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sábado, 26 de janeiro de 2019

Juca Paranhos, o barao - resenha do livro L. C. Villafane por Roberto Pompeu de Toledo


Uma fábula
Roberto Pompeu de Toledo
VEJA, 30 de janeiro de 2019, edição nº 2619

Em 17 de abril de 1910 entrou festivamente na Baía de Guanabara, vindo dos estaleiros da Inglaterra, o encouraçado Minas Gerais, navio da classe dreadnought, o que havia de mais avançado na época, e sua chegada desencadeou uma onda de patriotismo. Para o jornal O País, o “vulto de aço” da embarcação simbolizava “o Brasil novo, opulento e poderoso que vai na rota de progresso e civilização”. Para a Gazeta de Notícias, incumbiria ao Minas Gerais, “pedaço flutuante da pátria”, levar pelos mares “a força afirmativa da nossa cultura, da nossa grandeza e da nossa civilização”. Contada no recém-lançado Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco, exemplar biografia do patrono da diplomacia brasileira escrita por Luís Cláudio Villafañe G. Santos, a história iniciada com a chegada da portentosa embarcação desdobra-se em dois atos e encerra-se como uma fábula.
A causa do reaparelhamento da Marinha brasileira teve em Rio Branco seu mais ardente defensor. A seu ver, tratava-se de contraponto indispensável ao laborioso quebra-cabeça com que negociava nossas fronteiras e toureava as rivalidades e desconfianças com os vizinhos. O governo brasileiro decidiu jogar alto, e optou por encomendar logo três dreadnoughts, a nova maravilha dos mares, lançada em 1906 pela Inglaterra. Em especial, naqueles anos, preocupavam a superioridade militar da Argentina e as pretensões do Peru a nacos do território brasileiro. Por questão de custo, a encomenda foi reduzida a dois, mas ainda assim causava furor. À chegada do Minas Gerais, o primeiro deles, as celebrações incluíram uma canção que aproveitava a melodia da italiana Vieni sul Mar, para honrar o navio com o estribilho, “Oh, Minas Gerais”. (Com letra modificada, em anos posteriores a canção passaria a celebrar o Estado de Minas Gerais.)
O segundo dreadnought, batizado São Paulo, chegou em outubro, bem a tempo de ser incluído no elenco no ato 2 da nossa fábula. Em 22 de novembro, aproveitando-se da ausência do comandante, João Batista das Neves, que saíra para jantar num navio francês em visita ao Rio, a tripulação do Minas Gerais apoderou-se do navio. Ao voltar a bordo, Neves foi saudado aos gritos de “Abaixo a chibata” e morto ao tentar uma reação.
Os navios iam e vinham, exibindo as bandeiras vermelhas da insurgência
   
A insubordinação dos marinheiros, remoída por anos, explodira ao impacto das 250 chibatadas aplicadas na antevéspera a um companheiro. A Revolta da Chibata espalhou-se por outros cinco navios estacionados na Baía de Guanabara. A fina flor da Armada brasileira passara às mãos da chucra marujada, sob o comando de João Cândido, o “Almirante Negro”, como seria apelidado.
Que fazer? Os navios iam e vinham nas águas da baía exibindo as bandeiras vermelhas da insurgência. O governo manteve-se pasmo e paralisado até o dia 25, quando se decidiu pelo ataque aos rebeldes. “Rio Branco se desesperou”, escreve Villafañe Santos. “Assustava-o a perspectiva de ver os principais navios da Armada brasileira destruídos e, em consequência, o Brasil, outra vez, em total inferioridade de meios militares frente a seus vizinhos.” O chanceler chegou a procurar o oficial encarregado do ataque, na tentativa de dissuadi-lo. Afinal, o destino inglório de ver os dreadnoughts, tinindo de novos, arrasados pelas próprias forças a que deviam integrar-se foi evitado depois de negociações no Congresso que incluíram, no dia 26, a promessa de anistia aos revoltosos.
A promessa não foi cumprida. Dois dias depois a repressão já começava a baixar sem piedade contra os amotinados — mas essa é outra história. Interessa-nos o contraste entre o sonho de potência de abril de 1910, à chegada do Minas Gerais, e a realidade de uma Marinha que tratava os marujos a chibatadas, exposta em novembro. “O episódio conta muito sobre a ilusão de modernidade e prosperidade de um país no qual pouco mais de um par de décadas antes a posse de outros seres humanos era legalizada e cuja economia se baseava na exportação de uns poucos produtos agrícolas”, escreve o autor do livro. A frustração bateu forte em Rio Branco. Um contemporâneo, Carlos de Laet, data daí a decadência física que o levaria à morte, um ano e dois meses depois.
Outras histórias oferecem morais já prontas à fábula que poderia ter por título “O dreadnought e a chibata”. O rei estava nu, caberia dizer, ou: o ídolo tinha pés de barro. Formulemos a nossa própria moral. Brincar de “Brasil novo, opulento e poderoso”, orgulhoso “da nossa cultura, da nossa grandeza e da nossa civilização” (para repetir os arroubos ufanistas na chegada do Minas Gerais), só vale quando se traz o povo junto.
Publicado em VEJA de 30 de janeiro de 2019, edição nº 2619

