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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Bolsa Familia: uma opiniao desassombrada, sincera, e verdadeira

Reproduzo abaixo, mensagem recebida do Dr.Milton Simon Pires, de Porto Alegre, a propósito de um post neste blog.

Partilho inteiramente dessa análise, embora eu não seria teorico nesse aspecto: o BF faz parte dos instrumentos de dominação política e de servidão mental dos brasileiros menos instruídos, e é com estes que o partido dos companheiros pretende (e está conseguindo) assentar o seu poder.
Paulo Roberto de Almeida 

FIM DO BOLSA FAMÍLIA - A NECESSIDADE DO MEDO

Já escrevi antes sobre o medo. Volto agora ao tema em função desse episódio, patético, protagonizado pela  Caixa Econômica Federal com relação ao Bolsa Família. Em texto anterior expliquei que todo Estado totalitário tem como fundamento três características – a burocracia, a violência, e a desinformação. Lembro desde logo que essa teoria não é minha. Está muito bem detalhada em As Origens do Totalitarismo de Hannha Arendt e serve, ao meu ver,como uma luva para o o Brasil petista. Faço aqui questão de salientar a expressão Brasil petista e não Brasil do PT. Sustento que,  a exemplo de Alemanha Nazista, é esse o conceito a ser usado. 
O episódio desencadeado pelo boato do fim do Bolsa Família pode ser compreendido nos termos da  teoria de Arendt à medida que aceitarmos a indução de medo como uma forma de violência. Acho desnecessário falar aqui sobre a burocracia num país com quarenta ministérios e não vejo sentido em mencionar a desinformação numa sociedade que acredita mais nas redes sociais (até porque não existem muitas alternativas) do que nos seus jornalistas sérios. 
Há muito, mas muito tempo mesmo, o medo tornou-se uma constante na vida do brasileiro. A coisa chegou a tal ponto que fazer  uma lista dos motivos seria desperdício  para o leitor. A novidade, se é que posso usar esse termo, é o sentido político que esse sentimento assumiu. 
O medo da sociedade brasileira provocado por uma organização criminosa como o Partido dos Trabalhadores vai muito além da prisão, da tortura, ou dos desaparecimentos das décadas de 60 e 70. Sustento que o medo no Brasil petista tem “vida própria”. Passou a ser uma espécie de categoria do pensamento, uma proposição a priori que não necessita de demonstração e que passou, ela sim, a a dirigir a nossa racionalidade. 
Vivemos com medo de absolutamente tudo – violência, doenças, pobreza, corrupção, injustiça..enfim, a lista é interminável mas talvez seja a primeira vez em toda história do Brasil que vivemos com medo sem acreditar que possa haver algo melhor. É a falta de esperança, acompanhada pelo medo, que nos leva a um nível de sofrimento..um sofrimento que nunca antes na história desse país havia acontecido. O medo provocado pela ralé do PT tem em comum com os medos de Hitler e Stalin a história de uma governo que não tem oposição alguma.
O sentido da violência e do medo na perspectiva tática do PT não pode ser explicado em termos tradicionais. O medo não serve para  manter esse tipo de gente no governo;mas  no poder. Há que se fazer aqui uma profunda distinção e lembrar sempre que o poder é capacidade de gerar consenso. Governo no Brasil pode significar qualquer outra coisa; menos  poder. Já expliquei em artigo anterior como surgiu o poder do PT na sociedade brasileira. Aqui, e para terminar, sustento que o medo constante faz parte da sua forma de governar. Medo que, como demonstrado pelo caso do Bolsa Família,serviu para mostrar que na teoria petista as coisas poderiam ser “muito piores” se ele, PT,  não estivesse no governo. Esqueçam portanto o mensalão, Rosemary Noronha, Celso Daniel, e tantos outros escândalos desses últimos dez anos e fiquem vocês, os pobres dependentes do Bolsa Família, convencidos de que  “a vida pode  ficar bem ruim se nós do  PT não estivermos aqui para defe!
ndê-los”. Isso se chama mensagem subliminar. Em outra ocasião escrevo mais sobre ela falando das suas origens em Goebbels na década de 1930.
Lembrem-se todos os brasileiros que de agora em diante terão além das necessidades históricas de saúde, educação e segurança, mais uma necessidade terrível e que vai fazê-los esquecer de todas as outras – a necessidade do próprio medo..

