser o aeroporto.

* Pesquisa Nacional – Situação Eleitoral para o Executivo Federal em 2022 e Avaliação da Administração Federal/ Maio 2021

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Os surdos e os cegos, mas nao mudos, apenas incoerentes - Luciano Trigo, Reynaldo Rocha, Antonio Machado de Carvalho

LUCIANO TRIGO
Globo, 11/07/2013

A crise que o país atravessa desde a eclosão dos primeiros protestos contra o aumento das passagens de ônibus tem três componentes articulados: 1 ─ A sociedade quer transporte, saúde e educação de qualidade, pois ela paga caro por isso, por meio dos impostos, e não recebe em troca serviços públicos à altura. Simples assim. A sociedade não pediu nas ruas reforma política, nem plebiscito para eliminar suplente de senador.

2 ─ A sociedade quer o fim da impunidade, pois está cansada de ver corruptos soltos debochando de quem é honesto, mesmo depois de condenados.
Acrescentar o adjetivo hediondo à corrupção de pouco adianta se deputados e ministros continuam usando aviões da FAB para passear e se criminosos estão soltos, alguns até ocupando cargos de liderança ou participando de comissões no Congresso.
3 ─ A sociedade quer estabilidade econômica: para a percepção do cidadão comum, os 20 centavos pesaram como mais um sinal de que a economia está saindo do controle. A percepção do aumento da inflação é crescente em todas as classes sociais; em última análise, este será o fator determinante dos rumos da crise a médio prazo, já que não há discurso ou propaganda que camufle a corrosão do poder de compra das pessoas, sobretudo daquelas recentemente incorporadas à economia formal.
Esses problemas não são de agora, nem responsabilidade exclusiva dos últimos governos. Mas o que se espera de quem está no poder é que compreenda que a melhor maneira de reconquistar o apoio perdido é dar respostas concretas e rápidas às demandas feitas nas ruas (e não a demandas que ninguém fez). Não é isso que vem acontecendo: todas as ações da classe política parecem movidas pela tentativa de tirar proveito da situação e desenhadas para que tudo continue como está.
É bom que se diga que não são somente os políticos que espantam pela surdez diante dos gritos coletivos de irritação e impaciência, dos protestos que não têm dono nem liderança. A julgar pelo que se viu em algumas mesas da Flip, muitos intelectuais também se entregam com facilidade à tentação leviana e arrogante de transformar a crise não em oportunidade para um debate consequente, mas em pretexto para oportunistas e demagógicas tentativas de embutir suas próprias agendas secretas e pautas obscuras nas bandeiras das manifestações populares: a tal “crise de representação”, por exemplo, se transformou em escudo para as propostas mais escalafobéticas, envolvendo extinção dos partidos e uma suposta “democracia direta”.
Essa crise não será resolvida por palavras mágicas como “plebiscito” ou “reforma”, nem por manobras da velha política que fazem pouco caso da inteligência das pessoas, nem pela demonização da mídia, nem por espertezas toscas de bastidores, nem por tentativas de cooptação e de controle do movimento social, nem por frases de efeito.
As verdadeiras bandeiras da população que foi às ruas não têm nada a ver com guinadas à esquerda ou à direita, nem com palavras de ordem radicais ou fascistas, nem com a paranoia do golpismo. As verdadeiras bandeiras do grosso da população que foi às ruas têm a ver, isto sim, com um anseio urgente e definitivo por eficiência e ética na atuação de todos os políticos, de todos os partidos, de todos os poderes, de todas as esferas do poder. Aliás, todos são pagos para isso, com o nosso dinheiro.

Por que isso é tão difícil de entender?
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REYNALDO ROCHA, 11/07/2013

O Brasil é uma peça de Ionesco. Estamos vendo uma encenação política de A Cantora Careca. É o teatro do absurdo. Os personagens pouco dizem de lógico. O absurdo é o centro da trama. Assim é o Brasil lulopetista.