domingo, 23 de dezembro de 2018

Revista Exame seleciona alguns livros de 2018

Entre eles o do nosso colega e amigo, historiador Luis Claudio Villafañe G. Santos, que escreveu a melhor biografia do Barão do Rio Branco. Veja abaixo.
Paulo Roberto de Almeida


Os livros imperdíveis de 2018 para quem quer entender o mundo melhor

Confira uma seleção de livros sobre acontecimentos históricos e atuais que são boas alternativas de presente para este Natal

Exame, 22/12/2018


São Paulo – O ano de 2018 trouxe impactos significativos para o Brasil e para o mundo. Mais do que nunca, estar a par dos acontecimentos históricos e atuais, bem como compreender seus desdobramentos, se tornaram essenciais. E nada melhor do que mergulhar em livros interessantes sobre temas relevantes para se preparar para as mudanças que estão por vir.
Veja também
  • O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump

Com isso em mente, EXAME selecionou alguns títulos lançados em 2018 no Brasil e que cumprem esse objetivo e incluiu, ainda, duas alternativas ainda não lançadas no Brasil e em inglês, mas que podem ser facilmente encomendadas pela internet. Essas obras são, ainda, excelentes alternativas de presentes para si, amigos ou familiares neste Natal. Veja abaixo a seleção.