Dr.Milton Simon Pires
Porto Alegre, 27 de maio de 2013

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Nao existem intelectuais no Brasil: Milton Simon Pires

Capturado no blog do meu amigo Orlando Tambosi:


Blog Orlando Tambosi, 13/05/2013

Milton Simon Pires, de Porto Alegre, envia nova colaboração em que discorre sobre a ideia de intelectual - para ele, uma categoria inexistente no Brasil:

Recentemente, numa das aulas do curso de espanhol que venho fazendo (talvez como preparo para a chegada dos colegas médicos cubanos..rss), surgiu um acalorado debate entre a turma. Queria o nosso professor, natural da Andaluzia, saber se no Brasil os intelectuais são suficientemente valorizados na sua atividade profissional. Respondi, causando “verdadeiro horror” nos colegas brasileiros, que não sabia como abordar a questão pois acreditava (e continuo acreditando) que não existem intelectuais no país faz muito tempo. A reação da turma aumentou ainda mais: perguntaram como podia eu dizer algo assim. Fizeram questão de lembrar que temos Chico Buarque, Luís Fernando Veríssimo e tantos outros dignos de receber esta designação: intelectuais. Fiquei perplexo! A primeira pergunta que fiz  foi:  o que vocês entendem pelo termo intelectuais? Não houve um só colega capaz de fazer a distinção correta entre ser um verdadeiro intelectual e alguém com “cultura geral”. Pois bem, nessas rápidas linhas, vamos tentar falar um pouco sobre a diferença e, como dizem os açougueiros, vamos por partes.

Na Europa dos séculos XII e XIII o conceito de universidade não era nem de perto algo próximo da vida do cidadão comum. Lugares como Bolonha, Paris e Oxford (apenas para citar as três mais antigas instituições de ensino superior) estavam tão distantes da realidade de um europeu como a NASA está de um brasileiro hoje.  O que havia de comum nessas escolas não era o que ensinavam, mas sim o perfil cultural de quem entrava nela – gente e mais gente que vivia, como diria Carl Sagan, num mundo assombrado pelos demônios. Em outras palavras, não havia forma de cultura que pudesse escapar da visão religiosa da sociedade. Seria exagero dizer que os alunos todos entravam na universidade com uma visão semelhante a respeito da vida? Todos eles acreditavam em Deus e viviam aterrorizados pela perspectiva do pecado e de uma eternidade no inferno. Nesse sentido, cabia à Universidade receber um “monte de gente que pensava igual” e mandar para o mundo um “monte de gente pensando diferente”. Foi para isso que a chamada cultura superior se organizou nas universidades. 

Dessas instituições saíram pessoas como Paracelso, Nicolau Copérnico, São Tomás de Aquino e tantos outros que mudaram a História. Isso foi possível porque lhes foi oferecido um ambiente de trabalho e estudo onde puderam exercitar a razão livremente. Suas idéias eram revolucionárias pelo fato de não partirem de nenhum tipo de cosmovisão. A história jamais foi para esses homens um gigantesco mecanismo, complexo como um grande relógio, a ser desmontado e compreendido através de regras e leis imutáveis – duvido muito que Hegel tivesse lugar de professor nos primórdios da universidade. É nessa, e absolutamente somente nessa hipótese, que pode alguém se tornar verdadeiramente um intelectual.

Quando afirmei aos meus colegas de curso que não existem intelectuais brasileiros há muito tempo, era isso que eu queria dizer. Era à morte de um pensamento brasileiro verdadeiramente original que eu estava me referindo. Isso aconteceu no país  em função da apropriação total da razão livre por um partido político. Afirmo (peremptoriamente, como gosta de dizer um certo governador gaúcho) não haver espaço para produção acadêmica dentro da universidade brasileira nas áreas de história, filosofia e ciência política, para aqueles que não têm uma interpretação marxista da realidade. Filiados ou não a essa organização criminosa chamada Partido dos Trabalhadores, os estudantes até podem buscar lugares como a UFRGS, USP ou UNICAMP com idéias diferentes, mas todos, ou a grande maioria, vão sair de lá lá pensando quase sempre a mesma coisa – Deus não existe, liberar as drogas pode ser algo bom, a Terra está aquecendo, viva o casamento gay e as ONGS, e por aí vai.

Em texto anterior em que citei The Closing of American Mind e Tenured Radicals eu expliquei como esse trabalho se deu de forma metódica e constante a partir da década de 1960. Seu resultado pode ser visto hoje numa sociedade em que ser intelectual é ter escrito alguma letra de samba durante a ditadura militar ou ter uma coluna na Revista Playboy. É essa  nação que jamais ouviu falar em Gilberto Freire, não tem a mínima ideia de quem sejam Otto Maria Carpeaux, Mário Ferreira dos Santos ou Olavo de Carvalho que acredita que Paulo Coelho é tão importante quanto Machado de Assis ou que Caetano Veloso tem a dimensão de Heitor Villa Lobos.

Pobre país que perdeu a única referência importante que deve ter quando busca a verdade – a honestidade dos seus intelectuais. Sem ela ainda vamos fazer grandes Copas do Mundo, vamos continuar com mulheres maravilhosas e grandes carnavais encantando o resto do planeta como eternos imbecis.