Não ouvem. Quando acreditam ter ouvido, confundem o português com o búlgaro clássico. E respondem em mandarim.
A plateia  fica abismada com o que ouve e não entende. Seria o teatro do absurdo elevado à enésima potência, se os autores ao menos soubessem escrever.
Queremos o fim da corrupção? Eles respondem com uma proposta de constituinte chavista.
Exigimos melhor educação? Eles propõem um plebiscito para financiarmos as campanhas de Collor e Renan. Nada mais didático.
Exigimos saúde? Eles criam o serviço civil obrigatório para que ministérios petistas aparelhados possam negociar para qual cidade mandar o médico em formação, a partir de módicas contribuições partidárias derivadas dos melhores locais. Se houver recusa, não há diploma! Assim como pilotos da FAB são obrigados a transportar renans a casamentos e esperar até de madrugada pelo fim da festa, agora serão os médicos que deverão ─ por dois anos ─ atender onde os petistocratas definirem o local.
A inconstância partidária dos políticos de aluguel nos agride? Eles propõem que deixemos com eles ─ pela lista fechada ─ a escolha de quem deve nos representar.
É ou não um absurdo? Teatro, sabemos que é.
Ionesco não era surdo. Era iconoclasta e revolucionário.
Os petistas também não são surdos. São hipócritas e desonestos.
O absurdo não os une. Um era arte, outro é somente delírio ditatorial.
Dilma sequer é personagem cômica. É algo indefinível. Tenta ser amável humilhando a todos. Acredita ser simpática portando-se como guarda de presídio nazista. Tem a simpatia das hienas. O carisma da personagem que entra muda em cena e sai calada. A subserviência ao dono que nem mesmo os romanos tinham com os imperadores.
Lula é um personagem à procura de um autor. Só tem a fixação de ser menor ─ sempre ─ em relação a quem mais admira. E tem a certeza que tudo o que fizer será perdoado, como um ébrio em peça de Nelson Rodrigues.
O teatro tem palco e plateia fiel. Um tipo de espectador diferente: o que não paga para ver a peça. Recebe para bater palmas.
Nesse aspecto, mais parece plateia de desfile na Alemanha hitlerista. Só que movida a tubaína, sanduíche e algum dinheiro vivo.
Os mais importantes não recebem o ajutório dentro do ônibus contratado para levar o coro dos felizes para a plateia do show. Já receberam na boca do caixa oficial.
É ou não é um absurdo? Sem nada de teatral.
Nesta quinta-feira, dia 11 de julho, veremos esta plateia pronta para aplaudir qualquer absurdo que venha a ser encenado.
E não será teatro.
É a distância do Brasil real do picadeiro barato que o lulopetismo imaginou ter transformado o Brasil. Onde além do palco, existem palhaços na plateia.
De novo, estão errados.
Ionesco era um gênio.
Lula e Dilma testam até onde vai a ignorância humana.

É mesmo um absurdo!
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ANTÔNIO MACHADO DE CARVALHO
O Tempo, 10/07/2013

Dona Dilma entrou em delírio. Incapaz de perceber que seu governo acabou, quer nos fazer crer que ainda mantém a iniciativa na condução política da nação. Ao se ler o teor de suas manifestações tem-se a impressão que ela acabou de ser eleita, que está assumindo agora a presidência da república. Teses as mais mirabolantes até são aceitáveis quando se está no início de mandato. Não agora, faltando pouco mais de 15 meses para as próximas eleições. Dizendo uma coisa hoje para abandoná-la amanhã; propondo encaminhamentos inconstitucionais rebatidos, de pronto, pelos Tribunais, pelo Congresso e pelos especialistas no assunto; correndo dentro do seu palácio igual barata tonta, para dar ares de comprometimento com as múltiplas e variadas demandas brotadas nas ruas, Dilma, enfim, está mais perdida que cachorro que caiu da mudança.

Se a história pretérita é interpretada a partir dos fatos presentes, tornam-se claras as razões que explicam a falência da lojinha de produtos de R$1,99 que ela abriu e gerenciou alguns anos atrás. O discernimento precário e a truculência no trato com as pessoas estão, certamente, na raiz dos resultados que ela colheu àquela época, e que se repetem nos dias de hoje.
Mas se não fez prosperar a lojinha de quinquilharias, dona Dilma se mostra muito sagaz no manejo de dinheiro público. Tanto é que pretende superar a invenção feita por seu criador, o co-presidente Lula, impondo ao Congresso Nacional mais que o mensalão: o super-mensalão! A tanto se resume sua ideia de jerico a respeito da reforma política, num suposto financiamento público das eleições.
Super-mensalão é querer que o dinheiro dos impostos seja repassado aos políticos para que banquem suas campanhas. Isso, na realidade, já ocorre há muito tempo. Basta ver os horários eleitorais gratuitos no período que antecede as eleições, bem como os repasses do Fundo Partidário. Sem falar, é claro, dos vultosos recursos que os sindicatos recebem e que são aplicados nas campanhas políticas, notadamente do PT, pela sua central sindical ─ a CUT; sem esquecer a contribuição cobrada pelos cargos ocupados da vibrante companheirada e, igualmente, do pedágio arrancado pelo MST de camponeses miseráveis, clientes da vasta cornucópia governamental, via Pronaf.
Dilma, no entanto, não está satisfeita. Dilma quer mais. Ela pensa em centenas de milhões de reais transferidos para figuras como Genoino, Delúbio, Dirceu, Maluf, Sarney, Calheiros e outros da mesma estirpe fazerem seu carnaval particular. Essa gente nem precisará mais se dar ao trabalho de desviar recursos públicos para financiar suas campanhas. Tudo já virá de maneira legal e organizada sob os olhos perplexos da nação. O super-mensalão vai se destinar, sobretudo, à gatunagem petista, dona da maior bancada na Câmara dos Deputados.

Não foi para isso que o povo brasileiro foi às ruas neste inesquecível mês de junho de 2013.”