Como as Democracias Morrem
Autores: Steven Levitsky e Daniel Ziblatt
Preço: a partir de 47 reais
Um dos livros mais vendidos no Brasil em 2018, a obra dos professores de Harvard se propõe a analisar o estado atual da democracia no mundo. Mostra, ainda, como rupturas ao sistema político não ocorrem hoje necessariamente por meio de golpes ou revoluções, mas pela corrosão lenta, gradual, quase que imperceptível, das instituições que têm como papel o monitoramento e a proteção dos valores democráticos em uma sociedade.
Pouco antes de o livro chegar ao Brasil e antes da eleição de Jair Bolsonaro à Presidência, Levitsky concedeu uma entrevista a EXAME sobre o momento que a democracia enfrenta no mundo e também no Brasil e deixou um alerta: “Todas as democracias enfrentam crises e é essencial que tenham capacidade de sobreviver às tempestades. A tempestade irá passar pelo Brasil. A questão é se as elites vão resistir à tentação de quebrar as regras antes que o pior tenha passado.”
Veja também
  • Professor de governo da Universidade de Harvard Steven Levitsky, autor de Como as Democracias Morrem
Fascismo – Um Alerta
Autora: Madeleine Albright
Preço: a partir de 45 reais
Madeleine Albright foi embaixadora dos Estados Unidos na ONU e é ex-Secretária de Estado dos Estados Unidos da gestão democrata de Bill Clinton. Neste livro, a diplomata revisita os conflitos entre a democracia e o fascismo durante todo o século passado. E o faz com conhecimento de causa: nascida na ex-Tchecoslováquia, a diplomata viveu os horrores do nazi-fascismo europeu com familiares mortos em campos de concentração nazistas.
Pertinentemente escrito como um alerta ao mundo em razão da ascensão de governos populistas e do recrudescimento do discurso autoritário, o livro chegou ao Brasil em outubro de 2018.
Veja também
  • Cena do filme A Onda, de 2008, sobre ascensão do fascismo dentro de uma escola
Filhos e Soldados
Autor: Bruce Henderson
Preço: a partir de 50 reais
Uma das últimas histórias ainda não exploradas em profundidade sobre a Segunda Guerra Mundial, a saga dos meninos judeus alemães que escaparam no nazismo e escolheram volta à Europa para combatê-lo é o tema desse livro do autor americano Bruce Henderson.
Fluentes na língua e conhecedores dos costumes dos alemães, o grupo fez parte de uma unidade de inteligência do exército americano treinada em Camp Ritchie, em Maryland. Os “Ritchie Boys”, como foram apelidados, foram os responsáveis por levantar cerca de 60% da inteligência usada pelas forças aliadas no palco europeu da guerra.
EXAME, Henderson concedeu uma entrevista exclusiva na qual tocou, ainda, nos aspectos humanos dos personagens que entrevistou para compor a obra. “O aspecto mais emocionante foi o momento em participaram da libertação dos campos de concentração. Eles entraram nesses campos sem saber se encontrariam suas famílias”, contou. Apesar do tema delicado, Henderson conseguiu narrá-lo de forma leve, emocionante e interessante.
Veja também
  • Soldados judeus alemães que lutaram contra o nazismo pelos Aliados
“Minha História”
Autora: Michelle Obama
Preço: a partir de 59 reais
Michelle Obama é um fenômeno nos Estados Unidos: além de ter sido a primeira mulher negra a ocupar o posto de primeira-dama, é de uma popularidade tão impressionante entre os americanos que seu nome surgiu diversas vezes como possível candidata à Presidência dos EUA. Especulação sempre negada por ela, pelo menos até agora.
Nesse livro, que foi lançado em novembro de 2018, ela fala sobre as experiências que a moldaram, saindo da infância em Chicago, a vida conciliando o papel de mãe e o de executiva e os anos na Casa Branca entre 2009 e 2017, no qual teve um papel central na promoção dos direitos das mulheres, inclusividade de diversidade.
Michelle é vista como um exemplo por mulheres e meninas mundo afora e sua história está agora disponível em 24 idiomas. Em apenas 15 dias depois do lançamento, a advogada conquistou mais um título do qual se orgulhar: o de livro mais vendido do ano nos Estados Unidos.
Veja também
  • Michelle Obama, ex-primeira dama dos EUA
Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco
Autor: Luís Cláudio Villafañe G. Santos
Preço: a partir de 80 reais
Escrito por Villafañe, que é diplomata e historiador, esse livro narra em detalhes a vida pessoal de Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco, e é um retrato das transformações que o Brasil, e o mundo, viveram na virada do século 19 para o século 20.
Em entrevista a EXAME, Villafañe contou que seu objetivo era o de mostrar aspectos da personalidade de Juca Paranhos, um grande articulador das fronteiras territoriais brasileiras. “Mostro um Rio Branco que muda muito. Ele vai. Ele volta. Ele se arrepende. Ele se reinventa. Ele tenta se regenerar”, explicou. O maior mérito do patrono da diplomacia brasileira? “Não optar por saídas simplistas”.
Em um momento no qual a política externa brasileira está, mais do que nunca, no centro das atenções, a biografia do Barão do Rio Branco, sem dúvidas um dos personagens mais importantes da história do país, é essencial.
Veja também
Arriscando a Própria Pele – Assimetrias Ocultas no Cotidiano
Autor: Nicholas Nassim Taleb
Preço: a partir de 54 reais
“Nunca confie em alguém que não arrisca a própria pele”. É a partir dessa premissa que o ensaísta Taleb, autor de A Lógica do Cisne Negro (2007) e apelidado de “O Nietzsche de Wall Street”, se debruça sobre os atos e decisões de pessoas em posições de poder e cobra que essas mesmas pessoas assumam a responsabilidade pelas consequências disso.
Na sua visão, a sociedade é governada por um pequeno grupo de indivíduos que vivem em posições privilegiadas e não são impactados pelos desdobramentos dos seus atos, e, portanto, “não arriscam a própria pele”, como o autor sugere no título. Supondo que isso mudasse e as decisões passassem a ser tomadas considerando as responsabilidades do tomador, “podemos alterar condições fundamentais da sociedade”.
Veja também
  • golden-gate-bridge
Medo: Trump na Casa Branca
Autor: Bob Woodward
Preço: a partir de 78 reais
Se tem uma coisa que o jornalista Bob Woodward conhece, são os meandros do poder na Casa Branca. Foi ele, afinal, que desvendou ao lado de Carl Bernstein em 1974 um dos maiores escândalos da história da presidência americana, o caso que ficou conhecido como Watergate, cujos desdobramentos ajudaram a derrubar o então presidente Richard Nixon.
Agora, Woodward usa da sua habilidade investigativa e narrativa nesse livro que investiga os bastidores da gestão do atual mandatário, o republicano Donald Trump, e detalha o clima que permeou momentos-chave da sua presidência, como o bombardeio das forças sírias após um ataque químico contra civis que teria sido ordenado pelo presidente Bashar Al-Assad.
E o retrato montado por Woodward com base em entrevistas com oficiais da confiança de Trump não é nada positivo: sua gestão foi tachada como “casa de loucos” e o presidente descrito como “uma criança da quinta série”.
Veja também
  • President Donald Trump delivers remarks and signs an executive order in Charlotte, NC
O novo Iluminismo: Em defesa da razão, da ciência e do humanismo
Autor: Steven Pinker
Preço: a partir de 65 reais
Neste livro, cientista cognitivo Steven Pinker quer trazer boas notícias: deixe de lado as manchetes urgentes e apocalípticas, o bem-estar está ascensão. Para tanto, e reconhecendo o momento atual de turbulências mundo afora, ele analisa gráficos e dados em diferentes áreas, educação e saúde, por exemplo. A partir do retrato dessa evolução, defende que o avanço do conhecimento da humanidade é essencial para garantir que o progresso continue.
Veja também
  • General Images Of China Economy Ahead Of Communist Party of China Central Committee Meetings
21 Lições para o Século 21
Autor: Yuval Noah Harari
Preço: a partir de 54 reais
Em “Sapiens”, ele investigou o passado. Em “Homo Deus”, destrinchou o futuro. Agora, o historiador israelense Harari, que se tornou um fenômeno mundial da literatura com esses dois títulos, se debruçou sobre o presente. Em “21 Lições para o Século 21”, ele se propõe a analisar perguntas complexas sobre fenômenos atuais que se colocaram diante da sociedade neste século, como fake news, terrorismo, educação e religião.
O mundo pós-ocidental
Autor: Oliver Stuenkel
Preço: a partir de 64 reais
Vivemos um momento de profunda transformação nas dinâmicas de poder e é justamente sobre isso que trata a obra de Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas. Nela, o autor se propõe a analisar o futuro da ordem global e prevê a descentralização dos poderes políticos, econômicos e globais. E no horizonte estarão oportunidades cada vez maiores de cooperação.
Dear Madam President: An Open Letter to the Women Who Will Run the World
Autora: Jennifer Palmieri
Preço: a partir de 10 dólares
Jennifer Palmieri, diretora de comunicação do ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e da ex-Secretária de Estado e candidata à Presidência pelo Partido Democrata, Hillary Clinton, não acreditava que alguém pudesse se interessar no que ela teria a dizer sobre as eleições de 2016. Hillary, afinal, havia sido derrotada e a Casa Branca teria um novo e improvável mandatário, Donald Trump.
Momentos depois de ter digerido o resultado eleitoral daquela disputa, Jennifer percebeu que tinha, sim, algumas coisas a dizer e muito tinha a ver com a percepção que o público tinha acerca de Hillary e que, segundo a autora, não estava dissociada da questão de gênero. E o fez neste livro que é considerado uma mensagem inspiradora para todas as mulheres que buscam posições de liderança em qualquer área. O livro não conta com tradução para o português e pode ser adquirido no Brasil via internet.
Veja também
The Future Is History: How Totalitarianism Reclaimed Russia
Autora: Masha Gessen
Preço: a partir de 16 dólares
Considerado um retrato fiel e atual da Rússia de Vladimir Putin, que está se agarrando cada vez mais ao poder e transformando o país em um regime autoritário, esse livro foi escrito pela jornalista russa, radicada nos Estados Unidos, Masha Gessen. 
Na obra, ela segue a história de quatro personagens, cada qual com seu background, mas todos nascidos em um momento no qual as esperanças pela democracia estavam mais fortes do que nunca na Rússia. A partir de suas jornadas, propõe a montar um retrato sobre o estado político do país hoje. 
Eleito como um dos melhores de 2018 pela conceituada revista Foreign Affairs, o livro de Masha não tem tradução para o português e pode ser comprado via internet.